Doze crises femininas

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Jeff Beck faz protesto contra a “idiotização” >11 VITÓRIA, ES, DOMINGO, 24 DE JULHO DE 2016 LEONE IGLESIAS/AT

COMPORTAMENTO

Doze crises femininas

De olho na autoestima A babá Karina de Sousa Barbosa, de 21 anos, diz que tenta se controlar para não cair no exagero, mas confessa que a insatisfação com a própria aparência é recorrente. “Sempre que posso tento fazer alguma mudança no meu visual para me sentir melhor. Quando não me sinto bonita, minha autoestima fica péssima, não tenho vontade de sair”, diz Karina, que faz questão de investir em roupas que a façam se sentir bem e de cuidar do cabelo e das unhas. Pa ra a jovem, existe uma cobrança excessiva para que as mulheres pareçam sempre lindas e perfeitas.

Mulheres e especialistas entrevistadas pelo AT2 falam sobre angústias mais comuns e como enfrentá-las Roberta Peixoto ual mulher nunca teve uma crise que seja? É o relacionamento que termina, a dúvida sobre a carreira ou a insatisfação com a aparência. Ao longo da vida, é comum que elas enfrentem muitos dilemas. Boa parte dessas questões é abordada em “Tá Todo Mundo Mal” (Companhia das Letras), da youtuber Julia Tolezano, a Jout Jout, onde ela reúne seus maiores conflitos. E não é só ela. Mulheres comuns e especialistas em comportamento entrevistadas pelo AT2 engrossam o coro de que as angústias existem. Mais: estão aí para serem encaradas. A psicanalista Cristiane M. Maluf Martin ressalta que as crises têm ligação direta com o mundo materialista e consumista e que se a mulher não se encaixar nos moldes ditados, a tendência é que se frustre. “É difícil manter a estabilidade do humor no contexto de vida atual, com tragédias, vida política, estresse, problemas existenciais, de relacionamento e profissional”, pontua.

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OS DILEMAS DELAS 1 Desconfortos da adolescência Na adolescência, o cabelo lindo e hidratado dá lugar a madeixas estranhas, a pele de pêssego se enche de espinhas, os pelos aparecem, e a menina, muitas vezes, se sente a pessoa mais feia do universo. Com a autoestima prejudicada, parece que os rapazes se interessam por todas as suas amigas menos por ela. Depois, os anos passam, e vem a certeza de que sofrer por isso é uma grande bobagem. Afinal de contas, não é pela aparência que uma se torna interessante e sim pelo seu jeito de ser.

Solteirice x maternidade A comerciante Jocasta Mendes, 28, casou duas vezes. O primeiro casamento, aos 20 anos, durou três meses; o segundo, 60 dias. “Na primeira vez eu sofri muito. Tinha o sonho de construir uma família. Emagreci bastante na época. Fiquei com trauma e só depois de seis anos resolvi me envolver novamente com alguém. Fomos morar juntos e a relação também durou pouco”, conta. “Vai fazer três anos que estou solteira. Não me vejo mais casada, só namorando, e cada um na sua casa. Estar solteira não me incomoda, mas a vontade de ser mãe. Apesar de saber que não preciso estar casada para realizar esse sonho”, completa.

2 “Meu pai não é perfeito” Uma descoberta em especial que pode doer: a de que o pai, aquele exemplo de pessoa, o sabe-tudo e verdadeiro herói, não é exatamente o que a menina imaginava. Com a maturidade, percebe-se que ele é um ser humano passível de erros e que também tem defeitos.

3 De mal com o espelho Essa parece ser a crise mais duradoura, incomodando mulheres de qualquer faixa etária. Tem as que estão sempre insatisfeitas com o peso, com o cabelo, com aquela ruguinha ou com celulite que insiste em aparecer. Heloísa Capelas, especialista em desenvolvimento humano e escritora, afirma que, de um modo geral, as mulheres vivem presas à moda e à aparência. Elas aprendem que precisam agradar ao homem e disputá-lo com as outras mulheres. E nessa disputa, só as bonitas é que

atrairão o melhor. “Claro que essas verdades não nos servem mais, no entanto, foi o que aprendemos, via de regra, e esse aprendizado é inconsciente. Precisamos de muito autoconhecimento para mudarmos essas crenças. A mulher do Século 21 pode escolher seu jeito de ser e viver”, diz.

4 Desilusão amorosa Qual mulher nunca sofreu por amor, seja por conta de uma paixão não correspondida ou um término traumático? A dor é tanta a ponto de ela achar que nunca mais se recuperará. A psicanalista Cristiane M. Maluf Martin

afirma que a palavra mais adequada para encarar esse momento é: reconstrução. Segundo ela, é importante usar esse turbilhão emocional para colher informações a seu próprio respeito. “Ela pode aprender muito sobre si mesma, crescer e sair renovada”, garante.

5 Morar sozinha ou não? Sair da casa dos pais pode deixar uma mulher à beira de um ataque de nervos. Ela pensa: devo deixar o conforto da casa dos meus pais? Estou pronta para morar sozinha? É justo continuar usufruindo da estrutura dos meus pais?

6 Nasci para ser mãe? Ser ou não ser mãe? Se não tiver filhos e seguir a profissão pode ser que fique sem amigas e/ou sem assunto ou importância na família. Se tiver, pode ser que tenha que abrir mão de sua carreira. E agora? De acordo com a especialista em desenvolvimento humano e escritora Heloísa Capelas, essa é uma incerteza que, com inteligência emocional, poderá ser dirimida ou, pelo menos, suavizada.


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ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 24 DE JULHO DE 2016

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Estacionar no papel de vítima atrapalha Quem consegue ignorar o desânimo, arregaçar as mangas e encarar o problema pode encontrar resultados satisfatórios mediadora de conflitos e coach Suely Buriasco afirma que a grande diferença entre quem cresce com um problema ou se torna vítima dele é a escolha. “Eu gosto da palavra decisão, pois é isso que determina os efeitos da crise na vida de cada um. Algumas mulheres se fortalecem e criam formas satisfatórias de enfrentar as suas dificuldades, enquanto outras se deixam levar pelo

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desânimo”, ressalta a autora do livro “Mediando Conflitos no Relacionamento a Dois”. Suely destaca também que toda escolha gera perdas e, portanto, é natural que muita coisa fique para trás no caminho da superação. Mas tudo com um objetivo maior. “A crise nos tira da zona de conforto e nos impulsiona a olhar novos horizontes e encontrar possibilidades inéditas. É uma alavanca de crescimento pessoal”, garante. A psicanalista Cristiane M. Maluf Martin afirma que as crises podem ser piores em qualquer momento da vida, desde que a pessoa as valorize. Mas, aos 40 anos, tende a acontecer algo especial na vida da mulher. “Ela lida com uma série de questionamentos, como a mudança do tipo de beleza e a infertilidade se aproximando. Para muitas, é a última chance de reinventar a carreira e dar uma guinada nos relacionamentos”. Já por volta dos 45 anos, segundo a psicanalista, ocorrem transformações e transições na vida da maioria das pessoas. No caso das mulheres, outros aspectos são soDIVULGAÇÃO

SUELY diz que a crise pode tirar a mulher da zona de conforto

Em busca da independência mados a mudanças hormonais e corporais, incluindo transformações da estrutura familiar, com a saída dos filhos de casa, na chamada “Síndrome do Ninho Vazio”, e o desejo de se sentirem produtivas e ativas. “A consequência desse momento, quando não existe uma atitude consciente diante da crise, é o surgimento de uma infinidade de transtornos e queixas físicas, psíquicas e afetivas”, afirma. E como ficam os homens na balança das angústias? “Alguns nem consideram crise alguns dilemas. A mulher tem a tendência de se deixar levar mais facilmente pelas emoções. Eles costumam demonstrar suas dificuldades de forma mais prática. Mas isso não significa que não sofram também. Conhecer algumas diferenças gerais na forma como homens e mulheres lidam com seus problemas é enriquecedor para o relacionamento”, diz.

OS DILEMAS DELAS 7 “E minha carreira?” Muitas se pegam fazendo perguntas como: “o que vou fazer da minha vida? Quais são minhas habilidades?” De acordo com a psicanalista Cristiane M. Maluf Martin, geralmente, essa crise está relacionada ao começo da vida adulta. “É uma fase que carrega enormes desafios, como fazer escolhas a longo prazo, lidar com a falta de autonomia financeira e o medo de assumir decisões definitivas, como um casamento, por exemplo”.

8 Mulher-maravilha Sabe aquela sensação de esgotamento ao ter que dar conta de mil e uma atividades? É o que acontece com muitas mulheres. “A ideia da mãe trabalhadora que conquista espaços e sucesso ainda conflita com a ideia antiga da mãe que atende a tudo e a todos. Como estamos em processo de mudança ainda vivemos os dois extremos. Isso causa uma cobrança e uma exigência interna

para que a mulher tente ser a 'mulhermaravilha'”, explica a especialista em desenvolvimento humano e escritora Heloísa Capelas.

9 Temida meia-idade Perto dos 40 anos, a mulher pode entrar em uma verdadeira crise existencial, colocando na balança tudo o que conquistou ou deixou de conquistar até então. A mediadora de conflitos e coach Suely Buriasco afirma que esse é um período que pode ter caráter muito positivo, transformando-se na busca de significados para a própria vida. “O enfrentamento exige foco no futuro e não no arrependimento. Dessa forma, a constatação do que poderia ser diferente deve ser um incentivo para as mudanças necessárias”.

10 Sexo da vida real Quando está em um relacionamento amoroso, a vida sexual pode se tornar um problema e dúvidas preencherem

os pensamentos da mulher como: “Tenho obrigação de fazer sexo quantas vezes por semana?”; “Preciso ter prazer com o parceiro para o sexo ser perfeito?”; e “Há algo de errado comigo se não sinto vontade de transar?”. Uma conversa franca com o parceiro pode ajudar. Assim, o casal descobre o que é melhor para ambos.

Assim que terminou o Ensino Médio, a gari Tatiana Garcia Gomes, de 21 anos, foi pega por inquietações como: “Será que vou conseguir um emprego? O que vai acontecer comigo?”. “Muita gente que tem o suporte dos pais acaba adiando a independência. Eu sempre quis ser independente, ter o meu dinheiro”, diz a jovem. Na busca por um trabalho, distribuiu currículos, mas teve dificuldade de encontrar portas abertas. Até que não titubeou ao se inscrever

para ser gari em uma prefeitura municipal, mesma função da mãe, que há 10 anos trabalha varrendo rua. “Muita gente olha pra mim e acha que sou nova para fazer o que faço. Mas eu considero um serviço digno”, opina. No entanto, deixa claro que não quer estacionar por aí. “Vou fazer curso técnico em Enfermagem. Quero crescer, evoluir, ter uma atividade bem remunerada, uma família, minha casa, meu carro e conquistar uma boa estrutura”, ressalta .

Tentar agradar passado e presente causa frustração O choque entre a mulher moderna e aquela que cuida da casa e da família, muitas vezes, deixa o sexo feminino à beira de um colapso. “Essa expectativa de agradar ao passado e ao presente traz estresse, frustração e doenças como a depressão. E, como consequência, uma vida desassossegada e infeliz”, afirma Heloísa Capelas, especialista em desenvolvimento humano e autora do livro “O Mapa da Felicidade”. Ela diz ainda que as crises estão presentes na vida das pessoas desde os 3 anos de idade, uma vez que aprender e desenvolver novas habilidades gera angústia. “O ser humano tem medo de mudar o 'status quo' e sempre que

aprendemos algo, mudamos. Os acontecimentos naturais da vida, como morte, nascimento, separação, casamento, desemprego ou emprego, aniversário, amadurecimento ou velhice, serão sempre vividos com crises que podem paralisar ou promover a mulher”, observa a especialista. De acordo com Heloísa, como as crises vêm das mudanças, elas deveriam ter sempre um resultado positivo. “No entanto, viver o momento crítico exige resiliência e abertura ao novo e nem todas nós possuímos esses talentos desenvolvidos. Há muito trabalho emocional a ser feito para que as crises virem oportunidades de crescimento”, ressalta. DIVULGAÇÃO

11 Solteira pra sempre? O tempo vai passando e a mulher continua solteira. Segundo a mediadora de conflitos e coach Suely Buriasco, ela deve rever os próprios conceitos e focar na realização pessoal. “É natural querer encontrar alguém, mas isso não pode ser um condicionamento para a felicidade, ou o efeito será o contrário”.

12 Desconfiança Por ter sido enganada por uma amiga ou traída, a mulher deixa de confiar nas pessoas. A saída? Controlar as emoções e evitar generalizações.

Fonte: Livro “Tá Todo Mundo Mal”, de Jout Jout (Companhia das Letras), e especialistas consultados.

HELOÍSA: “Viver o momento crítico exige resiliência e abertura ao novo”


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