Rio de Janeiro
Nisimazine ----------------------------------------------Sunday 4 October
Um magazine especial publicado por NISI MASA; rede europeia de cinema jovem, no âmbito de um workshop de jovens críticos A festival gazette published in the framework of a workshop for young critics by NISI MASA, European network of young cinema
EDITORIAL by Dominika Uhríková
#5
FILME DO DIA / FILM OF THE DAY
E
I
u gastei mais de três quartos de hora no táxi. Enquanto eu estava a caminho, tentando decifrar o que o motorista estava dizendo em português sobre sua “filhinha” Beatriz de onze anos e fechando meus olhos toda vez que ele avançada sinais vermelhos a 80 km/h, eu continuei perguntando a mim mesma porque eu havia decidido, na minha primeira vez no Rio, assistir a Soul at Peace (Pokoj v duši), um filme feito por meu compatriota e apresentado pela primeira vez no início deste ano, em vez de assistir a uma produção brasileira que nunca deverá ser exibida em meu país.
spent more than three quarters of an hour in the cab.While I was getting to Botafogo, trying to decipher what the driver was saying in Portuguese about his eleven-year-old filhinha Beatris and shutting my eyes whenever he drove through red lights at 50 mph, I kept asking myself why on earth I had decided, on my first stay in Rio, to see Soul at Peace (Pokoj v duši), a feature made by my compatriot and premiered earlier this year, instead of some Brazilian flick that might never be shown in my country.
Quando eu finalmente cheguei, a sala de exibição estava tão lotada que tive que sentar no chão. Então, depois de um tempo, além da dor lancinante em minhas costas, eu experimentei uma estranha emoção que eu provavelmente nunca havia sentido antes na Eslováquia. Era genuinamente orgulho.
When I finally arrived, the screening hall was so crammed I had to sit on the floor.Then, after a while, beside the excruciating pain in my back, I experienced a strange emotion I would probably never have felt back in Slovakia. It was genuine pride.
Na verdade eu não gostei do filme, mas eu não me importei. O que eu estava realmente pensando durante todo o tempo era se meus colegas espectadores, em sua maioria brasileiros eu imagino, iriam apreciar a paisagem, o idioma, o estilo de vida da Eslováquia... resumindo, coisas que eles não encontram com muita frequência. Eu desfrutei do aplauso ao final do filme como se ele fosse para mim. Foi quando eu me dei conta de que o festival, assim como o workshop em que estou participando, está acima de qualquer troca cultural. Então da próxima vez que você assistir à exibição de um filme, não apenas corra para o cinema como um bobo. Converse com o motorista de táxi, fale com as pessoas da bilheteria do cinema ou converse com qualquer um que você encontre. E não se esqueça de guardar suas memórias, ela podem vir a ser úteis para um romance original, um filme ou simplesmente um editorial como esse que você acabou de ler.
I actually didn’t like the movie, but I didn’t care.What I was really thinking about all the time was whether my fellow viewers, mostly Brazilian I guessed, would appreciate the Slovak landscape, language, lifestyle... In short, things they probably don’t come across very often. I enjoyed the final applause as if it had been meant for myself.This is when I realised that the festival, as well as the workshop I am taking part in, is above all a cultural exchange. So next time you attend a screening, don’t just hurry to the cinema like a fool.Talk to the taxi driver, talk to the people at the box office, talk to anybody you meet. And don’t forget to keep your memories; they can come in handy for an original novel, a movie, or simply an editorial like the one you just read.
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Photo by SILVIU PAVEL
FOTO DO DIA / PICTURE OF THE DAY
JAFFA
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Keren Yedaya (França/Israel/Alemanha, 2009)
m Jaffa, cidade multiétnica de Israel, Reuven Wolf e sua mulher Osnat são donos de uma garagem, seu negócio de família. Seus filhos, Meir e Mali trabalham lá com dois palestinianos, o jovem Toufik e o seu pai Hassan. Toufik e Malik têm uma relação que ninguém suspeita. Contudo, enquanto discretamente começam a planejar o seu casamento, a tensão entre Meir e Toufik cresce até à um clímax trágico. Dirigido pelo jovem israelita Keren Yedaya, que venceu a Camera d’Or de descoberta no Festival de Cannes de 2004 com Mon Trésor, Jaffa é sobretudo um filme psicológico. Sustentado através de um roteiro modesto e por cenários limitados (essencialmente filmados nas confinadas paredes de uma garagem ou no apartamento da família), talvez não venha a ter apelo imediato para um certo tipo de público, mas para quem tiver vontade este filme tem qualquer coisa de original pela sua simplicidade. Estamos perante um conto simples e poderoso, capaz de lidar com as noções de amor e perdão num contexto da relação entre os israelitas e os palestinianos. Mali, a israelita está grávida de Toufik, o palestiniano – personagem interessante, elogiado por Teuven mas odiado por Meir. A primeira parte revela os personagens e seu cotidiano, tudo isso encenado como se fosse uma peça de teatro. Depois, é finalizado com um momento final trágico, daqueles que podem acontecer a qualquer família. A segunda parte é situada nove anos depois. Mali é agora uma mãe jovem, que se mudou com seus pais para se esquecer. Toufik tem estado na prisão por um certo tempo e em breve será libertado. E é esse mergulho na realidade que torna o filme mais interessante, com Mali revelando alguns segredos a Toufik e sua família.
I
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22 anos/years, Slovakia
n the multiethnic Israelian city of Jaffa, Reuven Wolf and his wife Osnat own a garage, a family business. Their daughter Mali and son Meir work there with two Palestineans, the young Toufik and his father Hassan. Toufik and Mali have had a hidden relationship for years that no one suspects. However, while they start discreetly arranging their wedding plans, the tension between Meir and Toufik grows, leading up to a tragic climax. Directed by young Israelian filmmaker Keren Yedaya, who won the Camera d’Or for Mon Trésor at the 2004 Cannes Film Festival, Jaffa is above all a psychological movie. Whilst it’s modest script and limited scenery (mainly filmed within the closed walls of the garage and the family apartment) may not have immediate appeal for certain audiences, for those willing to enter into it this is an original, simple and powerful tale, dealing with the notions of love and forgiveness through the context of the Israeli-Palestinian relationship. Indeed, Mali the Israelian is pregnant by Toufik, the Palestinian - an interesting character, appreciated for his work by Reuven but hated by Meir. The first part reveals the characters and their daily lives, and is set out as a filmed theatre play. It ends with a tragic moment, something that could happen to every family. The second part takes place nine years later. Mali is now a young mother, who has moved away with her parents in order to forget. Toufik has been in prison for years and is soon going to be released. It is this come-back-to-reality which is the most interesting section of the movie, with Mali revealing a few things to both her family and Toufik.
JAFFA 03/10 Espaço de Cinema 3 20:00
Pierre - Anthony Canovas
ENTREVISTA / INTERVIEW Uma espécie de beleza alemã Some kind of German beauty
FLORIAN EICHINGER O promissor diretor-revelação germânico Florian Eichinger tem participado de festivais internacionais com seu filme de estréia, Sem você não sou ninguém, uma forte narrativa sobre um interminável conflito entre pai e filho. Atualmente convidado para a seção “Expectativa” no Rio, Florian Eichinger falou sobre sua inpiração e paixão em dirigir filmes. Up-and-coming German director Florian Eichinger has been attending international festivals with his debut feature Bergfest, a strong narrative about a long-lasting conflict between a father and son. Currently invited in the ‘Expectativa’ section in Rio, Florian Eichinger talked about his inspiration and passion for directing.
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ual era sua idéia e desejo ao escrever e dirigir Sem você não sou ninguém? A idéia aconteceu por várias razões. As condições para se produzir o filme afetaram o planejado, eu sabia que queria escrever um roteiro de baixoorçamento para ser independente na captação de recursos e eu, pessoalmente, adoro “jogos de câmara” porque eles lidam intensamente com os personagens. A essência tem que ser certa e você não pode esconder nenhuma fraqueza no seu roteiro através da cinematografia. Pra complementar, a história também é autobiográfica; eu conheço esse tipo de famílias misturadas pois eu tinha um padrasto e não vivia com meu pai. Vocês só tiveram dez dias de filmagem. Sim, dez dias é algo que eu não recomendo, é um pesadelo. Todavia eu conhecia a equipe de curtas e comerciais anteriores. Dois dos atores já se conheciam, o que foi bom para o clima no estúdio. Como você descreveria seu estilo como diretor e quais histórias estaria interessado? Eu, certamente, quero dirigir filmes onde coisas importantes aconteçam, filmes que façam você pensar e não sejam superficiais, não filmes que enfraqueçam a vida, mas que a reflitam. Em Sem você não sou
ninguém quis mostrar também a beleza por trás do egoísmo dos personagens. Conte-nos sobre seu background no cinema. Filmando meu primeiro curta com outros dois colegas, depois de me formar, logo me dei conta que eu parecia ser o único que se importava. Foi como, acidentalmente, acabei me envolvendo com direção. Depois trabalhei como editor de jornalismo e, ao mesmo tempo, filmava curtas. Eu nunca fui pra escola de cinema, porque escolas sempre foram um tanto desprezíveis para mim. Depois de fazer parte de um workshop, financiado por um fundo de cinema, percebi o quanto compesador um clássico seminário de cinema poderia ser, mas naquela época já era tarde demais pra estudar.
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hat was your idea and wish for writing and directing Bergfest? The idea occurred for several reasons. The conditions to produce the film affected the setting, I knew I wanted to write a low-budget script to be independent from film funds, and I personally love chamber plays because they intensively deal with the characters. The essence has to be right and you can’t cover any weaknesses in the script through cinematography. To some extent the story is also autobiographical; I know these kind of patchwork families as I used to have a stepfather and didn’t live with my dad.
You only had ten days of shooting. Yes, ten days is something I wouldn’t recommend, it’s a nightmare. Nevertheless [...] I knew the team from previous shorts and commercials. Two of actors had known 40 co-produções alemãs estão sendo exibidas no Rio. O que acha do recente each other before, which was good for the atmosphere on set. desenvolvimento do cinema germânico? Filmes alemães tem feito um bom progresso How would you describe your style as a director nos últimos dez anos. Há vários filmes ambi- and which stories are you interested in? ciosos, diversos, mas voltados para um nível I definitely want to direct films where the rubber meets competidor com outros países. Pessoalmen- the road, films that make you think and are not superficial, not films that fade out life but reflect it. In Bergfest I te, não poderia mencionar nenhum diretor wanted to also show the beauty behind the self-centredalemão atual com uma longa influência histórica, mas eu tenho grande consideração ness of the characters. por Andres Dresen, Tom Tykwer e HansTell us about your cinematic background. Christian Schmid, e acredito que tantos Shooting my first short with two other colleagues, after outros cineastas europeus deixam uma graduating from school I soon realized that I seemed marca mais profunda.
to be the only one who cared. That’s how I accidentally became involved in directing. Afterwards I worked as an editorial journalist and at the same time I shot short films. I never went to film school, because school was always something miserable to me. After having taken part in a workshop, financed by a film fund, I realized how rewarding a classic film seminar can be, but at this time it was already too late to study. 40 German co-productions are screened in Rio. What do you think of the recent development of German cinema? German films have made good progress in the past 10 years. There are many ambitious films, diverse, but back on a competitive level with other countries. Personally I couldn’t name any contemporary German director with a lasting historical influence, but I hold Andreas Dresen, Tom Tykwer and Hans-Christian Schmid in high esteem, and I believe that many other European filmmakers do leave a more enduring mark.
----------------------------------------CRÍTICA / 2 REVIEWS, 1 FILM
U
m diretor tem que ter um motivo muito bom para fazer você se sentar no cinema por duas horas e meia. Ai de mim, João Pedro Rodrigues, que está apresentando no Rio seu último filme Morrer Como Um Homem (To Die Like a Man), não tinha. Para ser justa, este meio surrealista, meio naturalista melodrama sobre uma transsexual já de idade de Lisboa, representada pela gravemente doente cantora de clubes-drag Tonia (Fernando Santos), sua amante drogada Rosário (Alexander David) e seu lunático filho homossexual Zé Maria (Chandra Malatitch), tem sim alguns aspectos positivos, especialmente o sensível retrato de uma estrela decadente incapaz de se reconciliar com a perda da sua antiga fama. Isto é, no entanto, apenas parcialmente desenvolvido, ficando um tanto solto no ar. Infelizmente o diretor frequentemente erra o seu alvo, se adiantando, fluindo com tranquilidade e de repente parando (existem cenas que apresentam músicas inteiras, que chegam a
Morrer Como um Homem
Zsuzsanna Kiràly
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03/10 Estação Ipanema 2 22:30 04/10 Estação Botafogo 1 23:59 05/10 Est Vivo Gávea 4 15:20, 20:10
João Pedro Rodrigues, Portugal / França durar cinco minutos), apenas para no final das contas perder o seu eixo. Não existe nenhuma real mensagem escondida na confusão dos falsos cabelos cacheados da Tonia, o que é o mais decepcionante dado o potencial das histórias extraordinárias que o mundo dessas personagens contém.
de imagem e espaço, com Tonia sendo o ponto nevrálgico na qual as fronteiras sempre mudam de lugar.
A
director must have a very good reason for making you sit in the cinema for two and a half hours. Alas, João Pedro Rodrigues, who is presenting in Rio his latest film Morrer Como um Homem (To Die Like a Man), did not. To be fair, this half-surrealistic, halfnaturalistic melodrama of Lisbon’s transsexual demimonde, represented by seriously ill drag-club singer Tonia (Fernando Santos), her junkie lover Rosário (Alexander David) and her lunatic homosexual son Zé Maria (Chandra Malatitch), does have some strengths, particularly the sensitive portrayal of a falling star unable to reconcile herself with the loss of her former fame.This is, however, only partially developed, remaining somewhat floating in the air.
Unfortunately the director often overshoots his mark, running ahead, meandering and then suddenly stopping (there are scenes featuring whole songs, lasting as long as five minutes), only to eventually lose his track.There is no real message hidden in the tangle of Tonia’s false curls, which is all the more disappointing given the potential for extraordinary stories the world of these characters contains.
Dominika Uhríková
C
omo um pai e mãe ausente e amante em tempo integral, a drag queen trágica do Português João Pedro Rodrigues, diretor de Morrer Como um Homem, encontra-se em um jogo impossível. Com a intenção de evitar idealismos e clichês, o filme encena uma história incômoda, aproximando-se do corpo (da protagonísta), tal qual uma trama complexa de texturas. Na verdade o filme vai além da temática gay e de compostos de uma requintada experimentação
O filme centra-se no crepúsculo da carreira de Tonia, mostrando sua particularidade, seu incômodo.Tonia é tanto a mulher que cuida do seu cãozinho e de seus cabelos loiros, quanto o homem que abandonou seu filho, reza por ele e, finalmente, morre. O declínio de Tonia - que não gera um sentimento de nostalgia - traz a tona abertamente o artifício de atmosferas fantásticas e surrealístas. Criando um contraponto entre ambientes explosivos e histórias trágicas, o filme insiste em construir o corpo do transexual como um lugar de profunda discordância.
A
s an absent dad-andmom and full-time lover, the tragic drag queen of Portuguese director Joao Pedro Rodrigues’s To Die Like a Man plays an impossible game. With an
intention which avoids idealism and cliches, the film stages an uncomfortable story, approaching the body as a complex weave of textures. Indeed it goes beyond the gay theme and compounds an exquisite experimentation of image and space, with the protagonist Tonia being the body in which the boundaries always shift. The film focuses on the twilight of Tonia’s career, showing his/her troublesome particularity. Tonia is both the woman who takes care of her little dog and her blond hair, and the man who abandoned his child, prays for him and, finally, dies. Tonia’s decline does not produce a sense of nostalgia but brings out openly the artifice of fantastic and surreal atmospheres. Creating a counterpoint between explosive environments and tragic stories, the film insists on building the transsexual body as an acute site of dissent.
Mary Carmen Molina
FOCO / FOCUS
by Dominika Uhríková
A bright future for blurred images
Os organizadores do Festival do Rio, obviamente, querem se manter atualizados no que diz respeito as mais novas tendências do cinema, como com os 58 «filmes de bolso», ou filmes rodados com celulares, que foram incluídos no programa deste ano, elaborado em cooperação com o Forum des Imagens
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da França. A duração dos filminhos varia de 60 segundos até 75 minutos e os temas são tão variados como em qualquer outra seleão. Les Ongles (The Nails) de Clément Deneux’s é um thriller sobre Antoine, que está sempre roendo as unhas. Ele fica tão louco quando seus amigos lhe dizem para parar de rorer suas unhas que acaba transformando uma festa simpática em um verdadeiro pesadelo; Domofonia de Ludwik Lis é um minidocumentário mostrando como transformar um interfone em um instrumento musical, e Incident de Michael Szpakowski (vencedor do 1 º prémio no Festival Pocket Films 2009, em Paris) é um tiro silencioso sobre a reflexão da violência escondida. O único longa-metragem na seção é J’aimerais partager le printemps avec quelqu’un (I’d love to spend springtime with someone) do diretor francês Joseph Morder, de 60 anos (!) e residente em Trinidad e Tobago. Este diário íntimo de um assassino, exibido em Cannes em 2008, realmente não teve lá uma grande repercussão, apesar de ter sido o primeiro longa-metragem de bolso que conseguiu distribuição. Na verdade, a maioria dos profissionais da indústria do cinema parece ser indiferente a este novo «capricho». Não é de se admirar: em todos esses filmes, parece que a evolução foi um retrocesso. A qualidade da imagem é naturalmente pobre, especialmente quando mostrada em uma tela grande. O som geralmente não é muito melhor e o uso de efeitos especiais é muito limitado. Quando acrescentamos que os filmes de bolso são assistidos em sua maioria via internet, o que implica interrupções devido ao buffering ou simplesmente devido uma conexão lenta, pode-se levantar algumas dúvidas a respeito de sua contribuição para o desenvolvimento da cinematografia (para ser honesta, eu também tive algumas dúvidas quando eu ouvi falar sobre esses filmes).
‘ONLY WHEN I DANCE’ SCREENING
Todo o mundo naquela sala aplaudia entusiasticamente. Podíamos ver lágrimas nos olhos da diretora, Beadie Finzi, que constantemente abraçava o protagonista Irlan Santos. Esse era o clima na sessão do documentário Only When I Dance que foi exibido no complexo do Alemão, a comunidade de Irlan. Sua família também estava presente e não escondiam o orgulho. Aliás, todos estavam orgulhosos com o seu filho pródigo que realizou seu sonho.
No entanto, logo que comecei a navegar pelo YouTube, Dailymotion e Vimeo, o meu ceticismo logo diminuiu. Claro, alguns dos filmes são simplesmente horríveis, mas vários são extremamente atraentes.Vai ainda demorar algum tempo para se remover ervas daninhas das centenas de vídeos de filmes que os blogueiros maníacos disponibilizam, o que pode ser desanimador, caso você não tenha suficiente sorte de deparar-se imediatamente com um bom filme. Por outro lado, é exatamente a acessibilidade dessa ferramenta que faz com que o novo formato seja tão atraente. Em outras palavras, com celulares 3G, o cinema fica mais democrático. O panorama do cinema de bolso, todavia, ainda é incerto. Vai ser interessante acompanhar o seu desenvolvimento e, poucos anos a partir de agora, ver se será de fato frutífero ou se cairá completamente no ostracismo. Contanto que ajude a descobrir novos talentos, eu, pelo menos, vou manter meus dedos cruzados para esse «novo» formato.
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Everyone in the room was clapping enthusiastically.You could see tears in the director’s eyes. Beadie Finzi and her subject Irlan Santos where constantly hugging. This was the mood in the screening of the documentary Only When I Dance in Irlan’s neighbourhood. His family was also there and they looked so proud, in fact everyone was looking so proud of this local kid who achieved his dream.
Check out the video report on www.nisimazine.eu
text: Jorge Robinet photos: Silviu Pavel
ven Auguste and Louis Lumière themselves would probably have run out of the room if somebody had shown them a device smaller than a snuffbox in which both images and sound can be recorded. Honestly, don’t you get goose pimples when thinking about where technological progress has brought us over the last few decades? But this is today’s reality; silver screen nostalgia is no longer in vogue. A new generation has come along, one which is bored with those old-hat 35mm celluloid, so more and more people – not necessarily young – pull out their magic “third generation” weapons from their pockets and go shooting.
C R I T I C S P O O L
from J’aimerais partager le printemps avec quelqu’un
velha película de 35 milímetros. Assim, mais e mais pessoas - não necessariamente jovens - sacam de seus bolsos suas «armas» de terceira geração e saem por aí para fotografar.
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té mesmo Auguste e Louis Lumière muito provavelmente teriam saído correndo para fora da sala de exibição, se alguém tivesse lhes mostrado um aparelho menor que uma caixinha de rapé, no qual imagens e som pudessem ser gravados. Honestamente, você não se arrepia ao pensar no que o progresso tecnológico nos trouxe ao longo das últimas décadas? Pois esta é a realidade de hoje; nostalgia da telona não está mais em voga. Uma nova geração chegou, geração essa que está entediada com a
The organisers of the Festival do Rio obviously wish to keep pace with the newest trends in cinema, since as many as 58 “pocket films”, or films shot on mobile phones, have been included in this year’s programme, prepared in cooperation with the French Forum des Images. Their length ranges from 60 seconds to 75 minutes and topics are as varied as in any other section.
Clément Deneux’s Les Ongles (The Nails) is a thriller about Antoine, who’s always biting his nails and goes so mad when his friends tell him to stop that he turns a friendly party into a nightmare; Domofonia by Ludwik Lis is a micro-documentary showing how to turn a door phone into a musical instrument; and Michael Szpakowski’s Incident (awarded 1st prize at the 2009 Pocket Films Festival in Paris) is a single-shot silent reflection on hidden violence. The only feature-length piece in the section is J’aimerais partager le printemps avec quelqu’un (I’d love to spend springtime with someone) by Joseph Morder, a 60-year-old(!) France-based filmmaker from Trinidad. This intimate diary of Morder himself, screened at Cannes in 2008, didn’t really create big buzz, though it was the first feature-length pocket film in distribution ever.
Indeed, most cinema industry professionals seem to be indifferent to this new “caprice”. No wonder: in all these movies, it seems as if evolution went backwards. The image quality is of course poor, let alone when shown on a large screen. Sound usually isn’t much better and the use of special effects is very limited. When we add that pocket films are watched mostly online, which implies interruptions due to data buffering or simply a slow internet connection, there might be some doubts about their contribution to the development of cinematography (to be honest, I had some myself when I first heard about them). However, once I started clicking on YouTube,Vimeo and Dailymotion, my scepticism soon dwindled. Sure, some of the movies are just plain awful, but several are extremely appealing. It does take some time to weed through the hundreds of videos film maniacs’ blog features, which might be discouraging if you aren’t lucky enough to immediately bump into a good flick. On the other hand, it’s exactly the accessibility of the tool that makes the new format so attractive. In other words, with 3G mobile phones, cinema goes democratic. The outlook of pocket film still remains uncertain though. It will be interesting to follow its fate and, a few years from now, see whether it’s flourishing or has completely fallen into oblivion. As long as it helps discover new talents, I at least will keep my fingers crossed for it.
Quadro dos críticos Luiz Carlos Merten Estado de Jornal do Brasil São Paulo
Carlos Heli de Almeida
Viajo porque preciso, volto porque te amo
Hotel Atlantico Os famosos e os duendes da morte
Bellini e o demônio Os inquilinos Sonhos Roubados Natimorto O amor segundo B. Schianberg Histôrias de amor duram apenas 90 minutos
O sol do meio dia Cabeça a prêmio
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Um futuro brilhante para imagens tremidas
POCKET FILMS
Neusa Barbosa
Rui Pedro Tendinha UOL
Notícias Magazine
(Portugal)
Matthieu Darras Positif (France)
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RETRATO / PORTRAIT
Sara Silveira
text: Jorge Robinet photo: Silviu Pavel
Nossa Senhora do cinema brasileiro indie Our Lady of Brazilian indie cinema but also against the president Fernando Collor de Mello, who in that time didn’t support filmmakers. The strange thing is that when a friend told her the idea of creating a new film production company, she didn’t think it was a good idea because she had never done anything related to cinema. After a few years her work became betterknown in the film world. An example of this is the movie La dignidad de los nadie, which won five awards, including three in the Venice. Since then she has developed ten films, several of them with a good reaction from audiences, like El bicho de sete cabecas, which was in theatres for more than four weeks. ‘‘I am a producer of auteur movies. I don’t really like to call them artistic movies because it’s kind of too arrogant.’’ This is the way Sara modestly presents her work. To those who would consider her films as ‘difficult’, she says ‘‘I like making movies that making you wonder, that force you to think about what you just saw.’’ Although I have only watched two of her titles, they were enough to confirm that you should indeed approach her films with an alert mind and your eyes wide open.
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ara Silveira está sentada em uma das mesas no restaurante do hotel. Quando ela fala sobre seus filmes, seus olhos repentinamente ganham um brilho inusitado. Suas mãos estão sempre se movimentando, revelando uma energia incansável. Antes de nosso encontro eu soube de algumas coisas não apenas a respeito dos filmes que ela tinha produzido mas também sobre ela própria, e estes fatos eram todos verdadeiros. Seus filmes foram selecionados para os mais importantes festivais como Cannes e Veneza. Ela está no festival com dois títulos – Os Famosos e os Duendes da Morte, e Insolação.
“Eu sou uma produtora de filmes de autor. Eu não gosto de chamá-los de filmes de arte porque soa meio arrogante.” Essa é a maneira com que Sara modestamente apresenta seu seu trabalho. Para aqueles que consideram seus filmes “difíceis”, ela diz que gosta de fazer filmes que são questionadores, que nos fazem pensar sobre o que acabamos de ver. Embora eu tenha visto apenas dois de seus filmes, eles foram suficientes para confirmar que se deve de fato assisti-los com a mente alerta e os olhos bem abertos.
Contudo sua opinião sobre filmes comerciais é melhor do que muita gente poderia imaginar. Para ela, esses tipos de filmes são necessários porque sem eles o filme de autor não poderia existir: um precisa do outro para ...há algo especial sobre os filmes que eu sobreviver. Não faço. Talvez seja a energia que faz parte se trata de não de minha personalidade. gostar dos filmes de grande sucesso Muito embora esta produtora independente comercial, na verdade, há muitos desses filmes esteja na ativa desde 1993, não há nela nenhum em sua lista de imperdíveis. Se é assim, porque sinal de esgotamento. Ela ainda tem o mesmo ela não produz alguns? É claro que se alguém desejo de fazer bons filmes como no início dos me propusesse fazer um filme mais comercial, anos 90. Inicialmente foi muito difícil, porque eu o faria. Mas há algo especial sobre os filmes ela não teve que lutar apenas contra os distrique eu faço. Talvez seja a energia que faz parte buidores que só queriam filmes comerciais mas de minha personalidade. também contra o presidente Collor de Mello, que na época não deu nenhum apoio aos proProduzir nessa área do cinema é difícil, e se dutores de cinema. O mais estranho foi quando você estiver fazendo isso no Brasil, é ainda mais um amigo lhe propôs a idéia de criar uma nova difícil. “Uma coisa é produzir um filme, mas o mais produtora de cinema; ela não achou que fosse difícil é distribuí-lo. Como meus filmes são de difícil uma boa idéia porque nunca tinha trabalhado compreensão, se torna ainda mais difícil exibi-los com nada ligado ao mundo do cinema. para o grande público”. Nos dezesseis anos de experiência que ela acumulou em sua área, Depois de alguns anos, seu trabalho se tornou alguns dos filmes que ela fez jamais foram eximais bem conhecido. Um exemplo disso foi o bidos. Por exemplo, há dois curtas-metragens filme La dignidad de los nadie, que ganhou cinco que ela tentou mostrar no Festival de Cinema prêmios, incluindo três em Veneza. Desde então do Rio mas não foram aceitos. Muitas vezes não ela desenvolveu dez filmes, entre eles alguns é fácil, porque os filmes estão lá para serem com boa recepção de público, como O Bicho de vistos, ela afirma. Sete Cabeças que ficou em cartaz por mais de um mês. Os filmes que ela produz são completamente diferentes um do outro. Os Famosos e os
Nisimazine RIO 04. 09. 2009 / # 5 A gazette published by the association N I S I M A S A with the support of the Festival do Rio and the Youth In Action programme of the European Union
Duendes da Morte é bastante dramático, uma história sobre adolescentes e seus problemas. A comédia romântica Elvis e Madonna mostra o mundo das lésbicas e travestis do Rio. “Se você me perguntar como eu escolho meus filmes... não há nada específico. Eles precisam apenas ter boas histórias e falar de coisas que interessam.” Sua voz é tão cheia de vida que você se sente quase hipnotizada por ela. Depois que a entrevista terminou, extra-oficialmente Sara me diz que está atualmente trabalhando em um outro projeto. Eu pensei comigo mesmo, ‘‘um outro filme? Será que esta senhora nunca descansa?’’ Mas como você talvez já tenha compreendido, ela ama seu trabalho, e quando você ama o que faz, nunca há o suficiente.
However her opinion about commercial films is better than a lot of people would think. For her, these types of movies are necessary because without them the auteur films wouldn’t exist: they both need each other to survive. It’s not even that she dislikes blockbusters, in fact there are a lot of these films on her ‘must see’ list. So then why doesn’t she produce some? ‘‘Of course if someone proposed to me to make a more commercial movie I would do it. But there is something special about the kind of movies I do. Maybe it’s the energy that goes with my personality.’’ Producing in this area of cinema is hard, and if you’re doing it in Brazil it’s even harder. ‘‘One thing is to produce a movie, but the really hard thing is to put that movie on in a theatre. As my films are hard to understand it makes it even harder to sell it them audiences.’’ In the sixteen years of experience she has in this business, some of the movies she has made couldn’t ‘see the light’. For example there are two short films that she tried to present in the Rio Film Festival, but they weren’t accepted. It isn’t easy sometimes, ‘‘because films are [there] for people to watch them’’, she affirms.
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The movies she has produced are compleara Silveria is sitting at one of the tely different from one another. Os Famosos e tables in the hotel restaurant. When os Duendes da Morte is very dramatic, a tale she talks about her films, her eyes about teenagers and their problems. Romantic suddenly get a new shine that wasn’t comedy Elvis and Madonna shows the world of there before. Her hands are constantly lesbians and transvestites in Rio. ‘‘If you ask me moving, revealing a certain tireless ...there is something special about the energy. Before our kind of movies I do. Maybe it’s the enermeeting I had heard some things not only gy that goes with my personality. about the movies she had produced but also about herself, and they how I choose my films... there isn´t any specific where all true. request. They just have to be good stories and talk about things that matter.’’ Her voice is so full of Her films have been selected in the most life that you are almost hypnotized by it. important festivals such as Cannes and Venice. She is here at the Festival do Rio with two After the interview is over and almost off titles - Os Famosos e os Duendes da Morte (The the record, Sara tells me that she is currently Famous and the Dead) and Insolação (Sunstroke). working on yet another new project. I think to myself ’’another new movie? Does this lady Even thought this independent producer has ever have a rest?’’ But as you may already have been in the business since 1993, there’s no figured out she loves her work, and when you symptom of jadedness in her. She still has the love what you do there is never enough. same desire to make good movies as she had in the early 90s. Early on it was very hard because she not only had to fight against the theatres that wanted only commercial movies,
EQUIPE EDITORIAL / EDITORIAL STAFF Diretor de Publicação / Director of Publication Matthieu Darras Editores-Chefe / Editors in Chief Rui Pedro Tendinha, Jude Lister Tradutores/ Translators Bruno Carmelo, Sabrina Fidalgo, Arturo Mestanza, José Márcio Siecola de Freitas , Luiza Burkardt Portugal Design Maartje Alders Contribuíram para esta edição / Contributors to this issue Pierre-Anthony Canovas, Mary Carmen Molina Ergueta, Zsuzsanna Kiràly, Silviu Pavel, Jorge Robinet, Dominika Uhrikova
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