XXXIX ENCONTRO NACIONAL DOS ESTUDANTES DE ARQUITETURA E URBANISMO texto: COMORG ENEA RIO 2015 ilustrações: ciro najar
a cidade esconde o processo
COMO FUNCIONA A SOCIEDADE no primeiro seminário de formação do ENEA Rio, fizemos o curso Como Funciona a Sociedade I do Coletivo 13 de Maio. O curso tem duração de dois dias e fizemos nos sábados 16 e 23 de agosto. Neste curso, tivemos uma maior compreensão da conjuntura social nos dias atuais, da luta de classes e da dimensão da exploração do/da trabalhor/ra. Entendemos melhor como se dá o processo de produção da nossa vida material e como isso se relaciona com a produção do espaço urbano. O produto esconde o processo e a cidade também. A partir daí, traçamos uma primeira linha de pensamento e ação para a construção do ENEA: não esconder o processo, realizar seminários abertos, que dialogue com a nossa proposta de encontro: aberto à cidade, na cidade, com ela e para ela. Os seminários de formação tiveram por objetivo trazer reflexões aos estudantes organizados em torno da construção do XXXIX ENEA RIO 2015, a fim de colaborar para a qualificação do conjunto dos estudantes de arquitetura e urbanismo, assim como a definição de uma linha política para a gestão 2014/2015 da FENEA.
ILUSTRAÇÃO: O DESENHO FAZ um paralelo com a “roda da vida” do budismo tibetano, na qual a vida se apresenta em seis reinos: reino dos infernos, reino dos fantasmas famintos, reino dos animais, reino dos humanos, reino dos semi-deuses e o reino dos deuses. no centro, os três animais: a cobra, o galo e o javali, que representam os três venenos da mente: o apego, o ódio e a ignorância.
CAMPO E CIDADE Nesse seminário nos aprofundamos a respeito da dicotomia entre o meio rural e o meio urbano no Brasil. Convidamos o geógrafo e professor Paulo Alentejano para dar uma palestra sobre o tema. Discutimos questões como a concentração fundiária e de renda, o agravamento da violência, das condições de exploração do trabalho e da devastação ambiental no campo, a ampliação do modelo econômico baseado no agronegócio e a consequente expulsão dos trabalhadores do campo para as cidades, além da insegurança alimentar gerada pelo aumento da produção dos commodities agrícolas. Constatamos que o modelo de grande cidade, contraditoriamente, invisibiliza o campo, nega-o a todo momento, mesmo necessitando dele. Precisamos portanto tornar mais visíveis os conflitos e as lutas rurais e evidenciar suas relações com a cidade.
ILUSTRAÇÃO: O DESENHO traz um recorte do Álbum “wish you were here” do pink floyd, fazendo uma releitura do acordo entre o campo e a cidade. cabe à reflexão todo o processo que envolve a exploração do meio ambiente e dos animais interferindo na vida da terra.
LUTAS URBANAS Estamos vivendo hoje um momento de reorganização das lutas sociais. O fim do ciclo anterior anuncia não só o seu próprio fracasso, mas também aponta para a construção do novo. As mobilizações populares ocorridas em junho do ano passado e que se estenderam até recentemente durante a Copa do Mundo são um sinal muito claro disso. Novas formas de organização menos burocratizadas e pautadas pela organização e ação diretas dos trabalhadores e estudantes podem conduzir os movimentos sociais a uma retomada do seu papel de construir caminhos para a superação das condições de dominação vigentes. As greves dos professores de vários setores da educação pública, a dos garis do Rio de Janeiro, as dos rodoviários e metroviários em várias cidades são os melhores exemplos disso. Os trabalhadores não se deixam mais serem manipulados por sindicatos comprometidos com os interesses dos empresários e nós, estudantes, também não esperaremos mais que as mudanças se deem apenas pela via da representação. É necessários participarmos de forma direta das lutas sociais concretas. O movimento estudantil de arquitetura e urbanismo vive esse mesmo momento de inflexão. Para avançarmos nessa nova construção acreditamos ser necessário estabelecer uma aliança entre trabalhadores e estudantes, aproximando a FENEA dos movimentos sociais organizados, como os movimentos de luta por moradia, pelo passe livre e/ou tarifa zero, além de outros sindicatos e organizações de classe dos trabalhadores, especialmente aqueles atuantes na luta em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade. Também é importante superarmos a tendência ao isolamento que temos no movimento estudantil de área, nos esforçando para construir junto às outras executivas de curso uma organização estudantil ampliada através do FENEX, por exemplo. Entendemos que a construção da FENEA ao longo do próximo ano, bem como a do o Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo de 2015, deve ser feita no sentido de organizar essa reestruturação, firmando as parcerias com os setores que realmente podem contribuir para isso e formando politicamente os estudantes para compreender a sua realidade a serem capazes de intervir diretamente nela. ILUSTRAÇÃO: METADE DA IMAGEM NOS RECORDA DAS JORNADAS DE JUNHO, PERÍODO DE GRANDE MOVIMENTO POPULAR (QUANDO O ‘GIGANTE ACORDOU’). A OUTRA METADE NOS LEMBRA DOS MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA DIANTE DAS REMOÇÕES, A QUESTÃO DA HABITAÇÃO E DA ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA.
COMBATE ÀS OPRESSÕES A vida em sociedade é uma lista de regras e padrões. Como agir, se relacionar, se vestir, ser. Quando um casal está prestes a ter um filho ou filha, a cor do quarto novo já está implicita: menino é azul e menina é rosa. Vamos crescendo e os presentes também já estão definidos: meninos gostam de carrinhos e futebol e meninas gostam de bonecas e brincar em casa. Os homens são, naturalmente, os mais fortes, mais ágeis e mais durões. As mulheres, mais frágeis, sentimentais e bobas. Os homens devem trabalhar para sustentar a família. As mulheres, cuidar da casa e do dia a dia. Uma família é constituída por pai, mãe, filhos e filhas. Nos olhamos no espelho e o ideal nunca está lá. Corpo magro, cabelo liso, loiro e longo, olhos claros e pele mais ainda: aí sim, chegaremos à perfeição. Todos esses e outros padrões não se tornaram padrões por acaso. Eles são frutos da naturalização da exclusão e opressão a parte dos indivíduos da nossa sociedade e foram construídos historicamente. Todos esses e outros padrões não se tornaram padrões por acaso. Eles são frutos da naturalização da exclusão e opressão a parte dos indivíduos da nossa sociedade e foram construídos historicamente. A organização é, portanto, ainda essencial para lutar contra todo o tipo de opressão na nossa sociedade. Os movimentos sociais feministas, LGBT e de negros e negras cumprem o papel da resistência. Afinal, mesmo mulheres podendo votar e trabalhar, negros e negras sendo livres, pessoas LGBT tendo um mínimo de liberdade para serem quem são, ainda vivemos opressões cotidianas e naturalizadas na nossa sociedade que precisam ser diariamente combatidas. Se unir a essa luta, deve ser, portanto, papel definitivo de qualquer organização social que defenda a liberdade e o respeito. Aproveitar os nossos espaços da FeNEA para debater, refletir e combater todo e qualquer tipo de opressão, estar ao lado dos movimentos sociais e trazê-los para a nossa construção é o mínimo que esse grupo de estudantes organizado politicamente pode e deve fazer para que essa luta vá além de um Encontro e da nossa Federação e se reflita no nosso dia a dia. Porque a luta é todo dia: contra o machismo, o racismo, a homofobia e a transfobia. ILUSTRAÇÃO: TEMA DIFÍCIL DE RESUMIR NUMA IMAGEM DIANTE DA SENSIBILIDADE QUE O MESMO CARREGA. AS FIGURAS ILUSTRADAS SÃO ALGUNS RECORTES DESSA PAUTA.
VIOLÊNCIA E CRIMINALIZAÇÃO A divisão da sociedade em classes fica evidente também no espaço urbano. O crescimento acelerado das cidades no último século agravou as desigualdades, imprimindo-as na organização dos espaços: os pobres são empurrados cada vez para áreas mais periféricas e distantes, ou são confinados em guetos de concentração da pobreza. Esses espaços da pobreza são também os espaços da violência, seja aquela produzida pela própria segregação sócio espacial que expropria direitos básicos dos cidadãos, seja aquela do extermínio da população pobre e, em sua maioria, negra. Via de regra o Estado age nesses espaços de forma violenta, pela ausência de quaisquer políticas públicas, infraestrutura básica e condições de vida dignas, “abandonando” essas áreas e abrindo caminho para as organizações de poder paralelo como o tráfico ou a milícia, que subjugam os moradores ao seu controle. No entanto, quando intervém é sempre através do poder policial armado e das políticas de ocupação militar, como é o caso das UPPs e das favelas ocupadas pelo exército. O combate ao tráfico de drogas surge como justificativa das ações repressivas da polícia nos espaços da pobreza. Sob o pretexto de diminuir a criminalidade, a polícia age indiscriminadamente matando jovens e trabalhadores pobres todos os dias. A política de guerra às drogas é, na verdade, a máscara da guerra aos pobres. Além de esconder os verdadeiros motivos da ação violenta, a guerra às drogas também anula a possibilidade de um debate ampliado em torno do tema na sociedade, transformando o assunto em tabu ao invés de se trabalhar com uma política de informação. Desde o início, o tema é tratado como caso de polícia e cada vez menos se sabe sobre os efeitos reais dos diferentes tipos de drogas, tanto os negativos como os benéficos. A única política existente é a de criminalização dos usuários e da população pobre e negra que, muitas vezes, tem que dividir com o tráfico o pouco espaço que lhe sobra na cidade. Discutir esse tema é o primeiro passo para conseguirmos dissolver o tabu em que ele se transformou. Além disso, ele está diretamente ligado à forma como a cidade se organiza e como as forças de sustentação da classe dominante atuam espacial e ideologicamente. ILUSTRAÇÃO: AO LEMBRAR QUE O ÁLCOOL E O CIGARRO TAMBÉM SÃO DROGAS E COMERCIALIZADOS DE FORMA LEGAL, NOS VEM A REFLEXÃO A RESPEITO DA CRIMINALIZAÇÃO DE DETERMINADAS DROGAS E QUEM GANHA COM TUDO ISSO. SOBRA PRA QUEM? PROS JOVENS NEGROS NAS PERIFERIAS. TAL É A GUERRA AOS POBRES DISFARÇADA DE GUERRA ÀS DROGAS.
ARTE E CULTURA Como nos expressamos? Como nos identificamos? Como nos relacionamos? Quem somos e como nos comportamos ao andar pela cidade e enfrentamos suas complexidades? Você anda por uma rua mas não passa pela outra? Você vai até um bairro mas não passa pelo outro? Pra quem você dá “bom dia”? Com quem você é indiferente? Onde você vai pra se divertir? E onde você se encontra quando quer se esconder? Você já teve medo? De que? De quem? E o que você fez? Ao andarmos pelas ruas vemos exemplos de manifestações artísticas de resistência, artistas que utilizam a rua como cenário pra expor suas inquietações e lutas diárias, seja através do pixo, do grafite, da música, de intervenções urbanas em geral. A quebra das relações com os espaços destinados à arte gera uma resignificação dos espaços da cidade, com o que é e para quem é a arte, e, quem e como deve fruir da mesma. A rua, o bairro, a cidade ao ser ocupada deixa de ser um lugar hostil para ser um lugar de acolhimento, de expressão. Um território relegado pelo Estado e pela própria população, marcado pela violência, pela indiferença, pode e deve ser reapropriado através da cultura: mudar a cultura do medo , da opressão, da exclusão através da cultura do envolvimento, da criação, de ativar a sua potência criadora, criar laços e redes entre as pessoas. Afinal, “não é a cultura que faz as pessoas, mas as pessoas que fazem cultura” (Chimamanda Ngozi Adichie). Então, por que não começarmos olhar pra essas relações, pros contextos que estamos inseridos e nos inserindo, e pensar, através dos nossos projetos, a forma como pensamos a cidade?
ILUSTRAÇÃO: A ILUSTRAÇÃO TEM COMO INTUITO CONTEMPLAR AS MUITAS DIFERENTES CULTURAS NAS QUAIS ESTAMOS EXPOSTOS A TODO MOMENTO. É UMA DIFÍCIL ESCOLHA. DESSA FORMA, A ARTE FOI REPRESENTADA PELO GRAFFITI COMO MANIFESTAÇÃO URBANA, E, LOGO ABAIXO, VÁRIAS CULTURAS SE ENCONTRANDO EM UM SÓ MANIFESTO ARTÍSTICO.
TRABALHO Em qualquer sociedade, para produzir algo útil para si o ser humano trabalha, isto é, ele usa o corpo e a mente para transformar a natureza e satisfazer suas necessidades. Ainda que uma máquina muito avançada “facilite” a tarefa, é necessário ao menos um trabalhador para operá-la, além dos vários trabalhadores que produziram essa máquina com a ajuda de outras máquinas produzidas por outros trabalhadores e assim por diante. Portanto, o que está na base de toda a produção de uma sociedade é o trabalho humano. Quando lemos ou ouvimos falar que “o Brasil é uma potência econômica” não paramos muito para pensar, mas quem produz toda essa riqueza não é o governo, nem são os empresários ou os bancos. Eles apenas se apropriam da riqueza que é produzida pelos trabalhadores. Essa apropriação privada do trabalho alheio é o que faz com que a nossa sociedade seja dividida em classes: há os que trabalham e há os que se apropriam dos frutos do trabalho dos outros. Estamos submetidos a essa forma de organização da sociedade. No nosso cotidiano somos obrigados a viver, trabalhar e estudar em um ritmo cada vez mais acelerado, enquanto tentam nos fazer acreditar que isso é natural, que sempre foi assim. Fazemos uma faculdade para termos uma profissão, conseguirmos um lugar no mercado de trabalho (o mercado é o lugar onde você se vende) e sermos alguém na vida. Na realidade, fazemos uma faculdade que nos forma para fazer apenas uma coisa o resto da vida e para não refletirmos sobre aquilo que seremos de fato: trabalhadores explorados. No caso dos arquitetos e urbanistas a ideologia da exploração é naturalizada bem cedo. Ainda durante a faculdade já somos impelidos a vender a nossa força de trabalho como estagiários, seja para conseguir se manter estudando ou porque dizem que precisamos saber como fazer as coisas “na prática”. Na prática, o que aprendemos a fazer é vender o nosso trabalho por um valor bem baixo em troca da “oportunidade” que nos dão. Assim, é formado desde cedo o exército de trabalhadores arquitetos bem treinados e inconscientes da sua condição de alienação e exploração. Acreditamos que a FENEA deve cumprir um papel fundamental de organização política e tomada de consciência por parte dos futuros trabalhadores de arquitetura e urbanismo, evidenciando a raiz das desigualdades sociais e organizando a luta dos estudantes contra a exploração do homem pelo homem. ILUSTRAÇÃO: RELEITURA DE ‘DOOM’ DE JOB FOR A COWBOY, O TRABALHO ALIENADO E OS GRILHÕES DA SOCIEDADE.
EDUCAÇÃO O espaço universitário é (ou deveria ser) um espaço pleno e democrático de troca, aprendizado, ensino e construção do saber da nossa sociedade. A universidade, sendo, portanto, a possibilidade de qualquer pessoa se aprofundar em um campo de conhecimento gerando alguma ação que se reflita na sociedade. Mas o que “a sociedade” espera que a universidade produza para ela? A partir do momento em que nos organizamos através de um sistema que tem como base a exploração da maior parte da população - os trabalhadores - e a apropriação das riquezas produzidas e dos meios de produção por uma minoria, a própria universidade se torna um espaço de manutenção dessa ideologia e, portanto, mais uma fase de preparação para a chegada ao mercado de trabalho. Hoje, vemos que as nossas universidades e escolas estão, cada vez mais, a serviço dessa lógica e objetivando a formação de trabalhadores explorados e alienados desse processo. Por isso, é essencial compreender a importância da autonomia universitária, que garanta a possibilidade de produção de todo tipo de conhecimento, inclusive o que queira quebrar essa lógica de exploração. Dentro desse sistema, a educação, por ela mesma, passa a ser um produto. As universidades públicas passam a dividir seu espaço com empresas privadas, a expansão acontece sem qualquer assistência ou infra estrutura, a carreira docente é cada vez mais precária, as faculdades particulares crescem e o estudante não consegue se sustentar para estudar. A lógica da produtividade e da meritocracia, reforçada pelo ENADE, por exemplo, expulsa parte da sociedade desse espaço. A educação, agora produto, que deveria ser um direito básico de todo cidadão, é privilégio. Debater o ensino do nosso país enquanto estudantes organizados na FeNEA, é trazer à tona essa disputa. É buscar entender qual é o projeto de educação que está sendo colocado atualmente, quais as alterações recentes no Plano Nacional de Educação e suas consequencias pro nosso ensino, é ver que quem deve influenciar o que vem depois da universidade é ela mesma e não o mercado influenciar no que é a universidade e, principalmente, entender como se pode, ainda, lutar pela educação que deve ser o direito de cada um de nós. ILUSTRAÇÃO: RELEITURA DE “ANOTHER BRICK IN THE WALL” DO PINK FLOYD. A CRÍTICA (PRONTA) VEIO DE UMA PROPAGANDA ESPALHADA PELA PREFEITURA DO RJ NA QUAL ILUSTRAVA TRÊS CRIANÇAS SENTADAS EM SUAS CARTEIRAS NUMA ESTEIRA, FAZENDO MENÇÃO AO MODELO FABRIL DE (RE)PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NAS ESCOLAS. A MENINA SEM ROSTO FAZ UM PARALELO COM A REPRODUÇÃO SISTEMÁTICA DE CONHECIMENTO E A AUSÊNCIA DE IDENTIDADE.
FENEA E ME/AU A FENEA surgiu como entidade exatamente no mesmo contexto do ciclo anterior. Os primeiros ENEAs acontecem na década de 70, ainda na clandestinidade imposta pela ditadura, e em 1980 o ME/AU se estrutura através de uma prósecretaria da UNE que se torna autônoma cinco anos depois até que a Federação seja fundada, em 1988. Desde aquele tempo a FENEA participa das lutas junto aos movimentos sociais de esquerda, especialmente daquelas ligadas à questão urbana, compondo inclusive o Fórum Nacional de Reforma Urbana. No entanto, a partir dos anos 90 a crise do ciclo de lutas dá seus primeiros sinais e, nos anos 2000, a Federação começa a se distanciar da UNE, do ME de uma forma geral, e de sua própria base, isolando-se ou no burocratismo ou na reprodução dos mesmos espaços e discussões continuamente, sem avanços. Paradoxalmente, nessa mesma época os Encontros vão começar a se tornar verdadeiros eventos, reunindo um número cada vez maior de estudantes, chegando a 2500 (2002), 3600 (2003) e 5000 (2004) participantes. A estrutura do Encontro começa a se sofisticar e demandar atenção de um número cada vez maior de pessoas: ComOrgs, diretores, a nova função de “apoio”, oficiantes, delegados. No entanto, a complexificação da estrutura e o grande número de envolvidos não correspondem a uma qualificação do movimento. Ao contrário, a ação de todos passa a estar voltada somente às tarefas gerenciais e operacionais enquanto o espaço do debate, da reflexão e da formação política coletiva é relegado ao segundo plano. Passamos a enxerga-lo como “coisa chata” que “não leva a nada”. Por que temos tanta dificuldade de conduzir uma boa discussão sobre ENADE, direito à moradia ou combate às opressões em um Conselho, por exemplo, mas se formos tratar do próximo EREA ou ENEA todos se envolvem e dominam o assunto? Na verdade, se torna chato, porque não sabemos mais como fazê-lo, já que negligenciamos essa dimensão por tanto tempo. Se desejamos nos colocar em movimento de forma organizada através da FENEA, é necessário superar essa limitação, nos formando politicamente de forma coletiva para podermos compreender e discutir a realidade com clareza. Nesse sentido, trazemos aqui alguns pontos para debate que podem reorientar essa retomada da construção de um movimento estudantil crítico e reflexivo, capaz de intervir na realidade concretamente e, especialmente, transformar a si mesmo.