Ano 12 N0 80 R$ 7,90
DECORAÇÃO
VERDADE E BELEZA NOS MATERIAIS BRUTOS
GASTRONOMIA
Primavera em
AMSTERDAM
Cores, flores, céu azul, alto astral
OS SABORES DA FERMENTAÇÃO NATURAL
Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br
EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Bete Duarte, Beto Conte, Flavia Mu, Dóris Fialcoff, Milene Leal, Tatiana Leal
REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Beto Conte, TriLeal Trip Photos, Carin Mandelli, Cris Berger, Marcelo Donadussi, Cristiano Bauce COLUNISTAS Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Cris Berger, Fernando Lokschin, Luiza Estima, Luís Augusto Fischer, Roberta Coltro, Tetê Pacheco EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COMERCIALIZAÇÃO Carlos Eduardo Moi (eduardo@entrelinhas.inf.br), Nelma Soares (nelma@entrelinhas.inf.br), fones: 51 3026.2700 e 3024.0094 A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.
TIRAGEM 20.000 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Pallotti ArtLaser
ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 675, cj. 301 Porto Alegre I RS I Brasil I 90440 000 51 3026.2700
FOTO: TRILEAL TRIP PHOTOS
N OTA
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OCTOGENÁRIA
80. Um belo número, que reflete uma longa, e também bela, trajetória. Chegamos à edição de número 80 da Estilo Zaffari, e isso nos enche de alegria! Nada poderia ser mais contundente do que essa longevidade para demonstrar o valor do trabalho que vem sendo feito e, melhor ainda, a aprovação do nosso público, das pessoas para quem pensamos e elaboramos com o maior capricho cada matéria, cada página, cada texto e cada foto da Estilo Zaffari. A proposta de ser uma revista de boas ideias, de inspiração, um radar do que há de melhor e das novidades em gastronomia, decoração, viagens, estilo de vida se mantém até hoje, quase 20 anos depois da publicação da primeira Estilo Zaffari. A revista se modernizou, claro, mas nunca perdeu a essência. Folheando edições antigas, percebemos o quanto há de atemporal em diversas reportagens e dicas publicadas na Estilo Zaffari. Ideias que se mantêm frescas e válidas, independentemente do andar do calendário. Não são poucas as pessoas que têm em casa a coleção completa da revista. E também são inúmeras as que nos procuram com o intuito de completar suas coleções desfalcadas em alguns números. Leitores leais e carinhosos? Temos muitos! Nesta edição de número 80, decidimos ser, mais do que nunca, fiéis ao nosso propósito: a revista que você agora manuseia está cheia de coisa boa: comida viva, um giro pelas charmosas cidades coloniais mexicanas, uma reportagem sobre o uso dos materiais brutos na decoração, um passeio por Amsterdam na primavera e dezenas de dicas de lugares para comer, comprar, passear, apreciar a arte e a cultura, curtir a vida. Boa leitura, e que venham as próximas 80 edições! OS EDITORES
Cesta Básica
8
Pralá & Pracá
24
Coluna Humanas Criaturas
26
Coluna Vida
42
Coluna Sampa
44
O Sabor e o Saber
58
Coluna Equilíbrio
74
Moda
86
Mulheres que Amamos
88
Coluna Palavra
90
CONHEÇA A ARTE DA FERMENTAÇÃO NATURAL
28
DECORAÇÃO: A VERDADE
LUGAR: PRIMAVERA
DOS MATERIAIS BRUTOS
EM AMSTERDAM
66
46
VIAGEM: O CHARMOSO MÉXICO COLONIAL
76
Cesta básica NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS,
PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!
FOTO: LETÍCIA REMIÃO
PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS,
BRIZZA PIZZA
No mês de setembro, inaugurou em Porto Alegre, no charmoso Moinhos de Vento, a Brizza Forneria. Uma pizzaria tão charmosa quanto o bairro, superpequena, de apenas 24 metros quadrados. Mais do que servir pizzas, os proprietários da Brizza querem proporcionar aos seus clientes uma experiência gostosa e descontraída: a cozinha é totalmente aberta e as mesas são compartilhadas, dispostas na calçada. O foco principal da Brizza são as pizzas, feitas com massa de fermentação natural (fermentada por 8 horas), com farinha e tomates italianos. Além de utilizar ingredientes de primeiríssima, a forneria tem um grande diferencial: eles fazem a tradução da tradição. A partir da concepção tradicional de pizza napolitana, colocam o seu próprio sotaque: com exceção da margherita, os demais sabores são totalmente originais, criações da casa.
BRIZZA FORNERIA RUA 24 DE OUTUBRO, 1409 I PORTO ALEGRE I RS P O R F OTO S
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Estilo Zaffari
M I L E N E
L E A L
D I V U LG A Ç Ã O
51 3573.5539 DE TERÇA A SÁBADO, DAS 18H ÀS 22H30MIN, OU ATÉ ACABAR AS MASSAS.
PÍTON TAMBÉM NO VERÃO
Na coleção primavera-verão da Voy Bag o píton segue em alta. A marca gaúcha de bolsas e sapatos aposta no couro exótico como uma das tendências da estação. Sozinho ou combinado com outros materiais nobres, o píton se harmoniza com o colorido das estações mais quentes. O resultado? Peças únicas que trazem sofisticação ao look, seja em calçados, seja nas bolsas. Em menos de dois anos a Voy vem se destacando como uma das principais marcas do estado. Especialista em bolsas, oferece uma grande gama de modelagens: tote, clutch, backpack, satchel, bucket, tiracolo, saco, baguete e baú, entre outras. Além disso, conta com um mix de calçados, com destaque para galochas, slippers, sapatilhas, sandálias, botas e outros modelos. O showroom da Voy fica no coração do Moinhos de Vento, na Padre Chagas, e funciona das 14h às 18h. Para outros horários, é preciso agendar pelo WhatsApp (51) 9-8126-0846 ou via redes sociais da marca.
VOY RUA PADRE CHAGAS, 185 I PORTO ALEGRE I RS FACEBOOK.COM/VOYBAG INSTAGRAM.COM/VOYBAG 51 981.260.846
EM MIAMI, UM BRIGADEIRO É SAGRADO!
A moça mineira que fez sucesso no Brasil com a rede de lojas Brigaderia está escrevendo uma nova história de empreendedorismo gastronômico, agora nos Estados Unidos. Taciana Kalili criou a marca Brigaderia em São Paulo em 2010 e três anos depois havia consolidado 13 lojas e um novo conceito para o doce mais amado dos brasileiros: o brigadeiro se tornou um presente e sua marca, uma grife. O case de sucesso atraiu a atenção do mercado e a gigante Cacau Show em 2013 entrou para o negócio. Taciana então decidiu deixar a empresa e, com sua família, partiu para uma nova etapa de vida fora do país. Miami se mostrou o cenário perfeito para mostrar seu talento e paixão pelos doces. Há dois anos envolvida no desafio, ela abre as portas da pastry shop & coffee bar que batizou com o nome Sagrado. O brigadeiro é uma das atrações do projeto, que brasilidade – da arquitetura à música, os cafés, as receitas com pão de queijo e a graça de receber e servir. As artes da confeitaria estão sob os cuidados da chef- pâtissière Vanessa Hilda, brasileira formada pela Cordon Bleu americana, responsável pela série de doces que colorem as vitrines. Agora é Sagrado passar no point da Taciana em Miami.
SAGRADO PASTRY SHOP & COFFEE BAR 900 BISCAYNE BLVD R-102 MIAMI I FLÓRIDA I 33132 WWW.SAGRADOPASTRYSHOP.COM @SAGRADO_PASTRY
Cesta básica
Está causando agito na esquina da Mariland com a Anita Garibaldi o Um Bar & Cozinha, nova proposta de gastronomia do chef Carlos Kristensen, instalada dentro da loja de vinhos Grand Cru (que se mudou para este endereço em setembro). A combinação de loja – a Grand Cru conta com um portfólio de mais de 1.900 rótulos – com restaurante de pegada charmosa e descompromissada vem reunindo um público democrático, de diferentes tribos. O Um Bar & Cozinha serve do café da manhã ao jantar, passando pelo almoço com menu do dia, brunch e feijoadinha aos sábados. Há também a possibilidade de levar para casa os produtos de balcão. Mais: os vinhos da carta são vendidos com preço de loja. Descomplicado, mas praticando uma gastronomia com personalidade e muita qualidade, o Um tem estado sempre de casa cheia. Não é para menos: do pão de queijo à coxinha, da massa caseira ao polvo, a linguagem e o sabor dos pratos são encantadores. “No Um procuramos servir o que gostamos de comer em casa. Com o Hashi já consagrado, fazer algo diferente era um sonho nosso, um lugar onde as pessoas se sentissem em casa. São muitos diferenciais: a maioria dos ingredientes está à venda em loja, proporcionamos experiências gastronômicas, sabemos a origem da comida, utilizamos insumos naturais, nada de produtos importados... É um desafio pra gente e está sendo muito legal a troca com os clientes”, conta Luciane Pacheco, sócia do UM e esposa de Carlos Kristensen.
UM BAR & COZINHA AV. MARILAND, 1388 I PORTO ALEGRE I RS I SEGUNDA A SEXTA, DAS 10H ÀS 22H, E SÁBADOS, DAS 10H ÀS 20H 51 3239.6751
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Estilo Zaffari
FACEBOOK.COM.BR/UMBARECOZINHA
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FOTOS: LETÍCIA REMIÃO
SIMPLES COM BOSSA
Ensino Médio | Colégio Monteiro Lobato
A efetiva preparação para o ingresso no Ensino Superior e a possibilidade de inserção no mundo do trabalho complementa a intencionalidade do currículo. As estratégias oportunizadas possibilitam o desenvolvimento de competências voltadas à criticidade, à ética e ao desenvolvimento da autonomia intelectual.
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AS CORES E A DIVERSIDADE DO MARROCOS O Marrocos é o destino do próximo Grand Tour STB Trip & Travel, viagem de imersão cultural com o acompanhamento de Beto Conte (que já percorreu 132 países nos 5 continentes). A viagem acontece de 31 de março a 14 de abril de 2018, melhor época do ano para desvendar o país. O 34o Grand Tour fará um roteiro fascinante desde a costa Atlântica, passando por cidades imperiais, ruínas romanas, montanhas, povoados pitorescos, deslumbrantes vales e desfiladeiros, culminando com o mágico deserto do Saara. É uma oportunidade de desbravar os souks e medinas de Fez e Marrakech, os palácios de Casablanca e Rabat, atravessar a cordilheira do Atlas, além de percorrer a rota das mil Kasbahs – as centenárias fortalezas de terracota – e a cênica cidade costeira de Essaouira. Uma viagem sensorial pelas cores da rica artesania local, os sabores da culinária Magrebiana, o som do muezzin das mesquitas e os aromas dos mercados. O Grand Tour promete vivências exclusivas: um Riad do séc. XVII no coração de Fez, que nos remete as histórias das mil e uma noites; um acampamento em grande estilo nas dunas do deserto; uma viagem no tempo pernoitando em um Kasbah nas montanhas. O “gran finale” será em Marrakech, com 4 noites no Mamounia, o hotel-palácio mais célebre do país, que já hospedou de Churchill a Paul McCartney. Experiências únicas neste instigante mundo árabo-berbère. Você pode conferir valores e detalhes no site www.stbrs.com/grands-tours/marrocos-2018/
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Estilo Zaffari
STB TRIP & TRAVEL RUA QUINTINO BOCAIÚVA, 267 VIVA OPEN MALL: NILO PEÇANHA, 3228 PASEO ZONA SUL: WENCESLAU ESCOBAR, 1823 PORTO ALEGRE I RS WWW.STBRS.COM
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BISTRÔ APOSTA EM CARDÁPIO SUSTENTÁVEL
Comida saudável, inusitada e com uma boa pitada de sustentabilidade. Esse é o propósito do bistrô Invento Pra Comer, que apresenta um cardápio baseado em sabores que fogem do padrão tradicional e aguçam os sentidos. Inaugurado em Taquara – em uma expansão de negócios da Invento Casa Criativa –, o bistrô chega trazendo novidades para a gastronomia gaúcha e deve conquistar um público que busca qualidade de vida. A chef Marília Kelen, nutricionista e bióloga por formação, é uma defensora das plantas alimentícias não convencionais (panc) que já fazem sucesso em restaurantes renomados como D.O.M. e Maní, em São Paulo. Segundo ela, as panc fazem parte de um resgate da cultura alimentar, são aliadas na preservação da biodiversidade e não necessitam de agrotóxico. “Muito mais que moda, elas permitem uma variação na nossa dieta de maneira econômica”, lembra a chef, que incluiu saladas com mix de folhas como azedinha, begônia, mestruz, trevo, serralha, dente-de-leão. O cardápio do Invento Pra Comer é composto por sanduíches, saladas, tapiocas, pratos principais, sopas, petiscos, sucos, sobremesas e frutas da estação.
INVENTO PRA COMER RUA VENÂNCIO AIRES, 1689 I TAQUARA I RS FUNCIONAMENTO: DE SEG. A SEXTA-FEIRA, DAS 11 ÀS 19H 51 3542.6155
CASA DE LA MADRE LANÇA COLETIVO FEITO À MÃO
A Casa de la Madre, de Porto Alegre, lançou recentemente sua loja colaborativa: o Coletivo Feito à Mão. A proposta de Valéria Nieto, proprietária do local e idealizadora do novo projeto, é valorizar o conceito de colaboração para novas marcas e criadores. Eles passam a ter na loja uma vitrine e um espaço nobre para comercialização de seus produtos, além da mentoria da empresária, que atua há 30 anos no varejo. Ao longo dos dez anos de funcionamento, a Casa de la Madre incentivou, orientou e capacitou artistas, artesãos e criadores locais e abriu espaço para que expandissem seus trabalhos. O Coletivo Feito à Mão foi lançado com seis marcas: Dea Blue, Marília Capisani, Cuadrado, Fernanda Sica Comfort Clothes e Carol W. A Casa de la Madre é especializada em produtos handmade para presentear, decorar e usar, sempre valorizando o manual e o sustentável. O local conta, ainda, com o Café da Casa, onde são servidas delícias com sabor de comidinha de mãe.
CASA DE LA MADRE RUA TOBIAS DA SILVA, 258 I PORTO ALEGRE I RS CASADELAMADRE.COM.BR 51 3072.0444 Estilo Zaffari
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Cesta Básica ALTA GASTRONOMIA COM FRUTOS DA MATA E DO MAR
No litoral Norte de São Paulo, na faixa exuberante entre a mata e o mar, floresce uma planta comestível que dá nome ao restaurante que faz uma sofisticada cozinha de raiz: Taioba Gastronomia. A taioba é uma planta nativa da mata tropical e que há pouco tempo passou a ser utilizada na gastronomia. O Taioba – restaurante e buffet – é a casa em Cambury do chef Eudes Assis, premiado e aclamado cozinheiro que ressignificou a culinária caiçara de suas origens com pratos criativos, repletos de sabor. A taioba desfila pelas mesas em receitas que vão do bolinho de taioba ao arroz com a folha ou um peixe assado com a verdura cortada em tiras largas. O chef Eudes é uma atração tão cativante quanto a atmosfera que criou no restaurante, com a sua culinária peculiar. Eudes recebe os convivas, indica vinhos, recomenda a variedade de cervejas da carta (destaque para duas delas feitas no litoral) e no cardápio fixo e enxuto brinca com os pratos do dia, sazonais, que podem incluir peixe, camarões, frutos e frutas regionais que saem da terra e do mar direto para a sua cozinha.
TAIOBA GASTRONOMIA RUA TIJUCAS, 55, CAMBURY I SÃO SEBASTIÃO I SP WWW.TAIOBAGASTRONOMIA.COM.BR 12 3865.2846
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AMADA COZINHA, CAFÉ E GASTRONOMIA EM CAXIAS
Uma jovem nutricionista que é chef e banqueteira, um casarão histórico dos anos 40, a rica cena culinária da Serra gaúcha e a movimentada vida urbana de Caxias do Sul. Essa combinação provocou o espírito empreendedor de Carolina Branchi e fez nascer na cidade o Amada Cozinha Café & Cucina. A casa é uma nova opção para saborear a gastronomia mediterrânea nas refeições do dia, para momentos relax com cafés especiais, para degustar doces e petiscos a qualquer hora. Graduada em Nutrição pela UCS, formada chef de cozinha internacional pela escola italiana ICIF e pós-graduada em Nutrição Clínica e Metabolismo no Rio de Janeiro, Carol trabalhou em cozinhas cariocas, paulistas e de diversos pontos do país. No Amada, a chef desenvolveu receitas guiadas pela sazonalidade da região, mistura grãos, hortaliças, folhas, serve pães de fermentação natural e brinca com as receitas italianas típicas de sua herança.
AMADA COZINHA CAFÉ & CUCINA RUA OS DEZOITO DO FORTE, 920 I CAXIAS DO SUL I RS DAS 10H ÀS 19H – DE SEGUNDA A SEXTA. SÁB. DAS 10H ÀS 17H 54.3021.5059
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Cesta básica
ESCOLA DE JOALHERIA AUTORAL EM PORTO ALEGRE TECNOLOGIA INOVADORA PARA TREINAMENTO FÍSICO
O estúdio BodyLounge By Cláudia Fachin trouxe com exclusividade para o Rio Grande do Sul o miha bodytech. O equipamento promete manter a musculatura saudável e ativa, além de reduzir as medidas em poucas sessões, melhorar a pele e estimular o metabolismo. A tecnologia 100% alemã é conhecida mundialmente como EMS – Eletroestimulação dos Músculos – e vem sendo usada especialmente por atletas de alta performance. No Brasil, estrelas da tevê como Grazi Massafera, Bruna Marquezine e Bruno Gagliasso são adeptas dos treinos. O uso do equipamento por 20 minutos equivale a 1h30 de musculação, o suficiente para a redução de 1,5cm a 2cm de medidas em algumas áreas do corpo. O impulso elétrico elimina a retenção de líquidos na região muscular desejada, melhorando a aparência da pele e favorecendo o ganho muscular. “Por meio do miha bodytech é possível estimular simultaneamente até 300 músculos – inclusive os que não são trabalhados por métodos convencionais de musculação”, explica Claudia Fachin, educadora física especialista em Medicina do Esporte e proprietária do espaço. O atendimento é personalizado para cada cliente.
RUA QUINTINO BOCAIÚVA, 694 I PORTO ALEGRE I RS 51 9525.2605 @BODYLOUNGEBYCLAUDIAFACHIN
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O conceito de joalheria de autor surgiu nos anos 50, especialmente com a missão de resgatar a arte do desenho e da produção de joias. Lisia Barbieri, artista gaúcha que já soma 20 anos de paixão pela joalheria autoral, está à frente de um projeto muito interessante em Porto Alegre, a Criativitá Escola de Joalheria. Acreditando na força desse semento da produção de joias e baseada em seu vasto conhecimento das técnicas e dos materiais, Lisia fundou a Criativitá. Na escola os alunos aprendem diversas técnicas, desde o processo de concepção até a produção de uma joia, que poderá ou não ser única, dependendo exclusivamente da concepção artística do seu criador. Na opinião de Lisia, a joalheria autoral é encantadora e por meio dela é possível expressar arte na moldagem e na escultura do metal, transformando o bruto e disforme em peças belíssimas. Comemorando dois anos, a Escola oferece infraestrutura completa para o aprendizado e também funciona como atelier livre para alunos e profissionais interessados em aprender Design de Joias, Cravação e Gravação, Esmaltação a Fogo, Gemologia ou Rhinoceros – joias em 3D. Lisia estudou em Florença, na Itália, grande berço da joalheria, onde frequentou a Alcchimia Scuola di Gioielleria. Participou de exposições pela Europa e trabalhou com o designer italiano Francesco Bertazzo.
CRIATIVITÁ ESCOLA DE JOALHERIA ALAMEDA SEBASTIÃO DE BRITO, 90 PORTO ALEGRE I RS
LECKERHAUS TEM NOVO ENDEREÇO E NOVO MENU
A Leckerhaus, tradicional confeitaria alemã da capital gaúcha, está de endereço novo, na Avenida Nilo Peçanha. A loja, de pé direito duplo, localizada ao lado do Campus da Unisinos Porto Alegre, mantém a decoração delicada e retrô da antiga Lecker. A coleção de panos de prato da proprietária também foi levada para o novo local e está exposta no segundo piso da loja, que ganhou mais espaço para os clientes, além de um jardim vertical. Além do novo endereço, as novidades se estendem ao menu da Leckerhaus. Entre as delícias que estão sendo lançadas pela marca, há várias opções salgadas, como o bretzel, que pode ser consumido puro ou ainda apresentado como sanduíche, em dois sabores: bretzel de salmão defumado com rúcula e pasta de cream cheese e limão siciliano; bretzel de gruyère e presunto. As massas artesanais, sugestão deliciosa para o almoço, ganham duas novas opções: Travesseirinho de camembert com macadâmia e molho de manteiga amendoada e Panzotti integral recheada de berinjela com molho de tomate. Como não poderia deixar de ser, há vários lançamentos doces também. Completam o menu os novos sabores de sucos naturais (frutas vermelhas; blend de laranja, damasco e cardamomo; laranja com pêssego).
AV. NILO PEÇANHA, 1700 I LOJA 1 DE SEGUNDA A SÁBADO, DAS 10H ÀS 19H 51 3328.2446
EXCLUSIVO PARA TEENS
A Inês Noivas Eternity inaugurou recentemente o seu espaço para debutantes, o Inês Fifteen. Reconhecida pela qualidade de seus produtos e do atendimento, a loja vem concretizando sonhos desde a década de 70. Na abertura oficial do novo espaço, Andreia Ledur recebeu ao lado da mãe, Inês Bohn, criadora da marca e do conceito Inês Noivas. O projeto, assinado pela arquiteta Rosani Blauth, destaca as cores rosa quartzo e cinza e traz uma linguagem contemporânea e moderna, conectada com o gosto do público adolescente. O ambiente foi planejado depois da percepção do aumento da demanda e do luxo nas festas de debutantes e 15 anos. Na inauguração, seis meninas desfilaram com a nova coleção de vestidos, que tem foco no estilo “princess”, o preferido das debutantes. As cores evidenciadas foram as candy colors e os modelos foram produzidos principalmente em renda e tule. O brilho, fundamental para a maioria das meninas que vão comemorar seus 15 anos, também não foi deixado de lado no desfile.
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Cesta básica
MAIS DO QUE UMA DOCERIA
IMPERATRIZ DA BOA MESA
A trajetória profissional de Maria Beatriz Dal Pont se concentra na Educação. Graduada em Letras e pós-graduada em Literatura e Gestão de Pessoas, a Tiz, como é conhecida, percorreu extensa – e intensa – jornada no ensino em mais de 30 anos, 15 deles dedicados exclusivamente à gastronomia e à boa mesa. Ela é sommelier de azeites formada pela International Olive Oil Academy, IRVEA-Italia. Apresenta workshops, palestras e cursos sobre azeites de oliva e presta consultoria para produtores e empresas interessados em desenvolver o produto no Brasil. “O azeite é um alimento ancestral que mantém a sua atualidade por milhares de anos: é o mesmo produto desde a constituição da civilização”, explica. “E com a evolução da alimentação e do paladar, pode ser combinado a qualquer ingrediente ou receita contemporâneos, proporcionando novas experiências”, conclui. Tiz direcionou seu trabalho e formação para o universo do azeite, depois de dirigir e coordenar instituições de peso como a Escola de Gastronomia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), em parceria com o Italian Culinary Institute for Foreigners, a Gastronomia na Universidade Estácio com a Alain Ducasse Formation, escola do chef mais estrelado do mundo; a área de Hospitalidade - Hotelaria, Gastronomia e Turismo - do SENAC/RJ, onde também participou do conselho editorial da Editora Senac. Tem livros publicados, todos de comida: Nós Amamos Grãos; Azeite de Oliva e Vinagre Balsâmico e Cozinha da Serra Gaúcha.
@MARIABEATRIZDP MARIABEATRIZDP@GMAIL.COM
Um farto e variado café da manhã. Ou um brunch ao estilo britânico. Na Pâtisserie Diego Andino, essa é a novidade que vem agradando aos já cativos clientes da casa e a muitos novos comensais. Todos os sábados, entre 9h e 11h, é servido um cardápio com diversos estilos de café (expresso, com leite, duplo, entre outros), suco de laranja ou salada de frutas, croissant neutro, brioche acompanhado (manteiga, geleia e creeam cheese ou doce de leite), doces míni, mini-melete do dia, minissanduíches e palitinhos de queijo. O cardápio é sempre adaptado à estação do ano. O café da manhã é praticamente um minialmoço e vem servido em tábuas rústicas, podendo ser consumido no interior ou nos jardins da pâtisserie. E o chef argentino sempre surpreende com um item extra no menu a cada final de semana. Conhecido pela mil folhas de doce de leite e pelos macarons franceses, Diego Andino está ampliando também as opções de delícias disponíveis na pâtisserie.
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Cesta básica
RIO
DE
JANEIR O
POR
MILENE
LEAL
NO ALTO, O BELÍSSIMO E SURPREENDENTE MUSEU DO AMANHÃ. EM SENTIDO HORÁRIO: LOBBY DO AROSA HOTEL; BRINCADEIRA DE CRIANÇA NA PRACINHA DO AQUÁRIO; A ICÔNICA CONFEITARIA COLOMBO; O VLT E OS MURAIS GRAFITADOS DO BOULEVARD OLÍMPICO
COM CRIANÇAS NO “NOVO” CENTRO DO RIO DE JANEIRO Mês de juho, férias escolares. Decidi levar minhas filhas para conhecer o Rio de Janeiro. Mas a ideia não era fazer aquela visita tradicional. Dessa vez, nosso foco não seriam as praias da zona sul. Optamos por explorar os encantos de um Rio que até para mim era novidade: o “novo” centro da cidade, o Porto Maravilha, o Museu do Amanhã, o AquaRio. Com direito, claro, a visitas nostálgicas àqueles lugares sempre amados, como a Confeitaria Colombo, o Teatro Municipal, os Arcos da Lapa. Não poderíamos ter melhor QG para nossa expedição ao centro do Rio: o Arosa Rio Hotel, localizado na entrada do bairro da Lapa, foi nosso endereço por 3 dias. E, justamente por estar tão próximo dos locais que queríamos visitar, fez o tempo render ao máximo. Ideial para hospedar famílias (ou grupos), pois dispõe de quartos amplos que acomodam com total conforto quatro pessoas, o Arosa é perfeito também para quem curte o Carnaval. É o hotel do Rio de que fica mais próximo do Sambódromo. Foliões espertos se hospedam lá e vão a pé para os desfiles. O hotel tem 100 apartamentos completamente modernizados e cheios de tecnologia. Outros destaques: o café da manhã variado, com pães e bolos caseiros, e o restaurante Moeemo.
NO PORTO MARAVILHA
O primeiro dia foi dedicado ao conjunto Museu do Amanhã + murais grafitados + AquaRio. Programa perfeito para fazer com as
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Estilo Zaffari
crianças, mas que adultos também amam. O ideal é reservar a manhã para o museu e a tarde para o aquário (ou vice-versa) e na hora do almoço curtir os food trucks instalados no Boulevard Olímpico, que une as duas atrações. Outra opção ótima para as refeições é o restaurante do museu, que tem um ambiente charmoso e uma vista linda para o mar. Ficamos encantados tanto com o Museu do Amanhã como com o AquaRio. No museu, a interatividade e a dinâmica da exposição conquistaram as crianças. Eu amei profundamente a arquitetura e o entorno do prédio. No aquário, nos divertimos muito e nos surpreendemos com a qualidade das instalações. Uma dica: as lojinhas dos dois locais são ma-ra-vi-lho-sas! Fuja correndo delas se não quiser gastar uma fortuna.
LAPA, SAMBÓDROMO E CENTRÃO
No dia seguinte fomos curtir primeiro um passeio megatradicional: o bondinho de Santa Teresa. Passar sobre os Arcos da Lapa é sempre uma experiência gostosa, e as meninas adoraram a viagem de bondinho, curtiram desde a plataforma de embarque (onde sempre tem filas) até as ruazinhas charmosas do caminho. De Santa Teresa demos um pulo até o Sambódromo (tudo é perto, questão de minutos) para um programa diferente, que a maioria das pessoas desconhece. Seguindo a dica do diretor do hotel Arosa, levamos as meninas para tirar fotos com fantasias de carnaval, no meio da pista do Sambódromo. Não preciso dizer que este foi o
Estilo Zaffari
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EM SENTIDO HORÁRIO: O BONITO PRÉDIO DO HOTEL AROSA, CONTRASTE DE ANTIGO E MODERNO NO CENTRO (E OS TRILHOS DO VLT NA CALÇADA), AS MENINAS DIANTE DAS PAREDES LINDAMENTE GRAFITADAS NA FRENTE DO AQUARIO, O SEMPRE BELÍSSIMO CRISTO programa “top” do dia. Escolher as fantasias e posar de passistas foi como brincar de faz de conta com uma tradição cultural brasileira que elas só conheciam pela televisão. Mais tarde, nos dedicamos ao “centrão”: Largo da Carioca, prédios históricos, o belíssimo Teatro Municipal. Paramos para o almoço na Colombo, curtindo cada detalhe dessa confeitaria que é um ícone do Rio de Janeiro e uma obra-prima arquitetônica. A tarde foi de aventuras: ao lado do Museu da Marinha estão abertos à visitação uma fragata, um submarino e um helicóptero, todos perfeitamente equipados e conservados, reproduzindo cenas do cotidiano dos militares nessas embarcações. As crianças, claro, deliraram com a visita ao submarino. Para ir embora do centro usamos como meio de transporte o VLT, trem de superfície que também é novidade no Rio (inaugurado na Olimpíada de 2016) e que as crianças acharam o máximo. De fato, o VLT é limpo, organizado, funcional, moderno.
Como era a primeira vez das meninas na Cidade Maravilhosa, incluímos no roteiro os imperdíveis Cristo Redentor e Pão de Açúcar. Mesmo para essas atrações tradicionais, a localização do hotel se mostrou muito prática. Usando o Uber, nos deslocamos rapidamente para todos os lugares e gastamos muito pouco em transporte. O Pão de Açúcar entrou no nosso roteiro no final de um dos dias, já ao entardecer. Foi proposital, e foi lindo. Queríamos ver o Rio lá do alto na hora do pôr do sol, ao acender das luzes da cidade. Espetáculo à parte, que recomendo muito. Pra começar, não pegamos uma filinha sequer para subir de teleférico. Naquele horário o movimento é bem tranquilo. Ficamos lá em cima por mais de uma hora, olhamos a paisagem de todos os ângulos, tiramos dezenas de fotos, tomamos água de coco, relaxamos. O jantar, escolha das meninas, foi açaí, no Balada Mix (rede de restaurantes carioca). Fomos embora do Rio com tristeza, querendo ficar mais, já planejando um retorno.
OUTROS PASSEIOS LEGAIS NA REGIÃO: CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL, MAR (MUSEU DE ARTE DO RIO) ESCADARIA SELARÓN, CAIS DO VALONGO (UMA AULA DE HISTÓRIA), PEDRA DO SAL (PARA CURTIR SAMBA DE RAIZ), TEATRO RIACHUELO, AS DIVERSAS IGREJAS, LINDAS! AROSA RIO HOTEL: AV. HENRIQUE VALADARES, 150 I CENTRO, RIO DE JANEIRO I RJ I WWW.REDERIOHOTEIS.COM I 21 3529.1216
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Pralá & Pracá LU I Z A
E S T I M A
SAMBA NA COZINHA AS PREFERIDAS DOS CHEFS DA MPB
GUGA ROCHA é um irrequieto alagoano que apresenta programas na tv, na web e vive em um extenso quarteirão localizado entre Maceió, São Paulo, Otawa e Rio de Janeiro. Guga já botou o bebop no seu samba¹. No Canadá, seu lar com a esposa, Elise, inventa rodas de bossa com gastronomia que deixam o público zonzo entre o que é mais empolgante: a comida, as canções ou a mistura de Miami com Copacabana salteada com seu humor e sotaque. Ele chama essa deliciosa confusão de Stand Up Cooking. Guga estudou canto clássico, cantou em óperas, teve sua banda de rock e, da MPB, curte a bossa, “aquele samba que tem piano”. O seu ecletismo se espalha por onde passa: é um multiempreendedor – sócio na rede Tapioteca e The Gusta Fast Gourmet –, colabora em ações sociais e é amarradão em música. Em Maceió, recomenda o samba de raiz do Terraço, onde toca a velha guarda local com o plus da paisagem em frente ao mar. Entre as suas canções favoritas, a elegância da bossa de João Gilberto, em Doralice, é a primeira a ser citada, seguida por Bolinha de Papel.
“Estou impregnado do samba”, conta MARCOS LIVI, empresário, restaurateur, chef que comanda sete diferentes casas em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Nascido em São Francisco de Paula, na Serra gaúcha, vive em Sampa desde os anos 90, quando era estagiário na Hotelaria. Marcos leva a música em sua vida do mesmo jeito que carrega as facas, temperos e receitas: com zelo e carinho. “Fui abençoado por assistir aos grandes shows dos mestres da MPB”, ele relata, relembrando os muitos anos em que coordenou as cozinhas das célebres casas Tom Brasil e Via Funchal. Lá viu e ouviu o que nem imaginava. De Paulinho da Viola, cantarola uma de suas preferidas: Não sou eu quem me navega... Do conterrâneo Lupi, Se acaso você chegasse. Nas casas de Livi tem samba todos os sábados – Quintana, Veríssimo e Botica – e nesse clima surgem surpresas, como quando Dona Iná “apareceu” cantando. A sambista octogenária conquistou o coração de Livi e ganhou o convite para se apresentar quando quisesse. Em 2017 ainda, Marcos Livi vai inaugurar o Bar da Dona Iná, botequim com a sua marca na gastronomia, muitos drinques e o melhor da MPB. ANDRÉ CASTRO acaba de receber dois prêmios com o seu Authoral, em Brasília: restaurante revelação e chef do ano. Como o nome diz, a virtude do lugar está em explorar a
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cozinha de autor. Criador de pratos saborosos e perfeitos que encantam a Capital Federal, André já compôs músicas “para mim mesmo”, como diz. É um apaixonado pela MPB e não perde a chance de ouvir, tocar e cantar. A mãe é baiana; ele, carioca criado na família musical entre aulas de capoeira, piano e violão. As suas músicas favoritas começam com Testamento de Partideiro, samba de partido-alto, e passam pela clássica Retalhos de Cetim, ou uma animada interpretação de Roberta Sá com Ah se eu vou! Todas na levada das noites de música ao vivo em barzinhos, seu chão. “Minha ligação é forte com a MPB, vem de família”, conta André, inspirado pela mãe, com quem canta e toca junto. Em Brasília, costuma ir ao Clube de Choro, quando encontra uma brecha em seu restaurante sempre lotado.
TEREZA PAIM é a rainha da gastronomia e hospitalidade em Salvador. Reúne gentes de todo lugar que vão à Bahia para os eventos que ela assina, para conhecer seu menu no histórico Convento do Carmo ou comer as brasilidades baianas que faz no seu premiado restaurante Casa de Tereza. Na Bahia não existe não ser da música brasileira, e com Tereza não é diferente. Ela escolhe a playlist, disponível no Spotify (@casadeteresa), mesclando axé, reggae, bossa, novos e velhos baianos. Devota de Maria Bethânia, a quem compara com “um grande vinho”, não perde os shows da diva. A chef tem também o ídolo do acordeão Targino Gondim como um de seus preferidos e aí entra no modo forró, quando cita o compositor da irresistível Esperando na Janela. CARLOS RIBEIRO é de uma família de empresários libaneses de João Pessoa, donos de hotel e de uma curiosa soparia paraibana, da qual ele lembra servir pratos como buchada, sarapatel, rabada (e a sopa?). Pequeno ainda, nas férias no Rio de Janeiro com a tia-avó, foi apresentado ao carnaval em visitas à quadra da Portela. Aí nascia uma semente. Quando adulto, foi para a USP defender a tese de Mestrado no Jornalismo, curso em que se graduou, com o tema comida de carnaval. Por um tempo viveu de aulas e palestras sobre o tema comida e carnaval, até que encarou a verdade e abriu seu próprio restaurante, Na Cozinha, na rua Haddock Lobo, no coração do Jardim Paulista. Com a comida brasileira foi premiado: o seu picadinho de carne é um dos símbolos da gastronomia paulistana. “Com a música,
abençoado”, conta. Muito obrigada, Axé é uma de suas canções prediletas e retrata o sincretismo que habita seu espírito. A outra é o hino da escola de samba paulistana Camisa Verde e Branco, a escola de seu coração. Articulador, agitador, organiza um encontro de cozinheiras de escolas com uma feijoada que se tornou um clássico. É também o responsável pelo evento que há seis anos chacoalha o emblemático Edifício Copan, todo dia 2 de fevereiro, com as “Águas de Janaína”. Uma festa de muita comida, música e a parceria de Janaína Rueda, do Bar da Dona Onça, onde tudo acontece. Declara sem rodeios seu amor à escola de samba paulista: “Sou Camisa!”. Mas outra de suas canções prediletas é O rio que passou em minha vida, de Paulinho da Viola, o samba-canção que reverencia a paixão do compositor pela Portela, a escola da infância carioca de Carlos Ribeiro. Não fosse pelo café NELSON FARIA não estaria nesta turma. Diretor musical, compositor, arranjador, é um dos expoentes da música no Brasil, com 20 CDs gravados, oito livros publicados no país e lá fora e mais de 200 CDs produzidos para artistas nacionais e internacionais. Com café foi como começaram os encontros de Nelson e outros grandes nomes da MPB em um programa na web intitulado Um Café Lá em Casa. Apaixonado pelo grão, Nelson Faria recebe os convidados em sua casa, no Rio de Janeiro, e serve um mug personalizado com a bebida. Enquanto a conversa acontece, muita música acompanha o clima e as histórias da MPB são lembradas e reescritas. O programa semanal tem mais de 150 episódios, com nomes como Edu Lobo, João Bosco, Zélia Duncan, Roberto Menescal, Leny Andrade, Danilo Caymmi, Baby do Brasil, Toninho Horta e muitos outros. “O café é uma desculpa para o encontro musical”, conta Nelson. Quando não está gravando ou dando aulas na Universidade na Suécia, apresenta-se pelo mundo. Nelson Faria foi um dos músicos que integraram as atrações da semana de inauguração da casa de espetáculos nova-iorquina Blue Note, no Rio de Janeiro, no início de setembro. Gosta de ir ao Semente, o despretensioso bar-símbolo da MPB, e ao TribOz, lugar com ótima gastronomia e música melhor ainda, de proposta jazzy, ambos na Lapa. As suas músicas queridas são muitas, mas uma das graças de Nelson Faria é a generosidade, que ele revela ao citar a canção Surfboard, de Tom Jobim, que interpreta na guitarra com Paulo Moura no CD Pra cá e Pra lá, que gentileza.
AS MÚSICAS
Chiclete com banana/Jackson do Pandeiro Doralice/João Gilberto Bolinha de Papel/João Gilberto Se acaso você chegasse/Lupicínio Rodrigues Timoneiro/Paulinho da Viola Testamento do partideiro/Candeia Retalhos de cetim/Benito de Paula Ah, se eu vou!/Lula Queiroga Esperando na janela/Targino Gondim Muito obrigada Axé/Carlinhos Brown Sou verde e branco/Camisa Verde e Branco Foi um rio que passou em minha vida/Paulinho da Viola Surfboard/Tom Jobim
OS LUGARES SÃO PAULO Veríssimo (chef Marcos Livi): www.verissimo.bar Na Cozinha (chef Carlos Ribeiro): www.nacozinharestaurante.com.br Camisa Verde e Branco: www.camisaverdebranco.com (ensaios na quadra aos domingos) RIO DE JANEIRO The Gusta Gourmet (chef Guga Rocha): www.thegustafastgourmet.com.br Blue Note: www.bluenoterio.com.br Bar Semente: www.barsemente.com.br TribOz: www.triboz-rio.com MACEIÓ Terraço: www.terracomaceio.com.br BRASÍLIA Authoral (chef Andre Castro): www.authoral.com.br Clube do Choro: www.clubedochoro.com.br SALVADOR Casa de Tereza (chef Tereza Paim): www.casadetereza.com.br Pestana Convento do Carmo: www.pestana.com/br/hotel/pestana-convento-do-carmo Um café lá em casa (Nelson Faria): www.umcafelaemcasa.com.br LUIZA ESTIMA É JORNALISTA, GAÚCHA, CIDADÃ PAULISTANA HÁ MAIS DE DUAS DÉCADAS, SEMPRE ÀS VOLTAS COM PROJETOS QUE ENVOLVEM A GASTRONOMIA BRASILEIRA. AUTORA DO WWW.PRALAEPRACA.BLOG.BR
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Humanas criaturas T E T Ê
PAC H E C O
NÃO É SÓ COMIDA VI
“EM ÚLTIMA ANÁLISE, AMAM-SE OS NOSSOS DESEJOS, E NÃO O OBJETO DESSES DESEJOS” – NIETZSCHE Sou do tempo da mulher objeto. A nova geração de meninas incríveis que estão por aí, lutando por significado e respeito imaginam como era isso, mas, ainda bem, apenas imaginam. É uma coisa tão forte que muitas de nós sequer sabem que sofreram e ainda sofrem desse tipo de preconceito terrivel até hoje. Era comum você ouvir clichês como “mulher é consumista”, quando, na verdade, mulher era e foi e é até hoje consumida. De mil e uma maneiras. Embora esse importante movimento esteja colocando uma luz na cabeça de muita gente, ainda estamos longe de transcender a barreira da objetificaçao das coisas. Esqueça o feminismo. Pense qualquer outra coisa mais simples. Cachorro? Vem com coleirinhas novas, caminhas da moda, sapatinhos, carrinhos de passeio, tipos infindáveis de ração. Olhe bem para o peludo ao seu lado. Te apresento o pet-objeto. Pet de consumo. E ai dele que não faça xixi no tapetinho. O cachorro adotado também não escapa. Não é questão de estilo, e sim de como o objeto nos representa. E se precisamos de objeto para nos representar, estamos fritos. Mas pense outra coisa. Comida. Não tem que vir com rótulo? Não alimenta só o corpo, mas também o ego? Precisa vir em embalagens modernas, copos, potes, tampas e logotipos que gostamos de exibir por aí. Comida que é só comida não vira objeto o bastante para que ela nos defina. Então comida também virou objeto.
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Namorado, marido, namorada, mulher, filhos, amigos. É na praia dos relacionamentos que a objetificação encontra seu ápice. Como é fácil fazer dos outros nossos representantes. Tudo se justifica por meio dessa troca. Para o bem e para o mal. Para o bem, achamos que estamos felizes se somos correspondidos. Para o mal, estamos infelizes caso não sejamos. Mas na verdade nenhuma das duas visões é verdadeira. Só estamos felizes se estamos bem com a gente mesmo. E infelizes, na razão inversa. Usar o outro de objeto num relacionamento pode nos custar uma vida inteira. A minha tem custado. Enquanto precisarmos das outras coisas para representar nossa existência, o poder das coisas não para de crescer. Daí o imenso desgaste que toda a sociedade baseada no consumo vem sofrendo. Acreditem. Estamos cansados basicamente porque nos alimentamos mal. Entenda-se por alimentar um espectro maior do que o de ingerir comida. Estamos sem força interna. Sem energia. Gastamos tudo olhando e vivendo para o que está fora de nós. Perdão se pareço um pouco repetitiva ultimamente. Mas tomar consciência e trabalhar forte nela, alimentar ela, cuidar dela, é nossa única salvação como espécie. Acreditem. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA
UM SUCESSO DE VENDAS QUE TRANSFORMOU A REGIÃO. 95% vendido em 30 dias. O Linked transformou a crise em oportunidade. Por isso, queremos agradecer a parceria do Hospital Moinhos de Vento e do Grupo Zaffari, além da preferência e da confiança de nossos clientes, que agora estão conectados a um novo jeito de viver. Muito obrigado.
Imagem provisória, sujeita à alteração.
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comid Conheça a arte da fermentação natural
da P O R B E T E D U A R T E F OTO S L E T Í C I A R E M I Ã O
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A FERMENTAÇÃO É A ESTRELA DA VEZ. HOJE ELA É RESPONSÁVEL PELA BUSCA POR MAIS SABOR E PELA FORMA MAIS NATURAL DE TRATAR OS INGREDIENTES A vida é um ir e vir. É inovar, retroceder e recomeçar. É aprendizado, conhecimento, lembrança, e é desafio, ousadia, novidade. Imitando a vida, essa combinação é também a chave-mestra para a boa mesa, em tempos de comensais ávidos por criações e sabores inusitados. No universo da cozinha, os ciclos parecem precisar se alternar, com vestimentas de novo, mesmo que estejam alicerçados no passado. Como se, para ser visto, fosse necessário estar em destaque, sob holofotes. Compreensível, então, que a gastronomia viva tendências, sazonais como os alimentos, muitas vezes fugazes como as espumas que já brilharam nos pratos de até há pouco. Agora, a fermentação é a estrela da vez. Está na moda, por assim dizer. Houve tempos em que não havia refrigeração, e essa técnica milenar era a solução para os problemas de preservação dos alimentos, fazendo durar a safra de
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verão até o inverno. Hoje, tem papel diferente: é responsável pela busca por mais sabor e pela forma mais natural de tratar os ingredientes. É um recurso para fisgar o paladar. Cartão de visita de chefs modernos e de tradicionais. Proclamar a fermentação como uma novidade é desconhecer a história da alimentação. É ignorar o passado e o presente. Até 1/3 dos alimentos consumidos pelos seres humanos em todo o mundo é fermentado, e a produção desses alimentos, no total, constitui uma das maiores indústrias do mundo. A fermentação está mais presente no nosso dia a dia do que pensamos: é ela que transforma queijos, iogurtes, cervejas, vinhos, vinagres, pães, conservas. Então, por que tanto destaque nos dias de hoje? O que é atual é o retorno à produção artesanal pelas mãos de chefs, padeiros, gourmets e consumidores.
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A FERMENTAÇÃO ESTÁ MAIS PRESENTE NO NOSSO DIA A DIA DO QUE PENSAMOS: É ELA QUE TRANSFORMA IOGURTES, CERVEJAS, PÃES, CONSERVAS, QUEIJOS, VINHOS
Retorno que Fabiano Soares, o Pãozeiro, tem assistido com interesse e participação. Tem visto crescer o número de alunos em seus cursos sobre levain, a levedura viva que atua como agente de crescimento e sabor, resultando em pães leves, com casca mais grossa, crocantes e ricos em fibras. Mesmo que a fermentação seja um processo presente na maioria dos pães, como o de abóbora, que lidera a venda em sua loja, os com levain é que estão reconquistando o mercado. Em 300 a.C., as leveduras para pão já eram comercializadas pelos padeiros mais experientes do Antigo Egito. As técnicas e os saberes, passados de geração em geração, acabaram por quase se perderem principalmente nas últimas décadas, mas estão sendo recuperados em nome da saúde e do sabor. “Aqui no Sul, o pão cacetinho é o mais vendido nas padarias e supermercados, mas é o que chamamos de vazio, sem valor nutricional. Da forma como é feito, mantém suas características por apenas umas três horas, logo perde a crocância, enquanto o de fermentação natural pode
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durar até seis dias preservando todas as qualidades”, explica Fabiano. O que dificulta a adoção maior dessa prática é que o processo exige tempo e paciência. O levain é um organismo vivo e como tal necessita de cuidados: precisa ser alimentado e hidratado regularmente. Qualquer deslize pode determinar a perda do fermento. Em compensação, permite uma experiência diferente ao canalizar o poder das leveduras e bactérias selvagens. Na onda dos alimentos naturais, o pão volta no tempo para tornar-se mais saudável. Durante a fermentação já se podem sentir os aromas sutis da massa. Aromas que se intensificam e se transformam em perfume de pão recém-saído do forno. Apesar da tentação de prová-lo imediatamente, é recomendável aguardar pelo menos 30 minutos, pois o centro continua assando enquanto esfria. O Pãozeiro revela uma de suas receitas que têm agradado a quem a experimenta: focaccia com levain e cerveja stout, que pode ser servida pura ou como base para sanduíche.
Focaccia do Pãozeiro 1 KG DE FARINHA DE TRIGO 350 G DE ÁGUA 350 G DE CERVEJA STOUT 100 G DE AZEITE DE OLIVA EXTRAVIRGEM 50 G DE AÇÚCAR MASCAVO 300 G DE LEVAIN 5 G DE FERMENTO BIOLÓGICO INSTANTÂNEO SECO 20 G DE SAL AZEITONA FLOR DE SAL ERVAS (ALECRIM, ORÉGANO) MODO DE FAZER: Misture a farinha de trigo, o açúcar mascavo e o fermento biológico. Adicione a água e a cerveja. Em seguida, acrescente o levain e misture bem. Junte o azeite de oliva e o sal e bata bem até ficar uma massa bem lisa. Deixe descansar por 1h, fazendo dobras a cada 20 minutos. Leve a massa à geladeira e deixe fermentar por 24h. Unte a forma com azeite de oliva e espalhe a massa. Espalhe a cobertura desejada e leve ao forno preaquecido, a 200 graus, por cerca de 30 minutos. Dica: Para hidratar a massa do pão de levain deve-se utilizar água mineral sem gás ou água filtrada. A de torneira tem cloro, o que inibe ou desacelera o desenvolvimento das leveduras.
Sabor BOOM DA COZINHA COREANA
Outra técnica ancestral que está chegando com tudo às mesas de todo o mundo, incensada pelo sucesso da cozinha coreana, é o kimchi, uma receita da família do picles, parecida com o chucrute da Alemanha, o paocai da China, o tsukemono do Japão e o achar da Índia. Geralmente à base de acelga ou couve chinesa, tem forte sabor de alho e pimenta vermelha. No entanto, é bastante versátil, podendo receber outros ingredientes como nabo, pepino, cenoura, cebolinha, gergelim, ostras, algas marinhas. O kimchi honra a fama da culinária coreana de ser bem apimentada. Na Coreia, cada família tem sua receita. Estão contabilizados mais de 180 tipos de kimchi, que variam de ingredientes, tempo de fermentação, temperatura e umidade. Cerca de 95% dos coreanos consomem essa conserva apimentada de vegetal pelo menos uma vez ao dia. E, garantem os pesquisadores, cerca de 65% o fazem em três refeições, incluindo o café da manhã. Preparada tradicionalmente antes do inverno, a receita adquiriu tamanha importância que foi tombada pela Unesco como patrimônio cultural do país. No Museu do Kimchi, em Seul, é apresentado como original o preparado apenas com sal, pois somente no século 18 teria havido a inclusão da pimenta vermelha, vinda do Novo Mundo. Essa inclusão resultou na receita contemporânea que incorpora também gengibre, cebolinha e molho de peixe fermentado (o nampla). Com a difusão da cozinha coreana, o kimchi foi conquistando inúmeros apreciadores. A ex-primeira dama Michelle Obama já havia revelado na internet não só a paixão pelo kimchi como sua receita pessoal, preparada com alimentos da horta da Casa Branca. Em Porto Alegre, o restaurante PKC Prime Korean Cuisine respeita a tradição da receita original e, a pedido dos clientes, não fez
O Kimchi de Michelle Obama 2 MAÇOS DE ACELGA (COUVE CHINESA) 1 COLHER (SOPA) DE NAMPLA (MOLHO DE PEIXE) 1 COLHER (SOPA) DE GENGIBRE PICADO 4 DENTES DE ALHO PICADOS 1 COLHER (SOPA) DE AÇÚCAR 1 DAIKON (NABO COMPRIDO JAPONÊS) EM FATIAS FINAS 1 MAÇO DE CEBOLINHA VERDE EM RODELAS FINAS 5 COLHERES (SOPA) DE PIMENTA COREANA EM PÓ SAL A GOSTO MODO DE FAZER: Lave e corte a acelga em fatias transversais, de 2 centímetros a 3 centímetros. Coloque em uma vasilha e polvilhe com sal. Misture e reserve na geladeira durante a noite. Enxágue a acelga em água fria, escorra muito bem e esprema para extrair o máximo de líquido. Ponha em um recipiente e misture o restante dos ingredientes. Passe para um vidro de conserva e feche hermeticamente. Deixe fermentar na geladeira por cerca de 4 dias e estará pronta para consumo. Sirva com arroz branco, que servirá de contraponto à pimenta.
TÉCNICA ANCESTRAL QUE CHEGOU COM TUDO A MESAS DO MUNDO TODO, O KIMCHI É UMA RECEITA DA FAMÍLIA DO PICLES, PARECIDA COM O CHUCRUTE DA ALEMANHA
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TRABALHAR COM FERMENTAÇÃO É EXERCITAR A PACIÊNCIA, A DEDICAÇÃO. PARA ADQUIRIR TODO O SABOR E A TEXTURA, É PRECISO CURTIR POR DIAS qualquer adaptação ao paladar ocidental. Sandra Kim, a proprietária, explica que os brasileiros se adaptaram muito bem ao sabor e à picância, principalmente porque nunca é servido sozinho. “O kimchi é um complemento, funcionando quase que como um tempero. Minha sogra, coreana, é quem o prepara. Sempre que vem alguém experimentar nossa comida, explicamos que ele deve ser misturado ou acrescentado aos pratos. O arroz branco, que também está sempre presente, ajuda a amenizar a força da pimenta”, esclarece. Essa conserva surgiu, no tempo em que não havia geladeira, para que os alimentos aguentassem os longos invernos coreanos. Como exala um cheio muito forte durante a fermentação, muitos coreanos mantêm uma geladeira só para guardá-la. Recurso ao hábito dos antigos, que utilizavam potes gigantes de cerâmica para mantê-la enterrada, garantindo assim que durasse por todo o inverno. Trabalhar com fermentação é exercitar a paciência, a dedicação. Não é possível ter pressa. Com o kimchi não é diferente: para adquirir todas as características de sabor e textura, é preciso deixar curtir por dias.
ARTE DA CHARCUTARIA
A carne é o menos estável entre todos os alimentos consumidos pelo homem, que acabou por utilizar a fermentação como uma das alternativas para conservá-la. O termo fermentado é aplicado a embutidos curados a seco, como os salames. Leonardo Magni tem colocado em prática os conhecimentos sobre fermentação em diferentes testes na cozinha. Quando foi estudar gastronomia na Argentina aprendeu as antigas técnicas da charcutaria, mas só há pouco tempo resolveu se lançar à prática caseira, e tem ficado muito satisfeito com os resultados. É uma pena que os clientes de seu restaurante, o Mandarinier, não possam experimentar as delícias que ele tem produzido. Os testes são consumidos apenas pela família. Existe uma proibição da área de vigilância sanitária de oferecer esses produtos caseiros em estabelecimentos comerciais, devido ao processo de cura. A cura exige o uso de sal de cura, um composto de sal de cozinha, nitrito de sódio e/ou nitrato de sódio, que age na carne conferindo a coloração avermelhada e impedindo a ação de bactérias maléficas. “O problema é que o uso do produto em proporções erradas pode causar câncer. Por isso, a proibição de comercializar os embutidos sem licença e
Kimchi Bulgogui PKC 900 G DE ENTRECOT OU CONTRAFILÉ 4 COLHERES (SOPA) DE AÇÚCAR MASCAVO 1/2 XÍCARA DE MOLHO SHOYU 3 COLHERES (SOPA) ÓLEO DE GERGELIM 2 DENTES DE ALHO PICADO 1 COLHER (SOBREMESA) DE SEMENTE DE GERGELIM CEBOLINHA VERDE EM TIRAS DE 3CM ½ CEBOLA CORTADA EM MEIA LUA 100 G DE KIMCHI MODO DE FAZER: Corte a carne em fatias finas (4 cm x 3 cm) e transfira para uma tigela. Em um recipiente, adicione o molho shoyu, o óleo de gergelim, o açúcar, o alho picado e a semente de gergelim e misture bem. Em seguida, regue a carne com o molho e misture bem novamente. Tampe a tigela e deixe marinar por pelo menos 2 horas na geladeira. Em fogo alto, regue uma frigideira com um fio de óleo. Coloque a cebola, acrescente o kimchi e deixe refogar por aproximadamente 2 minutos. Coloque as fatias de carne e frite até que esteja ao ponto. Quando estiver quase pronto, acrescente a cebolinha verde.
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Sabor fiscalização específicas”, explica. O mofo que se forma em produto saudável é branco. Qualquer coloração diferente sinaliza que o processo não está ocorrendo corretamente. Se a charcutaria é uma técnica ancestral, com a produção de salames, linguiças, copas e outros embutidos, a fermentação cárnea que mais tem atraído a atenção de chefs do centro do país, como Jefferson Rueda e André Mifano, é a chamada dry aged, processo de maturação a seco. Para entender como funciona esse processo é preciso compreender um pouco de biologia e química, e exige um bom estudo. Mas, resumindo, o que ocorre é que, durante o envelhecimento em sistema refrigerado controlado, as proteínas da carne são quebradas pelas enzimas, amaciando as fibras e intensificando os sabores. A fermentação de carnes é utilizada em combinação com a cura. Atualmente, existem diversas culturas isoladas que podem ser adquiridas e inoculadas durante a produção de alimentos cárneos. No Brasil, ainda são reduzidas as experimentações nesse sentido, devido ao alto custo. Além de reduzir o peso da carne em 1/3 e ser preciso eliminar toda a parte externa, exige tempo, dedicação e muito controle. E mais: só vale o investimento se for feito com produtos de qualidade. Em São Paulo, poucos açougues estão comercializando a dry aged, porque o consumidor precisa estar disposto a pagar mais de R$ 100 o quilo. E se for de gado wagyu pode chegar aos módicos R$ 220 o quilo. E ainda há outro empecilho: convencer o consumidor de que a carne está própria para o consumo, devido à cor externa escura.
O TERMO FERMENTADO É APLICADO A EMBUTIDOS CURADOS A SECO, COMO O SALAME. A CARNE É O ALIMENTO MENOS ESTÁVEL
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Fettuccine com Molho Vermelho, Chorizo Colorado e Camarões (Mandarinier) 120 G DE FETTUCCINE 1 KG DE TOMATES BEM MADUROS 4 DENTES DE ALHO 40 G DE CHORIZO FATIADO 150 G DE CAMARÕES QUEIJO PARMESÃO RALADO FINO MANJERICÃO PIMENTA-DO-REINO AZEITE DE OLIVA ½ FOLHA DE LOURO TOMILHO MODO DE FAZER: Corte os tomates ao meio e rale na parte grossa de um ralador, deixando que sobre apenas a pele, sem ralar. Pique o alho grosseiramente e doure em uma frigideira com um fio de azeite. Coloque o tomate ralado e deixe reduzir por aproximadamente 30 min. Adicione a ½ folha de louro e ramos de tomilho. Se necessário, adicione água, aos poucos, até que o molho esteja pronto. Em outra frigideira, com um pouco de azeite, grelhe rapidamente os camarões, temperando com sal e pimenta-do-reino a gosto. Transfira os camarões para a frigideira do molho e ajuste o sal e a pimenta. Acrescente as folhas de manjericão. Cozinhe a massa em água fervente até que esteja al dente. Sirva a massa no fundo de uma travessa. Distribua o molho com os camarões sobre ela. Coloque o chorizo Colorado sobre o molho e finalize com o parmesão ralado.
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Sabor REFRIGERANTE NATURAL
Em busca de hábitos mais saudáveis, as pessoas costumam, de tempos em tempos, eleger produtos como determinantes de mais qualidade na alimentação. É o caso, neste momento, do kombucha, uma bebida de fermentação controlada que combina chá (preto, verde, branco, mate ou de hibisco) com sucos de frutas ou extratos vegetais e açúcar. Essa mistura vai alimentar uma cultura de leveduras e bactérias benéficas que agrega mais sabor, aroma e textura e torna frisante a bebida. A técnica, apesar de ser apresentada como novidade, data de 200 a.C. e teria origem provável na China. É muito consumida na culinária oriental e considerada probiótica, uma alternativa saudável para o refrigerante. O nome veio da crença de que a colônia que causava a fermentação era de uma alga chamada kombu. O que acabou por não se confirmar. Mas a técnica e o nome já estavam difundidos. Para produção do kombucha é necessária um scoby (massa gelatinosa que abriga a colônia de bactérias). Existem grupos nas redes sociais de doação do scoby, que também pode ser comprado em lojas especializadas. O kombucha pode ser encontrado em lojas de produtos naturais, em diferentes sabores de acordo com os sucos de fruta adicionados aos chás.
OS NOVOS QUERIDINHOS Café – no mundo dos cafés especiais também há novidades. Produtores brasileiros arrojados estão investindo em cafés fermentados. A fermentação, que, em geral, é algo indesejado entre a colheita e o processamento do grão, pode, em situações bastante controladas, agir a favor e produzir sabores exóticos e muito agradáveis. O café pode ganhar acidez intensa e grande doçura. Baristas têm feito testes de fermentação com levedura de cerveja e também com ervas, como a erva cidreira. Alho Negro – o alho negro é o alho in natura fermentado, que desenvolve aromas complexos e únicos. A origem é controversa, mas é bastante consumido no Japão e na Coreia. O alho é colocado em estufa com temperatura e umidade controladas em média por 5 semanas. Com a fermentação, o alho fica preto, cremoso e adocicado, com sabores como melaço, ameixa preta, tâmara e aceto balsâmico. Desenvolve notas de umami, o chamado quinto gosto detectado pelo paladar, junto com o doce, o salgado, o azedo e o amargo.
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OS MAIS TRADICIONAIS Kefir – bebida à base de leite, um pouco mais ácida que o iogurte. Baunilha – é a vagem fermentada e seca de várias espécies de orquídeas. Cervejas artesanais – há algum tempo dominam a preferência dos bebedores gourmets. Chutneys – podem ser fermentados, desde que seja reduzida ou omitida a presença do vinagre. Sal e especiarias são adicionados aos vegetais para que fermentem no próprio suco. Queijos – roquefort e gorgonzola. Molho de soja e missô – são à base de fermentação de grãos de soja. Chocolate – sementes do cacau passam por fermentação e secagem antes de serem trituradas para a obtenção da massa de cacau que, combinada com outros ingredientes como o leite e o açúcar, se transforma em chocolate. Chucrute – receita típica da culinária alemã em que o repolho passa pelo processo de salga e fermentação. Vinho – fermentação controlada da uva resulta na bebida de Baco. Picles/conservas – volta com toda a força a antiga técnica de conservação de legumes, raízes, peixes e frutas. Agora, com a ideia de explorar as possibilidades contidas na acidez para combinar com elementos doces, salgados e picantes, além de ressaltar os sabores.
A COZINHA DO FUTURO
Chefs de todo o mundo têm apontado a gastronomia coreana como a estrela em ascensão. Alex Atala, do restaurante D.O.M., quando experimentou diferentes pratos em Seul, definiu a cozinha da Coreia como charmosa e prazerosa. Em Porto Alegre, o Prime Korean Cuisine oferece pratos bem tradicionais para quem quiser conhecer um pouco dessa culinária. E não precisa ter receio, há pratos que não são apimentados. Entre os mais pedidos do PKC está o bulgogi, entrecot marinado no shoyu levemente adocicado, servido com arroz (bap) e alface. Na versão apimentada, recebe o kimchi como ingrediente. O japchae é um arroz de batata-doce com legumes e carne. O cheesebuldak, frango gratinado com queijo. E o bibimbap é composto de arroz, kimchi, abobrinha, cenoura, carne e ovo frito. Um dos pratos mais apimentados é o kimchi tigué, ensopado de kimchi e pancetta de porco. O arroz de grão longo é neutro, grudadinho que nem o arroz japonês e está presente em quase todos os pratos coreanos. Apenas um aviso: o cardápio coreano só é servido no jantar. No horário do almoço, é um buffet de cozinha ocidental. PKC Prime Korean Cuisine Rua Murilo Furtado, 116 De terça a sábado, das 18h30min às 22h30min 51 3207.8007
PADARIA ARTESANAL
Depois de cinco anos, Fabiano Soares, o Pãozeiro, deixe de atender apenas restaurantes da cidade e acaba de abrir uma loja para atender o público que sempre esteve em busca dos pães artesanais, de levain e de fermentação tradicional. Pães com ingredientes bem brasileiros, como aipim, batata-doce e milho, são destaque na loja. Apesar de o destaque ficar com o de abóbora e sementes de girassol. As baguetes com azeite de oliva podem ter cobertura de tomate-cereja assado, alecrim, azeitonas pretas e flor de sal. Vale experimentar a com pedaços de doce de laranja. Os pães de fermentação natural também não podem faltar, assim como o pão australiano e multigrãos. No cardápio, ainda, bolos, muffins, Café do Mercado e muitas outras delícias. A padaria revive uma antiga tradição que a cidade quase esqueceu: os pães de meio e os de quarto de quilo. Pãozeiro Pães Artesanais Giordano Bruno, 13 51 3085.7008
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Vida C E L S O
G U T F R E I N D
“NÃO SEI, NÃO SEI. ME DESFAÇO EM NÃO SEIS. COMEÇO AÍ E AÍ TERMINO. NÃO SEI, NÃO SEI.”
NA DÚVIDA
JULIO MOCADA Se me restasse uma única lição para dar a uma criança, eu não hesitaria. Paradoxalmente, eu ensinaria a dúvida. A dúvida como o contrário quase absoluto da certeza, essa que esteve presente em quase todos os meus tropeços e certamente (?) em todas as quedas. A certeza já me derrubou tantas vezes que, hoje em dia, ensinar isso não seria difícil para mim. Seria um relato natural como um prolongamento dos dias. Talvez nem precisasse falar diante de um olhar revelador. Porque costumava ser assim: tropeçava, caía, depois duvidava se me levantaria. E, com a força dessa dúvida, seu medo, sua angústia, sua tristeza e todo o esforço resultante, eu me reerguia. Eu me reergo ainda. Alguns tópicos estariam em primeiro plano do ensinamento. O amor, por exemplo. Também o ódio que faz parte dele e, talvez, o preceda. Ensinaria a duvidar do amor para expandi-lo. Ensinaria a duvidar do ódio para combatê-lo. Ensinaria que, até prova em contrário, somos maiores do que qualquer número e número nenhum é definitivo ou representativo. E, paradoxalmente, todos são e somos uma percentagem deles quase sempre. Parte quer, parte não quer. Parte ama, parte odeia, parte – a maior – ignora.
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Não há certezas. Na dúvida quase sempre permanente, cuidamos de cada parte e, por mais que cuidemos, a certeza não vem. Não se controla viver. Somos incompletos, faltantes, faltosos, e Kierkegaard, ao escancarar o desespero da aventura humana, pode ter sido o mais representativo dos filósofos. Mais que Freud, talvez. A gente no fundo não sabe nem de onde veio, menos ainda para onde vai. Claro que há para as origens a ideia cientificamente, quotidianamente provada do sexo e do nascimento (antes) e, depois, declínio e morte, mas eu me refiro a antes de antes e depois de depois. Claro que o desespero é quase sempre relativo e há flores como essas da cerejeira, encontros (com o outro, consigo mesmo), orgasmos, a beleza dos rios e mesmo a da terra gretada quando o sol a reflete em determinada hora incerta do dia e mesmo à noite. E, nessa hora, a certeza vem ou volta, assoviando que vale a pena, que viemos por isso e voltaremos para isso e assim por diante até que volte a dúvida. Eu não hesitaria: ensinaria a dúvida. Paradoxalmente, tenho certeza de que não há lições possíveis, pelo menos assim intencionalmente, premeditadamente. Acho, então, que me sentaria com a criança e brincaria com ela, porque as crianças aprendem brincando. Cem por cento delas. CELSO GUTFREIND É PSIQUIATRA E ESCRITOR, ESPECIALISTA EM PSIQUIATRIA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
Sampa C R I S
B E R G E R
LUGARES PERFEITOS PARA CURTIR EM SAMPA Sete é o número da perfeição. Pensando nele, escolhi sete lugares e sete pratos dignos da perfeição para curtir Sampa com tudo a que se tem direito. Preparados?
CASA TAVARES
Quando o assunto é beliscar e jogar conversa fora, eu penso na Casa Tavares, do Ivo Nesralla. Mas veja bem, a casa é eclética e no cardápio elaborado pelo chef Felippe de Sica (sim, ele mesmo! Temos mais um gaúcho na cidade grande) há PFs para os dias de semana, pratos caprichados para os almoços de sábados e domingos e jantares sem hora para acabar. Ainda assim, quando penso no Tavares, salivo pela burrata. Acompanhada de saladinha de rúcula, tomate assado, azeitonas pretas, salmão e pães artesanais, é a melhor pedida para quando a proposta é petiscar, beber e esquecer da vida! RUA DA CONSOLAÇÃO, 3212
ROSSOPOMODORO
Eles são superconhecidos pelas ótimas pizzas. Para você entender: a pizzaria de dentro do Eataly, na Avenida JK, é deles. É normal ir ao Rosso do Itaim predisposto a comer uma redonda. Porém, resolvi inovar. Afinal, depois que eu soube que o chef é napolitano, achei que valia investir em pratos mais elaborados. Acertei, é claro. Aqui é a dica é “perca-se” na cozinha de Nápoles. Pedi pelo Uovo in Purgatorio: ovo caipira com gema mole no molho de tomate levemente picante e queijo caciocavallo fresco de entrada e fiquei tri (!) satisfeita. Porém the show must gon on, por isso, sucumbi ao Scialatiello ai Frutti di Mare, uma massa fresca da região da Campânia com frutos do mar. Um viva à Itália. RUA PEDROSO DE ALVARENGA, 909
BRÁZ PIZZARIA
Pizza? Você sabe, né? São Paulo tem a fama - pra lá de adequada, diga-se de passagem - de servir as melhores pizzas do Brasil. Os mais entusiasmados poderiam dizer do mundo. E sabe o quê? Eu não duvido. E se é para votar na melhor pizzaria, eu vou de Bráz. Há várias na cidade. Adoro a Bráz de Pinheiros e a de Perdizes, com seus deques supercharmosos. Escolha a mais próxima de você e depois me diz se estou certa. Ah! Quer uma dica de sabor? Sou louca pela de alcachofrinha. RUA VUPABUSSU, 271 PINHEIROS E RUA PIRACUAMA, 155 PERDIZES
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FITÓ
Quando falo do Fitó, sorrio. O clima do lugar é contagiante, descontraído e alegre. Ele abriu suas portas em maio de 2017. Curiosamente, em uma parte do bairro de Pinheiros que ainda não “bombou”, mas vai. Seguramente, vai. Foi projetado em um sobradinho de paredes brancas e janelas azuis onde os sabores nordestinos ditam tendência na cozinha da chef cearense Cafira Foz. E, mais uma vez, sou obrigada a dar nota máxima às entradinhas e ouso dizer: fique nelas. Faça um menu degustação próprio e delicie-se com caipirinhas, pastéis, caipirinhas, dedinhos de tapioca e por aí vai… RUA CARDEAL ARCOVERDE, 2773
TORO SUSHI
Olha, eu diria que sushi é assunto de supremacia paulistana como é a pizza. Há diversas casas de comida japonesa em SP. E de todo tipo: tradicionais, badaladas, baratinhas, caras, para ver e ser visto e absolutamente low profile. O Toro Sushi enquadra-se na categoria: comer divinamente, em plena Oscar Freire (uma das ruas mais importantes de SP) sabendo que na cozinha está o chef Jyun Kaduoka, ex-Kinoshita (restaurante superbacana na Vila Nova Conceição). A proposta do Toro é servir sushi no estilo alta-costura. Cada duplinha é preparada com esmero, a qualidade dos peixes é incrível e os sabores marcantes. RUA OSCAR FREIRE, 512
LA PASTA GIALLA JARDINS
Nunca encontrei na minha vida uma polenta como aquela, nunca! Vai ver é o molho de tomate da casa, que vem servido em um potinho. Estrategicamente bem colocado no meio do prato. As polentas em tirinhas (nem muito finas, nem muito grossas) vão ao seu redor. Lascas de queijo parmesão decoram o prato e dão um toque final. Eu sempre peço com molho extra. A combinação é nada menos do que sublime. Como com vontade, como todinhas e penso: “Ah! La Pasta Gialla, jamais poderia viver sem você”. Escolha uma mesa na calçada, curta o movimento da Alameda Lorena e entregue-se ao momento. Recomenda-se pedir um vinho tinto para acompanhar. ALAMEDA LORENA, 1285
LE PAIN QUOTIDIEN
É oficialmente conhecida como uma padaria de pães artesanais, mas as opções elaboradas do cardápio me fazem elegê-la como uma bela opção de restaurante para todas as horas. Tem um trio de hummus, hummus de beterraba e guacamole que vem devidamente bem acompanhado de pães, é claro. Leve, saboroso e sob medida. E aqui temos mais um exemplo de casa com vários endereços pela cidade. Qual é o melhor? Difícil de dizer, gosto de todos. Mas se eu tivesse que eleger um diria: “Vá no de Higienópolis, eles têm um jardim lindo por lá”. AV. HIGIENÓPOLIS, 698
CRIS BERGER É JORNALISTA E ESCRITORA
crisberger@crisberger.com
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Lugar
Primavera
Amsterdam Escrever sobre os encantos de Amsterdam para quem já teve o pri-
vilégio de conhecer esta cidade é chover no molhado, pois o sentimento que ela normalmente desperta – creio que na maioria das pessoas – é de imediato arrebatamento. Não poderia deixar de ser. Surpreendente com seus canais e pontes, veleiros e casas-barco flutuantes, prédios centenários perfeitamente conservados, história e cultura por todos os lados, gastronomia farta e diversificada, muito entretenimento e toda aquela beleza natural. Como não amar a famosa “cidade das bicicletas”? Não é à toa que em todos os dias do ano, faça chuva, faça sol, dezenas de pessoas se aglomeram na grande praça dos museus para se deixarem fotografar em frente aos dizeres I’AMSTERDAM. Nesta que foi a minha segunda visita à capital holandesa desfrutei de quatro dias de início da primavera, em que as tulipas já começavam a se apresentar, faceiras e coloridas. Um espetáculo inesquecível. P O R F OTO S
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TAT I A N A
T R I L E A L
L E A L
T R I P
P H OTO S
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Viagem
O HOTEL PULITZER, COMPOSTO POR 25 LINDAS TOWNHOUSES, TEM UMA ATMOSFERA ÚNICA,
HOTEL PULITZER E REGIÃO DOS CANAIS
O hotel em que tive o prazer de me hospedar, o Pulitzer, está situado no centro, na charmosa região dos canais. Há um barco ancorado em frente, de propriedade do hotel, apenas para deleite dos hóspedes. Vinte e cinco townhouses dos séculos XVII e XVIII foram unidas em altos e baixos para compor a estrutura do hotel, decorado em estilo contemporâneo chique, com detalhes alusivos ao tema náutico. A decoração dos quartos remete à estrutura de uma embarcação: muita madeira, escotilha em vez de janela, lanterna em vez de abajour e outros acessórios charmosos. Há, também, suítes temáticas, jardins de inverno, recantos para relax ao ar livre, playground, sala de leitura, restaurante, cafeteria e um amplo espaço onde é servido o personalizado café da manhã. A poucas quadras da famosa Praça Dam – onde quase tudo acontece –, mas suficientemente afastado do burburinho do centro, o Pulitzer tem localização ideal, e devido à grande procura é recomendável fazer reservas.
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MUITO CONFORTO, CHARME DE SOBRA E ESTÁ LOCALIZADO NA BELÍSSIMA REGIÃO DOS CANAIS
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Lugar
PASSEIO DE BARCO E MUSEU REMBRANDT
OS CANAIS RENDEM SEMPRE FOTOS BELÍSSIMAS. VALE A PENA PASSEAR DE BARCO E ADMIRAR A CIDADE DE OUTRO ÂNGULO, CURTIR O ASTRAL DAS ÁGUAS 50
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Estando em Amsterdam, é quase obrigatório fazer um passeio de barco pelos canais, curtir a cidade languidamente, cruzar as encantadoras pontezinhas, conhecer os prédios históricos e peculiaridades do povo durante a jornada guiada. Há uma boa variedade de embarcações à disposição, inclusive à noite, e o passeio pode incluir uma lauta ceia ou apenas lanches regados a cervejas locais. O barco em que naveguei estava ancorado próximo à Praça Dam. O trajeto durou uma hora, tempo suficiente para se ter uma boa visão da cidade desse diferente ângulo e até escolher os locais que se pretende visitar depois. Um dos belos prédios avistados do barco foi a casa onde morou o pintor e professor Rembrandt. Essa casa também serviu de escola por onde passaram muitos outros pintores igualmente famosos. A família viveu no local no período de 1636 e 1658, e a casa também abrigava salas de reuniões e de visitas, sala de coleções, escritórios, atelier, salas de aula. No Museu Rembrandt, criado em 1911, acontecem, além da mostra permanente, excelentes exposições temporárias de artistas mundiais. Um passeio que recomendo.
QUARTEIRÃO DOS MUSEUS
A Museumplatz é o quadrilátero que concentra os mais concorridos museus da Holanda, dentre os quais o Van Gogh e o Rijskmuseum. Estes dois, juntamente com o museu da Casa de Anne Frank, o Museu Rembrandt, o Museu de Cera Madame Tussauds e o museu da cerveja Heineken Experience – situados em outros pontos da cidade – compõem o grande atrativo cultural da cidade. Desta vez escolhi visitar o gigante Rijksmuseum, sem me aperceber de que apenas meio turno de visitação seria totalmente insuficiente, ainda mais em se tratando de um acervo tão vasto de obras dispostas em dezenas de salas. É preciso atentar aos horários. Exceto no verão, quando as portas fecham um pouco mais tarde, no dia em que estive lá o fechamento aconteceu às 17h30min, quando ainda faltava muito para visitar. Uma pena! Como em todo famoso museu, há filas para entrar no prédio, para comprar o ingresso, para guardar os objetos pessoais, para comer e beber, para ir ao toalete, para comprar suvenires. Enfim, elas estarão sempre presentes. Mas cada minuto despendido nesse museu de acervo belíssimo
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Lugar
NO VONDELPARK, PAISAGENS LINDÍSSIMAS. NAS FEIRINHAS DE RUA, UMA DIVERSIDADE DE IGUARIAS TÍPICAS E DELICIOSAS
vale a pena. Conhecer o café do museu e experimentar pratos típicos holandeses acompanhados de uma boa cerveja pode se tornar uma bela opção quando o cansaço chega e a fome aperta. As comidinhas são deliciosas!
VONDELPARK E REGIÃO DAS GRIFES
A exuberância do Vondelpark, o grande parque de Amsterdam, confere à cidade um charme todo especial. Percorrer seus caminhos cercados de frondosas árvores e belos recantos perfeitamente conservados transmite sensações de alegria e tranquilidade. Gente de todas as tribos convive pacificamente, uns praticando seus exercícios diários ou caminhando com seus cachorros, outros abrindo toalhas para fazer piqueniques, outros, ainda, apenas descansando nos bancos ou gramados, respirando o ar puro enquanto admiram o cenário: bosques e lagos, pedalinhos e pontes, esculturas e chafarizes. Uma grande cidade como Amsterdam merece um pulmão verde como este, e a população agradece tratando bem, cuidando e respeitando a natureza. Não se veem lixo ou sujeira, as plantas estão perfeitamente aparadas e a grama cortada, tudo está no seu merecido lugar. Na região atrás dos museus e antes de chegar ao parque, caminhei pela famosa rua P.C. Hooftstraat, que concentra as lojas de marcas internacionalmente prestigiadas, como Chanel, Prada, Dior, Louis Vuitton. É um prazer circular por ali, tanto para apreciar a arquitura e a decoração das lojas como para saber o que há de mais “up to date” nas grifes de moda.
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AS FEIRAS DE RUA
Ah, as feirinhas! Adoro! Tanto as de antiguidades como as de comidas típicas, ou as ecológicas, as de objetos artesanais, todas estão presentes na vida desta eclética cidade. Na praça dos museus, aos domingos, há uma espécie de mercado das pulgas, onde são expostas incontáveis mercadorias: antigos objetos de decoração, raridades em livros e em discos long play, artesanato, iguarias bem holandesas e tudo mais que se pode imaginar. Aos sábados, em outros pontos da cidade, pipocam pequenas estandes e bancas junto às lojas, tudo em plena harmonia, muitos sabores e cores, gente de todo tipo circulando. Impossível sair sem ao menos provar um cachorro-quente feito na hora, waffles holandeses ou pão com frutas secas, ou comprar um boné ou camiseta alusivos a Amsterdam, ou, ainda, tirar muitas fotos de recordação.
A RED LINE, AS COFFEE SHOPS, OS BARES E PUBS
Amsterdam é uma capital de cabeça aberta, o que não significa que não haja regras. Nem que se possa descumpri-las. Existe acesso legal a algumas drogas e à prostituição, mas em seus lugares determinados. Nada é escancaradamente livre, tudo é extremamente organizado. E as coisas funcionam justamente por isso. Não há quem não tenha ao menos curiosidade de percorrer a Red Line, região da cidade em que prostitutas se expõem em vitrines para atrair sua clientela. Em algumas horas da noite, hordas de pessoas se acotovelam pelas ruelas apenas para conhecer esse ponto turístico peculiar.
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Lugar
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EM AMSTERDAM, VOCÊ DEVE TER O CUIDADO DE NÃO SE DEIXAR ATROPELAR PELAS BICICLETAS. A VIDA NOTURNA É ANIMADA, AS CERVEJAS SÃO DELICIOSAS E AS PESSOAS, MUITO SIMPÁTICAS As coffee shops são bares onde drogas como a maconha são vendidas e consumidas, e a única restrição é a idade do cliente (menores de 18 anos têm entrada proibida). É muito comum encontrar pessoas fumando a sua maconha tranquilamente nas mais variadas horas do dia e da noite nesses lugares. Todavia, apesar de haver quem acredite que o consumo é livre em qualquer ponto da cidade, essas substâncias são comercializadas somente nas coffee shops, locais onde, aliás, raramente se encontra algo para comer e nem sempre há venda de bebida alcoólica.
PRAÇA DAM, ESTAÇÃO CENTRAL. E AS BIKES!
A principal praça da cidade chama-se Dam. E bem perto dali está situada a estação central de trem. Por estas duas atrações turísticas circulam diariamente milhares de pessoas, muitos turistas e – como não poderia deixar de ser – uma grande diversidade de ciclistas. Normalmente apressados. Geralmente bem vestidos. Eventualmente carregando crianças a reboque. Nesta cidade, os ciclistas são sujeitos importantes, têm regalias, privilégios. Inclusive o de estar em normal-
mente com a razão. Os turistas devem ter o cuidado de não se deixar atropelar pelas bicicletas, pois ainda podem ouvir xingamentos por não prestarem a devida atenção. Ouvi de um taxista que o seu carro foi abalroado por um ciclista e ele teve que arcar com o prejuízo, pois foi considerado tão culpado quanto aquele. Portanto, não é por acaso que Amsterdam é conhecida como a cidade das bicicletas. Existem imensos depósitos fora da cidade apenas para armazenar bicicletas recolhidas porque estavam mal estacionadas ou por terem sido abandonadas por seus donos. A estatística é de que existem três bicicletas por pessoa, o que dá para ter ideia do quanto comum é possuir uma “magrela” por lá. Na praça Dam se encontram um comércio fervilhante, muitas lojas de turismo e grandes lojas de departamentos. A bela Bijenkorf é uma delas e vale a pena visitá-la. Além da variedade de produtos, a loja conta com uma praça de alimentação muito completa e agradável, no seu derradeiro sétimo andar.
JARDINS DE TULIPAS
Visitar o Keukenhoff, maior parque de flores de bul-
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Lugar
SERVIÇO ROTEIRO: DIÁRIO DE BORDO WWW.DIARIODEBORDO.TUR.BR 55 51 3314.8600 HOTEL: PULITZER WWW.PULITZERAMSTERDAM.COM 56
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bo do mundo, estava entre as metas assinaladas no meu caderninho. Ainda mais porque estávamos na primavera europeia, e eu nunca tinha ido nesta época para lá. Como perder este passeio se tudo conspirava a favor? O dia eleito foi um domingo muito ensolarado. O percurso é feito de ônibus e dura cerca de 50 minutos, já que o parque fica um pouco afastado do centro da cidade. Não é possível descrever a sensação de encantamento mesmo antes de chegar ao parque. Da estrada já se podiam vislumbrar imensos canteiros de flores de todas as cores dispostas em fileiras, formando mosaicos harmônicos e belíssimos. Passei quatro horas dentro de Keukenhoff, que é formado por diversos jardins e pavilhões perfeitamente organizados, ornados com flores de todos os tipos, com destaque para as tulipas, compondo paisagens de sonho. O parque tem bares e restaurantes, laguinhos, pontes, um moinho de vento, passeio de barco e meio às plantações, diversão para os pequenos visitantes, enfim, o que se puder imaginar, tudo envolto em milhares e milhares de flores. Ao final do passeio, muitas pessoas compram mudas de plantinhas para levar para casa, o que eu infelizmente não podia fazer. Mas o que ficou guardado na retina nem as melhores fotos conseguem reproduzir. Jamais esquecerei.
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O sabor e o saber F E R N A N D O
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O MAPA-MÚNDI COMESTÍVEL
Precursora do Google e Enciclopédias, a História Natural de Plínio (Séc. I D.C.) é o registro do conhecimento e crença da Antiguidade: 20.000 fatos compilados em 2.000 referências. Dez volumes, 37 seções, e as palavras mais emotivas estão no capítulo de Astronomia, quando Plínio diz que Terra é a única porção da Natureza a receber o título de ‘Mãe’, testemunho do respeito que merece. “A terra recebe-nos ao nascer, alimenta-nos após o parto, dá-nos sempre o sustento e, no final, abraça-nos ao seio, abrigando-nos como uma mãe quando já fomos abandonados pelo resto da Natureza”. Mas como nasceu? De quem é filha a mãe terra? O foco das narrativas de origem está na desobediência, e se na escala humana são as criaturas Adão e Eva que chamam a si seu destino, a nível cósmico a desobediência é divina. ‘A terra é a província do homem, o céu é província de Deus’, escreveu Plínio. Só uma desobediência cósmica teria a energia de um Big-Bang – ‘Grande Pum’, em português – para gerar um buraco negro universal. Para os gregos, o mundo foi criado por um jovem deus dirigindo sem habilitação o carro do pai. O Sol era eternamente conduzido desde o palácio do leste até a estrebaria do oeste por Apolo. Certo dia, seu filho Faetonte insistiu em dirigir o Sol. Apolo, como tantos pais, não pôde demover o jovem da imprudência. “Use mais a rédea do que o chicote”, foi o que lhe restou aconselhar. Os cavalos saíram em disparada sem que Faetonte pudesse controlá-los. Desgovernado, o Sol vagou por um caminho errático, ora queimando as estrelas, ora o chão, até que Zeus fulminasse o cocheiro com um raio mortal. Faetonte tombou feito uma estrela cadente e na sua lápide rezaria o epitáfio: ‘Grande o fracasso, maior a audácia’. Foi assim que o mundo tomou forma. Onde o Sol se aproximou da Terra surgiram os desertos e o calor, onde se afastou, as geleiras e o frio intenso. Os africanos ficaram negros
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e de cabelos crespos porque foram tisnados. O Nilo escondeu sua nascente para protegê-la do fogo e, para resfriar parte da Terra, Zeus teve de promover um grande dilúvio... A Terra virou uma colcha de retalhos e, adaptadas a cada região e clima, formas nativas e exóticas de vida se desenvolveram. O homem foi capaz de crescer e se multiplicar na savana, no deserto, na floresta e na montanha. Em cada retalho, um povo, uma cultura, uma dieta. A antropologia pioneira de Plínio contrastava locais onde era honroso comer o familiar morto e inconcebível abandoná-lo sob o solo com locais onde o canibalismo era repugnante, o enterro, um destino apropriado. Povos onde um homem vivia com várias esposas e povos onde uma mulher vivia com vários maridos. Os teólogos do Séc. XVI diziam que Deus embaralhara as riquezas e carências pelo mundo para que os homens se aproximassem uns dos outros. O alimento, íntimo da saúde e sexo, do poder e prazer, é uma das principais riquezas do mundo. Não é de estranhar que a comida marque a geografia, que a geografia marque a comida. Este é o assunto do texto. A geografia dos alimentos pode esconder-se da primeira vista. Pêssego vem do L. persicus ‘persa’; conforme a tradição, Alexandre trouxe consigo sementes de pessegueiro desde a Pérsia e disseminou seu cultivo. Maracotão, um pêssego avantajado, origina-se no G. melon kydoniun, ‘melão da Cidônia’, uma cidade de Creta. Damasco se refere a Damaskus, capital da Síria, mesma origem de ameixa, damascus transformada em amascus. Sorgo se iniciou como granu siricu, ‘grão da sírio’. Maçã deriva do L. mattiana, ‘da Mácia’, a capital dos Catos, um povo germânico. Nativa do norte da África, a tangerina era enviada à Europa desde Tanger, no Marrocos, já bergamota não vem de Bergamo como sugere a etimologia popular, deriva do turco beg armudy, ‘pera do senhor’. A romã ganhou o nome devido a sua fartura em Roma, cedeu seu nome grego – grenade – para Granada porque o
TODO ALIMENTO TEM TERROIR, UM NOME POMPOSO PARA GEOGRAFIA solo da região teria a cor da flor da romãzeira. É perversa a comparação da romã e suas sementes com o projétil explosivo e seus estilhaços, a granada. Peru é uma ave mexicana com o nome de um país peruano, ‘galo do Peru’ As colônias espanholas da América formavam o Vice-reino do Peru (Séc. XVII), o que deu a Peru o sentido de ‘novo mundo’. Mesmo que voe mal e não seja migratório, o peru ganhou outros nomes geográficos. No francês é dinde (coq d’Inde), a América chamada de Índias
Ocidentais – dinde é um equivalente avícula igualmente emplumado a índio. No inglês, peru é turkey na confusão com as galinhas de Angola (turkey coq) trazidas da África por caravanas turcas. Muitos locais expressam comida. Salzburgo deve o nome (e riqueza) ao sal, salz burg, ‘cidade do sal, assim como Les Halles, Salinas ou Salt Lake City. Na costa ocidental da África há a República de Camarões porque o explorador português Fernando Pó (1472) se impressionou com os crustáceos no delta do rio Wouri, dando-lhe o nome de Rio dos Camarões. No sul da Itália, a Sardenha é banhada por um Mediterrâneo rico em cardumes de sardinhas. Mesmo sem parentesco, o país Chile ajudou a dar vida à pimenta chile. Os chiles eram as solanáceas picantes do novo-mundo que Cristóvão Colombo chamou de pimientas (<‘pigmento’) – tinham cores tão vivas como o sabor. Se a pimenta-do-reino, diferente dos chiles e pimentões, chegava ao Brasil via o (reino) de Portugal, a malagueta invoca Málaga. As ilhas e o lanche sanduíche ostentam o título do Lorde Sandwich (Séc. XVIII), jogador compulsivo, que para não deixar a mesa de jogo matava a fome com fatias de pão recheadas com carne. Já as ilhas Sandwich prestam a homenagem do Capitão Cook a quem apoiara sua expedição pelo Pacífico. Descendentes do sanduíche, hamburger, frankfurter e bauru também têm nomes geográficos, são fetiches do défict de atenção alimentar, o mastigar apressado na companhia do refrigerante, celular, tablet, tv, videogame e automóvel. É comum que os alimentos tragam no nome suas origens reais ou presumidas: couve de Bruxelas, alface americana, couve chinesa, sal do Himalaia, molho inglês, chá da Índia, mostarda de Dijon, manteiga da Normandia, bacalhau da Noruega, pão sueco, etc. A linguagem faz jus à gula italiana. O nome Itália tem origem no L. vitelium, ‘vitela’, e muitas de suas regiões são
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O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N
É COMUM QUE OS ALIMENTOS TRAGAM NO NOME SUAS ORIGENS REAIS OU PRESUMIDAS: COUVE DE BRUXELAS, ALFACE AMERICANA, SAL DO HIMALAIA, MOLHO INGLÊS, MOSTARDA DE DIJON... servidas à mesa: pizza napolitana, bife milanesa, limão siciliano, linguiça calabresa, presunto parma, mortadela bolonhesa, nhoque à romana, etc. A Espanha contribui com o melão espanhol, presunto ibérico, cocido madrileno, creme catalão, polvo à galega, paella valenciana. O gaspacho, sopa fria que os espanhóis adoram, pode ter variações conforme a Andaluzia, Cordoba, Castilla ou Mancha. Um amigo que provou um Lomo de Ternera a Extremadura ficou em dúvida se o nome aludia ao nome da região ou à textura da carne. Dizemos batata inglesa, um tubérculo andino, pela importância que tomou na alimentação das Ilhas Britânicas, especialmente a Irlanda. Os ingleses chamam as batatas fritas, uma criação belga, de french fries, ‘fritas francesas’, outra designação geográfica. Maionese não invoca o calendário e sim a geografia, o porto de Mahon, capital de Minorca. Conforme a História, o cozinheiro de Richelieu encontrou na cidade recém-conquistada (1756) somente ovos e azeite, bateu os dois até formar um creme, mahonnaise... Zona de confluência de culturas e nacionalidades, a Macedônia assumiu o sentido de ‘salada’, uma mistura de verduras ou frutas. Uma confeitaria do povoado alemão Mehringen criou (1740) criou um doce à base de clara batida e gemada, o merengue. A leveza do merengue deu nome ao ritmo dominicano. Curiosamente, outra dança sul-americana tem nome de comida, salsa (sal > molho), uma mescla de ingredientes quente e picante. Foi o Marquês do Pombal quem teve o lampejo de ver na geografia um patrimônio do vinho a ser protegido. Em 1756 sua Carta Regia demarcou a Região do Alto Douro e criou o primeiro vinho de origem controlada, o vinho do Porto – denominado a partir da cidade por onde é exportado. Terroir é um nome pomposo para geografia. Pequenas variações de clima e solo fazem grandes diferenças na viticultura, de modo que o vinho tende a ser definido pela zona de cultivo. As cartas de vinhos parecem Atlas Geográficos: Chablis, Bordeaux, Burgundy, Rioja, Chianti, Mosel, Reno, Loire,
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Rhone, Califórnia, Madeira, Dão e assim por diante. Outras bebidas também são denominadas pela origem: Champanhe, Armanac, Cognac, Bourbon, Pilsen, Budweiser. O uísque está tão vinculado à Escócia que os termos viraram sinônimos, scoth é tanto ‘uísque’ como ‘escocês’. Gin é Genebra abreviada e Tequila é a cidade onde a aguardente mexicana foi inventada. Os queijos acompanham os vinhos até na forma de denominação geográfica. No Brasil temos o queijo de Minas. Camembert, Brie e Rocheford são vilarejos franceses, Cheddar, Stilton e Gloucester, ingleses. O Parmesan nasceu em Parma e Gorgonzola está junto a Milão. Os queijos clássicos holandeses têm o nome de Gouda, vila próxima a Roterdan, e Edan, cidade vizinha a Amsterdam. O queijo suíço Emmenthal é produzido no vale do rio ‘Emme’ e o Gruyère alude a Gruyeres, no cantão de Friburgo. Portugal se orgulha do queijo da Serra de Estrela e o queijo espanhol manchego traz no nome a região da Mancha onde se origina – um clima semiárido impróprio ao gado vacum, o queijo é de ovelha. Chamamos o Wienerschinitzel (escalope de Viena), um símbolo tão austríaco como a valsa, de bife à milanesa (Milão), o que os vizinhos platinos abreviam para milanesas. Uma milanesa com molho de tomate e queijo é Filé a Parmegiana (Parma) e recheada com queijo e presunto é colchão alemão – afinal, Alemanha e Áustria têm muito em comum. O wienerschinitzel teria nascido em Milão como cotoletta alla milanesa, de onde cruzaria os Alpes até Viena. Conforme a lenda, a farinha de pão sobre carne (assim como o uso do açafrão) substituía o costume dos ricos mercadores venezianos do Séc. XVI de borrifar ouro em pó na comida – aliás, costume ainda em uso em tipos exorbitantes de chocolate e de água mineral. Ouro puro em pequena quantidade não é tóxico. Inabsorvível, é eliminado nas fezes. Nem tudo que tem ouro reluz.
FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br
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Em meio a
panelas e
cozinheiros P O R F OTO S
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Estilo Quando se mergulha no universo da gastronomia – conhecendo o caminho do ingrediente até a cozinha, buscando saber as receitas, entendendo que existe uma química por trás de cada preparo e percebendo a dinâmica do restaurante –, a relação de qualquer pessoa com algo tão simples como o ato de comer se transforma. Existe na cozinha um aspecto meio mágico: aquela cenourinha pode virar protagonista de um prato fantástico, alguns sabores podem conduzir a uma viagem afetiva. E até as pessoas mais práticas e objetivas aplaudem o processo cheio de ritmo e sincronia dos cozinheiros na hora do serviço. A possibilidade de acompanhar isso de perto – comer em meio às panelas e aos cozinheiros – é o que se chama de “mesa do chef” (ou “chef’s table” em inglês). Os mais consagrados restaurantes do mundo já aderiram a esse serviço: o comensal almoça ou janta de olho em tudo. Em alguns lugares, a mesa fica dentro da cozinha; em outros, em localização privilegiada e exclusiva, bem pertinho da cozinha. E o diferencial está, justamente, no atendimento. O cliente é servido pelo chef. Dá para conversar com ele e com a equipe, perguntar tudo o que quiser, pedir mais uma provinha.
CHEF’S TABLE EM PORTO ALEGRE A CASACOR Rio Grande do Sul, em parceria com a Embaixada Gourmet, pelo segundo ano consecutivo incluiu essa experiência em sua programação. Os mais renomados chefs de cozinha do momento estiveram presentes em jantares que surpreenderam os visitantes. O chef Aluisio Sabino, já experiente em grandes eventos, foi o anfitrião na cozinha, ao lado do chef chocolatier da Barry-Callebaut Brasil, Cássio Cevallos. Os comensais tiveram a oportunidade de ver em ação cozinheiros como Jeremy Ford, Nello Cassese, Flavio Miyamura e Thomas Troigros. A decoração dos ambientes onde acontece o projeto Chef’s Table se soma ao projeto gastronômico, ela é pensada para valorizar a ação culinária. Wagner Costa e Daniele Bitencourt, da DW5 Arquitetura & Design, assinaram o espaço deste ano.
PORTO ALEGRE TEM O SEU PROJETO CHEF’S TABLE. EM 2017 OS JANTARES ACONTECERAM NA CASACOR RS, SOB O COMANDO DOS CHEFS ALUISIO SABINO E CÁSSIO CEVALLOS
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Casa
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BRUTOS
TAMBÉM AMAM
A DELICADEZA QUE EXISTE NA V E R DA D E D O S M AT E R I A I S Morar é criar um pequeno universo dentro de poucos metros quadrados. É trazer personalidade em detalhes. É mostrar-se de verdade. Há, portanto, delicadeza na robustez e na brutalidade dos materiais em sua forma mais pura: a exposição dos elementos construtivos, como encanamentos e instalações elétricas à mostra, vigas e lajes de concreto aparente e paredes sem nenhum acabamento. Há quem abra sorriso largo, como alguém que encontra um tesouro, ao descascar uma parede e perceber que ali existem tijolos maciços. Porque quando a tecnologia permite tanto – madeira que não é madeira, concreto que não é concreto –, os velhos e conhecidos elementos (e de verdade!) parecem ser os novos personagens para a história da casa. P O R
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COMBINADO COM MADEIRA, O CIMENTO QUEIMADO TRAZ ACONCHEGO AO AMBIENTE. FEITO À MÃO, ESSE MATERIAL TEM VARIAÇÕES E MARCAS, NÃO É PERFEITO. É TAMBÉM A VALORIZAÇÃO DO ARTESANAL
Nenhuma casa é igual a outra. Um apartamento confortável para seus moradores – apaixonados por séries, filmes e literatura que curtem estar em casa para relaxar sem grandes preocupações – resultou em dois espaços de estar e (reparem!) ausência de sala de jantar. “Eles buscavam algo meio industrial e com muita personalidade. E o que dá para notar é que passa longe do minimalismo”, explica Mariana Hugo, arquiteta da ILLA, escritório responsável pelo projeto. O bom humor é bem presente na decoração. “É possível notar uma multiplicidade de linguagem. E este casal combina com isso. Eles têm muitas referências. E tudo está presente”, comenta. O escritório buscou atender ao pedido do casal de “uma casa na contramão das mostras de decoração”, e, por isso, apresentou materiais diferentes e composições inusitadas, quase únicas. O cimento queimado, aplicado
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na parede que divide sala e cozinha, está entre os destaques. “A gente gosta e usa muito o cimento em nossos projetos. É neutro, mas tem textura. É bacana observar as marcas e as variações. É isso que mais nos agrada: o cimento queimado não é perfeito. Porque é feito à mão. O que é artesanal tem valor”, descreve Mariana. A transição sutil do piso – da madeira na sala para o ladrilho da cozinha – reforça o clima divertido do apartamento. Além de estética, a escolha tem a ver com funcionalidade. “O ladrilho, que é um piso frio, facilita a limpeza e promove a praticidade no dia a dia. Por isso, aparece na cozinha e próximo da churrasqueira.” Para dar “ares de casa”, a parede de cimento queimado aparece combinada a uma paleta de preto e cinza-escuro, e ainda encontra aconchego na madeira do piso e da estante da televisão.
FOTOS: MARCELO DONADUSSI
Imperfeição bem-vinda: cimento queimado
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A SALA VALORIZA A HISTÓRIA DA CASA. A EDIFICAÇÃO TEM MAIS DE MEIO SÉCULO, E HOJE OS TIJOLOS MACIÇOS SÃO UMA RARIDADE. O PISO DE PARQUET TAMBÉM É ORIGINAL E PRESERVADO
Ela é estilista, trabalha em casa e queria um espaço de trabalho reservado para armazenar seus materiais e desenvolver suas peças; ele é jornalista e tem uma coleção grande de livros. “Os dois curtem a casa, cozinhar, ouvir música, receber os amigos”, contextualiza Daniel Bolson, arquiteto deste projeto. Quando chamado para a reforma, considerando a data de construção do prédio e a tipologia do apartamento, Bolson suspeitava que as paredes fossem de tijolo maciço. “Com o início da remoção do reboco, descobrimos os tijolos de formato muito bonito e em bom estado. As imperfeições e relevos, causados pela aplicação do reboco acima deles, acabaram criando um efeito bacana na parede, e preservamos do jeito mais
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natural possível, apenas lixando a parede e aplicando um produto para restaurar o aspecto natural dos tijolos”, detalha. Os tijolos maciços são quase uma raridade. E, por essa razão, a sala, de alguma forma, valoriza a história do espaço. “A edificação tem mais de meio século, espaços generosos e estrutura bem robusta, pé-direito alto e grandes esquadrias. Buscamos valorizar essa história, aliando a linguagem mais natural também nos novos materiais, como madeira, ferro e pedra”, comenta. O piso de parquet é original e, pensando nisso, Bolson combinou materiais com aspecto mais clássico, como ladrilho hidráulico na cozinha, mármore no banheiro e pastilha sextavada no lavabo para manter a atmosfera do apartamento.
FOTOS: CRISTIANO BAUCE
Descoberta: tijolo maciço
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MÓVEIS SOLTOS TRAZEM LEVEZA AO AMBIENTE, CONTRASTANDO COM O PESO DA MADEIRA E DA PEDRA. A ARQUITETA BUSCOU NO PROJETO A VERDADE E A DURABILIDADE DOS CLÁSSICOS
Pouco tempo junto. Mas bem aproveitado. Esse é o esquema da família que se reúne diariamente neste living e curte as horas que restam fora do trabalho. Depois de dez anos da primeira reforma, eles decidiram que era hora de mudar o espaço trazendo praticidade, modernidade, e, especialmente, dar destaque para aqueles materiais feitos para durar. A arquiteta Victoria Rizzo entendeu, então, que deveria buscar a verdade e a durabilidade dos clássicos. “Temos muitos acabamentos que imitam materiais. Muitas vezes isso pode ser uma solução muito em conta e ficar lindo, mas quando se pode abusar dos materiais em sua forma verdadeira colocamos mais verdades ao projeto”, reconhece. O balcão de madeira já fazia parte do ambiente
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e seguiu ali. O painel da televisão, por sua vez, não deveria disputar com a madeira rústica. “A lâmina de pedra natural tornou-se a solução. Ela segue a linha rústica, porém com um ar mais contemporâneo”, comenta. Os móveis soltos trazem leveza ao ambiente, contrastando com o peso da madeira e da pedra. “O sofá de linho e as poltronas em couro trouxeram os materiais na sua forma verdadeira novamente, porém de forma mais despojada e clean”, destaca. Para Victoria Rizzo, a mistura de tons e materiais, todos com a mesma linguagem, traz harmonia para o espaço. “Parece até que o projeto foi pensado todo de uma vez. Mas vale lembrar que muitos itens já eram existentes, como a cristaleira, a bancada madeira, a mesa de jantar, as cortinas e a iluminação”, revela.
FOTOS: MARCELO DONADUSSI
Combinação equilibrada: madeira e pedra
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Equilíbrio C H E R R I N E
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O VALOR DE SUAS REFERÊNCIAS
Muito ouvimos que só valorizamos algo quando perdemos. Eu tenho que concordar com esta reflexão, pois ela nos faz atentar para algo que é superimportante em nossa vida: as nossas referências. E não estou falando apenas daquelas que temos dentro de casa. A família é e sempre será nossa base, para onde sabemos que quando algo em nossa vida sair do prumo ou apertar podemos voltar, o ninho em que certamente seremos bem recebidos. Mas me refiro àquelas pessoas que você soma ao longo de sua existência e que representam as inúmeras fases da vida em que vivemos. Já parou para refletir sobre isso? Quantas fases você já teve desde que nasceu? Basta parar e relembrar: você estudou a vida inteira no mesmo lugar? Se sim, com certeza deve ter como seus melhores amigos aqueles que estiveram ao seu lado em todos os anos de estudo. Mas se não estudou sempre no mesmo colégio, fez inúmeras amizades por onde passou. Na academia, curso de inglês, aula de dança, clube, viagens, intercâmbio, empregos, etc. não foi diferente! E onde estão essas pessoas hoje? Você aproveitou que a tecnologia favoreceu esse reencontro para se reaproximar dos que estiveram com você nessas épocas? O que representaram no seu amadurecimento? Quantas pessoas passam por nós ano a ano e nem mesmo nos damos conta de sua importância? Pois a coluna desta edição é para fazer você, leitor, observar se valorizou ou valoriza cada encontro que a vida te oportuniza. O que me fez querer falar sobre isso foi meu retorno à cidade de São Paulo. Eu nasci ali. Foram 30 anos vivendo como paulistana. E mesmo tendo saído e ficado fora por sete anos, toda a minha base estava em São Paulo. Pais e amigos da infância à juventude. Cresci, me desenvolvi, amadureci, vivi a maioria das experiências mais incríveis junto a muitos do que ali seguiram. Ter saído da minha cidade natal me fez querer não perder esse contato com quem eu tinha afinidade e amor. E dei sorte de ter migrado para outros lugares numa era em que já havia as redes sociais e os smartphones, o que
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favoreceu esse encurtamento. Me esforcei muito para seguir mantendo contato e o que sinto é que de certa forma saí vencedora, pois voltei e a sensação é de que pouca coisa mudou entre mim e meus amigos de vários grupos diferentes. É como se esses sete anos (com alguns amigos um pouco mais) nem tivessem passado. Entretanto o que vi nas minhas andanças foram pessoas que se distanciaram de suas referências de vida, morando na mesma cidade. Como não querer próximo aquele com quem dividi confidências e momentos tão especiais? Eu penso assim. Talvez as nossas escolhas façam com que o curso mude, as rotas sejam distintas, mas não há desculpas reais para afastamento. Temos como manter contato, de maneira virtual, que seja, com qualquer pessoa. Voltando ao retorno à minha cidade, alguns amigos da minha época do ensino fundamental estiveram nostálgicos postando fotos de nossa formatura. E qual não foi a surpresa quando um resolveu criar um grupo no whatsapp? Sabe o que aconteceu? Um delicioso reencontro. Primeiro pela mídia online e depois pessoalmente. Depois de 22 anos sem manter proximidade física, pudemos olhar um ao outro e perceber o quão importante fomos nessa base da educação que tivemos. Quantas histórias a relembrar, quantas coisas mudaram diante da formação familiar de cada um, mas e o carinho? Este não se perde, apenas cresce, com a admiração de ver que se soubermos valorizar e respeitar a amizade, ela será eterna. Ninguém passa pela vida de outra pessoa sem deixar algo de valor, o mesmo acontece com você. E aí, que tal procurar saber como estão seus amigos, os de agora e os de ontem? Depois que as pessoas se forem, não adianta clamar por elas. Vamos aproveitar que a vida está aí, disponível para nós todos os dias, para viver, somar novos encontros, mas manter os que nela já estiveram e podem ficar para sempre! JORNALISTA E AUTORA DO LIVRO “A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR”. DESENVOLVE UM TRABALHO DE PERSONAL YÔGA LIFESTYLE, EM SÃO PAULO, E COMO PERSONAL ORGANIZER, APLICANDO CONCEITOS DE QUALIDADE DE VIDA E DESAPEGO. ATUA COMO ESCRITORA NO SITE WWW.AINCRIVELARTE.COM
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México Circuito da Independência, uma fascinante região de charmosas cidades coloniais
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NAS CHARMOSAS CIDADES HISTÓRICAS COLONIAIS, COMO GUANAJUATO, FUNDADA EM 1559, FIZEMOS UM ROTEIRO RELAXANTE, ENVOLVIDOS NAS CORES E AROMAS LOCAIS. Em minha mais recente viagem ao México percorri o Circuito da Independência, uma fascinante região de charmosas cidades coloniais. Um roteiro relaxante, ficando um par de noites em cada cidade envolvido nas cores e aromas locais. Fiquei encantado, entre outras, com Guanajuato – cidade histórica fundada em 1559 graças às ricas jazidas de ouro e prata da região –, que lembra o circuito mineiro de Tiradentes e Ouro Preto.
GUANAJUATO
Um dos filões de prata mais ricos do hemisfério foi descoberto em 1558 na mina “La Valenciana”, que por 250 anos produziu 25% da prata do mundo. A prosperidade se refletia em igrejas ricamente decoradas, teatros, imponentes prédios administrativos e nas mansões dos Barões da Prata. O aumento dos tributos imperiais levou à revolta dessa elite econômica, o que resultou na Guerra da Independência de 1810, finalmente declarada em 1821 nessa cidade. No final do séc. XIX nasce aqui o mais famoso muralista mexicano – Diego Rivera. Hoje, Guanajuato é uma cidade de 70 mil habitantes, com um quarto de sua população composta por estudantes que dão vigor e animação ao centro colonial, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
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UM QUARTO DA POPULAÇÃO É COMPOSTO DE ESTUDANTES, QUE DÃO VIGOR E ANIMAÇÃO AO CENTRO COLONIAL
Viagem
GUANAJUATO OFERECE BONS MUSEUS, BELOS TEATROS E UM MERCADO ARTESANAL DE QUALIDADE Minha dica é caminhar sem destino pelo centro histórico, passando por opulentos edifícios coloniais e deslumbrantes praças arborizadas. O cenário se complementa com casas pintadas em cores vibrantes amontoadas nas encostas íngremes de uma colina. Além disso, a cidade oferece bons museus, belos teatros e um mercado artesanal de qualidade nas suas ruas de pedra. Muito interessante que os veículos transitam por baixo do centro histórico em túneis que já foram rios. A cidade é conhecida internacionalmente por seu aclamado festival das artes anual, o Festival Cervantino, mas é animada o ano todo. A atmosfera é jovem e as atividades culturais são abundantes – callejoneadas, cinema, teatro e orquestras –, graças aos 20 mil estudantes da Universidade de Guanajuato.
ATRAÇÕES
A praça central Jardin de la Union, núcleo vibrante da vida social de Guanajuato, é cercada por restaurantes e à sombra de loureiros indianos. Ali, os turistas e moradores da cidade se reúnem ao final da tarde, acompanhados de músicos de rua. Nas cercanias da praça está o elegante Teatro Juárez, do final do séc. XIX, inaugurado pelo ditador Porfirio Díaz. A 100
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É CONHECIDA MUNDIALMENTE POR SEU FESTIVAL ANUAL DAS ARTES metros dali fica a Plaza de la Paz, junto à Basílica e rodeada pelas antigas casas dos ricos barões da prata. A peça é supercênica, foi lá que obtive minhas melhores fotos. Também me encantei com a Plaza del Baratillo, com sua fonte florentina. O Museo y Casa de Diego Rivera é o local onde nasceu em 1886 o renomado pintor, que morou ali até a família se mudar para a Cidade do México, seis anos depois. Decorado com mobiliário do século XIX e coleção de esboços preliminares de seus famosos murais.
Templo La Valenciana – Sobre um monte com vista para Guanajuato fica o magnífico Templo La Valenciana, de 1788, com sua fachada espetacular e o interior com altares dourados ornamentados e filigranas entalhadas, que refletem a pujança oriunda da mina vizinha de San Ramón – que faz parte do famoso distrito garimpeiro de Valenciana, onde a prata foi descoberta em 1548. Callejoneadas – As divertidas callejoneadas (festas de rua, ou estudiantinas) partem à noite da frente da igreja de San Diego no Jardín de la Unión. É uma maneira especial de curtir a atmosfera animada de Guanajuato à noite. Estilo Zaffari
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Viagem
SAN MIGUEL DE ALLENDE: RUAS DE PEDRA, ARQUITETURA COLONIAL, AMBIENTE COSMOPOLITA E UMA LUZ INCRÍVEL 82
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DOLORES HIDALGO
Este povoado tem uma linda praça arborizada, atmosfera tranquila e importância histórica, pois foi nessa pequena localidade que o movimento pela independência mexicana verdadeiramente começou. Às 5h do dia 16 de setembro de 1810, Miguel Hidalgo, o pároco, tocou os sinos mais cedo do que o normal para chamar os moradores até a igreja e deu o “Grito da Independência”, tornando-se um dos heróis mais reverenciados do México. A Parroquia de Nuestra Señora de Dolores, a igreja onde Hidalgo deu o grito, fica na praça e tem uma requintada fachada do século 18. O centro histórico da cidade vale um dia de visita a partir de San Miguel de Allende ou Guanajuato, pelos museus temáticos da Independência, bem como pelos ateliês coloridos de cerâmica de Talavera.
SAN MIGUEL DE ALLENDE
Trata-se da mais charmosa das cidades do circuito da Independência e por isso adotada como “casa” por muitos aposentados estrangeiros, principalmente norte-americanos, que compõem 10% da população, criando um ambiente artístico cosmopolita. Uma cidade deslumbrante de arquitetura colonial, ruas de pedra e uma luminosidade incrível. Com o astral de Parati ou Trancoso, a cidade está repleta de bons restaurantes, hotéis-boutique e numerosas galerias com as melhores artesanías do México. O centro histórico, em torno da praça principal “El Jardín” e da igreja “Parroquial”, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco em 2008. San Miguel é um destino sofisticado bem diferente de como era na década de 1940, quando os beatniks e artistas moravam ali em condições bem básicas. A Escuela de Bellas Artes foi fundada em 1938, e a cidade começou a definir suas características atuais quando David Alfaro Siqueiros deu início aos cursos de pintura de murais que atraíram artistas com variadas inclinações políticas. O Instituto Allende abriu as portas em 1951, atraindo também artistas estrangeiros. Muitos eram veteranos de guerra norte-americanos; a presença de artistas tem continuado desde então. A cidade tem um colorido todo especial com suas cores ocres e terra, a escala humana com seus sobrados a faz aconchegante e o ambiente local é superagradável – por tudo isso, um dos meus lugares preferidos neste nosso fascinante planeta Terra.
SAN MIGUEL TEM UM COLORIDO TODO ESPECIAL, COM SEUS OCRES E TONS DE TERRA. É LINDA E ACONCHEGANTE
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O CENTRO HISTÓRICO DE SAN MIGUEL DE ALLENDE, EM TORNO DA PRAÇA “EL JARDÍN” E DA IGREJA “PARROQUIAL”, FOI DECLARADO PATRIMÔNIO MUNDIAL DA UNESCO, EM 2008
COMO IR
O Circuito da Independência pode ser feito em uma semana de carro, em um esquema easy-rider. Em fevereiro de 2018 haverá uma viagem em grupo, o Grand Tour Mexico. Mais detalhes no www.stbrs. com/grands-tours/mexico-2018/
ONDE FICAR
A cidade colonial de Guanajuato oferece acomodações para todos os bolsos – desde o albergue Terraza Universidad, no coração da cidade, até a exclusiva www.villamariacristina.net da rede Relais & Chateaux, onde ficamos. Uma mansão do séc. XVIII restaurada com esmero, que nos remete ao tempo dos barões da prata. O hotel mais charmoso de San Miguel é o Rosewood, em pleno centro histórico, com pátios internos estilo espanhol e um roof top bar que tem o melhor sunset view da cidade, embalado com boa música.
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Ser & Vestir R O B E R TA
Homens muito magros ou com ombros estreitos devem evitar as camisetas de corte raglan. Seu desenho triangular na parte do peito e o destaque para os ombros e mangas só são recomendados para homens fortes ou de ombros largos.
Camisetas em gola V são indicadas para homens que querem parecer mais altos ou têm o pescoço muito largo ou curto. Na hora de se exercitar, mais do que estilo, o fundamental é o homem buscar conforto em uma roupa que permita boa ventilação do corpo, deixando que a transpiração evapore. Tecidos tecnológicos impedem que o suor fique na pele. Abuse!
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DETALHES QUE FAZEM TODA A DIFERENÇA
Adequação é uma palavrinha mágica no guarda-roupa de qualquer homem e em qualquer idade e circunstância. Estar adequado significa: estar vestido com a roupa certa para seu tipo físico, de acordo com o seu estilo pessoal, atendendo às necessidades visuais do ambiente em que você estiver inserido. É uma equação perfeita. Às vezes, o homem acerta na escolha do traje. Acerta na cor. Mas erra no tamanho. Pois é... Algo aparentemente tão óbvio nem sempre é bem apreendido. É muito comum encontrar homens de terno e gravata visivelmente desconfortáveis por vestir um modelo que não atende a seu biotipo. Seja porque tudo está grande ou porque está muito justo. Sugiro você prestar atenção ao formato do seu corpo e conhecer seus pontos fortes e fracos. Saber o que sempre lhe favorece e o que você deve evitar é parte da elegância de um homem moderno. Dicas? Sim! Trago alguns exemplos. Procure sempre valorizar ombros e colarinho. Quando você veste uma camisa que está no tamanho correto e marca bem os seus ombros, você naturalmente parece mais alto, magro e diminui a barriga. O colarinho também é importante, porque pode valorizar seu rosto. Cada homem precisa descobrir o seu tamanho de camisa e de colarinho. Parece algo óbvio, mas nesses meus 15 anos de trabalho como Personal Stylist encontrei muitos clientes sem consciência desses detalhes. Outro exemplo ainda tratando de camisas? Observe os punhos. Durante a comunicação visual, os punhos são instintivamente observados pelas pessoas, e é relevante saber que punhos dobrados são sempre sinal de casualidade e punhos fechados e corretos passam a sensação de confiança. Portanto, mantenha os punhos de suas camisas sempre bem cuidados. ROBERTA COLTRO É CONSULTORA DE MODA, ESTILO E COMPORTAMENTO
ELEGÂNCIA E EQUILÍBIO ANDAM JUNTOS
Há dois assuntos que gostaria de trazer, pois são recorrentes ao cotidiano das escolhas visuais das mulheres de todos os estilos e idades. São eles: o brinco certo para acompanhar tricôs, golas altas e laços. E a importância de ter um plano B para looks festa quando a temperatura muda bruscamente no dia do evento. Vamos iniciar falando do brinco. É comum nesta época do ano nos vestirmos com blusas amplas, onde golas e laços arrematam com charme e ajudam a ornar o rosto. Também é recorrente a possibilidade de lindos tricôs fazer parte de looks – seja em ocasiões dia ou noite. Está supermoderno, por exemplo, vestir um amplo tricô com saia mídi para looks trabalho. Mas noto como há erros na escolha dos brincos para acompanhar esses looks. O segredo de toda a elegância está no equilíbrio. Pois para haver equilíbrio no look, você precisa analisar os “pesos visuais”. Isto é, se você escolhe vestir um tricô, cuja trama é robusta, oferece volumes, você nunca pode incluir um acessório delicado para acompanhá-lo. Você precisa escolher brincos pesados, curtos, de pedras extravagantes ou pérolas robustas. Fica muito estranho você vestir uma roupa quentinha, com volumes e acompanhar um brinco muito leve. Há erro no que chamamos tecnicamente de peso visual. Agora vamos tratar de looks festas? Pois é recorrente você organizar com antecedência uma roupa especial para um convite recebido. E é supercomum acontecer de, no dia da festa, o tempo virar. Você esperava por um clima frio, escolheu um vestido todo em renda de manga longa e arrematou com um mantô de pele. E o clima esquentou, deixando-a sem opção. O que noto é que, nesses casos, muitas mulheres insistem em sair vestidas com o look pensado, mesmo que a temperatura esteja totalmente diferente da proposta. Por favor, evite essa gafe. Não há grife que segure a deselegância de um traje totalmente inadequado. Assim, minha dica é que, diante de nosso mundo atual, onde o clima anda maluco, ao receber o convite para uma festa importante, construa duas possibilidades de looks. Sempre! Um de estilo mais quentinho e outro mais arejado e adequado ao clima ameno. Mais importante do que ostentar grifes e luxos é você estar confortável, adequada e atenta ao clima – não apenas da festa, do convite, mas também da temperatura, que oscila muito nesta época do ano.
Quando você veste um blusão de gola alta, evite brincos de fios. Também evite argolas grandes e fininhas. Nesses casos, aposte em robustez: pérolas grandes, brincos curtos, argolas mais pesadas e grossas.
Solitários são brincos muito versáteis e se adaptam a quase todos os estilos de looks. Se você quer investir em um modelo clássico e básico, aposte sem medo neles.
Lóbulo de orelha deve ser coberto quando o brinco acompanhar looks mais invernosos ou de peso visual maior. Quando o look é mais leve, com tecidos suaves como algodão, renda, seda, aí sim o brinco pode ser delicado, pode ter fios, pode ser longo. Estilo Zaffari
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mulheres que amamos
ANALISA DE MEDEIROS BRUM É A MULHER QUE ESCOLHEMOS PARA ESTRELAR ESTA EDIÇÃO. E ELA É TÃO ESPECIAL QUE VEM SOZINHA, ÚNICA PERSONAGEM DA SEÇÃO MULHERES QUE AMAMOS DA ESTILO ZAFFARI 80. DETERMINADA, DEDICADA, INTELIGENTE, OUSADA E PRECURSORA. ESSES SÃO ALGUNS DOS ADJETIVOS QUE PODEM DESCREVER ANALISA. MAS ELA É MAIS DO QUE ISSO: É LÍDER, É FOCADA, É BATALHADORA, É SOLIDÁRIA. ESPECIALISTA EM ENDOMARKETING, ANALISA CONSTRUIU UMA EMPRESA RESPEITADA NACIONALMENTE E DESEJADA PELAS MAIORES MARCAS DO
DESSA MULHER INSPIRADORA.
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Estilo Zaffari
FOTO: ADRIANO GONÇALVEZ
MERCADO. CONHEÇA UM POUCO MAIS
ANALISA DE MEDEIROS BRUM O verbo “realizar” poderia ter entre os seus sinônimos um nome próprio: Analisa de Medeiros Brum. Este foi o meu primeiro pensamento logo que a conheci, e não é difícil entender por quê. Com formação em Comunicação Social e especialização em Marketing e um olhar mais abrangente e complexo do que poderia supor, ela escreveu sua carreira tal qual poeta, rimando empreendedorismo com pioneirismo. O segmento empresarial, desde a faculdade, sempre foi o seu preferido. E os primeiros empregos foram em instituições como ADVB/RS e Senai/RS/Fiergs, onde Analisa não apenas teve oportunidades de crescimento profissional como, dona de uma percepção aguçada, também encontrou a evidência de uma significativa possibilidade. Ela, claro, nem cogitou desperdiçar e apostou. Aquele poderia vir a ser o início de um novo caminho para a comunicação empresarial no País. “A vida oferece algumas oportunidades e você se desenvolve naquelas que aproveita”, diz a empresária, ainda resumindo como e quando foi o divisor de águas da sua carreira: “No início dos anos 1990, quando dirigia o departamento de Comunicação do SENAI-RS, realizei um trabalho muito grande e acabei me dando conta de que havia sido de Comunicação Interna. Aquilo era Endomarketing. Eu ganhei prêmios por aquele projeto aqui no Estado, no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde, para receber o troféu Opinião Pública, precisei fazer a minha primeira palestra. A partir de então, as pessoas começaram a me convidar para palestrar, e algumas diziam para eu escrever um livro. Como desde criança sempre gostei de escrever, em 1994 lancei ‘Endomarketing’, pela Editora Tchê”. Analisa, então, foi pioneira no estudo da Comunicação Interna e do Endomarketing no Brasil e, há 23 anos, inaugurou espaço no mercado editorial sobre os temas. Atualmente, às vésperas de lançar a sua 8ª obra, “Endomarketing Estratégico – Como transformar líderes em comunicadores e empregados em seguidores”, pela Editora Integrare, ela já é uma referência consagrada tanto para as universidades quanto para as empresas. “Sorria. Você trabalha aqui”, por exemplo, título publicado em 2013, já saiu da editora com 3 mil exemplares vendidos a empresas. O livro foi presente de final de ano para os seus líderes. É fácil perceber que uma das características marcantes de Analisa é aceitar e se propor desafios. E foi justamente isso que, em 1999, a fez reconhecer mais um traço de sua personalidade. “Eu sabia que gostava de escrever e sempre tive certeza de que cursaria Comunicação, mas não fazia ideia de que era empreendedora. Descobri quando um
publicitário me convidou para montar uma empresa e, depois, me disse: agora toca!” Ali nascia a HappyHouse, agência de Endomarketing com sede em Porto Alegre – a partir de agosto com nova marca, assumindo o carinhoso e sorridente apelido “Happy”. Analisa é diretora-presidente e, ao lado dos sócios e da equipe de 70 colaboradores, responsável pelo planejamento e pela execução de processos de Comunicação Interna e Endomarketing em grandes empresas nacionais e internacionais. Justamente por atender companhias fora do Estado e pelos convites para palestrar, a média anual de voos da empresária está quase batendo nos três dígitos. Embora adore trabalhar e esteja sempre conectada às questões da agência, se tem algo que a deixa radiante é estar em casa, com a família, seja em Porto Alegre ou na praia, em Atlântida. É quando tem tempo de curtir os cantinhos prediletos do lar, tocar piano e escrever. E este dedilhar em letras não é só para compartilhar conhecimentos. É para “poetar”. Na verdade, Analisa é autora sempre, seja de livros e artigos, poemas e até mesmo quando não está em frente ao teclado. Ela escreve de outras formas sobre valorização humana no dia a dia de inúmeros administradores e funcionários de corporações de variados segmentos. Escreve mapas com os caminhos para a dignidade, o respeito profissional e a produtividade conquistada. Hoje, Analisa sente-se plena e feliz. “Eu cheguei a um ponto da minha vida em que gostaria que o tempo parasse”, comenta, reconhecendo que, com muito esforço, dedicação e superação, já conquistou o que sempre sonhou. “Eu tenho bastante consciência de que nada foi fácil para mim. Tudo o que consegui foi porque batalhei muito, rezei muito, porque eu foquei muito. Nada veio sem esforço. Por isso, talvez, eu me sinta tão realizada.” O sentimento de plenitude, porém, nem de longe significa se deixar acomodar. Quando está na cidade, ela é sempre uma das primeiras a chegar na agência. E como as suas três grandes metas para 2017 já estão cumpridas desde setembro, o objetivo agora é modernizar-se. “Eu não posso ficar querendo que só a equipe da Happy seja mais digital, mais estratégica, atualizada. Estou empenhada em aprender tudo que é novo e de vanguarda, a me relacionar com esse universo”, admite a empreendedora, contando que está fazendo cursos e também treinamentos com o pessoal da casa. Analisa de Medeiros Brum. Ela é ou não sinônimo de “realizar”? POR DÓRIS FIALCOFF, JORNALISTA
Palavra LU Í S
AU G U S TO
F I S C H E R
PELO TELEFONE
Ainda esses dias Chico Buarque de Holanda apresentou novo cd ao mundo – uma maravilha! – , e nele há uma regravação para “Dueto”, canção linda, de amor, que o autor e Nara Leão gravaram em 1979. A letra tem aquele apelo da suposta inevitabilidade do amor: “Consta nos astros, nos signos, nos búzios” que tu “serás o meu amor, serás a minha paz”. Na regravação, feita por Chico Clara Buarque na voz feminina (ela é neta dele), se acrescenta um trechinho ao final, que assegura que esse amor total consta também no facebook, no whatsapp, no tinder... Meios de comunicação – num sentido bem elementar, de meio, tubo, caminho por onde – mudam com o tempo. Nossa geração tem visto isso se multiplicar de modo alucinatório. Dizem que os mais jovens não usam mais o e-mail, tratado como coisa de velho – enquanto eu peno para preservar alguns e-mails importantes na minha vida, como antes se guardavam as cartas. Cem anos atrás, no carnaval de 1917, a música que roubou a cena no Rio, e depois pelo Brasil afora, se chamava “Pelo telefone”. Telefone, em 1917: pare um pouco e pense quantos aparelhos telefônicos deveriam existir cem anos atrás. Muito poucos, por certo: era tecnologia cara e relativamente recente. Inventado na década de 1860, o telefone chegou bastante cedo ao Brasil, logo após D. Pedro II ter visto o aparelho, nos EUA, numa exposição, em 1876. Mas o que intriga é que numa canção lançada para o carnaval, ainda antes de existir rádio (que é dos anos 1920), já se fale em telefone. Como se explica? Um relato extenso sobre este caso todo está no excelente livro Uma história do samba – As origens, de Lira Neto (Cia. das Letras). Foi em outubro de 1916 que o suposto autor da música, Donga (Ernesto Joaquim dos Santos, 1890-1974), contemporâneo e amigo de Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho, 1897-1973), a registrou,
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para poder vender a partitura, que era de onde saía algum direito autoral, na época. Frequentador de rodas de samba das famosas tias baianas estabelecidas no Rio de Janeiro, filho de músico, Donga distribuiu cópias da novidade entre seus conhecidos, e a canção ficou conhecida antes do carnaval de 17, quando de fato estourou. Houve reclamações sobre a autoria, porque Donga visivelmente havia copiado trechos de melodias já existentes, nessas rodas, em forma do que se chama “partido alto”, samba improvisado que tinha também algo de desafio, como no repente e na payada. E a letra? Na verdade, são as letras: a primeira delas saiu em 17, com autoria assumida por Mauro de Almeida (também contestada depois, pelo mesmo motivo), começava assim: “O chefe da folia/pelo telefone/manda me avisar / que com alegria não se questione/para se brincar”. O chefe da folia avisa pelo telefone que é pra brincar o carnaval? Como assim? E precisaria de telefone para isso? A segunda letra, que talvez tenha sido escrita antes dessa que foi registrada em primeiro lugar, trazia uma diferença significativa: “O chefe da polícia/pelo telefone / mandou me avisar/que na Carioca/tem uma roleta / para se jogar”. Cantada num teatro de revista em feveiro de 17, foi um sucesso imediato. Lira Neto esclarece que o chefe de polícia do Rio tinha de fato feito uma palhaçada. Em outubro de 16, diante de reclamações, ele tinha mandado fechar roletas que funcionavam em clubes de gente “bem”, da elite. Mas seu despacho, que até parece coisa de certo ministro atual do STF, dizia o seguinte: antes de ir lá nos clubes e apreender os materiais, avisa, pelo telefone oficial, aos futuros autuados que haverá a autuação. Só fazendo um samba... LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR
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