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cidades.df@dabr.com.br Brasília, sábado, 2 de julho de 2016 • CORREIO BRAZILIENSE • 19
SAÚDE / As doenças crônicas não transmissíveis são a principal causa de óbitos no DF. A população entre 30 e 69 anos é cada vez mais acometida por males como câncer, diabetes, problemas cardiovasculares e respiratórios. As crianças também têm adoecido mais
Maus hábitos levam a morte precoce Helio Montferre/Esp. CB/D.A Press
Caxumba avança 15,5%
» OTÁVIO AUGUSTO roblemas cardiovasculares, câncer, males respiratórios e diabetes foram as doenças que mais mataram na última década na capital federal. Levantamento da Secretaria de Saúde mostra que 55,1% dos brasilienses morreram em 2014 vítimas de doenças crônicas não transmissíveis. A faixa etária entre 30 e 69 anos é a que mais morre por essas enfermidades — o que é considerado um quadro de mortalidade prematura. O dado não é apenas uma estatística. É um alerta. Autoridades em saúde e especialistas são taxativos ao dizer que a qualidade de vida na infância influencia diretamente o bem-estar dos adultos. A notícia não é boa: a expectativa é que nos próximos 20 anos se tenha uma população que adoece cada vez mais cedo por causa dos hábitos de hoje. A gravidade e o impacto das doenças crônicas estão diretamente ligados a fatores de risco que são considerados modificáveis e pautados pela urbanização e pelo estilo de vida adotado pela população, como alimentação inadequada, falta de atividade física, tabagismo e uso abusivo de álcool. O cenário é pessimista. No DF, 50,3% da população está acima do peso — sendo 15,8% obesa; 9,7% fumantes; 70,7% não consumem frutas e verduras suficientes para uma alimentação equilibrada; e 21% bebem álcool de maneira abusiva, segundo dados da Secretaria de Saúde. Desde 2008, a parcela entre 30 e 39 anos vem em escala ascendente por mortes de doenças crônicas. Em 2014, 6.627 pessoas morreram. Dessas, 46% pertenciam a essa parcela da população.“Estamos vivendo uma transição epidemiológica. Há 30 anos, as pessoas morriam por doenças infecciosas causadas por vírus e bactérias. Hoje, estamos morrendo por padrões errôneos de vida. A má alimentação, o sedentarismo, o fumo e o alcoolismo são fatores que trazem doenças a longo prazo”, explica Sarah Tinoco, responsável pela Área Técnica de Doenças Não Transmissíveis (DCNT) da Secretaria de Saúde. Evitar o excesso de peso, controlar a pressão arterial e a glicemia — sobretudo na infância — são essenciais para atenuar essa curva. “Somente em 2014, contabilizamos 214 mortes de pessoas entre 30 e 39 anos por agravantes como hipertensão, diabetes e obesidade. Fica o alerta para a mudança do padrão de vida das crianças que estão apresentado doenças crônicas cada vez mais cedo. As pessoas que morreram entre 30 e 39 ficaram doentes com 15 ou 20 anos”, analisa Sarah.
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Os irmão Alex e Camila têm diabetes: os pais, Alex e Lucineide, criaram um grupo de apoio a famílias na mesma situação
ALERTA
EM 2014,
55,1% dos brasilienses morreram vítimas de doenças crônicas não transmissíveis.
A PARCELA ENTRE
30 e 39 anos vem em escala ascendente por mortes de doenças crônicas. Problemas cardiovasculares, cânceres, males respiratórios e diabetes foram as doenças que mais mataram em 10 anos no DF.
ABTO/Divulgação
Estamos pagando um preço de uma geração que não se preocupou com alimentação, atividade física e estresse" José Lima Oliveira, médico especialista em doenças cardiovasculares
cedo. “Estamos pagando um preço de uma geração que não se preocupou com alimentação, atividade física e estresse. Se não começarmos a alterar esse padrão e melhorar a qualidade de vida, vamos ter uma geração de pais enterrando os filhos”, pontua José Lima.
Omédicocriticaafaltadeações para promover a qualidade de vida. “O que temos são ações pontuais, que não ajudam na criação do hábito precocemente. O essencial é doutrinar nossas crianças a manterem práticas de alimentação e atividade física equilibradas”, reclama José Lima Oliveira.
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Exposição precoce José Lima Oliveira Júnior, especialista em doenças cardiovasculares, salienta que, com o aumento progressivo da expectativa de vida da população, é esperado que as pessoas vivam mais e com melhor qualidade de vida. Entretanto, na última década, segundo o médico, fatores fora da curva epidemiológica, como derrame, infarto com sequelas e doenças renais estão acometendo as pessoas mais
PARA SABER MAIS
Luta contra a obesidade infantil Uma criança gorda em idade pré-escolar tem 30% de chances de virar um adulto obeso. O risco sobe para 50% caso ela entre na adolescência com quilos a mais. Segundo a Associação Brasileira de Pediatria, a obesidade infantil já atinge 15% das meninas e meninos brasileiros — índice preocupante, uma vez que já se aproxima do encontrado nos Estados Unidos, que é de 20%. Para reverter esse quadro, 24 grandes empresas no Brasil firmaram um compromisso de limitar a publicidade de alimentos e bebidas para menores de 12 anos nos meios de comunicação e nas escolas. O documento prevê apenas uma exceção para produtos que atendam a critérios nutricionais específicos e que recomendem o estímulo responsável do produto. Esse mesmo tipo de compromisso já foi adotado por empresas do setor alimentício em países da Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália.
Atenção na infância Problemas emocionais, como a separação dos pais, embates familiares e questões escolares, são apontados como os dilemas mais enfrentados por crianças. Há um ano, o programador Alex Alves Neves, 40 anos, coordena com a esposa, Lucineide Sousa, 38, um grupo de pais de crianças com diabetes e outras doenças, como hipertensão. Ele conta que 80% dos casos têm ligação a distúrbios psicológicos. “Percebo que, na maioria das vezes, são dificuldades do cotidiano. Em contrapartida, os pais estão mais atentos às mudanças dos filhos. Cada vez mais é detectada a doença mais cedo”, explica Alex, morador de Samambaia. “Ainda temos uma carência muito grande de assistência e educação para a saúde”, critica. Alex é
pai de Camila, 7, e Alex Bastos, 10, que têm diagnóstico de diabetes há 1 ano e 3 meses. José Lima Oliveira Júnior critica a saúde preventiva realizada no Brasil. “Imagina-se uma política voltada somente a adultos. Esse é o nosso erro. Um faixa etária muito vulnerável fica de fora do radar; por isso, se tornam adultos doentes”, detalha o médico. A auxiliar administrativa Clarice Azevedo, 33, tem dois filhos com diabetes. Depois do diagnóstico de Victor Hugo, 8, e Lariane, 16, a rotina na casa da família mudou. “Eles tomavam refrigerante, sucos industrializados e biscoitos recheados, mas nada fora do comum. Agora, tudo é mais natural e saudável”, conta a mulher, que chegou a abandonar o emprego para cuidar dos filhos.
Nos seis primeiros meses do ano, a capital federal registrou 737 casos de caxumba. Ao todo, ocorreram 20 surtos da doença em Brasília: 13 em escolas, três em residências, dois em complexos penitenciários e dois em locais não divulgados. Somente em junho, houve 12 situações. A ocorrência da doença é maior em homens — 467 foram acometidos pelo mal. Isso representa 63,4% do total. As faixas etárias de 20 a 49 anos, com 58,8% dos casos, e de 15 a 19 anos, com 30,9%, permanecem com as maiores proporções de incidência. Apenas na última semana, o salto da infecção alcançou 15,5%. Até sexta-feira passada, eram 638 contaminados. Todas as 31 regiões administrativas registraram casos da doença. A incidência acumulada do mal, ou seja, a quantidade de doentes a cada grupo de 100 mil habitantes, é de 25,3% no DF. Ceilândia (133), Taguatinga (111), Guará (67) e Samambaia (66) são as líderes de ocorrência, segundo o Boletim Epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde. Asa Sul, Ceilândia, Lago Sul, Samambaia e São Sebastião são as cidades que mais identificaram surtos.
Prevenção Como medida de combate, a Vigilância Epidemiológica monitora os casos suspeitos. Para frear a doença, a Secretaria de Saúde divulgou 11 medidas de controle. “Quando há surto, a secretaria alerta para a necessidade de isolamento social dos pacientes. Como a contaminação ocorre por meio de gotículas de salivas, devem-se evitar ambientes aglomerados e fechados e compartilhar copos e talheres”, destacou a pasta, em nota. De julho a dezembro do ano passado, foram 130 casos. A caxumba, doença caracterizada principalmente pelo inchaço das glândulas que produzem saliva, pode ser contraída mais de uma vez, mesmo quando ocorre a vacinação ou a primeira contaminação. Entretanto, esses casos são bastante raros. No Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina a tríplice viral — que protege contra caxumba, sarampo e rubéola — está disponível gratuitamente para pessoas de até 49 anos. Para crianças e adolescentes de até 19 anos, estão disponíveis as duas doses. Para pessoas entre 20 e 49 anos, o sistema público de saúde oferece apenas uma dose. Não existe um tratamento específico para a doença.