2 minute read

Reflexão e reflexos

Pois é: para quê? Isto compete a nós responder. Se nada soubermos responder, pelo menos temos que refletir para aprender a viver ou viver de modo diferente, linda mensagem do vírus atual. Viver de modo diferente é sempre aprender a viver sendo “eternos aprendizes”. Nada, no acontecer de nossa vida, vem definitivo. Nada senão o amor, nem a própria vida, já que, para os que creem e os que dizem não crer, mas são visceralmente marcados pela essência humana, há uma esperança de um lado de lá de plenitude de vida, de um eterno folgar e realização do amar sem terminar, sem dor e até sem esperança porque esta, um dia, vai cansar de esperar. É muita coisa para (des)aprender com o “reinado deste vírus”, que também não veio para ficar. Impressionante como todo mistério se nutre de coisas e causas pequenas. Nenhuma das últimas guerras parou o planeta. E esse “invisível” conseguiu parar. Tsunami algum abalou a economia mundial, e esse “hóspede invisível” está arrasando o sistema. Do dinheiro e do consumismo. Nada nem os mais lindos eclipses do sol ou da lua, com seu nascer e seu se pôr, conseguiram questionar a desumanidade da vida que andamos levando. Será que há gente ainda crendo que o “invisível não existe”, ou não tem potência, e só conta no viver o que se compra, se vende, se toca e se amassa, se beija e se abraça? E que a perfeição do amor está no que não se vê, não se toca, não se fotografa? E se segue por aí... Esse vírus pode humanizar o nosso

30

eu, nosso nós, nosso conviver tantas vezes pegajoso demais (ou ausente e distante!) E pouco vital e libertador, de falsas alegrias e sem leveza. Esse vírus, com toda a sua carga de provação, dor, isolamento (que não pode ser simples solidão!). Até a morte pode nos ensinar uma dimensão da vida humana que tanto a enfraqueceu: o saber afastar-se para saber se encontrar, o saber parar, a volta à experiência do deserto, tão presente na constante convivência de Deus com seu povo, seus profetas, seus enviados, sua gente e seu próprio filho, o homem de Nazaré. A riqueza de viver entre quatro paredes reconhecendo a força do que vem de dentro, do que amadurece por dentro, dando tempo ao essencial. Se há um lado sim “horrível nessa guerra invisível”, há um lado densamente “divino” que pode nos tornar mais humanos, mais gente, mais amorosos, mais encharcados de silêncio sem o qual não se canta, não se ouve. Não se ama o outro. Uma das práticas fecundas dessa pandemia está no cuidado em lavar as mãos, já que depois de milhares de anos não aprendemos a lavar os pés uns dos outros. Por que não lavar as mãos? Por isso, sejamos capazes de agradecer toda a força “evangelizadora” de um ser “invisível” e que nos humaniza. E humanizar já é evangelizar. Ó vírus invisível, “que estranha potência a sua!”. “Pois é: para quê?” nos humanizar e nos evangelizar!

Pe. Nereu de Castro Teixeira SCE Eq. N. S. de Fátima Setor Belo Horizonte C – Região Minas II

This article is from: