Nisimazine Rio #1

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Rio de Janeiro

Nisimazine ----------------------------------------------Saturday 26 September

Um magazine especial publicado por NISI MASA; rede europeia de cinema jovem A festival gazette published by NISI MASA, European network of young cinema

EDITORIAL

#1

FILME DO DIA / FILM OF THE DAY

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em-vindos à primeira edição da Nisimazine publicada no Brasil. O Festival do Rio 2009 abrirá essa primeira edição. Nossa equipe, de acordo com a tradição do NISI MASA, a rede europeia de cinema jovem, tem na diversidade de origem a sua marca registrada; trabalhando sempre com jornalistas provenientes de vários países da Europa e também dos países da América Latina, como eu. Nossa revista - distribuída gratuitamente todos os dias durante o festival - estará também disponível online no endereço www.nisimazine. eu - e focará, principalmente, no trabalho de novos jovens e talentosos realizadores. Esta é também a minha primeira vez no Brasil, e que oportunidade melhor para se viver a experiência do Rio do que através do evento de cinema internacional mais importante da nossa região? Certa vez eu abri o programa oficial, e isso tocou fundo em mim: aquela lista interminável de filmes que aparecerou de uma só vez na diante dos meus olhos. Tenho que vê-los todos, agora! Eu sei, eu sou um cinéfilo ávido «basterd». Eu fui atraído imediatamente pela seção competitiva do Festival, onde os mais novos filmes brasileiros são apresentados. Algo semelhante aconteceu ao rever a mostra latino-americana de filmes que ganharam reconhecimento mundial nos últimos anos. A excitação cresce ainda mais ao verificar a mostra Panorama Mundial: Herzog, Tarantino, Ozon, Haneke, Winterbottom ... nomes que me trazem boas lembranças, e todos os novos filmes que eu não posso esperar para ver. Eu espero que você possa fluir com a nossa equipe através deste mar de filmes no Rio. E lembre-se sempre de procurar a sua Nisimazine em cada canto do festival.

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elcome to the 2009 Rio Film Festival, and the very first Nisimazine to be published in Brazil. Our team, as part of NISI MASA, the European Network of Young Cinema, has diversity of origin as a trademark, with journalists coming all the way from Europe and also from nearby Latin America countries, like myself. Our magazine - distributed for free every other day during the festival and available online at www.nisimazine.eu - will focus mainly on work from young and talented new filmmakers. This is also my first time in Brazil, and what better opportunity to live the Rio experience than through the most important international film event of our region. Once I opened the Official Programme, it hit me: the never-ending list of films appeared all at once in front of my eyes. I feel I must see them all, now! I know, I am a greedy cinephile ‘‘basterd’’. I was attracted right away by the competitive section of the festival, where the newest Brazilian films are presented. Something similar happened while reviewing the Latin American showcase of films that have gained worldwide recognition in recent years. The excitement grows even further while checking out the Panorama Cine Mundial section: Herzog, Tarantino, Ozon, Haneke, Winterbottom... names that bring me great memories, and all new films that I can’t wait to see. I hope you can flow with our team through this sea of films in Rio, and remember to look for Nisimazine on every corner of the festival.

Visite nosso website * WWW.NISIMAZINE.EU * para acessar o VIDEOBLOG e conferir mais informações sobre o festival

Photo by SILVIU PAVEL

FOTO DO DIA / PICTURE OF THE DAY

HAIR INDIA

Raffaele Brunetti, Marco Leopardi (Itália, 2008)

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by Laslo Rojas

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Hair India é uma fascinante (e crítica) jornada neste mercado de “pêlos”. A gente acompanha as transformações do produto desde o início – uma pobre e devota família hindu, oferecendo seus cabelos ao templo – até seu destino final – uma glamurosa jornalista, comprando extensões caras para aumentar sua “glória coroada” para uma grande festa. Tanto início e fim dessa cadeia de troca está situada na península indiana: uma narrativa clara, certamente a melhor escolha para mostrar o paralelo, quase opostas vidas dos (desconhecidos) produtores e dos (desavisados) consumidores constratando uma com a outra.

Hair India is a fascinating (and critical) journey into this lizard-tail-like marketing process. We follow the product’s movements and transformations from the very beginning - a devout and poor Hindu family, offering hair in a temple - to the final destination - a glamorous journalist, buying expensive extensions to enlarge her “crowning glory” for a big party. Both the starting and ending point of the tradechain are located in the Indian peninsula: a clever narrative choice, surely the best way to show the parallel, almost opposite lives of the (unknowing) producers and the (unaware) consumers brushing up against one another.

O meio do processo acontece na Europa: aqui o cabelo é polido, refinado, dividido entre cores e tonalidades, pronto para ser exportado onde quer que seja. Esta área transitória parece ser não apenas o cerne da questão, mas de toda nossa sociedade consumista. Dinheiro disponível é normalmente usado para comprar desejos materiais, então se você é capaz de criar novas necessidades e obter matéria-prima barata por meios de exploração, você será rico. Claro que está é uma entre as milhões de histórias estranhas que surgem nessa globalização incessante, mas isto é tão paradoxal que será difícil de esquecer, se transformando, assim, numa provocação para se repensar todo o sistema.

The middle link of the production is actually Europe: here the hair is polished, refined, divided into colours and shades, ready to be shipped off elsewhere. This transition area appears to be not only at the core of this topic, but of our entire consumer society. Discretionary money is often used to buy materialised desires, so if you’re able to create new needs and obtain cheap raw materials by means of exploitation, you’ll be a rich man. Of course this is just one of the million strange stories that come out of rampant globalisation, but it’s so paradoxical that it will be hard to forget, thus becoming a provocation to rethink the whole system.

Um dos documentários anteriores do diretor Raffaele Brunettu também era focado em um objeto inanimado: Mitumba (2005) conta a história de uma camiseta usada que viaja da Alemanha até a África, onde roupas usadas de pessoas brancas somam 90% do mercado. Talvez ele queria destacar que no “império das coisas”, os personagens principais podem, algumas vezes, esconder uma voz preciosa. Uma voz muito mais alta que o preço tabelado.

One of Raffaele Brunetti’s previous documentaries was also focused on an inanimate object: Mitumba (2005) tells the story of a used t-shirt travelling from Germany to Africa, where white-people’s second-hand clothes account for 90% of the market. Maybe he wants to point out how in the “empire of things” the main characters could sometimes hide a precious voice, a voice that is far louder than the price tag.

eu cabelo cresce. Seu cabelo cresce. É um automatismo biológico; nós não precisamos lavar nosso couro cabeludo. Mas vivemos em um mundo em que tudo tem um preço, e, portanto, o cabelo também está à venda. Como vai crescer, não há problema. Na essência, o corpo não está no mercado (pelo menos, não no legal), mas suas prolongações renováveis, bem... por que não?

y hair grows.Your hair grows. It’s a biological automatism; we don’t need to water our scalps. But we’re living in a world in which everything has a price, and therefore hair is for sale too; it will grow back, so there’s no problem. In essence, the body is not on the market (at least not the legal one), but its renewable prolongations, well... why not?

Alberto Angelini ESTÁ NA HORA! • IT’S ABOUT TIME!

25/9 Cine Glória 16:00, 20:00 26/9 Est Vivo Gávea 22:20 27/9 Est Vivo Gávea 13:40

28/9 Estação Botafogo 3 17:30, 21:30 3/10 Estação Botafogo 3 23:30


25/9 26/9 28/9 30/9

ENTREVISTA / INTERVIEW

CIRO GUERRA

Estação de Cinema 3 15:50, 23:59 Est Vivo Gávea 1 15:40, 20:10 Est Barra Point 1 18:00 Cine Santa 21:00

cineasta vital vital filmmaker

Diretor do As viagens do vento (Colômbia) Director of Los viajes del viento (Colombia)

fotografia e direção de arte? 90% do filme foi feito com a luz natural do dia. Somente as cenas noturnas tiveram iluminação artificial, por razões óbvias. Nós queriamos nos manter fiéis na maneira como percebiamos a luz da região do Caribe, que é linda, viva e cheia de nuances que poderiam ser perdidas se tivessemos incluido iluminação artificial. Então Paulo Perez, o diretor de fotografia, usou métodos muito complexos, com efeitos de espelhos, para que conseguissemos usar o máximo de luz natural que pudessemos. O que devemos esperar de você no futuro? Tudo depende de como Los Viajes del Viento vai atingir as pessoas.Para diretores latino americanos, fazer cinema é uma questão de vida ou morte. Nós arriscamos tudo em nossos projetos, embora saibamos, que o futuro é incerto. Eu faço cada filme como se fosse o último.

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ual foi o pontapé inicial do seu projeto? Eu venho da mesma região onde se passa esse esse filme e cresci em contato com a tradição oral do meu país, seus mitos, suas lendas, sua música da forma mais pura. Primeiramente havia a imagem do menestrel andarilho, que ia de lugar a lugar levando canções com seu acordeon. Pensei nele como como um personagem mítico, ele sempre me fascinou. Realmente tenho que dizer que esse é o filme que eu sempre quis fazer. Onde você encaixaria Los viajes del viento no contexto de filmes colombianos recentes? E se falarmos sobre a região em seu todo, você acha que é possível imaginar uma nova onda do cinema latino americano? Creio que os filmes na Colombia não ultrapssam as fronteiras entre fazer comédias “leves” ou falar

sobre tragédias nacionais. Nós vislumbramos com esse filme uma maneira de procurar uma outra opção, uma opção que nos permita explorar o país de forma profunda, e todas as coisas extraordinárias que você pode encontrar nele. Acho terrível que este seja o primeiro filme a ser filmado em Alta Guajira. Seria maravilhoso se no futuro outros cineastas pudessem filmar em La Guajira, Chocó ou no Rio Amazonas, no Rio Orinoco… Esse é um país indescoberto, há milhões de histórias a serem contadas e eu não falo apenas das paisagens geográficas, mas de uma paisagem espiritual, uma paisagem humana. E eu acho que essa é a maneira de enriquecer o cinema colombiano. Isso é algo que já vem acontecendo em muitos países latino americanos, mas na Colombia esta só começando. Seu filme tem sempre qualidades visuais, que é raro de se ver no cinema latino americano. Como foi o seu trabalho em termos de

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hat was the starting point of your project? I’m from the region where this film takes place, and I was raised in contact with the oral tradition of my country, its myths and legends, with its music in the purest form. First of all there was the image of the wandering minstrel, who went from place to place carrying songs with his accordion. I thought about him as a mythical character, he always fascinated me. I really have to say this is the movie I always wanted to do. . Where could you place Los viajes del viento in the context of recent film projects in Colombia? And if we talk about the rest of the region, do you think it is possible to imagine a new wave of Latin American cinema? I think films in Colombia are at a crossroads,

in which you have only two options: to make light comedies or to talk about the national tragedy. We envisioned this movie as a search for another option, an option that allows us to explore this country in a deeper way, and all the extraordinary things that you can find there. I think it’s terrible that this is the first movie to be filmed in the Alta Guajira. It will be great if in the future other filmmakers could film La Guajira, Chocó or the Amazon river, the Orinoco river… This is an undiscovered country, there are thousands stories to tell and I do not mean only the geographical landscape, but a spiritual landscape, a human landscape. And I think that’s one way to enrich Colombian cinema. It is something that has occurred in many Latin American countries, but in Colombia is just starting. Your film has strong visual qualities, which is rare in Latin American cinema. How was your work in terms of photography and art direction? 90% of the film was shot with natural daylight. Only the night scenes had artificial lighting, for obvious reasons. We wanted to be faithful to how we perceived the light from the Caribbean area, which is beautiful, alive and full of nuances that could be lost by including artificial lighting. So Paulo Perez, the director of photography, used very complex assemblies made with mirrors to gain all the natural light we could. What shall we expect from you in the future? It all depends on how Los Viajes del Viento goes down with people. For Latin American filmmakers, to make a picture is a matter of life and death. We risk everything in our projects, although we know, the future is uncertain. I make each film as if it were the last one.

Enrique Vivar

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CORNUCÓPIA

(EL CUERNO DE LA ABUNDANCIA) Juan Carlos Tabío (Espanha, Cuba 2008)

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25/9 28/9 29/9 30/9

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Estação de Cinema 2 12:10, 18:45 Cine Santa 21:00 Estação Ipanema 1 15:15, 19:45 Est Barra Point 1 15:50

orge Perugorria interpreta Bernardito, um homem de meia idade tentando sobreviver em Cuba.Tudo muda em sua vida quando uma grande quantidade de dinheiro é descoberta e supostamente será herdada por qualquer um que tenha o sobrenome Castiñeiras. Como seu pai é um Castiñeiras, Bernardito também merece ganhar sua parte desse dinheiro. Então nos é apresentado, de uma forma muito divertida, todas as aventuras e encontros do protagonísta em sua missão de colocar suas mãos nesse “patrimônio”.

orge Perugorria plays Bernardito, a middle-aged man trying to survive in Cuba. Everything changes in his life when a large amount of money is discovered, supposed to go to anybody who has the last name Castiñeiras, as an inheritance. As his father is a Castiñeiras, Bernardito also deserves part of the money. We are then shown, in a humorous way, all of the problems and adventures the protagonist encounters in his mission to get his hands on this “birthright”.

Nessa comédia sobre a vida contemporânea em Cuba, cada personagem tem uma idéia pessoal sobre como é viver em seu país. O pai de Bernardito apoia o presidente e acredita que essa é a única maneira de vencer na vida, porém sua esposa esta furiosa porque ela e seu marido não podem ter nenhum momento de privacidade. ’

In this comedy about life in contemporary Cuba, the characters each have a particular idea of how it is to live in their country. Bernardito’s father supports the president and thinks it’s the only way to succeed, but his wife is angry because she and her husband can’t have a moment of privacy.

Na verdade, parece que não é permitido a nenhum dos personagens conseguir ou fazer o que eles querem - e não se trata unicamente de dinheiro, mas até mesmo de algo tão natural como o sexo. O diretor tenta nos mostrar a frustração de uma cidade inteira: parece que eles estão quase lá, mas sempre tem algo que volta. Ao vê-los acreditando (ou talvez apenas querendo acreditar) que o dinheiro é tudo, vemos o desespero, que fará com que eles acreditem em quase tudo, inclusive em uma página da web. Claro que Juan Carlos Tabío (que também dirigiu Morangos e Chocolate) nos mostra tudo isto com um sorriso, como se ele estivesse dizendo, talvez, pode ser difícil mas não é o fim do mundo, certo?

In fact, it seems like none of the characters can ever get or do what they want - not only the money but even something as natural as having sex. The director tries to show us the frustration of a whole town: it seems that they are almost there, but something always holds them back. We watch them believing (or maybe just wanting to believe) that the money is real; they are so desperate that they’ll put their faith in almost anything, including a web page. Of course Juan Carlos Tabío (who also directed Strawberries and Chocolate) tells us all this with a smile, as if he’s saying maybe it can be hard but it’s not the end of the world, right?

Jorge Robinet


(nova) estratégia para documentários uma influenciar a política? ambientais environmental a (new) campaign to documentaries influence politics?

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les estão por toda parte, a sua influência é crescente e os seus objetivos estão prestes a mudar. Documentários ambientais estão a caminho das salas de cinema, e isso parece ser uma ótima notícia. Atualmente, a luta contra a mudança climática está na boca de todos. Suas causas e consequências múltiplas (poluição, cancer, os refugiados de catástrofes naturais, etc.) são bem conhecidos. Politicamente, o problema surgiu após a primeira «Conferência da Terra» («Earth Summit») em 1972, mas durante décadas fora discutido quase que somente nos círculos institucionais. Filmes relacionados ao tema tinham um viés acadêmico e nunca foram realmente projetados para o grande público.

Entretando todos estes filmes criticam a forma como a humanidade se comporta, não importando se a iniciativa vem de CEOs de grandes multinacionais ou governos. E eles têm um impacto mais forte do que nunca nesse globalizado mundo de novas midias. Este foi o caso de The World According to Monsanto, um documentário independente de investigação profunda da jornalista francesa Marie Monique Robin sobre os pesticidas vendidos no mundo inteiro por uma empresa americana.

from Terra Madre

Esse tempo acabou. Recentes documentários ambientais estão em

celebridades para tornar a mensagem mais forte. An Inconvenient Truth do ex vice-presidente Al Gore, lançado em 2006, apresentou uma aula sobre as alterações climáticas. O filme foi exibido dentro de várias organizações internacionais - incluindo as Nações Unidas e vários Senados de todo o mundo. Esta obra causou tamanho impacto que o político estadonidense recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

exibição (ou em vias de) , e o objetivo é simples: mudar as mentes dos cidadãos. Ao longo dos últimos anos, um número impressionante e crescente de filmes sobre o tema foram lançados nos cinemas: algums apresentando um estilo pedagógico de narração e outros se utilizando basicamente de forte apelo visual. Este ano, o Festival do Rio está apresentando um programa interessante de filmes ambientais. Entre eles está Flow - For the love of the water de Irena Salena, que critica a privatização crescente da água - e a causa de uma futura guerra global de acordo com muitos. Mais denúncias podem ser encontrados em Nossos filhos nos accusarão que descreve os perigos à saúde pública pelo uso de pesticidas e, de quebra, elogia a iniciativa do prefeito de uma cidadezinha rural francesa de impor alimentos orgânicos nas cantinas das escolas. Terra Madre promove o movimento internacional Slow Food, nascido na Itália, cujo conceito é se alimentar de comida «boa, limpa e justa». Além de causar a sensibilização das pessoas, a tendência é incentivar a adoção das medidas, que até agora , parece que estar funcionando. Tomase por exemplo a sociedade civil que progressivamente emerge como um contra-poder relevante no cenário mundial. Infelizmente, como provam as manchetes diárias, a luta nunca será fácil. Assim, alguns filmes têm incluído

O filme teve efeitos negativos sobre a empresa, que contra-atacou chamando o documentário de «pura propaganda». Esparemos que estes documentários e iniciativas afetem não só opinião pública, mas também as ações dos líderes políticos. Decisões governamentais «frouxas» não devem ser definitivamente o roteiro oficial do próximos anos. A Conferência de Copenhagen sobre as alterações climáticas («The Copenhagen Summit on Climate»), organizada em meados de dezembro, pelas Nações Unidas, será a mais importante conferência internacional desde 1999. Os desafios são enormes, mas talvez seja uma oportunidade rara de mostrar como o cinema pode influenciar a política.

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hey are everywhere, their influence is growing and their targets are changing. Environmental documentaries are now the way to campaign, and it seems to be pretty good news. Nowadays, the struggle against climate change is on everybody’s lips. Its causes and multiple consequences (pollution, cancers, refugees of natural catastrophes...) are well-known. Politically, the issue arose after the first Earth Summit in 1972, but for decades was discussed almost only in institutional circles. Films related to the subject were somehow

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FOCO / FOCUS

DESCOBERTA / DISCOVERY

academic - not really designed for large audiences.

This time is over. Recent environmental documentaries are campaigning, and the goal is simple: changing citizens’ minds. Over the past few years, a growing number of impressive movies have been released in theatres: some featuring a pedagogical-style of narration, others persuading only through images. This year, the Rio festival is presenting an interesting programme of environmental films. Among them is Flow - For the love of the water by Irena Salena, which criticises the growing privatisation of water - the cause of a future global war according to many. More denunciations can be found in That should not be: our children will accuse us, which describes the public health dangers of pesticides and praises the initiative of a rural French town’s mayor to impose organic food in the school cantine. Terra Madre promotes the international Slow Food movement, born in Italy, whose concept is to eat “good, clean and fair” food.

Besides raising people’s awareness, the trend is to encourage taking action, and so far it seems to be working, as civil society progressively emerges as a relevant counterpower on the global stage. Unfortunately, as the daily headlines prove, the struggle is never going to be easy. So a few films have even included celebrities to make the message stronger. An Inconvenient Truth, released in 2006, presented a lesson on climate change by former Vice-President Al Gore. The film was shown within several international organisations – including the United Nations and many Senates worldwide. It had such an impact that the politician co-received the Nobel Prize for Peace.

All of these movies criticise the way humankind behaves, whether the lead comes from CEOs of big multinationals or governments. And they have a wider impact than ever before in the new global media world. This was the case with The World According to Monsanto, an in-depth investigative documentary by the independent French journalist Marie Monique Robin on the pesticides sold worldwide by the American company. The film had bad effects on the corporation, which counter-attacked by calling the documentary “pure propaganda”.

Hopefully though these documentaries and initiatives will affect not only public opinion but also the actions of political leaders. Limp governmental decisions should definitely not be the official script of the next few years. The Copenhagen Summit on Climate change, organised in mid-December by the United Nations will be the most important international conference since 1999. The challenges are huge, but perhaps it will be a rare opportunity to prove how cinema can influence politics.

Pierre-Anthony Canovas

TIRO NA CABEÇA (TIRO EN LA CABEZA)

Jaime Rosales (Espanha, França 2008) 25/9 Estação Botafogo 1 12:00, 18:00 26/9 Est Barra Point 2 22:15 27/9 Estação Ipanema 2 15:45, 20:15

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inimalist approaches to cinema tend to divide audiences - but few films are so extreme in their restraint that their style is mistaken for a technical malfunction. I’ve heard of two cases in which screenings of Tiro en la Cabeza were cancelled because the projectionist was convinced the film’s soundtrack was incomplete; how else could one explain conversations that lasted for minutes while all we hear is background street noise? In fact, this is the film’s central conceit: in depicting the everyday life of a man leading up to a violent shooting, the camera adopts the implied perspective of a hidden surveillance team. We observe his behaviour on long lenses from a distance, across busy streets or through the windows of his home - but all we hear is the sound at the camera’s location, not the characters’. When the minimalist approach works it’s because, by denying us such comforts, our vision is expanded in other ways. Tiro succeeds on this level to an extent, with the absence of context and dialogue forcing us to scour every phrase and nuance of behaviour for clues; as a result, we pay more attention to what we are given. But considering the film’s inspiration - although nowhere alluded to, the film is actually based on a real shooting involving Basque separatists and Spanish police - these seem like small dividends in a film that is curiously cut off from the larger issues it skirts around.

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s aproximações minimalistas no cinema tendem a dividir o público - porém são poucos os filmes cujas restrições são tão extremas, que seus estilos acabam se confundindo com algum erro técnico. Ouvi falar de dois casos nos quais as exibições de Tiro en la Cabeza foram canceladas, porque o projecionísta achou que a trilha sonora estava incompleta; quem poderia explicar as conversas que duram minutos à fio enquanto o que se escuta ao fundo é o barulho da ruas? De fato, esse é o conceito principal do filme; em retratar o cotidiano de um homem que conduz a um tiroteio violento, a câmera adota a perspectiva implícita de uma equipe de vigilância escondida. Observamos o seu comportamento em lentes de longa distância, em ruas movimentadas ou através das janelas de sua casa - mas tudo o que ouvimos é o som da locação externa da câmera, e não os personagens. Quando a abordagem minimalista funciona é porque, negando-nos o conforto, nossa visão é expandida de outras maneiras. Tiro sucede este nível a uma tal de extensão, com a ausência de contexto e diálogo, que nos força a vasculhar cada frase e nuances de comportamento em busca de pistas e como resultado podemos dar mais atenção ao que nos é dado. Mas, considerando a inspiração do filme - que embora em nenhuma parte seja aludido, o filme é realmente baseado em um tiro real envolvendo separatista bascos e a polícia espanhola - estes parecem ser pequenos dividendos em uma obra que curiosamente é cortada das questões maiores, das quais se aplica.

Donal Foreman


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RETRATO / PORTRAIT

X a v i e r Do l a n

text: Eftihia Stefanidi photo: Luis Sens

Quem não tem sonho morre de frio

Those without a dream will die from the cold

There’s no better place to explore his temperament than in I killed my mother, screened at the Rio festival this year. Not only the provocative title, but also the semi-autobiographical tone, cannot really let the film pass unnoticed. The story focuses on Hubert (played by Xavier himself), a 16-year-old boy who lives with his mother, who he absolutely hates. The fragile adolescent stage he is going through enhances the lack of communication between them, as they both seem to be coming from different worlds. Their shocking encounters also emanate from Hubert’s homosexuality and are being processed through his sensitive, artistic psyche. An exceptionally creative film, I killed my mother comes out more as a manifesto, a tribute to the dark paths of adolescence. In a series of black and white inserts, Dolan confesses his turbulent emotions. However, there is much more love than expected at first glance. Scenes shot on Super 8 that recall the characters’ past memories and dreamy desires are all declaring the inner battle of the child trying to separate from his mother, and eventually, grow up. This attempt to “bury childhood” as the director prefers to call it, makes I killed my mother an optional title, as it could also be altered to I killed my son. Still, if anyone wonders how his mother feels about this project he surprisingly confesses that, although she has not yet seen the film, it was an experience that made them reunite.

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e a Quinzena dos Realizadores do festival de Cannes é considerada uma “agência de talentos” para os novos nomes do cinema, Xavier Dolan foi certamente a grande descoberta da edição 2009. Nascido em Montreal, em 1989, ele começou sua carreira como ator mirim. O fato de ter saído da casa dos pais e se tornado independente, durante anos de “vazio”, como ele diz, serviu de fonte de inspiração e forneceu as condições para o desenvolvimento de seu primeiro longa-metragem, que começou no formato de um pequeno conto. Não há melhor lugar para explorar seu temperamento que em I killed my mother (“Eu matei a minha mãe”, em tradução livre), exibido no festival do Rio este ano. Pelo título provocativo, e também pelo tom semiautobiográfico, este filme não pode passar despercebido. A história conta a vida de Hubert (interpretado pelo próprio Xavier), um adolescente de 16 anos de idade que mora com sua tão-odiada mãe. O frágil período da adolescência colabora para a falta de comunicação entre eles, já que cada um parece vindo de um mundo diferente. Muitos dos atritos são gerados também pela homossexualidade de Hubert, que ele canaliza através de sua sensibilidade artística.

Excepcionalmente criativo, I killed my mother se apresenta como um manifesto, um tributo aos caminhos difíceis da adolescência. Numa série de sequências em preto-e-branco, Dolan relata suas emoções turbulentas. No entanto, há muito mais amor do que pode se pensar. As cenas filmadas em Super 8, representando as memórias e os desejos do personagem, ilustram a batalha interior de uma criança que tenta se separar de sua mãe e, eventualmente, amadurecer. Esta tentativa de “enterrar a infân-

Nisimazine RIO 26. 09. 2009 / # 1 A gazette published by the association N I S I M A S A with the support of the Festival do Rio and the Youth In Action programme of the European Union

cia”, como o diretor prefere chamá-la, faz de I killed my mother um título opcional, que também poderia ser trocado por I killed my son (“eu matei o meu filho”). Aliás, se alguém está imaginando como sua própria mãe se sente em relação ao projeto, o diretor surpreende ao confessar que, mesmo que ela ainda não o tenha visto, o filme serviu de experiência para reatar os laços entre os dois. Na conferência de imprensa durante o festival de Cannes, Xavier ostentava o sorriso nervoso de uma criança que espera suas primeiras notas na escola (mas que acredita ter se saído bem). Após algumas perguntas, ele já havia

Sant, Truffaut e Godard. De fato, seu próximo projeto é inspirado em Pierrot le Fou, sobre o tema da transexualidade. A detalhada análise que Dolan oferece a respeito de seu próprio filme diz muito sobre sua auto-confiança, dando a impressão de um diretor que sabe exatamente o que quer. Mas não se pode esquecer que este projeto é um diário em película que, como afirma o diretor, funciona como exercício de auto-exposição. Não podemos saber se este início autobiográfico dará continuidade a uma carreira brilhante, mas o comprometimento de Xavier Dolan parece bastante real. Na carta incluída

‘‘Foi certamente um sonho, mas de modo algum eu esperava uma recepção destas.’’ ‘‘It was certainly a dream but for sure I was not expecting all this.’’ relaxado e explicado mais sobre seu trabalho, seus motivos e inspirações: “Foi certamente um sonho, mas de modo algum eu esperava uma recepção destas”. Apesar de sua juventude, seu filme é marcado por grande maturidade, talvez pelo próprio realizador ter crescido durante o processo de elaboração de seu projeto. E seu uso eloquente e intellectual da linguagem cinematográfica é uma boa indicação de que ele é de fato um autor, quem sabe mesmo um auteur. O realismo poético do filme parece emanar do trabalho de Wong Kar Wai, com o uso da música e das câmeras lentas, e igualmente das técnicas meticulosas de direção de Michael Haneke (como ele mesmo admite). Dolan também é dotado de um gosto para dialogar com os cinéfilos e incluir várias referências a diretores que ele admira, como Gus Van

no kit de imprensa, ele cita sua tia-avó ao dizer que “quem não tem sonho morre de frio”. Com o sucesso crescente de seu filme, ele parece ter razões suficientes para se manter aquecido por um tempo.

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f the Cannes Directors’ Fortnight is considered to be a ‘scouting agency’ for the next big thing in filmmaking, Xavier Dolan was surely one great discovery of its 2009 edition. Born in 1989 in Montreal, he started out as a child actor. Moving out of the family home and living on his own during years of “nothingness”, as he calls them, nurtured his creative flair and paved the ground for his first feature, which started as a short novella.

EQUIPE EDITORIAL / EDITORIAL STAFF Diretor de Publicação / Director of Publication Matthieu Darras Editores-Chefe / Editors in Chief Rui Tendinha, Jude Lister Tradutores/ Translators Bruno Carmelo, Sabrina Fidalgo, Arturo Mestanza Design Maartje Alders Contribuíram para esta edição / Contributors to this issue Alberto Angelini, Pierre-Anthony Canovas, Donal Foreman, Silviu Pavel, Laslo Rojas, Jorge Robinet Luis Sens, Eftihia Stefanidi, Enrique Vivar

Attending the press conference in Cannes, Xavier had the uneasy grin of a kid who is expecting his first grades from school (but suspects he did well). A couple of questions were enough to make him relax and explain his work, motives and inspirations. “It was certainly a dream but for sure I was not expecting all this”. Despite his youth his film feels mature, perhaps because he also grew up in the process of making it. And his eloquent and intellectual use of language is certainly an indication that he is in fact an author, if not an auteur. The poetic realism in the film seems to emanate from Wong Kar Wai’s work, with the use of music and slow-paced movements, and even Michael Haneke’s (as he admits) in his meticulous directing methods. It also seems he enjoys teasing cinephiles and referencing directors he admires, such as Gus Van Sant, Truffaut and Godard. In fact, his next project will be influenced by Pierrot le Fou, exploring the theme of transsexuality. The detailed analysis of the film by Dolan himself says a lot about his self confidence and gives the impression that he knows exactly what he wants. But we shouldn’t forget that this is a diary on celluloid which, as the director states, works as an exercise in self-exposure. I am not sure if this autobiographical debut will promise a bright future, but there was something about Xavier Dolan that felt real. Reading his letter in the presskit, he quotes his great-aunt by saying: “those without a dream will die from the cold”. Now, with the ever growing success of the film, it seems he will probably keep himself warm for a little while. 25/9 Estação Ipanema 1 13:00, 17:30 26/9 Estação Botafogo 1 16:00, 22:00 27/9 Cine Glória 18:00 28/9 Est Barra Point 1 14:00

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