Rio de Janeiro
Nisimazine ----------------------------------------------Wednesday 30 September
#3
Um magazine especial publicado por NISI MASA; rede europeia de cinema jovem, no âmbito de um workshop de jovens críticos A festival gazette published in the framework of a workshop for young critics by NISI MASA, European network of young cinema
EDITORIAL
FILME DO DIA / FILM OF THE DAY
by Pierre-Anthony Canovas
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hefiada por uma francófila de verdade, Ilda Santiago, o festival sempre esteve interessado no cinema francês. Este ano não é uma exceção; um programa muito especial foi criado em conjunto como parte do chamado «Ano da França no Brasil», uma temporada cultural, que está celebrando a arte francêsa em todo o país. E logo duas das mulheres mais emblemáticas do cinema francês estão presentes no Rio de Janeiro. E tanto como jornalista e como um fã de filmes eu gostaria de dedicar este editorial a elas. .
eaded by a true Francophile, Ilda Santiago, the festival has always been keen on French cinema.This year is no exception; a very special programme has been put together as part of the so-called “French Year in Brazil”, a cultural season which is celebrating French arts throughout the country.Two of the most emblematic women of French cinema are present in Rio. I would like to dedicate this editorial to them - as much as a film buff as a journalist.
Obviamente estou me referindo a diretora Agnès Varda e a atriz Jeanne Moreau. Uma delas apresentou o seu mais recente filme, uma tentativa autobiografia e caseira e a outra é a convidada de honra do festival. Ambas são líderes e ícones do famoso New Wave. Nestes últimos dias, tive a oportunidade de passar algum tempo em companhia da famosa diretora e o que mais me impressionou foi a sua humanidade e a bondade em compartilhar com as pessoas. Primeiro eu conheci Agnès Varda, em Copacabana.Vendo-a filmar os trabalhadores de rua com uma pequena câmera foi realmente uma experiência. Outro grande momento foi quando Jeanne Moreau visitou um centro cultural em uma das favelas do Rio de Janeiro, discutindo abertamente sobre sua carreira e incentivando os jovens a serem audaciosos com seus projetos.
Obviously I am referring to the director Agnès Varda and the actress Jeanne Moreau. One is presenting her latest film, a homemade attempt of autobiography; the other is the honorary guest of the festival. Both are iconic leaders of the famous New Wave. These last days, I had the chance to spend some time in their company.What struck me the most was their humanity, kindness, and wish to share with people. First I met Agnès Varda in Copacabana. Seeing her filming the street workers with a tiny camera was really an experience. Another great time was when Jeanne Moreau visited a cultural centre in one of Rio’s favelas, discussing freely about her career and encouraging young people to be audacious for their projects.
Vivenciar esses momentos da vida, e de uma forma de cinema, foi ótimo. Espero que vocês tenham a oportunidade de (re) descobrir Agnès e os filmes de Jeanne. E que a cooperação do cinema brasileirofrancês se aproxime ainda mais nos próximos anos!
Experiencing those moments of life, and in a way of cinema, was great. I hope you have the chance to (re)discover Agnès and Jeanne’s films. And may the Brazilian-French cinema cooperation get even closer in the next years!
Visite nosso website * WWW.NISIMAZINE.EU * para acessar o VIDEOBLOG e conferir mais informações sobre o festival por exemplo: Crítica LLUVIA Retrato MAGALY SOLIER Entrevista MARIANA CHENILLO
Photo by SILVIU PAVEL
FOTO DO DIA / PICTURE OF THE DAY
HISTORIÁS EXTRAORDINÁRIAS
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Mariano Llinás (Argentina, 2008)
No começo, a minha intenção era fazer um filme que fosse próximo a uma novela.» Esta é a afirmação perigosa de Mariano Llinas, o diretor argentino de Histórias Extraordinárias, um filme polêmico e premiado, lançado em 2008. Entretanto propor uma nova e destemida abordagem da relação incestuosa entre o cinema e a literatura não é uma decisão das mais fáceis. Os riscos: a construção de três narradores diferentes, a evasão de quase todo o diálogo, e a encenação de mil e uma histórias em um filme de quatro horas. O filme é construído em dois níveis principais de narrativa. A primeira consiste nas histórias de X, Z e H, três homens solitários que, literalmente, nunca falam sobre si mesmos. O segundo é criado partindo da premissa de como estes três homens se aproximam da vida misteriosa dos outros, assim reconstruindo, descontruindo, e, finalmente, reinventando-os. A curiosidade de X sobre o que parece ser uma vingança acaba sendo um exercício de imaginação que só é possível na solidão. Z anula a sua história pessoal e entra em um intrincado recôndito de um comerciante de animais silvestres. A história de H é também gerada por outras pessoas: dois vizinhos que entram em uma disputa ridícula sobre o passado de uma empresa de energia hidrelétrica. Estes processos da narrativa produzem uma estranha porém agradável cumplicidade entre os misteriosos personagens, os narradores curiosos e o paciênte expectador. Nesse caso os narradores não usam a imagem para explicar. Somos os convidados de um jogo: o três personagens agem como se fossem narradores literários. O ato de contar torna-se uma obsessão recordando assim o raciocínio meticuloso dos melhores detetives da literatura clássica. No entanto, esta reminiscência é, essencialmente, um perigoso exercício de criatividade. Trata-se somente da resolução de um mistério e dos métodos de como encontrar uma maneira de responder a uma imaginação ilógica em vez de usar lógica ou razão. A mesma imaginação que torna esta experiência cinematográfica um desafio extraordinário.
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23 anos/years, France
In the beginning, my intention was to make a movie that was the closest thing to a novel.” This is the dangerous assertion of Mariano Llinas, the Argentinean director of Historias Extraordinarias, a controversial and prize-winning film first released in 2008. To propose a new and fearless approach to the incestuous relationship between cinema and literature might not have been the easiest gamble to take. The risks: the construction of three different storytellers, the avoidance of almost all dialogue, and the staging of a thousand and one stories in a four hour film. The film is constructed on two main narrative levels. The first consists of the stories of X, Z and H, three lonely men who literally never speak about themselves. The second is created as these three men begin to approach the mysterious lives of others, to the point of rebuilding, picking apart, and finally reinventing them. X’s curiosity over what seems to be a vendetta ends up being an imaginative exercise which is only possible in solitude. Z cancels his personal story and goes into the intricate recesses of a wild animal trader. H’s story is also generated by others: two neighbours who get into a ridiculous dispute about the past of a hydroelectric power company. These narrative processes produce a strange but endearing complicity between the curious characters, the inquisitive narrators and the patient audience.
Our storytellers do not use the image to explain. We are invited into a game: the three only act as if they were literary narrators. Telling becomes an obsession recalling the meticulous reasoning of classic literature’s finest detectives. However, this reminiscence is essentially a lack of respect, a dangerous exercise in creativity. It becomes about solving a mystery, only the methods of finding a resolution respond to an illogical imagination rather than logic or reason. The same imagination that makes this cinematic experience an extraordinary challenge.
Mary Carmen Molina Ergueta 3/10 Instituto Moreira Salles 18:00 7/10 Estação Botafogo 3 17:30 8/10 Cine Santa 18:00
ENTREVISTA / INTERVIEW
29/09 Espaço de Cinema 1 23:59 30/09 Cinemark Downtown 1 16:30, 21:30
A guerrilha de Cristian Mercado’ s Guerrilla
Ele começou no teatro aos 23 anos. Agora com uma notável carreira no teatro e no cinema tanto em seu país como no exterior, Cristian Mercado é um dos mais importantes atores desta década. Em 2008 alcançou uma de suas maiores realizações: um papel de coadjuvante em Che: Guerilla, a segunda parte do filme biográfico de Steven Soderbergh sobre Ernesto Che Guevara. He started in theatre at the age of 23. Now with a remarkable career in theatre and cinema at home and abroad, Mercado is one of Bolivia’s most important actors of this decade. In 2008 Cristian experienced one of his most significant achievements: a co-starring role in Che: Guerrilla, the second part of Steven Soderbergh’s biopic of Ernesto Guevara.
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his movie has generated some controversy because of the way it portrays a political symbol as important as Che Guevara. What did it mean for you to play Inti Peredo, Che’s most beloved guerrilla man? The first thing Soderbergh told us was that we were lucky to do a story bigger than ourselves. As a Bolivian actor, I think it was an amazing experience to participate in a film so honest with Che´s story. It was quite a challenge to embody Inti Peredo, perhaps one of the few who understood the concept of Che’s revolution. A revolution that is a life attitude. I began investigating Inti Peredo´s life and I discovered that in the guerrilla’s reports, Che always spoke fondly of Inti.
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ste filme gerou alguma controvérsia devido à forma com que um símbolo político tão importante quanto Che Guevara foi retratado. O que significou para você interpretar Inti Peredo, o mais querido guerrilheiro de Che? A primeira coisa que Soderbergh nos disse foi que tínhamos sorte por fazer uma história maior que nós mesmos. Como um ator boliviano, foi uma incrível experiência poder participar de um filme tão honesto sobre a história de Che. Foi um grande desafio dar corpo a Inti Peredo, talvez um dos poucos que compreendeu o conceito de revolução de Che. Uma revolução que é uma atitude de vida. Eu comecei a investigar a vida de Inti Peredo e descobri que nos relatos de guerrilha, Che sempre falava carinhosamente dele. Che, O Argentino, a primeira parte do filme de Soderbergh de alguma forma se distancia da imagem de Che na América Latina.Você acha que este filme procura reforçar ainda mais o mito de Ernesto Che Guevara? Na Bolívia se pergunta da vida de Che desde a infância. Eu cresci
com a imagem de Che nos muros de minha casa. Hoje, sua imagem é largamente usada; bandas de rock como Rage Against the Machine a popularizaram. Nesse sentido, sim, Che é um mito popular, como o Super-Homem. As pessoas dizem que este filme está de acordo com a ideologia de Fidel Castro. Eu discordo dessa opinião. Steven Soderbergh é um americano que faz filmes. Ele é brilhante e adora o que faz. Alguém que retratou Che como um homem do povo, comum. O que eu adoro a respeito deste filme é que ele não insiste na exploração da imagem de Che. O que este filme representa em sua carreira internacional como ator? Este filme foi um golpe de sorte.Trabalhar com um diretor como Steven Soderbergh abre as portas para o mundo. Eu aprendi muito com este filme. O filme me deu a oportunidade de continuar a trabalhar fora da Bolívia. Em 2008, o diretor peruano Javier Fuentes-Leon me escolheu para estrelar Contracorriente que acabou de ser apresentado no Festival de Cinema de San Sebastian.
Che: El Argentino, the first part of Soderbergh’s film, is a portrait that takes some distance with the image of Che in Latin America. Do you think this film seeks to reinforce even more the myth of Ernesto Che Guevara? In Bolivia, one wonders about Che
from childhood. I grew up with the image of Che on the walls of my house. Today, his image is widely used; for example, rock bands like Rage Against the Machine have popularized [it]. In that sense, yes, Che is a popular myth, like superman. People say that this film agrees with Fidel Castro´s ideology. I disagree with this opinion. Steven Soderbergh is an American who makes movies. He’s a smart man who loves his job. A man who portrayed the ordinary Ernesto Guevara. What I love about this film is that it does not insist on exploiting Che´s image. What role does this movie play in your international career as a movie actor? This movie was a lucky strike. Working with a director like Steven Soderbergh opens the doors of the world. I learned a lot in this film. The movie gave me the opportunity to continue working outside Bolivia. In 2008, the Peruvian director Javier Fuentes-León chose me to star in Contracorriente. It has just been presented at the San Sebastian Film Festival.
Mary Carmen Molina Ergueta
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-----------------------------------------------------CRÍTICA / REVIEWS
O DIA DA TRANSA
(500) DIAS COM ELA
(HUMPDAY) Lynn Shelton, USA
vida. A vida real não e bem assim...é? Supondo que você não seja um crítico resenhando ’’a mais nova sensação do cinema independente”, sua avaliação de (500) Dias de Verão é inteiramente dependente do modo pelo qual você se relaciona com seus personagens em nível pessoal. E no final, essa é a maneira mais honesta de se lembrar de um filme.
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e The Smiths ou Belle & Sebastian significarem tudo para você, o filme de Marc Webb será uma agradável armadilha, mostrando a trilha sonora de sua vida real. Ele faz um uso muito significativo de um punhado de canções memoráveis de nossa geração. Seja honesto, você adora filmes com os quais se identifica: um rapaz se apaixona por garota de sorriso encantador e risada engraçadinha. Depois de assistí-lo você vai querer alguém que ouse escrever sobre este filme para concordar com você.Vai ser útil se você estiver no final da casa dos vinte anos, e tender a se importar com detalhes e coincidências. A vida real não é uma inovadora comédia antiromântica com um possível final feliz.Você não é o personagem principal de seu filme de arte francês favorito. A canção que você ama não toca alto quando você está caminhando pela rua no dia mais feliz de sua 29/09 Odeon Petrobras 19:15 01/10 Cinemark Downtown 1 14:00, 19:00 04/10 Leblon 1 16:30, 21:30 05/10 Roxy 3 16:30, 21:30
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((500) DAYS OF SUMMER) Marc Webb, USA
f The Smiths or Belle & Sebastian mean the world to you, Marc Webb’s first feature will be a nice trap, featuring the soundtrack of your unfictional life. He does meaningfully use a handful of memorable tunes of our generation. Be honest, you love movies you can relate to: guy falls for girl with lovely smile and cute laugh. After watching it, you’ll want anybody who dares to write about this film to agree with you. It will help if you’re in your late 20s, and tend to care for details and coincidences. Real life is not an «innovative anti-romantic comedy», with a could-be happy-ending.You’re not the main character of your favorite French art film.The song you love doesn’t play out loud when you’re walking down the street on your happiest day ever. Real life isn’t like that... is it? Assuming you’re not a critic reviewing the «newest indie sensation», your appreciation of (500) Days of Summer is entirely dependent on the way you relate to its characters on a personal level. And in the end, that’s the most honest way to remember a film.
Laslo Rojas
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umpday (O dia da transa) é um filme de baixo orçamento entre amigos no qual dois amigos de escola, Ben e Andrew, se reencontram pela primeira vez em dez anos. Entre muita bebida e muita excitação, eles resolvem fazer sexo diante da camera. Não, eles não são gays. “Isso vai além do gay, isso é um projeto artístico“ para um festival de filme pornô. Uma vez que a decisão é tomada, Ben tem que contar a sua esposa e a bola de neve cômica começa a rolar. É divertido assistir a dois homens heterossexuais tentando lidar com sua masculinidade e o medo de dar o passo homossexual. Esse experimento é uma maneira de lidar com a chegada aos trinta e quaisquer ajustes que esta idade exige. Deve ser o roteiro bem escrito, mas também a atuação natural, que faz com que os personagens sejam tão tridimensionais. Embora até mesmo o toque digital da imagem seja tratado de um modo que nunca aliena, demonstrando, pelo contrário, intimidade. Considerando o fato de que o humor é subjetivo e a comédia é um gênero delicado de se explorar, Humpday (O dia da transa) é bem sucedido em fazer você dar umas risadas com um aviso: “Não tente fazer isso em casa“. 30/09 03/10 05/10 07/10
Estação Ipanema 1 17:30, 22:00 Espaço de Cinema 1 17:00, 23:45 Est Barra Point 2 14:15 Est Vivo Gávea 2 22:20
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umpday is a low-budget buddy movie in which two school friends, Ben and Andrew, reunite for the first time in ten years. In between booze and over-excitement, they decide to have sex on camera. No, they are not gay. “This is beyond gay; it’s an art project” for a porn film festival. Once the decision is taken, Ben has to tell his wife and the comic snowball starts to roll. It’s amusing to watch two straight men trying to handle their masculinity and fear of taking the homosexual step.This experiment is a way of dealing with reaching their thirties, and whatever adjustments that age entails. It must be the well-written script, but also the natural acting, which makes the characters so three-dimensional. Although even the digital feel of the image is handled in a way that never alienates, rather offering intimacy. Considering the fact that humour is subjective and comedy a delicate genre to explore, Humpday succeeds in making you giggle with a warning: “Don’t try this at home”.
Eftihia Stefanidi
O Culto à Asterix The Astérix Cult
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ean-Luc Godard, François Truffaut, Claude Lelouch: estes nomes são provavelmente os primeiros que veem à mente quando se fala em cinema francês. Mas eles estão longe de serem os representantes de toda a produção cinematográfica do país. Certamente não seria tão absurdo dizer que filmes de arte na França são – assim como em todos os lugares – mais uma exceção do que regra. É importante mencionar The Transporter,Taxi 4 ou Bienvenue chez le Ch’tis como algumas das maiores bilheterias francesas do novo milênio. E não apenas as maiores bliheterias, mas também os mais desprezados pelos críticos de cinema. E ainda na onda da crítica, os três filmes tem ainda outro fator em comum: todos ganharam o prêmio Gérard du cinéma, versão francesa do Framboesa de Ouro. Outro fime, não menos rejeitado, que ostenta tanto três Framboesas quanto recordes nas bilheterias é Asterix nos Jogos Olímpicos, de Frédéric Forestier e Thomas Langmann. Estrelando Alain Delon e Gerárd Depardieu, mas também Michael Schumacher e Zinedine Zidane, este lançamento de 2008 foi o filme francês mais caro de todos os tempos. Apesar do jornal L’Express ter o descrito como “lixo”, ele atraiu milhões de telespectadores pelo mundo.Também é fato que Asterix teve uma recepção mais positiva na Europa, e especialmente na França, do que fora do continente. Do montante arrecadado no valor de 90 milhões, apenas 700 mil vieram dos bolsos americanos. Então, o que há por trás dessa febre por Asterix na França e nos países vizinhos? Tudo começou há 50 anos, quando o humorista René Goscinny e o ilustrador Albert Uderzo publicaram uma tira em quadrinhos chamada “Asterix, o Gaulês” na revista Pilote, em 29 de outubro de 1958, no mesmo dia em que o periódico começou a circular. Desde então, 33 livros foram lançados e traduzidos em cerca de 100 idiomas. O sagaz Asterix, seu forte, porém nada esperto, amigo Obelix e seu fiel companheiro de quatro patas Dogmatix imediatamente conquistaram os corações franceses. Se foi uma questão de sorte ou talvez um resultado inevitável do humor fresco das tiras, isso ainda é um produto de curiosidade popular ou de trabalhos de escola.
C R I T I C S P O O L
Esta é provavelmente uma das razões porque o Festival do Rio decidiu celebrar o 50 aniversário deste pequeno guerreiro gaulês com exibições de algumas de suas histórias mais populares. Naturalmente, é difícil pra um europeu que nasceu vendo a imagem de Asterix a cada esquina adivinhar se ele vai conquistar a audiência local. De qualquer forma, essa vai ser, sem dúvida, uma boa oportunidade pra experimentar o típico charme francês.
J
ean-Luc Godard, François Truffaut, Claude Lelouch: these names are probably among the first that come to mind when talking about French cinema. But they are far from representative of the whole of the country’s film production. Indeed, it may not be so daring to say that art films in France are – just like everywhere else – rather an exception than a rule. It is enough to mention The Transporter,Taxi 4 or Bienvenue chez les Ch’tis, some of France’s highest-grossing flicks of the new millennium. And not only the highest-grossing, but also the most despised by silver screen connoisseurs. As for the criticism, these three movies again have something in common.They all hold a Gérard du cinéma award, French counterpart of the Golden Raspberry.Yet another one, no less deprecated, which boasts as many as three French Razzies and several box office records at the same time: Astérix at the Olympic Games by Frédéric Forestier and Thomas Langmann. Starring Alain Delon and Gérard Depardieu, but also Michael Schu-
Luiz Carlos Merten Estado de Jornal do Brasil São Paulo
Viajo porque preciso, volto porque te amo
Hotel Atlantico Os famosos e os duendes da morte
Bellini e o demônio Os inquilinos Sonhos Roubados Natimorto O amor segundo B. Schianberg Histôrias de amor duram apenas 90 minutos
O sol do meio dia Cabeça a prêmio
by Dominika Uhríková
Seja o que for, a bola de neve começou a se formar. A primeira de suas famosas aventuras, passada numa vila gaulesa que resistia aos invasores romanos – graças a uma poção mágica – foi transformada em um filme de animação em 1967.Três décadas depois, o primeiro filme com atores reais, Asterix and Obelix Contra César, foi lançado em 1999. Este fime, assim como suas duas sequências, Asterix and Obelix: Missão Cleópatra e Asterix nos Jogos Olímpicos, foram para o topo das bilheterias por todo o velho continente, mas as audiências além-mar manteve-se à parte do seu sucesso, assim como os gauleses quanto à expansão romana.
Quadro dos críticos Carlos Heli de Almeida
FOCO / FOCUS
Neusa Barbosa
Rui Pedro Tendinha UOL
Notícias Magazine
(Portugal)
Matthieu Darras Positif (France)
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by Silviu Pavel
WALLPAPER: Jeanne Moreau visits Nós do Morro Acting School, Favela Vidigal 27/09
macher and Zinedine Zidane, this 2008 release was the most expensive French film ever.Though L’Express described it as “rubbish”, it drew dozens of millions of spectators worldwide.Yet it is true that Astérix’s welcome was much warmer in Europe, and especially in France, than outside of it. Out of its overall gross of around €90 million, only €700,000 came from US box offices. So what is behind this Astérix cult in France and its neighbours?
It all began 50 years ago, when humourist René Goscinny and illustrator Albert Uderzo published a comic strip entitled “Astérix the Gaul” in the magazine Pilote on October the 29th 1959, the very day the periodical itself started appearing. Since then, 33 Astérix comic books have been published and translated into around 100 languages.The shrewd Astérix, his strong but not very clever friend Obélix and their faithful four-legged companion Dogmatix immediately won the French readers’ hearts.Whether it was a matter of chance or rather an inevitable result produced by its fresh humour is still a subject of popular and scholarly wonder. Be it as it may, the snowball was already in motion.The first of their wellknown adventures set in a Gaulish village resisting the Roman invaders - thanks to a magic potion - was adopted into an animation film as soon as in 1967.Three decades later, the first live-action piece, Astérix and Obélix Take on Caesar, was released in 1999.This one as well as its two sequels, Astérix & Obélix: Mission Cleopatra and Astérix at the Olympic Games, topped charts all over the Old Continent, but overseas audiences remained seemingly oblivious to their success, very much like the Gauls to the Roman expansion.
This is probably one of the reasons why the Rio Festival organisers have decided to celebrate the pint-sized Gaulish warrior’s 50th birthday with screenings of some of his most popular stories. It is, naturally, difficult for a European who was born with Astérix jumping out of every corner to guess if he will win over the local audiences. In any case it will doubtless be a good test of the proverbial French charm.
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Então, no cinema se diz que existe somente uma linguagem: a das imagens. O problema é que nós, os gringos, não sabemos todo o truque da cultura brasileira...No nosso primeiro quadro dos críticos quisemos ser divertidos e, em vez das tradicionais estrelas, escolhemos abacaxis. Claro que ficámos sabendo que abacaxi não é mesmo um símbolo positivo. Nós gostamos de abacaxis, os brasileiros aparentemente...não! Pedimos perdão, este workshop vive para aprender. Desta vez, não vamos ser bobos e mudar para bananas...
So...in cinema people insist on saying that only one language exists: the language of images. But we gringos don’t really know every trick of Brazilian culture. In our first critic’s pool we wanted to be funny and instead of stars we chose pineapples. Then of course, we learned that here pineapples are not really positive symbols. We like pineapples, Brazilians apparently …no. Sorry. This workshop keeps on learning. And this time we are not changing for bananas…
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RETRATO / PORTRAIT
Es m i r Fi l h o
text: Bruno Carmelo photo: Silviu Pavel
TEEN SPIRIT
the languages of cinema and theatre, was codirected with a friend, young director Rafael Gomes - with whom Esmir also directed the video Tapa na Pantera, a big Internet success seen by more than ten thousand people on YouTube. He kept on experimenting, undertaking small exercises in genre such as Vibracall (in which a story is told without dialogues or conflicts, based on the suggestive power of a cellphone’s vibration setting) and an incursion into the universe of fables and musicals with awardwinner Ímpar Par, which follows the idea that “every shoe has its pair”, meaning “everyone has a soulmate”. He explains his taste for the universe of fantasy: “I always liked to create stories and wrote short novels during my teenage years.This passion grew stronger when I discovered cinema in my youth. One film that particularly shocked me was Fellini’s Nights of Cabiria, maybe the first art film I ever watched.Then I chose to study cinema at college, to be able to transform my written words into images.”
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ara o público que estiver acompanhando a nova safra de diretores brasileiros, já deve ter saltado aos olhos a multiplicação de novos nomes, as novas formas de fazer cinema e mesmo a juventude desses realizadores. Esmir Filho, 26 anos, apresenta no festival do Rio 2009 seu primeiro longa-metragem, Os Famosos e os Duendes da Morte, cinco anos apenas depois de ter começado sua carreira com curta-metragens e vídeos. Seu primeiro projeto foi Ato II Cena 5, realizado dentro da universidade paulista FAAP, onde o diretor acredita terem acontecido os “primeiros encontros, que me possibilitaram iniciar minha carreira no cinema”. De fato, este curta-metragem, que investiga as linguagens do cinema e do teatro, foi realizado com parceria com outro jovem diretor, Rafael Gomes, com quem Esmir assinou em seguida o vídeo Tapa na Pantera, hit absoluto na Internet, com mais de dez milhões de acessos. O diretor não parou de experimentar, passando por pequenos exercícios de gênero, como Vibracall (em que conta um história sem diálogos nem ações dramáticas, apenas com o poder sugestivo da função vibratória de um telefone celular), e uma imersão no universo do musical e do conto com o premiado Ímpar Par, seguindo a filosofia de “cada sapato tem seu par”, ou seja, a cada um sua alma gêmea. Ele justifica seu gosto pelo universo onírico: “Sempre gostei de criar histórias e escrever contos durante a adolescência. Essa paixão por histórias se intensificou quando eu tomei contato com o cinema durante a juventude. Um filme que me marcou muito foi Noites de Cabíria, do Fellini, talvez o primeiro filme de arte que eu vi. Foi aí que escolhi estudar cinema na universidade e transformar minhas palavras escritas em imagens.” Dois outros curtas-metragens serviram a consolidar sua carreira: Alguma Coisa Assim,
Nisimazine RIO 30. 09. 2009 / # 3 A gazette published by the association N I S I M A S A with the support of the Festival do Rio and the Youth In Action programme of the European Union
vencedor do prêmio de melhor roteiro no festival de Cannes, e Saliva, também foi apresentado no mesmo festival e que, no Brasil, recebeu o prêmio de melhor diretor pelo festival de Gramado. Em comum, esses trabalhos abordam o tema da adolescência, seja pela descoberta da (homo)sexualidade no primeiro, seja pela tensão do primeiro beijo narrado no segundo. “Eu estou muito ligado ao universo do adolescente, pois trata-se de uma época onde estamos descobrindo muitas coisas sobre nós mesmos e aprendendo a lidar com nossos desejos e sentimentos escondidos. Me encantam os ritos de passagem. Entrar na mente da criança e do adolescente, revelando seus desejos mais íntimos e expondo suas fragilidades. Sempre de forma poética e onírica.”
samba”. Quando confrontado com esta escolha delicada de abordar seu trabalho, Esmir é categórico: “[Estes temas] simplesmente não me interessam no momento. O Brasil é um país muito grande, com muita história para contar. As tradições e culturas das diversas regiões do Brasil são muito diferentes entre si. Então, como criar uma identidade brasileira dentro do cinema nacional? Impossível.” Quem quiser então conferir esta outra visão do Brasil, assim como esta outra visão da adolescência, poderá conferir o singular Os Famosos e os Duendes da Morte.
Two other short films helped consolidate his career: Alguma Coisa Assim, winner of best screenplay at the Cannes film festival, and Saliva, presented in the same festival and winner of best director in the Brazilian festival of Gramado. Both of these films focus on adolescence, the first discussing the discovery of (homo)sexuality, and the second, the excitement of the first kiss. “I feel strongly connected to the universe of teenagers, because that’s the time when we discover lots of things about ourselves and learn to deal with our desires and hidden feelings. I’m very interested in the rites of passage: exploring the mind of a child or a teenager, revealing their most intimate wishes, exposing their fragility… always in a poetic and metaphorical way.”
His feature film The Famous and the Dead comes from this choice of approaching youth in a metaphorical way. It tells the story of a teenage boy in the south of Brazil who is experiencing the difficulties of his burgeoning sexuality and the loss of his father. Difficulties which compell him to seek for an escape through various means: the Internet, a relationship with a mysterious girl, the songs of Bob Dylan, and even ‘‘Me encantam os ritos de passagem. Entrar na mente suicide, a theme that constantly haunts the da criança e do adolescente, revelando seus desejos narrative. No more playful joy as in Vibracall and Ímpar Par: now the scenario is melanchomais íntimos e expondo suas fragilidades. ’’ lic, dark and dominated by a strong difficulty ‘‘I’m very interested in the rites of passage: exploring to communicate.
the mind of a child or a teenager, revealing their most intimate wishes, exposing their fragility… ’’
O longa Os Famosos e os Duendes da Morte vem dessa predileção pelo tratamento onírico da adolescência. Nele, um garoto do sul do país convive com as dificuldades da descoberta da sexualidade, da perda do pai, e com a tentação do escapismo via Internet, via uma garota misteriosa com quem conversa, via canções de Bob Dylan ou mesmo através do suicídio, ameaça constante da narrativa. Somem a alegria de Vibracall e Ímpar Par, entra em cena um cenário melancólico, sombrio e marcado pela falta de comunicação. A assessoria de imprensa do filme havia anunciado que o filme representaria uma maneira nova de mostrar o país, longe “das caricaturas nacionais, do crime, da favela e do
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hose who have been following the emergence of new Brazilian directors may have already noticed how fast their numbers are growing, how differently they approach filmmaking, and especially how young they are. 26-year-old Esmir Filho is presenting The Famous and the Dead, his first feature, at the 2009 Rio Film Festival, only five years after beginning his career with short films and videos. His first project was Ato II Cena 5, conceived within the cinema department of the FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), where the director believes he got his “first contacts, which made it possible to follow a career in cinema”. Indeed, this short film, which investigates
EQUIPE EDITORIAL / EDITORIAL STAFF Diretor de Publicação / Director of Publication Matthieu Darras Editores-Chefe / Editors in Chief Rui Pedro Tendinha, Jude Lister Tradutores/ Translators Bruno Carmelo, Sabrina Fidalgo, Arturo Mestanza, José Márcio Siecola de Freitas , Luiza Burkardt Portugal Design Maartje Alders Contribuíram para esta edição / Contributors to this issue Pierre-Anthony Canovas, Bruno Carmelo Mary Carmen Molina Ergueta, Silviu Pavel, Laslo Rojas Eftihia Stefanidi, Dominika Uhrikova
The press office in charge of this film has announced that it represents “a new refreshing side of Brazil, far removed from the caricatures, the favelas, crime and samba music». When asked about such a particular way of exposing his work, Esmir gives us a straight answer: “[These themes] just don’t interest me right now. Brazil is a very big country, with lots of stories to tell.The traditions and cultures from the many parts of Brazil are very different one from another. How can one create a national identity in our cinema? It’s impossible.” For all those willing to check on this other point of view of Brazil, as well as a different point of view on teenagehood, The Famous and the Dead is a good call. OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE
29/09 Est Vivo Gávea 3 22:20
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