TRANS FORMAÇÕES LEITURA E RELEITURA DOS ESPAÇOS DA CIDADE EMILY SHAYO
Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação Orientadores: Prof. Lucas Fehr Prof. Celso Minozzi São Paulo, 2014
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Mais de 250 mil pessoas protestam nas ruas por um paĂs melhor, Junho/2013.
Em S達o Paulo habitam 11.515.836 habitantes, dos quais 82% se declaram insatisfeitos com a qualidade de vida. Fonte: O Estado de S達o Paulo, 2014.
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Para cada 4 pessoas na cidade há um automóvel, o tempo gasto em média no transito por cada habitante é de 2h40min. Fonte: O Estado de São Paulo, 2014.
São 68 pontos fixos de enchentes e são geradas 18 mil toneladas de lixo diárias. 6
Fonte: Revista Arquitetura e Construção, Fev./2014.
Congestionamento na cidade de S達o Paulo.
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Moradores de rua no Parque Dom Pedro II. 8
São Paulo apresenta 5500 praças públicas e 43 parques, dos quais a grande maioria encontra-se em estado deplorável. Fonte: http://www.capital.sp.gov.br/portal/
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Se estes são os dados atuais, como será o futuro de São Paulo???
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Cidade de S達o Paulo.
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Sumário 12 Introdução 14
Transformações: os espaços da cidade
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Descoberta: o páteo e a colina
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Releitura: desenho da colina
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Anexo: projeto final
142 Referências 144 Lista de figuras
Dedico este trabalho ao professor e arquiteto Luiz Telles, que com sua imensa vontade de viver, e inspiração pelas coisas simples da vida, ensinava arquitetura como forma de transformar o homem.
“Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimões das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras.“ (João Calvino)
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Agradecimentos Aos meus pais, Morris e Ariela, pelo amor, apoio, e presença constantes em todos os momentos da vida; Aos meus irmãos, por me acompanharem em aventuras sempre, especialmente à Linda pela revisão do texto; À grande amiga e arquiteta Flavia, pelas críticas construtivas, constante motivação, e risadas ao longo do caminho. Ao professor Lucas Fehr, não só pela incansável orientação de projeto, mas por me instigar a buscar a essência do trabalho e da arquitetura; Ao professor Celso Minozzi pelas inúmeras discussões teóricas; Aos arquitetos Pablo Hereñu e Eduardo Ferroni, por fornecer o material do Plano Urbano do Parque Dom Pedro II. Obrigada a todos que contribuiram para a minha formação.
Páteo do Colégio, São Paulo.
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Introdução
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Os cidadãos estão constantemente reclamando da má qualidade de vida, do transito, da insegurança, da falta de espaços verdes, da poluição, da falta de transporte público, da instabilidade do mercado, das decisões do governo atual, passado e futuro. A São Paulo atual representa os homens que a construíram e as ideologias que foram colocados em cada uma de suas esquinas, se em algum momento da história os princípios esvaneceram e a cidade passou a se expandir sem controle e planejamento, foi a falta do cidadão público que levou ao resultado que se observa hoje. A construção da cidade a partir da sobreposição de camadas, onde elementos foram sendo adicionados de acordo com a necessidade observada com o passar do tempo, gera paisagens únicas, que contemplam tanto a natureza quanto as construções antigas e atuais. No caso de São Paulo, Benedito de Toledo Lima a caracteriza como um palimpsesto urbano, exatamente pelo fato de possuir em seus “layers“ marcas do tempo, sendo capaz de gerar espaços de alta qualidade em determinados momentos, e poucas décadas depois, destruí-los por ações de imediatismo e improvidência, com objetivo de expandir desvairadamente a cidade. (Toledo, 1983) São a série de modificações que constroem a história de um povo, e a sua sobreposição é que determina a riqueza de cada cultura. A cidade é constituída de fatos urbanos, os quais são dotados de valor, e para obterem a devida importância devem representar o homem da sociedade em que se insere, seus princípios, sua história e suas crenças. (Rossi, 2001, p.52). No momento em que o governo priorizou a construção de avenidas, visando facilitar o acesso dos automóveis entre bairros e desafogar o centro, ele esqueceu que a cidade deve ser desenhada pelo e para o pedestre, principal usuário e responsável por gerar a imensa diversidade cultural e vivacidade dos espaços urbanos. Em um primeiro momento, na época da fundação da cidade de São Paulo, as praças públicas e ruas se apresentavam como local de encontro, de trocas de mercadorias, de fechamentos de negócios, troca de ideias e de discussões políticas. Eram espaços que faziam parte da vida de seres públicos, que discutiam assuntos relevantes do dia a dia, e estavam preocupados com o futuro coletivo da cidade. Com o passar do tempo, algumas dessas ruas se transformaram em áreas comerciais, por onde passam uma enorme quantidade de pedestres diariamente, como por exemplo é a Rua 25 de Março até hoje. Algumas áreas mantiveram seu caráter determinado pela quantidade de pessoas, enquanto que outras perderam sua força. Um surto de individualização, reforçado por uma sociedade que sobrepuja o consumismo, acentuou o isolamento de lugares frágeis na cidade. A substituição de uma sociedade disciplinar, por uma sociedade completamente reestruturada pelas técnicas do efêmero, da renovação e da sedução permanente resulta em uma conformação espacial fragmentada, caracterizada pela dispersão e solidão da população (Lipovetsky, 2004. p. 60). Os espaços públicos sofrem influência direta dessa transformação da sociedade, o aumento da compra de automóveis e a construção de shopping centers, somado a construção de grandes estruturas viárias, fez com que as pessoas parassem de frequentar áreas fragmentadas, segregadas e isoladas, como o a região do Páteo do Colégio. O Páteo do Colégio, ao perder sua conformação original de praça com vazio central, resultou em um espaço abandonado no cerne da metrópole. A colina e a paisagem natural do local de fundação de São Paulo foram esquecidos, como se fossem levados pelo vento, se perderam meio à tantas novas construções, edifícios de grande
porte, ruas, terminais de metrô e ônibus e diversos viadutos. As modificações no Páteo do Colégio, a destruição do edifício histórico existente e a construção de uma réplica do Colégio dos Jesuítas são reflexo imediato de uma sociedade que padece da aceleração generalizada, da efemeridade das situações e da anarquia comportamental da sua população. A falta de respeito para com o existente e a falta de consciência das pessoas que não se identificam com valores existentes na história de seu povo, causam a fragmentação social existente hoje no Páteo do Colégio. Dessa mesma maneira, a con-
“A cultura urbana não é um simulacro, cópia, vacuidade, dissimulação, mas sim terreno de conflito. A comunicação é relacionamento social, é conflito que e soma aos conflitos tradicionais e não os substitui.“ (Massimo Canevacci, 1997, p. 130)
strução de um simulacro, um objeto sem valor algum, distancia ainda mais a população da sua própria história. Canevacci defende que a cultura e os relacionamentos sociais dependem da sua história, do seu passado e do seu futuro, sendo as próprias pessoas que o constroem; o Páteo do Colégio teve seu passado negado através de uma construção sem sentido algum, que apaga as memórias que existiram no local. Como coloca Baudrillard (1981, p.14), há um aniquilamento de toda a referência existente, que se traduz no colégio como simulacro, cujo signo é vazio de valor. A negação do passado e das transformações que aconteceram com o edifício ao longo dos anos é o que sustenta o simulacro existente no edifício atual. A perda de valor que a réplica traz, associada às transformações da estrutura urbana, resultou em uma praça que está constantemente vazia, dominada por grades e automóveis. O vazio do Páteo do Colégio passou a negar a cidade, ao invés de se sobressair como espaço de maior vitalidade e junção de pessoas. Como resultado disso, observa-se um aumento substancial de insegurança, abandono e degradação do espaço público. A cidade pertence aos pedestres, são eles que a constroem, transformam e utilizam. A força dos espaços públicos está na forma de abrigar a enorme variação cultural que os mais diferentes tipos de pessoas apresentam, dessa forma os vazios urbanos se transformam em espaços de qualidade, onde quem define o uso são os pedestres, a qualquer hora do dia. 15
TRANS FORMAÇÕES Os espaços da cidade
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A máquina do mundo Carlos Drummond de Andrade
E como eu palmilhasse vagamente uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco
pelas pupilas gastas na inspeção contínua e dolorosa do deserto, e pela mente exausta de mentar
se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu de chumbo, e suas formas pretas
toda uma realidade que transcende a própria imagem sua debuxada no rosto do mistério, nos abismos.
lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado,
Abriu-se em calma pura, e convidando quantos sentidos e intuições restavam a quem de os ter usado os já perdera
a máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia.
e nem desejaria recobrá-los, se em vão e para sempre repetimos os mesmos sem roteiro tristes périplos,
Abriu-se majestosa e circunspecta, sem emitir um som que fosse impuro nem um clarão maior que o tolerável
convidando-os a todos, em corte, a se aplicarem sobre o pasto inédito da natureza mítica das coisas.
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Os espaços públicos em São Paulo são compostos majoritariamente por ruas, praças e parques; são aqueles espaços onde não há domínio e predomina a liberdade de cada um, tornando-os interessantes. A diferença entre as pessoas, e a variedade de atividades desenvolvidas quase que sem restrições, torna os espaços públicos locais com vivacidade e dinâmicos todos os momentos. Os espaços são compostos por uma multiplicidade coexistente de signos, ou seja, pela sobreposição de elementos, como edifícios, ruas, praças, parques, mobiliários urbanos, inclusive pessoas, que vivem de maneira harmoniosa, e se completam formando um sistema. Massimo Canevacci (1997, p.87) coloca a cidade como um cronótopo urbano, no qual a matéria significante é um “texto escrito com a colagem de uma série de signos (edifícios, ruas, tabuletas, portões, etc.) inseridos num tempo e num espaço contíguo.“ Tal sistema é mutável e passível de transformações as quais acontecem gradativamente ao longo dos anos. Estas transformações dependem do seu lócus e dos fatos urbanos, os quais estão intrinsicamente ligados à memoria coletiva da cidade e à história que encontra-se incumbida em seus monumentos, suas ruas, esquinas e becos (Rossi, 2001). A justaposição de signos cria em cada fato urbano microdinâmicas que se somam, formando uma rede de pontos de interesse e raios de atração. “A nova grande cidade, com seus incessantes fluxos comunicativos, modela e reproduz a fragmentação e a justaposição dos cenários contemporâneos e pós modernos“ (Canevacci, 1997, p.81). Os espaços são formados por uma justaposição de signos, um conjunto de elementos, ou então um vazio, constituído pelas pessoas que o frequentam, pelos transeuntes diários, pelos jovens, pelos trabalhadores, pelas famílias e pelas crianças que ali brincam. O modo como esses signos se relacionam e se sobrepõem determina o estilo particular de cada espaço e o tipo de comportamento e características que ele apresentará, em outras palavras, define a alma do espaço público. São Paulo apresenta espaços frenéticos, cuja velocidade de acontecimentos é vista em uma diferença de milésimos, a variedade de atividades acontecendo simultaneamente, e a interação de distintos grupos de pessoas, cria uma riqueza absoluta dos espaços urbanos. Os espaços públicos podem ser genericamente divididos em 3 tipos de espaços, sendo eles, praças, parques e ruas. As praças podem ser como qualquer espaço público livre destinado ao lazer, a recreação, e a uma gama de atividades diversas. São respiros na cidade, ou seja, são literalmente vazios, que em meio a tantas construções, se sobressaem pela força que os pedestres podem dar a um local sem construção alguma. A Praça da Sé, por exemplo, surgiu como uma praça de caráter religioso em frente a Catedral da Sé, mas com tantas transformações que sofreu São Paulo, ela atualmente apresenta um uso
diferente do inicial, caracterizado pelos serviços e comércios informais, além da grande quantidade de gente que cruza o local em passagem ao acesso do metrô e do ônibus. A praça continua sendo um vazio urbano, porém a sua informalidade e falta de organização das atividades cria um caos, e resulta na degradação da praça e na falta de convivência das pessoas. Apesar de haver uma grande quantidade de pessoas que cruzam o local, não se observa a convivência, a troca de ideias, e as con-
Praça de Sé, São Paulo.
Memorial da America Latina vazio.
versas, que são os pequenos momentos que transformam completamente um local. Outro exemplo de praças são as grandes esplanadas que surgiram durante o modernismo como propostas urbanas que sobrepujaram conteúdos utópicos, e foram projetadas sem nenhuma programática definida, visando o ideal de que o homem se apropriasse do espaço público urbano. Tais espaços, hoje em dia, se mostram ineficientes pelo fato de não abrigarem a variedade da escala metropolitana que se apresenta na cidade, o que se entende atualmente é uma paisagem composta por camadas de construções de épocas diferentes, assim como uma sociedade composta por diferentes tipos de pessoas, a qual pede espaços que consigam abrigar uma grande variedade de programas, transportes e pessoas simultaneamente. “O que ocorreu com essa florescência modernista avançada, foi ter estado sempre centrada nos conteúdos utópicos de uma sociedade de trabalho, cujo ponto de referência na realidade se perdeu, como advertem os teóricos do novo paradigma anti-produtivista. [...] A estética relativamente estável do modernismo fordista teria cedido vez a instabilidade e qualidades fugidas de uma estética pós-modernista que celebra a diferença, a efemeridade, o espetáculo, a moda, etc. “ (Arantes, 2001, p. 27)
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Os espaços desenhados pelos modernistas, apesar de serem amplos, e abertos, não apresentam qualidades que impulsionam os cidadãos a viverem nesses locais, uma vez que observa-se a falta de mobiliário urbano: de cafés, de comércio local; e de lugares onde podem se desenvolver atividades sociais opcionais. Em suma, são locais que não abrigam a diversidade populacional de forma versátil. No momento em que se esquece a escala do pedestre, os espaços urbanos perdem sua vivacidade e se transformam em locais vazios, abandonados e perigosos. Torna-se um ciclo vicioso, pois os pedestres não querem frequentar locais com tais características. O Memorial da América Latina, é um exemplo de construção de paisagem através da distribuição dos edifícios ao redor de uma praça seca, porém sua organização e localização na cidade não foram o suficiente para que os pedestres utilizassem o local, e se apropriassem dele. O tráfego rápido de automóveis ao seu redor, a falta de comércio local e de atividades na praça faz que com se torne um local majoritariamente vazio, abandonado até mesmo pela população local. Esse abandono das praças, a falta de cuidado, e principalmente a falta de interesse da população em habitá-los, faz com que se transformem em locais de lazer secundários. Atualmente os grandes espaços públicos de lazer da população são os parques, que caracterizam as áreas verdes de São Paulo, e funcionam como uma fuga das construções; o desenho da paisagem através de el-
Parque Ibirapuera, São Paulo.
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Parque Trianon, gradeado na Al. Jaú, São Paulo.
ementos da natureza cria espaços atrativos, nos quais podem ser realizadas todo tipo de atividades de esportes e lazer. A ampla utilização dos parques cria a sensação de pertencimento, e portanto são vistos como áreas naturais com as quais se deve tomar um certo cuidado. O Parque Ibirapuera, também conhecido como a praia dos paulistas, é um espaço público amplamente utilizado e recebe
em média 70 mil usuários aos finais de semana.(http://www.portalsaofrancisco.com.br) A grande utilização dos parque mostra que a população sente falta, não só de espaços públicos com vegetação natural, mas também de espaços abertos para convivência. Atualmente, a grande quantidade de espaços são mal cuidados, não obedecem a escala do pedestre e não oferecem nenhum atrativo, como cafés, lojas, e espaços desenhados com base nas pessoas, com iluminação, pavimentação e mobiliário adequados para comportarem uma grande quantidade de pessoas de forma amigável. (Ghel, 2010). Como coloca Gilles Lipovetsky, (2004, p.55) a presente sociedade apresenta fortes patologias, as quais se transformam em conjunto com o desenvolvimento da cidade. A idéia do medo e da insegurança em locais público é uma noção proveniente do esvaziamento dos espaços públicos, e pode ser considerada uma patologia de uma sociedade individualista ao extremo.
O gradeamento de parques e praças não é uma solução para a falta de segurança, e sim um fator agravante. As cidades serão mais seguras, mais limpas e com qualidade melhor quando a população sentir que os espaços lhe pertencem e cuidarem deles como se fossem suas próprias casas. A frequência com que se utilizam os parques define se eles são ou não perigoso e em qual horário do dia se deve caminhar por lá. Chega-se em um momento onde o simples ato de caminhar na cidade, passa a ser caminhar por becos, e entre muros e grades. O que poderia ser um passeio agradável torna-se um caminho de medo e insegurança como forma de chegar de um ponto da cidade ao outro. Gradear parques inteiros faz com que eles fiquem isolados, ao invés de se inserir no tecido urbano de forma mais natural. A ação de gradear os parques e áreas verdes tem influência direta nas ruas adjacentes, que se reflete nas ruas de toda a cidades. Ao gradear parques criam-se pontos de interesse, que devem ser protegidos, enquanto as ruas adjacentes continuam a fazer parte das cidades. Essa postura revela a falta de preocupação com as ruas de São Paulo, e a falta de interesse em mantê-las como um local de encontro da população, simplesmente transformando-as em um elemento de passagem para os automóveis. As ruas sempre foram o local de maior encontro da população, e palco das mais diversas transformações desde a fundação de São Paulo, a qual foi pautada em 3 ruas principais, São Bento, 15 de Novembro e Rua Direta. Ao longo dos anos São Paulo passou por um crescimento estrondoso, e as ruas foram perdendo seu caráter de encontro, e se transformaram em locais de passagem, 21
repletos de carros, cujas calçadas são mal cuidadas e não atraem os pedestres. Houve uma perda do valor coletivo das ruas, as pessoas passaram a vê-las como local que não pertence à ninguém; logo, invade o pensamento de que não é necessário cuidar um lugar sem dono. Na verdade o princípio que deveria estar incumbido na mente da população é que a rua é o local mais importante de encontro e portanto pertencente a todos, e digna do melhor tratamento.
Apropriação da Rua 15 de Novembro pelos pedestres.
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Rua como espaço de convivência pública, em São Paulo, na década de 40.
Há uma influência direta desta perda de coletividade, na maneira como se utilizam os espaços públicos na cidade. As praças e ruas já foram palco de manifestações públicas e testemunharam lutas por ideias maiores, como aconteceu, por exemplo, no movimento das Diretas Já em 1983, as quais tinham um cunho de idealismo, fortalecido pelo ser público descontente com um governo militar, e buscando atingir a democracia. O homem que antes lutava por seus ideais e dava vida aos espaço da cidade, hoje em dia, em vez de manifestar-se e buscar a melhoria da sociedade como um todo, coloca em primeiro plano seus interesses individuais e valores de consumo. Logo, os espaços não passam mais a sensação de pertencimento e união, mas sim, em diversos casos, passam o sentimento de solidão e abandono, mesmo que encontrem-se uma grande quantidade de pessoas caminhando nas ruas. As praças antes usadas para encontros, manifestações, e palco de discussões políticas, encontram-se vazias, sujas e são consideradas pela população como locais inseguros. A falta atual desses espaços de natureza coletiva, onde a presença do próximo ratifica a força do caráter público, é tão marcante, que a cidade apresenta picos de grande coexistência e utilização do espaços e outros de abandono de locais. Por exemplo, a Avenida Paulista pode ser considerada um pico de utilização do espaço, é impression-
ante a utilização e variação de atividade e tipo de pessoas que se encontram lá aos finais de semana, e é esse tipo de ocupação que atraí cada vez mais pessoas, tornando as ruas da cidade locais vivos e interessantes. Não só as ruas da cidade são palco de atividades lúdicas e momentos de lazer, como, a falta de locais de manifestação resultou na utilização da mesma Av. Paulista como palco para inquietações, manifestações políticas, e maneiras de demonstrar uma opinião. É ate curioso uma rua da cidade ser tão rica, em diversos momentos do dia, desde os trabalhadores dos bancos que frequentam a rua durante o dia, até os jovens skatistas que frequentam o local durante a noiteá também toda a população que ocupa a avenida como lugar de estabelecer uma opinião, a Av. Paulista foi palco da mais recente manifestação em São Paulo, em Junho 2013, a qual iniciou-se pelo aumento das tarifas de ônibus, porém demostrou o desejo da população pelos seus direitos básicos como cidadãos, moradia adequada, alimentação, educação de qualidade, precariedade do serviço público. As ruas de São Paulo abrigaram 65 mil pessoas que saíram de suas casas para manifestar, e foi nesse momento que se demonstrou a força que as ruas podem ter, quando o individualismo dos automóveis é colocado de lado. Desde o movimento das Diretas Já, não se via em São Paulo a população utilizar o a rua
23 Manifestantes do movimento Diretas Já, São Paulo, 1983.
24 Manifestação iniciada pela redução das tarifas de ônibus reuniu mais de 250 mil pessoas nas ruas de São Paulo, Junho, 2013.
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como espaço público e dar o valor devido a tais locais. Isso se perpetua, pois com as crescentes transformações da cidade, o aumento do consumismo e do individualismo, os cidadãos deixaram de se preocupar com os valores públicos e passaram a pensar somente em seu crescimento pessoal. As transformações, a explosão do crescimento e o transbordamento da cidade afetaram de maneira extrema suas ruas, as quais tem o potencial de traduzir a opinião da população. As ruas podem ser
Pessoas dançando na Av. Paulista, 2011.
Skatista na Av. Paulista.
tanto locais de passagem, quanto locais de permanência, palco das mais diversas atividades e encontro de diferentes tipo de pessoas, que se juntam por um motivo em comum: vivenciar os espaço da cidade.
A riqueza dos espaços públicos é determinada pela estrutura que permite às cidades nascer, crescer, estimular e acomodar diversas atividades simultaneamente. A estrutura e organização das cidades influencia diretamente o comportamento humano, e a interação deste para com os espaços públicos.
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Cidades vivas e saudáveis são aquelas em que as pessoas têm vontade de caminhar pelas ruas e são estimuladas a agir espontaneamente, locais onde encontros e acontecimentos são resultado do simples ato de caminhar pelas ruas e praças locais. Eventos, especiais e cotidianos, aconteciam nos espaços abertos, cujos vazios funcionavam como locais de encontro, para troca de novidades, fechamento de negócios, venda de mercadorias, arranjo de casamentos, e diversas atividades de entretenimento.
É evidente que a estrutura das cidades propicia locais de interação entre as pessoas, ou seja, a forma como as cidades são moldadas afeta diretamente o comportamento das pessoas e a maneira como elas se apropriam do espaço público. Um espaço de qualidade caracteriza-se pela diversidade de acontecimentos simultâneos e pela vitalidade que os frequentadores dão ao local. No século XX, com a multiplicação da quantidade automóveis na cidade, solucionar o tráfego tornou-se pri-
Piscina no Elevado Costa e Silva, como forma de intervenção urbana e apropriação do espaço pela população.
oridade nas agendas políticas, cujas consequências refletiram na troca da escala do pedestre pela construção de avenidas expressas e viadutos, visando aliviar a pressão do congestionamento. Tais medidas impulsionaram a indústria automobilística e o consumo desenfreado de novos carros. Alguns exemplos de áreas que ficaram seriamente comprometidas devido à construção de estruturas viárias de grande porte são o Parque Dom Pedro II, e a Praça Marechal Deodoro. A inserção dos viadutos que efetuassem a ligação entre o centro histórico de São Paulo e os bairros do Brás e Mooca, resultou em um espaço cuja proposta inicial era ser um parque público, porém tornou-se um local de transição de automóveis, com espaços fragmentados e abandonados pelos próprios cidadãos. (Meyer, 2010) Já a Praça Marechal Deodoro e a Av. São João, perderam sua personalidade para a enorme quantidade de automóveis que passa pelo viaduto diariamente. É interessante notar que a população, apesar de se adequar a tais situações, sente falta dos espaços públicos que a cidade perdeu e vem fazendo pequenos movimentos que evidenciam o desejo por uma cidade cujos espaços para os pedestres sejam mais saudáveis; na imagem acima observa-se a apropriação do Elevado Costa e Silva pela população e os novos usos que estão sendo criados. Atualmente, o Elevado apresenta uma dualidade em sua essência, por um lado constitui uma estru-
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tura que fragmenta a cidade além de acarretar um aumento de ruído e poluição, porém aos finais de semana, está sendo transformado em um elemento de encontro da população, que desenvolve todo tipo de atividades, desde esporte, corrida, andar de bicicleta, até festas, samba, churrasco, e qualquer atividade ligada ao lazer e bem estar social. A constante priorização da construção de autopistas levou a destruição de espaços cujo potencial público era grandíssimo, como por exemplo no Parque Dom Pedro II, ou então no Vale do Anhangabaú. Outro exemplo marcante é a construção do Elevado o qual tornou-se uma barreira e fragmentou ainda mais os bairros que o circundam. Tais infraestruturas, além de não resolverem o tráfego, se tornaram cicatrizes marcantes na composição da cidade como um todo, trazendo consigo ruído, poluição, obstáculos visuais e físicos para as regiões onde se inserem. “O urbanismo é a tomada de posse do ambiente natural e humano pelo capitalismo.“ (Guy Debord, 1997, p.138)
A resposta ao aumento de automóveis e a fragmentação de importantes áreas da cidade tem sido por muito tempo ignorar as consequências para os pedestres e seguir os impulsos do mercado imobiliário de construir edifícios isolados do térreo, sem nenhuma conexão com a cidade. Grandes condomínios de habitação murados, com área de lazer própria, funcionam como clubes privados no meio da cidade e se isolam dos espaços públicos que compõe áreas de lazer e de convivência da população, por exemplo, o empreendimento Jardim das Perdizes, na Barra Funda, que prevê
28 Invasão de viadutos no Parque Dom Pedro II.
grandes torres residenciais distribuídas em condomínios fechados e um parque gradeado para uso da população. Nota-se que o urbanismo está presente no desenho da cidade, porém ele visa satisfazer o mercado imobiliário, o capitalismo e o lucro das grandes empresas, ao invés de buscar desenhar uma cidade onde o pedestre é incluído em todos os momentos Estas ações vêm sendo implementadas também como resposta à falta de segurança das ciEssa sociedade, reestruturada pela efemeridade da renovação e pelas seduções imagéticas desencadeia um surto de individualização, no qual o homem entra nessa engrenagem de aceleração, e com isso perde seus princípios, valores históricos e culturais. O consumismo absoluto molda a vida social do homem e a transforma, perdendo o valor do que era antes a vida pública.
dades, porém a segurança é dada através da quantidade de usuários de um local, e de seu comportamento. Logo, esvaziar ainda mais os espaços da cidade cria um ciclo vicioso, cujo resultado é o aumento do medo e da insegurança. Espaços públicos estão sendo gradeados como tentativa de conter os surtos patológicos de uma sociedade em constante transformação. O gradeamento das edificações transforma as ruas da cidade em longos corredores e túneis murados, a Av. Higienópolis é um exemplo de rua bem arborizada, cujos edifícios apresentam espaço interessantes do ponto de vista urbano, porém a sensação que se têm ao percorrê-la, é que de um lado existem edifícios em série, murados ou gradeados, aos quais o acesso é restrito para moradores, e do outro lado passam inúmeros automóveis em velocidade. Toma o pedestre uma sensação de solidão e de afastamento do bairro que ele mesmo frequenta diariamente, as paisagens são vistas através de grades, ao passo que construções vão se adicionando lado a lado, deixando esquecidos entre si amplos espaços vazios, que se tornam áreas intersticiais, sem nenhum atrativo para os pedestres. Paralelamente à priorização do automóvel e à construção de edifícios isolados dos espaços públicos da cidade, a sociedade impõe uma onda de consumismo e individualismo que fortalece a criação de espaços coletivos, como shopping centers, ao invés de impulsionar a utilização dos espaços públicos existentes
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como as diversas praças de São Paulo. Como descreve Lipovetsky (2004, p.55), a sociedade é caracterizada pela cultura do mais rápido e do sempre mais, ou seja, a realidade depende de fatores mutáveis e efêmeros, e da busca constante por mais mudanças, mais flexibilidade, mais eficiência, mais inovação. Há uma aceleração generalizada da vida humana, que se reflete nas atividades diárias de cada um, na mobilidade
Grades e muros do edifício Bretagne, Av. higienópolis.
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Projeto de edifícios isolados do empreendimento Jardim das Perdizes, na Barra Funda.
urbana, no tempo-espaço e no frenesi consumista. O indivíduo parece estar sempre correndo, para realizar tarefas, ou então correndo contra o tempo, que parece estar sendo consumido mais rápido do que a realidade. Nota-se um culto ao movimento, e às transformações, é uma nova realidade, na qual não há opção, se não a de evoluir, acelerar, visando acompanhar o tempo em que se vive, e não ficar para trás, buscando viver cada segundo do presente. O homem público anteriormente era aquele que saia a rua para realizar encontros, para tomar café ou discutir política, ou então aquele que realizava atividades culturais com pouca frequência, como se fossem grandes eventos. Esses valores públicos foram se perdendo na medida em que a cultura foi se banalizando e passou a ser vista como modo de impulsionar o consumismo. Simultaneamente, a completa liberdade, e a falta de restrições parece que levou o indivíduo a perder sua opinião e a se comportar como todos os outros. Dessa maneira, também os espaços da cidade perderam sua identidade, antes fortemente marcadas pela intensidade e energia dos homens que ali conviviam. Este fato isola o homem do seu próprio universo e o reúne novamente para contemplar uma imagem, e não mais para conviver livremente em espaços públicos como ruas, largos e praças. Essas transformações no perfil da sociedade foram acompanhadas pelos impactos gerados
31 Parte do editorial do jornal O Estado de SP de Nov./2013, afirmando que o v達o do Masp deve ser gradeado.
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nos espaço públicos de São Paulo. O grande aumento de galerias e shopping centers impulsionado pelo desenvolvimento da cultura consumista atual, resultou em um esvaziamento das praças. Espaços coletivos, caracterizados por serem de propriedade privada, porém abertos ao público, têm como objetivo principal a geração de renda e o consumo acima de qualquer outro valor. Existe uma cultura muito grande dos paulistas de frequentarem shoppings como se fossem espaços públicos, é normal ir passear no shopping aos domingos ao invés de sentar-se em uma praça ou ir ao parque. A prova mais concreta da falta de espaços públicos e do papel que os shoppings têm apresentado nesse quadro são os chamados “rolezinhos”, caracterizados por movimentos de encontro de jovens de 14 a 17 anos em tais locais. Os jovens se organizam pela internet e marcam um encontro em algum shopping, com objetivo de se reunirem, ouvir musica, dançar samba, conversarem, namorar e simplesmente viver. Estes encontros comprovam a falta qualidade dos espaços da cidade; são milhares de jovens que poderiam estar jogando bola no Anhangabaú ou fazendo rodas de samba ou capoeira na Praça da Sé, mas tais espaços não são convidativos para os pedestres, e os jovens, crescidos em uma sociedade de consumo onde o shopping é o principal local de lazer, estão de alguma forma tentando mostrar a sua força no local onde mais frequentam. “Foi assim: 6 mil jovens, a maioria deles com idade entre 14 e 17 anos, responderam pelo Facebook a um convite para se reunir e ouvir funk ostentação – variante do ritmo que exalta o consumo e as roupas de grife – no estacionamento do Shopping Metrô Itaquera, em 7 de dezembro. O shopping é o principal ponto de lazer da região. É ali que os adolescentes se encontram corriqueiramente, para ver os amigos, comer no McDonalds e ir ao cinema.“ (Revista Época online) Tais transformações e mudanças são também resultado de diversas questões sociais e políticas pelas quais a sociedade está passando. São inúmeras políticas que em diversos momentos da história sobrepujaram o automóvel e os grandes edifícios aos pedestres, e foram aos poucos deixando abandonados e mal cuidados os espaços públicos e locais mais preciosos de São Paulo. A observação de momentos como a manifestação pela diminuição da tarifa de ônibus, e os “rolezinhos“, deixa ainda mais evidente a falta da escala dos pedestres nos espaços existentes. Ela é um fator importantíssimo na configuração de espaços públicos, a conexão entre as distâncias, intensidade, proximidade entre as construções e as pessoas, definem a forma de contato a ser estabelecida, espaços grandes de mais, ou edifícios demasiadamente altos e robustos tendem a criar um ambiente impessoal e frio, já que dificilmente conseguem estabelecer uma relação pessoal com os pedestres ao seu redor. A qualidade dos espaços públicos depende primordialmente das pessoas que o frequentam
e utilizam, ou seja, pensar os espaços de forma fragmentada, destruir arquitetura de boa qualidade, impulsionar o aumento da quantidade de automóveis e aumentar o número de grades na cidade, vai simplesmente aumentar o abandono dos locais públicos, a sua insegurança e a instabilidade. Quanto maior for a variação de atividades que um local apresenta, mais pessoas passarão por lá, criando automaticamente um ponto de interesse e atração na cidade. As pessoas se deslocam para participarem de acontecimentos, e buscam estar onde há outras pessoas, com as quais seja possível conversar, interagir e observar. O potencial da vida nas cidades se auto afirma no momento em que as pessoas se sentem a vontade em certo local e passam a criar novas formas de utilizar o espaço. Esse potencial é visto claramente na Avenida Paulista, cujas calçadas largas são palco dos mais diversos acontecimentos, desde shows de dança e manobras de skate, até passeatas políticas. O sucesso do espaço público está justamente na sobreposição dos fatos urbanos com a efemeridade das atividades coletivas e individuais da sociedade, o aumento da quantidade de variantes que determinam as características de um local acabam por torná-lo mais rico e mais atraente tanto para os habitantes quando para os visitantes. O espaço contemporâneo deve representar a sociedade diversificada e fragmentada que o compõe. Os espaços urbanos resultam da sobreposição de elementos da cidade e da multiplicidade
Jovens ocupam escadas de shoping em “rolezinho“.
Jovens ocupam escadas de shoping em “rolezinho“.
de fatores que transformam a metrópole em um caos, a qual se transforma e desenvolve a cada segundo. Os espaços da cidade deveriam abrigar tanto a multiplicidade existente dos signos, quanto a pluralidade de indivíduos. O traço do urbanismo que leva em consideração o caráter paradoxal e fragmentário do indivíduo apresenta também espaços de mobilidade e transformação, os quais
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34 Notícia de abertura do Shopping Iguatemi, entre as ruas 15 de Novembro, Direita e São Bento, em São Paulo, 1966.
35 Exterior e interior do Shopping Juscelino Kubitschek, de alto luxo, inaugurado em Novembro, 2013, em S達o Paulo.
abrigam diferentes atividades durante o dia e a noite e nos quais frequentam diferentes tipos de pessoas dependendo do horário e do dia da semana. No momento em que a arquitetura é capaz de se adaptar ao ser humano, ela se torna flexível e suscetível à mudanças, e por fim, cria espaços onde o conjunto de valores, crenças e comportamentos se encontram explícitos e implícitos no local. A partir do momento em que entende-se que a cidade deve funcionar perfeitamente para “Atualmente podemos identificar duas correntes opostas no planejamento das cidades: por um lado, em algumas cidades, a vida pública está gradualmente desaparecendo e a vida vai se tornando cada vez mais e mais individualizada, por um outro lado, encontramos cidades onde a vida pública é encorajada através da construção de bons passeios, boas calçadas que tem como objetivo melhorar a vida das pessoas nas áreas públicas.“ (Jan Gehl, 2007, p. 6)
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atender em primeiro lugar aos pedestres, abraçando todas as variações de grupos de pessoas que a sociedade contemporânea comporta, buscam-se maneiras de compreender quais são os parâmetros que permitem trabalhar uma cidade que parece consolidada, porém encontra-se em constante transformação. A vida nos espaços se reconstitui a partir da complexidade e variação da vida urbana, a qual necessita de uma certa quantidade de pessoas para dar qualidade aos espaços. Em uma sociedade onde rege o individualismo e o consumismo, encontram-se cada vez mais locais fechados, voltados para si mesmos que dão as costas à rua. Comércios em shoppings, falta de cafés, edifícios gradeados e murados fazem com que a vida pública entre em um status de desaparecimento, as pessoas passam a frequentar shoppings e cinemas e esquecem que a rua é o local de encontro na qual possiblidades de interação são vividas ao máximo. Torna-se um ciclo vicioso, nas cidades onde os edifícios negam a rua, observa-se um aumento substancial de insegurança, abandono e degradação de largos e praças públicas. Consequentemente, as construções e espaços antigos caem em desuso e perdem seu valor, fazendo com que logo apareçam novas centralidades e sejam construídos mais edifícios, que seguem a lógica de negação do espaço público. Para poder realizar uma releitura dos moldes anteriore, reinventar a cidade, reutilizar seus espaços, reestabelecer
certos conceitos e valores e trazer vida aos locais onde a energia esvaneceu, é importante respeitar o passado da cidade e suas construções, e entender as patologias individuais e coletivas que uma sociedade em constante transformação impõe. O desenho urbano e a forma como as construções se relacionam com o térreo determinam os espaços da cidade, os quais apresentam grande influência no comportamento das pessoas e no uso que elas fazem do espaço público. A estrutura urbana e o desenho da cidade afetam a vida cotidiana dos pedestres, da mesma forma que a relação atual do ser público para com a cidade influencia na maneira em que tais espaços são utilizados. Os espaços públicos passaram a ser considerados locais de passagem, ao invés de palco de ações políticas; nesse ínterim perdeu-se a noção de coletividade e a força dos vazios da cidade deixou esvanecer sua vitalidade, em troca da busca pelo consumismo e de uma sociedade onde a expansão frenética e a velocidade regem os princípios da vida cotidiana. A visão contemporânea da cidade que funciona e é dotada de alta qualidade de vida, coloca o pedestre em primeiro lugar e cria espaços públicos dentro do tecido urbano existente, de forma a respeitar o passado, e viver a constante transformação do presente, abrigando a enorme variedade de pessoas e atividades ao longo do tempo.
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Virada Cultural, a vitalidade da cidade está presente nas ruas através da diversidade de pessoas e atividades dividindo o mesmo espaço.
DES COBERTA O PÁTEO E A COLINA
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Os Lusíadas Luis Vas de Camões Canto IX 54. Três formosos outeiros se mostravam Erguidos com soberba graciosa, Que de gramíneo esmalte se adornavam.. Na formosa ilha alegre e deleitosa; Claras fontes o límpidas manavam Do cume, que a verdura tem viçosa; Por entre pedras alvas se deriva A sonorosa Ninfa fugitiva.
56. Mil árvores estão ao céu subindo, Com pomos odoríferos e belos: A laranjeira tem no fruto lindo A cor que tinha Dafne nos cabelos; Encosta-se no chão, que está caindo, A cidreira com os pesos amarelos; Os formosos limões ali, cheirando, Estão virgíneas tetas imitando.
55. Num vale ameno, que os outeiros fende, Vinham as claras águas ajuntar-se, Onde uma mesa fazem, que se estende Tão bela quanto pode imaginar-se; Arvoredo gentil sobre ela pende, Como que pronto está para afeitar-se, Vendo-se no cristal resplandecente, Que em si o está pintando propriamente.
57. As árvores agrestes, que os outeiros Têm com frondente coma ennobrecidos, Álemos são de Alcides, e os loureiros Do louro Deus amados e queridos; Mirtos de Citereia, cos pinheiros De Cibele, por outro amor vencidos; Está apontando o agudo cipariso Pera onde é posto o etéreo Paraíso.
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A fundação de São Paulo Piratininga na região do triângulo histórico se deu absolutamente pelo fato de ser uma planície envolta por vales, o que garantiria a sua segurança. O núcleo urbano se restringia à área conformada pelo Largo de São Bento, Largo de São Francisco e pela Igreja do Carmo. O Páteo do Colégio foi instituído como colégio dos jesuítas em 1554, para abrigar os jesuítas que vinham ao Brasil com a missão de catequizar os índios que aqui viviam. (Toledo, 1983) A várzea do Tamanduateí ao longo do tempo tem se apresentado tanto como obstáculo na construção da cidade, quanto como potencialidade por seu caráter natural. Inicialmente, durante a fundação de São Paulo Piratininga, o rio, com seus meandros naturais, se impôs como obstáculo à ocupação urbana, porém simultaneamente se tornou importante pela ligação efetuada entre o centro urbano e o bairro do Brás, em direção ao Rio de Janeiro. “Inicialmente a várzea impôs um obstáculo natural à expansão da cidade, que privilegiou a ocupação urbana das colinas do oeste em direção ao Vale do Anhangabaú. [...] Paralelamente sediava atividades periféricas ao núcleo urbano, mas funcionalmente ligadas à cidade, como as de lavagem de roupas, de pastoreio de animais, de despejo de lixo, e contraditoriamente, de abastecimento de água.” (Meyer, 2010, p. 83) Em 1553 foi construída a igreja do Páteo do Colégio, que abrigava os jesuítas em sua missão
40 Inundação da Várzea do Carmo,1892.
de catequizar os índios que se encontravam aqui, e no ano seguinte foi comemorada a fundação de São Paulo Piratininga. A construção do colégio dos jesuítas foi realizada em pau-a-pique e com paredes pintadas de branco provenientes da tabatinga, e possuía 95,28 m². O Páteo do Colégio e a colina adjacente, foram bastante retratados pelos artistas da época sob uma visão bucólica, caracterizada por uma pequena igreja em meio a uma paisagem natural, com muitos animais e vegetação, retratados às margens dos meandros do rio Tamanduateí. Essa visão bucólica de onde foi fundada a cidade de São Paulo tem fim na primeira expulsão dos Jesuítas, em 1640. Com a expulsão dos jesuítas, por não concordarem com a escravidão indígena, a Igreja e o Colégio caíram em desuso por 13 anos e desmoronaram. Em 1653, com o retorno dos jesuítas, começa a ser construído um novo conjunto para a Igreja e o Colégio. A fundação de São Paulo foi um momento no qual a sociedade foi criada com os princípios em que acreditavam, independente dos valores e conceitos que o local trazia, já que não havia nada mais que colinas e rios em São Paulo. “O desenraizamento e o estranhamento são momentos fundamentais que permitem atingir novas possibilidades cognitivas.“ Como coloca Massimo Canevacci (1997, p.13), a falta de conhecimento e familiaridade com um posto faz com que as pessoas tenham um olhar mais cuidadoso e estratégico, buscando pontos com os quais possam criar uma certa
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identidade. A escolha da planície do colégio como local de fundação de São Paulo foi uma decisão estratégica com base em fatores geográficos, porém a sociedade que cresceu ali criou laços com o local e foi se expandindo através dessas conexões. Naquele exato momento ainda não existia cidade, metrópole, espaço público, infra estrutura urbana e todos os conceitos de vida urbana que dominam as sociedades atuais. Não obstante, a população ocupava os espaços de forma a criar um estilo de vida, um comportamento que caracterizava cada um como homem público ao caminhar nas ruas, e indivíduo privado ao entrar no recinto de suas casas. “Antropologia da comunicação urbana é o modo como uma determinada cidade comunica o seu estilo particular de vida, o seu ethos, conjunto de valores, crenças, comportamentos explícitos e implícitos (cultura).” (Canevacci, 1997, Introdução) Na verdade o modo de vida foi sendo determinado pelas próprias pessoas, e sua maneira de agir, de ocupar os espaços e de interagir com os outros a cada momento. A sociedade de consumo atual modificou profundamente o comportamento das pessoas e a maneira como elas caminham nas ruas, falam com os outros e agem fora de suas casas, único ambiente onde se sentem completamente livres.
42 Missa de Fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga, 25 de Janeiro de 1554.
Nas cidades atuais os incessantes fluxos comunicativos, a fragmentação e justaposição de cenários históricos com contemporâneos torna o enraizamento dos indivíduos com a cidade em que habitam um fator determinante para o seu comportamento nas cidades.
Tais fatores históricos ainda não estavam presentes na fundação de São Paulo Piratininga, logo talvez a noção de cidade daquela época estivesse baseada simplesmente na existência de uma praça na planície do Colégio dos Jesuítas, com objetivos de ali juntar os homens. No início do século XVIII, o homem representava a figura do ser público, que cuidava dos negócios e da política; para tanto, eventos sociais e encontros casuais era de extrema importância, a praça do Páteo do Colégio funcionava como local de encontro e de conversas sobre negócios e acordos. Já as mulheres eram submissas à figura do marido, não podiam caminhar nas ruas sozinhas e lhes cabiam as funções domésticas e a guarda dos filhos. É interessante notar que a maneira como se portam os homens é a forma como se apresenta o espaço, pois são as pessoas que determinam as características do espaço. Por exemplo, a Várzea do Carmo, utilizada para a lavagem de roupa e abastecimento de água, se tornou um lugar de encontro das mulheres, momentos de conversas e fofocas. Já as praças públicas se tornaram para os homens locais de negócios, de trocas de mercadorias e de discussões políticas. O homem como figura pública determinava que o espaço público deveria ser um local de troca de interesses, para tanto, as ruas e praças se apresentavam como locais cuja vitalidade da cidade se podia ver facilmente. “Foi somente em 1849 que o rio sofreu sua primeira intervenção de grande porte.[...] o rio perdeu as 7 voltas na região da Várzea do Carmo, o que o afastou da colina central e possibilitou a ocupação da várzea a oeste pela rua 25 de Março. [...] Nas terras ganhas com a retificação foi construído o antigo Mercado Municipal de 1867, dando continuidade às atividades de entreposto comercial que caracterizavam a várzea até então.” (Meyer, 2010, p. 89) Conforme o aumento do comércio na região os espaço foram se transformando e as pessoas passaram a ocupá-los de forma a criar locais de compra e venda de mercadorias. A Ladeira Porto Geral funcionava como rota de desembarque das mercadorias provenientes do Rio Tamanduateí, a Rua 25 de Março se conformou como local de compra e venda de mercadorias e o Mercado Municipal foi construído com objetivo de suprir as necessidades alimentícias da região, também conhecido como mercado dos caipiras, ele se caracterizava por uma grande praça vazia, onde se localizavam 43
44 Base cartogrรกfica de Sรฃo Paulo, em 1890.
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sup. Entrada de S達o Paulo pelo caminho do Rio de Janeiro, 1827. / inf. Entrada de S達o Paulo pelo Convento das Carmelitas, 1817.
as vendinhas dos produtores. Cada um destes espaços não possuíam grandes estruturas, porém apresentavam sua riqueza na força do vazio e na forma como as pessoas ocupavam estes espaços, transformando-os em locais cheios de vida e acontecimentos diariamente. Em uma cidade onde o crescimento acontecia de acordo com a necessidade das pessoas, diversos locais se conformavam simplesmente pelo uso constante, e se construíram naturalmente pelo uso das pessoas. Por exem-
Lavandeiras às margens do Rio Tamanduateí, 1904.
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Ilha dos Amores, cartão postal, 1876.
plo, a Ladeira Porto Geral ficou conhecida devido a constante passagem de mercadorias e mercadores, foi um processo natural, que acima de tudo valorizava o pedestre e suas necessidades básicas. Em 1874 foi construída a Ilha dos Amores, como espaço de lazer e admiração. Foi uma das primeiras tentativas de transformar a várzea em parque urbano (Kliass,1993), porém não durou muito tempo, pois logo foi destruída para dar lugar à construção de linhas para bondes e outras estruturas que visavam resolver a mobilidade urbana. A Ilha dos Amores representava a visão de uma cidade voltada para os cidadãos, a constante preocupação em construir paisagens de deleite para impulsionar o bem estar das pessoas e proporcionar momentos de diversão e lazer dentro de uma cidade em constante crescimento e transformação. Como coloca Guy Debord, (1997, p. 138) espaços livres de mercadoria e que não façam jus a nenhum espetáculo ou imagem, são modificados e transformados a cada instante, há um argumento que dá força a um determinado espaço e se ele não é forte o suficiente, ou se não se encaixa na sociedade de consumo, será rapidamente substituído por uma imagem mais forte, por exemplo, como aconteceu com a Ilha dos Amores, a qual foi construída como uma linda paisagem, porém não se apresentava para a sociedade como um espetáculo ou uma imagem de consumo. A falta de força da Ilha dos Amores na sociedade de consumo que estava
crescendo em São Paulo, fez com o local fosse rapidamente destruído e substituído por elementos de infra estrutura urbana, que dão apoio à sociedade individualista que rege os dias de hoje. “Para tornar-se mais idêntico a si mesmo, para se aproximar o máximo da monotonia imóvel, o espaço livre da mercadoria é doravante modificado e reconstruído a todo instante.“ (Guy Debord, 1997, p.140.)
Seguiram-se à Ilha dos Amores, diversas transformação que visavam acomodar o aumento da população e o crescimento de São Paulo como cidade. O Páteo do Colégio deixou sua função original e passou a abrigar o Palácio do Governo, em 1881 o edifício foi remodelado, porém foram mantidas as características arquitetônicas do complexo, o que resultou no nascimento da praça cívica em São Paulo. Foram anexados ao complexo uma fonte, um gradeado e um coreto, além de jardim frontal que pode ser visto na imagem seguinte. A planta (p. 46) demostra que a configuração do Palácio do Governo com a Casa de Fundição formam uma praça central, denominada Largo do Colégio. O desenho urbano impulsiona as pessoas a utilizarem os espaços de forma espontânea, essa relação entre o cheio e o vazio proporciona aos pedestres a completa liberdade de estar e de
Páteo do Colégio, 1881.
Páteo do Colégio e praça cívica como residência dos governadores, 1824.
realizar as atividades que bem entende, em qualquer horário do dia. (Jan Ghel, 2013.) A noção de coletividade e da existência de um ser público que se preocupa com a sociedade e participa da política e das atividades locais, se manifestava diariamente no Largo do Palácio, em uma maneira natural de utilizar o espaço público e dar valor ao vazio criado pelos edifícios adja47
centes. O vínculo entre os homens e o vazio é o valor que define a força de um determinado espaço público. “Toda a representação do indivíduo é necessariamente, uma representação do vínculo social que lhe é consubstancial”. (Marc Augé, 1994)
Pode-se dizer que o indivíduo não passa de uma expressão da sociedade em que se insere, localizado em um certo lapso de espaço e tempo, logo, o indivíduo que habitava a praça cívica do Largo do Palácio representava aquela sociedade, na qual se valorizava o homem público, como participante da política, e as praças urbanas como locais de encontro e definição dos valores da comunidade. No momento em que a individualidade passa a ser expressão de uma cultura, a percepção de tempo e espaço passam a ser definidos pelo consumismo, o que reflete imediatamente na qualidade dos espaços públicos da cidade. O espaço público foi se modificando ao passo que a sociedade de consumo se introduziu como elemento primordial a qualquer tipo de espaço. Como se pode ver na planta da figura 36, a conclusão do Viaduto da Boa Vista alterou completamente a configuração do espaço, pois inseriu na praça uma via para automóveis, fragmentando o espaço dos pedestres. Em 1953, a posse do terreno
48 esq. Planta da praça cívica do Largo do Palácio, 1850-1880. / dir. Planta das modificações realizadas no Palácio dos Governadores, 1880-1896.
retorna aos jesuítas e é aprovado o projeto de restauração da Igreja e do Colégio original. O edifício que antes funcionava como Palácio dos governadores e passou a abrigar a Secretária da Educação é demolido, para das espaço à reconstrução de uma réplica do antigo Páteo do Colégio. Em 1979 são inaugurados o museu e a Igreja do Páteo do Colégio (réplica do século XVIII), dedicados ao beato José de Anchieta. A evolução do crescimento do local de fundação de São Paulo desencadeou diversas mudanças, as quais refletiam o pensamento de cada situação, porém, em momento algum refletiram o exercício de traçar o planejamento da cidade, desenhar cuidadosamente os espaços, e estudar as formas de ocupação de edifícios, pedestres e automóveis lado a lado. Em meio a tantas modificações o Páteo do Colégio perdeu suas características iniciais e transformou-se um em local construído como um cenário da sociedade atual. O urbanismo não desenhou a cidade, ao contrário, foi através dele que foi inserido na paisagem o Viaduto da Boa Vista e a enorme quantidade de automóveis que dominam o espaço dos pedestres. A sociedade capitalista reconstituiu a praça e o Colégio dos jesuítas, porém não estabeleceu nenhuma conexão com o passado, ou com o homem que habita o local. Como coloca Debord, (1997) pode-se dizer que o urbanismo reconstruiu no Páteo do Colégio um pseudocampo, com o qual as pessoas não se identificam, e cuja relação histórica e social se perdeu.
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esq. Planta do monumento ao Páteo do Colégio, 1897-1929. / dir. Nova conformação do Páteo do Colégio, com o Viaduto da Boa Vista, 1930-1953.
50 sup. Palácio dos Governadores, 1850 - 1880 / inf. Sede da Secretária da Educação, e monumento “Gloria Imortal aos Fundadores de SP“, 1933.
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sup. Demolição do Palácio do Governo, 1953. / inf. Reconstrução do Páteo do Colégio, como cópia da Igreja dos Jesuítas, 1976.
52 Base cartogrรกfica de Sรฃo paulo, 1930.
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Vista aérea da região central de São Paulo, 2008.
54 Urbanização da Várzea do Carmo, 1923.
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Urbanização da Várzea do Carmo, 1954.
56 sup. Igreja do Colégio dos Jesuítas, 1554. / inf. Réplica do Páteo do Colégio, 2014.
57 sup. Praça do Páteo do Colégio, 1975. / inf. Praça do Páteo transformada em estacionamento, 2014
58 Panorama do Páteo do Colégio, e da colina histórica, 2014
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O espaço do Páteo do Colégio, reconstruído como pseudocampo apresenta a construção da réplica do colégio dos jesuítas como monumento sem valor algum, faz com que o edifício não conte mais a sua história através da própria construção, das paredes, das janelas. Ao invés, ele tenta reproduzir a história e a memória através de um cópia e um museu. As pessoas, ao não reconhecerem a memória de sua história na praça do colégio, abandonam o local e passam a vê-lo com um sítio “O urbanismo é a tomada de posse do ambiente natural e humano pelo capitalismo que ao desenvolver sua lógica de dominação absoluta pode e deve agora refazer a totalidade do espaço como seu próprio cenário. O urbanismo que destrói as cidades reconstitui um pseudocampo, no qual estão perdidas tanto as relações naturais do antigo campo, quanto as relações sociais diretamente questionadas da cidade histórica.” (Debord, 1997, p.114)
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turístico na cidade, e não como parte de sua história. A praça encontra-se na maioria do tempo abandonada ou encontram-se transeuntes que cruzam o local como parte de seu caminho ou trabalham nos arredores. “As permanências podem se tornar com relação as estado das cidades, fatos isolantes e aberrantes, não podem caracterizar um sistema a não ser sob a forma de um passado que ainda experimentamos.“ (Rossi, 2001, p. 52) Segundo Rossi, as cidades se constituem de fatos urbanos e permanências, sendo que esta última representa um fato isolado que mantém uma relação intrínseca com o passado. Logo entende-se a importância de manter e respeitar o passado como parte da história de um povo, a memória dos acontecimentos anteriores criam uma relação de pertencimento à população, que se sente parte da cidade, e se identifica com os monumentos e construções existentes. A reconstrução de uma cópia do Páteo do Colégio aniquila a noção de permanência colocada por Rossi, uma vez que ela apresenta um simulacro, como uma tentativa de relacionar-se com o passado, porém não funciona, ao passo que a praça atualmente não apresenta atrativos para os pedestres, que a veem como simples local de passagem.
A simulação é o que sustenta o simulacro do Páteo do Colégio, a negação de um passado, das transformações que aconteceram entre o colégio dos jesuítas e a sua reinauguração em 1979 estão escondidas e mascaradas pela nova construção, como se toda a história que passou não tivesse importância alguma para a sociedade. O edifício que existe atualmente oculta as transformações que
Praça do Páteo do Colégio vazia atualmente.
Praça do Páteo do Colégio e monumento atualmente.
determinaram a configuração atual da região, e como coloca Baudrillard, há um aniquilamento de toda a referência existente, que se traduz no colégio como simulacro, cujo signo é vazio de valor. “A simulação parte, ao contrário da utopia, do princípio de equivalência, parte da negação radical do signo como valor, parte do signo como reversão e aniquilamento de toda a referência.“ (Baudrillard, 1981, p. 13)
A construção de um monumento sem valor, a perda do desenho urbano, a priorização do automóvel e de estruturas que visem a mobilidade urbana colocam o pedestre em última instância. Dessa forma, o esquecimento do pedestre no planejamento da cidade leva à auto destruição do lócus, que pode acontecer tanto no sentido literal da palavra, quanto no abstrato. A demolição e reconstrução de edifícios importantes já fazem parte da cultura paulistana, na qual destruir uma construção é perfeitamente entendível quando se pretende construir uma nova, com um valor agregado mais atual do que o antigo. Já o sentido abstrato da destruição do lócus se dá com a perda do valor
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real desse local, a qual leva ao esquecimento de seu signo e de seu valor histórico. Muitas vezes, a indiferença criada pela perda do valor é pior do que a simples destruição do existente, pois o local sem valor passa a ser visto como espaço para atividades ilegais, depósito de lixo, entre outros. Como coloca Guy Debord a respeito do crescimento exacerbado das cidades e da sociedade de consumo que nela vive: “O momento presente já é o da auto-destruição do meio urbano.“ (Debord, 1997, P. 110)
A negação da história e das transformações do Páteo do Colégio e o esquecimento da escala do pedestre, fazem com que a população não dê a importância necessária ao local, e ele se transforme em um lugar degradado, sujo, abandonado e perigoso. As transformação no Páteo foram acompanhadas de transformações na sociedade, que ao longo dos anos priorizou o consumismo e o individualismo, criando uma geração de pessoas despreocupada com o valor público e com a importância da coletividade, já que o crescimento pessoal e o consumo exacerbado foram priorizados em todas as instâncias. Os homens passaram a venerar o espetáculo, deixando de lado o meio
Grades da colina histórica no estacionamento do Páteo do Colégio.
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Grades da colina histórica na Rua Dr. Bittencourt Rodrigues.
urbano e a cidade onde se vive efetivamente. A região do Páteo do Colégio pode ser vista como um exemplo da dificuldade de reconhecer os espaços públicos na cidade, onde as questões individuais sobrepujaram a qualidade dos espaços que a cidade apresenta. Tanto o Páteo do Colégio quanto a colina histórica foram gradeados, demostrando à população que é uma área sem interesse e que necessita de proteção. As grades funcionam como muros
63 sup. Lixo jogado atr谩s das grades da colina hist贸rica. / inf. Moradores de rua dormindo no monumento Gl贸ria Imortal aos Fundadores de S茫o Paulo.
na cidade, elas criam uma barreira tão grande, que os pedestres passam a ver o local como perigoso, e o esvaziam. É até estranho gradear uma área verde, sendo que é um local que pertence à toda a população e que poderia ser desfrutado em todo seu potencial. A colina histórica possui uma memória da cidade que inicia-se na fundação de São Paulo Piratininga, ela sempre foi vista como uma barreira topográfica a ser vencida para poder urbanizar a
Praça posterior ao Páteo do Colégio transformada em estacionamento.
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Esvaziamento de pedestres na praça posterior ao Páteo do Colégio.
cidade, porém ao mesmo tempo, era vista como parte importante da paisagem natural de São Paulo, e foi dessa maneira retratada por diversos artistas e fotógrafos. Em meio a tantas transformações, seu valor na paisagem se perdeu e as grades de uma sociedade doentia substituíram seu valor histórico. A colina apresenta um potencial grandíssimo na paisagem, a vegetação existente exibe árvores de grande porte, com espécies estrangeiras misturadas às nativas, e flores de diferentes tipos e cores, inclusive animais se apropriaram do local, diferentes tipos de pássaros podem ser encontrados lá. Parece que só os homens ainda não perceberam o valor desta valiosa joia verde no cerne do centro de São Paulo A vista que se tem a partir da colina histórica, logo atrás da reprodução do colégio do jesuítas é voltada para os bairros do Brás e Mooca, porém o pátio posterior da Igreja foi transformado em um estacionamento, onde poucas vezes encontram-se turistas apreciando a vista e tirando um par de fotos. A praça que deveria ser um local de encontro da população, de lazer e de aprecio da vista de São Paulo, invariavelmente está cheia de automóveis, o elemento que melhor traduz os valores da sociedade individualista atual. E para completar a vista da cidade que se têm a partir do Páteo do Colégio, foi construído um edifício de estacionamento em concreto com 73 metros de altura. Estes
são os valores da sociedade atual e os princípios que estão pautando a cidade em que se vive. O resultado disso é visto claramente na qualidade dos espaços públicos que se encontram na cidade. “Trata-se não só da perda de um espaço agradável de convivência, leitura e turismo, mas também um grande desrespeito à nossa memória. […] Uma agressão à cidade praticada por aqueles que deveriam torná-la melhor para as pessoas, mas sacrificam um ponto turístico e colocam o individualismo do automóvel em primeiro lugar. Por fim, pergunto: Alguém já viu carro estacionado na Piazza del Popolo em Roma??” (NASCIMENTO, Douglas. Disponível em: www.saopauloantiga.com.br/ pateo-do-collegio-1975-2012/)
Outros fatores que geram grande influência da região do Colégio é a informalidade do negócios existentes. A praça Fernando Costa e a Ladeira General Carneiro são pontos onde se encontra uma grande quantidade de comércio informal de, majoritariamente, roupas e calçados. Essa é uma maneira de apropriação do espaço por parte da população, apesar de ser informal deve ser consid-
Comércio informal na Praça Fernando Costa.
Comércio informal na Ladeira General Carneiro.
erada como uma atividade importante e que gera fluxos na área. Os trabalhadores, como qualquer outro pedestre da região, não dão a menor importância à colina e a veem como área verde abandonada e gradeada, quando seu potencial poderia ser de parque no coração do centro histórico.
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A região do Páteo do Colégio como espaço público apresenta a dificuldade dos pedestres em apropriar-se de locais que apresentam grandes interferências desenvolvidas ao longo do tempo. O comércio informal, a falta de atrativos, a noção de perigo, as grades, a falta de cuidado para com as áreas verdes, a perda da memória da edificação e o predomínio dos automóveis são alguns dos fatores cujas influências geram o esvaziamento da região. A praça e a colina apresentam-se como locais cujo potencial para a transformação num espaço de qualidade e convidativo para os pedestres é imenso. Trata-se de um local no qual transborda história e valores fundamentais do desenvolvimento de São Paulo, porém atualmente é vista como vazio urbano, esquecida aos olhos dos pedestres, simplesmente como uma área verde gradeada e mal cuidada. É uma região cheia de pessoas em alguns momentos, porém vazia de significado ao mesmo tempo. É enorme o fluxo de pessoas que cruzam o Ladeira General Carneiro para ir do Terminal Dom Pedro à Sé, Anhangabaú, etc. Tal fluxo é caracterizado majoritariamente por trabalhadores e pedestres em trânsito, atividades voltadas ao lazer e ao divertimento não são vistas nem aos finais de semana.
66 Paradoxo: VAZIO X CHEIO: Grande quantidade de pedestres que ocupam a Ladeira General Carneiro como local de passagem.
Observa-se um paradoxo claro que caracteriza a região como um local cheio e vazio ao mesmo tempo.
A grande quantidade de pessoas que cruzam o local, não o faz ser um espaço público de qualidade com grade vitalidade. Um local de passagem apresenta qualidades diferentes de um local de permanência, as pessoas caminham rápido e em direção a um destino. Em locais de permanência como praças e parques, as pessoas já vão aos lugares com outro intuíto, de passear, aproveitar o dia, distrair-se, conversar, encontrar outras pessoas, em suma, realizam atividades de lazer e aproveitam a qualidade dos espaços que a cidade oferece. Em locais de permanência os pedestres se apropriam da região e trazem seus gostos e atividades particulares, as quais passam a fazer parte de uma nova paisagem, caracterizada pela variedade de pessoas e atividades acontecendo simultaneamente. As transformações são o que movem a sociedade, buscam melhorar os espaços existentes, através de descoberta de seus potenciais e da revelação do valor ali existente, é o que dá força aos espaços da cidade e faz com que os pedestres
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Paradoxo: VAZIO X CHEIO: Praça do Páteo do Colégio completamente abandonada.
se apropriem deles, tornando a cidade cada vez mais rica e mais viva. Transformar um local de passagem em uma área de permanência, deve levar em consideração a escala do pedestres e as atividades já realizadas por ele tanto no dia a dia como aos finais de semana. A apropriação de uma área acontece quando as pessoas percebem o potencial coletivo de uma área, sem que ela perca suas atividades originais. Os espaços públicos mais ricos atualmente são aqueles que conseguem abrigar as mais diversas atividades e tipos de pessoas que compõem a complexidade da sociedade contemporânea atual. Espaços convidativos levam em consideração tanto a escala do pedestre, quanto a complexidade urbana da vida contemporânea, que se modifica a cada fração de segundo. O planejamento das cidades deve buscar diminuir a individualização dos espaços, de forma a criar áreas que melhorem a vida das pessoas no espaço público. (Ghel, 2007). É imprescindível trabalhar os valores que o espaço público apresenta, pois caso contrário, o local será esmagado pelos valores que a sociedade atual impõe, como o individualismo, e o consumismo exagerado.
68 Panorama da vegetação de grande porte da colina histórica e comércio informal na Ladeira General Carneiro.
“As cidades são locais onde as pessoas se encontram para trocar ideias, comprar e vender, ou simplesmente relaxar e se divertir. O domínio público de uma cidade – suas ruas, praças e parques – é o palco e o catalisador dessas atividades. [...] Todos devem ter o direito a espaços abertos, facilmente acessíveis, tanto quanto têm direito à agua tratada. Todos devem ter a possibilidade de ver uma árvore de sua janela, ou de sentar-se em um banco de praça, perto de sua casa, com um espaço para crianças ou de caminhar até um parque em 10 minutos. Bairros bem planejados inspiram os moradores, ao passo que comunidades mal planejadas brutalizam seus cidadãos.” (Rogers, Richard 2012 – Prefacio Cidades para Pessoas)
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RE LEITURA Desenho da colina
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Canção de Exílio Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá;
Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá;
Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.
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A região do Páteo do Colégio sofreu grande influência da substituição de uma sociedade disciplinar, por uma sociedade completamente reestruturada pelas técnicas do efêmero, da renovação e da sedução permanentes. Um surto de individualização reforça o consumismo, o aumento da compra de automóveis e da construção de shopping centers, somado a construção de grandes estruturas viárias, fez que com as pessoas parassem de frequentar o Páteo do Colégio, o qual se tornou em uma região fragmentada, segregada e isolada. O Páteo do Colégio, ao perder sua conformação original, da praça com vazio central, resultou em um espaço abandonado no cerne da metrópole. A colina e a paisagem natural do local de fundação de São Paulo foram esquecidos, como se fossem levados pelo vento, se perderam meio à tantas novas construções, edifícios de grande porte, ruas, terminais de metrô e ônibus, e diversos viadutos. As modificações no Páteo do Colégio, a destruição do edifício histórico existente e a construção de uma réplica do Colégio dos Jesuítas são reflexo imediato uma sociedade que padece da aceleração generalizada, da efemeridade das situações e da anarquia comportamental da sua população. Buscando reverter de certa forma as consequências dessa sociedade individualista, o projeto proposto se insere como intervenção na região do Páteo do Colégio, e se caracteriza como ensaio urbano, que busca melhorar os fluxos de pedestres através da proposição de novas transposições associadas à locais de lazer, com atividades lúdicas. O pedestre é tomado como usuário principal em todos os momentos, uma vez que se entende que a cidade lhe pertence, é ele que a constrói, transforma e utiliza. A força dos espaços públicos está na forma de abrigar a enorme variação cultural que os mais diferentes tipos de pessoas apresentam, dessa forma, quem define o uso dos espaços propostos é a própria população. A multiplicidade das atividades gera a riqueza do espaço e o vazio se transforma em cheio, dessa maneira a intervenção urbana busca apreender a alma da cidade e reeducar o olhar dos pedestres, para mostrar que o espaço de qualidade é aquele em que o cidadão é livre. A partir disto, realizar uma intervenção na colina histórica do Páteo do Colégio, no coração da cidade de São Paulo, entra como desafio de transformar uma área inutilizada e gradeada, em um espaço interessante, cuja arquitetura seja responsável por, simultaneamente, valorizar a história e celebrar o cidadão contemporâneo. A intervenção se apropria de uma linguagem simples e singela, em uma tentativa franca de realizar uma releitura da colina e de apreciar o entorno: a colina, seus edifícios adjacentes, toda a ideologia e os valores que se encontram nos vazios e praças da região. A arquitetura é desenhada como caminhos, cujas paradas pontuais determinam vistas sobre a cidade e busca transformar um espaço cujo valor se perdeu, em um local onde as pessoas possam frequentar, encontrar-se, desenvolver cultura, atividades de lazer e participar da vida pública da cidade. Enfim,
pode-se afirmar que tal intervenção entra no trabalho presente justamente como questionamento de como transformar os espaços da cidade, tomando como ponto de partida a apropriação do espaço por parte das pessoas. A região do Páteo do Colégio apresenta uma paisagem muito particular, tanto pelos edifícios, quanto pelas pessoas que passam por lá. Observa-se um grande fluxo diário de pessoas que
Vista aérea da situação atual do Páteo do Colégio.
Localização da colina histórica entre as vias principais.
trabalham na região, há também os visitantes, e turistas, as famílias e jovens que passam durante finais de semana e constantemente os moradores de rua. A colina histórica apresenta uma vegetação densa e natural, distribuída ao longo de um desnível de 21m de altura. Ao propor novas soluções para a transposição das cotas de nível, procura-se manter o caráter da vegetação e criar um projeto que seja interessante e atrativo para todas as pessoas que transitam no local. A crença de que a cidade é composta pela somatória de pessoas, por uma colagem de momentos e uma justaposição de elementos faz com que o respeito e a valorização das pré-existências se tornem as diretrizes que norteiam todo o projeto. Para tanto, foram realizadas algumas análises urbanas que traduzem a localização e escala de importância das construções e dos espaços que margeiam o Páteo do Colégio. O fluxo principal de pedestres que cruzam a região, trabalham nos arredores ou se deslocam entre os terminais Dom Pedro II, Sé e São Bento. As principais vias de circulação utilizadas pelos pedestres são a Ladeira Porto Geral, a Ladeira General Carneiro e Av. Rangel Pestana. Além destas ruas, existe uma transposição caracterizada por uma escadaria que liga a Rua Dr. Bittencourt Rodrigues ao Solar da Marquesa, na cota do Páteo do Colégio, porém atualmente essa passagem se encontra fechada por portões e grades que impossibilitam o seu uso.
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Foi adotado como base para a intervenção na colina histórica o plano de reurbanização do Parque Dom Pedro II, proposto pelo escritórios Una, Metrópole e H+F Arquitetos em 2011, que busca a requalificação dos espaços públicos através da escala do pedestre. O Plano prevê a abertura dos espaços públicos através da modificação de ruas e da transformação do espaço completamente fragmentado que se encontra atualmente. Porém o tema da transposição da colina histórica que in-
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Implantação Plano Urbanístico para o Parque Dom Pedro II.
Perspectiva do projeto para o Parque Dom Pedro II.
Planta esquemática da transposição proposta na colína histórica.
Perspectiva das escadas rolantes de acesso ao Páteo do Colégio.
terliga o Parque Dom Pedro II ao Páteo do Colégio foi resolvida somente com uma escada rolante, quando poderia ser pensado como forma de criar um espaço público atraente para os pedestres. A partir da análise dos equipamentos urbanos e do transporte público existente na região, foi realizado um estudo dos principais caminhos realizados pelos pedestres para cruzar a região do
FLUXO DE PEDESTRES
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Páteo do Colégio, e quais são os principais destinos das pessoas, considerando o deslocamento entre os metrôs São Bento, Brás, Dom Pedro, Sé, Liberdade, Anhangabaú e República. O mapa mostra em laranja os caminhos possíveis de serem realizados pelos pedestre, em azul os caminhos que poderiam ser utilizados caso a colina histórica fosse redesenhada visando melhorar o fluxo dos pedestres e contribuir com a transposição urbana. Foram realizados também estudos em maquete física, que ajudaram a entender a dinâmica dos fluxos locais de pedestres e qual seriam as possibilidades que poderiam ser propostas para melhorar a mobilidade urbana. O primeiro modelo realizado foi produto de um exercício onde era preciso realizar um modelo que refletisse os desejos do projeto. Foi realizado sem escala e sem terreno, porém que serviu para mostrar alguns conceitos que nortearam o projeto e se mantiveram até o momento presente. Observa-se o desejo de criar na colina histórica diversos terraços, que se interligam através de um único eixo de conexão vertical, assim como a vontade de estabelecer uma transposição urbana que pudesse funcionar não só como local de passagem, mas também como local de permanência, o qual pudesse abrigar diversas atividades como dança, teatro, estudos, aulas, entre outras.
Primeiro modelo volumétrico, mostrando os desejos iniciais do projeto.
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Modelo mostrando terraços e um eixo de conexão vertical.
Após definir os conceitos balizadores do projeto, partiu-se para um modelo volumétrico na escala 1:1000. A escala foi escolhida de forma que o modelo mostrasse tanto o desnível do terreno, quanto os prédios do entorno. Por se encontrar no coração do centro histórico de São Paulo, os edifícios que rodeiam a colina histórica são em grande parte tombados e de grande importância ar-
quitetônica e histórica. O modelo foi de grande importância para compreender os níveis do terreno. A colina histórica apresenta 21m de desnível, entre a cota do Páteo do Colégio, e a cota do Parque Dom Pedro II. Com este modelo foi possível experimentar diferentes formas de vencer o desnível, e com a observação do fluxo de pedestres na região, foi possível estabelecer principais eixos de conexão urbana, os quais foram estudados no modelo volumétrico a partir da colagem de tiras de papel laranja. Os eixos permitiram estabelecer quais e onde seriam as conexões que o projeto deveria propor. A partir dos caminhos que os pedestres efetuam diariamente foram descobertos dois nós principais de intersecção destes caminhos, os nós nortearam a escolha do local onde estão sendo propostas as 2 duas novas conexões entre a cota mais alta e a cota mais baixa. O esquema ( p. 82) mostra em vermelho os pontos que foram identificados com maior cruzamento de pessoas, se o espaço pudesse ser utilizado, as setas em verde representam o local que serão implantadas as duas novas transposições que compõem a intervenção. Na esquina com a Ladeira General Carneiro estão sendo propostas uma série de escadas rolantes e uma plataforma para cadeirantes, e na transposição que chega na R. Dr. Bittencourt estão sendo propostas um conjunto de arquibancadas e escadarias.
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Modelo volumétrico e croquis para estudo do fluxo de pedestres e das possíveis transposições urbanas.
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FLUXO DE PEDESTRES EXISTENTE
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Fluxo de pedestres existente
FLUXO DE PEDESTRES PROPOSTO
Fluxo de pedestres proposto
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Foram realizados diversos estudos volumétricos para entender qual seria a melhor forma de ocupar um terreno com declive acentuado e de que forma inserir atividades que serviriam para atrair pedestres não só para transitarem de um ponto para outro, mas para participarem ativamente das atividades, no espaço público proposto. Optou-se por seccionar o terreno em mais 2 níveis, pois seria mais fácil de vencer o desnível vertical por partes, ao invés de tudo de uma só vez. Pensou-se primeiramente em fazer passarelas com terraços-jardins em balanço, mas a intervenção começou a parecer vaga, e verificou-se a falta de um programa com atividades mais concretas, que servissem para atrais os pedestres. Logo, estudou-se a possibilidade de encrustar um edifício no terreno, que contivesse galerias de arte e alguns ateliers e salas para estudo, a transposição vertical seria realizada através de um elevador urbano. Foram realizados estudos volumétricos para definir o melhor posicionamento do elevador e como distribuir o programa em blocos semi-enterrados na colina.
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Modelo de terraços jardins com passarelas ao longo da colina.
Dois volumes semi-enterrados na colina com um elevador central.
Estudo da disposição dos volumes no eixo de transposição proposto.
Fragmentação do edifício em 4 volumes abrigando galerias e ateliers.
Volumes semi enterrados e estudo das possíveis vistas para a cidade.
Estudo da distribuição de blocos com programa ao longo do terreno.
Tentativa de criação de uma rede para implantar os volumes.
Diversas maneiras de implantar os blocos semi enterrados
Maquete eletrônica para visualização das possibilidades de implantação.
Volumes como locais de permanências em azul, e passarelas e escadarias como áreas de circulação em vermelho e amarelo.
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Após inúmeros estudos, a intervenção na colina histórica apresentava um resultado muito agressivo, tanto na forma de implantação quanto no respeito aos edifícios adjacentes, de importância bastante relevante. A intervenção parecia estar brigando com o local onde estava sendo inserida, ao invés de estar iniciando uma relação de harmonia. Optou-se por não inserir nenhuma edificação no local, mas por criar um partido que tivesse como premissa o respeito por ele e a intenção de reviver a história e os valores existentes no Páteo do Colégio, através de uma intervenção contemporânea,
Possibilidades de implantação das passarelas em 2 níves na colina.
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Possibilidades de distribuição dos mirantes ao longo das passarelas.
que abrigasse a multiplicidade de facetas que compõem a população. Uma vez redescoberta a essência da intervenção, ela passou a se enquadrar melhor na paisagem em que estava sendo inserida. A intervenção no Páteo do Colégio passou a contemplar diversas passarelas e alguns mirantes, como elementos pontuais de contemplação da vista da cidade, além de manter as transposições através das escadas rolantes, das arquibancadas e das escadarias, estas duas últimas funcionam tanto como elemento de passagem, quanto como local de convivência das pessoas. Os acessos são realizados pelas 3 ruas que se encontram nas extremidades da colina, a Ladeira General Carneiro, a R. Dr. Bittencourt Rodrigues e o próprio Páteo do Colégio. Buscou-se atingir ao mesmo tempo uma singeleza e uma harmonia na linguagem do projeto através da simplicidade da forma e dos materiais utilizados. O desenho das passarelas e mirantes é bastante simples e segue o desenho da colina através da justaposição de linhas retas. Sua estrutura é em madeira para estabelecer uma conversa com a grande quantidade de árvores existentes no local, uma das premissas do projeto é também cultivar a vegetação existente no local, e aproveitar seu sombreamento para criar áreas de descanso, as árvores servem também para ajudar enquadrar determinadas vistas na paisagem, através dos mirantes. Eles são compostos por uma peça única em concreto, cuja forma é um quadrado de 6m por 6m, e buscam criar elementos pontuais na
paisagem, em meio às passarelas que se estendem por toda a colina. Cada mirante foi posicionado de acordo com uma vista específica da cidade de São Paulo que se quer evidenciar, são elas: o Mercado Municipal, o Palácio das Industrias, a Casa das Retortas e o Quartel do Segundo Batalhão de Guardas. Essa busca pelas novas visuais, parte exatamente da vontade de agregar valor histórico à paisagem que está sendo criada. Na verdade, ao caminhar pelas passarelas e pelos mirantes, novas paisagens se desenvolvem a cada instante, as quais dependem do olhar de cada observador, que é único e muda dependendo de suas raízes, sua cultura e sua bagagem de vida. Além das paisagens, a intervenção na colina apresenta uma exposição de imagens que conta a história do Páteo do Colégio, desde sua fundação até os dias de hoje. A museografia dessa exposição foi realizada a partir da escolha da iconografia de mapas, imagens e desenhos existentes, os quais foram distribuídos em painéis de acrílico ao longo das passarelas. Foram também escolhidas imagens que contam a história das vistas escolhidas para cada mirante. Está sendo proposto um painel interativo em cada um dos mirantes que apresente imagens do local original, e de suas transformações até a configuração atual. A museografia ao longo dos passeios na colina se introduz como forma de incentivar os pedestres a conhecerem a história do Páteo do Colégio. A intervenção na colina histórica pode também ser vista como uma releitura da colina, a qual através de espaços para lazer, atividades lúdicas, leitura, descanso, conversas, encontros, risa-
Modelo final da intervenção proposta na colina.
Implantação final das passarelas, escadarias e mirantes.
das e sonhos, cria o respeito pelas cidade existente e um ambiente agradável de se conviver. A transposição urbana é resolvida através da justaposição de elementos de passagem com elementos de permanência. O ritmo criado entre esses locais aumenta o dinamismo do projeto, o qual busca relembrar os pedestres que a cidade lhes pertence, e que os espaços devem ser pensados para melhorar a qualidade de suas vidas em todos os instantes.
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Conclusão São Paulo cresce de maneira descontrolada, construções vão se adicionando lado a lado, sem nenhum critério, sem nenhum planejamento. Espaços vão ficando vazios, esquecidos, transformam-se em locais abandonados, inseguros e violentos. Da mesma forma agem os homens, o frenesi consumista, o aumento da compra de automóveis, o distanciamento de princípios e valores importantes, a dispersão cultural e o surto de individualização generalizada da sociedade são alguns dos fatores que aumentam a fragmentação da sociedade e dos espaços de permanência que ela mesma produz. A transformação do homem, a perda de princípios e a valorização do ego próprio, têm influência direta na composição dos espaços e nos habitantes que o frequentam. Muitos dos espaços públicos de São Paulo se transformaram em locais abandonados, mal frequentados, sujos, e inseguros. Grades e muros são cada vez maiores, aprisionam edifícios, praças, e parques, mas também, aprisionam a vida de cada um. Os espaços da cidade refletem exatamente a rotina das pessoas. Automóveis com janelas fechadas dominam as ruas e protegem dos males da cidade, protegem dos próprios homens. A vivencia nos espaços públicos quase não se concretiza, a não ser em shoppings centers, ou nos parques da cidade. Os espaços da cidade estão em constante transformação, e mudam de acordo com as pessoas que o utilizam. Cada um é responsável por agregar valor ao local que frequenta e por transformar a cidade em espaços dignos de abrigarem seus habitantes, afinal são eles que compõe a vida dia a dia. Assim como todos os espaços da cidade, o Páteo do Colégio sofreu inúmeras modificações ao longo do tempo e passou da praça de fundação de São Paulo Piratininga, à uma praça vazia, gradeada, na qual encontra-se um estacionamento dominando o espaço dos pedestres. Foi-se o tempo em que as ruas da cidade eram o principal local de encontro, onde se fechavam negócios e se arranjavam casamentos, atualmente a rua tornou-se mero local de passagem, onde a prioridade é sempre dada aos automóveis e a sociedade aceita isso como fato e verdade absoluta. A colina e a paisagem natural do antigo Colégio dos Jesuítas foram esquecidas, apagadas, se perderam meio à tantas novas construções, edifícios de grande porte, ruas, terminais de metrô e ônibus. A intervenção proposta na colina histórica entra como uma forma de reverter a situação de distanciamento criada por esta sociedade do espetáculo, regida pelos valores do individualismo. O projeto de intervenção se apropria do espaço da colina através de uma releitura, onde os espaços propostos são espaços de caráter publico, que servem tanto para resolver a transposição urbana, quanto para juntar a população e abrigar todos os tipos de atividades possíveis. Os espaços propostos buscam relembrar os pedestres que a cidade deve apresentar espaços que os façam sentir bem, e querer participar do que quer que aconteça, não apenas assistir da televisão de suas casas. Em outras palavras, os espaços do projeto tentam redescobrir os valorem que cada pessoa considera importante e trazer à tona os pensamentos que constituem a cidade como um elemento coletivo, é uma franca tentativa de colocar o individualismo, o consumismo, a pressa, a agonia, o stress e outras sensações de lado, para dar espaço para o encontro de novas pessoas, e paa o surgimento de divertimento, descanso, brincadeiras, risadas e sonhos. Afinal o futuro das cidades é composto pela concretização dos nossos sonhos. 92
“Tenho em mim todos os sonhos do mundo.” Fernando Pessoa
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Utilização do espaço público: Ópera na praça do Páteo do Colégio e projeção mapeada na fachada do edifício durante a Virada Cultural, 2011.
A NEXOS EXPERIMENTO: PROJETO FINAL
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Profissão de Fé Olavo Bilac
Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor.
Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo: O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro.
Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito:
Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papel A pena, como em prata firme Corre o cinzel.
E que o lavor do verso, acaso, Por tão subtil, Possa o lavor lembrar de um vaso De Becerril.
Corre; desenha, enfeita a imagem, A idéia veste: Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste.
E O A O
horas sem conto passo, mudo, olhar atento, trabalhar, longe de tudo pensamento.
95
Rua Álvares Penteado
96
Rua 15 de Nov.
Tribunal da Alçada Civil
Secretária da Justiça
Páteo do Colégio
Colina histórica Praça Fernando Costa
Implantação / Corte urbano INSERÇÃO URBANA R. 25 de Março
Parque Dom Pedro II - Projeto HF + Una + Metrópole
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INSERÇÃO URBANA 99
Planta / Vistas da cidade
100
RELEITUA DA COLINA 101
Vista superior
Secretária da Justiça
Panorama da Rua Dr. Bittencourt Rodrigues
102
Páteo do Colégio
PAISAGEM NO MEIO URBANO
Elevação R. Dr. Bittencourt
Ladeira General Carneiro
103
Páteo do Colégio Rua 25 de Março
104
Praça Fernando Costa
Panorama da Ladeira General Carneiro
R. Dr. Bittencourt
Elevação Lad. General Carneiro
Secretaria da Justiça
Rua 15 de Novembro
PAISAGEM NO MEIO URBANO
Viaduto Boa Vista
Tribunal da Alçada Civil
105
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ACESSO VIADUTO BOA VISTA 107
Corte
108
ESCADA ROLANTE 109
Corte
Calha
Escada rolante sobe
Parque Piedro Tosca - RCR
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Escada rolante desce
Plataforma para cadeirante
ESCADA ROLANTE 111
Ampliação
112
ACESSO ESCADA ROLANTE Perspectiva 113
114
MIRANTE + PASSARELA 115
Corte
116
MIRANTE Perspectiva 117
118
PASSARELA Perspectiva 119
Atividades
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PASSARELA + MIRANTE
Ampliação
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PASSARELA + MIRANTE 123
Ampliação
124
MIRANTE 125
Perspectiva
126
MIRANTE 127
Perspectiva
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ESCADA + ARQUIBANCADA 129
Corte
130
ARQUIBANCADA Corte ampliado 131
132
ARQUIBANCADA 133
Perspectiva
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ESCADA 135
Corte ampliado
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ESCADA 137
Perspectiva
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MUSEOGRAFIA 139
PainĂŠis ao longo das passarelas
140
MUSEOGRAFIA 141
Tela interativa: presente x passado
142
MUSEOGRAFIA Tela interativa 143
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Lista de Figuras Pág.
Identificação
Capa Leitura e releitura dos espaços da cidade.
146
Fonte Elaborado pela autora.
2
Manifestantes em frente ao Masp.
http://www.blogpaodeacucarnews.com. br/2013/06/protestos-pelo-pais-reunem-mais-de-250.html
5
Congestionamento na cidade de São Paulo.
http://urbanistas.com.br/sp/2009/01/07/ transito-em-sao-paulo-vira-ensaio-fotografico/
5
Congestionamento na cidade de São Paulo.
http://blog.maplink.com.br
6
Parque Dom Pedro II, abandonado.
Elaborado pela autora.
9
Vista superior da cidade de São Paulo.
Nelson Kon. http://www.archdaily.com.br/ br/01-40036/fotografia-e-arquitetura-nelson-kon/saopaulo_sp_brasil/
11
Páteo do Colégio.
http://www.panoramio.com/photo/97378812
17
Praça da Sé.
http://static.panoramio.com/photos/ large/876086.jpg
17
Memorial da América Latina vazio.
https://www.flickr.com/photos/photoparadise/
18
Parque Ibirapuera.
http://saopauloshots.blogspot.com. br/2010/06/parque-ibirapuera.html
18
Parque Trianon gradeado na Al. Jaú.
http://www.areasverdesdascidades. com. br/2003_10_01_archive.html
20
Aproriação da Rua 15 de Novembro pelos https://www.facebook .com/groups/memoriaspaulistanas/photos/ pedestres.
20
Rua como espaço de convivência público em Hildegard Rosenthal, Instituto Moreira Sales. http://www.skyscrapercity.com/showthread. São Paulo, na década de 40. php?t=1482361
21
Manifestantes no movimento Diretas Já, http://www.ebc.com.br/sites/default/files/ ok_passeata.185901.jpg 1983.
22
Manifestação iniciada pela redução das tari- http://redeagromais.com.br/exibeNoticia. fas de ônibus reuniu mais de 250 mil pessoas php?id=6947 nas ruas de São Paulo, Junho, 2013.
24
Pessoas dançando na Av. Paulista.
Mauro Costa, 2011. https://www.flickr.com/ photos/maurocostatomorrow/
24
Skatistas na Av. Paulista.
Isabelle Medeiros. https://www.flickr.com/ photos/1isabelle/
25
Piscina no Elevado Costa e Silva, como for- h t t p : / / w i s h m z . c o m / b r / m a g a z i n e / ma de intervenção urbana e apropriação do i d e i a - d e - a r q u i t e t a - o c u p a - m i n h o cao-com-uma-piscina/ espaço pela população.
26
Viadutos no Parque Dom Pedro II.
28
Grades e muros do edifício Bretagne, na Av. Luis Fernando Pinto. https://www.flickr. com/photos/luisfernando/ Higienópolis.
28
Projeto de edifícios isolados do empreendi- http://www.tecnisa.com.br/cases /37 mento Jardim das Perdizes, na Barra Funda.
29
Parte do editorial do jornal O Estado de SP h t t p : / / w w w . e s t a d a o . c o m . b r / de Nov./2013, afirmando que o vão do Masp n o t i c i a s / i m p r e s s o , e - p r e c i so-preservar-o-masp,1098579,0.htm deve ser gradeado.
Nelson Kon
147
148
31
Jovens ocupam escada de shopping em http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/tags/rolezinho/ “rolezinho“.
32
Notícia de abertura do Shoping Iguatemi, https://vocarecom.wordpress.com/cate entre as ruas 15 de Novembro, Direira e São gory/sp-460-anos/ Acesso:27/03/2014 Bento, em São Paulo, 1966.
33
Exterior e interior do Shopping Juscelino http://www.skyscrapercity.com/showthread. php?p=108973244 Kubitschek, de alto luxo.
35
Virada Cultural, diversidade de pessoas e http://naomepoupee.files.wordpress. com/2011/04/viradacultural.jpg atividades dividindo o mesmo espaço.
38
Inundação da Várzea do Carmo,1892.
40
Missa de Fundação do Colégio de São Paulo Ilustração Vallandro Keating. http://www. flickr.com/photos/saoluis/367242107/in/ de Piratininga, 25 de Janeira de 1554. photostream/
42
Base cartográfica de São Paulo, 1890
43
Entrada de São Paulo pelo caminho do Rio Jean Baptiste Debret, aquarela sobre papel, 1827. Reprodução de imagem: Ribeiro, 2012. de Janeiro, 1827.
43
Entrada de São Paulo pelo Convento das Thomas Ender. Aquarela. Reprodução de imagem: Ribeiro, 2012. Carmelitas, 1817.
44
Lavandeiras às margens do Rio Tamandu- Guilherme Gaensly, 1904. Reprodução de Imagem: Ribeiro, 2012. ateí, 1904.
44
Ilha dos Amores, cartão postal, 1876.
Benedito Calixto, óleo sobre tela, 1892. Reprodução de imagem Plano Urbanistico PDPII, 2011, p. 07.
Jules Martins, 1890. Reprodução de imagem Plano Urbanistico PDPII, 2011, p. 16.
http://quandoacidade.wordpress. com/2012/06/21/ilha-dos-amores/
http://blogs.estadao.com.br/arquivo/ 2012/01/25/quando-o-relogio-do-patio-do-colegio-parou/
45
Páteo do Colégio 1841.
45
Páteo do Colégio e praça cívica como http://www.cdcc.usp.br/ciencia/artigos/ art_23/sampa.html residência dos governadores, 1824.
46
Planta da praça cívica do Largo do Palácio, http://www.ebah.com.br/content/ABAAA ewEcAL/patio-colegio# 1850-1880.
46
Planta das modificações realizadas no http://www.ebah.com.br/content/ABAAA ewEcAL/patio-colegio# Palácio dos Governadores, 1880-896.
47
Planta do monumento ao Páteo do Colégio, http://www.ebah.com.br/content/ABAAA ewEcAL/patio-colegio# 1897-1929.
47
Nova conformação do Páteo do Colégio, http://www.ebah.com.br/content/ABAAA ewEcAL/patio-colegio# com o Viaduto da Boa Vista, 1930-1953.
48
Palácio dos Governadores, 1850 - 1880
48
Sede da Secretária da Educação, e monu- ht t p : / / b l o g s . e s t a d a o. c om . br / a rq u i mento “Gloria Imortal aos Fundadores de vo/2012/01/25/quando-o-relogio-do-patio-do-colegio-parou/ SP“, 1933.
49
Demolição do Palácio do Governo, 1953.
49
Reconstrução do Páteo do Colégio, como ht t p : / / b l o g s . e s t a d a o. c om . br / a rq u i vo/2012/01/25/quando-o-relogio-do-pacópia da Igreja dos Jesuítas, 1976. tio-do-colegio-parou/
ht t p : / / b l o g s . e s t a d a o. c om . br / a rq u i vo/2012/01/25/quando-o-relogio-do-patio-do-colegio-parou/
ht t p : / / b l o g s . e s t a d a o. c om . br / a rq u i vo/2012/01/25/quando-o-relogio-do-patio-do-colegio-parou/
149
150
50
Base cartográfica de São Paulo, 1930.
Sara Brasil, 1930. Reprodução de imagem: Plano Urbanistico PDPII, 2011, p. 17.
51
Vista aérea do centro de São Paulo, 2008.
Plano Urbanistico PDPII, 2011, p. 20.
52
Urbanização da Várzea do Carmo, 1923.
Palácio das Indústrias, 1992. Reprodução de imagem: Plano Urbanistico PDPII, p. 11.
53
Urbanização da Várzea do Carmo, 1954.
Henri Ballot. Reprodução de imagem Plano Urbanistico PDPII, 2011, p. 13.
54
Igreja do Colégio dos Jesuítas, 1554.
ht t p : / / b l o g s . e s t a d a o. c om . br / a rq u i vo/2012/01/25/quando-o-relogio-do-patio-do-colegio-parou/
54
Réplica do Páteo do Colégio, 2014.
http://commons.wikimedia.org/wiki/File: Pateo_do_Collegio.jpg
55
Praça do Páteo do Colégio, 1975.
http://www.saopauloantiga.com.br/pateo-do-collegio-1975-2012/
55
Praça do Páteo transformada em estaciona- http://www.saopauloantiga.com.br/pateo-do-collegio-1975-2012/ mento, 2014
56
Panorama do Páteo do Colégio, e da colina Elaborado pela autora. histórica, 2014
59
Praça do Páteo do Colégio vazia atualmente. Elaborado pela autora.
59
Praça do Páteo do Colégio e monumento.
60
Grades da colina histórica no estacionamen- Elaborado pela autora. to do Páteo do Colégio.
59
Grades da colina histórica na Rua Dr. Bitten- Elaborado pela autora. court Rodrigues.
Elaborado pela autora.
61
Lixo jogado atrás das grades da colina históri- Elaborado pela autora. ca.
61
Moradores de rua dormindo no monumento. Elaborado pela autora.
62
Praça posterior ao Páteo do Colégio trans- Elaborado pela autora. formada em estacionamento.
62
Esvaziamento de pedestres na praça posteri- Elaborado pela autora. or ao Páteo do Colégio.
63
Comércio informal na P. Fernando Costa.
Elaborado pela autora.
63
Comércio informal na Lad. Gen. Carneiro.
ht t p : / / w w w. p an or am i o. c om / p h ot o / 49720399
64
Paradoxo: Vazio X Cheio: Grande quanti- http://cafehistoria.ning.com/photo/ladeidade de pedestres ocupam a Lad. G. Carnei- ra-general-carneiro?context=latest ro.
65
Paradoxo: Vazio X Cheio: Praça do Páteo do Helvio Romero. http://infograficos.estadao. com.br/uploads/galerias/6219/64090.jpg Colégio completamente abandonada.
66
Panorama da vegetação da colina histórica e Elaborado pela autora. comércio informal na Ladeira G. Carneiro.
71
Vista aérea da situação atual do Páteo do Google Earth, 2008. Reprodução de imagem Plano Urbanistico PDPII, 2011, pg. 20. Colégio.
71
Localização da colina histórica entre as vias Google Earth, 2008. Reprodução de imagem Plano Urbanistico PDPII, 2011, pg. 20. principais.
7277
Mapas de análise urbana.
Plano Urbanistico PDPII, 2011, modificado pela autora. 151
152
78
Implantação Plano Urbanístico PDPII.
Plano Urbanistico PDPII, 2011, pg. 147.
78
Perspectiva Plano Urbanístico PDPII.
Plano Urbanistico PDPII, 2011, pg. 133.
78
Planta esquemática da transposição.
Plano Urbanistico PDPII, 2011, pg. 242.
78
Perspectiva do acesso ao Páteo do Colégio.
Plano Urbanistico PDPII, 2011, pg. 246.
79
Mapa fluxo de pedestres
Elaborado pela autora.
80
Primeiro modelo volumétrico realizado.
Elaborado pela autora.
80
Modelo mostrando os desejos iniciais do Elaborado pela autora. projeto.
81
Modelo volumétrico e croquis para estudo Elaborado pela autora. do fluxo de pedestres e das possíveis transposições urbanas.
82
Mapa de fluxo de pedestres e novas conexões. Elaborado pela autora.
8385
Mapa de fluxo de pedestres.
Plano Urbanistico PDPII, 2011, modificado pela autora.
8689
Fotos dos modelos de estudo realizados.
Elaboradas pela autora.
89
Utilização do espaço público: Ópera nno Pá- http://i0.statig.com.br/fw/ch/qh/m2/ teo do Colégio e projeção na fachada do edi- chqhm2dcedypgz9cdikzqmzxw.jpg fício durante a Virada Cultural, 2011.
94141
Anexos: desenhos e imagens do projeto final. Elaborados pela autora, utilizando como base o Plano Urbanistico PDPII, 2011.
151
Projeção mapeada no Páteo do Colégio.
http://projetacao.org/projecao-mapeada/