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Faça-a, e será feita
Faça-a, e será feita1
Todos os cristãos, que são cristãos não somente de nome, têm grandes expectativas em relação ao Concílio Vaticano II, mas muitas vezes esperam algo mais do que aquilo que este pode proporcionar. O seu desapontamento será proporcional às suas expectativas. Então não devemos esperar demasiado? Tenho horror a esta mentalidade pessimista que se vem infiltrando entre os cristãos há algum tempo. Não podemos esperar demasiado do Concílio, a menos que esta expectativa seja de esperança e a esperança é oração. É bem possível que o Concílio não venha trazer reformas espetaculares – que, além disso, só podem ser impostas na mente daqueles que as querem. Definições, decisões e decretos que delas emanam podem parecer de pouco interesse para o público em geral, mas, na medida em que foram inspirados pelo Espírito do Senhor, provaram, no decurso dos anos e séculos vindouros, ser de oportunidade providencial. Você deseja do Concílio uma renovação da Igreja, mas não se esqueça de que você é a Igreja. Seria bastante hipócrita desejar uma renovação da Igreja – como outros desejam uma reforma do Estado – e não começar com a sua própria reforma: “Se todos varressem a frente da sua casa, diz o provérbio, toda a rua estaria limpa”. Que a abertura do Concílio a 11 de outubro2 seja a inauguração, em cada um de vós casais, de uma fase de reforma, leal, corajosa e fervorosa. Agora, como bem sabe, não pode haver reforma na Igreja a não ser que haja um retorno ao Evangelho. Esta é uma lei geral que é evidente a partir do estudo da história da Igreja, uma história que é tão negligenciada pelos cristãos e que contribuiria imensamente para o crescimento da sua fé. Quando a vida monástica no Ocidente, corrompida pela posse de bens materiais e pela vontade de poder, ameaçou entrar em colapso, a reforma Clunisiana deu-lhe um renascimento milagroso. Quando a vida religiosa dos mosteiros Clunisiens estava, por sua vez, em declínio, surgiram São Bernardo e a reforma cisterciense. Quando os monges brancos abandonaram o rigor e o fervor dos primeiros tempos, apareceram as ordens mendicantes, franciscanos e dominicanos. E todas essas reformas e renovações tiveram lugar através de um retorno aos valores do Evangelho. Se por amor à Igreja e para participar nas intenções do Santo Padre decidirem reformar as vossas
1 Fonte: Éditoriaux du Père Caffarel, Mons. François Fleischmann, ERI Mars 2004, p. 235. Lettre
Mensuelle XVI° Année Nº 1 – octobre 1962. Título original : Faites-le, et ça se fera. 2 O início do Vaticano II foi em 11 de outubro de 1.962.
vidas, então retomem o Evangelho, que o vosso Estatuto vos diz que deve ser a lei de vocês casais. Levantem-no e nunca o larguem. Reveja à sua luz, dia após dia, toda a sua vida, o seu comportamento, o seu estilo de vida, os seus julgamentos. Compare a sua escala de valores com a escala de valores de Cristo: o que ele valorizava, e aquilo que você valoriza; o que ele negligenciava ou desprezava, e aquilo que você negligencia ou despreza? Sei bem o que esperam: que as exigências do Evangelho lhes pareçam impossíveis; é então que terão de recordar a afirmação de Cristo: “O que é impossível para o homem é possível para Deus”. Deve ter-se deparado um dia na sua vida com esta impossibilidade das exigências do Senhor para descobrir o que é realmente a religião de Cristo: uma religião divina, impossível em relação aos meios humanos. Quer uma renovação da Igreja? Faça-a, e será feita! A Igreja inteira está rezando para o ajudar, e o seu Movimento não tem outra razão de ser. Pe. Henri Caffarel
Trabalhando nos editoriais do Padre Caffarel, nos deparamos com esse escrito de mais de meio século, ainda inédito entre nós. Era vésperas do Concílio Vaticano II. Ficamos impressionados com sua clarividência e atualidade. Pense na nossa realidade de Igreja hoje, sob o cajado do nosso Papa Francisco. Nas suas reformas e, em especial, no seu empenho pelo engajamento e trabalho dos leigos. “O Papa Francisco é o primeiro papa que não participou do Concílio Vaticano II. O ensinamento conciliar escorre em suas veias, ilumina seus pensamentos, acende seus sonhos, inspira suas decisões” (Piero Coda). Perguntado sobre o que o Concílio Vaticano II realizou, o que ele foi, assim se expressou o Papa Francisco: “O Vaticano II foi uma releitura do Evangelho à luz da cultura contemporânea. Produziu um movimento de renovação que vem simplesmente do próprio Evangelho. Os frutos são enormes”. Mais uma vez se confirma, no Padre Caffarel, a sua condição de profeta.
Colaboração
Maria Regina e Carlos Eduardo Eq. N.Sra. Mãe de Deus e Nossa Piracicaba SP