Nisimazine Rio #2

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Rio de Janeiro

Nisimazine ----------------------------------------------Monday 28 September

#2

Um magazine especial publicado por NISI MASA; rede europeia de cinema jovem, no âmbito de um workshop de jovens críticos A festival gazette published in the framework of a workshop for young critics by NISI MASA, European network of young cinema

EDITORIAL

FILME DO DIA / FILM OF THE DAY

by Jorge Robinet

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om mais de 300 filmes vindos dos quarto cantos do mundo, a lista de convidados do Festival do Rio não podia ser mais internacional. Podemos estar tomando o café da manhã com um jovem cineasta do Japão e pela noite estar numa festa com um ator argentino. Uma das idéias deste festival e de outros em geral é conseguir que o público local descubra novas culturas. A pergunta é: isso está mesmo acontecendo aqui no Rio?

ith more than 300 movies shown from around the world, the guest list of the Rio Film Festival is pretty international.You can have breakfast with a young director from Japan, and in the night party with an Argentinean actor. One of the ideas of this festival and of film festivals in general is to allow people to meet and discover other cultures, on many levels. But is this really happening here in Rio?

Durante a festa de abertura as diferentes delegações como que nunca se desgrudaram, ou seja, os brasileiros estavam perto do bar falando em...português e, num outro canto, havia um grupo de franceses falando francês entre eles. Os diferentes grupos estavam na verdade longe uns dos outros e apenas se misturaram na pista de dança, onde não havia necessidade de conversa (provavelmente era o efeito das caipivodcas a funcionar...). Por outro lado a cena muda nas salas de cinema ou mesmo durante o dia no Pavilhão do Festival, onde as coisas ficam mais prometedoras. Depois de uma sessão dá para entender que as pessoas se começam a abrir...

During the opening party last Thursday the different delegations pretty much stuck together: some Brazilians were next to the bar talking about... some Brazilian thing, I guess, very close to the dancing area where a group of French people were speaking in French. The different groups where really far one from each other and the only moment they mixed was on the dancefloor, where there’s no need for conversation (or maybe it was the free caipirinhas that did the trick). On the other hand we have a completely different “picture” in the regular screenings and in the pavilion during the day, where the situation is more promising.You can see that after a movie or in some free time, people begin to open up to each other more easily.

Nos próximos dias, a Nisimazine, sendo resultado de um workshop pensado para esse propósito, vai tentar ainda mais incentivar esse diálogo entre culturas, entre nacionalidades. Fiquem atentos aos resultados nos próximos números. A partilha vai ser exposta.

Over the next few days Nisimazine, being the product of an international workshop designed for this very purpose, is going to try to create even more dialogues. So watch out for the results coming up in the next issues...

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Photo by SILVIU PAVEL

FOTO DO DIA / PICTURE OF THE DAY

SUSSURROS AO VENTO

SIRTA LA GAL BA Shahram Alidi (Iraque, 2009)

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20 anos/years, Peru

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No carro encontra-se um homem velho, cujos olhos azuis estão cheios de tristeza. Por um momento, fecha os olhos pra descansar por um segundo, mas, realmente, ele nunca irá descansar de novo. Este senhor tem visto muitas coisas durante sua vida: guerra, jovens sendo mortos, famílias separadas e mãe chorando por suas almas, suplicando pelo improvável retorno dos filhos. Ele testemunhou o insuportável e não pode esquecer. Está almadiçoado, porque é um sobrevivente, carregando o peso da história de seu país no fundo da alma.

Behind the wheel of this car is an old man, whose blue eyes are full of sadness. At one moment he closes his eyes to rest for one second, but he will never truly rest again. He has seen too many things during his life: war, young people killed, families torn apart, and mothers crying out their souls, invocating an improbable return of their sons. He has witnessed the unbearable and cannot forget. He is cursed, because he is a survivor, carrying the weight of his country’s history deep in his soul.

m calhambeque anda devagar em uma estrada empoeirada. O dia começa a morrer e as nuvens ficando cada vez mais escuras. O único som ouvido é o assovio do vento. A paisagen parece remota e a gente imagina estar em algum tipo de terra sem-lei, perdida no tempo e na memória. Mas não, estamos em um lugar específico: Iraque. Pensando nos terríveis eventos de sua recente história, percebemos que nessa estrada desolada o mundo termina.

Um alto-falante no carro aponta em direção a um céu indiferente, transmitindo mensagens, lamentações e preces de pessoas. Estas são cartas que não podem ser escritas, apenas desabafadas para o mundo. E este é o trabalho do velho homem: gravar estas mensagens como uma obrigação infernal – devemos lembrar que o inferno reside apenas na terra. No início do filme, um texto explica sobre o genocício da campanha Anfal durante o regime de Saddam Hussein nos anos oitenta, onde quase 182.000 curdos foram exterminados. Homens foram enterrados vivos em túmulos lotados e mulheres abusadas e mandadas para campos de trabalho ou bordéis. Este filme é como se fosse uma carta para os sobreviventes desse horror e o mais tocante é o uso da paisagem e dos elementos naturais para expressar o sofrimento através de poesia. Gritos e silêncio convivem no mesmo lugar, expostos ao vento que leva preces não-atendidas para aqueles que foram perdidos. Esta atenção para a paisagem emocional parece nos dizer que o tempo passa e a poeira pode até cobrir as cicatrizes, mas a dor sempre continua a mesma. 27/9 Est Barra Point 1 22:30 28/9 Est Vivo Gávea 4 13:10, 19:50 29/9 Estação Botafogo 1 16:00, 22:00

ramshackle car moves slowly along a dusty road. The day is beginning to die, and the clouds are getting ever darker. The only sound you can hear is the whisper of the wind. The landscape seems remote and we think we are in some kind of no man’s land, lost in time and memory. But no, we are in one specific place: Iraq. Thinking of the terrible events in its recent history, we realize that on this desolated road the world ends.

A speakerphone on the car is pointed towards an indifferent sky, transmitting people’s messages, lamentations, and personal prayers. These are letters that cannot be written but only cried out to the world; and this is the job of the old man, to record messages, undertaking some kind of infernal duty – for we must remember that hell is only on earth. At the beginning of the film a text explains about the ANFAL genocide during the regime of Saddam Hussein in the eighties, during which almost 182 000 Kurds were exterminated. Men were buried alive in mass graves and women were abused and sent to labour camps or brothels. This film is almost like a letter to the survivors of these horrors, and what is so touching about it is the use of the landscape and natural elements to express the suffering through poetry. Screams and silences meet in one single space, exposed to the wind that carries unanswered prayers for the lost ones. This attention to the emotional landscape seems to say that time passes, and dust may cover the scars, but pain always remains the same.

Enrique Vivar


25/9 26/9 28/9 30/9

ENTREVISTA / INTERVIEW

Karim Aïnouz & Marcelo Gomes

preparados para mergulhar

ready for the plunge

Diretores de Viajo porque preciso, volto porque te amo Directors of I Travel Because I Have To, I Come Back Because I Love You pletamente diferente de um diário público. É mais como um álbum de fotos antigas que você manteve e, em seguida, abriu e colocou na Internet.

Photo by SILVIU PAVEL

Como foi a experiência de trabalhar lado a lado? MG: Nós trabalhamos juntos durante a filmagem, o script e a edição ... e lutamos a cada dia! Foram vôos muito criativo, o processo criativo é a discussão. Nós compartilhamos o mesmo gosto em filmes, as mesmas idéias sobre cinema, partilhamos o nosso desejo de fazer filmes que vai fazer você feliz, fazemos filmes para falar com as pessoas. Por que Acapulco na parte final? KA: Quando acabamos discutindo o roteiro, pensei: «Eu quero que esse cara mergulhe». De alguma forma, surgiu com a idéia de Acapulco. Foi essa idéia, precisamente, que queríamos expressar. Um mergulho, refrescante, em águas claras. Se você vai a uma cachoeira, quando você sai dela você está realmente reenergizado. A água é a melhor imagem para traduzir o sentimento de refresco.

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omo vocês começou o processo criativo deste filme? MG: Nós fizemos uma viagem de quase 2 meses filmando imagens [...] filmamos em vários formatos, Super 8, instantâneos, 16 mm, vídeo, depois assistimos várias vezes e discutimos durante anos. Karim realizou seus filmes, e eu os meus. Depois disso, resolvemos ficar juntos de novo, porque amamos essas imagens, e queriamos resgatar a mesma sensação que tivemos durante a viagem. KA: Nós gravamos a maior parte do filme em 1999, e algumas imagens são deste ano. Usamos também algumas fotografias tiradas por volta de 2006. O processo foi mais o trabalho de um coletor, roubando imagens, gravação de sons. Nós tivemos a intuição de que poderia se tornar um filme, mas o principal objetivo da viagem era não pensar no filme que poderia ser. Eu li que o filme foi uma resposta às novas

Estação de Cinema 3 15:50, 23:59 Est Vivo Gávea 1 15:40, 20:10 Est Barra Point 1 18:00 Cine Santa 21:00

mídias, como a Internet, que poderá estar contaminando o cinema. Como você desenvolveu essa idéia? KA: Eu penso mais sobre a idéia de uma revista. Poucos anos atrás era escrita à mão, em seguida, datilografada, agora temos os blogs, fotoblogs, videologs, mas tudo são apenas diferentes formatos das revistas. O mais influente para nós foi o clássico e hardcore álbum de fotografias físico. MG: Sim, em 1999 o álbum de foto nos influenciou muito, mas como artistas do nosso tempo, também somos influenciados por coisas que aconteceram durante esses 10 anos. Acho que essa é a única coisa surpreendente sobre este processo: o filme foi terminado em 2009, mas tem influências de uma década! KA: Eu acho que o filme foi perversamente influenciado pela Internet: algo que é um mistério para mim é por que você tem um blog? Eu não entendo porque você está publicando sua vida íntima, publicamente. Nosso filme é como um diário roubado, que é com-

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ow did you begin the creative process of this film? MG: We made a trip of almost 2 months filming images [...] collected them in Super 8, snapshots, 16 mm, video; then watched them several times, discussed it during years. Karim did his feature films, and I did my own. After that, we decided to get together again, because we loved those images, and wanted to return to the same feeling that we had during the trip. KA: We shot most of the film in 1999, and some images this year. We also used some photographs taken around 2006. The process was more the work of a collector, stealing images, recording sounds. We had the intuition it could become a film but the main goal of the trip wasn’t to think of which film it could be.

I read that your film was a response to new medias, like the Internet, which are contaminating cinema. How did you develop that idea? KA: I think more about the idea of a journal. Few years ago it was [hand]written, then type-written, now it’s blogs, photoblogs, videologs, but all of those are just different formats of journals. The most influential for us was the classic, hardcore, physical photo album. MG:Yes, in 1999 the photo album influenced us a lot, but as artists of their time, we’re also influenced by things that happened during these 10 years. I think that’s the amazing thing about this process: the film was finished in 2009, but it has the influences of a decade! KA: I think the film was perversely influenced by the Internet: something that is a mystery to me is why do you have a blog? I don’t understand why you are publishing your intimate life, publicly. Our film is like a stolen diary, which is completely different to a public diary. It’s more like an old school photo album that you kept, then opened up and put on the Internet. How was the experience of working side by side? MG: We worked together during the shooting, the scripting and the editing... and fought every day! Very creative fights, the creative process is the discussion. We both share the same taste in films, the same ideas about cinema, we share our desire to make films that will make you happy, we make films to talk with people. Why Acapulco in that final part? KI: When we finished discussing the script I thought: «I want this guy to have to dive». Somehow we came up with the Acapulco idea. It was the precise feeling we wanted to express. Diving, refreshing, in clear water. If you go to a waterfall, when you come out of it you’re really re-energized. Water is the best image to translate that feeling of refreshment.

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Laslo Rojas

27/9 Cinemark Downtown 1 14:00, 19:00 28/9 Leblon 1 14:00, 19:00

CRÍTICA / REVIEW ARRANCAME-ME A VIDA (ARRÁNCAME LA VIDA)

Roberto Sneider (México, Espanha 2008)

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ntre a meticulosa mise en scène da sociedade mexicana pós-Revolução de 1910 e o retrato imediato de uma mulher que se abre às feridas chauvinistas da sociedade, Tear my heart out (Arrancame la vida) tenta provocar algo. O filme cruza os corredores do México dos anos 30 e 40 com a história de Catalina Guzman (Ana Claudia Talancon), uma jovem de família rural que se apaixona pelo calculista general Andrés Asensio (Daniel Gimenez Cacho). Catalina não representa apenas a burguesia mexicana: ela é essencialmente um outro corpo, um corpo feminino, um corpo que constrói o seu próprio discurso. As formas com que essa mulher escapa do sistema machista são por conseqüência bastante complexas. Primeiramente ela parece repetir um sistema para depois assumir um papel imposto. Mas essa imposição tropeça quando Catalina se liga a outro homem – mesmo sem ser infiel, ao contrário de Andrés. Ao se apaixonar por uma certa liberdade, ela finalmente consegue respirar para além do colete-de-forças.

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Tentar que a abordagem entre a História mexicana e o tema da liberdade se transforme numa discussão sobre as mulheres é um gesto de cinema controverso. A grande jogada do filme é subordinar a história de Catalina ao histórico masculino de uma sociedade e, ao mesmo tempo, construindo-a como mulher. Mulher de corpo inteiro e não apenas um símbolo feminino, nem uma mãe.

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etween the meticulous mise en scène of mexican society after its 1910s revolution and the enigmatic portrait of a woman who opens a wound in her chauvinistic environment, Arrancame la vida (Tear my heart out) wants to provoke something. The film crosses the corridors of the Mexico of the 30s and 40s with the story of Catalina Guzman (Ana Claudia Talancon), a young girl of a poor rural family who falls in love with conniving, calculating general Andrés Asensio (Daniel Gimenez Cacho). Catalina not only represents the mexican bourgeoisie: she is essentially another body, a feminine body, a body which constructs its own discourse. The ways in which this woman breaks with the system from its deeper axis (masculinity) are considerably complex. At first she seems to repeat a model, to assume an imposed role. But this imposition crumbles when Catalina turns towards another man - although she is not unfaithful in the way in which Andrés is. Falling in love with a certain freedom, she is finally able to breathe outside of her straitjacket. When talking about freedom and mexican history becomes a discussion about women, it’s a controversial move. To subordinate masculine history to Catalina’s story and construct her as a woman -not as a female, nor as a motheris the real gamble of this film.

Mary Carmen Molina Ergueta


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FOCO / FOCUS

Domésticas no novo cinema latino-americano Maids in new Latin American cinema

from La Nana

A CRIADA (2009): 27/9 Est Barra Point 2 16:00 29/9 Cine Santa 21:00 7/10 Estação Ipanema 1 13:00, 17:30 DEUSES (2008): 3/10 Cine Santa 21:00 7/10 Espaço de Cinema 2 14:30, 21:15 8/10 Estação Ipanema 1 15:15, 19:45

La Nana foca na criada que trabalha para a mesma família por quase toda sua vida. De certa forma, Raquel se sente parte deles; ela se vê como uma criança que tenta ser como a mãe. Sebastian Silva não apenas mostra a doméstica como uma pessoa que imita as pessoas da família, como revela que os mesmos a consideram não mais do que a pessoa que faz suas camas e limpa as salas. Ninguém se importa com sua vida ou com sua verdadeira família. De alguma maneira, Raquel está a par dessa situação e resolve parar de ligar para sua mãe e até mesmo esquece seus próprios parentes. Sua existência é reduzida ao status de doméstica e sua vida além dos muros da casa inexiste. Tudo isso muda quando uma nova criada chega a casa, fazendo com que Raquel perceba que pode ter a sua própria vida. Raquel começa a fazer coisas que para ela eram além dos seus limites. Ela volta a ligar para sua mãe e começa a fazer exercícios de noite. O filme peruano Dioses vai mais longe; aqui as criadas são

mostradas como fantasmas, caminhando pela casa e sem conversar com seus chefes. Se elas precisam falar algo, se dirigem aos seus contratantes com seus olhos fixados para o chão. Como se seus chefes fossem, como o título diz, deuses. O único momento em que as criadas conversam livremente é quando estão na cozinha. Ali, então, podem falar em suas línguas nativas e olhar direto nos olhos a quem se fala. Antes do filme chegar ao fim, Josue Mendez também nos apresenta o mundo através da perspectiva de um dos personagens do núcleo rico. Para Diego, entrar na vizinhança de sua criada é uma experiência completamente nova; ele não sabe como agir por lá. Para ser honesto, esta parte do filme é uma das menos conseguidas pois o diretor foi um pouco por caminhos de clichê. Escondidas durante anos, as criadas estão gradualmente se tornando mais visíveis – e centrais – personagens da novo cinema Latino Americano. Tanto La Nana quanto Dioses mostram a empregada como personagens que estão apenas presentes pra completar uma tarefa; ninguém se importa o que está debaixo da superfície das coisas. Se a família em La Nana faz Raquel acreditar que faz parte dela, em Dioses os chefes sequer se importam com os sentimentos de suas criadas, as considerando como escravas. Domésticas já estão tão acostumadas a serem tratadas da forma como são, que elas já pensam que esta é a única, e a melhor, maneira. Como seus chefes acreditam que a única razão de suas presenças é limpar a casa, as criadas começam a acreditar que está é a verdade, e eventualmente adotam o ponto de vista de seus chefes para si mesmas.

T from Dioses

he way Latin American films represent maids has dramatically changed over the past ten years. From not having any proper appearances, maids became important characters, if not the main one, in numerous films. The Festival do Rio is presenting two examples of this new trend, Chilean Sebastian Silva’s La Nana (The Maid) and Peruvian Josue Mendez’s Dioses (Gods).

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partir desta edição convidamos críticos profissionais para classificar os filmes em competição na Premiere Brasil - ficção. Críticos da Europa e do Brasil. Desse modo, quem segue o festival pode sentir as tendências da crítica..

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tarting from this edition, we invite professional critics to rate films in competition in Premiere Brasil - fiction. Critics from Brasil and Europe.That way festival-goers can feel the critical pulse.

La Nana focuses on a maid who has been working for the same family almost all her life. In a way, Raquel feels part of the family;

C R I T I C S P O O L

The Peruvian film Dioses goes even further; here maids are portrayed as ghosts, walking around the house and not talking to their bosses. If they really have to, they address their employers with their eyes fixed towards the floor. As if the bosses were, as the title says, gods. The only moment when the maids speak freely is when gathered in the kitchen. Only then can they speak their native language, and look into the eyes of the people they are talking to. Before the movie is over Josue Mendez also shows us the world from the perspective of one of the rich characters. For Diego, entering his maid’s neighbourhood is a completely new experience; he doesn’t know how to act there. To be honest this part of the film is one of the worst because the director makes it too clichéd. Hidden for years, maids are gradually becoming a visible and central - character of new Latin American cinema. Both La Nana and Dioses show the maid as a character who is only present to complete a task; nobody cares about what is under the surface of things. If La Nana’s family makes Raquel believe she is part of them, in Dioses the bosses don’t even care about the maids’ feelings, considering them as slaves. Maids are so much used to being treated the way they are, that they think this is the only, and best, way. As their bosses believe the only reason for which maids are present in the world is cleaning the house, maids start to believe this is true, and eventually adopt their bosses’ points of view on themselves.

Jorge Robinet

Quadro dos críticos Luiz Carlos Merten Estado de Jornal do Brasil São Paulo

Carlos Heli de Almeida

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she considers herself as a child who tries to be like the mom. Sebastian Silva not only represents the maid as a person who imitates the people in the family, but depicts how the family considers Raquel as no more than the person who makes their beds and cleans their rooms. Nobody cares about her life or her real family. In a way Raquel even acknowledges the situation, by stopping calling her mother and even forgetting her relatives. Her existence is reduced to the status of a maid and her life beyond the walls of the house does not exist. This all changes though when a new maid comes into the house who makes Raquel realise that she can have a life on her own. Raquel begins to try new things that for her were «outside the line». She calls her mother again, and starts running at nights.

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jeito que a América Latina representa domésticas tem mudado consideravelmente nos últimos dez anos. Por não terem uma aparência definida, as domésticas se tornaram personagens importantes, se não o mais, em muitos filmes. O Festival do Rio apresenta dois exemplos dessa nova tendência: o chileno La Nana (A Criada), de Sebastian Silva, e o peruano Dioses (Deuses), de Josue Mendez.

Neusa Barbosa O Globo

Rui Pedro Tendinha Notícias Magazine

(Portugal)

Matthieu Darras Positif (France)


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ENCONTRO / ENCOUNTER

A g n è s Va r d a

text: Pierre-Anthony Canovas transcription: Dominika Uhrikova photos: Silviu Pavel

Eu não tenho arrependimentos, mas sinto, às vezes, melancolia

I don’t have any regrets but sometimes melancholy

O

iconoclausta e pioneira cineasta francês, agora com 81 anos, esta apresentando no Rio The Beaches of Agnès, um filme autobiográfico que deve ser lançado no Brasil ainda no final do ano. Era perto de uma outra famosa praia, a de Copacabana, que ele falou à Nisimazine sobre seu mais recente trabalho e da visão particular do cinema, que ele tem mostrado através de seus 55 anos de carreira longa. Há alguns dias atrás você estava dando uma palestra em uma escola de cinema no Norte do Brasil. Será que você quer compartilhar com os alunos o seu amor ao cinema? É mais como um ponto de vista, mas eu gosto quando você diz «amor» ao cinema. Mostreilhes os meus filmes e tentei transmitir a idéia de como obter um ponto de vista particular. Na verdade, todo mundo tem uma câmera. Todo mundo está filmando o tempo todo. Hoje você vê alguém com uma câmera. É bom, é a liberdade, e isso é democracia. Mas quando alguém vai fazer um filme, ao propor um filme, o que você pode ensiná-los? Você pode ensinar-lhes a energia, ensiná-los a transmitir o amor pelo cinema: ensina-los a ter um objetivo alto, não apenas fazendo simplesmente um filme e pronto.Você tem que escolher a meta que pretende atingir, como você quer atingir, qual a sua motivação e a energia e também o quanto você está pronto para colocar tudo isso em seu filme. Que conselhos especiais você deu para os alunos? Durante esta palestra, foram feitas muitas perguntas e dadas respostas sobre cinema. Mas, em geral, eu sempre tento não usar truques. É fácil de fazer o foco direito e a luz direita. Eles não precisam de um cineasta para ensinar isso. E eu não quero ensinar-lhes a sua edição. The Beaches of Agnès é autobiográfico. Está

Como você se relaciona com esta sua vida pessoal? Eu tenho dois filhos e quatro netos. Talvez eu fiz algumas coisas erradas na minha vida, mas talvez eles gostariam de saber o que tenho feito. Por exemplo, meu filho Matthieu Demy que é um ator francês me disse: «Eu não sabia que você fugiu quando tinha dezoito anos.» De fato, eu fui embora, eu fui para Córsega, eu queria ser livre, eu queria ser forte . A memória deve ser transmitida? Devemos saber muito mais sobre as pessoas que morrem? Eu estou me perguntando o tempo todo. E eu digo para mim mesmo, talvez aos meus netos nisso não vai importar. Talvez não vão quere saber o que aconteceu anos atrás. Antes desta entrevista, observei que você toma os trabalhadores na rua com sua câmera na mão. O que é? Isto é para um diário. Em cada cidade que eu vou, eles estão cortando as árvores. Então eu filmo esse momento, quando eles asestão aparando. Em Paris eu também me perguntava o que está acontecendo estes dias. Eu filmo para mim e talvez para um projeto em um ano. Eu gostaria de fazer um diário eletrônico das minhas viagens, mas solto, muito solto. Eu concordei em fazer um projeto com o canal de TV Arte para final de 2010. Para mim, a câmera é um instrumento, uma ferramenta democrática. (Ele puxa sua câmera para fora da bolsa e começa a filmar). Agora, novamente, isso é um ponto de vista. Há uma frase no final das The

‘‘Então eu vi o 8 e 0 de 80 anos vindo e eu

pensei: ‘‘Oh meu Deus!’’ ‘‘Then I saw the 8 and 0 of 80-year-old coming like this and I thought “Oh my God!”

presente a sua vida com um tom particular, através daqueles lugares onde você passou um bom tempo. Qual foi a sua finalidade? Você se lembra quando você fez 20 anos? Pessoalmente, eu me lembro quando eu fiz 40, 50, 60 ... Então eu vi o 8 e 0 de 80 anos vindo e eu pensei: «Oh meu Deus!» Além disso, na França, temos este autor, Montaigne . Quando ele era velho, ele escreveu algo que me tocou: «Eu escrevo para os meus amigos e minha família, porque você está indo perder-me mais ou menos em breve. E eu devo transmitir-lhes alguma coisa antes de eu partir. «Muitas vezes penso sobre as pessoas que não têm mais seus pais e eu me pergunto:» Você não acha que você não lhes perguntou o suficiente? «

Beaches of Agnès: «Lembro-se de mim, enquanto eu estou vivo.» Isso é o que eu sinto. E eu estou indo para promover esta ideia.Você sabe, não é como eu estou indo vendê-lo aqui e acolá. É a minha vida. Então, quando eles estão cortando as árvores, eu os filmo cortarndo essas árvores, e eu sinto que algo está acontecendo, enquanto eu estiver aqui. E eu quero fazer isso de uma maneira agradável.

AS PRAIAS DE AGNES (2008): 27/9 Est Vivo Gávea 2 20:10 28/9 Est Barra Point 1 16:00

T

he iconoclast and pioneering French film director, now 81, is in Rio presenting The Beaches of Agnès, an autobiographical film that should be released in Brazil at the end of the year. It was close to another famous beach, Copacabana, that Nisimazine met her to talk about her latest work and the particular vision of cinema she has shown through her 55-year-long career. A few days ago you were giving a lecture in a film school in Northern Brazil. Did you want to share with students your love of cinema? It is more like a point of view, but I like when you say “love” of cinema. I showed them my films and I tried to transmit them how to get a particular point of view. Indeed, everybody has a camera. Everybody is filming all the time. Today you see everybody with a camera. It’s fine, it’s freedom, and it is democracy. But when somebody is going to make a film, to propose a film, what can you

teach them? You can teach them energy, teach them to transmit the love for cinema: to make yourself have a high goal, not just making a film and then it’s gone.You have to choose the goal you want to reach, how you want to achieve it, what your motivation is and also how much energy you are ready to put into your film. Which particular advice did you give to the students? During this lecture, there were additionally many questions and answers about movies. But in general, I always try not to make tricks. It’s easy to do the right focus, the right stuff, and the right light.You do not need a filmmaker to teach you that. And I don’t want to teach them the editing. The Beaches of Agnès is autobiographical. You present your life with a particular

Nisimazine RIo 28. 09. 2009 / # 2 A gazette published by the association N I S I M A S A with the support of the Festival do Rio and the Youth In Action programme of the European Union

EQUIPE EDITORIAL / EDITORIAL STAFF Diretor de Publicação / Director of Publication Matthieu Darras Editores-Chefe / Editors in Chief Rui Pedro Tendinha, Jude Lister Tradutores/ Translators Bruno Carmelo, Sabrina Fidalgo, Arturo Mestanza Design Maartje Alders Contribuíram para esta edição / Contributors to this issue Pierre-Anthony Canovas Mary Carmen Molina Ergueta, Silviu Pavel, Laslo Rojas Jorge Robinet, Dominika Uhrikova, Enrique Vivar

tone, through those places where you have spent a lot of time. What was your purpose? Do you remember when you turned 20? Personally, I remember when I turned 40, 50, 60… Then I saw the 8 and 0 of 80-year-old coming like this and I thought “Oh my God!” In addition, in France, we have this author, Montaigne. When he was old, he wrote something that touched me: “I write for my friends and my family because you are going to lose me more or less soon. And I should transmit them something before I am gone.” I often think about the people who don’t have their parents anymore and I wonder: “Don’t you think you did not ask them enough?” How do you relate this to your personal life? I have two children and four grandchildren. Maybe I did some things wrong in my life but maybe they would like to know what I have done. For instance, my son Matthieu Demy who is a French actor told me: “I did not know you escaped when you were eighteen.” Indeed, I went away, I went to Corsica, I wanted to be free; I wanted to be strong. Should the memory be transmitted? Should we know a lot more about the people who die? I am asking myself all the time. And I say to myself, maybe my grandchildren don’t care. Maybe they don’t want to know what happened years ago. Before this interview, I observed you filming the workers in the street with your hand-held camera. What is it for? This is for a diary. In every city I go to, they are cutting the trees. So I shoot them. They are trimming them. In Paris as well, so I wondered what is happening these days. I film for myself and maybe for a project in one year. I would like to do an electronic diary of my travels, but loose, very loose. I agreed on a project with the TV channel Arte for the end of 2010. For me, the camera is a tool, a democratic tool. (She pulls her camera out from her bag and starts to film). Now again, that is a point of view. There is a sentence at the end of The Beaches of Agnès: “I remember while I am alive.” That is what I feel. And I am going to promote this idea.You know, it is not like I am going to sell it here, sell it there. It is my life. So when they are cutting the trees, I shoot them cutting the trees, and I feel like something is happening while I am here. I want to make it in a way enjoyable.

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