INDÚSTRIA Indústria e Varejo de Shoppings estão em plena expansão
CULTURA Entendendo o Banto Capoeira Angola e Candomblé
TURISMO Afro Negócio e Turismo Étnico
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA • Nº 01 • ANO I • OUTUBRO 2012
rEVISTA BImESTrAL DA cÂmArA DE cOmÉrcIO ANGOLA+BrASIL
Eleições 2012 em Angola 1
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Editorial
ESCAMBO E AMIZADE !
Expediente Presidente CCABr: Eduardo A. Ferreira eduardo.arantes@angolabrasil.org.br Diretoria: Eladio Toledo, João C. Pestana Ramos, Neander Souza, Rogerio M. Matos, Manuel da Conceição Paim. Revista Dikamba Publicação Bimestral da Câmera de Comércio Angola•Brasil. Nº 1 - Ano I - Outubro 2012 Diretor Executivo: Eduardo A. Ferreira Editor Executivo: Eduardo Engelmann engelmann@angolabr.com MTB 65.852 Diretor Comercial: Eladio Toledo eladio@angolabrasil.org.br Produção Gráfica e Diagramação: Agência Angola•Brasil - www.angolabr.com Tiragem: 10.000 exemplares Correspondentes Angola: Nelo Paim
Algo que nunca poderá ser retirado dos homens é a amizade. Muitas delas são mais fortes do que laços familiares, uma vez que esses laços são cultivados por toda a vida e, a amizade brota, através das mais variadas formas de convivio social, mas não se tem o registro do tempo como nas relações familiares - simples assim - acontece. Hoje é o marco de um novo tempo, o tempo da perpetuação da amizade entre dois povos e, porque não, de pessoas. No contexto da amizade, além das ligações afetivas, existem possibilidades de crescimento mútuo. Para que isso ocorra, torna-se necessária a prática do escambo, forma primiva de comércio, que além de aproximar empresários, aproxima sobretudo pessoas. Evidente que hoje esse escambo não é mais primitivo, mas as bases dessa cultura comercial ainda se conservam entre aqueles que conhecem a origem da palavra. Quando idealizamos Dikamba, evidentemente que foi pensado, idealizada a possibilidade de novos negócios entre dois países mas, não podemos nos esquecer que negócios são efetuados por pessoas. Tudo bem que existe o velho ditado “amigos, amigos, negócios à parte”, mas porque não aproveitar o momento e iniciar novas amizades por conta desses negócios. Negócios envolvem cifras, mas podem envolver culturas, perspectivas, crescimento mútuo e, evidentemente, amizades. A palavra que mais ratifica os negócios é a confiança e, não por acaso, é também a palavra que solidifica amizades. Hoje, sob o céu do hemisfério sul, quando a primavera traz a renovação para a natureza, é o momento de semearmos as relações pessoais e comerciais. Para isso, há que se utilizar um veículo, que permita essa seara, e essa é a proposta editorial da Dikamba, uma publicação criada pela Câmera de Comércio Angola - Brasil, que será o elo entre empresários, parceiros e amigos de dois países que sempre estiveram ligados pelo idioma, culturas populares, credos e sobretudo, em constante aprendizado com o respeito a suas raízes, que gerarão novos frutos, cuja árvore será cultivada e regada por uma das virtudes mais belas da humanida: a amizade. Bem-vindo a um novo tempo! Bem-vinda Dikamba! Eduardo Engelmann Editor 3
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Sumário 6 • Investimentos Indústria e Varejo de Shoppings
estão em plena expansão
8 • Tradições
Entendendo o Banto Capoeira Angola e Candomblé
13 • Franquias
Mercado africano e as possibilidades para as marcas brasileiras 15 • Tecnologia Internet auxilia a capacitação tecnológica em Angola
16 • Personalidade
O mundo de Analtina
18 • Festa Popular
Vitor e Léo encerram o 22º Rodeio de Jandira
19 • Mercados
Apex-Brasil organiza Pavilhão Brasileiro na FILDA 2012
20 • Comércio Exterior
Fortalecimento das Relações Brasil-Angola
23 • Turismo
Afro Negócio e Turismo Étnico
24 • História
300 anos em pleno vigor
26 • Matéria de Capa Eleições 2012
30 • Indústria
Angola Equaciona Industrialização
32 • Perspectivas
Em busca de um novo Rumo Começar de Novo
38 • Política
A democracia e os seus desafios
40 • Recursos Naturais Águas de Angola
41 • Crônica
Como anda o design da sua empresa? 5
Investimentos
Indústria e Varejo de Shoppings estão em plena expansão Até a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, 132 shoppings em construção deverão entrar em operação no País. Este número é baseado em um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) por meio de informações coletadas em fevereiro de 2012. Nos próximos anos, mais 20,3 mil lojas serão inauguradas por conta desses novos empreendimentos, sem contar com o número de expansões que acrescentam um número maior de varejistas de shopping. Com a indústria e varejo de shoppings em plena expansão, realidade esta atribuída, entre outros fatores, à estabilidade da economia e à preferência de lojistas e empreendedores em investir neste mercado, a Alshop firma-se cada vez mais como principal entidade representativa deste setor, formando um elo entre lojistas, empreendedores, poder público e demais segmentos da economia, visando o fortalecimento e a capacitação do mercado de shoppings. São 18 anos de atuação de associação concentrando esforços para elevar o lojista de shopping ao patamar de qualificação e reconhecimento ao qual faz jus. Atualmente a Alshop, filiada a National Retail Federation (NRF), soma mais de 29.000 associados, membros de um segmento que representa 18% do varejo brasileiro, contando com 802 shoppings que concentram 107.000 lojas em operação. 6
Como parte do calendário anual da entidade, diversos eventos são promovidos com a finalidade de fomentar a troca de experiências, criar novas propostas de ação, mobilização e engajamento com foco no varejo nacional, sendo formas de consolidar ainda mais a força do segmento varejista e discutir estratégias de melhoria para o setor. Durante os encontros, a Alshop conta com a presença de presidentes, diretores, superintendentes e gerentes de empreendedoras e administradoras de shoppings e de lojas.
Os principais eventos são: Brasilshop - Congresso Internacional de Varejo. Realizado em São Paulo, no Expo Center Norte. Cerca de 1000 congressistas estiveram presentes na 13ª edição que aconteceu este ano, no mês de junho. • Brasilshop - Edições regionais. Em Brasília, reunindo o empresariado do centro-oeste brasileiro; em Fortaleza, com empresários da região nordeste do Brasil e em Goiânia reunindo o comércio e a indústria de shoppings de Goiás. • Prêmio Alshop-Mastercard - Realizado em São Paulo, o evento premia os melhores lojistas em 43 segmentos de comércio. • Retail’s Big Show (NRF) - Viagem de executivos de lojas e de shoppings brasileiros a Nova York, promovida anualmente pela Alshop, que reúne mais de 100 executivos. Com a parceria da Câmara de Comércio Angola Brasil, sediada em São Paulo, e com a experiência desta como conhecedora do mercado angolano, a ideia é a de levar estes eventos e todo Know How adquirido ao empresariado angolano e fomentar novas oportunidades de negócios naquele país. Além dos encontros, outra maneira de deixar o público da Alshop informado do que acontece no setor são as plataformas de comunicação. A Revista AL SHOP, publicada mensamente, com •
tiragem de 35.000 exemplares e distribuída a todos os shoppings do Brasil e aos lojistas associados. O Guia Oficial do Varejo de Shopping, divulgado anualmente, com tiragem de 15.000 exemplares distribuídos a todos os shoppings do Brasil e aos associados. E o Portal Alshop, com notícias do segmento atualizadas diariamente. Entre as empresas associadas à Alshop destacam-se: Magazine Luiza, Grupo Pão de Açúcar, RiHappy, Pernambucanas, Bmart Brinquedos, O Boticário, Dunes, Chilli Beans, Cinemark, Camisaria Colombo, Via Veneto, Bob Store, Mc Donalds, Livraria Nobel, Livraria Saraiva, Supermercados Sonda, Spoleto, Rei do Mate, Bom Grillé, Seletti, Galeto’s, Gelateria Parmalat, Mr. Pretzel’s, Gateway Security, Vila Romana, VRMenswear, Le Lis Blanc, Cybelar, Arezzo, Di Pollini, Vila Romana, Vivara, Vivenda do Camarão, World Tennis, entre outras.
Tabela 1 - Quantidade de shoppings em operação em 2011 Tipos de Shopping
2010
2011
Tradicionais Temáticos Atacados
553 83 45
579 87 47
Variação /Qtde 26 4 2
Rotativos
85
89
4
4,70
Totais
766
802
36
4,70
A indústria de shopping centers conta hoje com 802 empreendimentos em operação distribuídos da seguinte forma conforme exibido na Tabela 1.
A quantidade de lojas em shoppings ao final de 2011 é de 107.148 lojas, apresentando a seguinte evolução entre 2004 e 2011- vide Tabela 2.
Evolução de vendas em shoppings em R$ bilhões
A evolução do volume de vendas em shoppings apresenta a seguinte evolução em R$ bilhões - vide Tabela 3.
Fluxo de pessoas em shoppings
A freqüência média mensal em 2011 nos 802 shoppings em operação no Brasil foi cerca de 472 milhões de pessoas, enquanto em 2010 tivemos a media mensal de 447 milhões nos shoppings brasileiros, representando um acréscimo de 5,6% sobre 2010. ■
4,70 4,81 4,44
Tabela 2 - Quantidade de lojas em shoppings em 2011
Quantidade de shoppings em operação em 2011
Quantidade de lojas em shoppings em 2011
%(2010/2009)
71.769 74.922 76.922
Variação Qtde 3.153 2.000
% Anual (2009/2008) 4,39 2,67
2007
80.419
3.497
4,55
2008 2009 2010 2011
85.066 94.318 99.568 107.148
4.647 9.252 5.250 7.580
5,78 10,87 5,57 7,61
Anos
Qtde. Lojas
2004 2005 2006
Tabela 3 - Evolução de vendas em shoppings em R$ bilhões Vendas Nominais % Anual
Inflação Anual Vendas Reais % Anual (IPCA) % 7,60 45,35 5,69 51,68 13,95 3,14 57,49 11,24
2004 2005 2006
48,80 54,62 59,30
11,92 8,57
2007
68,40
15,35
4,46
65,49
13,91
2008 2009 2010 2011
75,24 79,90 93,00 104,10
10,00 6,19 16,30 12,00
5,90 4,27 5,91 6,52
71,05 76,63 87,81 97,73
8,49 7,85 14,59 11,12
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Tradições
Entendendo o Banto Por Swai Roger Teodoro Cleaver Fotos: Kosuke Arakawa
Já há algum tempo tem sido feito, por vários intelectuais, considerável esforço pela compreensão da influência africana para a formação do Brasil. Alguns autores, como Yeda Pessoa de Castro e Nei Lopes, tem chamado atenção para um alarmante fato: a matriz africana mais importante para nossa formação cultural – a matriz banto – tem sido, desde o começo dos estudos afro-brasileiros, depreciada e esquecida em favor de uma outra matriz, a ioruba (também chamada nagô), que, apesar de importante, exerceu influencia muito menos significativa para nossa formação ( CASTRO, 2001; LOPES, 1988). Os bantos (originários da África Central) tem sido vitima de grande preconceito, desde os tempos da escravidão, ao serem considerados culturalmente inferiores aos povos vindos da África Ocidental (como jejes, hauçás e iorubas). Para muitos estudiosos, estes povos teriam sido os únicos a manter intacta uma cultura africana no Brasil. 8
O fato dos bantos terem, em quatrocentos anos, mesclado elementos da cultura branca e indígena em algumas de suas tradições, comprovaria a ideia de que sua cultura sera inferior à dos iorubas e sua mitologia mais rudimentar (Cf. CARNEIRO, 1991: 174). Assim sendo, cem anos após os primeiros estudos afro-brasileiros, é hora de superar os estereótipos que, no pensar da afro-brasilidade, nos tem impedido de perceber a importância do legado africano para o Brasil. O próprio termo “banto”, no entanto, continua sendo pouco conhecido, e compreender seu significado é o primeiro passo para que possamos reconhecer a dimensão de nossa herança africana. “Banto” (ou Bantu) significa, em centenas de línguas africanas, “as pessoas”, ou sejam, “os seres humanos”. Quando, no século XIX, um linguístico alemão – Wilhem Bleek – começou a estudar as línguas africanas para saber de onde e como tinham surgido, ele
resolveu utilizar o termo “banto” para designar todas as línguas na quais esta palavra – “banto” – possuía mesmo significado; assim, na sua sistematização dos idiomas africanos, estas línguas passaram a ser chamadas de “línguas banto”. Todas estas línguas tem também uma raiz comum, provavelmente uma língua muito antiga e desaparecida há milhares de anos, chamada de “protobanto” (CASTRO, 2001: 27-37). Com a continuidade dos estudos sobre estes povos, varias outras semelhanças foram sendo percebidas, e de uma denominação para um conjunto de línguas, o termo banto passou a designar o conjunto dos próprios povos que as falavam, surgindo assim o habito de usar o termo para designar pessoas, povos, culturas: o povo banto, a arte banto, a filosofia banto. O termo é amplamente utilizado hoje. Na África atual, os bantos se encontram em mais de vinte países, espalhados por 9.000.000 km2 e chegando
a 190.000.000 de pessoas. Entre os países com povos e línguas banto poderíamos citar Angola e Moçambique (que falam também português), Zimbábue, Camarões, Gabão, Quênia, Comgo, Ruanda, Namíbia, Burundi e África do Sul. Como se pode ver, a palavra “banto”, encerra enorme diversidade, tendo assim um significado muitíssimo mais amplo que o de um etnônimo (nome de etnia). Os bantos tiveram importância fundamental na história brasileira, pois foram maciçamente introduzidos no Brasil durante os três séculos da escravidão. Ao contrário dos outros povos africanos (que ficaram restritos mais ao litoral e Minas Gerais), eles se espalharam por todas as regiões do Brasil, participando ativamente da reconstrução cultural que caracteriza nossa história. Estes bantos vieram principalmente da região do Congo e Angola, que antigamente se dividiam entre os reinos do Congo, Ndongo e reinos ovimbundos,
entre outros. Além dos povos bacongo (que falavam a língua quicongo e oriundos do Congo), dos ambundo (do Ndongo, que falavam o quimbundo) e dos ovimbundo (falantes do umbundo), vieram também os monjolo,
os anjico, os balundo e muitos outros (CASTRO, 2001: 25-26). O grande fluxo de bantos para o Brasil se deveu ao fato de que, para Portugal, Angola e toda África Central não passavam de um grande for-
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necedor de escravos para a colônia brasileira. Houve um verdadeiro esvaziamento populacional na África, primeiro nos reinos da costa, como Congo e Ndongo, e em seguida também nos reinos mais internos, como Cassanje e Matamba (DELGADO, V.3, 1940: 40). Uma vez aqui, os bantos foram determinantes para a nossa formação social e cultural. Tiveram grande influência religiosa: a umbanda e os candomblés de caboclo e angola (variedades do candomblé) são banto em suas raízes. Candomblé vem de “Kandombélé”, que significa “rezar” em várias línguas banto, como umbanda vem de “mbanda”, que significa “algo sagrado”. As influências vão muito além do campo religiosos. A maioria do manifestações populares afro-brasileiras vieram dos povos bantos. É o caso do samba, do jongo, das congadas, das festas do boi, da capoeira angola ou do Moçambique (CARNEIRO, 1991). Manifestações insuficientemente estudadas e que são muito mais do que mero “folclore”. Sem compreendê-las melhor, tampouco compreenderemos a importância do legado africano para nós brasileiros. A mais marcante contribuição banto foi, no entanto, para a nossa língua e, consequentemente, para nossa forma de pensar e lidar com o mundo. As línguas africanas foram o principal fator de transformação da língua portuguesa no Brasil e, dentre elas, as línguas banto foram as mais importantes (principalmente o quicongo e o quimbundo). Como escreveu a linguística Yeda de Castro, em Falares Africanos na Bahia (2001:74), esta importância deveu-se “à antiguidade e superioridade numérica de seus falantes e à grandeza da dimensão alcançada pela sua distribuição humana (...)”. Como a mesma autora explica, vários aportes bantos, como “mucama”, caíram em desuso, pois eram relativos a época da escravidão. A maior parte deles, no entanto, estão completamente integrados ao nosso dia-a-dia. É o caso de “quitanda”, 10
“carimbo”, “cachimbo”, “corcunda” ou “cachaça”. Às vezes, os termos banto substituíram por completo o equivalente em português, como é o caso de “caçula”, que é a única palavra que temos para nos referirmos ao irmão mais novo. Assim, se o Brasil pretende valorizar seu legado africano, é urgente que ele reconheça a importância dos bantos para sua história. Veja abaixo uma amostra de termos comuns de origem banto, extraído do livro Falares Africanos da Bahia: CANJICA Papa de milho, do quicongo / quimbundo Kanjika. CAPANG Guarda-costas, do quicongo / quimbundo Kimpungo. CARIMBO Selo, sinete, do umbundu kandimbu. DENDÊ Palmeira, fruto d palmeira, do quicongo / quimbundo / umbundu ndende. DENGO Birra, manha, do quimbundo ndenge. FUBÁ Farinha de milho, do quicongo mfuba. FUTUCAR Remexer, procurar, do quimbundo kufuca. GANGORRA Balanço, do quicongo kangula. GINGA Balancear, movimento da capoeira, do quicongo / quimbundo zinga. LENGALENGA Conversa-fiada, enganosa, do quimbundo / quicongo lenga-lenga.
MACACO Símio, do quicongo makaaku. MACULÊLÊ Dança de bate-pau, do quicongo / quimbundo mankawa leele. MACUMBA Manifestações religiosas de origem banto (congo-angola), do quicongo / quimbundo makuba (=reza, invocação). MANDRAQUE Feiticeiro, magico, do quicongo mandóki. MANGAR Zombar, caçoar, do quicongo mannga. MARACUTAIA Engodo, trapaça, do uimbundo ma(dia)kutola. MARIMBONDO Vespa, do umbundo alimbondo. MINHOCA Verme anelídeo, do quicongo quimbundo nyoka (=cobra) MOLEQUE Menino travesso, do quicongo / quimbundo / umbundo nleeke. MONJOLO: engenho simples movido a água, do quicongo / quimbundo mansulu. MUAMBA Contrabando, fraude, do quicongo / quimbundo muhamba. QUIABO Fruto do quiabeiro, do quicongo / quimbundo kiambo.
Swai Roger Teodoro Cleaver, historiador e treinel do Grupo Nzinga de Capoeira Angola-DF. Artigo extraído da revista Toques D’Angola, Ano II, número dois, Brasília, Maio de 2004.
Capoeira Angola e Candomblé Por Paulo Barreto (Mestre Poloca)
São seculares as afinidades existentes entre o candomblé e a capoeira no Brasil. Ambos foram violentamente perseguidos por representarem espaços de resistência, na medida em que trabalharam a consciência física, mental e espiritual dos africanos e seus descendentes desde o século XIX, pelo menos. Os Taata Dya Nkisi e as Nengwa Dya Nkisi cuidavam espiritualmente dos capoeiras e eles por sua vez protegiam os terreiros das invasões policiais, pelo menos quando foi possível. As mandingas e malandragens adquiridas com a vivência na capoeira estão intimamente apoiadas na forma de viver, agir e pensar dos afrodescendentes no Brasil, submetidos historicamente a uma situação critica de desvantagens e preconceitos. O exemplo mais célebre da simbiose do Candomblé com a Capoeira, é a história do famoso capoeirista Besouro Preto, como era conhecido no recôncavo baiano, em Santo Amaro, na segunda metade do século XIX. A história conta que além de ser muito valente, era talvez o mais mandingueiro de todos os capoeiristas, na medida em que, mais
que qualquer outro, possuiu trajetória cercada de mistérios e lendas. Besouro tinha o corpo fechado. Por isso, era comum para ele desafiar um pelotão inteiro de policiais em briga desenfreada e violenta, a ainda assim sair ileso da contenda. Armas de fogo no seu corpo não acertavam e dizem até que ele sabia uma reza que o fazia desaparecer. São muitos os casos que contam a seu respeito numa mistura de mito e realidade. Emblemática são as circunstancias que envolveram a sua morte. Vou resumir: ele já era temido e famoso
quando certo dia em que ia acontecer determinada roda de capoeira, foi preparado um ardil para mata-lo. Para a cilada funcionar, primeiro foi necessário que Besouro Preto fosse seduzido por uma mulher muito atraente. Ela então o convenceu a consumir bebida alcoólica, enfraquecendo as suas defesas. Depois o convidou para fazer sexo com ela, abrindo mais ainda o seu corpo. O ultimo detalhe do ardil foi a confecção de uma faca de madeira ticum para o golpe que o fulminaria definitivamente, e que foi desferido por um desafeto. A faca além de ter a propriedade de ferir sem gerar o sangramento, o que é pior para a saúde, tinha sido batizada com outras poções. Existem no Brasil, e principalmente na Bahia, muitos grupos de capoeira que tem no candomblé a fonte de seu ngunzo, a sua força extra, que os ajuda a zelar e cuidar do trabalho a ser realizado. O Taata Dya Nkisi Mutá Imê nos relata o tempo em que no terreiro de sua Mãe, circulavam vários capoeiristas e as conversas que ouviu quando era muleeke. Numa delas, ouviu que não se fazia sexo três dias antes de uma roda 11
Glossário:
de capoeira e a indumentária a ser usada neste dia também recebia cuidados especiais. O pó de pemba é uma famosa mandinga que os adeptos do candomblé e da capoeira conhecem. Para os bacongos, palavra Mpeemba significa “o mundo dos ancestrais”. Mas é também o nome de uma argila branca que eles fazem o pó e usam para untar, marcar, friccionar e que significa ser purificado pelos ancestrais. Receber mpeemba é receber a benção dos ancestrais. O sincretismo é muito grande na capoeira, sendo comum ouvir referencias aos orixás, nkisis, caboclos e santos católicos em seu repertório musical. O grande aporte de informações repercute na musicalidade e oralidade da capoeira, no sentido de que novos conceitos e palavras em línguas africanas tem sido acrescentadas nas letras das musicas, e há casos em que a musica inteira é cantada em quicongo. Os tres berimbaus da capoeira são saudados e reverenciados pelos 12
mestres, contra-mestres e discípulos exatamente como os tres atabaques do candomblé o são pelos Taata Dya Nkisi, Makota, Mwaana Nkisi e fiéis. Ao seu modo, cada um possui função litúrgica que expressa as mensagens que extrapolam a dimensão consciente do existir, fazendo a ligação entre o sagrado e o real. Na parte do canto destinada aos corridos da capoeira, tem-se os cânticos de entrada, os de desenvolvimento e os de saída. O que corresponderia no candomblé aos cânticos para o santos “descer” e para “subir”. O pé do berimbau é um espaço onde se sacraliza o gesto. Ë na roda que a dimensão sagrada se expressa maneira mais notável no repertorio corporal do capoeirista. Na Capoeira Angola dançar, jogar, brincar e lutar se traduzem como possibilidades de se estabelecer comunicação com um plano mais subjetivo, mais abstrato. Essa dimensão sagrada torna o processo ensino-aprendizagem longo e demorado. Na cultura africana, o corpo e o espirito não são vistos como entidades diferentes ou separadas. No candomblé, por exemplo, a entidade espiritual necessita de um “corpo” (matéria) para se expressar. Na Capoeira Angola é o corpo que necessita de um ngunzo para atingir a sua melhor forma de expressão. Antes do jogo iniciar-se, os capoeiristas, através de seus gestuais, invocam proteção sagrada (sinal da cruz, o cinco Salomão e outros). A roda é o espaço do ritual e o corpo é o santuário do segredo. Aí está presente a dinâmica da comunicação, da redistribuição do ngunzo, da existência e do vigor das regras do jogo cósmico contido na capoeira. O segredo não deve ser privilégio do mestre, mas os discípulos tem que merecê-los. Por fim, como no candomblé, na capoeira o aprendizado nunca termina. Segundo a Makota Valdina Pinto, “só se pode ser realmente grande quando se sabe ser pequeno”.
CABOCLOS: Entidades sagradas e donos da terra. Só existe nos candomblés de Angola, representando a ancestralidade brasileira. CORPO FECHADO: Corpo protegido por rezas, patuás e outros procedimentos. MAKOTA: Mãe Pequena de um terreiro. MANDINGA: É todo o preparo espiritual para o movimento. É o fundamento secreto do jogo. MANDINGUEIRO: Pessoa que faz mandinga. MPEEMBA: Significa “mundo dos ancestrais” em quicongo. Também é o nome de uma argila branca cujo pó se usa para untar, marcar, friccionar, para ser purificado pelos ancestrais. MULEEKE: Menino, criança. NKISI: Equivale, grosso modo, ao orixá de Queto. NENGWA DYA NKISI: Mãe de Santo. NGUNZO: Energia Primordial. TAATA DYA NKISI: Pai de Santo.
Veja agora os nomes do Nkises, entidades sagradas da “nação”Angola, e seus correspondentes aproximados na “nação”Queto, os orixás. O uso, muito comum, dos nomes iorubanos para se referir às entidades de Angola é impróprio e gera uma contradição para quem luta pela preservação e divulgação das manifestações culturais da matriz banto no Brasil. ANGORÔ – Oxumaré DANDALUNDA – Yemanjá GONGOMBIRA – Logun Edé HOJI - Ogun KAIONGO – Yansã KATENDÊ - Ossain KINGONGO – Omolú KISIMBI - Oxum LEMBA – Oxalá MAMETO ZUMBÁ - Nanã MUTALAMBÔ - Oxossi MVUNJI – Erê NDEMBU - Tempo UNJIRA – Exú VUMBI - Egun ZAZI – Xangô
Toques D'Angola. Ano III, nº 4, São Paulo e Salvador, 11 de 2005. Paulo Barreto - Geógrafo e Mestre do Grupo Nzinga de Capoeira Angola.
Franquias
mercado africano e as possibilidades de negócio para as marcas brasileiras Por Ricardo Camargo, diretor executivo da ABF
O setor de franquias brasileiro é um dos mais avançados do mundo. O país conta com uma Lei de Franquias muito abrangente e, atualmente, cerca de 90% das marcas que atuam no país são genuinamente brasileiras. A internacionalização das redes brasileiras demorou para se desenvolver. Muitos são os motivos como, por exemplo, o tamanho do mercado brasileiro, a cultura do empreendedor local entre outros, mas assim que o mercado internacional teve acesso as franquias do Brasil, o crescimento da exportação foi natural. O Brasil conta com produtos e serviços muito atrativos no mercado internacional em diversas áreas, da alimentação ao cosmético, passando pelo setor de calçados, vestuário e até serviços. O caminho natural da exportação das franquias brasileiras teve início pelos países da América do Sul, Estados Unidos e Portugal, como porta de entrada no mercado Europeu.
Recentemente, o mercado africano despertou interesse do empresário brasileiro não só pela facilidade do idioma e identificação de culturas, mas principalmente pelas perspectivas de desenvolvimento econômico. Ao visitar as últimas edições da FILDA (Feira Internacional de Luanda) nos últimos dois anos, os empresários brasileiros tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais da economia de Angola, das características de seus consumidores e avaliar com mais profundidade as possibilidades de levar operações brasileiras para o país. Várias marcas brasileiras, entre elas Bob’s, Escolas Fisk, Green, O Boticário, Chilli Beans, Bit Company, Carmen Steffens, Sapataria do Futuro, Werner Coiffeur, Tostare Café, Dumond, TOTVS, Truss Cosmetics, Emagrecentro, Livraria Nobel, Costura do Futuro e Alterdata Software iniciaram operação no país nos últimos anos e os 13
resultados têm sido muito positivos. Os produtos brasileiros têm boa aceitação e a oportunidade de crescer junto com o país é muito grande. A presença brasileira poderia ser ainda maior no continente africano em especial em Angola. Porém, nos últimos dois anos, a economia brasileira, principalmente o consumo interno tem crescido muito e proporcionado muitas oportunidades de desenvolvimento das redes em solo nacional. O reflexo disso é o adiamento dos planos de internacionalização. Também o fraco desempenho da economia americana e europeia desanimaram investimentos fora do país. Ao contrário do cenário internacional, Angola apresenta todas as condições favoráveis para a expansão de marcas brasileiras. As redes de franquias podem tomar como exemplo outras empresas nacionais que atuam em Angola há muito mais tempo com sucesso como as empreiteiras e construtoras. Para tanto é preciso promover mais o intercâmbio entre os dois países como forma de disseminar as informações de ambos e acelerar a criação de um ambiente de negócios mais favorável. Neste sentido a Câmara de Comércio Angola Brasil exerce um papel muito importante quando leva ao empresariado angolano informações relevantes sobre o mercado brasileiro e fomenta a criação de novas oportunidades comerciais.
Ricardo Camargo, diretor executivo da ABF
14
Crescimento do Faturamento das Franquias x Crescimento do PIB
O franchising representa 2,1% do PIB brasileiro
Para mostrar a sua força dentro do território, as empresas brasileiras do setor de franquia sabem que a busca por novos mercados não tem fronteiras. De acordo com dados da ABF, atu-
almente, cerca de 92 redes nacionais já possuem operações no exterior. Elas estão presentes nos cinco continentes, o que representa 4,5% do total das marcas nacionais. ■
Internacionalização do Franchising Brasileiro - Países vs. Marcas
Tecnologia
Internet auxilia a
capacitação tecnológica em Angola Os benefícios que a Internet e a Tecnologia da Informação propiciam na formação e troca de informações para a o enriquecimento do conhecimento A Internet trouxe ao país, dentro de suas inúmeras possibilidades, duas que gostaria de destacar: o acesso a informação e a inclusão social e tecnológica. O acesso a informação possibilita a leitura dos avanços científicos não apenas na área da ciência, mas também na área tecnológica. Essa leitura, além de enriquecer o conhecimento, direciona e, porque não, capacita e orienta a formação da mão de obra qualificada em todos os setores da sociedade. A inclusão social e tecnológica permite ao cidadão a sua integração com toda a nação, além de facilitar a troca de informações, seja ela pessoal, profissional e, fundamentalmente, educacional. Podemos concretizar essa análise pelo sistema mais fácil acessível até então na área de comunicação: a televisão. Aos poucos vamos ganhando novos programas e, acredito que, em breve teremos novos canais que permitirão a escolha da programação, o que, por mais simples que possa ser, é sim uma forma de democratização. É sabido que em breve a televisão HD (high definition) estará disponível e, sabemos que o sinal é mais amplo, possibilitando ao interior do país o acesso a essa fonte de laser e entretenimento. A área de tecnologia da informação caminha a passos largos. Além do
acesso a internet, o aprendizado oferecido por países irmãos como Portugal e Brasil, tem possibilitado a capacitação de mão de obra que, até então, se restringia as autarquias governamentais. Hoje empresas angolanas de tecnologia oferecem não apenas o desenvolvimento de sistemas para gestão administrativa, mas também ofertas de serviços abrangentes como: sistemas administrativos, financeiros, contábeis e outros, que são solicitados dentro das necessidades das empresas que vão surgindo no país. Além dessa oferta, há que se pensar na necessidade da capacitação de mão de obra para correta utilização do computador, em todas as escalas pro-
fissionais, que pode ser iniciada na recepção de um hotel, no escritório, na indústria, na área de TI da empresas e, sobretudo, na educação. Empresas de treinamento tem surgido e auxiliado nessa capacitação. O exemplo mais eficiente dos avanços tecnológicos de nossa produção, foi capacitar o Centro de Imprensa para a Copa das Nações Africanas, realizada em Angola em janeiro de 2010. Todo o trabalho foi planejado, gerenciado e executado pela LIRALINK TECNOLOGIA. Para concluirmos, devemos ter a consciência de que a tecnologia da informação representa a revolução mais poderosa dos últimos tempos, já profetizada no início dos anos 80 por Alvin Toffler em seu livro A Terceira Onda. Hoje essa revolução apresenta mudanças fundamentais e estratégicas nas oportunidades de todos os países. Ela é um instrumento eficaz para a igualdade no desenvolvimento e crescimento econômico, reduzindo disparidades sociais, e permitindo fundamentalmente, o acesso ao conhecimento e a educação de todos. E nós estamos trabalhando para fazer bom uso dessas ferramentas. ■ Walter Soares Luís João Fundador CEO LiraLink Tecnologia 15
Personalidade
O mundo da Analtina A história de uma marca de sucesso em Angola
Analtina, é um nome bastante familiar do público angolano. Por ser apresentadora de televisão, por ter criado a primeira boneca angolana, por ter apresentado durante dois anos o famoso programa de rádio “ Analtina na Rádio” do qual foi protagonista, ou simplesmente porque todos os projectos que abraça são sinónimo de sucesso e audiências. Muitos são os exemplos que se podem enumerar. Comecemos pelo programa Janela Aberta, passemos pelo programa Sem Limites, ou agora no telejornal. Recuando no tempo, temos os programas TV Desporto e Ecos & Factos. Muito se pode falar sobre o percurso profissional de Analtina Dias, como o facto de ter sido a primeira escolhida pelo público para Diva de Angola em 2007. Sobre prémios e carreira enquanto profissional de televisão falaremos em próximas edições. Fiquemos por enquanto naquilo que é o exemplo de empreendedorismo, e de visão de negócios. 16
Analtina Dias, descobrindo um nicho no mercado, criou em 2005 a primeira marca infantil genuinamente angolana. Atribuindo o seu próprio nome a marca, Analtina fez questão de pessoalmente tratar da criação e desenvolvimento do conceito, logo, etc recorrendo ao mercado brasileiro e a pessoas experientes para que se pudesse afirmar convenientemente. Empregou todo o seu carinho, profissionalismo e a vontade de mudar o mercado infantil, o coração e a visão das meninas e meninos em relação a valorização da africanidade e cultura dos povos. No mesmo ano (2005), coloca no mercado nacional, a primeira boneca negra, com o rosto, bandeira e cores de pais. Um verdadeiro sucesso. A boneca Analtina Bebé, revolucionou o mercado de brinquedos em Angola e o mercado infantil no geral. Todas as crianças em Angola choraram por ter uma. Nos anos seguintes a apresentadora de televisão e empresária, não pa-
rou e lançou um total de catorze novas bonecas, onde se destaca a coleção “ Conheça Angola”, composta por cinco bonecas que representam cinco regiões diferentes de Angola, com suas tradições, povos e cultura. Vestidas com roupas tradicionais, as bonecas, através de um aparelho informam em português e inglês, sobre a sua origem, roupa que usam, o grupo étnico a que pertencem, localização e outros aspectos turísticos da sua região. Assim, para além da Analtina Bebé, a apresentadora tem na sua lista de criação, a Mucubal, a Mwangolê, a rainha Ginga, a Bessangana e a Mumuila, a Tremelique, a Nené, a Bebé Banho, os Gémeos, a Armorzinho e a Djully, último lançamentlo! A Djully e a Amorzinho, duas bonecas mecanizadas, que andam, engatinham, choram, cantam, fazem expressões com o rosto, enfim parecem bebés de verdade, são as únicas bonecas disponíveis no mercado, já que a produção das bonecas da marca Analtina é limitada. Para além das bonecas, a Analtina tem na sua colecção brinquedos para meninos como Motas Eléctricas e bicicletas. Constam ainda outros brinquedos com Moto Ban, a banheira, as roupinhas e os acessórios da Analtina. Em 2012, Analtina vai abrir o seu primeiro ponto de vendas, já que até aqui era apenas produtora e tinha nos maiores distribuidores os responsaveis por levar os produtos da sua marca até aos clientes. Uma decisão tomada, de forma a não encarecer o preço dos produtos e permitir o acesso da maior parte das crianças ao mesmo. Juntamente com a abertura da loja, Analtina lança a primeira grife da marca, com roupa para meninas e meninos dos 3 aos 14 anos. Lança igualmente uma linha de sapatos de
cerimónia e para dia à dia para os dois sexos, duas Deo colónias para meninos e meninas denominadas Chic By Analtina Girl e Boy, motas electricas com 6 e 12 de velocidade, bicicletas e ainda quadriciclos electricos. A apresentadora que é igualmente mãe de dois filhos biológicos e outros adotados, é uma mulher simples na lida com o público, simpática, generosa que tenta conciliar tudo com o pouco tempo que tem. Na próxima edição conhecermos um pouco sobre a sua vida em família. Este é O Mundo da Analtina, você conhece você confia.
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Festa Popular
Victor e Léo encerram o 22º Rodeio de Jandira A Praça de Eventos se transformou em uma grande arena para receber o 22º Rodeio de Jandira. O evento reuniu entre 13 a 16 de setembro, milhares de entusiastas de Rodeio de toda a região, que vieram para curtir as disputas em touros e cavalos, comidas típicas, também os grandes shows do Grupo Bom Gosto, Turma do Pagode, Michel Teló, que dividiu o palco com a dupla Bruninho e Davi. Para o encerramento da Festa, a dupla Victor e Léo balançou os corações do público com todo o romantismo de seus maiores sucessos. O Rodeio neste ano ficou dividido entre os ritmos pagode e sertanejo, onde a abertura da Festa no dia 13 contou com a apresentação do Grupo Bom Gosto, que deram um show a parte mostrando um pagode alegre e romântico. No segundo dia (14), foi a vez da Turma do Pagode repetir o grande sucesso de sua apresentação na 32ª Festa Junina, fazendo a galera dançar ao com os sucessos “Pensando em você” e “Lancinho”. Na segunda metade do Rodeio, foi a vez do ritmo sertanejo tomar 18
conta do palco com a apresentação da jovem dupla Bruninho e Davi que abriram o show principal da noite. Em seguida o cantor Michel Teló sacudiu o grande público das arquibancadas e dos camarotes da Festa. Ao som de seu estilo vanerão,o público se divertiu com seus principais hits: “Ai se eu te pego” e” Humilde residência” . Para o encerramento com chave de ouro, o 22º Rodeio de Jandira recebeu a dupla Victor e Léo. Os irmãos sertanejos mostraram ao que vieram abrindo o show com o grande hit “Borboletas”. No decorrer de sua apresentação a dupla interagiu bastante com o público cantaram todos os maiores sucessos de seus mais de 10 anos de carreira. ■
Ao centro a prefeita de Jandira, Dra. Anabel Sabatinne, com seu vice-prefeito, Gerson Cerqueira, a esquerda e o presidente da Câmara de Comércio Angola-Brasil, Eduardo Arantes, a direita, durante o evento.
Mercados
Apex-Brasil organiza Pavilhão Brasileiro na FILDA 2012
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) organizou o Pavilhão Brasileiro na Feira Internacional de Luanda (FILDA), principal evento multissetorial de Angola, que começou no dia 17 e foi até o dia 22 de julho. O espaço brasileiro, com 540 m², teve a participação de 22 empresas brasileiras dos setores de alimentos e bebidas, casa e construção e máquinas e equipamentos, que apresentaram produtos diversificados, tais como carnes, pescados, sucos de frutas, doces, chocolates, implementos e máquinas agrícolas, metais sanitários, utensílios domésticos e ônibus. A Apex-Brasil apoia a participação brasileira na Feira desde 2003. As estatísticas de comércio com Angola são positivas: o país, cujo PIB deve crescer a uma média de 9,2% ao ano até 2014 (segundo estimativas do FMI), atualmente importa US$ 14,1 bilhões ao ano, valor que teve um crescimento médio de 12,8% ao ano entre 2005 e 2010. Nesse mesmo período, as expor-
tações brasileiras para a Angola passaram de US$ 521,3 milhões, em 2005, para US$ 1,073 bilhão, em 2011. Estudo da Apex-Brasil sobre o país identificou boas oportunidades para as empresas brasileiras dos segmentos de alimentos e bebidas, máquinas e equipamentos e casa e construção. De acordo com o estudo, o Brasil já responde por 39% das importações angolanas de alimentos e bebidas, que chegaram a US$ 1,145 bilhão em 2010. Já no segmento de máquinas e equipamentos, Angola importou um total de US$ 785 milhões em 2010, e o Brasil respondeu por 14% deste total. Por fim, no complexo de casa e construção, o país importou US$ 223 milhões em 2010, sendo que 10% desse total foi vendido pelo Brasil. “Os números indicam que ainda há espaço e oportunidades a serem mais aproveitadas pelas empresas brasileiras, seja por meio da exportação direta, seja por parcerias com empresas angolanas”, comenta Mauricio Borges, presidente da Apex-Brasil.
14,4% maior do que o do mesmo período do ano passado. Para o continente africano, o Brasil exportou US$ 12,2 bilhões em 2011, 31,99% a mais do que no ano anterior. As exportações para Angola, em 2011, corresponderam a aproximadamente 9% do total vendido para o continente, e esse número irá aumentar ao longo de 2012 e 2013 devido a inúmeras ações governamentais de ambos os países, somadas a iniciativas importantes como as que a Câmara de Comércio Angola Brasil está efetuando. ■
Relações comerciais Brasil-Angola Em 2011, segundo dados do MDIC, o Brasil exportou US$ 1,07 bilhão para Angola, valor 13,37% mais alto do que o do ano anterior. Em 2012, de janeiro até maio, o Brasil exportou US$ 410 milhões para Angola, valor
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Comércio Exterior
Fortalecimento das Relações Brasil-Angola A Câmara de Comércio Angola Brasil - CCABr vem atuando há três anos com a missão de incrementar intercâmbios econômicos, culturais e turísticos entre angolanos e brasileiros, tendo ao longo deste tempo alcançado papel fundamental no desenvolvimento do relacionamento entre estes dois povos. Seu objetivo é consolidar e ampliar parcerias, gerar oportunidades e principalmente, aproximar brasileiros e angolanos, atuando como facilitadora do fluxo de informação e de conhecimento entre eles. Como membro da Associação de Câmaras Internacionais de Comércio da Associação Comercial de São Paulo, a CCABr é reconhecida pela credibilidade e forte atuação como uma representante legítima no Brasil dos interesses comerciais entre angolanos e brasileiros. 20
Para atingir seus objetivos a entidade oferece, por meio de profissionais altamente qualificados, uma série de serviços fundamentais para a realização dos negócios. Como resultado, os empresários brasileiros estão aprimorando as negociações com os angolanos, realizando negócios de qualidade e comercializando, cada vez mais, produtos de alto valor agregado. A CCABr, é o caminho mais rápido e seguro para você descobrir novos mercados e realizar negócios com Angola. Missões Comerciais a Angola Estas missões oferecem ao empresariado brasileiro a possibilidade de conhecer o mercado angolano, entender a cultura naquele país e ampliar seus investimentos contando com todo o suporte e o acompanhamento da CCABr.
O setor de cosméticos oferece ótimas oportunidades, assim como o setor farmacêutico, entre outros.
Missões Comerciais no Brasil
Publicações
Com este serviço oferecido, abre-se a possibilidade de órgãos de governos estrangeiros ou empresas privadas conhecerem a dinâmica de diferentes setores da economia brasileira, entenderem oportunidades conjuntas e alavancarem investimentos bilaterais.
A Revista DIKAMBA traduz a importância das relações bilaterais e comerciais entre o Brasil e Angola, trazendo temas como economia, comércio exterior, gastronomia, turismo, cultura, artigos e entrevistas e contribui muito para o aprofundamento das relações entre os dois países Nesta nova fase, as empresas terão com a DIKAMBA, a oportunidade de serem expostas de maneira positiva para o mercado brasileiro e angolano principalmente. A Revista circulará em Angola e no Brasil em Feiras de Negócios, ministérios, governos provinciais, principais municípios, consulados, embaixadas, assembleia nacional, câmaras de comércio, associações comerciais, empresas públicas e privadas e representações governamentais serão alguns dos pontos de distribuição, além de ter a sua
Missões Comerciais a outros países Conforme a necessidade de seus associados, a CCABr promove Missões Empresariais a diversos países, principalmente os de língua portuguesa. A ideia é que os executivos façam networking, explorem possibilidades de internacionalização dos negócios e comercializem produtos e serviços, além de estabelecer novas parcerias. Para contato envie email para: contato@angolabrasil.org.br
versão digital enviada para uma ampla base de dados selecionada. A Revista é o caminho natural para as empresas e investidores que pretendem participar, com seus produtos e serviços, do crescimento de Angola. As empresas que quiserem ter seus anúncios publicados na revista deverão enviar email para: revista@angolabrasil.org.br Patrocínio Ser um patrocinador das atividades da CCABr é estar institucionalmente ligado a uma entidade multi setorial preocupada com o desenvolvimento comercial entre Brasil e Angola, alinhada e engajada com as tendências e discussões atuais dos diversos segmentos do mercado e vinculada às principais empresas e executivos em território angolano e brasileiro. 21
Por que patrocinar Quem patrocina os eventos da CCABr, além de colaborar para o aprimoramento dos projetos da entidade, tem a oportunidade de desfrutar de um formato diferenciado de divulgação direta para um seleto e representativo grupo de associados. Trata-se de um canal especial para a busca de novos mercados, ampliação da rede de relacionamentos e fidelização de clientes. Para contato enviar email para: contato@angolabrasil.org.br
das empresas angolanas ao realizarem transações comerciais com empresas brasileiras, foi criado o Selo de Credibilidade da Câmara de Comercio Angola Brasil. Estes são alguns dos benefícios que às empresas angolanas terão quando negociarem com empresas brasileiras que tiverem o Selo de Credibilidade da Câmara de Comércio Angola Brasil: • • • •
Selo de Credibilidade CCABr Impulsionada pela proposta de ser reconhecida como “a plataforma de negócios brasileiros em Angola” e, simultaneamente, “a plataforma de negócios angolanos no Brasil”, a CCABr atua como base para o fortalecimento e diversificação dos negócios de seus associados, na atração de investimentos para a sua região, na ampliação do comércio bilateral e no incentivo à cooperação entre os dois países. Dessa forma, por iniciativa desta Câmara para melhorar a confiança 22
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Menor risco comercial; Certeza de negociar com empresa idônea; Remoção de barreiras comerciais; Vantagem competitiva diante dos concorrentes; Melhoria no desempenho do negócio; Gerenciamento dos riscos; Atração de novos investimentos; Melhoria do prestígio e da imagem para sua organização/marca; Redução de gastos; Ações com menos burocracia; Redução de perda; Desenvolvimento da comunicação interna; Melhoria da satisfação do cliente; Padronização dos processos e serviços internos; Sinergia entre os colaboradores; Eficiência nos controles dos processos.
A CCABr com mais esta iniciativa quer oferecer mais garantias às empresas angolanas de estarem negociando com empresas brasileiras que passaram por uma analise criteriosa de sua documentação e de seu histórico comercial, possibilitando a concretização de negócios com maior eficiência e segurança. Para contato envie email para: contato@angolabrasil.org.br Obrigado!
Eduardo Arantes Ferreira Presidente da Câmara de Comércio Angola Brasil
Turismo
Afro Negócio e Turismo Étnico Foi lançado, durante o primeiro Salão Baiano de Turismo, o programa “Bahia Capital do Brasil e do Afro negócio”. A iniciativa tem como objetivo desenvolver ações de intercâmbio com todos os países do continente africano, além dos Estados Unidos e Portugal, para destacar a Bahia como capital brasileira do afro negócio. Durante o evento, também foram apresentados os projetos “Trançadeiras Empreendedoras e da Mostra Brasileira Afro gastronômica” que será um dos atrativos do turismo étnico na próxima edição do salão em 2013. “Esses produtos são ações que estamos trabalhando para promover a Bahia e captar turistas para a Copa das Confederações e Copa do Mundo de 2014”. No estado de São Paulo o programa do Afro Negócio, esta sendo trabalhado nas cidades de Jandira, Tietê, São Paulo e Capivari com o objetivo de se promover o empreendedorismo, a inclusão social e abrir relações comerciais com Angola. As festas tradicionais da cultura negra também fazem parte da promoção do programa que irá apresentar os municípios com potencial para o afro negócio, agregando-se a estas ações a integração com roteiros e produtos turísticos afro étnicos.
No dia 30 de Setembro na cidade de Tietê durante a tradicional Festa de São Benedito, a Associação Nacional do Turismo Afro Brasileiro - ANTAB e o Circuito Internacional do Afro Negócio - CIAN, realizam o lançamento do Calendário Internacional de Turismo e Afro Negócio, onde irão constar eventos do setor negócios, roteiros de turismo e festas tradicionais como a de São Benedito e a de Peão de Boiadeiro de Jandira como atrativos para turistas que venham ao Brasil em busca de oportunidades de enriquecimento cultural e oportunidades para realização de grandes negócios.comenta o presidente do Circuito Internacional do Afro negócio e da Associação Nacional do Turismo Étnico-Afro, Francisco Silvino, responsável pelo projeto.
Seminário Internacional de Empreendedorismo, Turismo Étnico e Afro Negócio - Oportundiades com a Copa do Mundo 2014 Dia 19 de Novembro acontece no município de Jandira estado de São Paulo, o seminário Internacional de Empreendedorismo, Turismo Étnico e Afro negócio - Oportunidades com a Copa do Mundo de 2014, que será organizado pela empresa Ethinic Hair Beauty Assessoria e Eventos, a Associação Nacional do Turismo Afro Brasileiro - ANTAB, com apoio do Circuito Internacional do Afro Negócio, da Prefeitura Municípal de Jandira e da Câmara de Comércio Angola -Brasil. O evento que foi idealizado para apresentar o potencial da cidade na áreas de turismo étnico, sustentabilidade e geração de oportunidades para empresas que estejam em busca de espaços para a sua instalação, também tem como atrativo fomentar o afro negócio e todas as suas possbilidades. O projeto do evento esta a cargo do empresário Francisco Henrique Silvino, que idealizou o seminário tendo como respaldo a Lei Federal 12.288/2010 artigo 41 - Paragrafo Único. ■ Francisco Henrique Silvino 23
História
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
anos em pleno vigor
Foi através da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que se iniciou a construção da igreja nos idos 1711, com a união de negros escravizados e alforriados. Inicialmente localizada no Largo do Rosário, atualmente conhecida como Praça Antônio Prado, mas com o advento da urbanização a sede foi deslocadapara o Largo do Paissandú nas primeiras décadas do século XX. Ao lado da Igreja, existe a estátua da “Mãe Preta”, obra do escultor Júlio Guerra, implantada em 1955. Na década de 1930, o Largo do Paissandú era um ponto de era um ponto de reunião de intelectuais e boêmios. O Largo, é uma importante área da região central da cidade de São Paulo, no distrito da República. Apesar 24
das obras sociais mantidas pela igreja, a região é habitada por moradores em situação de rua. História As Irmandades surgiram na Europa na Idade Média, com o papel suplementar ao da igreja, buscavam integrar os excluídos, vitimas de preconceitos por serem de outras etnias, ou de classes mais desfavorecidas. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Largo do Paissandu, é a terceira mais antiga do Brasil. Foi construída no período colonial, época em que havia sérias restrições para os negros que quisessem frequentar as igrejas católicas tradicionais.
Hoje é considerada um símbolo de resistência dos movimentos de consciência negra, sendo, provavelmente, a instituição de negros mais antiga em atividade na cidade de São Paulo. Atualmente desenvolve um trabalho de preservação da cultura negra, ali nasceram importantes eventos dedicados à comunidade negra: Bonequinha do Café, o famoso Clube Aristocrata, bailes, além do importante movimento político intitulado: Frente Negra, o maior movimento político negro de São Paulo. Um de seus idealizadores Justiniano Costa, foi também juiz-provedor da Irmandade. A participação das mulheres, eleitas pelas mesas administrativas, exercendo o cargo de rainha e de juíza, foi um dos marcos revolucionário da participação feminina na história do Brasil No local são realizadas missas afro-brasileiras e ocorrem as comemorações pela libertação dos escravos, no dia 13 de maio, além de variadas manifestações politicas e artísticas. Há alguns meses a estatua da Mãe Preta, foi palco de uma manifestação, que tinha como objetivo denunciar a condição da mulher negra, com o intuito de despertar reflexões sobre o assunto.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos Largo do Paissandu, s/nº São Paulo • SP
O grito da Mãe Preta Há alguns meses a estatua da Mãe Preta, foi palco de uma manifestação, que tinha como objetivo denunciar a condição da mulher negra, com o intuito de despertar reflexões sobre o assunto. A intervenção foi ideia do historiador Pedro Guimarães, um dos membros do Coletivo 3 de Fevereiro, um
cenário artístico foi montado aos pés do monumento da Mãe Preta, foram entoadas canções em homenagem a Iemanjá e Oxum e um manifesto poético proferido, chamando atenção para a discriminação das babás. “Mesmo com muita chuva, a campanha conseguiu mobilizar um grande número de pessoas”. comenta Felipe Brait, um dos organizadores.
A Irmandade recebe pesquisadores, religiosos, pessoas de outras cidades, estados e do exterior interessados em conhecer o interior da igreja, que apresenta uma variedade de detalhes nas pinturas das paredes, nas vestimentas e adornos dos santos, entre outras preciosidades. ■ Cláudia Canto Jornalista e Escritora
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Política
Eleições 2012
“ Como era esperado, o MPLA, no poder desde 1975, venceu de forma esmagadora as eleições gerais de sexta-feira, 31 de Agosto de 2012, em Angola. Embora com menos votos do que em 2008, o partido de presidente José Eduardo dos Santos – reeleito por mais 5 anos – terá maioria qualificada na Assembleia Nacional e continuará a ser a força dominante da política angolana”. Principal centro de interesses brasileiros em África, Angola teve no ultimo dia 31 de agosto as primeiras eleições presidenciais desde o fim da guerra civil, em 2002. A oposição como sempre tentou de tudo para adiar o pleito. Favorito na disputa, o presidente José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979, se eleger a um novo mandato de cinco anos. Seu partido, o histórico, MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), dirige o governo desde a independência do país, em 1975. A eleição angolana, a terceira na história do país, teve a participação de nove partidos, que montaram listas fechadas de candidatos. O primeiro da 26
lista do partido mais votado se tornou o presidente, e a proporção dos votos determinou a composição da Assembleia Nacional, conforme a legislação eleitoral e a constituição em vigor. Primeira eleição e guerra civil O Presidente Eduardo dos Santos, cabeça de lista do MPLA, foi eleito pela primeira vez em eleição direta, já que no único pleito presidencial prévio, em 1992, a disputa foi suspensa antes da conclusão. Mas o principal partido da oposição, a Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola), acusou mais uma vez o MPLA de tentativa de fraudar as eleições. O presidente da sigla, Isaías Samakuva, inclusive fez o pedido para que a votação fosse adiada até que a CNE (Comissão Nacional Eleitoral) garantisse a “lisura” da votação. A CNE no entanto rejeitou o pedido e afirmou que as queixas de Samakuva eram infundadas - num rompante “savimista” ameaçou inclusive com ilações belicistas.
Mãe, cidadã, eleitora consciente exercendo o seu direito.
Presidente também vota.
Entre 1975 e 2002, a Unita e o MPLA protagonizaram uma guerra civil que, estima-se, deixou 500 mil mortos. Em 1992, os dois grupos disputaram a primeira eleição presidencial da história angolana. José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi, então líder da UNITA, foram ao segundo turno, mas o derrotado líder Savimbi não aceitou o resultado e liderou a retomada da guerra às vésperas da votação quando interrompeu o processo eleitoral. Com a morte de Savimbi em 2002, as duas siglas assinaram um acordo de paz e, em 2008, concorreram às eleições legislativas. O MPLA obteve 82% dos votos. Já a Unita recebeu 10% e tentou anular o resultado, alegando
fraude, mas acabou, assim como toda a comunidade e observadores internacionais, por reconhecer a vitória do partido do governo. Interesses brasileiros A eleição em Angola foi acompanhada com interesse pelo governo brasileiro, que tem no país africano, segundo maior produtor de petróleo do continente, um dos seus maiores destinos de investimentos externos. Desde 2006, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ofereceu a Angola US$ 3,2 bilhões (R$ 6,4 bilhões) em empréstimos para financiar obras ou serviços de empresas brasileiras no país africano. O banco já aprovou outra linha de crédito no valor de US$ 2 bilhões para repasses a partir de 2013. No ano passado, entre todos os países, Angola só recebeu menos empréstimos do BNDES que a Argentina. Os financiamentos ajudaram a inflar a comunidade brasileira em Angola,
estimada por uma associação de empresários nacionais, em 25 mil pessoas. O grande número de brasileiros no país é outro motivo para a atenção do governo. No início do ano, a pequena movimentação criada, sem muito sucesso, pela oposição contra Eduardo dos Santos fez com que, por precaução, a embaixadora brasileira em Angola, Ana Cabral, telefonasse a compatriotas para recomendar que permanecessem em casa até que a poeira baixasse. Economia e favelas A vitória do MPLA, encabeçado por José Eduardo dos Santos, por sólidos 76% dos votos, fez com que observadores internacionais, inclusive os brasileiros, não só rechaçassem as denúncias da oposição como elogiassem o pleito, sua organização e condução. Segundo a Economist Intelligence Unit, a economia de Angola poderá até 2016 ultrapassar a da África do Sul e disputar com a Nigéria, hoje segunda da lista, o posto de maior do continente. 27
A venda do petróleo angolano amparou a reconstrução, sobretudo por empreiteiras brasileiras, chinesas e portuguesas, de dezenas de estradas e pontes destruídas durante a guerra. Ferrovias foram recuperadas e ampliadas, Luanda, que nas últimas décadas inchou e se deteriorou, tem inaugurado em ritmo acelerado conjuntos residenciais, lojas, vias expressas e prédios públicos. As obras, evidentemente não chegaram ainda a melhorar a vida da maioria dos angolanos, que ainda moram em ‘musseques’ (favelas) ou em pobres aldeias no campo. Obra da Odebrecht em Angola As relações entre Brasil e Angola se estreitaram durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que nos últimos cinco anos esteve três vezes no país africano - a última delas já como ex-presidente, em 2011. O principal marqueteiro do PT, João Santana, esteve no comando da 28
campanha do MPLA, contratação atribuída a uma indicação de Lula. Dilma Rousseff também visitou Angola no ano passado. Embora não se posicione quanto à eleição, o governo brasileiro avalia que a realização do pleito indica importantes avanços políticos no país. Questionado no início do mês sobre os temores de fraudes na votação, Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência, disse que ‘há poucos países no mundo hoje onde eleições não sejam postas sob suspeita, sobretudo pelos que perdem’. Para o MPLA, a numerosa militância do partido - a sigla diz ter 5 milhões de membros - dispensa qualquer necessidade de recorrer a meios ilegais para obter a vitória. Em discurso antes da eleição, o presidente angolano exaltou a agremiação: ‘Somos o maior partido político de Angola e talvez mesmo da África’. ■ J.Junior
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Indústria
Angola Equaciona Industrialização A tendência natural é entender Angola como um país novo e promissor. Certo, contudo, não se leva normalmente em linha de conta, necessariamente, o país analisado em termos de camadas geológicas estratificadas e sobrepostas sem, contudo, contar com um tempo maior de cristalização, mas sim como uma sucessão de lapsos de tempo, com exceção do longo período da guerra interna caracterizada, fundamentalmente, por interesses externos, em um prolongamento da Guerra Fria. Com independência, em 1975, nas circunstâncias endógenas e exógenas em que ocorreu, segurança e alimentar a população martirizada pela guerra colonial, mormente com a destruição das infraestruturas, em boa parte já antes da independência, caracteriza essa fase. De um lado, o complexo militar, a organização política do Estado, e de outro, criação de um pólo comercial importador garantidor da sobrevivência da população, caracteriza esse primeiro momento da independência, acompanhada pelas lutas internas envolvendo três partidos. O comércio, com ampla e histórica tradição desenvolveu-se: é o ciclo das importações que vem até nossos dias. Com o fim das lutas internas foi possível ao Estado Angolano lançar mão de um amplo programa de reabilitação das infraestruturas: estradas, pontes, vias férreas, aeroportos, barragens, linha de transmissão e construção de hospitais, escolas, universidades e edifícios para instalar a administração do Estado, a par do lançamento de redes de telecomunicações, etc. Casas, apartamentos, isto é construção civil, -o que criou uma bolha financeira, no que toca à construção de luxo- rede de esgoto e fornecimento de água são outro setor que ocuparam e ocupam médias e grandes empresas de construção.
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A consolidação do Estado, a criação da base legal para o exercício do comércio, do setor bancário e do setor especificamente produtivo, a par dos serviços passou a caracterizar as tarefas prioritárias do Estado, em clima de paz, reconciliação nacional proposta pelo Presidente José Eduardo dos Santos. Uma nova etapa vem-se configurando: o pólo industrial de Viana, na grande Luanda, está praticamente esgotado! Hoje já é difícil obter um terreno disponível. É, sem dúvida, uma nota alvissareira. Contudo, cabe uma reflexão: que indústria para Angola? O Estado Angolano pretende sair de um quadro de exportações centradas no petróleo e nos diamantes. A contabilidade pública já reflete o desenvolvimento de outras atividades e serviços com participação no PIB. Cabe analisar a relação entre a produção de petróleo na concepção da chamada “doença holandesa”, - que felizmente não ocorre em Angola – com o desenvolvimento do país, especificamente no campo da industrialização. A literatura relativa à produção petrolífera e suas repercussões econômicas, mostra entre outras conclusões, que os rendimentos do petróleo, quando não devidamente aplicados desestimulam processos de industrialização, favorecendo as importações.
Como se evitar a tradicional receita do bolo na perspectiva dos modelos de planificação, da substituição das importações? Angola sabe que convive com a Terceira Revolução Industrial e Primeira de Serviços, com a globalização. Nesta perspectiva, a Fundação José Eduardo dos Santos ( FESA), está programando para meados de setembro de 2011, um Simpósio Internacional em que se pretende proceder a reflexões de fundo em relação ao tipo de industrialização para Angola, modelos de industrialização e a cadeia produtiva, agronegócio, compreendendo o financiamento do processo industrial, formação de quadros e toda uma série de vetores fundamentais a essa reflexão. Que modelos de industrialização? Quem está interressado no processo, o Estado, a iniciativa privada? A relação entre a industrialização e o mercado interno, sua capacidade. Possibilidades de exportar para a região. É possível uma indústria petrolífera a curto e médio prazo? O aprofundamento destas reflexões demonstra a escolha por modelos exeqüíveis. Cabe ao Brasil, antes de se afoitar na corrida à industrialização anunciada, participar no quadro de reflexões sobre a cadeia industrial e assim colaborar exitosamente nesta nova fase da Nação Angolana. ■ Fernando Mourão 31
Perspectivas
Em busca de um novo RUMO Trinta e cinco anos depois da proclamação da independência, mas apenas há oito em paz efetiva, Angola procura realizar simultaneamente três tarefas gigantescas: acabar de sarar as feridas de 27 anos de guerras, reconstruir e modernizar o país e edificar uma autêntica democracia. Se o processo de reconciliação, de um modo geral, parece correr bem, os elevados índices de crescimento dos últimos anos estão longe, por enquanto, de se transformar em autêntico desenvolvimento, que beneficie todos os angolanos, enquanto a democracia ainda é muito frágil e embrionária. Como avaliar, pois, estes 35 anos? O copo está meio cheio ou meio vazio?
Na ausência de sondagens e pesquisas que permitam aferir a opinião dos angolanos sobre o estado do país, a África21 enviou um questionário a um dirigente do partido da oposição (UNITA), assim como a algumas figuras consideradas independentes, pedindo-lhes um balanço resumido da situação, nos domínios político, econômico e social. Duas semanas depois, quando escrevíamos este texto, os dois políticos contatados ainda não haviam respondido. Considerando, entretanto, recentes manifestações públicas dos dois partidos, não será difícil prever que ambos terão visões radicalmente antagônicas acerca disso, entre o pessimismo e o otimismo, mais exagerado ou mais temperado, conforme os seus porta-vozes. Por exemplo, o Presidente José Eduardo dos Santos, na sua mensagem 32
sobre o estado da nação, proferida no dia 15 de Outubro na Assembléia Nacional, afirmou: “Somos uma nação independente que ao longo dos seus trinta e cinco anos de existência comprovou que tem sabido concretizar paulatinamente os sonhos do seu povo e os seus desejos mais profundos, com determinação, coragem e vontade de vencer”. Depois de enumerar exaustivamente os esforços das autoridades para ultrapassar os efeitos internos da crise mundial ocorrida entre 2008 e 2009, acrescentou: “Espero que os indicadores favoráveis que acabo de referir sejam levados em consideração na hora de se fazer uma avaliação atualizada e honesta do desempenho do Executivo”. As palavras de Eduardo dos Santos foram minimizadas pelo líder da UNITA, Isaías Samakuva. “Um discurso normal”, disse ele. Recentemente, Sa-
makuva, comparando a situação angolana com a de Moçambique, onde ocorreram graves tumultos nos primeiros dias de Setembro, por causa de medidas impopulares tomadas pelo Governo de Maputo, chegou a dizer que o estado de Angola, em geral, “é pior” do que o do país do Índico. Observadores da situação nos dois países consideraram essa opinião pouco crível. Entretanto, outro dirigente político da oposição, Nelson Pestana, do Bloco Democrático (em formação), também foi contundente em relação à situação atual de Angola. “Somos uma potência com pés de barro”, afirmou ele, em entrevista publicada a 15 de Outubro pelo Novo Jornal. Apesar da adoção da democracia representativa em 1991, da consagração constitucional das eleições e dos direitos, liber-
“Inglês Pinto diz que Angola é um exemplo em África na obtenção da paz e da estabilidade política.”
dades e garantias dos cidadãos, assim como da existência de um parlamento multipartidário, entre outros, Pestana acha também que o país vive sob uma ditadura. “Eu não tenho dúvida nenhuma”, disparou. Recorde-se que, nos primeiros 16 anos da sua existência de Estado independente, de 1975 a 1991, Angola foi governada pelo MPLA, sob um regime de partido único de cariz marxista-leninista. Durante esse período, o Governo, apoiado por Cuba e pela antiga União Soviética, enfrentou uma rebelião armada, a UNITA, apoiada pelo apartheid sul-africano e pela administração norte-americana. Em 1991, um acordo entre o Governo e a UNITA permitiu a instauração do multipartidarismo e a realização das primeiras eleições em 1992. Vencida nas urnas, a
Sérgio Calundungo
UNITA reatou a guerra, o que impossibilitou novas eleições. Com a derrota militar da UNITA, em 2002, os ciclos eleitorais foram retomados em Setembro de 2008. Visões independentes Três figuras da sociedade civil entrevistadas pela África21, à margem daquelas visões partidárias, consideraram “aceitável” o atual estado do país. A paz, a estabilidade e a preservação da integridade territorial foram os aspectos mais positivos destacados por Inglês Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados de Angola, Sérgio Calundungo, diretor da ADRTA, talvez a mais ativa organização da sociedade civil e local, e Carlos Figueiredo, engenheiro agrônomo e membro do Observatório Político-Social Angolano (OPSA) nas
primeiras três décadas e meia de existência do país. Os três elogiaram também a maneira como as autoridades geriram o período imediatamente a seguir à derrota militar da UNITA, que abriu caminho para a instauração da paz, após 27 anos de guerras ininterruptas. “Exemplar!”, disse Carlos Figueiredo. Por seu turno, Sérgio Calundungo considerou “assinalável” o processo de reconciliação em Angola, destacando o atual consenso social “de que não há alternativa à reconciliação entre as partes diretamente envolvidas no conflito”. Finalmente, Inglês Pinto concordou que Angola pode ser considerado um exemplo em África, “no que se refere à obtenção da paz e da estabilidade política”. Calundungo fez questão de observar, que o caso angolano não é único. O diretor geral da ADRA citou os exemplos da África do Sul, Ruanda, Burundi e Moçambique como outros casos de sucesso, em matéria de reconciliação. Para o bastonário da Ordem dos Advogados, Inglês Pinto, a reconciliação “é um processo”, que ainda não está terminado. Já Carlos Figueiredo defendeu que dizer, por exemplo, como faz a UNITA, que os membros da referida organização não foram suficientemente incluídos economicamente “é uma má forma de colocar o problema”. Para ele, 33
todos têm de ser mais incluídos, mas “na base do mérito e não das armas”. A dimensão da pobreza, as desigualdades sociais, as assimetrias regionais e o frágil respeito pelos direitos econômicos, políticos e sociais da população – legítimas reivindicações dos angolanos durante o período colonial e ainda não totalmente satisfeitas no pós independência – foram os aspectos mais negativos apontados. Pinto, Calundungo e Figueiredo foram unânimes em reconhecer o crescimento econômico registrado nos últimos oito anos, depois do advento da paz, mas afirmaram que ainda não há uma correspondência plena entre esse crescimento e o nível de vida da maioria da população. Para Carlos Figueiredo, o crescimento cria oportunidades e abre perspectivas aos cidadãos. Ele acrescentou, contudo, que “há uma repartição muito desigual – e não assente no mérito – das oportunidades que o crescimento econômico cria”. Segundo Inglês Pinto, o crescimento é inquestionável, “mas pouco harmonioso”. Nenhuma dessas três personalidades da sociedade civil se mostrou satisfeita com o estado da democracia em Angola. Nessa matéria, todas elas têm uma visão que vai além das meras dicotomias partidárias. Assim, Sérgio Calundungo identificou como prin34
cipais lacunas a falta de cultura democrática por parte de todos os partidos políticos, sem exceção, assim como das instituições da sociedade civil e dos próprios cidadãos. Por outro lado, Carlos Figueiredo apontou a falta de autonomia das diferentes instituições em relação ao partido no poder, o clientelismo e o caráter propagandístico da imprensa estatal, em detrimento de uma postura jornalística profissional, como exemplos das debilidades do sistema democrático angolano. Inglês Pinto, depois de referir que a construção da democracia pode implicar avanços em alguns sectores e recuos em outros, afirmou que a falta de segurança dos cidadãos acerca da possibilidade de realização dos direitos pessoais ou de
grupo constitui um sintoma do défice democrático existente. O peso da guerra Dos 35 anos de independência de Angola, 27 foram passados numa guerra que assumiu várias formas e que, a dada altura da história do país, parecia não ter solução. Sob o argumento – intelectualmente correto – de que a guerra não justifica tudo, setores da oposição angolana e algumas entidades (não todcas0 da sociedade civil tendem a desvalorizar o impacto do conflito militar no estado geral do país. Alguns analistas dizem que essa tendência foi uma das causas da espetacular derrota da UNITA nas eleições legislativas de 2008, as quais, na verdade, foram uma espécie de plebiscito entre os que tinham decidido reatar a guerra, em 1992, e aqueles que acabaram por vencê-la e, assim, pacificar o país. O peso da guerra na atual situação de angola foi justamente ponderado por Sérgio Calundungo, Inglês Pinto e Carlos Figueiredo, nos seus depoimentos à África21. Assim, para o primeiro, “a guerra teve um peso enorme naquilo que é a Angola dos nossos dias, porque, para além dos danos nas infra estruturas, perda de vidas humanas e seqüelas psicológicas e sociais, implicou também o desvio de recursos humanos e financeiros para os esforços militares, em detrimento de outras prioridades”.
Na avaliação de Inglês Pinto, “a guerra constitui o fator principal que levou à degradação material e social do país, assim como a inoperacionalidade parcial ou à ineficiência do Estado em vários setores sob a sua responsabilidade”. Por seu lado, Carlos Figueiredo sublinhou que a importância da guerra na atual situação de angola foi “terrivelmente grande”. Segundo ele, o conflito militar “contribuiu para se cultivar a lei do mais forte, além de ter afetado milhões de pessoas”. As ponderações de Calundungo, Pinto e Figueiredo coincidem com os dados avançados pelo presidente José Eduardo dos Santos na Assembléia Nacional acerca da situação do país em 2002, quando terminou a guerra pós-eleitoral. Naquele ano, lembrou o estadista, as destruições haviam atingido milhares de escolas, centros hospitalares, postos médicos e a circulação rodoviária estava seriamente afetada em todo o país, em especial por causa da minagem de estradas e caminhos. Havia na altura centenas de campos minados. Mais de 70 por cento da rede de estadas do país encontrava-se em avançado estado de degradação e mais de dois terços das 4000 e pontões existentes estavam parcial ou totalmente destruídos. Por outro lado, as principais ferrovias do país (Luanda, Benguela e Namibe) estavam inoperantes, tam-
bém devido à existência de minas, bem como à destruição dos caris e à vandalização das estações. A destruição atingia igualmente os setores de energia e águas. Assim, as estações de tratamento e captação de água de Luanda, Malanje, Uíge, Huambo, Bié e outras estavam totalmente destruídas ou tinham sofrido sabotagens graves, enquanto tinham sido danificadas, pilhadas, ou sofrido atos de sabotagem várias barragens, subestações e linhas de transporte e distribuição de energia elétrica nas províncias de Luanda, Bengo, Benguela, Huambo, Huíla, Uíge, Bié, Kuanza Sul e Kuanza Norte. Um elevado número de cidades e vilas, entre elas várias capitais provinciais, exibia as marcas do cerco e dos bombardeamentos de que tinham sido alvo. Edifícios e estruturas sociais essenciais estavam totalmente destruídos ou inoperantes . Os dados existentes comprovam a avaliação segundo a qual os dez anos de guerra pós eleitoral (1992-2002) foram muito mais destrutivos do que os 16 anos iniciais de guerra civil, mesmo levando em conta o envolvimento de vários exércitos estrangeiros nessa primeira fase da recente guerra angolana. Desde logo, uma diferença fundamental serve para distingui-las: entre 1975 e 1991 a guerra praticamente passava-
-se apenas nas áreas rurais, enquanto depois de 1992 atingiu pela primeira vez a maioria das cidades do país. Novo começo A partir de 2002, a situação em Angola começou gradualmente a transformar-se. Até 2008, o país foi dos que mais cresceu em todo o mundo, a uma taxa média anual de 14,6%. O Produto Interno Bruto (PIB) multiplicou-se por 2,6, enquanto o indicador das condições gerais de vida das populações teve um aumento médio anual de 20%. A balança de pagamentos teve um saldo positivo em todos os anos, entre 2002 e 2008. A taxa de inflação caiu de 106%, em 2002, para 13% em 2008 (em 1995 era superior a 5000 por cento). As reservas internacionais líquidas, a 31 de Dezembro de 2008, eram de 18,12 mil milhões de dólares. A crise financeira e econômica mundial iniciada no final de 2008 atingiu fortemente Angola, sobretudo por causa da brusca descida do preço do petróleo e dos diamantes no mercado internacional. Em Dezembro de 2008, por exemplo, o petróleo tinha baixado de 100 dólares para 30 dólares o barril. O impacto dessa descida na receita tributária do país foi extraordinário (dois terços dessa receita, note-se, dependem do petróleo), o que levou a uma forte desaceleração das obras 35
Datas Marcantes 11 de Novembro de 1975 O MPLA proclama a independência de Angola e Agostinho Neto é nomeado Presidente do país, enquanto a FNLA e a UNITA se refugiam no interior, procurando organizar-se para levarem a cabo uma luta de guerrilhas contra o Governo, com o apoio, respectivamente, da República do Zaire e do apartheid sul-africano. Março de 1976 As tropas angolanas e cubanas expulsam as tropas do apartheid do sul
de reconstrução que tinham atingido o seu auge nos três primeiros trimestres de 2008, uma vez que o Estado foi obrigado a atrasar os seus pagamentos a todas as empresas responsáveis por essas obras. Além disso, no primeiro trimestre de 2009, registrou-se no país uma procura inusitada e especulativa de divisas, o que provocou a redução abrupta das reservas internacionais, as quais atingiram um limite inferior a 13 mil milhões de dólares. Isso provocou uma intervenção de emergência das autoridades, que tomaram uma série de medidas de natureza fiscal e monetária, conseguindo reduzir o excesso de liquidez existente na economia e evitando uma crise cambial de proporções mais graves. No fim de 2009, as reservas do país já estavam novamente estabilizadas. Ao mesmo tempo, em Setembro desse ano, o Executivo assinou um acordo de sand by com o Fundo Monetário Internacional (FMI), no valor de 1,4 mil milhões de dólares, para socorro da balança de pagamentos do país. Apesar da crise, a economia angolana cresceu 2,4% em 2009. Em 2010, a expectativa de crescimento é de 4,5% (uma notícia é particularmente boa: o setor não petrolífero começa a superar o setor petrolífero 36
de Angola, mais tarde seguidas do exército zairense, a norte. Novembro de 1976 Pressionado pela antiga URSS e pelos seus aliados internos e hostilizado pelos EUA, o MPLA transforma-se em partido marxista-leninista e alia-se expressamente a Moscovo. 27 de Maio de 1977 Nito Alves, dirigente do MPLA, tenta um golpe de Estado, com o apoio da URSS e de setores do PCP.
em termos de crescimento). Um dos fatores que está presentemente a contribuir para a relativa dinamização da economia angolana é o início do pagamento da dívida interna por parte do Estado (dos 6,8 mil milhões estimados, foram pagos 2,7 mil milhões, tendo o remanescente sido reescalonado, graças a acordos com todos os credores). Os fatores macoeconômicos também estão controlados. As reservas internacionais atingiam, em Setembro deste ano, 16,99 mil milhões de dólares, quase o máximo registrado há dois anos.
10 de Setembro de 1979 Agostinho Neto morre em Moscovo, de doença. 20 de Setembro de 1979 José Eduardo dos Santos, então com 37 anos, sucede a Agostinho Neto. 1980 Ronald Reagan sobe ao poder nos Estado Unidos da América e aumenta o apoio à UNITA, transformando-a no principal instrumento de desestabilização de Angola.
Os avanços econômicos de Angola parecem ser mais reconhecidos no exterior do que no interior do país. A dificuldade de comunicação do Executivo é apontada por muitos observadores locais. Mas mesmo aqueles que reconhecem os progressos do país em termos de crescimento e, em especial, de reconstrução de infra-estruturas, chamam a atenção para um aspecto crucial: a necessidade de distribuir de maneira mais equitativa os rendimentos nacionais. “O país terá de fazer avanços significativos no plano da redistribuição dos rendimentos e da correção das assimetrias existentes”, afirmou, por exemplo, o diretor gera da ADRA, Sérgio Calundungo. Ele apontou a necessidade de políticas e programas capazes de provocar a elevação do nível social dos cidadãos como uma das prioridades imediatas das autoridades. O bastonário da Ordem dos Advogados, Inglês Pinto, defendeu também “justiça na distribuição”, para que o crescimento econômico “tenha reflexos na melhoria de vida de todos”. Já o membro do OPSA, Carlos Figueiredo, à pergunta da África21 sobre as prioridades do Executivo, neste momento, foi direto e incisivo: “Combater a pobreza”. ■ João Melo
começar
de novo No dia 11 de Novembro de 1975, Angola proclamou unilateralmente a independência, na voz do seu líder, o médico, poeta e nacionalista António Agostinho Neto, presidente do MPLA, uma das três organizações que tinham lutado contra o colonialismo português. As outras duas – a FNLA e a UNITA – refugiaram-se no interior, dando início a uma guerra civil que só terminaria 27 anos mais tarde. O MPLA instaurou um regime de partido único, de cariz popular. Tudo isso correspondia às circunstâncias históricas da época. O continente africano era então dominado por regimes de partido único, de direita (a maioria) ou de esquerda. O novo país nascera em condições extremamente difíceis, invadido a norte e a sul por poderosos exércitos estrangeiros. A sua sobrevivência deveu-se ao grande apoio popular de que gozava o MPLA, assim como à ajuda militar externa, com destaque para a Cuba de Fidel. Um ano mais tarde, e fruto de uma série de factores, internos e externos, o MPLA radicalizou a sua orientação política, transformando-se em partido marxista-leninista e adoptando o “socialismo científico” como modelo de desenvolvimento do país.
Em 1979, Agostinho Neto morreu inesperadamente em Moscovo, vítima de doença, sendo substituído por José Eduardo dos Santos, então com 37 anos. A pretensão de Angola, nos primeiros anos de independência, era ser a “trincheira firme da Revolução em África”. Porém, o sonho socialista durou pouco, para que contribuiram tanto a falta de condições objectivas internas como as pressões externas, cuja máxima expressão era a guerra mantida pela UNITA, com o apoio do apartheid sul-africano e dos EUA. No final da década de 80, o modelo dos primeiros anos de independência estava esgota, política, econômica, social e, sobretudo, militarmente. Em 1990, o MPLA abandonou o marxismo-leninismo e o “socialismo científico”, adoptou o socialismo democrático, substituiu o sistema de partido único pelo multipartidarismo e aderiu à economia de mercado. As mudanças eram as condições necessárias para a assinatura de um acordo de paz com a UNITA. Este último, assinado em 1991, marcou as primeiras eleições gerais da história de Angola para os dias 28 e 29 de Setembro de 1992.
Contrariamente às expectativas da maioria das potências ocidentais, o MPLA ganhou as legislativas e o Presidente José Eduardo dos Santos ficou à frente na primeira volta das presidenciais. Savimbi e UNITA não gostaram e reataram a guerra, em Outubro de 1992, lançando o país numa espiral de violência e destruição muito maior do que os primeiros 16 anos de guerra civil. Uma das consequências foi a interrupção dos ciclos eleitorais. Em 2002, a UNITA foi derrotada militarmente e a paz estabelecida de maneira definitiva. O país entrou num período de intensa reconstrução, tornando-se uma das nações de maior crescimento econômico no mundo. Em 2008, foram realizadas as segundas eleições legislativas, novamente ganhas pelo MPLA. Em 2009, foi adoptada uma nova Constituição, que substituiu o semi-presidencialismo anterior por um presidencialismo de base parlamentar, considerado pela esmagadora maioria dos constituintes mais adequado à necessidade de estabilidade institucional do país, após quase três décadas de guerra. As s eleições foram realizadas. E agora? ■ João Melo 37
Política
O debate político é por excelência um fórum onde se exprime várias correntes de opinião sobre a visão da sociedade, para o desenvolvimento de um Estado-Nação.
A democracia e os seus desafios Um debate é um processo de exame de um problema que implica uma discussão animada, algumas vezes dirigida, entre pessoas de diferentes opiniões. A discussão de um problema no seio de uma Assembleia Parlamentar, por exemplo o debate actual em Angola, do Pacote legislativo sobre a Comunicação Social nomeadamente dos projectos de Lei da Radiodifusão, do Conselho da Comunicação Social, da Televisão, da Publicidade e do Estatuto do Jornalista. A política quanto a ela, analisa a forma de poder exercer os princípios da base (...) nos Estados e nas Instituições. Por exemplo os direitos políticos: direitos em virtude dos quais um cidadão pode participar activamente no exercício do Poder, directamente ou através de um voto. Um debate político é por excelência um fórum onde se expri38
mem várias correntes de ideias, projectos de sociedade, visão sobre o futuro da industrialização de Angola, de ponto de vista político, social, econômico e cultural. É um exercício político participativo de livre expressão onde se define as balizas e lança-se apelos aos órgãos de soberania duma Nação, das organizações internacionais consista a denunciar uma situação de violação dos directos humanos, de crime contra a humanidade, de má Governação ou de clientelismo etc. E muitas vezes para elucidar e sensibilizar a opinião pública sobre uma situação crítica e que necessita um profundo debate. Como tal sublinhou o Professor e Historiador Joseph Ki-ZERBO (falecido) no seu livro “L´Histoire de L´Afrique Noire”, na página 218, sobre a reacção do Papa Leon XIII escreveu:
“O esclavagismo repugna a religião e a dignidade humana. Nos fomos dolorosamente afectados sobre o recito das misérias que afligem a população inteira de certas partes de África profunda. É doloroso e horrível constatar, maneira que recebemos a informação de repórteres credíveis, que quatro centros mil africanos sem distinção de idade nem sexo, foram desagregados violentamente cada ano das suas aldeias, com mãos algemadas, chicoteados para serem vendidas como animais”. De referir que este tráfico de escravos suscitou vivos debates políticos durante muitos séculos no sei das instituições políticas, sociais particularmente em todas as igrejas confundidas na época denunciando com vigor a esta prática desumana. De salientar que graças a estes debates virilantes puse-
Foto de Rev. Dr. Armando Rodríguez Jr.
ram um termo ao tráfico do esclavagismo. Em conformidade do que precede, em todas as nações democráticas os debates políticos animados com racionalismo e objectividade jogam um papel fundamental para a boa governação, e permitem a gestão transparente dos assuntos do Estado e do desenvolvimento da Nação. Segundo o Relatório Mundial do PNUD-2002 - Programa das Nações para o Desenvolvimento sobre o desenvolvimento Humano de 2002 focalizado sobre a ideia de que o êxito do desenvolvimento é um assunto político e não económico. Reduzir a pobreza necessita um crescimento económico equitativo, mas igualmente um poder político para os pobres. Porém é imperativo suscitar os debates políticos no seio das Insti-
tuições do Estado com todos os partidos políticos confundidos. Mais uma vez parabenizamos o trabalho excelente do Ministério de Comunicação Social, pelo facto de fazer consultas populares aos órgãos do Estado, partidos políticos com assento no Parlamento e a sociedade civil. Estas contribuições dos órgãos do Estado, dos partidos políticos, da sociedade civil são excelentes para recolher e compactar opiniões e propostas no seio de toda população angolana. É na verdade um verdadeiro exercício democrático. O documento da agência das Nações Unidas (PNUD) refere a estender os debates em todas comunidades na busca de soluções, propostas, sugestões e recomendações apropriadas para o bem-estar da Nação. De acordo com
o Relatório (PNUD-2002), primeiramente é preciso um verdadeiro debate sobre as políticas e práticas do crescimento económico e social. Segundo, é um aspecto fundamental, a participação democrática é um instrumento essencial e chave do desenvolvimento, apura o documento. Num verdadeiro sistema democrático os debates políticos construtivos e coerentes são essenciais para facilitar os governantes na implementação de um Projecto de Sociedade equilibrado e equitativo. Para o sociólogo francês Gerorges Burdeau: “A democracia política é fundada sobre as virtudes da discussão, agendamento dos seus órgãos e iniciar o debate...” ■ Frederico Narciso Kuntuala Jornalista e Criminólogo Social 39
Recursos Naturais
Águas de Angola vitais e estratégicas
Seguramente, Angola é uma nação que não pode estar ausente da pauta das avaliações do continente africano e da conjuntura mundial. Sua posição geográfica, conectando África Central e Austral, seu imponente acervo territorial e vastas riquezas naturais, realçam o país num contexto em que as commodities se afirmaram enquanto fator crucial na engenharia econômica global. Contudo, poucos têm noção do prodigioso capital hídrico angolano. Num mundo no qual a água - um recurso natural essencial - é cada vez mais gravada pela escassez, Angola desponta como possível provedor mundial de água doce. Além da abundante rede hidrográfica, a disponibilidade angolana per capita do líquido é também uma das maiores do mundo. Ao mesmo tempo, a especialíssima configuração geográfica pertinente às suas águas de superfície assegura ao país influente papel geopolítico. Recorde-se que no tocante à África Austral, estamos diante de uma problemática hídrica muito complexa. Uma notação essencial é que 70% das águas regionais são 40
compartilhadas por no mínimo dois Estados soberanos e que no conjunto, a região vive um quadro de acelerada escassez de água. Nesse contexto, um dado matricial é o Planalto do Huambo. Conhecido como “Caixa d’água de Angola”, essa magnífica obra natural, situada no plexo solar angolano, abriga as nascentes formadoras do Cuanza (cujo curso é 100% angolano), e ademais, contribui para a vazão dos rios Ocavango, Zambeze, Cuvelai, Cunene e muitos tributários da margem esquerda do Congo, cujas águas que se encorpam em Angola antes de escoarem para os países vizinhos. Assim, Angola detém do ponto de vista geográfico papel-chave na gestão da rede hidrográfica regional. Isso explicaria o fato de Angola ter adiado a assinatura do Protocolo de Águas Partilhadas da África Austral até 2003, explicitando uma “quebra de braço” no plano diplomático firmado na grande capacidade hídrica do país. Angola é um país que tem superado enormes dificuldades e que trabalha para posicionar-se enquanto uma nação africana moderna, dinâmica e atuante. Disposição essa que tem na água uma das assertivas mais instigadoras a respaldar a decolagem econômica. Aspecto que requer acompanhamento, estudos pontuais e avaliações de longo prazo, fundamentais para se identificar o papel vital das águas doces de Angola. ■ Maurício Valdman Pós-Doutor em Geografia pelo Instituto de Geociências da UNICAMP e Colaborador do Centro de Estudos Africanos da USP
Crônica Como anda o
design
da sua empresa
Num final de semana estava pintando uma aquarela na tranquilidade do lar - bermudão, havaianas (não vou pagar o merchandising) e assim, no maior relax, sou interrompido pelo tocar insistente do telefone. Olhei para ele, mas como ninguém da família se dispôs em atendê-lo, não tive alternativa. - Alô! - Engelmann? - Sim! - Aqui é o Antônio Carlos, sou gerente de marketing da Sbrobows Corporation e a Anita, uma colega de trabalho, passou-me seu telefone. - Sim, a Anita... (quem é Anita?) - Então, ela disse que você trabalha com design gráfico e estamos precisando fazer uma nova identidade visual para a nossa empresa. Você faz esse tipo de trabalho? Fiquei mudo durante segundos, no meu cérebro estava a pergunta: Se a Anita deu meu telefone para ele, significa que ela já deveria ter dito que eu trabalho com design gráfico. Mas enfim, todo mundo tem direito a uma pergunta idiota. E ligar num sábado? - Sim, faço sim. - Pois é - você poderia passar por aqui na segunda para conversarmos? - Depende! - Como assim, depende? - Sim, depende do seu budget? - Ah, a verba? Bem, estamos em contenção de despesas, não é muita. - Quanto é? - Não é muita! - Bem, não quero ser arrogante ou prepotente, mas acontece que o tempo que eu vou gastar para ir até a sua empresa, aguardar, conversarmos e depois de me empolgar com o projeto, você me dizer que o seu budget é de R$.1.000,00 (mil reais), desculpa meu caro, mas não irei até ai. - Como você sabe que são mil reais?
- Experiência, tonalidade de voz, defensivas - conheço essa forma de abordagem. - Bem, é que consultamos outra pessoa e ela cobrou 500 reais – e olha que essa pessoa vai fazer o novo logo, as artes dos envelopes, papel timbrado e tudo mais. Como a Anita disse que você é muito bom, que fez trabalhos importantes, resolvemos consultá-lo. - Que legal, agradeça a ela por mim, mas não vai rolar. (Quem é essa Anita?) - Não quer saber de detalhes? - Não, ou melhor, sim! Responda-me apenas uma pergunta. Quanto vale a tua empresa? Há quanto tempo ela está no mercado? - Ah, estamos no mercado há mais de 10 anos. Sei lá, acho que pelas instalações, carteira de cliente, hummm... vou chutar, mas acho que vale pelo menos uns 120 milhões. - Então pense comigo: se a sua empresa vale 120 milhões, você acha que a representação simbólica, que é a marca, o logo, vale só mil reais? - Mas é só um desenhinho! - Se você pensa assim, você não é gerente de marketing. - Não precisa ofender! - Não é ofensa, é só uma constatação. Preciso desligar, minha aquarela está secando. Passe muito bem! - Espera, espera. Quanto o senhor cobraria para fazer a nova identidade? - Pelo menos 30 mil reais. - Trinta mil? - Pois é, traduzir uma empresa de 120 milhões em um símbolo que traduza a atividade da empresa, sua estrutura, seu histórico, seu comprometimento com o cliente e qual a imagem que a empresa deseja transmitir, vale pelo menos 0,025% do valor dessa empresa. E olha que geralmente eu cobro 0,05% ou acordamos um valor justo, que fique adequado às duas partes.
- Nossa... - Obrigado pela ligação e agradeça a Anita. (Quem é essa Anita?) Abraços! - Segunda-feira o telefone tocou às 7 da manhã. Estava tomando meu café e era novamente o Sr. Antônio Carlos. - Alô! - Engelmann? - Sim, bom dia! (o cara me liga e nem dá bom dia) - Bom dia! É o Antônio Carlos da Sbrobow. Então, no sábado eu conversei com nosso presidente, ele ficou pensativo, mas concordou com o senhor. Ele quer saber se o senhor pode vir até aqui para conversarmos. - Só às 16 horas, pode ser? - Claro, ficaremos aguardando. Anotei o endereço, entrei no site da empresa (horrível) e então, às 16 horas daquela segunda-feira, fui até a Sbrobow conhecer pessoalmente o Sr. Antônio Carlos, seu presidente e respectiva diretoria. Mas meu sexto sentido já dizia que seria apenas um passeio, e não uma visita comercial. Na reunião expliquei sobre o que penso de uma marca, algumas técnicas que utilizo no meu trabalho, falei sobre cores, legibilidade, tipografia, enfim, acabei me empolgando (isso sempre acontece) e dei uma aula para os participantes sobre identidade visual. Todos ficaram impressionados, mas o resultado eu já tinha lido nos olhares atentos de cada um. E o final da história? Bem, o filho de um dos diretores fez a nova identidade visual. Olha que o garoto leva jeito com o Adobe Illustrator, mas é praticamente cópia de uma grande empresa canadense. Isso vai dar uma encrenca... Então voltamos a pergunta inicial: - Como anda o design na sua empresa? ■
Eduardo Engelmann 41
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