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PIBIC-UFU, CNPq & FAPEMIG Universidade Federal de Uberlândia Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação DIRETORIA DE PESQUISA

CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA E POSIÇÃO TAXONÔMICA DE DUAS ESPÉCIES DE DENDROPSOPHUS (ANURA – LISSAMPHIBIA) DO TRIÂNGULO MINEIRO Bernardo Franco da Veiga Teixeira¹ Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil, CEP 38400–902 e-mail: bernardo5000@hotmail.com

Ariovaldo Antonio Giaretta² Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil, CEP 38400–902

Resumo: É apresentada a caracterização acústica e morfométrica de duas espécies de Dendropsophus que ocorrem nas regiões do Triângulo Mineiro (MG) e Caldas Novas (GO). Também é feita a comparação de dados acústicos e morfométricos com a literatura para a determinação taxonômica das duas espécies. Os resultados referentes à espécie do gr. rubicundulus de Uberlândia (MG), coincidem com os apresentados na literatura para a população da localidade tipo de Dendropsophus jimi tanto para os parâmetros acústicos quanto morfométricos, o que nos permite aplicar o mesmo nome. Para o indivíduo de Caldas Novas (GO) e Araguari (MG) os resultados acústicos coincidem com os da caracterização de populações de Dendropsophus melanargyreus próximas à localidade tipo, mas não está disponível na literatura o canto da população da localidade tipo. Os resultados morfométricos não coincidem com a descrição de Dendropsophus soaresi, mas há outros registros próximos a Caldas Novas para esta espécie. Sem a disponibilidade da caracterização acústica para Dendropsophus melanrgyreus da localidade tipo não podemos aplicar esse nome com segurança, mas é provável que seja essa a identidade da população de Caldas Novas. Palavras-chave: Palavaras chave: caracterização, acútica e morfométria. 1. INTRODUÇÃO Os Anura (sapos, rãs, pererecas e formas afins) são mais diversificados nos trópicos, particularmente na região Neotropical (Duellman & Trueb, 1986). O Brasil abriga uma enorme diversidade de anuros e ainda são necessários trabalhos taxonômicos e sistemáticos para o reconhecimento e ordenação dessa diversidade (Heyer, 1988). Muitas espécies do grupo têm sido descritas recentemente no Brasil (Frost, 2007) e, em particular, em Minas Gerais (Vasconcelos & Giaretta, 2003; Giaretta & Costa, 2007, Giaretta et al. 2007). Trabalhos sobre a diversidade biológica são particularmente importantes e urgentes em áreas de alta biodiversidade afetadas pela ação humana (Duellman & Koechlin, 1991). Dada sua grande biodiversidade, heterogeneidade fisionômica, potencial econômico e velocidade de descaracterização por atividades humanas (Myers, 1988), a situação de conservação do Cerrado é crítica. Em função dessas particularidades, o Cerrado foi elevado à condição de centro de alta diversidade biológica sob ameaça (hot spot) (Myers et al. 2000).

¹ Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas ² Orientador - Laboratório de Comportamento, Ecologia e Sistemática de Anuros Neotropicais, Instituto de Biologia


Em regiões de Cerrado no norte do Triângulo Mineiro (MG) e sul de Goiás (GO) ocorrem duas espécies de Dendropsophus (Hylidae, Hylinae) cuja determinação específica ainda depende da consideração de dados acústicos e comparação com a literatura. Especificamente estas espécies são Dendropsophus sp. (gr. Dendropsophus marmoratus, cf. melanargyreus) e Dendropsophus sp. (gr. Dendropsophus rubicundulus, cf. jimi). O grupo de Dendropsophus marmoratus é composto por oito espécies que se distribuem do leste da Bolívia até o nordeste brasileiro e das Guianas até o sudeste do Peru (Frost, 2007). Como reconhecido hoje, o grupo é comporto por Dendropsophus acreanus (Bokermann), Dendropsophus dutrai (Gomes e Peixoto), Dendropsophus marmoratus (Laurenti), Dendropsophus melanargyreus (Cope), Dendropsophus nahdereri (Lutz e Bokermann), Dendropsophus novaisi (Bokermann), Dendropsophus seniculus (Cope), Dendropsophus soaresi (Caramaschi e Jim). A bibliografia pertinente à caracterização do grupo inclui Lutz (1973), Caramaschi e Jim 1983 e Márques e Bosch (1993). O grupo de Dendropsophus rubicundulus é composto por sete espécies, as quais se distribuem nos estados do Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará e São Paulo. Como reconhecido hoje, o grupo é composto por Dendropsophus anataliasiasi (Bokermann), Dendropsophus araguaya (Napoli e Caramaschi), Dendropsophus cachimbo (Napoli e Caramaschi), Dendropsophus cerradensis (Napoli e Caramaschi), Dendropsophus elianeae (Napoli e Caramaschi), Dendropsophus jimi (Napoli e Caramaschi) e Dendropsophus rhea (Napoli and Caramaschi). A bibliografia pertinente a caracterização do grupo inclui Lutz (1973), Cardoso e Vielliard (1985), Napoli e Caramaschi (1998), Napoli e Caramaschi (1999 a, b e c), Napoli e Caramaschi (2000) e Martins e Jim (2004). Neste trabalho procuramos determinar a identidade específica dessas duas espécies de Dendropsophus (Dendropsophus cf. jimi e Dendropsophus cf. melanargyreus) com base na caracterização de seus cantos de anúncio e por comparação com a literatura. 2. MATERIAL E MÉTODOS Foram feitas gravações das vocalizações (canto de anúncio cf. Duellman & Trueb, 1986) das duas espécies. Para as gravações foram utilizados gravador digital Boss 864 (44.100 Hz e resolução de 16 bit) e microfone Sennheiser ME67. Para as análises dos cantos foi utilizado o programa Sound Ruler (Gridi-Papp, 2007). A nomenclatura referente a descrição dos cantos segue Martins & Jim (2003). Dois espécimes de Dendropsophus cf. jimi foram gravados em Uberlândia (18º55´08.53"S; 48°17'24.18"O), estado de Minas Gerais em 30 de dezembro de 2006. Dois indivíduo de Dendropsophus cf. melanargyreus foram gravados no município de Caldas Novas (17°44'42.69"S; 48°37'30.95"O), Goiás, em dez de dezembro de 2004. Os indivíduos das duas espécies foram gravados onde vários indivíduos cantavam, caracterizando como atividade em coro (cf. Martins e Jim 2003). A caracterização morfológica foi feita com base em dois machos de Dendropsophus cf. melanargyreus (AAG-UFU2595 e AAG-UFU2672), coletados em Caldas Novas, Goiás e dois coletados em Araguari, MG (AAG-UFU3104-6; AAG-UFU4121). Para Dendropsophus cf. jimi foram coletados cinco machos (AAG-UFU2395, AAG-UFU2222, AAG-UFU2298, AAG-UFU2301, AAG-UFU4150). As medidas foram tomadas com paquímetro (0.05 mm). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Dendropsuphus cf. jimi O canto é formado por apenas um tipo de nota que se repete de 6–9 vezes, cada conjunto de notas variando entre 2,3–4,7 segundos. A duração das notas individuais variou entre 0,03–0,07 segundos. Cada nota apresenta 3–4 pulsos, cada um com duração que entre

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0,003–0,007 segundos. A banda da freqüência dominante varia entre 3300 a 4700 Hz, não apresentando freqüência fundamental distinta da dominante. Os parâmetros acústicos de Dendropsophus jimi da localidade tipo (Botucatu, São Paulo) foram descritos por Martins e Jim (2004). Os resultados das vocalizações (também em coro) obtidos por eles, são essencialmente iguais aos apresentados nesse trabalho. A maior amplitude de valores encontrados por Martins e Jim (2003) em alguns parâmetros, provavelmente se dá pelo maior número de indivíduos analisados (n = 49). Os dados morfométricos dos espécimes das localidades tipo e de Uberlândia são essencialmente concordantes em termos morfológicos, algumas diferenças provavelmente são devidas ao número de indivíduos analisados. Assim concluímos que ambas as populações são essencialmente iguais nos parâmetros acústicos e morfométricos, e não há evidências de que o nome Dendropsophus jimi não possa ser aplicado à população de Uberlândia. A espécie ocorre em formações de Cerrado nos estados de Minas Gerais (Serra da Canastra), São Paulo e Mato Grosso do Sul (Napoli e Caramaschi, 1999b). Também foi identificada para o município de Aporé, Goiás (Vaz-Silva et. al., 2007), até então o registro mais a noroeste da localidade tipo, a 351 km. Dendropsophus cf. melanargyreus O canto é formado por uma nota repetidas 44 vezes por minuto, cada nota têm 37 (35– 38) pulsos e duração variando entre 0,45–0,50 segundos, cada pulso tendo duração média de 0,0126 (0,0121–0,0137) segundos. A nota apresenta estrutura harmônica e as freqüências fundamental e dominante não se sobrepõem. A banda de freqüência dominante varia entre 2882–3510 Hz e a banda da freqüência fundamental entre 1462–1925 Hz. Duas espécies de Dendropsophus do grupo de Dendropsophus marmoratus são reconhecidas para o Cerrado, Dendropsophus melanargyreus e Dendropsophus soaresi. Dendropsophus melanargyreus, com localidade tipo a Chapada dos Guimarães, Mato Grosso (Frost, 2007), teve o canto caracterizado por Márques, Riva & Bosch (1993) utilizando gravações de indivíduos de Puerto Almacén, Bolívia (947 Km a Oeste da localidade tipo). Os dados apresentados para essa população boliviana são essencialmente semelhantes aos obtidos aqui. Dendropsophus soaresi (Caramaschi e Jim) com localidade tipo Picos, Piauí (1850 km de Chapada dos Guimarães, MT) inserido no bioma da Caatinga, apresenta registros para a região de Cerrado em Minas Gerais (Silveira, 2006) e Goiás (Guimarães, Juliano & Bastos, 2001). Não existe trabalho descrevendo o canto da espécie da localidade tipo, mas Guimarães, Juliano & Bastos (2001) descreveram o canto de indivíduos gravados em Mambaí, Goiás (960 Km a sudoeste de Picos, Piauí) e suas medições coincidem com nossos resultados. Guimarães, Juliano & Bastos (2003) descrevem o canto dos indivíduos analisados como tendo estrutura não harmônica, porém, estas são aparentes no sonograma (Fig. 08, pg. 07) que apresentam. Assim, a freqüência fundamental é incluída por eles, dentro da banda da freqüência dominante, o que explica a maior amplitude de freqüência dominante encontrada. Como os resultados acústicos apresentados nesse trabalho são semelhantes aos descritos para a espécie Dendropsophus melanargyreus por Marques, Riva & Bosh (1993) e por Guimarães, Juliano & Bastos (2001), para Dendropsophus soaresi, considerando-se a identidade de Biomas é mais provável que a espécie do Cerrado, incluindo a de Uberlândia, seja Dendropsophus melanergyrius. Concluímos que pode haver um erro de identificação para algumas populações do Cerrado. Existe a possibilidade de que os indivíduos gravados por Guimarães, Juliano & Bastos (2003) também sejam Dendropsophus melanargyreus, e que Dendropsophus soaresi esteja restrita à região da Caatinga. Em termos morfométricos notamos que os machos adultos analisados por nós não se encaixam na descrição da espécie Dendropsophus soaresi (Caramaschi & Jim, 1983),

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principalmente no que se refere aos parâmetros comprimento total, largura da cabeça, comprimento da tíbia e do fêmur. Analisando os parâmetros morfométricos e acústicos acreditamos que o indivíduo gravado em Caldas Novas se refere a Dendropsophus melanargyreus. Assim as três populações do Cerrado seriam Dendropsophus melanargyreus, nossos dados estão ampliando a distribuição geográfica da espécie em 830 km a sudeste da localidade tipo. Porém, para que se possa atribuir com segurança o nome Dendropsophus melanargyreus é necessário esperar que seja disponibilizada a caracterização acústica da população de Dendropsophus soaresi da localidade tipo.

Figura 1 – Registros de populações de D. melanargyreus e D. soaresi para a América do Sul. Dendropsophus soaresi: 1-Mambaí, GO (Guimarães, Juliano & Bastos, 2001); 2-João Pinheiro, MG (Silveira, 2006); 6-Aporé, GO (Vaz-Silva et. al., 2007); 7-Morrinhos, GO (Borges e Juliano, 2007); 8- Cariri Paraibano, PA (Vieira, Arzabe e Santana, 2007); Dendropsophus melanargyreus: 3*: Tocantins e Maranhão (Brasileiro et al, 2008); 4- Palmas, TO (Pavan e Dixo, 1999); 5-Guiana Francesa (Gottsberger e Gruber, 2004); 9-Puerto Almacén, Bolívia (Marques, Riva & Bosh, 1993). * representa os quatro pontos ligados.

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4. CONCLUSÕES Através de comparação com a literatura e análises acústicas concluímos que a espécie de que chamamos Dendropsophus cf. jimi de Uberlândia (Minas Gerais) corresponde de fato a Dendropsophus Jimi de Botucatu (SP). Nossos resultados sobre acústica coincidem com os descritos para Dendropsophus melanargyrius da Bolívia enquanto os resultados para os parâmetros morfométricos não concordam com a descrição de Dendropsophus soaresi por Caramaschi e Jim (1983), o que nos indica que provavelmente a espécie presente em Caldas Novas é Dendropsophus melanargyreus. Porém, será necessário se esperar pela disponibilização do canto de Dendropsophus soaresi de localidades do nordeste do Brasil para que se possa atribuir um nome de maneira segura para a população de Caldas Novas. 5. Agradecimentos: Apoio financeiro FAPEMIG e CNPq. Bolsas pela FAPEMIG (BFdaVT) e CNPq (AAG). 6. Referências segundo normas da ABNT BORGES, F. J. A.; JULIANO, R. F. . Distribuição espacial e temporal de uma comunidade de anuros do município de Morrinhos, Goiás, Brasil (Amphibia: Anura).Neotropical Biology And Conservation, São Leopoldo, RS, v. 2, n. 1, p. 21-27, 2007. BRASILEIRO, C. A.; LUCAS, E. M.; OYAMAGUCHI, H. M.; THOMÉ, M. T. C.; DIXO, M. Anurans, Northern Tocantins river basin, states of Tocantins e Maranhão, Brasil. Check List, v.4, p. 185-197, 2008. CARAMASCHI, U.; JIM, J. Uma nova espécie de Hyla do grupo marmorata do nordeste brasileiro (Amphibia, Anura, Hylidae). Revista Brasileira de Zoologia. Rio de Janeiro, v. 43, n.2, p 195-198, 1983. CARDOSO, A. J.; VIELLIARD, J. M. E. Caracterização bio-acústica da população topotípica de Hyla rubicundula (Amphibia, Anura). Revista Brasileira de Zoologia. São Paulo, v. 2, n. 7, p. 423-426, 1985. DUELLMAN, W.; L. TRUEB. Biology of Amphibians. McGraw-Hill, New York, 1986. 670p. DUELLMAN, W. & J. E. KOECHLIN. The reserva Cuzco amazonico, Peru: Biological investigations, conservation, and ecoturism. Occasional Papers of the Museum of Natural History of the University of Kansas. v. 142, p. 1-38, 1991. FROST, D. R. Amphibian Species of the World: an Online Reference. Versão 5.0. New York: American Museum of Natural History. Disponível em: <http://research.amnh.org/herpetology/amphibia/index.php>. Acesso em: 1 fev. 2007. GIARETTA, A. A. ; KOKUBUM, M. N. C. . Reproductive ecology of Leptodactylus furnarius Sazima & Bokermann, 1978 a frog that lay eggs in underground chambers (Anura, Leptodactrylidae). Herpetoza (Wien), Austria, v. 16, n. 3/4, p. 115-126, 2004. GIARETTA, A. A.; COSTA, H. C. M. A redescription of Leptodactylus jolyi Sazima and Bokermann (Anura, Leptodactylidae) and the recognition of a new closely related species. Zootaxa. Auckland, v. 1608, p. 1-10, 2007. GIARETTA, A. A.; OLIVEIRA FILHO, J. C. de.; KOKUBUM, M. N. de C. A new Philomedusa Wagler (Anura, Hylidae) with reticulated pattern on flanks from Southeastern Brasil. Zootaxa. Auckland, v. 1614, p. 31-41, 2007. GOTTSBERGER, B.; GRUBER, E. Temporal partitioning of reproductive activity in a neotropical anuran community. Jounal of Tropical Ecology. United Kingdom, v. 20, p.271280, 2004.

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