Temperança
Ellen G. White
2005
Copyright © 2013 Ellen G. White Estate, Inc.
Seção 5 — Intoxicantes mais brandos
Capítulo 1 — Importância de estritos hábitos de temperança Exemplos do velho e do novo testamentos — Quando o Senhor queria suscitar Sansão como libertador de Seu povo, recomendou à sua mãe corretos hábitos de vida antes do nascimento de seu filho. E a mesma proibição devia ser imposta, desde o princípio, à própria criança; pois ele devia ser consagrado a Deus como nazireu desde o nascimento. O anjo do Senhor apareceu à mulher de Manoá, e informou-a de que ela teria um filho; e em vista disto Ele lhe deu importantes direções: “Agora, pois, guarda-te de que bebas vinho, ou bebida forte, ou comas coisa imunda.” Juízes 13:4, 14. Deus tinha uma obra importante para o prometido filho de Manoá, e era para assegurar-lhe as habilitações necessárias para essa obra, que os hábitos, tanto da mãe como do filho deviam ser tão cuidadosamente regulados. “Nem vinho nem bebida forte beberá”, foi a instrução do anjo quanto à mulher de Manoá, “nem coisa imunda comerá; tudo quanto lhe tenho ordenado guardará.” A criança será afetada para bem ou para mal pelos hábitos da mãe. Ela própria precisa ser controlada por princípios, e exercer temperança e abnegação, se quer o bem-estar de seu filho. No Novo Testamento encontramos exemplo não menos impressivo da importância dos hábitos temperantes. João Batista foi um reformador. Foi-lhe confiada uma grande [91] obra em favor do povo de seu tempo. E em preparo para essa obra, todos os seus hábitos foram cuidadosamente regulados, já desde o seu nascimento. O anjo Gabriel foi enviado do Céu para instruir os pais de João nos princípios da reforma pró-saúde. “Não beberá vinho, nem bebida forte”, disse o mensageiro celeste; “e será cheio do Espírito Santo.” Lucas 1:15. João separou-se de seus amigos, e dos luxos da vida, habitando só no deserto, e vivendo de um regime exclusivamente vegetariano. A simplicidade de seu vestuário — uma roupa tecida de pêlo de camelo 90
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— constituía repreensão à extravagância e ostentação do povo de seus dias, especialmente dos sacerdotes judaicos. Também seu regime alimentar, de gafanhotos e mel silvestre constituía censura à gulodice dominante por toda parte. A obra de João fora predita pelo profeta Malaquias: “Eis que Eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor; e converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais.” Malaquias 4:5, 6. João Batista veio no espírito e poder de Elias, para preparar o caminho do Senhor, e fazer voltar o povo à sabedoria dos justos. Ele era um representante dos que vivem nos últimos dias, aos quais Deus confiou verdades sagradas para apresentar ao povo, preparar o caminho para a segunda vinda de Cristo. E os mesmos princípios de temperança que João observava devem ser seguidos por aqueles que, em nossos dias, devem advertir o mundo da vinda do Filho do homem. Deus fez o homem à Sua imagem, e espera que ele conserve inalteradas as faculdades que lhe foram comunicadas para o serviço do Criador. Não devemos então dar ouvidos a Suas admoestações, e procurar manter toda faculdade na melhor condição a fim de serviLo? O melhor que nos seja possível dar a Deus ainda é muito fraco. Por que há tanta miséria no mundo atualmente? É acaso porque Deus goste de ver sofrer Suas criaturas? — Oh, não! É porque os [92] homens se têm enfraquecido por meio de práticas imorais. Lamentamos a transgressão de Adão, e parece que pensamos haverem nossos primeiros pais manifestado grande fraqueza em ceder à tentação; se, porém, a transgressão de Adão fosse o único mal que tivéssemos de enfrentar, a condição do mundo seria muito melhor do que é. Tem havido uma sucessão de quedas desde o tempo de Adão. — Christian Temperance and Bible Hygiene, 37-39. Uma advertência quanto ao efeito do vinho — A história de Nadabe e Abiú é dada também como advertência ao homem, mostrando que o efeito do vinho no intelecto é confundir. E ele terá sempre essa influência na mente dos que o bebem. Portanto, Deus proíbe explicitamente o uso do vinho e da bebida forte. — The Signs of the Times, 8 de Julho de 1880. Nadabe e Abiú nunca haveriam cometido aquele pecado fatal, não houvessem eles primeiro se intoxicado parcialmente pelo uso abundante do vinho. Eles compreenderam que o mais cuidadoso e
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solene preparo era necessário antes de se apresentarem no santuário, onde era manifestada a presença divina; pela intemperança, porém, perderam a idoneidade para o seu santo ofício. A mente se lhes tornou confusa e embotadas as percepções morais, de modo que não podiam discernir a diferença entre o sagrado e o comum. — Patriarcas e Profetas, 361, 362.
Capítulo 2 — Efeitos psicológicos dos intoxicantes brandos Tendências herdadas despertam-se com o vinho e a sidra — Para as pessoas que herdaram a tendência para os estimulantes, não é de maneira alguma seguro ter em casa vinho ou sidra; pois Satanás está de contínuo a incitá-los à condescendência. Caso eles cedam a suas tentações, não saberão onde parar; a sede clama por satisfação, e é satisfeita para ruína deles. O cérebro fica obscurecido; não mais a razão maneja as rédeas, mas deixa-as ao pescoço da concupiscência. Alastra-se a licenciosidade, e vícios de quase todos os tipos são praticados em resultado de satisfazer a sede de vinho e de sidra. [93] — Christian Temperance and Bible Hygiene, 32, 33. Não pode crescer em graça — Impossível é a uma pessoa que gosta desses estimulantes, e se habitua a tomá-los, crescer em graça. Torna-se grosseira e sensual; as paixões animais dominam as faculdades mentais mais elevadas, e a virtude não é acariciada. — Christian Temperance and Bible Hygiene, 33. Perversão da mente mediante intoxicantes brandos — Tão gradualmente, Satanás desvia da fortaleza da temperança, tão insidiosamente exercem o vinho e a sidra sua influência sobre o gosto, que a pessoa entra na estrada para a embriaguez de todo sem suspeitar. O gosto pelos estimulantes é cultivado; desequilibra-se o sistema nervoso; Satanás mantém a mente em desassossego febril; e a pobre vítima, imaginando-se perfeitamente segura, avança mais e mais, até que toda barreira é derribada, todo princípio sacrificado. As mais fortes resoluções são minadas, e os interesses eternos são demasiado fracos para manter o aviltado apetite sob o controle da razão. Alguns nunca ficam realmente ébrios, mas encontram-se sempre sob a influência dos intoxicantes brandos. São febris, instáveis de mente, não propriamente delirantes, mas na verdade desequilibrados; pois as nobres faculdades da mente se acham pervertidas. — Christian Temperance and Bible Hygiene, 33. 93
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Vinho e sidra não fermentados — O puro suco da uva, isento de fermentação, é uma bebida saudável. — Manuscrito 126, 1903. A sidra e o vinho podem ser engarrafados quando frescos, e mantidos doces por longo tempo, e se usados sem fermentar, não destronam a razão. — The Review and Herald, 25 de Março de 1884. Sidra doce — Sabemos de que é feita essa agradável sidra doce? Os que manufaturam as maçãs no preparo da sidra para mercado, não são muito cuidadosos quanto ao estado da fruta empregada, [94] e em muitos casos o suco de maçãs apodrecidas é espremido. Os que não pensariam em introduzir o veneno de maçãs estragadas no organismo, bebem a sidra feita com elas, e consideram-na um luxo; o microscópio, no entanto, revelaria que essa aprazível bebida é muitas vezes imprópria para o estômago humano, mesmo quando recém-saída da prensa. Caso ela seja fervida e se cuide em remover as impurezas, é menos objetável. Tenho com freqüência ouvido dizer: “Oh! esta é sidra não fermentada; é de todo inofensiva, e mesmo saudável.” Vários litros, talvez garrafões são levados para casa. Por alguns dias ela está ainda isenta de fermento, mas dias depois, começa a fermentação. O sabor picante torna-o tanto mais aceitável a muitos paladares, e o que aprecia o vinho ou a sidra doces fica aborrecido de ter de reconhecer que sua bebida predileta se torna sempre forte e ácida. — The Review and Herald, 25 de Março de 1884. O único caminho seguro — As pessoas que herdaram o apetite dos estimulantes contrários à natureza, não devem por modo nenhum ter vinho, cerveja ou sidra diante dos olhos ou ao seu alcance; pois isto lhes mantém a tentação continuamente adiante. — A Ciência do Bom Viver, 331. Se os homens fossem temperantes em tudo, não tocassem, não provassem, não manuseassem chá, café, fumo, vinhos, ópio, e bebidas alcoólicas, a razão tomaria as rédeas nas mãos, e controlaria os apetites e paixões. Pelo apetite rege Satanás a mente e todo o ser. Milhares de pessoas que poderiam haver vivido, passaram à sepultura, arruinados física, mental e moralmente, por haverem sacrificado todas as suas faculdades à satisfação do apetite. — Christian Temperance and Bible Hygiene, 37.
Capítulo 3 — Efeitos intoxicantes do vinho e da sidra As pessoas se podem intoxicar tão verdadeiramente com vinho e sidra como com bebidas mais fortes, e a pior espécie de ebriedade é produzida por essas chamadas bebidas mais brandas. São mais perversas as paixões; maior é a transformação do caráter, mais de- [95] terminada e obstinada. Alguns litros de sidra ou vinho sem fermento podem despertar o gosto pelas bebidas mais fortes, e muitos dos que se tornaram bêbados confirmados foi assim que lançaram as bases do hábito da bebida. — The Review and Herald, 25 de Março de 1884. Possível precursor de embriaguez habitual — Um só copo de vinho pode abrir a porta à tentação que levará ao hábito da embriaguez. — Testimonies for the Church 4:578. Estado doentio resultante do uso da sidra — Do uso habitual de sidra azeda resulta uma tendência para doenças de várias espécies, como hidropisia, desordens hepáticas, nervos trêmulos, afluência do sangue à cabeça. Usando-a, trazem muitos sobre si doenças crônicas. Alguns morrem tuberculosos ou tombam vitimados pela apoplexia unicamente por isto. Outros sofrem de dispepsia. Todas as funções vitais recusam-se a trabalhar, e o médico lhes diz que têm doença do fígado, quando se eles rompessem o barril de sidra e nunca mais dessem lugar à tentação de o substituir, suas forças vitais maltratadas recuperariam o vigor. — The Review and Herald, 25 de Março de 1884. Efeitos do vinho depois do dilúvio — O mundo se tornara tão corrompido mediante a satisfação do apetite e aviltadas paixões nos dias de Noé, que Deus destruiu seus habitantes pelas águas do dilúvio. E à medida que os homens se multiplicaram sobre a Terra, a satisfação do vinho para intoxicação, perverteu os sentidos e preparou o caminho para o excesso no comer carne e avigoramento das paixões animais. Os homens se exaltaram contra o Deus do Céu; e suas faculdades e oportunidades foram devotadas à glorificação 95
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própria em vez de honrarem a seu Criador. — Redemption or the Temptation of Christ, 21, 22. Induz a bebidas mais fortes — O uso da sidra induz a bebidas mais fortes. O estômago perde o natural vigor, e sente a necessidade [96] de alguma coisa mais forte para o despertar à ação. Uma ocasião em que meu marido e eu estávamos viajando, fomos forçados a passar várias horas esperando o trem. Enquanto nos encontrávamos na estação, um lavrador de faces congestionadas, intumescidas chegou ao restaurante anexo e em voz alta e áspera, pediu: “Têm aí aguardente de primeira?” Foi-lhe respondido afirmativamente, e ele pediu meio copo. “Tem o senhor molho de pimenta?” “Sim”, foi-lhe respondido. “Bem, ponha duas grandes colheradas dentro.” Ordenou em seguida duas colheres de álcool mais, e concluiu pedindo “uma boa dose de pimenta-do-reino”. O homem que estava preparando a bebida, perguntou: “Que vai o senhor fazer com esta mistura?” Ele replicou: “Creio que isso vai resolver”, e, pondo o copo cheio na boca, bebeu toda essa mistura ardente. Meu marido disse: “Aquele homem tem usado estimulantes até que destruiu as tenras membranas do estômago. Posso imaginar que elas se acham tão insensíveis como uma botina queimada.” Ao ler isto, muitos rirão da advertência de perigo. Dirão: “Certamente o pouco de vinho ou sidra que eu tomo não me pode fazer mal.” Satanás marcou esses para presa sua; ele os leva, passo a passo, e eles não o percebem senão quando as cadeias do hábito e do apetite são fortes demais para serem quebradas. Vemos o poder que essa sede de bebida forte exerce nos homens; vemos quantos de todas as profissões e de sérias responsabilidades, homens de alta posição, de destacado talento, de grandes consecuções, de sentimentos finos, nervos fortes e de elevada capacidade de raciocínio sacrificam tudo pela satisfação do apetite até se acharem reduzidos ao nível dos animais; e em muitos casos, muitos, o rumo descendente que tomaram começou com o uso do vinho ou da sidra. Sabendo isto, tomo decididamente atitude contrária à manufatura de vinho e sidra para serem usados como bebida. ... Caso todos estivessem vigilantes e fiéis na guarda das pequenas brechas feitas pelo uso moderado dos chamados inofensivos vinho e sidra, fechar-se-ia o caminho à [97] embriaguez. — The Review and Herald, 25 de Março de 1884.