Suplemento

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Abril 2012 Dossier dedicado ao Encontro Nacional sobre a Concretização do Processo de Bolonha em Portugal Produção RVJ - Editores

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Encontro Nacional do Processo de Bolonha

Já bolonhámos mas falta bolonhar 6 O processo de adaptação do Ensino Superior Português ao estipulado pela Declaração de Bolonha terminou em 2011, mas a verdade é que o prazo não marca o fim do processo, marca sim o início de uma nova etapa. Ainda há um importante caminho a percorrer, cujos passos estão identificados, sendo claro que, depois da adaptação na forma, importa aplicar a Declaração de Bolonha em termos de conteúdo. A ideia ficou bem patente no Encontro Nacional Concretização do Processo de Bolonha em Portugal, que decorreu a 28 de Março, no Auditório da Superior Agrária, em Castelo Branco, e reuniu de participantes de 21 instituições de ensino superior portuguesas, que apresentaram o trabalho desenvolvido, as vantagens, as dificuldades e os passos seguintes. Na generalidade das instituições, entre 2004 e 2011 todos os planos curriculares dos cursos foram estruturados de acordo com o sistema de créditos europeu (ECTS). Foi promovida a mobilidade internacional de estudantes e docentes, incorporada uma língua estrangeira em todos os cursos, além da introdução de inovações em termos de recursos pedagógicos para se atingirem novos públicos e apoiar os tradicionais (ex: plataformas de e-learning). Foi feita uma aposta no trabalho experimental, na divulgação científica, na promoção do sucesso escolar, no apoio à inserção dos alunos na vida ativa e no acompanhamento dos diplomados. Mas se estas mudanças eram decisivas, havia outra ainda mais decisiva: a mudança para relação de ensino-aprendizagem em que o aluno é o centro. O importante é o que aluno aprende (conheci-

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mentos), mas também o que sabe fazer ao pôr em prática aquilo que aprende (competências), resolvendo diferentes situações de forma eficaz. E a este nível é que ainda parece haver muito por fazer. Pelo menos os representantes das 21 instituições que estiveram em Castelo Branco não o escondem. Há por isso um trabalho a fazer e a avaliar. Em resumo, como referiu o vicepresidente do Politécnico de Leiria, João Paulo Marques: “Já bolonhámos. E agora?” É sobre esse agora que o Ensino Magazine publica este suplemento especial, dando voz aos oradores presentes, sendo certo que muitos deles fizeram questão de referir que apresentavam ideias pessoais e não institucionais. Seleccionámos extractos de apontamentos de muitas das intervenções, procurando evitar repetições, as quais eram inevitáveis no Encontro. Este é, assim, um contributo para continuar o debate. K


Pedro Lourtie, ex-secretário de Estado do Ensino Superior

Competências contra a incompetência 6 O problema do desenvolvimento de competências foi o tema central da intervenção de Pedro Lourtie, ex-secretário de Estado do Ensino Superior. “Hoje dizemos que os alunos chegam ao Ensino Superior com cada vez menos competências. Ora, a evolução científica e tecnológica foi brutal. Os melhores alunos de hoje são sem dúvida melhores que os melhores do meu tempo. A questão é a média. Portanto, o Ensino Superior tem de se preocupar muito com o desenvolvimento de competências”, explicou. No entender daquele especialista é preciso fomentar a autonomia dos alunos na aprendizagem. Considera que o conhecimento científico é fundamental, mas também o são competências como o trabalhar em, grupo, o liderar uma equipa ou o ser capaz de organizar um projeto e de o apresentar à administração de uma empresa. É nesse sentido que defende um alinhamento construtivo entre objetivos de aprendizagem, métodos de ensino-aprendizagem e métodos de avaliação.

Apenas uma minoria [dos alunos] está interessada em aprender. O que importa é obter o diploma e depois logo se vê

A larga maioria dos alunos estrutura a aprendizagem de forma a maximizar os resultados. O importante é o que sai no

teste e não o que é preciso saber. “Apenas uma minoria está interessada em aprender. O que importa é obter o diploma e

depois logo se vê”. Ora, é muito diferente uma aprendizagem intrínseca, profunda, que parte do interesse do aluno, de uma aprendizagem extrínseca, superficial, que é feita a partir de pressão externa. Pedro Lourtie considera que as competências assumem um papel crescente, requerem a existência de oportunidades para o seu exercício e a devem ser valorizadas em termos de avaliação. “O paradigma mudou, pois está centrado no aprendente e não no docente. Mas esta concepção está longe, muito longe de estar concretizada”, concluiu. K

Contribuições para o debate de Bolonha Atenção à reorganização

Mudar era preciso

6 O Ensino Superior teve, tem e terá um papel fundamental no desenvolvimento da região de Castelo Branco. Por isso estamos muitos atentos à forma como vai ser feita a reorganização da rede em termos nacionais”. K Joaquim Morão (presidente da Câmara de Castelo Branco)

Especialização e reorganização

6 Mudar era preciso, pelo que importa saber o que se fez. O mais fácil foi adequar, extinguir, suspender ou fundir cursos. O mais difícil foi vencer resistências e oposições à mudança de paradigma na aprendizagem. Foi referido que a reforma era feita de cima para baixo, com lógica economicista e que as instituições não estavam preparadas. Conseguiu-se já melhorar as metodologias de ensino-aprendizagem, criaram-se as tutorias e aumentou-se a autonomia dos alunos, com efeitos no sucesso académico e nas estratégias de integração na vida activa. Mas não basta alterar currículos e planos de estudos. É preciso mudar as mentalidades e as práticas de alunos e de docentes. K Carlos Afonso

6 A reorganização da rede é necessária, mas é preciso reconhecer o papel fundamental que o Ensino Superior tem no desenvolvimento do país e especialmente no Interior do País. K Pedro Veiga (presidente do Conselho Geral do Politécnico de Castelo Branco)

A confusão gerada no início 6 Bolonha chegou a Portugal com uma desinformação terrível. Até houve documentos que se dizia ser a declaração e não eram. No início de 2000, toda a gente falava da declaração sem nunca a terem lido. Isto era geral. Depois veio a desconfiança: vai cortar a duração das formações, cortar docentes e financiamento. Falava-se no 3+3, no 3+1, no 0+5… Numa terceira fase criaram-se órgãos e discutiu-se nesses órgãos, e noutros existentes, a declaração de Bolonha. K João Paulo Marques (vice-presidente do Politécnico de Leiria)

(Instituto Politécnico de Portalegre)

Os progressos de Bolonha 6 Garantia externa da qualidade (criação/funcionamento de Agências) Desenvolvimentos significativos nos mecanismos de avaliação interna Progressos mais lentos na adopção de abordagens sistemáticas e holísticas para os sistemas internos de garantia da qualidade. Alguma tendência para uma maior confiança nas instituições e na qualidade do ensino. Desenvolvimento de processos de garantia externa da qualidade alternativos ou complementares, designadamente com a preocupação de aliviar os procedimentos de acreditação de cursos. K Sérgio Machado dos Santos (Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior)

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Contribuições para o debate de Bolonha Mesma Bolonha, realidades diferentes

Regras claras e Piloto Bolonha

6 Uma das novidades na Guarda é que os alunos podem aceder às aulas em mul-

tiplataformas, incluindo smartphones. Os cursos da Escola Superior de Tecnologia têm um nível de empregabilidade muito elevado e não há diplomados em número suficiente para os pedidos. Há mobilidade, mas é difícil em alguns cursos como o de Contabilidade, pois os sistemas de ensino e trabalho são diferentes noutros países. A implementação do processo de Bolonha depende muito de uma liderança forte. Se não o é, não se consegue vencer a resistência à mudança. Não há uma verdadeira associação entre instituições regionais, apesar de politicamente tal ser afirmado. K Rute Abreu (sub-directora ESTG Guarda)

Um Balanço mais critico

6 A Universidade de Aveiro está a desenvolver o Piloto Bolonha (um dos objectivos é o de identificar boas práticas pedagógicas e de as divulgar, fazer readaptações na unidades curriculares e nos currículos). Antes de avançar com o processo, Aveiro definiu regras próprias: (20 horas de aulas máximo por semana, número máximo de cinco unidades curriculares por semestre, máximo de 45 alunos nas aulas teórico-práticas e de 15 nas práticas, frequência obrigatória das aulas…). Todos os cursos de engenharia (menos 4, ambiente, materiais, geológica e industrial) têm mestrado integrado. Os outros 4 são reconhecidos pelas ordens profissionais e funcionam no sistema 3+2. Os Doutoramentos registaram um forte crescimento em 2008/09 e muitos deles em colaboração, com universidades portuguesas e estrangeiras. Alguns são ministrados em língua inglesa. Está-se também a caminhar no sentido de ter primeiros ciclos em língua inglesa. Alguns cursos funcionam na lógica PBL, como por exemplo na área da saúde. K Eduardo Silva (vice-reitor Universidade de Aveiro)

6 Ao fim de quatro anos, o balanço não é tão optimista como se suponha em 2007. Os professores tiveram medo que a redução dos anos de formação inicial extinguisse unidades curriculares e lugares. Apareceu uma grande variedade e um grande número de pós-graduações. Em Évora estabelecemos um número máximo de variantes dentro dos cursos de 1º Ciclo. Procurámos que a especialização ocorresse no 2º Ciclo. Racionalizámos o número de opções por curso, sem perder a diversificação em relação à formação central. Algumas unidades curriculares de áreas diferentes passaram a ser obrigatórias em cada curso. Há opções que visam desenvolver competências transversais e elaborámos portfólios das unidades curriculares, para que alunos, professores e departamentos conhecessem as unidades curriculares disponíveis. Bolonha é tudo menos um processo encerrado. Ainda há muito a fazer em termos de qualidade, abertura ao mundo e competitividade. K Hermínia Vilar (Universidade de Évora)

Escola singular no Porto 6 A Escola Superior de Enfermagem do Porto tem um curso de licenciatura com 1200 alunos e 220 em oito mestrados ligados à Enfermagem que ali funciona. Portanto, tem mais alunos do que alguns institutos. Bolonha foi uma oportunidade. Para tal foi desenvolvido um plano estratégico, que trouxe ganhos, pois permitiu perceber as carências (vertentes pedagógica, científica e de gestão) e foram feitas mudanças dos planos de estudos por causa deste plano e não por causa de Bolonha. Caminhou na direcção das tutorias. A escola deixou de falar no processo de Bolonha e passou a centrar-se no Plano de Desenvolvimento Estratégico. Desenvolveu uma cultura aprendente promotora do desenvolvimento pessoal e profissional. Tem uma avaliação negativa em relação à internacionalização e à mobilidade. Para a aumentar será preciso flexibilizar alguns aspectos relacionados com o rigor. E ainda não decidiu ir por aí. K Luis Carvalho (Escola Superior de Enfermagem do Porto)

Menos burocracia e resistência à mudança 6 O Iscte criou um manual onde explica como demostrar a coerência dos objectivos de aprendizagem, das competências e das metodologias de avaliação para todas as unidades curriculares Há aspectos essenciais a melhorar: Por um lado é preciso reduzir a carga administrativa que condiciona os professores em termos de lecionação e investigação. Importa melhorar o aproveitamento nos 2º Ciclos, para que os alunos acabem os cursos dentro do tempo previsto, o que não acontece porque muitos são trabalhadoresestudantes. É preciso fomentar a investigação e a concessão de mais bolsas de iniciação à investigação. Importa combater a resistência à mudança, quer dos docentes, para desenvolverem um processo ensino-aprendizagem centrado no aluno, quer dos alunos, que devem ser responsabilizados, para que desenvolvam o trabalho autónomo que lhes é exigido. K

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Sucesso e sobrevivência 6 É importante perceber o que se passa em termos de Sucesso académico / Taxa de sobrevivência: temos problemas, pois está nos 41,9%. Por isso avançou com o PIPSA-IPS, que prevê vários aspectos centrais em termos de acção, como por exemplo: - Reorganização pedagógica e científica - Contratos de estudo e tutorias (já em pleno em duas escolas) - Regime excepcional de aprendizagem de ensino (regresso dos alunos) - Quando o insucesso numa UC é superior a 50 por cento há plano de intervenção - Formação de docentes - Identificação e replicação de boas práticas Importa aqui perceber que aquela região tem níveis enormes de desemprego e outros problemas sociais associados. K

Elsa Cardoso

Albertina Palma

(Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa)

(Politécnico de Setúbal)


Marçal Grilo, ex ministro da Educação

Bolonha, os desafios e as notas do professor 6 O ex-ministro da Educação, Eduardo Marçal Grilo, considera que a Declaração de Bolonha, assinada em 1999, se transformou num documento político e que é, de facto, um documento político porque as instituições não a entenderam como documento orientador de um processo que elas próprias deveriam desenvolver, por sua livre iniciativa. A ideia, diz, não era reduzir o número de anos da formação inicial para investir menos em educação, reduzindo o número de professores, mas sim dinamizar o espaço europeu de Ensino Superior e o espaço europeu de investigação, criando condições para uma efectiva mobilidade, de modo a que pudesse competir em termos internacionais, designadamente com os Estados Unidos da América. Para isso é necessário aumentar a investigação, mas a investigação de qualidade, sendo que a qualidade deve ser transversal a todo o sistema e deve ser auditada, o que não é fácil, uma vez que na Europa há “alguma sobreposição em termos das instituições que a garantem”.

Não digo que os politécnicos e universidades portuguesas devem render-se ao mercado, mas não deixo de dizer que é uma possibilidade, pelo menos em algumas áreas Aponta como um dos grandes desafios a capacidade do Ensino Superior captar financiamento para além do obtido a partir do Estado e das propinas que os estudantes pagam. “Isto é o Fund Raising. Nos EUA apareceram muitas universidades ao lucro e são um sucesso porque têm cursos que têm grande utilidade. Não digo que os politécnicos e universidades portuguesas devem render-se ao mercado, mas não deixo de dizer que é uma possibilidade, pelo menos em algumas áreas”.

Se a Europa não tiver um grande ensino universitário e um grande ensino não universitário como os EUA não vai lá e a verdade é que não tem

Em termos nacionais considera que o primeiro desafio está na racionalização da oferta, na requalificação dos cursos e da rede. Desde logo refere que as instituições têm a oportunidade de se organizarem por sua iniciativa. Como exemplo, apresenta a iniciativa da Universidade de Lisboa e da Universidade Técnica de Lisboa, que anunciaram um processo de junção para a criação de uma nova instituição. Os desafios do País “Em Portugal vivemos numa cultura de dependência. Estamos sempre à espera que o Governo diga como se faz. A fusão da Universidade de Lisboa com a Técnica de Lisboa mostra independência. Era importante que as instituições se entendessem para proporcionar um melhor ensino do que aquele que damos”. Ainda neste campo, entende que “é preciso clarificar as formações entre politécnicos e universidades. Os politécnicos têm de pensar melhor o que são os seus cursos. Os cursos devem ter uma natureza diferente. Se não a tiverem, não se justificam. Vejo-me em 1977 e a pensar na formação de curta duração (dois anos) que qualquer dia teremos de retomar”. Outro desafio é a forma como os cidadãos percepcionam a qualidade do Ensino. Considera que a Comunicação Social mostra sobretudo o que está mal na Educação, pelo que “as pessoas não têm uma no-

Em Portugal vivemos numa cultura de dependência. Estamos sempre à espera que o Governo diga como se faz. A fusão da Universidade de Lisboa com a Técnica de Lisboa mostra independência ção da qualidade do ensino em Portugal. Os estrangeiros que vivem cá têm uma ideia muito mais correcta” e percebem que há qualidade. Mas é preciso melhorar. Um dos aspectos a melhorar é a “forma como se ensina e como se aprende. Não basta hoje ser engenheiro, médico, economista ou outro. É necessário ter o que os ingleses chamam general education. Isso é o que tem Harvard, no 1º e 2º anos de qualquer curso. Os estudantes são obrigados a fazer um conjunto de disciplinas que sai muito fora da sua área de especialização, disciplinas de áreas da História, da Música, da Arte, da Filosofia ou da Sociologia”. No entender daquele especialista, “os estudantes não se devem deixar enganar: quanto maior for a formação, melhor”. Devem perceber que estudar

sobretudo quando de fala em qualidade e de acreditação. Porém, “o poder político deve ter um diálogo para que se possa compatibilizar o que é definido pelas instituições com o quadro legal”. Relativamente a sistemas ou sub-sistemas, palavras que no Ensino Superior implica tornarem-se cidadãos do mundo, com a possibilidade de trabalharem em qualquer continente. As notas do professor Na parte final do seu discurso, Marçal Grilo quis deixar algumas notas finais, em jeito de conselhos para o futuro. Na sua opinião é salutar que as instituições tenham entendido Bolonha “como um processo e não como um conjunto de medidas que param no tempo. O processo de Bolonha não acabou. Está sempre a começar. Por isso é que vejo com muito bom grado a fusão da UL e da UTL. Os processos têm de partir de baixo. Vocês é que devem pensar e não é o governo que tem de dizer o que vão fazer”.

Os politécnicos têm de pensar melhor o que são os seus cursos. Os cursos devem ter uma natureza diferente. Se não a tiverem, não se justificam Ciente que “se a Europa não tiver um grande ensino universitário e um grande ensino não universitário como os EUA não vai lá e a verdade é que não tem”, atribui uma grande importância às instituições,

Não há instituições de Ensino Superior se não forem de carácter internacional. Ou são de nível internacional ou não o são confessa não gostar de utilizar, considera que cada escola é uma escola com as suas especificidades e deve ser encarada com diferenciação. Refere que a diversidade enriquece, pelo que as escolas devem assumir a autonomia: “Não tenham medo de arriscar, de ir o mais longe possível no grau de autonomia. Isso é uma garantia de que são capazes de se gerir, de se relacionar com outras instituições, de resolver os seus problemas”. Na última nota, Marçal Grilo referiu que “não há instituições de Ensino Superior se não forem de carácter internacional. Ou são de nível internacional ou não o são”. O mesmo acontece com a investigação científica: “ou se publica nas grandes revistas ou não se publica”. A este nível está porém convencido que as instituições portuguesas estão no bom caminho, o que é decisivo: “num país que não tem recursos naturais significativos, as pessoas são a grande riqueza para encarar o nosso futuro, o dos nossos filhos e o dos nossos netos”. K

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Contribuições para o debate de Bolonha Mais resultados e menos queixas Inovar nas áreas de formação 6 Importa não enveredar pelo discurso da desgraça, sendo preferível ir pelas boas práticas do Politécnico do Porto a este nível. 1. Dimensão social: equidade do acesso – aumentou a oferta de cursos em regime pós-laboral, aumento de pós-laborais de 1º ciclo, mais CET, anos zero e apoio aos alunos com NEE (critérios de acesso diferenciados via acreditação de competências), mais unidades em b-learning através do Moodle. 2. Aprendizagem ao longo da vida – formação entre ciclos, reconhecimento de competências adquiridas em contextos formais e não formais, cursos livres, pós-graduação, formação para funcionários e docentes, abertura a internos e externos das unidades curriculares isoladas. 3. Aprendizagem centrada no estudante – monitorização e actualização no portefólio de formação, auscultação dos estudantes (focus group), metodologias de avaliação diferenciadas. 4. Internacionalização e mobilidade (de todos): há um aumento notável, com 614 casos de mobilidade no ano passado. 5. Investigação orientada – cerca de 20 grupos de investigação em sete escolas, programa de apoio à publicação em revistas científicas. 6. Empregabilidade – mais estágios curriculares e não curriculares, excelente colaboração com entidades externas, nova unidade de empreendedorismo, programa de voluntariado com estágios remunerados para diplomados, além de outro voluntariado. 7. Qualidade: acreditação A3E, auto-avaliação, início da avaliação dos docentes. 8. Financiamento – há problemas mas não tantas queixas. K

6 Falta aumentar a inter e a multidisciplinaridade (por vezes as empresas pedem diplomados em áreas em que a Universidade ainda não tem formação. As empresas vão à frente das universidades). É precisa mais flexibilidade, atenção à empregabilidade e envolvimento da comunidade académica no aprofundamento das reformas. Quando Bolonha foi anunciada, algumas vozes diziam que íamos voltar para trás e que se ia perder qualidade. Não foi isso que aconteceu. Diversificou a oferta formativa e o sistema permite a criatividade e a inovação. Há esperança. O importante é que os alunos estejam presentes e activos porque podem estar presencialmente, mas não mentalmente e activamente. Na Universidade do Porto houve uma maior ligação entre investigação e formação. Foi criado o Investigação Jovem na Universidade do Porto (IJUP), onde os estudantes de 1º Ciclo apresentam os resultados da sua investigação do ano anterior. Este ano tiveram mais de 500 comunicações). Há mais inclusão social (actividades de voluntariado, apoio a estudantes carenciados, UJunior). K Maria de Lurdes Fernandes (vice-reitora Universidade do Porto)

Reprovar com visões distintas

Cristina Silva (Instituto Politécnico do Porto)

Politécnico antecipou Bolonha? 6 O Politécnico já tinha muitos cursos com a lógica profissional. Agora já existem menos. Mas será que os politécnicos anteciparam o processo de Bolonha? Os alunos não percepcionam grandes diferenças na lógica experimental, pois os politécnicos já a tinham. Os alunos desconhecem o que é o suplemento ao diploma e não estão familiarizados com a Escala Europeia de Classificações. K Valentim Nunes (Instituto Politécnico de Tomar)

6 No Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, o número de alunos nas licenciaturas aumentou 38 por cento entre 2008 e 2011. Em três anos duplicou o número de doutores 19 para 40. Cresceu ainda o número de diplomados (o número de anos dos cursos reduziu). Num inquérito sobre as alterações, os alunos evidenciam sobretudo o ensino em direcção a competências e ao impacto na escola e no curso, mas apresentam valores mais baixos nas medidas de apoio ao sucesso escolar e à diminuição do abandono, medidas de estímulo à inserção na vida activa e acções de apoio a aprendizagem em áreas extracurriculares. Foi criado um gabinete de empreendedorismo e estão a procurar perceber por que razões há um insucesso escolar elevado em determinadas unidades curriculares. Para já, em relação a essas razões, as opiniões de docentes e alunos são muito diferentes. K Patrícia Gomes (Instituto Politécnico do Cávado e Ave)

É preciso formar os docentes

Professores e alunos na organização do Encontro 6 O Encontro foi organizado por uma equipa de docentes do Politécnico de Castelo Branco formada por Ana Ramos (coordenadora Implementação do Processo de Bolonha), Alexandra Cruchinho (Esart). Paulo Afonso (ESE), Paula Sapeta (Esald), Fernanda Delgado (ESA), George Ramos (ESGIN) e Paula Pereira (EST). A organização contou com a participação dos alunos do Instituto Politécnico de Castelo Branco.

VI

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Os finalistas do Curso de Secretariado (na foto), da Escola Superior de Educação foram os responsáveis pele recepção, registo e apoio aos congressistas. Os alunos do Curso de Gestão Hoteleira, da Escola Superior de Gestão, organizaram as pausas para café, para retemperar forças num dia cheio de actividades. Esteve ainda presente a Tuna Académica do Instituto Politécnico de Castelo Branco (Castraleuca). K

6 Os ECTS reflectem as horas de contacto mais as horas de trabalho autónomo. A ideia não é que os professores controlem, mas que orientem os alunos em relação ao trabalho a desenvolver nessas horas. Os alunos trabalham mais na altura dos testes, mas não o fazem de forma equitativa. O processo está terminado. A componente comportamental está em curso apesar de já termos bolonhado e de falarmos bolonhês. Mas praticamos nas aulas? Temos bons docentes que têm práticas activas, mas ainda há muito por fazer. É preciso: - Promover debates pedagógicos; - Sensibilizar para a orientação do trabalho autónomo (dizer o que tem/deve de fazer da primeira semana à segunda. - Continuar a formação pedagógica dos docentes. K Ana Ramos (Politécnico de Castelo Branco)


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Carlos Maia, presidente do IPCB

Entendimentos precisam-se

6 “Sem dúvida que importa cumprir as questões formais, mas é importante que tenhamos a consciência plena de que há ainda muito caminho a percorrer. Ficou, contudo, claro que é necessário um melhor entendimento entre as Instituições de Ensino Superior”. A expressão é do presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco, Carlos Maia, e foi referida no discurso de encerramento do Encontro. Aquele responsável valorizou a oportunidade de partilha e de reflexão no sentido de ajudar a compreender os processos desenvolvidos nas diferentes instituições presentes e traçou um objectivo: “Pretendemos dar resposta aos desafios que a sociedade do conhecimento nos coloca e consequentemente proceder ao necessário alinhamento do Ensino Superior nacional com o resto da Europa”. Não escondeu que há algumas nuvens negras no horizonte, designadamente a redução de taxa de natalidade, que reduz o número de alunos. Mas considerou não ser razoável pensar dessa forma. “O público que temos deveria ser suficiente para fazer crescer o ensino superior, porque não é aceitável que se mantenham os atuais níveis de qualificação da população portuguesa”, referiu. Como exemplo apontou o facto de em Portugal apenas 50,8 por cento da população entre 25 e 64 anos ter concluído o Secundário, contra 72,7 por cento da média europeia. Referiu ainda o facto de Portugal ter uma das mais elevadas taxas de abandono escolar (28,7 por cento na faixa 18-24 concluiu, no máximo o 3º Ciclo). Já ao nível do Superior, apenas 23 por cento da população entre 30 e 34 anos é diplomada, quando a meta europeia para 2020 aponta os 40 por cento. “A afirmação de Portugal no contexto europeu e mundial não é compaginável com os atuais níveis de qualificação da população portuguesa”, disse, afirmando

No IPCB o trabalho vai continuar com a mesma determinação, com a mesma persuasão, tentando envolver nesta causa toda a comunidade académica, porque o Processo de Bolonha é um processo de construção contínuo, dinâmico e intemporal

que o ensino superior português vai ter de tomar a seu cargo a qualificação da população ativa, porque é seguramente a estrutura melhor colocada para alavancar essa reforma. “Se o ensino superior não conseguir desempenhar esse papel esperam-nos, num futuro próximo, grandes dissabores”. Da sua parte e do Politécnico de Castelo Branco, tudo será feito para melhorar estes níveis e para cooperar com outras instituições. É certo que as estatísticas são as que são, a empregabilidade é a que é e que existem limitações orçamentais, mas afirma que isso não pode conduzir ao “imobilismo institucional”, não pode abrir a porta à perda de autonomia devido a “factores externos conjunturais”. O caminho está traçado e tem de ser feito com todos, a começar nos estudantes, que “constituem a parte central de todo o processo”, pelo que devem ser mobilizados nesse sentido. “No IPCB o trabalho vai continuar com a mesma determinação, com a mesma persuasão, tentando envolver nesta causa toda a comunidade académica, porque o Processo de Bolonha é um processo de construção contínuo, dinâmico e intemporal”, concluiu. K

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Encontro Nacional sobre a Concretização do Processo de Bolonha

Algumas conclusões 6 O processo de elaboração das conclusões ainda está em curso, mas o grupo de trabalho que organizou o Encontro Nacional, disponibilizou ao Ensino Magazine as pré-conclusões, que aqui apresentamos. - Convergências: o estudante como centro e o estudante como agente do processo educativo; a aprendizagem entendida como um processo de construção activa e pessoal, em que docentes e estudantes colaboram de forma activa de forma a estimular competências que permitam a aquisição de crescente autonomia; - Todas as instituições participantes comungam da mesma opinião no que se refere à resistência notada para a mudança de procedimentos. Resistência ao nível do corpo docente e das práticas pedagógicas adoptadas no processo de ensino e aprendizagem; - Ainda se fez notar alguma desconfiança quanto à melhor modalidade a seguir no que se refere à duração dos ciclos de estudo. Falta reflexão neste campo; - Destacou-se a necessidade de todas as instituições assegurarem acções de esclarecimento e de formação quer ao nível do pessoal não docente, docente, ou de estudantes, sobre os princípios, objectivos e natureza do Processo de Bolonha; - Destacou-se a preocupação com o facto de o mercado empregador diferenciar as formações académicas do pré e do pós-Bolonha. Fez-se notar de forma depreciativa a avaliação dos currículos académicos do pós-Bolonha (licenciaturas de 3 anos); - Na maioria das instituições notou-se acentuado aumento da mobilidade quer de docentes quer de estudantes; - A introdução e a valorização do domínio de uma língua estrangeira (inglês) verificou-se, na maioria das instituições, aquando da reformulação dos planos de estudo; - Algumas instituições, referem continuar a aposta na formação, identificada a partir da opinião dos docentes, sobre aquelas que são, ainda, sentidas como as maiores dificuldades para a implementação deste processo na sua prática profissional; - O reconhecimento da importância das Unidades Curriculares opcionais integradas na estrutura curricular dos ciclos de estudo é um aspecto de grande importância para possibilitar ao estudante a gestão e flexibilização da sua formação;

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- Fez-se notar alguma desconfiança no processo de implementação de Bolonha em território nacional, na medida em que se associa este procedimento de uniformização, não à melhoria da formação mas ao nível económico, notando-se a redução do apoio financeiro às instituições de ensino superior; Publicidade

- A existência de novos públicos a aceder ao Ensino Superior não tem tido (ainda) uma resposta eficaz. A relação de ensino e aprendizagem com estes estudantes ainda não é diferencial, com impacto negativo ao nível do abandono e do sucesso escolar; - Reconhece-se a importância da existência de agentes regula-

dores da qualidade das instituições, dos cursos e da formação (Agências de Acreditação e Avaliação), no sentido de aumentar o reconhecimento da qualidade da formação superior do nosso país; - O reforço da qualificação do quadro docente do ensino superior por parte das instituições envolve uma componente

administrativa mais pesada, deixando menos tempo para investigação; - Tratando-se de um processo de mudança ao nível operativo das instituições e ao nível de enquadramento e adaptação decorrentes das alterações regulamentares, é contínuo; ao envolver processos e pessoas, é gradual. K


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