EMPAUTA CONSTRUÇÃO VERDE
Viva o verde C
aro leitor,
a revista EMPAUTA – Construção Verde está em sua primeira e única edição. Ela abriga em suas páginas assuntos sobre questões ecologicamente sustentáveis. Uma dessas questões está na matéria sobre Sustentabilidade Social que faz um parâmetro sobre como são feitos os projetos da ecoarquitetura. Outros temas abordados em questão de construção sustentável foram: a construção sustentável na visão de um profissional, o design como forma de produção ecológica e a relação acadêmica com o tema da construção ambiental. A principal fonte de inspiração para a construção desta revista foi a visita da equipe ao Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM. Lá estão reunidos projetos arquitetônicos qualificados como ecológicos e sustentáveis. Obras de autores preocupados com o meio ambiente também estão expostos. A matéria completa você pode ler na página 6. A revista visa estabelecer uma relação entre a sociedade que destrói e a lógica da construção consciente, que se preocupa com as quesões ambientais. Assim, buscamos criar um ambiente propício a uma reflexão sobre a questão da preservação, aliada às bases fundamentais de nossa sociedad como moradia e desenvolvimento. Boa leitura!
EXPEDIENTE Equipe
Francisco da Silva Gabriel Monteiro Jessica Mota Paula Suenny Paulo Gervino Thaís Barros
Contato
Angela Schaun Petra Sanches Contato
empautanews@gmail.com
EMPAUTA CONSTRUÇÃO VERDE
Projeto de futura e possível construção sustentável popular
* EMPAUTA construção sustentável *
Julho 2010
Sumário
4
Questões da ecoarquitetura
5
Formas sustentáveis
6 8
Entenda como o design pode levar sustentabilidade à sua casa
MAM e a cultura verde Estudantes de arquitetura O futuro apartir da construção sustentável
10 Sustentabilidade social 11
A prática do verde Conhecimentos do arquiteto Marcos Maia
Casa de budistas em Cingapura, um das mais ecológicas moradias do planeta.
Rua de Amsterdam, com barcos, carros, bicicletas e pessoas
Questões da ecoarquitetura Paula Suenny Mais conhecida como ecoarquitetura, a relação entre arquitetura e ecologia é na verdade apenas uma forma de construir e, antes de tudo, planejar usando técnicas ambientalmente confiáveis. Seja poupando energia ou na maneira de pensar o uso de artificios naturais, como o vento e o sol. É necessário entender que em vários lugares do planeta, em cada edificação há um projeto diferente. Por exemplo, arquitetos desta área procuram elaborar casas que sejam cada vez mais energeticamente sustentáveis. A utilização de alguns materiais são totalmente alternativos perto do que se encontra em um edifícil “não sustentável”. As principais
fontes e energia são as solares ou eólicas, que são formas de emissão praticamente inotáveis. Entretanto, outros modelos devem ser considerados, como a latitude e a finalidade da construção, para que seja feita medidas para um posicionamento correto. Não importa o tipo de construção, para cada tipo específico há combinações viáveis para não afetar o meio ambiente. As restrições ambientais que existem em qualquer projeto recebem ecotécnicas eficientes que ajudam na construção desse projeto, mesmo com essas limitações. A ecoarquitetura está aí para isso. Criar habitações auto-sustentáveis, ou seja, trabalhar em função da natureza, o que inclui o uso de água da chuva para irrigações e o sol como fonte de ener-
gia principal de uma casa. Há também de ser ressaltado a diferença entre edificações sustentáveis e ecológicas. A primeira diz respeito à permissão de construções urbanas com acessórios ecológicos. Já a segunda é totalmente verde, não se apropriando de recursos esgotáveis. Apesar de todo o esforço para construir algo ecologicamente correto, saiba que não é possível fazer uma casa 100% sustentável. É extremamente difícil deixar de usar alguns materiais que agridem a natureza. Se você quer que sua casa seja ecológica, antes de tudo, a ecologia tem que partir de você, não adianta ter uma casa totalmente sustentável se o morador estaciona na garagem um carro movido à gasolina.
Formas sustentáveis Entenda como o design pode levar sustentabilidade à sua casa
Jessica Mota
N
ão é de hoje que o reaproveitamento de materiais se tornou parte da produção de bens duráveis. Na moda ou nos móveis, a reciclagem também alcança o universo do design. Conhecido como um grande fator de diferenciação dos produtos, o design sustentável representa as qualidades de preservação ambiental aliadas à qualidade de um bom produto. O ecodesign, também chamado de design ambiental ou ecológico, utiliza materiais alternativos na produção de bens. Nessa modalidade, há um planejamento para que a produção em escala industrial cause um impacto mínimo ao ambiente. Nas diretrizes do processo de produção estão os estudos realizados para que o impacto ambiental da produção do produto seja o mínimo possível. Também aí está a preocupação em consumir menos energia, tanto na produção como na utilização do bem produzido, e aproveitar melhor as matérias primas. É papel específico do designer contribuir com um projeto em que os produtos sejam eficientes, usem menos materiais e sejam mais duráveis. Para além da forma, os materiais também podem gerar um produto mais eficaz. De embalagens a garrafas térmicas, deve-se haver por parte do designer a preocupação em agregar a reutilização com qualidade e diferenciação. É o caso, por exemplo, do Ventilador Spirit, fabricado pela Indio da Costa Design. O produto foi resultado de um pedido de um fabricante de fitas cassetes do Rio de Janeiro. Guto Indio da Costa criou o ventilador utilizando o maquinário que estava em desuso na fábrica Plajet. De plástico policarbonato translúcido e colorido, com apenas duas pás, o Spirit já produziu um faturamento de 30 milhões de reais, com um investimento apenas de 1 milhão. A escolha do policarbonato se justifica pela economia. Esse é um material à base de resina que garante a produção em larga escala e é praticamente inquebrável. As principais vantagens do Spirit são a alta circulação de vento, que pode ser até 30% superior aos modelos tradicionais, e a economia de energia, que chega a 80%. Os materiais privilegiados são aqueles que não possuem substâncias tóxicas, tanto para o planeta como para os homens. Os recicláveis são a grande pedida nesse tipo de design. O papelão, o jornal e a madeira de entulho ou de reflorestamento, podem ser matérias-primas. Como, por exemplo, a Cadeira Scopo, feita de fibras naturais e mais resistentes. O vime é produzido em plantações sustentáveis onde a queima do material é aproveitada para energia térmica. Assim, não só o produto se torna um bem mais durável, como sua produção é energeticamente auto-sustentável.
MAM e a cultura verde De abril a junho, o Museu de Arte Moderna expĂľe as variadas perspectivas da arquitetura sustentĂĄvel
Paulo Gervino
M
orada Ecológica é o nome da atual exposição presente no Museu de Arte Moderna de SP. Trabalha a concepção da arquitetura atrelada a questão do meio ambiente. Estão expostos vários projetos que podem ser qualificados como ecológicos, verdes, sustentáveis. E por que não orgânicos.
Dentre os autores destas obras preocupadas com o meio ambiente estão desde os históricos como Frank Lloyd Wright (1867-1959), até contemporâneos como Alejandro Aravena (1967). Antigos ou modernos, tais projetos são atuais apenas pelo fato de que se alinham com a questão da ecologia e da sustentabilidade, em tempos os quais debate-se tanto a influência do homem em fenômenos naturais. A Morada Ecológica engloba mais de 50 projetos pioneiros sobre a necessidade de construir sem deixar de lado a preservação, escassez, materiais úteis e menos nocivos ao ambiente. Dentro da concepção estão presentes arquitetos de todo o planeta. A partir da prerrogativa de não deixar de lado a questão econômica das cidades, como também a manutenção do meio-ambiente. Em tempos de aquecimento global e tsunamis, o foco da exposição proposta pela curadora geral Dominique Gauzin-Müller é a abordagem holística. Ou seja, a representação de iniciativa coletiva e multifo-
cal sobre a reflexão dos acontecimentos do planeta ligados diretamente a arquitetura. No conjunto do material exibido existe uma divisão em quatro módulos temáticos. De maneira altamente tecnológica e interativa, slide-shows e enormes painéis com textos e plantas de projetos são mesclados às cadeiras de praia fornecidas pelo Museu para tornar ainda mais agradável o “estudo da obra”. No primeiro, trata-se logo de cara dos precursores do pensamento ecológico na arquitetura. Além de Wright, estão Murcutt (Austrália, 1936); Hassan Fathy (Egito, 1900-1989) e o brasileiro José Zanine (Bahia, 19192001). Nos blocos seguintes, existe uma subdivisão de projetos contemporâneos que contém novos conceitos holísticos na preservação natural, modo de produção, iniciativas notáveis (principalmente na arquitetura francesa, local de onde veio a exposição) e estéticas que visam a maximização da consciência global a respeito do meio ambiente.
Estudantes de arquitetura
o futuro a partir da construção sustentável
Gabriel Monteiro
H
abitualmente dedicados ao mundo do desgaste, onde prevalece o individualismo e o capitalismo sem fins, nossos estudantes de arquitetura tem ajudado a sociedade a rever seus conceitos, optando por explorar verdadeiramente todo o campo dos comportamentos sustentáveis. Assim , surgem campanhas de mobilizações sócio ambientais diversas em que, pensar no bem social prevalece qualquer tentativa oposta. Há diversos cursos para a capacitação da população em construção sustentável, a fim de ajustar as ideias dos jovens arquitetos à realidade. “Falar e estudar arquitetura sustentável não é estar na moda e sim pensar no futuro”, diz a estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo Rebeca De Moura. É fundamental a presença, na grade do curso de arquitetura, de uma disciplina que envolva e explane a temática, viabilizando assim, novos projetos para o bem da nação, seja esse a curto, ou mesmo a longo prazo. Pensar em cores, fachadas, jardins, material de construção, ocupação do espaço requer pensar em prol do meio ambiente em si, onde sobreviver está em risco e envolve a conscientização do homem. Observa-se assim, a presença de concursos direcionados aos jovens estudantes para fazê-los refletir e criar novos projetos que possibilitem o propagar e o inovar da temática sustentável.
As inscrições ao V Concurso Nacional de Ideias para Reforma Urbana estão abertas e seus organizadores dão a dica, para quem quer participar, dizendo que a grande preocupação é produzir uma reforma sustentável e favorável ao meio ambiente. Atualizada e interessada com o futuro, a aspirante a arquiteta Rebeca de Moura ressalta que “há uma presença massiva de conteúdo informativo sobre construção sustentável nas revistas de arquitetura” e complementa dizendo que “isso ocorre devida à viabilidade de estudar e pensar a temática como um bem social”. São vários os arquitetos preocupados com a questão da arquitetura e sustentabilidade, desenvolvendo trabalhos, produzindo nosso futuro e vivendo com isso, como a jovem arquiteta, Karla Cunha.
Rebeca de Moura estudante de Arquitetura
V CONCURSO NACIONAL DE IDEIAS PARA REFORMA URBANA Inscrições: do dia 25 de maio à 25 de junho. Informações: http://www.fenea.org/cni
KARLA CUNHA – arquitetura e sustentabilidade Site: http://karlacunha.com.br/
“Falar e estudar arquitetura sustentável é pensar no futuro”
Sustentabilidade Social Construções sustentáveis podem melhorar a vida de pessoas de baixa renda no Brasil. Casas populares e sustentáveis em Sorocaba
Thaís Barros
O
déficit habitacional no país é quase de 8 milhões de moradias, equivalente a 14,5% dos domicílios totais do país, de acordo com o Ministério das Cidades. E a renda mensal dessas família é em média de até três salários mínimos. A construção civil poderia suprir esse déficit, mas esta, atualmente, é responsável pela maior degradação ambiental e causadora de maiores impactos. Para suprir as necessidades de todas essas famílias causaria um custo ambiental caríssimo.
O setor consome 75% dos recursos naturais extraídos, gera 80 milhões de toneladas de resíduos por ano e, devido à queima de combustíveis fósseis, sua cadeia produtiva contribui de forma significativa para a emissão de gases do efeito estufa, como CO2. Também responde por 40% do consumo mundial de energia e por 16% da água utilizada no mundo. Devido a esses motivos uma solução rentável seria a construção de casas populares sustentáveis, usando materiais de construção e tecnologias de baixo custo, que possibilitem a coleta e reutilização de água da chuva, materiais de construção recicláveis, tratamento local do esgoto domésti-
co, sistema de aquecimento de água por painéis solares. Os benefícios trazidos seriam a diminuição de consumo energético e redução de emissores poluentes e resíduos. Além disso, seriam menores os custos com as despesas e com a manutenção da casa, o que para essas famílias é de extrema importância, já que, segundo o estudo do Ministério das Cidades, 30% do salário delas está comprometido com as despesas da casa Levando em conta o problema do déficit e uma solução rentável, durante a última Cúpula das Américas, em abril de 2009, o presidente dos EUA, Barack Obama, propôs a discussão sobre este assunto. A partir daí, projetos como o Minha Casa, Minha Vida e órgãos como a Secretaria de Habitação de São Paulo desenvolveram aqui no Brasil a iniciativa de construções sustentáveis, com a finalidade de dar essas casas para famílias que não tem uma moradia adequada de acordo com os padrões defendidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela regente Constituição Federal. Nesses projetos, 90% da sustentabilidade é alcançada exclusivamente através de decisões projetuais de acordo com o clima e as necessidades da região e não pela especificação de materiais ecológicos. Além da sustentabilidade, então, os projetos de construção sustentável também podem ter um viés social. Assim, tanto ambiente como sociedade se beneficiam.
A prática do verde Experiências e conhecimentos do arquiteto cearense Marcos Maia Francisco da Silva Marcos Maia, exerce a arquitetura na capital paulistana, é formado pela Universidade Federal do Ceará desde 1997, em contribuição à nossa revista, nos esclarece o que é uma construção verde. Afirmando que a sustentabilidade vem sendo discutida desde a década de 70, mas até então o que realmente é sustentável, é a oca de um índio, e isso é muito serio pois para se dizer que realmente algo é sustentável, é preciso analisar o processo de manutenção da área habitada bem como a fabricação e sua construção. Por exemplo, para fabricar 1 kl de cimento se consome uma grande quantidade de energia. No Brasil o desperdício de material e da ordem de 20%, é como imaginar que de cada 10 sacos de cimento utilizados na construção, dois vai para o lixo. O Processo de construção no Brasil, e em muitos países é totalmente insustentável. No escritório onde trabalho, não se trabalha com arquitetura sustentável. Alguns projetos são sustentáveis, mas são projetos ligados à uma pessoa física, nunca das empreiteiras, as construtoras em geral não tem essa preocupação. O selo leed , no Brasil o equivalente é o aqua, são selos internacionais da construção verde. É muito difícil se obter esse selo. Falta consciência por parte dos empresários do
setor. Tem um prédio na china que gera energia para ele e para a quadra inteira onde ele esta instalado, com turbinas eólicas. A construção sustentável visa consumir o mínimo de energia para o Maximo de construção, com materiais renováveis, certificados e no geral recicláveis. Adaptar-se ao espaço onde será a construção (João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé, segundo Niemayer, é o maior arquiteto do Brasil) é um gênio nesse tipo de construção, ele criou por exemplo um sistema ar condicionado natural, observado no hospital da rede Sarah Kubitcheck em Fortaleza. Niemayer deve ter deixado Joaquim Cardozo (engenheiro responsável pela construção de Brasília ) sem dormir ao apresentar o projeto da capital federal. “ Olha aqui essa igreja” falando da catedral de Brasília que ficou muito tempo sem os vidros porque na época não havia tecnologia suficiente para fabricar vidros como os necessários para a catedral. Ainda no Brasil, existe muitas empresas grandes entrando no mercado sustentável, a “DECA” por exemplo que já fabricou muitos utensílios nesse sentido uma linha ecológica completa. Fabricou uma válvula hidráulica de duplo acionamento, e muitas construções estão adotando. As torneiras automáticas com temporizador , já é um advento da construção sustentável. Aqui em São Paulo no bairro do Butantã, existe um proje-
to muito interessante. “ casa verde” onde fazem curso de reciclagem ecológica caseira , é uma comunidade sustentável com três ou quatro hortas comunitárias, minhocário. Então, veja, para ser sustentável é preciso ser moderno, obter tecnologia, e hoje temos muito acrescenta, falta boa vontade. Com vontade política é possível avançar muito, veja o exemplo da despoluição visual em São Paulo. O Kassab conseguiu realizar em dois anos. Mas também os grandes investidores da construção e em todas as áreas em geral precisam ter consciência , se eles quiserem os arquitetos estão preparados para realizar os projetos, os arquitetos no Brasil tem know-how para a arquitetura sustentável. Hoje já se fala na impressora 3D, um estudo que fabricará uma casa popular em três dias. É um projeto todo feito no computador e a impressora 3D fará o resto. Imagine uma impressora gigante, imprimindo uma casa, é mais ou menos isso. Ainda de acordo com o arquiteto São Paulo pode sim se transformar em uma cidade mais humana mais bem dividida e melhor habitável, sob o conceito da sustentabilidade que hoje é o mais importante. Isso deveria ser uma prioridade, já passou da hora, é uma urgência. Todos sabem, a sociedade esta desmoronando e ninguém faz nada, não o governo mas sim os donos do dinheiro.