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Laudato Si: debruçados sobre a criação de Deus

O documento Laudato Si – Louvado Sejas –, lançado na Solenidade de Pentecostes de 24 de maio de 2015, foi a segunda carta encíclica do pontificado de Papa Francisco e tem como objetivo auxiliar cristãos católicos a debruçarem seus olhares sobre a criação de Deus de forma reflexiva e crítica de sua contribuição na manutenção do planeta como um espaço físico, biológico, social e cultural constituinte do desenvolvimento humano. Os 246 parágrafos que compõem essa obra deflagram o formato consumista da sociedade contemporânea que, ao utilizar-se da criação divina de forma desenfreada, acentuam o lucro, o individualismo e a objetificação do ecossistema e, consequentemente, das relações interpessoais. Um dos problemas levantados pelo documento é a manutenção de um egoísmo latente frente às necessidades de subsistência dos seres vivos e seus grupos sociais em detrimento dos desejos de um grupo restrito que detém a manutenção do sistema capitalista. Essa reflexão sobre o cuidado a respeito da criação divina não é algo novo dentro da Igreja. Outros pontífices também o fizeram, como o Beato Paulo VI em “Pacem in Terris”, São João Paulo II em “Redemptor Hominis” e Bento XI em “Caritas in Veritate”. Em todos esses o questionamento é muito parecido: como a Sagrada Escritura pode promover uma consciência renovada sobre as formas de conviver com a natureza, de modo a sermos partícipes da criação divina em nosso tempo-espaço histórico. Desde o começo da Sagrada Escritura entende-se que a natureza criada não está posta para servir aos prazeres desenfreados dos seres humanos. O homem é um ser pensado no interior do funcionamento de um ecossistema. A sua relação não é de exploração, mas de cumplicidade e de cuidado com a natureza: a cumplicidade, no fato do reconhecimento de que tudo é considerado “bom aos olhos de Deus” (cf. Gn. 1, 10); o cuidado, no direcionamento deixado por Deus ao homem sobre a administração justa daquilo que foi criado (cf. Gn. 1, 28-29). Assim, a partir dessa realidade o documento nos questiona em que medida o homem se desviou do projeto inicial deixado por Deus na Sagrada Escritura. Os parágrafos 13 a 16 nos provocam a rever o posicionamento antropocêntrico do homem diante do criado, que tem promovido um colapso ambiental e uma degradação das relações ecológicas, atingindo, diretamente, as relações humanas. Debruçar-se sobre aquilo que foi criado como “bom aos olhos de Deus” faz-se imperioso para repensarmos as nossas ações no mundo e a nossa corresponsabilidade na manutenção da vida, como projeto divino de humanidade. Fica para nós um olhar sobre a gêneses: da criação e das nossas ações cotidianas.

Frei Arthur Vianna Ferreira SCE Província Leste I

Louvado seja Deus por toda a criação

A Palavra de Deus

“Ó SENHOR, Senhor nosso, como é glorioso teu nome em toda a terra! Sobre os céus se eleva a tua majestade!”(Sl 8,2) “E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que era muito bom.”(Gn 1,31)

Reflexão

Tudo aquilo que existe veio das mãos do Criador. A dignidade de toda criação não tem fundamento em si mesma, mas no fato de ter a sua origem no desejo e no desígnio de Deus. Deus quis o mundo do jeito que ele é, assim sendo o mundo fala de Deus para cada um de nós. O mundo não é Deus, mas é um meio pelo qual Deus se comunica conosco. A criação “grita” o nome de Deus para nós. Assim como São Francisco no cântico das criaturas, podemos chegar até Deus através de toda a obra da criação. O olhar do ser humano, quando está fixo na criação, deve continuar o seu caminho até chegar a Deus. A meta de todo ser humano é a glorificação do seu Criador, para isso ele veio a esse mundo, tal objetivo é alcançado através de um olhar teológico para toda a criação. O olhar teológico entende que tudo veio de Deus, as coisas menos complexas e as mais complexas, e tudo voltará para o criador. Na verdade, Jesus Cristo, o Filho amado do pai, recapitula em si todas as coisas, isto é, concede sentido a cada uma delas. Sem Jesus Cristo o mundo não teria o valor que tem para nós hoje. O Papa Francisco tem insistido constantemente a respeito do cuidado que devemos ter pela casa comum: cuidar de todas as criaturas e, em especial, cuidar do ser humano que é a obra perfeita de Deus. Nós equipistas temos exercido de forma consciente o cuidado que a igreja tem nos pedido pela casa comum? O que temos feito em nosso cotidiano para cuidar de toda a natureza que é obra da criação divina? E, ainda mais, como temos cuidado do ser humano - esposa, marido, filhos, pais, amigos, pessoas desconhecidas… -, a obra perfeita realizada por Deus? Qual o nosso grau de proximidade com aquilo que Deus fez, isto é, com o universo criado?

Oração espontânea

No início deste ano faremos uma leitura Orante com a Palavra de Deus. Convido você a ler e meditar o texto de Dn 3, 57-88. Escolha uma ação a ser feita a partir deste texto que fala sobre a criação. Se possível, faça a oração de São Francisco chamada “O cântico das criaturas”.

Oração Litúrgica

“Senhor Deus, Uno e Trino, comunidade estupenda de amor infinito, ensinai-nos a contemplar-Vos na beleza do universo, onde tudo nos fala de Vós. Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão por cada ser que criastes. Dai-nos a graça de nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe. Deus de amor, mostrai-nos o nosso lugar neste mundo como instrumentos do vosso carinho por todos os seres desta terra, porque nem um deles sequer é esquecido por Vós.” Oração feita pelo Papa Francisco

Pe. Franciel Lopes SCE Carta Mensal

Oração do Meio Ambiente

Criador do céu, da Terra e de todos os seres que nela habitam, Concedei-me forças para preservar a beleza e integridade do meio ambiente. Dai luz aos olhos daqueles que destroem vossas matas, Que matam vossos animais, Que poluem vossas águas, de onde tudo começou. Perdoai os que se calam e se ensurdecem por conveniência, Olhai pelos ignorantes e oprimidos, agora e sempre. Senhor, fazei com que os instrumentos que matam vossos filhos sejam banidos da face da terra. Guiai o coração dos fracos, não deixeis que caiam em tentação. Livrai todos os seres do mal maior, a extinção, E plantai no coração de cada homem a fé, o amor, a esperança e a paz E que, acima de tudo, prevaleça a vossa vontade. Amém.

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