Rio de Janeiro
Nisimazine ----------------------------------------------Wednesday 30 September
#3
Um magazine especial publicado por NISI MASA; rede europeia de cinema jovem, no âmbito de um workshop de jovens críticos A festival gazette published in the framework of a workshop for young critics by NISI MASA, European network of young cinema
EDITORIAL
FILME DO DIA / FILM OF THE DAY
by Pierre-Anthony Canovas
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hefiada por uma francófila de verdade, Ilda Santiago, o festival sempre esteve interessado no cinema francês. Este ano não é uma exceção; um programa muito especial foi criado em conjunto como parte do chamado «Ano da França no Brasil», uma temporada cultural, que está celebrando a arte francêsa em todo o país. E logo duas das mulheres mais emblemáticas do cinema francês estão presentes no Rio de Janeiro. E tanto como jornalista e como um fã de filmes eu gostaria de dedicar este editorial a elas. .
eaded by a true Francophile, Ilda Santiago, the festival has always been keen on French cinema.This year is no exception; a very special programme has been put together as part of the so-called “French Year in Brazil”, a cultural season which is celebrating French arts throughout the country.Two of the most emblematic women of French cinema are present in Rio. I would like to dedicate this editorial to them - as much as a film buff as a journalist.
Obviamente estou me referindo a diretora Agnès Varda e a atriz Jeanne Moreau. Uma delas apresentou o seu mais recente filme, uma tentativa autobiografia e caseira e a outra é a convidada de honra do festival. Ambas são líderes e ícones do famoso New Wave. Nestes últimos dias, tive a oportunidade de passar algum tempo em companhia da famosa diretora e o que mais me impressionou foi a sua humanidade e a bondade em compartilhar com as pessoas. Primeiro eu conheci Agnès Varda, em Copacabana.Vendo-a filmar os trabalhadores de rua com uma pequena câmera foi realmente uma experiência. Outro grande momento foi quando Jeanne Moreau visitou um centro cultural em uma das favelas do Rio de Janeiro, discutindo abertamente sobre sua carreira e incentivando os jovens a serem audaciosos com seus projetos.
Obviously I am referring to the director Agnès Varda and the actress Jeanne Moreau. One is presenting her latest film, a homemade attempt of autobiography; the other is the honorary guest of the festival. Both are iconic leaders of the famous New Wave. These last days, I had the chance to spend some time in their company.What struck me the most was their humanity, kindness, and wish to share with people. First I met Agnès Varda in Copacabana. Seeing her filming the street workers with a tiny camera was really an experience. Another great time was when Jeanne Moreau visited a cultural centre in one of Rio’s favelas, discussing freely about her career and encouraging young people to be audacious for their projects.
Vivenciar esses momentos da vida, e de uma forma de cinema, foi ótimo. Espero que vocês tenham a oportunidade de (re) descobrir Agnès e os filmes de Jeanne. E que a cooperação do cinema brasileirofrancês se aproxime ainda mais nos próximos anos!
Experiencing those moments of life, and in a way of cinema, was great. I hope you have the chance to (re)discover Agnès and Jeanne’s films. And may the Brazilian-French cinema cooperation get even closer in the next years!
Visite nosso website * WWW.NISIMAZINE.EU * para acessar o VIDEOBLOG e conferir mais informações sobre o festival por exemplo: Crítica LLUVIA Retrato MAGALY SOLIER Entrevista MARIANA CHENILLO
Photo by SILVIU PAVEL
FOTO DO DIA / PICTURE OF THE DAY
HISTORIÁS EXTRAORDINÁRIAS
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Mariano Llinás (Argentina, 2008)
No começo, a minha intenção era fazer um filme que fosse próximo a uma novela.» Esta é a afirmação perigosa de Mariano Llinas, o diretor argentino de Histórias Extraordinárias, um filme polêmico e premiado, lançado em 2008. Entretanto propor uma nova e destemida abordagem da relação incestuosa entre o cinema e a literatura não é uma decisão das mais fáceis. Os riscos: a construção de três narradores diferentes, a evasão de quase todo o diálogo, e a encenação de mil e uma histórias em um filme de quatro horas. O filme é construído em dois níveis principais de narrativa. A primeira consiste nas histórias de X, Z e H, três homens solitários que, literalmente, nunca falam sobre si mesmos. O segundo é criado partindo da premissa de como estes três homens se aproximam da vida misteriosa dos outros, assim reconstruindo, descontruindo, e, finalmente, reinventando-os. A curiosidade de X sobre o que parece ser uma vingança acaba sendo um exercício de imaginação que só é possível na solidão. Z anula a sua história pessoal e entra em um intrincado recôndito de um comerciante de animais silvestres. A história de H é também gerada por outras pessoas: dois vizinhos que entram em uma disputa ridícula sobre o passado de uma empresa de energia hidrelétrica. Estes processos da narrativa produzem uma estranha porém agradável cumplicidade entre os misteriosos personagens, os narradores curiosos e o paciênte expectador. Nesse caso os narradores não usam a imagem para explicar. Somos os convidados de um jogo: o três personagens agem como se fossem narradores literários. O ato de contar torna-se uma obsessão recordando assim o raciocínio meticuloso dos melhores detetives da literatura clássica. No entanto, esta reminiscência é, essencialmente, um perigoso exercício de criatividade. Trata-se somente da resolução de um mistério e dos métodos de como encontrar uma maneira de responder a uma imaginação ilógica em vez de usar lógica ou razão. A mesma imaginação que torna esta experiência cinematográfica um desafio extraordinário.
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23 anos/years, France
In the beginning, my intention was to make a movie that was the closest thing to a novel.” This is the dangerous assertion of Mariano Llinas, the Argentinean director of Historias Extraordinarias, a controversial and prize-winning film first released in 2008. To propose a new and fearless approach to the incestuous relationship between cinema and literature might not have been the easiest gamble to take. The risks: the construction of three different storytellers, the avoidance of almost all dialogue, and the staging of a thousand and one stories in a four hour film. The film is constructed on two main narrative levels. The first consists of the stories of X, Z and H, three lonely men who literally never speak about themselves. The second is created as these three men begin to approach the mysterious lives of others, to the point of rebuilding, picking apart, and finally reinventing them. X’s curiosity over what seems to be a vendetta ends up being an imaginative exercise which is only possible in solitude. Z cancels his personal story and goes into the intricate recesses of a wild animal trader. H’s story is also generated by others: two neighbours who get into a ridiculous dispute about the past of a hydroelectric power company. These narrative processes produce a strange but endearing complicity between the curious characters, the inquisitive narrators and the patient audience.
Our storytellers do not use the image to explain. We are invited into a game: the three only act as if they were literary narrators. Telling becomes an obsession recalling the meticulous reasoning of classic literature’s finest detectives. However, this reminiscence is essentially a lack of respect, a dangerous exercise in creativity. It becomes about solving a mystery, only the methods of finding a resolution respond to an illogical imagination rather than logic or reason. The same imagination that makes this cinematic experience an extraordinary challenge.
Mary Carmen Molina Ergueta 3/10 Instituto Moreira Salles 18:00 7/10 Estação Botafogo 3 17:30 8/10 Cine Santa 18:00