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JORNAL DA QUADRA AGORA É
W W W . R E V I S T A E N T R E E I X O S . C O M . B R
NÚMERO 1 OUTUBRO/NOVEMBRO DE 2017 R$ 8,00
Entrevista Wellington Luiz Veículos Vem aí uma nova
era para o mercado automotivo
Saúde Precisamos falar sobre câncer
rock ELE ESTÁ VIVO, 21 ANOS DEPOIS
o maior ídolo do
brasileiro O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 1
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O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 3
Nesta Edição
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NTRE IXOS
Número 1 . Outubro/Novembro 2017 A revista Entre Eixos é uma publicação da Ideia Minha Comunicação. Setor de Indústrias Gráficas, Quadra 01, Ed. Platinum Office, sala 117, Asa Sul, Brasília, Distrito Federal. Diretor Executivo Éric Seabra Projeto Editorial e Gráfico Ideia Minha Comunicação Comercial Ivana Colombo Mavi Paiva Colaboradores Carolina paiva, Clara Pereira, Eduardo Nova, Elisa Padilha, Marta Nobre, Pedro Siqueira, Rebecca Alencar e Tiago Oliveira
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Impressão Gráfica Coronário
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Foto Capa Acervo Instituto Renato Russo
4 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Editorial Prazer, nós somos a Entre Eixos Entrevista Deputado Distrital Wellington Luiz Educação As vantagens do "bebê-aba" bilíngue Mulher Mais mulheres, por favor Gastronomia Afinal, somos a capital da gastronomia? Saúde Precisamos falar sobre câncer Veículos Vem aí uma nova era para o mercado automotivo
5Capa
Renato Russo O mito, 21 anos depois
50 42 56
3Economia
30
As empresas e suas responsabilidades sociais
Mundo O planeta está mudando. E o que você tem com isso? 3Direito & Justiça A crise do Poder Judiciário no Brasil: reflexos no STJ
O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 5
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Editorial
Entre Eixos Prazer, nós somos a
Sim, somos uma revista em meio a uma era de digitalização das coisas. E já nascemos – sem nenhum exagero dizer – com um feito muito especial para um dos países mais inacreditavelmente atrapalhados (para dizer o mínimo) do planeta: o feito de ousar. Nós somos uma revista que ousamos nascer como um meio de comunicação genuinamente brasiliense, sem ligação com nenhum conglomerado editorial, grande grupo financeiro ou qualquer outra força que a alavanque e garanta sobrevida neste que certamente é o período histórico de percalços, crises e piruetas econômicas, políticas e administrativas de toda a nossa complicada história. E esse cenário tão “estável e previsível” só engrandece o nosso feito. Apostamos numa construção orgânica, coerente e reta, mesmo com as centenas de obstáculos que enfrentamos para nascer e que enfrentaremos para crescer. Apostamos com convicção na essência do nosso ofício: observar gente, observar a sociedade e contar histórias relevantes sobre essa observação toda. Isso, definitivamente, é um traço que ajuda a definir o que somos: a nossa evidente vocação para observar as pessoas, a estrutura social e os poderes definidos de forma tão apaixonada quanto minuciosa. Indagar, examinar, refletir e registrar tanto aquilo que nos diferencia como indivíduos quanto o que nos une como humanidade. Ao longo dessa epopeia, perfilaremos aqui as mais impensáveis e diametralmente diferentes criaturas sociais. Escancararemos desde o nosso Brasil, que há tempos segue órfão de um chefe de nação em sintonia com a história, aos arroubos da Casa Branca e sua presidência disfuncional, errática, tão combativa quanto combatida. Aqui nestas páginas vai nossa principal tentativa, nosso norte moral e ético: inspirar através das histórias de gente boa que, por um motivo ou por outro, nos possa balizar e servir de referência. Divirta-se.
n Éric Seabra O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 7
Ao Quadrado
BENFEITORIA DO MS Ministério da Saúde aplica 520 milhões para compra de ambulâncias a fim de garantir o transporte de pacientes entre municípios e outras cidades. O valor foi possível graças a economia de recursos feita pelo órgão.
UNIÃO PEDE 10,8 BI A MORO A União pediu ao juiz federal Sérgio Moro para receber os tributos sonegados e suas respectivas multas referentes aos R$ 10,8 bilhões recuperados pela Operação Lava Jato. O valor é resultado do trabalho realizado pela força tarefa que age para extirpar a corrupção do Brasil.
UM DF MAIS ORGÂNICO Disparou o número de feiras orgânicas no Distrito Federal. Entre as mais destacadas, estão 33 feiras em endereços que vão de Planaltina a Taguatinga e podem oferecer uma alternativa mais barata e nutritiva para a alimentação. A alta é resposta a um tempo onde as pessoas optam cada vez mais por alimentação saudável à mesa.
8 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Ao Quadrado
A GÊNESE DA CORRUPÇÃO “Corrupção e Poder no Brasil”, livro recém lançado por Adriana Romeiro, da UFMG, expõe prática da corrupção desde o Brasil colonial. A professora, advinda do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais, reuniu em seu livro de 400 páginas os primeiros passos da corrupção no Brasil. De acordo com ela, a corrupção no Brasil vem desde antes do século XVI.
AMERICANOS APOIAM GUERRA Seis entre dez americanos apoiam ação militar na Coreia do Norte. Ataque recebe aval da população caso esforços diplomáticos e sanções econômicas falhem em suspender o programa nuclear do país asiático.
A CAPITAL DE TODOS, LITERALMENTE Brasília se torna a terceira maior capital do país, com 3 milhões de habitantes. A cidade se consolida entre as maiores do país, atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro. O crescimento populacional impõe desafios para os próximos anos. O governo local está preparado?
O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 9
Entrevista . Wellington Luiz
Brasília foi para o fundo do poço,
mas podemos voltar a sorrir
O
deputado Wellington Luiz (PMDB), está na Câmara Legislativa do Distrito Federal desde 2011. De lá para cá, tem procurado ouvir a sociedade – do mais humilde trabalhador aos maiores empresários –, na busca de soluções para os problemas do Distrito Federal. Soluções, aliás, que existem, diz ele nesta entrevista exclusiva à Entre Eixos. Porém, pondera que, com Rodrigo Rollemberg no Palácio do Buriti, a capital da República volta ao passado negro. – Temos que unir forças e cobrar do governo e demais parlamentares que bem exerçam suas funções enquanto mandatários do povo. Sou empolgado pela política que cria soluções e não aquela voltada para a autopromoção e benefícios de setores que, por si só, já são detentores de privilégios, afirmou o parlamentar.
HÉLIO PEREIRA
Na entrevista, o deputado, vice-presidente da Câmara Legislativa, resume a administração do governador de Brasília como pífia e condena a ‘importação’ de mentores para a área de Segurança Pública, por entender que tanto na Polícia Civil, como na Polícia Militar, há gente capaz de solucionar os problemas da violência e da criminalidade na capital da República. Wellington Luiz também cobra salário digno para os policiais civis e militares, além dos bombeiros. “O instrumento de trabalho de um policial não é sua arma; é sua vida. Pois é sua vida que fica em jogo nas ruas quando vai trabalhar. Vida não tem preço. Mas trabalhador com dignidade que a todo momento lhe é cobrado sacrifício e coragem, esse merece também salário digno”, sentenciou. Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
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Entrevista . Wellington Luiz
Quais os efeitos da falta de reajuste salarial da PCDF?
O senhor é egresso da PCDF, onde fez carreira. Qual a sua visão sobre a integração das forças policiais no DF? O que tem existido são divergências pontuais que não chegam a configurar conflitos entre essas instituições. Nada passa de desacertos pontuais que não refletem o funcionamento e operacionalidade das duas corporações. O que prevalece nas ruas, quarteis e delegacias é o corporativismo saudável, sem efeitos negativos para a sociedade. Ambos buscam e competem pela excelência dos serviços que prestam ao povo de Brasília. Alguns estudiosos defendem a ideia da unificação das forças policiais, com a criação de uma carreira única, de natureza civil. O que o senhor pensa a respeito? Essa ideia não é nova, tampouco seus desdobramentos também seriam de aplicação imediata. Antes de se pensar a unificação dessas forças policiais se faz necessário um estudo com seus integrantes para que nenhuma das partes seja violentada simplesmente pelo apelo de um projeto piloto. O debate deve ser antecedido de estudos e consulta popular ampla, tendo como centro de todos esses eventos os atores envolvidos e mais afetados – os policiais civis e militares. Hoje o maior pleito da PCDF é o retorno da equiparação salarial com a PF, que embora existisse, foi perdida. Como o senhor vê essa discrepância salarial entre as duas corporações? Essa discrepância se dá por exclusiva culpa de um governo que não sabe gerir verbas públicas de fonte própria e menos ainda aquelas que vêm carimbadas da União para fins específicos, como é o caso do aporte financeiro do Fundo Constitucional que, só em 2017, lançará nos cofres do GDF a soma aproximada de 13 bilhões de reais. Esse montante tem destino específico, ou seja, com a finalidade de prover os recursos necessários à organização e manutenção da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, bem como assistência financeira para execução de serviços públicos de saúde e educação. Sempre guardamos essa paridade. E, quando ocorre essa quebra, ela se dá exclusivamente por má fé e desrespeito por parte do governador Rollemberg.
Os mesmos efeitos que se produziriam em outras esferas do poder público. Isso traz desânimo e desilusão aos policiais que acreditam na qualidade de seus salários para que possam dar um mínimo de dignidade de vida aos seus familiares. Quando ocorre essa quebra e perda salarial, o operador de segurança pública pode se obrigar a ir para os “bicos” e daí aumentar sua carga de estresse com consequente perda da qualidade do serviço que tem de oferecer nas ruas, seja prevenindo o crime ou investigando. Além do mais, o instrumento de trabalho de um policial não é sua arma; é sua vida. Pois é sua vida que fica em jogo nas ruas quando vai trabalhar. Vida não tem preço. Mas trabalhador com dignidade que a todo momento lhe é exigido sacrifício e coragem, esse merece também salário digno. Alguns críticos dizem que a elevação do nível de escolaridade para ingresso polícia (Civil e Militar) fez essas duas instituições virarem passagem para os
“concurseiros” e que com isso caiu a qualidade
dos serviços prestados, com reflexos no aumento da criminalidade.
Ledo engano atribuir aumento de criminalidade àqueles que têm obrigação de combater atos delitivos. Seria o mesmo que responsabilizar médicos pelo surto da dengue ou o professor pelo aumento do analfabetismo. O crescimento da criminalidade se dá por outros vetores, tais como falta de investimento social na educação, aumento do desemprego, desencontro de mecanismos socializadores – familiar, religioso, escolar e etc. Por outro eixo, nunca vi excesso de instrução intelectual causar prejuízos, o contrário sim. A exigência do aumento de escolaridade para nível superior, contribuiu e tem contribuído para o melhoramento da segurança pública como um todo. O Governo de Brasília importou de Pernambuco o programa “Pacto pela Vida”, mas hoje possui no comando da Segurança um servidor que ajudou a gerir as famosas UPPs, no Rio. Não haveria um contrassenso nisso? O maior contrassenso é importar modelos falidos e pessoas que foram testadas suas estratégias de combate ao crime, em ambientes adversos ao que encontram no Distrito Federal. Não precisamos de fórmulas prontas e gestores engessados em modelos reconhecidamente falidos. Por outro lado, um governo que rasteja em todos os níveis do melhoramento de serviços públicos, o aumento da criminalidade apenas reflete a ineficiência do modelo aplicado.
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HÉLIO PEREIRA
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O instrumento
Em quem a sociedade deve acreditar, quando se trata de informações sobre o índice de criminalidade. No Buriti ou no Sinpol? Essa resposta se dá por muitos eixos. O aumento da criminalidade se sente caminhando nas ruas ou indo à padaria. Para todo lado se vê pessoas assustadas. Para isso não se precisa de estatísticas que desvirtuam a realidade. Temos que acreditar no que vemos nos noticiários em cenas fortes e, às vezes, até mesmo o que sentimos ou somos vítimas no dia a dia. Triste realidade, mas realidade. Temos que reagir. Sou a favor de uma cultura de paz. Mas, contra tanta violência, esse governo tinha que ser mais enérgico e tomar decisões que não precisem de estatísticas maquiadas.
de trabalho de um policial não é sua arma; é sua vida.
Segundo se sabe, sua relação com o delegado Eric Seba sempre foi boa. O senhor apoiaria o nome dele numa eventual indicação para Secretário de Segurança? Apoiaria qualquer nome que fosse egresso das duas forças policiais. Tanto na PCDF quanto na PMDF temos excelentes profissionais que exerceriam com desenvoltura e profissionalismo essa função. Não precisamos de interventores com fórmulas enlatadas de outros Estados ou corporações. O sindicato dos delegados acionou o TCDF alegando má distribuição dos recursos do Fundo Constitucional, inclusive acusando o Governo de gastar, indevidamente, tais recursos. O senhor acha que essa distribuição é irregular? Má distribuição é economizar qualificadoras para uma aberração inigualável que esse governo vem cometendo contra os recursos provenientes do Fundo Constitucional. O que existe é má fé, malversação de verbas públicas e péssima administração de um volume financeiro que, por si só, já deveria elevar o PIB e IDH do povo do DF a um patamar igual aos melhores países do mundo. Hoje estamos imersos na falência dos serviços públicos. Dinheiro tem de sobra. Falta qualidade de gestão.
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O governador Rodrigo Rollemberg, durante sua campanha eleitoral garantiu que, caso eleito, manteria a paridade da PCDF com a PF. O senhor se sente traído pelo governador? Só se sente traído aquele que acreditou. De minha parte já guardava distância e descrença sobre essa promessa. Agora, tudo que tiver ao nosso alcance para fazer que essa promessa seja cumprida, certo que faremos. A categoria não pode se desmobilizar. A cobrança deve ser continuada e sistemática. Como Distrital, pouco o senhor pode legislar acerca dos assuntos de interesse da PCDF, já que o tema é de competência do Legislativo Federal (Câmara e Senado). O senhor pensa em se candidatar a um cargo federal? Temos um mandato conferido pelo povo e não vou trair aqueles aos quais fui pedir voto e confiança. Por ora, sou um mandatário desse mesmo povo e só vou tomar decisões após ouvir meus eleitores e orientação de meu partido. Acho prematuro pensar em 2018. Tenho meu foco de trabalho na Câmara Legislativa.
Pois é sua vida
que fica em jogo nas ruas quando vai trabalhar. Vida não tem preço.
"
O TJDFT, por meio do Provimento 11, de 1º/06/17, autorizou os juízes criminais a receberem os Termos Circunstanciados – TCs, lavrados por PMs e pelos Auditores de Trânsito do DETRAN. Como o senhor vê essa medida? Acho razoável qualquer tipo de melhoramento dos serviços prestados ao cidadão, seja desburocratizando seja dando celeridade à procedimentos jurídicos. Todavia, essa matéria é de ordem que extrapola vontades ou reserva de domínio dessa ou daquela corporação. A ordem jurídica reinante tem margens bem definidas sobre a prevalência da titularidade da lavratura do Termo Circunstanciado.
A PCDF, que já foi um dos empregos mais atrativos do país e é considerada a polícia mais bem paga, não tem seus salários reajustados desde 2009. A que o senhor atribui este período negro nos salários da PCDF? Fatores internos e externos contribuíram para que esse quadro se instalasse em prejuízo dos policiais civis. Uma de ordem política governamental, má gestão, desrespeito e descumprimento de promessas feitas em período de campanha, a outra por desacertos nos encaminhamentos e forma como foram construídos ao longo do processo negocial. É preciso pacificar alguns setores e retomar as negociações em um nível diferente até aqui executados. n Marta Nobre O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 13
PEXELS
Educação
As vantagens do
"bebê-aba" bilíngue 14 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Educação
Ensinar línguas estrangeiras nas creches e pré-escolas – um desafio possível – traria enormes ganhos de aprendizagem para a sociedade
D
ia após dia surgem novas evidências a respeito das vantagens do bilinguismo, especialmente para as crianças que aprendem simultaneamente duas, ou mesmo três línguas, em seu ambiente natural. O temor de que isso levaria a confusão ou retardaria a fala não se verificou. Ao contrário, as novas evidências acumulam indicações sobre as virtudes de se aprender naturalmente mais de uma língua. Há conhecimentos já bem estruturados sobre o bilinguismo. Uma das primeiras evidências confirmou o fato de que quanto mais cedo a criança é exposta a diferentes línguas, melhor será o processamento fonológico, e, portanto, a criança irá aprender a falar sem sotaque e adquirir as nuanças da língua como um nativo. Um aspecto que também foi muito estudado são as vantagens secundárias decorrentes de aprender uma nova língua. É algo que vai muito além de apenas entender e falar outro idioma, pois requer identificar e antecipar em que língua falará um determinado interlocutor e um ajuste rápido dos circuitos cerebrais que serão inibidos ou ativados para que saia a resposta na língua correta. Os estudos reforçam a contribuição do bilinguismo para o desenvolvimento das chamadas “funções executivas” – que envolvem o controle da atenção e a capacidade de planejar e antecipar ações: crianças e adultos com proficiência em duas línguas apresentam melhor desempenho em tarefas que requerem mudar ou inibir uma resposta previamente adquirida. Ou seja: são mais ágeis para usar o cérebro e mais flexíveis para adaptá-lo a novas situações. Um terceiro aspecto também já bem consolidado refere-se às vantagens de uma aprendizagem simul-
tânea vs. sucessiva, pois nesses casos as palavras das duas línguas ficam armazenadas e relacionadas em áreas mais próximas do cérebro, facilitando o acesso e o intercâmbio entre as mesmas, e tornando o processamento mais automático, rápido e eficiente. Um estudo publicado em agosto de 2017 por pesquisadores do Baby Lab, da Universidade de Princeton, EUA, traz novas luzes ao tema e mostra que as mesmas características de bilíngues adultos já se encontram presentes em bebês de 20 meses: eles são capazes de mudar de uma língua para outra com a mesma facilidade, ou seja, sem custos adicionais de processamento pelo cérebro. Para demonstrar esse aspecto, os pesquisadores usaram estratégias criativas para medir a dilatação da pupila – um indicador de esforço cognitivo. O estudo prova, entre outras coisas, que as crianças aprendem e processam palavras de línguas diferentes (como “cão” e “dog”) como pertencentes a línguas diferentes, e não como dois nomes de um mesmo animal. Entre outros avanços, esse estudo ajuda a explicar a vantagem cognitiva dos bilíngues, que talvez esteja mais relacionada com a experiência de ouvir e processar duas línguas ao mesmo tempo – e não apenas com a prática de falar duas línguas. Uma diferença sutil, mas importante. Em um mundo cada vez mais globalizado, o domínio de uma língua adicional traz enormes vantagens para os indivíduos e para a sociedade. Cada vez mais se torna claro que seria muito mais eficiente ensinar línguas estrangeiras nas creches e pré-escolas – um desafio não trivial, mas que certamente traria enormes ganhos cognitivos para a população.
n Eduardo Nova O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 15
Mulher
QUER MESMO TRANSFORMAR
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decidiu ficar mais bonita de um jeito mais simples
16 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Mulher
O
verão está prestes a chegar e já começaram a dizer – na tv, no rádio, nas revistas – que você “precisa transformar o seu corpo”. Em algumas revistas femininas esta reportagem contabilizou 52 regimes milagrosos e inúmeras reportagens com tratamentos estéticos revolucionários e exercícios incríveis para deixar as mulheres com “barriga retinha, curvas sinuosas e nada de celulite”. Será mesmo? O verão chegou. Muito legal, hein? É melhor ir logo ao shopping para comprar aquele biquíni bacana. Você entra em diversas lojas. As luzes das cabines não favorecem sua imagem em frente ao espelho e logo, logo você começa a achar que a barriga “não está durinha” e as “indesejadas celulites” estão se multiplicando. Ao sair do shopping você passa na livraria e se depara com algumas revistas diferentes, mas que falam mais ou menos a mesma coisa: “você é capaz de conseguir um corpo perfeito até o verão”, “a mulher da capa tem um corpo incrível e dá para ficar como ela”. Basta seguir regimes de fome que te fazem perder uma dezena de quilos em um mês ao cumprir uma série de ordens: “Enxugue esse corpinho!”, “Construa músculos!”, “Conquiste uma barriga de tábua!”, “Empine esse bumbum!”.
Mas, influenciadas pelo bombardeio de frases na internet e fora dela do estilo “meu shape virou tábua”, muitas mulheres acabam indo para a academia correr atrás do milagre prometido. Quando chegam lá, encontram salas lotadas como um shopping em véspera de Natal. Algumas academias de Brasília registram um aumento de cerca de 20% com a aproximação do verão. O número das academias, impressionantemente, é pequeno se comparado ao movimento nas clínicas estéticas, aquelas onde um grande número de mulheres e homens vão fazer dez sessões de tratamentos que têm nomes como eletrolipoforese, estimulação russa, drenagem linfática, e que prometem acabar com celulites e gordurinhas. Nas clínicas, a procura chega a crescer 90% entre os meses de setembro e dezembro.
Ao que parece, só não consegue alcançar a perfeição do corpo quem não quer. Nas diversas publicações estudadas por esta reportagem, foram encontradas inúmeros tipos diferentes de regime e diversas reportagens com o tema “beleza no verão”. Há a “Dieta do prato cheio”, “O regime espiritual” e por aí vai. Todos a serem seguidos antes das férias, junto com sequências transformadoras de exercícios e tratamentos estéticos que prometem melhoras em tempo recorde.
Na avaliação de especialistas ouvidos pela reportagem da Entre Eixos, mais e mais mulheres procuram esses tratamentos estéticos por duas razões: acreditam em milagres e na lei do menor esforço. A engenheira Daniela Sousa (Nome fictício. A entrevistada prefere não se identificar), de 26 anos, que mede 1,62 metro e pesa 51 quilos é uma que já buscou muitas dessas soluções. “Para mim funciona a lei do menor esforço, faço o mínimo de ginástica possível para não fazer feio na praia.”
Mas espera aí - Férias não eram para que as pessoas possam relaxar? Para ficarem animadas porque vão passar o dia todo na praia. Sim, mas de repente todo mundo quer ficar bonita e ter um corpo invejável. Mas há uma diferença entre querer ficar bem e estar maníaca em busca do “corpo perfeito”, se sacrificando em regimes que fazem mal e passando horas na academia malhando mais do que o recomendado por médicos e especialistas da área esportiva.
A engenheira já fez duas lipos, drenagem linfática (massagem manual que estimula a circulação), mesoterapia com agulhas (injeções de medicamentos para celulite e flacidez), estimulação russa (choquinhos quase imperceptíveis que estimulam o local) e endermologia (massagem a vácuo com um
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Mulher
aparelho que aspira, massageia e fricciona a pele). “Não ligo de gastar dinheiro com isso. Quando começa aquele tempinho em que a gente já pode pôr biquíni, levo um choque. Mas, enquanto todo mundo fala que vai para a academia, eu penso: ‘preciso visitar a clínica’.” Depressão, frustração e baixa de autoestima - Às vezes o efeito do corpo perfeito pode vir de outra forma. No lugar do corpo dos sonhos, quem entra nessa de se internar na academia e fazer regimes radicais, segundo um psicólogo entrevistado pela revista Entre Eixos, pode alcançar outras coisas: depressão, frustração e baixa de autoestima. “Parece que tudo é fácil e que quem não conseguiu as mudanças que queria no corpo é um fracassado.”
Como sair do comum? - Aline Almeida, publicitária, prefere ir pela contramão do que “é o normal da moda fitness”. “É claro que vou comprar um biquíni bem legal e que esteja super na moda, vou passar meus cremes, mas não vou me sentir um monstro porque tenho um pouco de celulite.” De acordo com ela própria, fez uma coisa que às vezes parece que o mundo não quer que a gente faça: amadureceu. Ela prefere seguir seu próprio nariz. "Eu digo não as injeções corretoras, aos guias dos corpos perfeitos, do peito turbinado, das lipos sem sentido, ao enxugamento da celulite. Eu prefiro dizer sim para a minha felicidade e auto aceitação".
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Outra razão para se sentir um perdedor é o fato de a nova linguagem explorada no Instagram, Facebook e afins por uma ou outra musa fitness ter um tom de ordem e persuasão, muito parecido com o dos discursos de guerra. “Queimei a celulite”, “Enxuguei o meu corpo”. Esse discurso que abusa do “faça”, “consiga”, “mexa-se”, segundo o especialista entrevistado por esta reportagem, é parecido com a linguagem publicitária. A beleza e o corpo são tratados como um produto.
“Parece que tudo é fácil e que quem
não conseguiu as mudanças que queria no corpo é um fracassado.” n Elisa Padilha 18 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Mais mulheres, por favor
Elas estão ganhando cada vez mais
espaço no mercado de trabalho
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las estão chegando. Dos últimos 50 anos pra cá, as mulheres deixaram de atuar apenas no ambiente privado para também se destacarem no mercado de trabalho. Para elas galgarem novos e destacados postos, seriam necessários alguns avanços nas leis trabalhistas. Enquanto isso não acontece elas ganham seus espaços graças ao talento. Para ter ideia sobre o aumento da participação delas no mercado de trabalho, em 2007, representavam 40,8% do mercado formal de trabalho; no último ano elas passaram a ocupar mais de 44% das vagas formais.4
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Mulher
O ministro do trabalho, Ronaldo Nogueira, argumenta que “essa diferença tende a ser reduzida. Não faz sentido que mulheres capacitadas e em idade produtiva sejam preteridas no mercado de trabalho pelo único fato de serem mulheres. O Brasil tem reduzido essa injustiça. Esse é um caminho sem volta”. Em âmbito nacional, os locais com menos diferença de participação no mercado de trabalho formal entre homens e mulheres são Roraima, com 49,6% das vagas de trabalho ocupadas por mulheres, e o Acre, com 47,2%. O Distrito Federal e Mato Grosso são as unidades da federação com menos percentual de mulheres em atividades formais, segundo o levantamento do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) 39% e 39,5%, respectivamente. A média brasileira é de 44%.
Em 2016 mulheres passaram a ocupar
44%
das vagas formais de trabalho
Outro ponto de atenção é o fato de o desemprego ter afetado menos as mulheres nos últimos cinco anos do que os homens, apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em informações do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho. De acordo com o IBGE, entre 2012 e 2016, o total de homens empregados sofreu redução de 6,4%, contra 3,5% entre as mulheres. Outro ponto é a renda das trabalhadoras terem ganhado cada vez mais importância no sustento das famílias. A maioria dos lares brasileiros estão sendo chefiados por mulheres. Em 1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos depois, esse número chegou a 40%. Cabe ressaltar que as famílias chefiadas por mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há a presença masculina: em 34% delas, havia a presença de um cônjuge. Mesmo com essas melhoras, as mulheres ainda ganham em média menos do que os homens, mesmo tendo mais tempo de estudo e qualificação. No total, a diferença de remuneração entre homens e mulheres em 2015, ano com os dados mais recentes do indicador, era de 16%. O rendimento médio do homem era de R$ 2.905.91, e o pago às mulheres, de R$ 2.436,85. Mesmo assim, quanto à participação em cargos de chefia e gerência nas empresas e organizações, ainda é preciso avançar. Isso porque entre 5% e 10% dessas instituições são chefiadas por mulheres no Brasil, de acordo com um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Os estudos apontam ainda um crescimento na ocupação formal por mulheres entre 30 e 39 anos (43,8%) e entre 50 e 64 anos (64,3%). Os setores em que o percentual de mulheres ocupadas é superior ao dos homens são administração pública e serviços, enquanto homens são maioria na indústria de transformação; agropecuária, extração vegetal, caça e pesca; construção civil, serviços industriais de utilidade pública; e extrativa mineral. No comércio, a participação de homens e mulheres é bem equilibrada, sendo que 20,1% dos homens e 19,9% das mulheres estão no setor.
n Carolina Paiva 20 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Você significa tudo
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AFINAL, SOMOS A CAPITAL DA
?
GASTRO
NOMIA 22 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
?
Vinte anos atrás, para tomar um bom vinho em Brasília (e no Brasil, até), as alternativas eram um tanto quanto limitadas. E, na maioria das vezes, custavam muito caro. Ou você tinha recursos e bebia Bordeaux, Champagne, Barolo, trazidos por poucas empresas especializadas; ou se refugiava com a cervejinha de sexta-feira. O mercado ainda estava fechado, a produção nacional não havia se consolidado, a inflação era alta, a massa de consumidores ainda não era das mais possantes. No âmbito da comida, a situação era parecida. O cenário estava longe da maturidade. De um lado, havia uma casta superior de restaurantes franceses, italianos e carnes, especialmente. De outro, os clássicos da cidade, e um contingente de restaurantes e bares mais populares. Os ditos étnicos eram menos numerosos e não era ainda a fase dos contemporâneos. Cozinha brasileira? Passava-se bem, mas com menos diversidade. Hoje, bem mais madura gastronomicamente, é preciso reconhecer: a evolução gastronômica da cidade tem sido contínua e notória. É o que afirmam alguns consumidores e jornalistas especializados consultados por Entre Eixos. O salto de diversificação de opções, profissionalização, oferta de produtos e aprimoramento técnico tem se tornado algo admirável. Ainda que tenha bastante a avançar.
Uma metrópole como Londres oferece cozinhas de 150 etnias diferentes, algo ainda inimaginável para Brasília. Contudo, até pouco tempo atrás, não dispúnhamos de uma série de representantes étnicos. Sem falar numa leva ainda nova de imigrantes, como os libaneses ou os recémchegados refugiados sírios, que aos poucos vão se instalando e servindo seus shawarmas e esfirras. E a cidade, vejam só, ainda tem um bom caminho a percorrer nas tradições regionais brasileiras e, especialmente, na sua própria – que é caipira na essência com algo meio internacionalizado. Há certos segmentos brasilienses que já produziram restaurantes e cozinheiros que seriam competitivos em qualquer grande praça internacional. Da mesma forma que certas casas familiares, ligadas às colônias (japoneses, coreanos, árabes e entre outros), garantem experiências gustativas – e culturais – das mais interessantes. A cena gastronômica brasiliense não é das mais evidentes: é preciso procurar para encontrar. Consultando arquivos, e resumindo uma história longa, quase qualquer cozinheiro, afetando algum sotaque estranho, já era visto como um semi-gênio. Em que o risoto (a receita italiana, não o arrozão de
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Gastronomia
forno) era preparado com agulhinha, pela impossibilidade de comprar as variedades arbóreo e carnaroli, de difícil importação. Um bom queijo? Só se alguém trouxesse na mala. Massas de grão-duro? Também eram para poucos, nem pensar em encontrá-las, como agora, nas gôndolas da maioria dos supermercados.
A cena
gastronômica de Brasília é das mais efervescentes do país, com forte capacidade de invenção, com pessoas de talento envolvidas e uma plateia interessada.
n Arthur Guimarães 24 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Hoje, não apenas o acesso a ingredientes importados é vasto, como o próprio produto nacional evoluiu admiravelmente. Os cozinheirosídolos dos jovens estudantes de gastronomia não são mais os estrangeiros, mas talentos nascidos e criados aqui – muitos deles misturando, sem crises, o local e o globalizado. Alex Atala, Rodrigo Oliveira, Mara Salles, Helena Rizzo, Jefferson e Janaína Rueda e outros têm importância fundamental nessa transição. A recessão dos últimos anos foi duramente sentida pelo segmento de restaurantes. Não poucos fecharam, outros tantos estão penando para se manter, vários tiveram de rever caminhos e construir novas identidades. Entretanto, o que vem surgindo dessa nova realidade é algo muito interessante: preços foram revistos, clichês foram questionados, supérfluos foram dispensados, surgiram modelos de negócio mais racionais, uma cozinha mais autoral, que privilegia a singularidade em lugar da mera repetição de pratos de “domínio público”. Brasília cresceu gastronomicamente - A Capital já é adulta o suficiente para ouvir verdades. Já pode ser informada sobre as cegonhas, sobre o coelho da páscoa... E por exemplo, já pode ouvir que Brasília não é a capital gastronômica do Brasil, não possui pizzarias melhor do que na Itália, os sanduíches de foodtrucks não são maravilhas da gastronomia. Mas o conjunto (estabelecimentos, recursos humanos, insumos) é dos mais relevantes e criativos do país. Especialistas ouvidos por Entre Eixos apontam algumas questões que podem colocar Brasília entre os grandes da gastronomia: “parar com a insistência, em alguns segmentos, em valorizar mais o decorador do que o cozinheiro, em relegar treinamento (de cozinha e salão) a um segundo plano, parar com a atenção excessiva para modismos que já nascem dando a óbvia impressão de que vão durar um verão, e olhe lá”. E vale o destaque: a cena gastronômica de Brasília é das mais efervescentes do país, com forte capacidade de reinvenção, com pessoas de talento envolvidas e uma plateia interessada. Mas especialistas do ramo ouvidos por Entre Eixos, dizem que faltam endereços de qualidade e mais cozinhas excepcionais. E por parte do público, falta cobrar mais, exigir mais, sempre construtivamente.
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Precisamos falar sobre
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câncer 26 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Saúde
Segundo
pesquisa da
OMS,
conta da doença aumentaram
E
m algum ponto da vastidão ensolarada de Pernambuco, estado brasileiro de natureza extrema, um homem teve o seu último encontro. Não foi um encontro marcado, apenas forçado por uma ocasionalidade do destino. Na manhã da segunda-feira, 3 de setembro, Raul Gaspar* decolou sozinho, num monomotor Super Decathlon, emprestado por um amigo, filho e herdeiro de um grande magnata nordestino, em cuja fazenda costumam se reunir ricaços excêntricos de todos os tipos. Seria um voo rápido, mas Gaspar optou por flutuar sobre as nuvens por mais tempo – até, nas palavras dele, “esquecer uma situação inevitável”. Segundo o advogado de 63 anos, a corda de risco já estava esticada e era hora de saborear a sensação da intensidade plena pela primeira vez na vida. O motivo de sua impaciência com a normalidade fora um diagnóstico de um câncer que ele optara por não tratar com os métodos tradicionais. “Eu preferi deixar a vida me levar; sem intervenções”. Fisicamente, Raul Gaspar passaria despercebido em qualquer fila de aposentados – com seu rosto fino e inexpressivo, sua calvície assumida, sua musculatura confortável, sem indícios de malhação. Ainda assim, era magnético, pela forma meticulosamente planejada com a qual encarou a doença – uma doença que torna vitima um número cada vez mais alarmante de pessoas pelo Brasil e mundo afora. Pesquisas sérias de instituições igualmente sérias como a OMS, sublinham que as mortes por câncer, só no Brasil, aumentaram 31% em apenas 15 anos. Apesar do currículo e das opiniões, Raul Gaspar não era o protótipo do aventureiro que arrisca às cegas. Sabia recuar, incorporava a possibilidade de fracasso a cada novo dia que recusava o tratamento, mas parecia se alimentar do que vivia a cada novo dia, por uma necessidade interior, e não para
Brasil por apenas 15 anos
as mortes no
31%
em
buscar atenção das pessoas ao seu redor ou autopublicidade. A literatura sobre pessoas com câncer está repleta de exemplos semelhantes ao de Gaspar. “O meu desejo é apenas aproveitar o que me resta da maneira mais confortável o possível”. E pelo que as estatísticas mostram, histórias semelhantes podem estar acontecendo agora mesmo. O crescimento no número de câncer no Brasil e no mundo ascendeu todos os alertas possíveis. Para se ter uma ideia, o número de mortes por conta da doença, aqui no país, aumentou 31% desde 2000 e chegou a 223,4 mil pessoas por ano ao final de 2015. Os dados são de uma ampla pesquisa capitaneada pela Organização Mundial da Saúde, entidade que passou cada vez mais a estimular a descoberta da doença em um estágio ainda inicial e, assim, reverter essa expansão alarmante. Pela avaliação de Gustavo de Castro, Diretor Técnico de uma das instituições mais respeitadas sobre o assunto, o Instituto de Câncer de Brasília, o ICB, é preciso atentar-se para alguns cuidados. “A prevenção primária do câncer envolve hábitos de vida saudáveis, como alimentação saudável e prática habitual de exercícios físicos, evitar tabaco, evitar álcool em excesso, evitar sol no período entre 10 e 14hs. Exames de rastreamento (checkup) não evitam câncer, mas podem diagnosticá-lo precocemente”. Outra autoridade no assunto, Etienne Krug, diretor da OMS, afirma que o câncer é o "segundo maior motivo de mortes do mundo, depois de doenças cardiovasculares”. Ainda em sua interpretação, “por muito tempo, dizia-se que era uma doença de país rico. Isso não é mais verdade e o problema é global”, destacou o especialista. Neste particular, a OMS registrou uma expansão de 22% no número de mortes por câncer no mundo desde o início do século. Para a entidade, trata-se de uma das maiores já registradas pela medicina moderna.
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Saúde
A prevenção primária
do câncer envolve hábitos de vida saudáveis, como alimentação saudável e prática habitual de exercícios físicos, evitar tabaco, evitar álcool em excesso, evitar sol no período entre 10 e 14hs.
Instituições como o Instituto de Câncer de Brasília, são um alento neste cenário. É o que afirma Gustavo de Castro: “O ICB atua no sistema de saúde complementar, ofertando consultas com médicos e especialistas de múltiplas especialidades envolvidas no tratamento do câncer (oncologia clínica, oncologia cirúrgica, mastologia, ginecologia geral e oncológica, proctologia, urologia, cirurgia torácica, cirurgia plástica reparadora, dermatologia, nutrição, geriatria, infectologia, psicologia, reumatologia), além de promover campanhas de esclarecimento periódicas”. Hoje, segundo a OMS, os vilões são o câncer no sistema respiratório, com 28,4 mil casos em 2015. O câncer de cólon foi o segundo maior responsável por mortes, com 19 mil. Em terceiro lugar vem o tumor de mama, com 18 mil mortes em 2015 no Brasil. No restante do mundo, o principal responsável pelas mortes também são os cânceres ligados ao sistema respiratório, incluindo tumores de traqueia, de brônquio e de pulmões. No total, essas doenças fazem 1,6 milhão de vítimas por ano. Na virada do século XXI, eram apenas 1,1 milhão de mortos. E você Gaspar, acha alarmante esses dados? “Não penso mais sobre isso”, ele responde. E emenda com um notória meticulosidade e auto-controle: “alarmante é não aproveitar cada momento”. Segundo Laurence Gonzales, editor da National Geographic Adventure, no máximo 20% das pessoas consegue manter a calma em situações extremas. São justamente os que percebem a situação com clareza, e planejam a correção de curso, adaptando-se rapidamente à inesperada mudança de condições. Seria este o seu caso, Gaspar? “Talvez”, ele responde de maneira lacônica. *Raul Gaspar é um nome fictício nesta matéria. O verdadeiro nome foi alterado em pedido do próprio entrevistado.
n Clara Pereira 28 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
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Renato Russo O , 21 mito
ACERVO INSTITUTO RENATO RUSSO
anos depois
30 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Duas décadas sem a
genialidade do líder do Legião Urbana mostram que uma de suas frases – “no fundo, quero ser imortal" – se tornaram realidade
N
uma noite de julho dos idos de 1983, circulando num palco minúsculo do projeto Rock Voador, a bordo de uma camiseta de cor branca e calça jeans, ambos puídos, um Renato Russo ainda desconhecido mostrava à plateia da sua cidade natal, o Rio de Janeiro, ao que viera. Ali, cantando num timbre único e balançando-se de modo singular enquanto o público ia à loucura com suas letras, Renato deu os primeiros passos para cravar seu nome na história do rock nacional. Daquele dia em diante a cena musical brasileira viria a ganhar mais que um cantor talentoso, figura politizada, inteligente, sensível e um letrista de mão cheia – mas sim um poeta capaz de narrar da maneira mais sincera um pedaço do Brasil. Algumas dos seus pensamentos, por exemplo, traduzem os tempos correntes de Brasil imerso num lamaçal de corrupção política com fidelidade de detalhes. "Olha, a ignorância é vizinha da maldade. Isso é batata. Mas o que está acontecendo no Brasil, eu acho que talvez seja o último estágio. Isso vem desde o descobrimento do Brasil. Para cá vieram ladrão, louco, preso político, entendeu? Essa corja está aí até hoje. O povo, mesmo, está todo mundo ciente disso". Esse era o perfil de Renato: inteligente, perspicaz, um grande sedutor, com ideias e discursos únicos na cena cultural. Uma vida inteligente que começou em 1979, quando Renato formou a banda Aborto Elétrico, banda punk de Brasília, no qual permaneceu até 1982. Foi nessa época que Renato compôs grandes canções de sua carreira, como ‘Que País É Este’, ‘Geração Coca-Cola’, ‘Faroeste Caboclo’, entre outras. Depois desse período, Renato começou a realizar trabalhos solos, ficando conhecido com o epíteto de Trovador Solitário. No mesmo ano, conheceu alguns companheiros da música que vieram a formar a principal banda de rock da história da música brasileira, a Legião Urbana. Veio daí outro passo importante para a banda: a contratação dos artistas pela gravadora EMI-Odeon, onde lançaram o primeiro álbum no ano de 1985. A partir deste momento, nasceram grandes sucessos e discos marcantes para a música nacional. Ao todo, foram oito álbuns: Legião Urbana 1 (1985), Dois (1986), Que País É Este (1987), As Quatro Estações (1989), V (1991), Música para Acampamentos (1992), Descobrimento do Brasil (1993), A Tempestade (1996).4 O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 31
Tragédia - Quis o destino que Renato, nascido na madrugada de 27 de março de 1960, em uma clínica do Rio de Janeiro, falecesse em outra madrugada, a de 11 de outubro de 1996, no mesmo Rio que já conhecia e admirava o artista que se tornou uma espécie de mito da música nacional. Um mito vencido por uma broncopneumopatia, septicemia e infecção urinária, consequências do contágio pelo vírus HIV. Foram curtos 36 anos o tempo de vida de Renato. Tempo suficiente para deixar seu trabalho imortal, mas um tempo que contrariou o objetivo do cantor. "Vou escrever um livro quando chegar aos 50 anos. No fundo, quero ser imortal", escreveu Renato Russo. Argumento, trabalho e vida que seguindo o desejo do artista, tornaram-se imortais. Recentemente, por exemplo, foram lançados um álbum com regravações de músicas, reedições de discos, lançamentos de livros e montagens de peças escritas pelo artista que ajudam a rememorar obra e personalidade do letrista, cantor, poeta e exímio entendedor do espírito brasileiro. E não para por aí. Atualmente, Renato Russo continua sendo um clássico eterno da cultura brasileira, além de grande poeta, cantor e compositor. Sua obra permanece atemporal, no topo das paradas de sucesso, em constante movimento e conquistando seguidores e fãs como se estivesse presente.
Renato Russo não morreu - Tal como os norte-americanos afirmam que Elvis Presley não morreu, aqui, no Brasil, os fãs de Renato afirmam que o compositor e músico está vivíssimo. Músicas icônicas de sua safra estão hoje entranhadas na cultura popular brasileira comprovam a tese. Letras da estirpe de “Que País É Este” viraram verdadeiros hinos, gritos de ordem em protestos e uma filosofia a ser seguida. A pergunta que fica é: onde estão as bandas, músicos e letristas tão originais e marcantes como Renato Russo e sua Legião Urbana? O próprio filho do ícone da música brasileira, Giuliano Manfredini, responde: “Acho que o Brasil não anda bem em todos os setores, mas principalmente na educação, como sempre aliás, e consequentemente isso reflete diretamente na cultura”.
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Do que o Brasil precisa? - O próprio Renato Russo responde: "O que a gente precisa é de decência, sabedoria, comida e trabalho para as pessoas. E foda-se o resto. Eu não falo isso demagogicamente. Eu não preciso mentir, eu nunca menti. Quer dizer, eu já menti aqui e ali, mas não é aquela coisa: 'Oh, ele é falso... Ele atira em sua própria gente para provar que não é um deles'. Isso tudo está voltando, a gente está no fim dos tempos". Frases do tipo e canções emblemáticas do astro permanecem fortes como o mito construído em torno de sua figura, um homem de temperamento ansioso e drásticas oscilações de humor. Um homem que viera a ser uma das pessoas mais emblemáticas da história da redemocratização brasileira, com pensamentos e canções que funcionavam como feixes de pólvora ateando fogo em um Brasil que tentava domar o dragão da inflação. “Eu prefiro falar numa linguagem simples, mas dizendo coisas que realmente me são caras, preciosas, tipo: 'Disseste que se tua voz fosse igual à imensa dor que sentes, teu grito acordaria não só a tua casa, mas a vizinhança inteira'. Isso poderia ter sido escrito há dois mil anos, como pode ter sido escrito agora. Daqui a dois mil anos, ainda vai existir vizinhança”. Com pensamentos assim, não por acaso, Renato continua a atear fogo na cena musical e política brasileira mesmo ao longo destes 21 anos sem o músico. Sua faixa “Que País É Este”, composta quando ele tinha 15 anos, por exemplo, se tornou grito de guerra nas recentes manifestações políticas espalhadas pelas ruas de todo o país. Facetas de quem nasceu para nunca ser esquecido e dar vida a uma de suas frases icônicas: “no fundo, quero ser imortal".
" " No fundo,
ACERVO INSTITUTO RENATO RUSSO
quero ser imortal.
n Marta Nobre O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 33
VEM AÍ UMA NOVA ERA PARA O
MERCADO AUTOMOTIVO
Marcas
importantes como a
Volvo
passarão a ter apenas
carros elétricos e híbridos em sua frota, a partir de
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2019
DIVULGAÇÃO
O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 35
Brasília Shopping
20 ANOS O seu Brasília
EIXO de muitas histórias o QUADRADO da imaginação ASA dos sonhos ele é o seu BRASÍLIA o seu jeito de olhar as coisas a sua QUADRA particular o seu BLOCO de desejos o PILOTIS da sua diversão o COBOGÓ do seu imaginário o NORTE do seu caminho a CATEDRAL dos seus desejos o ATHOS das suas cores o OSCAR das suas conquistas o LÚCIO do seu imaginário o JK do seu futuro ele é o seu BRASÍLIA o seu EIXO na cidade o seu PATRIMÔNIO vivo o MONUMENTO do seu dia a dia.
36 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
Veículos
Os
carros de um futuro próximo devem ser muito diferentes
dos carros que usamos hoje.
Novas
tecnologias estão
chegando e devem mudar até a maneira como dirigimos
O mercado automotivo está prestes a marcar o início de uma nova era na evolução da economia industrial. E essa era tem nome: carros elétricos nas ruas. O responsável por essa mudança sem volta atende pelo nome Elon Musk. É de sua safra intelectual a marca de veículos Tesla e seus carros 100% elétricos. No embalo da Tesla, a tradicional Volvo balançou o mundo automotivo ao anunciar que em menos de dois anos seus lançamentos serão apenas modelos elétricos ou híbridos. Desta forma, torna-se a primeira grande fabricante de automóveis a estabelecer uma data para o fim de veículos movidos apenas a motores a combustão e iniciar o próximo passo da evolução industrial. A ideia inicial da empresa é lançar cinco carros 100% elétricos entre 2019 e 2021. Três desses modelos usarão emblemas Volvo, enquanto os outros dois serão Polestar. A divisão de performance da Volvo se transformará em uma submarca de carros elétricos de alto desempenho. “As pessoas exigem cada vez mais carros elétricos e queremos responder às necessidades atuais e futuras dos nossos clientes”, afirma Håkan Samuelsson, presidente da Volvo. A expectativa é ousada: vender um milhão de veículos elétricos até 2025. Os modelos lançados antes de 2019 vão continuar sendo fabricados com motores a gasolina ou diesel, mas a ideia do grupo é substituir os motores a combustão aos poucos com a chegada gradativa dos modelos mais limpos.
A mudança veio mesmo para ficar - Um discurso tido como polêmico em relação aos carros elétricos veio de quem menos se esperava: o CEO da Shell, Ben Van Beurden. De acordo com ele, seu próximo carro será elétrico. O comandante da maior petroleira de capital aberto da Europa trocará um carro a diesel por um Mercedes-Benz S500 e plug-in. E isso diz muito a respeito do futuro dos combustíveis fósseis. “O movimento geral de eletrificação da economia, de eletrificação da mobilidade em lugares como o noroeste da Europa, os EUA e até a China, é positivo”, destacou Van Beurden, em entrevista à Bloomberg TV. Ainda segundo ele, “precisamos de um grau muito maior de penetração dos veículos elétricos — ou dos veículos a hidrogênio ou dos veículos a gás — se quisermos nos manter dentro da meta dos 2 graus Celsius.” O Reino Unido informou que proibirá as vendas de carros movidos a diesel e a gasolina a partir de 2040, duas semanas depois de a França anunciar um plano semelhante para reduzir a poluição do ar e cumprir as metas para manter o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius. Enquanto isso, de acordo com a empresa de pesquisa Bloomberg New Energy Finance, os carros elétricos ultrapassarão os veículos movidos a combustíveis fósseis em vendas dentro de duas décadas, quando os preços das baterias caírem. Os carros plugin responderão por um terço da frota global de automóveis em 2040 e eliminarão cerca de 8 milhões de barris por dia de produção de petróleo.
E você, está pronto para tal mudança? n Pedro Siqueira O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 37
Veículos
Tecnologias que veremos
em carros
do futuro 38 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
I
magine a seguinte situação: você está atravessando um cruzamento e não consegue ver um outro carro passando pelo sinal vermelho e vindo em sua direção. Esse acidente poderia ser evitado se os carros se comunicassem, acionando os freios automaticamente, certo? Pois é nesse tipo de tecnologia que algumas montadoras já estão trabalhando. São carros que se comunicam com uma tecnologia chamada vehicle-to-vehicle communication, que deve ajudar a reduzir o número de acidentes.
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Veículos
E a onda de inovações não para por aí. Para deixar a vida do motorista ainda mais cômoda, a inteligência artificial vai dominar o cenário. Em um futuro próximo por exemplo, os carros acompanharão a tecnologia inteligente dos smartphones e começarão a aprender mais sobre os hábitos do motorista, como sintonizar automaticamente a rádio que você costuma ouvir ao ir para o trabalho, ou ainda enviar um SMS para seu chefe caso o trânsito faça com que você se atrase. Será que exite mais autonomia do que isso? Sim, existe. Empresas como Google e Nissan seguem trabalhando forte no desenvolvimento de carros autônomos, que podem até mesmo dispensar motoristas humanos. Esses carros serão capazes de fazer uma viagem sozinhos sabendo o caminho, desviando de obstáculos e com segurança. Nos próximos anos devemos ver os primeiros carros autônomos sendo demonstrados nas vitrines das principais lojas pelo país. E a maioria desses carros, segundo fontes especializadas, virão com um item de série pra lá de moderninho: realidade aumentada no para-brisa. Tem dúvida sobre como funcionaria? Pense no visor do Exterminador do Futuro ou do Homem de Ferro. Agora imagine esse visor sendo o seu para-brisa, exibindo informações com tecnologia de realidade aumentada. A BMW já usa essa tecnologia para exibir algumas informações básicas no carro, como velocidade ou previsão do tempo, mas uma tecnologia mais avançada poderia identificar objetos à frente e mostrar outras informações, como a distância até aquele objeto.
São tecnologias que imporão uma mudança significativa na indústria automotiva. Mas nenhuma tecnologia é mais revolucionária do que a nova aposta das montadoras: carro com motor elétrico. E esses ‘motores’ já não são mais novidade, mas eles devem se tornar cada vez mais comuns em um futuro mais próximo do que muitos imaginam. A Tesla deu um passo importante nessa direção ao abrir suas patentes para que qualquer empresa possa usar suas tecnologias. O meio ambiente será o maior beneficiado dessa postura por parte do capitão da marca Elon Musk. Carros como o do biolionário Musk já contam com algo que é lugar comum nos smartphones: sistema operacional. Afinal, para que serve um carro inteligente e com conexão 4G se ele não tem um bom sistema operacional para gerenciar isso tudo? Empresas como Google e Apple brigam para trazer suas versões de sistemas operacionais para os carros, com produtos como o Android Auto e o CarPlay. Em breve no carro mais perto de você. E para fechar com chave de ouro, algumas montadoras já preparam carros totalmente eficientes e movidos a energia solar. Até a tecnologia dominar o mercado, a energia solar já pode ajudar a armazenar energia. Alguns carros-conceito com painéis solares já foram demonstrados em eventos. Eles são capazes de recarregar a bateria do carro e aumentar a autonomia, diminuindo a dependência da gasolina. n Rebecca Alencar O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 39
40 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
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O planeta estรก mudando. 42 . ENTRE EIXOS . O ut ub ro /N ov e m b ro 2017
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Eo que você tem com isso? O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 43
Mundo
A sociedade, a economia e a política
vivem um momento de ruptura histórica. E essas novas tendências e mudanças vão influenciar a sua vida
A
lguns acontecimentos ao longo dos anos alteraram profundamente o curso da história global. A queda do Muro de Berlim, os ataques de 11 de setembro, o colapso financeiro de 2008, entre tantas outras. Um sem-número de mudanças históricas, entretanto, passam despercebidas pelos radares gerais, mas podem ter um impacto tão substancial quanto o desses eventos na forma como a economia, a sociedade e a política estão organizadas. E adivinhe: são novos rumos que podem mudar a forma como você vive hoje. O primeiro sinal dessa mudança pode ser visto hoje, em um momento de excepcional ruptura histórica, onde as maiores economias já não crescem como nas décadas passadas. Um dos motivos: o avanço da tecnologia, que já dificulta a geração de empregos. Como consequência, há um aumento da desigualdade social, o que pavimenta a chegada de políticos populistas ao poder. Num cenário de insatisfação e incerteza, ideias ultrapassadas, como o protecionismo, ganham adeptos. Enquanto fatores assim vão se desenrolando pelo mundo, a reportagem de Entre Eixos avaliou alguns fatores que mais representam essas mudanças para entender aonde esses embates levarão o mundo. O resultado é um conjunto de reportagens especiais sobre tendências globais que estão mudando o mundo. O resultado da apuração, felizmente, sugere um cenário menos conturbado do que o vislumbrado atualmente — se não cairmos na tentação de abraçar ideias que já se provaram perdedoras. Ainda não está claro que tipo de sociedade teremos daqui para a frente. Mas é preciso cuidar para que falsas promessas não nos conduzam a um retrocesso. Dito isso, veja o resultado desse esforço nos destaques a seguir.
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A MARCHA ACELERADA DO POPULISMO A vitória de Trump e seus primeiros meses à frente do governo trouxeram à tona perguntas e questionamentos aos quais uma das democracias mais tradicionais do mundo não estava acostumada. Quando acontece de um político desse tipo chegar ao poder na América Latina, na Ásia ou na África, a população local costuma sentir, mais cedo ou mais tarde, as consequências em termos de diminuição da liberdade de imprensa ou de outros direitos democráticos, mas os efeitos são circunscritos ao país. A presença de um político considerado populista na Casa Branca coloca a questão numa dimensão global. Nos últimos meses cresceu o medo de que a democracia americana esteja em perigo. Muitos passaram a se perguntar se Trump, apenas por ser do jeito que é, já não estaria enfraquecendo a ideia da democracia em várias partes do mundo. A derrota de Marine Le Pen na corrida presidencial francesa neste ano amenizou, mas não dissipou totalmente, o medo. Afinal, populistas europeus continuam firmes e fortes.
A POPULARIZAÇÃO DO PROTECIONISMO A consequência direta desta postura que vem se popularizando ao redor do mundo é um comércio internacional andando em marcha lenta e o temor de que a globalização vai dar uma marcha a ré. E sobram motivos para crer em tal tese. No México, por exemplo, as empresas já sentem os efeitos graças a redução de trocas comerciais com países como os Estados Unidos. O que acontece ali, no México, é a parte mais visível do temor generalizado de uma marcha a ré da globalização. Em 2016, o comércio global aumentou apenas 2%, a pior taxa desde 2008. De acordo com o Banco Mundial, a desaceleração das trocas comerciais não é algo novo e tem entre suas causas o ritmo lento da economia mundial. Mas, pelo menos desde 2016, há um fator a mais inibindo o comércio: a ameaça do protecionismo. A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia foi o primeiro golpe. A eleição de Trump, com seu tom beligerante contra o livre comércio, acabou por espalhar o medo. Há outros problemas.
O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 45
A DESACELERAÇÃO DA ECONOMIA O exemplo mais destacado da desaceleração vem do Japão, como um exemplo extremo de um problema que atinge as principais economias: o baixo crescimento, quando não uma estagnação ou uma recessão. Tecnicamente, o Japão é um país em pleno emprego — o índice de desemprego, de 2,8%, é o menor dos últimos 22 anos. Mas os salários são relativamente baixos. E salários baixos combinados com a insegurança — hoje, apenas 20% dos trabalhadores ficam a vida toda na mesma empresa, e cerca de um terço tem contrato por tempo determinado — resultam em consumo fraco e paralisia econômica. Com uma população que encolhe 94.000 habitantes por ano, o Japão é o exemplo extremo do baixo crescimento nas economias avançadas. Ao lado dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, o Japão tem crescido de 1% a 2% ao ano, quando não amarga uma estagnação ou mesmo uma recessão. Essa situação, que se arrasta desde 2008, tem dividido os economistas entre duas leituras: a de que ainda estamos sofrendo os reflexos da crise financeira internacional e a de que atravessamos algo mais estrutural e profundo, chamado “estagnação secular”.
SOCIEDADES EXTREMAMENTE DESIGUAIS A concentração de renda é um problema que atinge vários países. Um dos mais atingidos, pasme, é a nação mais poderosa do globo: os Estados Unidos. De acordo com os dados mais recentes do censo, 13,5% dos americanos vivem abaixo da linha de pobreza, o que significa uma renda anual de pouco menos de 19.000 dólares para uma família de três pessoas. O número vem melhorando nos últimos anos, mas ainda está acima dos 11% registrados no período prérecessão. E 18% dos americanos estão só um pouco acima da linha de pobreza — o que significa uma situação econômica difícil, especialmente em regiões onde o custo de vida é elevado. As famílias no alto da pirâmide — os 10% mais ricos — têm nove vezes a renda das 90% restantes, em média. No topo, a diferença é ainda mais gritante: o 1% dos americanos mais ricos tem renda média 38 vezes maior do que a desses outros 90%. Somente um século atrás, às vésperas da Grande Depressão, houve tamanha concentração de riqueza nos Estados Unidos.
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PEXELS
A GUERRA CONTRA A CORRUPÇÃO Não é só no Brasil que os corruptos ficaram sem lugar. Ao redor do mundo, políticos e empresários envolvidos em escândalos de corrupção são confrontados numa escala jamais vista nas últimas décadas. Fora do Brasil, a punição aos crimes de corrupção também cresceu num ritmo notável. Segundo um relatório da OCDE, de 1999 a 2014, foram revelados no mundo mais de 400 casos de corrupção internacional, nos quais mais de 260 indivíduos e 160 empresas e órgãos públicos foram investigados, denunciados e receberam algum tipo de sanção. O país mais ativo no combate a esses crimes ainda é, de longe, os Estados Unidos — o que mostra que os demais têm um longo caminho pela frente. A boa notícia é que isso vem acontecendo. Alemanha, Coreia do Sul, Itália, Suíça, Reino Unido e França também aparecem na lista dos países que conseguiram identificar e punir os crimes (o Brasil ainda não havia punido as empresas da Lava Jato quando o estudo foi feito).
O TRABALHO CADA VEZ MAIS ROBOTIZADO O que era uma mera hipótese futurística transformou-se em realidade. O uso de robôs e softwares que substituem o trabalho humano acelerou. Agora os economistas questionam o que fazer para gerar empregos para todos. O crescimento dos robôs colaborativos é a parte mais visível de uma transição que vem ocorrendo no mercado de trabalho no mundo todo. A mecanização das linhas de montagem e a automação de tarefas antes feitas por humanos vêm se acelerando nas empresas. A cada ano, mais 240.000 robôs industriais são vendidos no mundo e esse número tem crescido a uma taxa média de 16% ao ano desde 2010, puxado principalmente pela China. Atividades rotineiras nas fábricas, como instalar uma peça, hoje podem ser feitas usando máquinas como os braços robóticos de baixo custo.
n Tiago Oliveira O ut ub ro /N ov e m b ro 2017 . ENTRE EIXOS . 47
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Economia
AS EMPRESAS e suas sociais responsabilidades
A
economia é uma roda e precisa que cada eixo da engrenagem cumpra sua missão para manter o giro. Produtividade e lucratividade são partes de um processo que deve envolver também a contrapartida social das empresas à sociedade. “O cliente não adquire somente o produto ou serviço, ele compra a cadeia produtiva que os acompanha. O consumidor quer investir seu dinheiro em produtos que zelem pela ética empresarial, que tenham responsabilidade social, ele precisa vislumbrar que está aplicando os recursos que dispõe em um círculo virtuoso”, afirma o Diretor-Presidente da BRBCARD, Ralil Nassif Salomão. A administradora brasiliense de cartões de crédito foi considerada pela Revista Exame, em 2017, como uma das 100 maiores e melhores empresas do país. A Companhia foi avaliada também pela excelência na aplicação de políticas de gestão de pessoas. Segundo a entidade Great Place To Work (GPTW), a BRBCARD é uma das melhores empresas para se trabalhar, no Centro-Oeste. O sucesso no plano empresarial é compartilhado com a sociedade sobre a forma de apoios e programas que contribuem para o desenvolvimento de talentos e para o bem-estar dos cidadãos.
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DIVULGAÇÃO
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O cliente não
adquire somente o produto ou serviço, ele compra a cadeia produtiva que os acompanha.
Ralil Nassif Salomão Diretor-Presidente da BRBCARD
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No escopo da campanha “Doe livros, compartilhe cultura”, a BRBCARD desenvolveu, em parceria com o Metrô, ação para incentivar os passageiros a utilizarem o tempo entre uma viagem e outra para apreciarem um bom livro. Doze estações do Metrô de Brasília receberam 24 livreiros que guardarão e receberão obras para o desfrute dos cidadãos que utilizam o transporte público.
De acordo com a Codeplan, 63,5% dos moradores do DF não cultuam o hábito da leitura.
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De acordo com pesquisa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), 63,5% dos moradores do DF não cultuam o hábito da leitura. O objetivo do projeto Leitura Solidária é estimular esse costume durante a locomoção. O Metrô é um excelente local para incentivar a prática. O meio de transporte recebe aproximadamente 170 mil pessoas por dia. Quem quiser utilizar os livreiros da BRBCARD pode escolher livremente o título que mais chamar a atenção, assim como deixar um livro como contribuição para que outras pessoas possam ler. Do incentivo à cultura para o esporte, a Companhia brasiliense se orgulha de ter a marca estampada no uniforme da vitoriosa equipe do Time Brasília de Saltos Ornamentais. A seleção de talentos conta com os atletas Hugo Parisi, Luana Lira, Anna Lúcia dos Santos e Luís Felipe Moura. Este ano, a BRBCARD renovou o patrocínio ao time. O apoio também se estende ao trabalho social “Saltando para o Futuro”, projeto que acontece no Centro de Excelência em Saltos Ornamentais, da Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, o centro recebe 80 crianças de escolas públicas do Distrito Federal e já vem alcançando resultados expressivos nas categorias de base da modalidade, com a descoberta de talentos.
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Hugo Parisi é um dos melhores atletas brasileiros da história dos saltos ornamentais. Ele conquistou resultados expressivos na plataforma de dez metros, sua especialidade, colocando Brasília e o Brasil em grande destaque no cenário internacional. Luana Lira, Anna Lúcia dos Santos e Luís Felipe Moura são talentos do esporte e despontam como promessas para manter o nome do Brasil na elite dos saltos ornamentais. O eixo social também integra os planos da BRBCARD. Durante o ano, a empresa desenvolve campanhas de ações voluntárias. Este ano, a mobilização pela arrecadação de agasalhos durante o período do inverno conseguiu angariar roupas para centenas de pessoas. Agora, para o mês de outubro, equipes da BRBCARD já se preparam para atuar como multiplicadores na campanha de conscientização do Outubro Rosa. Além de alertar mulheres sobre a importância da prevenção contra o câncer de mama, serão arrecadados kits de higiene pessoal e adereços como lenços e doação de cabelo para perucas, que serão destinados a mulheres em tratamento contra a doença. No mês de novembro, a mobilização do público masculino para os cuidados com a saúde ganha atenção. A empresa investe na campanha Novembro Azul que orienta homens com idade a partir de 45 anos sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata e da necessidade de se adotar hábitos de vida saudável. Formar consumidores conscientes também é uma missão para a BRBCARD. A Companhia tem convênios com escolas da rede pública e particular e oferece cursos de educação financeira para alunos do Ensino Médio. A partir dos 17 anos, o estudante começa a ser inserido nas esferas de consumo e a empresa acredita que um cidadão consciente faz escolhas mais eficazes e gerencia melhor seu dinheiro, contribuindo assim para a formação de um mercado mais sólido.
Formar
consumidores conscientes também é uma missão para a
BRBCARD.
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1, 2, 3 e 4 quartos na Asa Norte com inauguração programada
CJ 1700
V I SI T E A PA RTA M EN TO S DECORADO E MODELO CORRETORES DE PLANTÃO www.paulooctavio.com.br
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Residencial Carlos Chagas 2° OFÍCIO R.11/26336
208 Norte 4 Quartos Cobertura duplex 261 a 269 m² Apartamentos tipo 126 a 129 m²
Inauguração 26 de agosto
Residencial Betty Bettiol
2⁰ OFÍCIO R 11/2389
211 Norte 2 e 3 Quartos 3 qtos 96 a 98 m² Cob. duplex 3 quartos 201 a 205 m² 2 qtos 73 a 75 m² Cob. duplex 2 quartos 157 a 161 m²
Inauguração 16 de setembro
Residencial Francisco Brennand 2⁰ OFÍCIO R17/35880
115 Norte 4 Suítes 4 suítes 219 a 239 m² 3 vagas de garagem Cob. duplex 438 a 478 m² 4 vagas de garagem
Inauguração 30 de setembro
CENTRAIS DE VENDAS 61
3340 1111
208/209 Norte (Eixinho, ao lado do McDonald’s)
61
3562 1111
Águas Claras (Av. Araucárias)
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Direito & Justiça
A crise do Poder Judiciário no Brasil: reflexos no STJ
N
um cenário de crise do Poder Judiciário é lugar comum que a prestação jurisdicional é lenta. É tardia. Um processo cível dura longos anos, sem garantia de efetividade, de cumprimento. Ou seja, ganha a causa, “mas pode ser que não receba o devido”. E não é pela falta de magistrados e servidores, considerando alguns poucos Tribunais com excesso e outros com escassez de juízes e servidores. Também não é pela informatização, apesar de contrapontos entre sistemas, pauta essa em discussão no Conselho Nacional de Justiça. E não é pela falta de uma legislação moderna, apesar do Código de Processo Civil de 2015 ainda não apresentar resultados concretos para a racionalização do sistema processual civil.
André Macedo de Oliveira
Advogado Doutor em Direito pela UnB Professor da Faculdade de Direito da UnB
Nesse cenário de não culpados pela crise do sistema e pelas inúmeras razões pela não prestação do serviço que lhe compete, cabe ao Poder Judiciário buscar um choque de gestão administrativa e cultural para alavancar o seu fim maior, que é a entrega da prestação jurisdicional. Fora o tempo e a gestão, uma mudança há que ser observada: o do papel constitucional do STJ. É preciso rever o papel desse Tribunal que é o de Corte uniformizadora da legislação infraconstitucional. A criação do Superior Tribunal de Justiça foi um marco na Constituição de 1988. Uma “mesa-redonda” realizada na Fundação Getúlio Vargas, ainda em 1965, está na origem do debate sobre a concepção do Superior Tribunal de Justiça.1
1 Desse encontro participaram os juristas Levy Fernandes Carneiro, Alcino de Paula Salazar, José Frederico Marques, Miguel Seabra Fagundes, G. Ulhôa Canto, Caio Mário da Silva Pereira, Mário Pessoa, Caio Tácito, Flavio Bauer Novelli, Miguel Reale e Themístocles Brandão Cavalcanti, que presidiu os trabalhos.
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Direito & Justiça
Falava-se na criação de um tribunal que se ocupasse de parte da competência do Supremo Tribunal Federal no tocante à apreciação dos recursos extraordinários relativos ao direito federal comum. O relatório do debate aponta para a criação de “um único tribunal que teria uma função eminente como instância federal sobre matéria que não tivesse, como especificidade, natureza constitucional, ao mesmo tempo que teria a tarefa de apreciar os mandados de segurança e habeas corpus originários, os contra atos dos Ministros de Estado e os recursos ordinários das decisões denegatórias em última instância federal ou dos Estados”.2 Imbuídos de atribuir um novo papel ao Supremo Tribunal Federal, a ideia desses renomados juristas era, em essência, encaminhar os recursos extraordinários fundados exclusivamente na lei federal ao novo Tribunal, de modo a aliviar a sobrecarga do Supremo Tribunal Federal.3 Aliás, antes mesmo dessa mesa redonda, José Afonso da Silva apontava a necessidade da criação de um Tribunal Superior “correspondente ao TSE e ao TST para compor as estruturas judiciárias do Direito comum, do Direito fiscal federal e questões de interesse da União e do Direito penal militar”. Esse órgão, que José Afonso chamaria de Tribunal Superior de Justiça, “teria como competência fundamental, entre outras, julgar, em grau de recurso, as causas decididas em única ou última instância pelos tribunais ou juízes estaduais, dos feitos da fazenda nacional e militares”.4 Até a Carta de 1988, as questões de uniformização da legislação federal eram submetidas ao Supremo Tribunal Federal, por meio do recurso extraordinário. Foi no art. 27 do ato das disposições constitucionais transitórias que se regulamentou a instalação do Superior Tribunal de Justiça. Egídio Ferreira Lima, na sessão da Comissão da Organização dos Poderes e Sistema de Governo da Assembleia Nacional Constituinte, em 27 de maio de 1987, sob a Presidência de
Oscar Corrêa, a qual contou também com a presença do então Procurador-Geral da República, Sepúlveda Pertence, destacou o ponto da “renovação do Judiciário” a partir da criação de um Superior Tribunal de Justiça com “competência para a interpretação da lei federal e para a unificação da jurisprudência no conflito entre Tribunais”.5 Antes, porém, em 6 de maio de 1987, o então Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Sydney Sanches, também compareceu à sessão da Comissão, na qualidade de RelatorGeral da proposta do Supremo Tribunal Federal à Constituinte, e destacou que antes de fixar as suas convicções, o Supremo ouviu as sugestões e manifestações de “todos os tribunais do País”. Entre as propostas analisadas, o STF desaprovou a ideia de se “criar um Tribunal Superior de Justiça (abaixo do Supremo Tribunal Federal), com competência para julgar recursos extraordinários oriundos de todos os Tribunais Estaduais do País”.6 A opinião contrária do STF era baseada, segundo revelam os anais da Assembleia Nacional Constituinte, na eventual prejudicialidade da “autonomia das Justiças Estaduais, que ficariam sob a jurisdição de um Tribunal Federal”, e que não seria um Tribunal de toda a Federação, como o Supremo. Seria um Tribunal “intermediário, sem força de Tribunal da Federação, e que reformaria os acórdãos da Justiça dos Estados, que teriam sua autonomia consideravelmente atingida”. O Ministro Sydney Sanches apresentou ainda a importância de um tribunal de caráter nacional, com jurisdição em todo o País, continuar “exercendo competência sobre as questões federais de maior repercussão na ordem jurídica”. E ainda “que o Brasil tem peculiaridades históricas, geográficas, sociológicas, étnicas, com uma formação fisiológica, política, econômica, moral e religiosa tão diversificada que é muito perigosa a adoção pura e simples de modelos alienígenas para solução de seus problemas judiciários.”7
Revista de Direito Público e Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas, vol. VIII, tomo 2, maio/agosto de 1965, págs. 134 e seguintes. Vale conferir ainda artigo de MIGUEL REALE. O Tribunal Superior de Justiça. Folha de São Paulo, Tendências/Debates, sexta-feira, 5 de junho de 1987. SILVA, José Afonso. Do recurso extraordinário. São Paulo: RT, 1963, pág. 456. 5 Diário da Assembleia Nacional Constituinte (Suplemento), Câmara dos Deputados, publicado em 5 de agosto de 1987, pág. 8. Nessa passagem, EGÍDIO FERREIRA LIMA destaca ainda a criação dos Tribunais Regionais Federais, “ensejando-se a descentralização do julgamento da matéria recursal concernente à Justiça Federal”. E ainda: “Comandos precisos visam a uma justiça mais rápida e eficiente, ao tempo em que se instituíram juízos especiais mais próximos da população e com processos rápidos”. Sobre o Constituinte Egídio Ferreira Lima, confira: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao>. 6 Diário da Assembleia Nacional Constituinte, págs. 23-24. 7 Diário da Assembleia Nacional Constituinte, pág. 24. 2 3 4
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Direito & Justiça
Ao tratar do Tribunal Federal de Recursos, Sydney Sanches o destacou como “notoriamente sobrecarregado”. Apontou a necessidade da “racionalização de trabalho na Justiça Federal de 2ª instância”, pois, na verdade, “o Tribunal Federal de Recursos é a 2ª e a 3ª instâncias na Justiça Federal. Por isso, jamais conseguirá superar o acervo de processos que lá se encontra”. Como se vê, o cenário, desde o TFR, era de sobrecarga de trabalhos e grande volume de processos. A necessidade de racionalização de trabalho permeava todo o debate. Aliado a isso, apontou Sydney Sanches que “a proposta Afonso Arinos cria um Tribunal Superior que seria superior para a Justiça Federal e para a Justiça dos Estados”.8 Como se vê, a essência do STJ está nos debates da Assembleia Nacional Constituinte. Lá estão os alicerces do papel constitucional desse Tribunal: a uniformização da legislação infraconstitucional. E é nessa toada que ele vem caminhando, em especial, com a consolidação de teses por meio dos recursos especiais repetitivos, marco balizador da racionalização da jurisprudência do Tribunal, semeado pelo professor e ex-Ministro do STJ Athos Gusmão Carneiro. Contudo, esse Tribunal, também está sobrecarregado. Em 2012, o STJ julgou 371.618 processos. Excluindo-se os meses de janeiro e julho (recesso) e os sábados e domingos, pode-se afirmar que o STJ julgou 1.858 casos por dia. E mais. Considerando os 33 Ministros do Tribunal, cada um julgou, em média, 56 processos por dia em 2012. Considerando 8 horas de trabalho, cada Ministro julgou, em média, 7 processos por hora em 2012.9 Esses dados alarmantes aumentaram nos anos seguintes. Em 2016, o STJ julgou 470.722, ou seja, julgou 2.353 casos por dia. Cada Ministro julgou, em média, 80 processos por dia em 2016. Em 1990 foram julgados 11.742 processos, com 58 processos por dia e 2 processos, em média, por cada Ministro.
Em 2016, o STJ julgou 470.722 processos. 2.353 casos por dia. Cada Ministro julgou, em média, 80 processos por dia.
Pelos dados estatísticos, vê-se que o papel constitucional do Superior Tribunal de Justiça de uniformizador da legislação infraconstitucional, mesmo considerando os esforços administrativos e de gestão dos Ministros e servidores, caminha na contramão dos propósitos alinhados na Assembleia Nacional Constituinte em 1987, bem como nos debates acadêmicos que a antecederam. Os debates dos constituintes caminhavam para uma renovação do Judiciário com a criação de um Tribunal com “competência para a interpretação da lei federal e para a unificação da jurisprudência no conflito entre Tribunais”.10 Cabe ao próprio Superior Tribunal de Justiça , com um olhar interno em gestão e cultura, aprimorar o seu papel de uniformizador da legislação federal. O resgate do papel constitucional do STJ só pode ser feito pelo próprio STJ. É a terceira margem do STJ.
Diário da Assembleia Nacional Constituinte, pág. 27. Segundo a proposta do STF, “as turmas de ministros, pequenas, seriam especializadas. Só a uniformização seria matéria de Plenário. Assim, Plenário não seriam tão frequentes. Essa é que seria a maior dificuldade, mas a agilidade do Tribunal seria grande nas Turmas, pois cada uma teria a sua especialidade: tributária, administrativa, matéria penal, matéria civil e assim por diante”. 9 Excluindo-se os meses do recesso – janeiro e julho –, foram julgados 1.218 processos por dia no âmbito do STJ em 2012. Considerando os 200 dias úteis do ano, excluindo janeiro e julho e os sábados e domingos, foram julgados 1.858 processos por dia no Superior Tribunal de Justiça. 10 Diário da Assembleia Nacional Constituinte (Suplemento), Câmara dos Deputados, publicado em 5 de agosto de 1987, pág. 8. 8
as reuniões do
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Mulher
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