Revista Estilo Zaffari - Edição 67

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Ano 12 N0 67 R$ 4,95

CASA

AMBIENTES DINÂMICOS, LARES QUE SE TRANSFORMAM

VIAGEM

UMA AVENTURA LUXUOSA NA TANZÂNIA

SLOW FOOD

UM POUCO MAIS DE CALMA, UM POUCO MAIS DE ALMA

pinhão RECEITAS DO CHEF VICO CROCCO PARA VOCÊ CURTIR ESTA DELICIOSA IGUARIA, UM ÍCONE DO INVERNO NA REGIÃO SUL






Milene Leal milene@contextomkt.com.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Alexandra Aranovich, Flavia Mu, Gustavo Mini, Loraine Luz, Milene Leal, Vera Moreira

REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Guilherme Dable FOTOGRAFIA Carin Mandelli, Letícia Remião, Marcelo Donadussi, Mariana Chama, Pedro Milanezi, Pedro Revillion COLUNISTAS Carla Pernambuco, Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Fernando Lokschin, Lenice Zarth Carvalho, Luís Augusto Fischer, Roberta Gerhardt, Tetê Pacheco EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS)

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

DIRETORA DE ATENDIMENTO A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 487/40 andar – Porto Alegre/RS – Brasil – 90440 000 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

FOTO: LETÍCIA REMIÃO


N OTA

D O

E D I TO R

No calor da sua casa Eis que chega às suas mãos a nossa tradicional edição de inverno, sempre recheada de ideias e coisas boas para aquecer os seus dias e alegrar seu coração. Dessa vez apostamos em um ícone das baixas temperaturas no sul do país: o pinhão. Presença já garantida nas rodas de chimarrão dos gaúchos e nas festas juninas, aqui na Estilo Zaffari o pinhão é protagonista de receitas que vão muito além do simples cozimento em água salgada. Criativo e descolado, o chef Vico Crocco ensina maneiras de curtir essa iguaria em preparos simples ou sofisticados, mas infalivelmente deliciosos. As fotos das receitas têm a assinatura de Letícia Remião, e por causa delas você vai sentir vontade de comer pinhão imediatamente! No inverno a gente tem naturalmente mais apetite, curte mais o ritual do preparo e da degustação das refeições, adota um vinhozinho para acompanhar... Tudo isso combina muito com o conceito do slow food, tema de uma reportagem ótima assinada pela jornalista Vera Moreira. Ela nos mostra que existem pelo Brasil afora talentosos chefs dedicados a esse “movimento” que prega o comer com calma, com alma, com dedicação, paciência, tempo, paz. E que cada vez mais pessoas se interessam pelo slow food, caminhando no sentido oposto ao da aceleração do dia a dia. Vale a pena conhecer a ideia e copiar as receitas criadas pelos chefs, todas saborosíssimas. Receber amigos e família em casa é outro dos prazeres do inverno. Só que nem sempre as nossas residências são preparadas para acomodar um número maior de visitantes ou habitantes. Pois uma tendência que ganha força na decoração é a da casa dinâmica, ou casa “transformer”: aquela que tem flexibilidade bastante para se adaptar a diferentes necessidades e usos, que se modifica conforme o desejo do dono, cujos ambientes assumem diferentes funções e tamanhos. E esse é o tema de uma reportagem muito interessante assinada pela jornalista Flavia Mu, que garimpou em Porto Alegre três diferentes exemplos de casas dinâmicas. Nossa edição de inverno está gordinha (!) e inclui ainda duas matérias de viagem: uma aventura luxuosa pela Tanzânia e uma dica de hotel em Palm Beach que mais parece uma Disneylândia da hotelaria. Também estamos falando de sustentabilidade e trazendo os textos sempre imperdíveis dos nossos colunistas: Carla Pernambuco, Cherrine Cardoso, Fernando Lokschin, Lenice Zarth Carvalho, Luís Augusto Fischer, Roberta Gerhardt, Tetê Pacheco. E para completar esse timaço, nosso novo colunista Celso Gutfreind. Imperdível mesmo. Boa leitura! OS EDITORES


Correio RECADINHOS QUERIDOS

Já estou com a minha!!! Muito boa! GLAUCIA KOHLS

QUE A ESTILO ZAFFARI 66 Ano 12 N0 66 R$ 4,95

RECEBEU PELO FACEBOOK

Detox

NA CHEGADA DA ÚLTIMA

FIM DE FÉRIAS. É HORA DE RETOMAR A ROTINA E COLOCAR O CORPO EM DIA TECNOLOGIA

AS CRIANÇAS E OS GADGETS ELETRÔNICOS

VIAGEM

UM TOUR GASTRONÔMICO PELA CHARMOSA MONTREAL

Obrigada! Adorei, a revista está linda! MARIA ANGELICA CARRASCO CAUTIVO

Eu adorei a revista detox! Linda, linda. TETÊ PACHECO

VIDA

DUPLA PERFEITA: SURFE E GASTRONOMIA

EDIÇÃO ÀS LOJAS:

Eu quero... e quero detox, kkkk! PATRICIA TRUDA BOAZ

A revista está incrível, já devorei quase tudo. Mais uma para abrilhantar minha coleção. Esperando ansiosa a próxima. Fiquei muito feliz de ver meu comentário na seção Correio, me senti muito importante. Abraços.

Lindas cores! CARLA MOTTIN

ELIANE MACHADO

Oi, Eliane! Para nós é uma honra publicar os teus comentários, sempre tão queridos e gentis! Parabéns por mais uma revista... sucesso absoluto!!! Beijos! ANDREIA VASQUES

Parabéns. Louco pra ler. ;-)) PAULO CHRISTO

Estou começando a leitura...uma delícia, como sempre. Faz 11 anos que espero o Zaffari vir para Santa Maria... Ainda não perdi as esperanças. AURA FLORES

Querida Aura, obrigada pelo carinho. Quanto ao Zaffari em Santa Maria... sempre vale a pena ter esperança! Quem sabe? Será que aqui em Goiás eu encontro essa revista? MAGA POTTER

Olá, Maga. Não, infelizmente a revista não circula em Goiás. Mas podemos enviar alguns exemplares para você pelo correio. Entre em contato conosco pela página do Facebook se estiver interesse, ok? Essa capa está apetitosa! ANDRESSA RIGOTTI

Que capa gostosa!!! RAQUEL KUNST

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Estilo Zaffari

Adoro! Parabéns a toda a equipe! ANDRÉIA VALMÓRBIDA

Cores e saboresssssssss... Tudo de bommmmmm... DENISE MAIA L. S. MAZZOLA

Que foto maravilhosa!!! Cores lindas!!! ELISA VEECK

Gran revista!!! JAVIERA MORAGA

Olha só quem chegou aqui fresquinha pra mim, Izabella Truda Boaz e Cris Berger! Os olhinhos já brilharam com a capa! Obrigada, meninas, ou melhor, gurias... Está linda! Estou aqui me divertindo! Parabéns. AMANDA PIMENTA KNIJNIK



Cesta Básica

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Criaturas Humanas

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Coluna Comer, Comer

38

Me Gusta

54

Tecnologia

58

Coluna Vida

62

Slow Food

64

O Sabor e o Saber

76

Coluna Equilíbrio

98

Sustentabilidade

100

Moda

104

Lugar: The Breakers

106

Palavra

114

UM ROTEIRO QUE MESCLA AVENTURA E LUXO NA TANZÂNIA Luciane Garcia, agente de viagens, nos conta os detalhes de sua viagem pela Tanzânia, um destino que combina hospedagem de luxo e aventuras em meio à savana e aos animais.

80 FEITO À MÃO: TÉCNICAS


O PINHÃO COMO PROTAGONISTA DA MESA INVERNAL

AMBIENTES DINÂMICOS, CASA “TRANSFORMER”

Ícone do inverno no sul do Brasil, o pinhão não precisa ficar restrito às rodas de chimarrão e às festas juninas. Ele rende receitas deliciosas, assinadas pelo chef Vico Crocco.

Mobilidade é a palavra de ordem, até quando se fala em decoração. Veja aqui três exemplos de casas que se movimentam, que mudam conforme as necessidades de seus moradores.

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ARTESANAIS, OBJETOS PARA USAR 90


Cesta básica

LITTLE BAKERY DO QUINTAL ORGÂNICO: IRRESISTÍVEL NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO! T E X TO S

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Estilo Zaffari

P O R

LO R A I N E

LU Z

Ao completar um ano de vida, o bistrô Quintal Orgânico preparou uma novidade e tanto para seus já cativos clientes: uma bakery orgânica, especializada em delícias como pães de diversos tipos, bolos, bolinhos, cinnamon rolls, medialunas, todos elaborados com ingredientes livres de agrotóxicos e receitas exclusivas. Instalada em um recanto do bistrô, a padaria é responsável por um permanente aroma que toma conta de todo o ambiente, literalmente enfeitiçando a clientela. A Little Bakery do Quintal é a primeira padaria orgânica de Porto Alegre. Tem sempre produtos fresquinhos que você pode levar para casa ou consumir lá mesmo, acompanhados de sucos, cafés e chás orgânicos. O menu conta ainda com opções como iogurtes, sanduíches preparados na hora, entre outras delícias perfeitas para acompanhar encontros ou reuniões à tarde, com WI-FI free. O Quintal Orgânico é comandado pelo chef Cesar Sperotto, um apaixonado pelos ingredientes orgânicos, pesquisador de técnicas modernas de cocção e responsável por criações que surpreendem o palador dos comensais no dia a dia do bistrô.

LITTLE BAKERY QUINTAL ORGÂNICO AV. DR. NILO PEÇANHA, 633 - PORTO ALEGRE- RS (51) 3371-3371 www.quintalorganico.com.br


TUDO ORGÂNICO E RECICLADO Babadores, gorros, mantas, lençóis e saquinhos de dormir com materiais orgânicos e reciclados. Moda ecológica para bebês em Porto Alegre? Sim, há! Para meninos e meninas de zero a um ano, a Green is Great tem coleções produzidas com algodão orgânico ou reciclado, bambu, pet reciclado, juta e tecidos mistos. Ampliando o mix, também lançou uma linha de bolsas com modelos neutros para as mamães, assim, continuam úteis após os bebês crescerem. Toda a criação da marca, que envolve design, corte e costura, é feita aqui mesmo na Capital. Uma cooperativa de mulheres costureiras e outras profissionais independentes dividem o trabalho de produção. Alguns itens, entretanto, são feitos à mão pela própria empresária dona da marca: Beatriz Kats, bióloga comprometida com a causa verde há algum tempo. Uruguaia de nascença, com ascendência holandesa e gaúcha de coração, Beatriz, 46 anos, tem em seu

currículo uma longa história de preservação e proteção à natureza. Fez mestrado em Comportamento Animal na Holanda, foi guia de turismo ecológico no Pantanal e realizou trabalhos de campo na Amazônia Colombiana, na Mata Atlântica e também no Rio Grande do Sul. “A ideia da Green is Great surgiu a partir de uma necessidade pessoal. Em 2004, quando estava preparando o enxoval do meu filho, não consegui encontrar, por exemplo, roupas e lençóis de algodão orgânico, ou sequer algo parecido”, conta a empresária. “No início, pensei em importar artigos eco friendly da Holanda, mas após pesquisar o setor, decidi produzi-los regionalmente.” A empresária também estendeu a sua preocupação com o ambiente para o mercado pet. Aproveitando as mesmas matérias-primas e tecnologias das coleções para bebês, lançou modelos de camas para gatos e cachorros. A marca tem produtos com pronta entrega e também aceita encomendas.

GREEN IS GREAT I ENXOVAIS ECOLÓGICOS I www.greenisgreat.com.br

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Cesta básica

NO ATELIER Gelson Radaelli fotografa desde a adolescência. O envolvimento precoce com a atividade tem raízes na pequena cidade onde nasceu, Nova Bréscia. Na memória da infância, a figura do único fotógrafo oficial da região, muitas vezes tirado da cama para fazer registros, tal como um médico. Por volta dos 17 anos, a aquisição da primeira câmera garantiu a Gelson a possibilidade de experimentar o mesmo status. Há dez anos, aproximadamente, o artista trocou seu atelier de pintura de endereço: de um lugar pequeno, à sombra e próximo à rua, foi para um local amplo, em andar alto e iluminado pelo brilho do dia. E essa perspectiva impactou sua produção e motivou novos cliques. O surgimento de máquinas fotográficas pequenas, com excelentes lentes, eficientes e de fácil uso, mais ou menos na mesma época, colaborou para o surgimento de O Atelier de Gelson Radaelli, seu terceiro livro (o primeiro com suas próprias fotos). A tiragem tem 750 exemplares, dos quais 100 em edição especial, numerada e assinada, com um desenho original encartado e acabamento em capa dura. A edição mostra como o artista pensa arte, como ele se organiza no caos, como convive com sua criação e como ele deseja que as pessoas o percebam.

O ATELIER DE GELSON RADAELLI EDITORA PALLOTTI 240 PÁGINAS

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REALEZA INGLESA Agarras, drupas, brilhantes, rubis, safiras, esmeraldas e outras pedras, como gemas reais e brasileiras, adornam as peças da mais recente coleção da designer Debora Ioschpe. A Royal Collection buscou inspiração na Inglaterra, na Rainha Elizabeth e no estilo new punk, com um toque vitoriano. Destaque também para antevistas e topázio — o roxo, cor do ano, e o azul, cor preferida da rainha. Segundo Debora, também é uma homenagem à sua avó, que igualmente se chama Elizabete, e a todas as mulheres que têm atitude e sabem comandar seu próprio “reino”. As peças são para uso diário, no trabalho, eventos sociais. O ouro aparece em quatro tonalidades nas joias, em uma referência às cerimônias de coroação da realeza. O contexto histórico também foi ressaltado nas criações de Debora Ioschpe, desde a rainha Vitória, passando pelos modismos, pelas mudanças econômicas, pelas polêmicas, enfim, os fatos que marcaram os longos reinados femininos na Inglaterra. Nesse sentido, o preto, sinônimo de poder, luto, austeridade, valores morais, costumes e educação, é usado como contraste ao colorido das pedras, prestando um tributo à postura sempre impecável da rainha.

DEBORA IOSCHPE JEWELRY & DESIGN I deboraioschpe.com


LIVRO-SÍNTESE

ZANINI DE ZANINE AUTOR: ZANINI DE ZANINE EDITORA OLHARES R$ 54 172 PÁGS.

O livro Zanini de Zanine é o registro dos dez primeiros anos de carreira deste que é hoje um dos nomes de referência internacional do design brasileiro de móveis. O título traz um panorama do trabalho de Zanini no período e de sua história pessoal, oferecendo ao leitor a compreensão de aspectos subjetivos contidos em sua obra e uma visão pessoal do designer sobre a atividade. A experiência internacional e a relação com o pai, um dos grandes designers brasileiros da história, também se destacam na publicação, pela Editora Olhares. Com tom biográfico, o livro tem um primeiro bloco dedicado à infância e à juventude de Zanini, englobando os primeiros anos de vida em Nova Viçosa, no Sul da Bahia, as recorrentes viagens acompanhando seu pai, o arquiteto e designer José Zanine Caldas, o estágio no Atelier de Sergio Rodrigues, entre outros fatos marcantes. Quando são abordadas as peças criadas por Zanini, o texto expõe raciocínios criativos, processos de produção, escolha de materiais e lógicas de mercado enfrentadas pelo designer em suas duas frentes de trabalho: o Studio Zanini, onde desenvolve desenhos para produção industrial, sob encomenda ou para o próprio Studio, e o Atelier de Madeira, de onde saem as peças artesanais e com tiragem limitada. O relato chega a 2013, incluindo exposições individuais, para comemorar os dez anos de carreira, e trabalhos em andamento.

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Cesta básica

LINDEZAS PARA A CRIANCICE Roupas, acessórios e muitos outros produtos infantis que tenham aquela essência de infância: um gostinho de nostalgia, um colorido descolado e detalhes cheios de alegria. Essa é a proposta da Quitanda. O projeto nasceu do olhar de Letícia Orth e suas experiências de compra em lojas infantis pelo Brasil afora, somados a uma grande vontade de resgatar a pureza e a beleza do mundo visto pelos olhos de uma criança. Com a ajuda da Cogumelo Gestão Criativa, a ideia ganhou forma e o conceito foi criado e transformado em negócio. A Quitanda faz uma curadoria de produtos de designers que levem em conta o conforto e o movimento e que agreguem alegria e informação. São marcas de diversos lugares, de Minas Gerais a Buenos Aires. Dentre as marcas: Forrozinho de Gala (RJ), Minimals (SP),Precoce (MG), Panoletos (MG), O Reino (RJ), Contos de Vestir (SP), Bloom Kids (MG), Que te encante (PR), Miss Cecile (PR), Bebe Sucre (SP), Grisino (BsAs). A local também tem uma linha de brinquedos educativos, que estimulam a imaginação e o aprendizado, das marcas Alegria sem Bateria, A de Aurélia, Quebra-Cabeça 3D e Biju Arte Brincante.

QUITANDA RUA CEL. LUCAS DE OLIVEIRA, 255 I BAIRRO MONT’SERRAT I 51 3276. 8115 I www.amoaquitanda.com.br

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NOVIDADES NO DEL BARBIERE

A inusitada combinação de restaurante e barbearia se mantém agora apenas na decoração, como inspiração e homenagem. O Del Barbiere, que funcionava colado à barbearia da família, acaba de ganhar uma reforma de expansão, priorizando mais espaço para cozinha. Isso significou, ainda no final do ano passado, o encerramento das atividades da Barbearia Elegante, depois de quase 70 anos de atuação. A área ocupada pela barbearia transformou-se em cozinha – totalmente equipada –, despensa e recepção, que mantém uma cadeira da Barbearia Elegante. E a antiga cozinha deu espaço a banheiros para clientes, decorados com muito charme e cuidado especial. O salão ganhou mais duas mesas e um “museu da barbearia”, tornando-se o cantinho mais disputado do restaurante. O projeto arquitetônico é assinado por Marcela Schneider Ferreira e Gustavo Redlich. As cores escolhidas para a nova decoração remetem aos antigos “globos de barbearia”, em tons de vermelho e azul. As paredes estão repletas de quadros negros e outros com temática da barbearia e de Porto Alegre – afinal, está no Centro da cidade. Um deles ganha destaque especial: a foto e a xícara de Mario Varga Llosa, escritor peruano, que já visitou o bistrô. O atendimento continua o mesmo: menus diários, com couvert, entrada e prato principal, servidos de terça a sexta e renovados a cada mês. Aos sábados, o chef Marcelo Schambeck busca inspiração na feira orgânica e, a partir dos produtos disponíveis no dia, compõe o já tradicional Menu de Feira. A dica é reservar lugar.

DEL BARBIERE RUA JERÔNIMO COELHO, 188 CENTRO HISTÓRICO I 51 3019.4202 www.delbarbiere.com.br


Cesta básica

BARRO E FOGO É na produção de luminárias que a ceramista Vera Vignatti, 54 anos, concentra a maior parte de seu trabalho. Uma visita ao atelier revela, em outras peças ainda, aspectos importantes de suas criações: rusticidade e delicadeza, expressas em cubas e casinhas de passarinho, respectivamente. Com tanta dedicação e personalidade, quase nem dá para acreditar que a cerâmica surgiu por acaso em sua vida. Se dependesse do diploma, Vera estaria trabalhando hoje em dia com Educação Física (embora tenha se interessado também por arquitetura). Natural de Sarandi e criada em Três Passos, a ceramista acabou indo morar em São Paulo quando casada. Grávida, decidiu ocupar seu tempo de alguma forma. E escolheu o Liceu de Artes e Ofício na capital paulista. O resultado? Estudou cerâmica

por cinco anos. “Sempre me interessei por algo ligado às artes. Me encontrei de fato quando descobri o universo da cerâmica”, conta. As luminárias de fino acabamento são inspiradas na natureza, conservando o aspecto rústico. São arandelas, balizadores, pendentes, plafons, postes e spots. O barro, queimado sempre em alta temperatura, é colorido pelo esmalte feito a partir de cinzas especialmente selecionadas, fruto de 15 anos de pesquisas do ateliê. O diferencial está na confecção artesanal, na emoção impressa em cada peça única – uma alternativa aos produtos feitos em série. “O que me empolga nesse trabalho é o poder da transformação. É a fusão do teu EU com o barro e o fogo, é a possibilidade de imprimir na argila a tua forma de pensar... Isso me fascina”, afirma.

ATELIÊ VERA VIGNATTI AV. ICARAÍ 186, BAIRRO CRISTAL 51 3261.8820 I 9817.2015 www.veravignatti.com.br

AGORA 100% INTEGRAL Eis três saborosas novidades na loja Panas: empanadas com massa 100% integral de espinafre, brócolis e carne; tortillas de camarão, espinafre, carne, frango catupiry e morango com chocolate; e media lunas. A intenção de oferecer uma opção prática e saudável de alimento continua. Ideal para quem tem o dia corrido e nem por isso precisa acabar no fast-food cheio de gorduras.Preparadas com farinha especial importada e ingredientes de primeira categoria, as empanadas da Panas seguem as tradicionais receitas argentinas, porém com o aprimoramento da massa folhada que recebe menos adição de gordura. O resultado é uma empanada de massa leve, sequinha, que chega à mesa crocante e saborosa. A Panas oferece suas empanadas em dois tamanhos: a de 120g, que serve como lanche ou refeição, e a míni, com até 30 g, que é ideal para festas, aniversários, coffee breaks, coquetéis ou eventos empresariais.

PANAS BENJAMIN CONSTANT, 1.235 I BAIRRO SÃO GERALDO www.panas.com.br 18

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MAIS INFORMAÇÕES www.aquaexpeditions.com www.delfinamazoncruises.com

PERU, DESTINO DE LUXO Sabe o Peru dos mochileiros? Esquece. Mais do que praias, desertos ou montanhas, o território peruano conta com a floresta amazônica, que pode ser explorada a bordo de embarcações luxuosas, cheias de requinte e conforto. O crescente interesse pelo turismo natural tem transformado a Amazônia peruana em uma grande atração aos turistas que buscam lugares praticamente inexplorados e com culturas pouco divulgadas. Iquitos se destaca no roteiro. É a maior cidade da selva do país e porta de entrada para o Rio Amazonas. O acesso não pode ser feito por rotas terrestres, o que aumenta o glamour e a exclusividade dos cruzeiros na região. Iquitos, que significa “gente separada pela água”, conta com diversos quilômetros de selva e água. A possibilidade de viver uma experiência de luxo sem abrir mão do selvagem, da paisagem natural e da Aventura vem atraindo diversos viajantes. Depois do Brasil, o Peru é o

país com a maior extensão da selva amazônica. São, ao todo, 780 mil quilômetros quadrados. Considerados verdadeiros hotéis flutuantes, os barcos da Aqua Expeditions são o contraponto à rusticidade local. O Aria Amazon, por exemplo, luxuosa embarcação que realiza rotas sobre as águas da Amazônia, tem capacidade para 32 pessoas que podem ser acomodados em 16 cabines com paredes de vidro, lençóis de linho e banheira de hidromassagem, possibilitando aos hóspedes viver uma experiência única na floresta. Outras opções encantadoras e que aliam turismo ecológico e luxo são os cruzeiros oferecidos pela cadeia Delfin Amazon Cruises, que leva o conceito de turismo ecológico a novos níveis, tendo uma grande preocupação com o tratamento dos materiais descartados, buscando preservar o meio ambiente, e ainda desenvolvem ações de apoio às comunidades indígenas residentes na Amazônia.

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Cesta básica

A SOLIDEZ DO EFÊMERO O encantamento pela cenografia é um dos pontos em comum nas trajetórias das arquitetas Tanise Petersen e Daniela Jacques – e isso ajuda a explicar a solidez e a inventividade do estúdio que tocam juntas. Divisão de Efêmeros é um escritório de arquitetura especializado na criação, na montagem e na desmontagem de estruturas com tempo de vida determinado: cumprido o objetivo, elas desaparecem. O trabalho é comum em feiras, de pontos de venda ou de eventos culturais, e é realizado a partir de um enredo. O detalhamento a que a equipe se dedica imprime ares artísticos ao resultado. “O importante para nós é que as pessoas se identifiquem com o que estamos expondo, seja um produto, uma ideia, um serviço”, explicam as arquitetas. “Para tanto, a contextualização é muito importante: se é praia, é praia com cheiro, cor, objetos, música, clima. Podemos usar diversos recursos para contar uma história, e aqui entra o processo multidisciplinar de

nosso trabalho. Envolvemos equipes de lightdesigning, cenotécnicos, aderecistas, gráficas, designers gráficos, artistas, produtores, entre outros.” A intensidade do processo neste tipo de trabalho as empolga. Há o desafio constante de criar impacto com ambientes breves, solidificar uma ideia com uma criação fugaz. Tanise Petersen, 37 anos, graduou-se na UFRGS, em 2000, e fez pós-graduação no curso de Arquitetura, Arte e Espaços Efêmeros na Universidad Politecnica de Catalunya, em 2002, quando se encantou pela cenografia. Daniela Jacques, 38 anos, formou-se pela UFRGS, em 1999, é Master em Arquitetura, Arte e Espaços Efêmeros na Universidad Politecnica de Catalunya. Em Barcelona, redescobriu a cenografia, cujo encantamento vem desde o tempo da dança. Formam a equipe os arquitetos Junior Castoldi, Pielli Josen Martins e Livia Ilha Moreira, além dos acadêmicos Leonardo Boehl e Rafael Viana.

DIVISÃO DE EFÊMEROS ARQUITETURA RUA BARÃO DE SANTO ÂNGELO, 384 I BAIRRO MOINHOS DE VENTO I 51 3268.8349

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FELIZ ANIVERSÁRIO, HELLO KITTY! Ícone de fofura e glamour, a Hello Kitty está completando 40 anos em 2014. Seu carisma encanta gerações e acumula fãs de todas as idades – o que explica seu rosto em produtos nos mais diferentes segmentos: calçados, vestuário, papelaria, brinquedos, alimentos, decoração, acessórios, eletrônicos e artigos de beleza. Para celebrar essa data tão especial, a personagem convida o público a festejar simplesmente dizendo a alguém especial “Arigatô”, acompanhado de um forte abraço. A campanha incentiva as pessoas a compartilhar uma corrente de amor e gratidão. Ao longo do ano, a Sanrio do Brasil, licenciadora da personagem, promoverá uma série de ações. Para Chris Daniels, CEO da Sanrio no Brasil e América Latina, comemorar o aniversário da Hello Kitty no país é uma oportunidade para fortalecer a relação que ela mantém com seu público. “Estamos no Brasil há 15 anos e somos uma das operações que mais se destacam globalmente. Além de espalhar os bons sentimentos de nosso ícone mundial, nossa estratégia será ampliar ainda mais a presença da Hello Kitty. Traremos muitas novidades neste ano”, afirma. O roteiro no Brasil segue um calendário mundial, que teve início no Japão, no Puroland, parque temático da Hello Kitty, em 1º de novembro de 2013, quando a personagem completou 39 anos.

www.sanrio.com.br

ARTE EM MOSAICO

Os mosaicos estão por toda a parte no atelier de Leonardo Posenato. Até no muro da sede: as pecinhas marcam trechos da pintura de um dragão que se estende ao longo do comprimento da estrutura. Ideia do próprio Leonardo. Ainda na frente do atelier, 12 mil incrustrações de pedras semipreciosas envolvidas em pastilhas com lâminas douradas, mármores e granitos cobrem a escultura de uma vaca. A arte é resultado da participação de Leonardo na Cow Parade de Porto Alegre em 2010/2011. Arquiteto, Leonardo estudou mosaico na Scuola Mosaicist Del Friuli, na Itália, para onde foi em 1998. Em Vicenza, cursou arquitetura clássica. A família tem origem italiana. O viés artístico também está no DNA: a mãe é musicista e o pai, arquiteto. A formação escolhida na Itália agregou muitos conhecimentos em História Antiga – bagagem cultural que ele expressa em suas obras. O atelier é um grande produtor de mosaicos artísticos e decorativos, fornecendo para todo o Brasil e Exterior. Ali, mármores e granitos têm muitas possibilidades. A clivagem e a fragmentação das pedras são feitas com martelo romano. O resultado estético é exclusivo. Cerâmica e porcelana também aparecem na composição. “Entre os últimos projetos mais queridos está o complexo de obras da Vinícola Salton, que recentemente recebeu uma grande mesa em estilo romano “semente de girassol”’, comenta ele.

ATELIÊ DE MOSAICO LEONARDO POSENATO AV. PADRE CACIQUE 3.146 I BAIRRO CRISTAL 51 3407.4977 I 9998.4977 I www.mosaico.arq.br


Cesta básica

NATUREBA EM REDE

Uma dieta correta, baseada em alimentos naturais e produtos funcionais tem atraído o interesse de muita gente. A história da marca Natureba e de suas lojas é um reflexo desse panorama. Em 2001, a primeira loja foi aberta em Gravataí (RS), com a seguinte proposta: oferecer grande variedade de alimentos a granel e um generoso mix de produtos destinados à complementação e suplementação alimentar. Treza anos depois, a marca conta com mais uma loja em Gravataí e outras três em Porto Alegre, além de um centro de distribuição na capital gaúcha. A mais recente é uma unidade-conceito, no bairro Moinhos de Vento. É parte fundamental do projeto de franquias da Natureba, estratégia escolhida para a expansão da marca. Fundada pelo empresário Rodrigo Rossato, a Natureba surgiu dessa percepção e também da necessidade de seu proprietário – que sempre teve uma rotina saudável e gosto pela alimentação natural, mas não encontrava as opções de produtos que procurava nesse segmento. Aliás, o nome da marca veio do apelido pelo qual ele era conhecido dos amigos: Rodrigo “Natureba”. As franquias preveem lojas de 70 a 200 metros quadrados, com um mix de produtos equilibrado, adequado ao tamanho de cada mercado. Uma outra unidade de negócio, já em operação nas atuais lojas Natureba, a área de lanchonete, com sucos, smoothies, iogurtes, etc., será também adaptada, futuramente, ao modelo de franchising.

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Estilo Zaffari

NATUREBA PRODUTOS NATURAIS RUA 24 DE OUTUBRO, 525 MOINHOS DE VENTO I 51 3737.3007 www.lojanatureba.com.br


BBDU E SUAS PRÁTICAS IDEIAS PARA O DIA A DIA Como conciliar carreira e maternidade? Este é, sem dúvida, um dos grandes dilemas da mulher moderna. Pois a psicóloga Juliana Oliveira Martins transformou esse dilema em uma oportunidade para empreender. Com a chegada da filha, ela percebeu que algumas demandas do universo da maternidade não eram supridas com os produtos existentes no mercado. Assim, juntou-se à amiga Sheila Carollo Pesa, fisioterapeuta, e criou a BBDU, uma empresa focada nas necessidades das mães e dos pais para melhor atender as crianças. A sigla é uma brincadeira com os nomes de suas filhas e também faz alusão à palavra “bebê”. “Tudo na BBDU é pensado para facilitar a vida familiar. O que oferecemos foi usado ou testado por nós e realmente avaliamos como um auxílio no dia a dia com as crianças”, explica Juliana. Entre os itens que fazem mais sucesso estão as etiquetas de personalização iron-on e o xodó da BBDU, os murais das conquistas (na foto).

BBDU – DO JEITINHO DO SEU FILHO WWW.BBDU.COM.BR I 51 3095 3537


Humanas criaturas T E T Ê

PAC H E C O

OS NOVOS MAL-EDUCADOS Duvido que em outra época da humanidade tenha se ouvido tanto falar em má educação. Má educação é a bola da vez dos comportamentos. Antes, mal-educado era alguém que não ia para a escola. Ou que não vinha de uma boa família, que não sabia dizer muito obrigado. Ou pedir com licença. Que limpava a boca na toalha. Não sabia entrar na fila. Má educação era quase sinônimo de pobreza. Mas hoje não. Hoje está muito mais difícil dizer que alguém é mal-educado. Pelo simples fato de que mal -educados somos todos. Não? Estamos não apenas vivendo uma época de revolução na política, na mídia, nas relações interpessoais, como também e principalmente nos valores. Elaborei uma lista: Criança mimada dando escândalo em corredor de shopping. Mal-educada. Empresário, diretores, gestores de todos os naipes, que não dão retorno aos e-mails que recebem? Mal-educados. Gente em geral que não agradece presente? Maleducada. Que recebe flor e não dá a mínima? Mal-educada. Filhos com tablets em mesas de restaurantes, enquanto os pais comem. Mal-educados. Pais que levam crianças para restaurantes e dão tablets para elas. Mal-educados. Idoso malhado que estaciona o carrão em vaga de idoso. Mal-educado. Adolescente arrogante que estaciona em vaga de idoso. Mal-educado. Motoristas de forma genérica. Mal-educados.

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Motoristas de ônibus, em particular. Mal-educados. Motorista de carro importado que trafega pelo corredor de ônibus. Mal-educado dos infernos. Skatistas que destroem pracinhas. Mal-educados. Bikers que não param no farol. Mal-educados. Pedestres que não usam a faixa e atravessam fazendo cara feia. Mal-educados. Caixa do supermercado que recebe salário e ainda assim faz cara de nojo para o trabalho. Mal-educada. Empregada doméstica que veio do norte e não quer ter a carteira assinada porque vai perder o bolsa-família. Mal-educada. Perua que passa o dia falando em roupa e esmalte de unha. Mal-educada. E mimada. Perua com filha adolescente blogueira que passa a vida fazendo selfie de roupa. Mal-educada. Porteiro que deixa você na chuva com o presente da festa de aniversário na mão em vez de abrir e deixar você esperando sob o telhadinho. Mal-educado. Gente que não lê jornal. Mal-educada. Gente que só lê caderno de esporte. Mal-educada. Que atende celular no teatro? Sem comentários. Que conversa no cinema? Por favor. Que fala alto em qualquer circunstância. Que manda e-mails de corrente. Que, que, que. Colunista que fala mais do que deve. Mal-educada. Mas bem intencionada. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA



Sabor

Pinhão Nenhum alimento supera o pinhão como ícone do nosso inverno. Pelas bandas do sul do Brasil, basta que as temperaturas baixem um pouco e ele já surge soberano, reunindo a

turma em torno da lareira, da tevê, das conversas de final de tarde, do chimarrão. Só que o pinhão tem muito mais a oferecer do que sua versão cozida em água salgada. É um ingrediente rico, versátil, próprio para diferentes usos e que pode até assumir o papel principal de uma refeição. Nas páginas a seguir você vai conhecer diversas receitas com pinhão criadas pelo chef Vico Crocco e descritas por ele de forma deliciosa e descontraída. Vai ser uma diversão cozinhar com essa iguaria tão gostosa, diferente, barata e abundante. F OTO S

L E T Í C I A

R E M I Ã O


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Sabor

Pinhão na Manteiga PINHÃO MANTEIGA FLOR DE SAL OU SALT FLAKES MODO DE FAZER: Modo de fazer: coloque a manteiga e os pinhões já cozidos e descascados numa panela. Deixe derreter, borbulhar, mas não queimar a manteiga. Use fogo baixo, mas lembre que os pinhões estarão já descascados e frios. Então eles precisam ficar ali nadando na manteiga para chegarem ao ponto. Não se preocupe, eles serão escorridos em uma peneira antes de servir. Sirva em cumbucas com palitinhos já fincados e salpique com flor de sal ou salt flakes. A ideia é transformar o rústico em elegante!

“RÚSTICOS E ELEGANTES: OS PINHÕES JÁ COZIDOS SÃO MERGULHADOS NA MANTEIGA QUENTE E DEPOIS BORRIFADOS COM FLOR DE SAL OU SALT FLAKES”

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Sabor

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Quentão de Vinho Branco 3 LITROS DE VINHO 1 LITRO E 1/2 DE SUCO DE MAÇÃ AÇÚCAR A GOSTO 3 TRONCOS DE CANELA (CUIDADO) 1 COLHER DE CRAVO 1 COLHER DE ESTELA ANOS 2 RAMOS DE SÁLVIA FRESCA 1 LARANJA

MODO DE FAZER: Coloque o suco de maçã para cozinhar junto com o vinho. Não deixe cozinhar muito, senão o álcool “vai para o santo”. Tempere com canela e sálvia. Faça uma infusão com a sálvia, mas vá com calma: se for o caso, tire rapidamente, pois pode virar um quentão de sálvia, nada saboroso. Adicione cravo, rodelas de laranja e açúcar a gosto. É o luxo do gaúcho, incrivelmente delicioso, quente e diferente. Vai dar assunto certo.

“COM DOR DE CABEÇA NO OUTRO DIA: USE VINHO DE GARRAFÃO. SEM DOR DE CABEÇA: USE VINHO BOM! EU MISTURO OS DOIS”

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Sabor


Pato Confit 2 PATOS INTEIROS GORDURA DE PATO PURA OU ÓLEO 2 CABEÇAS DE ALHO 4 RAMOS DE SÁLVIA 2 RAMOS DE ALECRIM 3 RAMOS DE TOMILHO

MODO DE FAZER: Compre o pato inteiro, pois queremos os ossos para fazer o molho. As asas serão usadas somente para o molho. Desosse as coxas e reserve. Desosse o magret (peito) e reserve também. Pegue toda a pele existente (menos a do magret) e derreta em fogo muito baixo. Essa vai ser a gordura usada para o confit (caso não tenha o suficiente compre extra, e se não encontrar adicione um pouco de óleo, o que não é legal, mas te salva). Enquanto isso, coloque os ossos em uma ou mais formas e ponha no forno para assar a 2000C. Depois de 30 a 45 minutos retire e regue com vinho tinto de boa qualidade.

COXAS: Coloque as coxas em uma panela de ferro

não muito quente e deixe dourar. Vá adicionando a gordura que sai ao confit. Quando pegar cor, coloque na panela com a gordura diluída e adicione um pouco de alecrim, bastante tomilho e sálvia ao seu paladar. Cozinhe em fogo baixo. Pegue uma cabeça de alho e corte ao meio. Jogue junto ao confit e deixe lá. Dependendo do pato, leva de 1 a 3 horas para cozinhar. Mas eu aconselho que você faça o que as avós odeiam: vá provando. Quando estiver pronto, macio, retire e desosse. Isso é algo fácil para quem tá acostumado e trabalhoso para quem não é da área, mas vale a pena, pois fica muito

mais gostoso sem o osso. Na hora de servir revitalize usando uma frigideira semiquente. Brinque com o pato e tente deixar a pele crocante. Não adicione gordura ou óleo. Sirva ao molho, pois a gauchada não gosta de comida seca. Use as folhas de sálvia confit para decorar, o alecrim e talvez o tomilho. Não esqueça o alho, que os convidados “alhudos” poderão adicionar em seus pratos. Ele estará se desmanchando quase como um patê e totalmente sem o bafo, transformado somente em aromas e sabor.

MAGRET: Com uma faca superafiada faça cortes

bem delicados na gordura (como na foto aqui ao lado, para que fique um xadrez). Isso é pela aparência e para a carne não ficar toda repuxada e esticada quando assar e dourar! Em uma frigideira antiaderente em fogo baixo coloque o magret com a gordura para baixo e deixe soltar a gordura e dourar até ficar bronzeado. Enquanto doura, tempere com sal e pimenta-do-reino moída na hora. Quando o magret estiver bronzeado vire somente para selar o outro lado. Retire e coloque sobre um grelha e leve ao forno por uns 4 minutos a 180 graus. Retire e deixe descansar na temperatura ambiente coberto por alumínio por 10 minutos. Se tiver sido feito no dia anterior, reserve na geladeira. Antes de servir revitalize com manteiga clarificada ou normal, junto com alecrim, tomilho e alho com casca levemente esmagado. A revitalização você faz assim: usando uma colher, fique molhando o magret com essa manteiga saborosa de ervas e alho. Isso é jogo rápido, para não passar o magret do ponto! Ao contrário da coxa, o magret é superdelicado e deve ser servido praticamente quase cru no meio. Dourado por fora e cru quase cru no meio. A carne e macia e suculenta. Já a coxa é legal se desfiando, por ser confit e ficar mais tempo cozinhando. É importante descansar o magret para que na hora do corte ele não perca todo o suco, que é puro sabor!

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Sabor

Molho do Pato Confit OSSOS DA CARCAÇA DOS DOIS PATOS DUAS GARRAFAS DE VINHO TINTO 3 COLHERES (SOPA) DE EXTRATO TOMATE 15 CEBOLAS GRANDES 4 CABEÇAS DE ALHO 1 CENOURA, 1 AIPO 3 RAMOS DE ALECRIM, 5 RAMOS DE TOMILHO 10 FOLHAS DE LOURO E PIMENTA A GOSTO PINHÕES COZIDOS E DESCASCADOS

que o aipo e a cenoura somente quando a cebola começar a pegar cor. Quando começar a querer grudar no fundo da panela, adicione o extrato de tomate. Refogue mais um pouco e coloque o vinho, umas duas garrafas. Reduza até ficar praticamente uma pasta. Adicione caldo de galinha feito em casa. Cozinhe por 2 dias. Depois passe por uma peneira bem fina e reduza (não salgue nunca antes, pois com a redução pode ficar muito salgado e estragar o molho). Tempere quando estiver quase pronto. Se for o caso, use a “massa corrida”, que na minha cozinha nada mais é do que água e maisena na proporção 1:1. Use aos poucos e com cuidado. Não sou a favor, mas uso.

MODO DE FAZER O MOLHO:

MODO DE FAZER OS PINHÕES:

Depois de assar os ossos, regue com o vinho para dar o chiiiiiiiiiiii no quente da forma. Coloque tudo em uma panela (tudo o que for do pato vai para essa panela do molho, mesmo que lhe pareça pouco apetitoso), que deve ser preparada assim: refogue bastante a cebola descascada e cortada em 8 nacos. Adicione o alho cortado como a cebola, louro, pimenta da jamaica, alecrim, tomilho, aipo. cenoura (uma no máximo, pois é muito doce), tudo cortado grotescamente, somente para dar o sabor. Colo-

Cozinhe os pinhões na água com sal na panela de pressão. Quando começar a chiar cozinhe por 20 minutos e desligue. Abra quando estiver morno e eles deverão estar no ponto, al dente! Não gosto de pinhão passado, que fica esfarelento. Descasque com a maquineta. Na hora de servir esquente os pinhões inteiros na manteiga ou picados em nacos grandes (reserve os feios para cortar e os bonitos para a manteiga). Os cortados misture ao molho quando ele estiver fervendo, logo antes de servir. Fica uma delícia!

“OS PINHÕES DEVEM SER DESCASCADOS AINDA QUENTES, POIS DO CONTRÁRIO FICA QUASE IMPOSSÍVEL DESCASCAR E TÊ-LOS INTEIROS E BONITOS!”

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Sabor

Picadinho de Pinhão 500 G DE PINHÃO COZIDO E DESCASCADO 2 LINGUIÇAS DEFUMADAS 150 G DE BACON 1/2 CEBOLA PICADA 1 DENTE DE ALHO 1 RAMO PEQUENO DE ALECRIM E OUTRO DE TOMILHO 50 G DE MANTEIGA MODO DE FAZER: Cozinhe o pinhão até ficar al dente. Enquanto estiver quente descasque usando o aparelhinho que tem nas prateleiras do Zaffari. Selecione os feios (onde a bunda fica amassada) para o picadinho e os bonitos para o pinhão na manteiga. Refogue a linguiça picadinha, bem miúda com bacon, e quando começar a ficar dourado passe na peneira (não de plástico, pois vai derreter) para tirar o excesso de gordura. Devolva para a panela/frigideira e adicione a cebola picadinha, o alho, o alecrim e o tomilho bem picados. Use manteiga somente

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se necessário. Imagino que não será necessário. Quando tudo estiver bem refogado, adicione o pinhão picado (com a faca ou com um processador ou thermomix). Ele deve ser triturado ou picado em pedaços pequenos, um meio a meio. Pois queremos ter a mordida do pinhão e também o sabor dele em todo prato. Eu usei o thermomix somente usando a função “pulse”. Se for triturar usando um aparelho, adicione o pinhão aos poucos para não virar uma pasta ou ter pedaços grandes demais. Adicione o demi/roti de pato feito com os ossos do pato para deixar molhado. Esse prato quando seco não fica bom, tem que ser suculento. Sirva com farofa. Prepare de manhã e sirva à noite. Guarde um pouco do caldo para alinhar a suculência à noite.

MODO DE FAZER A FAROFA: Coloque a farinha de rosca e mandioca na panela. Quando pegar cor, regue aos poucos com óleo de oliva, depois jogue uns nacos de manteiga aos poucos. Tempere com sal e pimenta e retire da panela quente para não queimar. Espalhe em uma forma para esfriar.


“NÃO ESQUEÇA O TEMPERO VERDE PICADINHO PARA JOGAR POR CIMA. EU BOTO BASTANTE, MAS VOCÊ PODE COLOCAR EM UM POTE AO LADO PARA O PESSOAL SE SERVIR. O MESMO VALE PARA A FAROFA. E MISTURE A ELA UMAS NOZES MESCLADAS TORRADAS. IDEIAS DA NEKA MENNA BARRETO!” Estilo Zaffari

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Comer, comer L E N I C E

Z A R T H

C A R VA L H O

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?

O que valorizamos em uma refeição? O sabor? A textura? A quantidade? Normalmente falo sobre a qualidade dos alimentos que ingerimos, o teor de nutrientes, os cuidados que devemos ter para ficarmos bem alimentados. Hoje quero falar sobre outra qualidade, a do alimento bem preparado, do ingrediente de qualidade não só em termos nutricionais. Se engana quem pensa que comida de qualidade tem que ser sofisticada ou superelaborada. Comida de qualidade tem que ser bem feita, gostosa, ter boa aparência e ser atrativa. Podemos aplicar este conceito desde um bom suco ou um belo arroz e feijão bem preparados. Você presta atenção no que come? Gosto não se discute, mas acho difícil reunirmos esses predicados nos alimentos artificiais. Biscoito sabor artificial de... Não dá, né? A questão é conseguirmos dar atenção ao que comemos. Muitas vezes observo que as pessoas querem comer qualquer alimento, desde que em quantidade suficiente para satisfazer a fome e ou a ansiedade, mas sem se importar com o quê.

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A carne não está no ponto, a pizza não é gostosa, o pão não está fresquinho, o arroz está malcozido, o lanche não está gostoso mas muitos nem percebem. Comem qualquer alimento sem sequer observar. Falta critério, falta atenção! Infelizmente isto ocorre mais vezes do que pensamos. A comida oferecida em estabelecimentos comerciais nem sempre condiz com o valor que lhe é atribuído. Precisamos selecionar bem. Se conseguirmos prestar atenção à qualidade, provavelmente o valor nutricional também melhorará, pois deixaremos de consumir muitos alimentos com sabores artificiais, assim como eliminaremos o consumo desnecessário do que não está gostoso. Novamente tentamos aliar qualidade, prazer e sabor. Critérios que diferenciam “o que comer do que não comer”, e assim ganhamos em vários aspectos. E, ao consumir algo não nutritivo mas saboroso, ganhamos também, mas no prazer de degustar algo maravilhoso. Valeu a pena! Um pouco de exigência não faz mal a ninguém! LENICE ZARTH CARVALHO É NUTRICIONISTA



Casa


Casa com movimento P O R

F L AV I A

M U

O ritmo da vida contemporânea é mais acelerado: muito mais o que fazer, mas sem deixar de lado o indispensável – cozinhar, lavar a roupa, arrumar o armário. O tempo em casa é curto e, por isso, precisa ser bem aproveitado. Há uma nova dinâmica e poucos padrões – de família, gostos, rotina – preestabelecidos. Por isso, a arquitetura e a decoração precisam adaptar-se à personalidade e ao estilo de vida de cada um, propondo soluções bem-resolvidas que combinem com a palavra de ordem do momento: a flexibilidade. Já não é mais tão comum encontrar quem tenha gente trabalhando em casa diariamente para mantê-la limpa e organizada. A concepção portuguesa – aquela que divide as áreas sociais dos serviços – começa a cair em desuso. “E não temos mais aquele jeito formal e aristocrático de receber os convidados em casa. É uma mudança de comportamento que se reflete na arquitetura. A cozinha, por exemplo, tornou-se o centro da vida social e nem tanto do serviço. Não precisamos ir muito longe para perceber que ambientes integrados são tendência internacional: em Punta del Este e Buenos Aires, a configuração dos apartamentos já é diferente”, comentam Márcio Carvalho e Ricardo Ruschel, arquitetos da Smart!. O lar pode mudar com o momento de vida, humor, programação e vontade do dono. Pode ser o lugar perfeito para descansar depois de um dia interminável de trabalho, mas também se tornar o espaço ideal para visitas, cozinhar para a família, assistir ao jogo do time do coração, fazer uma festa ou ver um filme na tevê bem abraçado com seu par. Isso é casa com movimento.

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Casa

INTEGRAÇÃO É A MARCA DO APARTAMENTO DE NINA E AUBER. O CASAL PODE APROVEITAR PARA CURTIR O TEMPO EM CASA SEMPRE PERTINHO UM DO OUTRO, E ORGANIZAR O LAR CONVERSANDO

Morar e compartilhar Quando Auber Oliveira chega do trabalho no fim da tarde, Nina Decolle quer contar as novidades e ouvir sobre o dia do marido. É hora também de arrumar a casa e, especialmente, preparar o jantar, atividades que se tornaram momentos de compartilhar, colocar o papo em dia e matar aquela saudade de quem passou o dia todo longe. Afinal, o apartamento do casal tem tudo integrado. “Essa é uma das grandes vantagens do apartamento (quase) sem paredes: sempre podemos conversar”, conta. O único ambiente mais reservado é o quarto. “Decidimos levantar as paredes por uma questão de praticidade: deixamos a bagunça de fora e dormimos tranquilos. E o contrário idem. É também o refúgio para quando um de nós quer ler com tranquilidade, longe do barulho da televisão”, revela. O mobiliário tem papel importante na casa, pois é o

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que delimita os ambientes. A estante vazada preserva um cantinho mais sossegado para o home office do restante da sala e quase todos os móveis podem ser trocados de lugar. “E eu, como arquiteta, adoro mudar tudo de lugar a todo o momento. Levo o tapete de um lado para o outro, troco a posição do sofá. Acho que o Auber, às vezes, não entende essa minha necessidade”, diverte-se Nina. Nina trabalha em casa e não se restringe ao home office. “Às vezes espalho tudo pela mesa de jantar para desenvolver os projetos. Afinal, temos uma bancada na cozinha que serve perfeitamente para as refeições”, comenta. E o que é escritório pode virar salão de festas. “Não é um apartamento enorme, mas possibilita inúmeros usos. É só empurrar um pouquinho o sofá e a mesa de jantar e acomodamos todos os amigos. Já virou o ponto de encontro.”


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“NÃO É UM APARTAMENTO ENORME, MAS POSSIBILITA INÚMEROS USOS. É SÓ EMPURRAR

FOTOS: PEDRO MILANEZI

UM POUQUINHO O SOFÁ E A MESA DE JANTAR E ACOMODAMOS TODOS OS AMIGOS”

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Casa

Apê dinâmico O APARTAMENTO É PEQUENO E PRÁTICO, MAS DÁ SENSAÇÃO DE AMPLITUDE PELA INTEGRAÇÃO DA ÁREA SOCIAL COM A DE SERVIÇO 46

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Os dias do dono deste apartamento na Cidade Baixa parecem ter mais horas do que os das outras pessoas: divide o tempo entre a agência onde trabalha, a organização de diversas atividades culturais e ainda pratica esportes quase diariamente. A rotina dinâmica e o fato de passar muito tempo na rua pedem praticidade e tudo à disposição dentro de casa. É o típico filho de família italiana: gosta e faz questão de casa cheia. Os pais também sempre prezaram por espaços mais abertos, que valorizam e promovem a convivência. E apesar do perfil agregador, quem vive sempre acelerado precisa de um lugar de sossego. “Eu sempre sonhei em ter lareira, banheira e churrasqueira. Já faz um tempinho que coloquei um fogão a lenha para curtir o inverno. Isso me proporciona tranquilidade e paz sempre que preciso”, explica.


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“É POSSÍVEL FAZER QUALQUER TAREFA DIÁRIA PERTO DAS OUTRAS PESSOAS QUE ESTÃO NA CASA.

FOTOS: CARIN MANDELLI

ASSISTIR TELEVISÃO LAVANDO A LOUÇA, FAZER UM CHURRASCO E BATER UM PAPO”

O apartamento é pequeno, mas a sensação é de amplitude, graças à integração da sala e da cozinha. “Esse é seu principal diferencial. É possível fazer qualquer tarefa diária perto das outras pessoas que estão na casa. Assistir televisão lavando a louça, fazer um churrasco e bater um papo. Cozinhar vira um evento social e a pessoa que se propõe a receber convidados não fica sozinha”, destaca. A decoração traz soluções que levam em conta a relação de custo e benefício: almofadões, sofá grande e confortável, bancos altos na bancada da cozinha americana e mesa de jantar na cozinha tornam-se opções para acomodar mais gente e, facilmente, arrumar tudo depois. “O apartamento é bem parecido comigo. Sou despojado, mas muito organizado. Minha casa reflete isso”, diz o proprietário.

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Portas abertas

O LOFT DA VASCO É A CASA DO EDUARDO, MAS PODE TAMBÉM SER PALCO PARA SHOWS, ARQUIBANCADA PARA JOGOS DE FUTEBOL NA TV, SALÃO DE FESTAS E ATÉ ESPAÇO PARA BAZAR DE MODA

Quando Eduardo Titton morou no exterior, teve a oportunidade de dividir o seu espaço com muita gente diferente. “E aí descobri que sempre existe a faxina a salvar a casa. O importante é ter os amigos por perto, seja para tomar uma cerveja e brindar as novidades ou para desabafar sobre os problemas do dia. Juntar pessoas, principalmente com personalidades diferentes, engrandece qualquer ambiente”, afirma. Eduardo é advogado, mas também assume as funções de facilitador de networking, guia turístico e host para estrangeiros e produtor de eventos. Então, não é de estranhar que a casa nunca fique vazia. Afinal, é um cara bom na arte dos relacionamentos. O Loft da Vasco, como ficou conhecido, parece ter vida própria: o dono adora chamar a galera para um churrasco, mas, quando ele não está, sempre aparece quem providencie o agito, como os amigos e os irmãos. “Além disso, em alguns períodos, alugo o quarto de hóspedes – que é também a sala de jogos – para estrangeiros que estejam estudando na cidade com tempo predefinido. E, claro, tem lugar para a escova de dentes da namorada”, revela. Além dos churrascos, a casa já recebeu shows e festas, bazares de moda e exposição de arte contemporânea. Virou até sala de aula. “Muitas vezes, é transfor-

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A CASA COMBINA COM O ESTILO DE VIDA DO DONO, QUE ADORA TER AMIGOS POR PERTO. MAS O ESPAÇO PODE ADAPTAR-SE PARA OUTRAS FASES DA VIDA 52

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mada em estádio de futebol para ver os jogos do Grêmio e outros memoráveis, como a final da Champions League. O próximo plano é uma noite com bons LPs e comidas e bebidas pensadas pra cada banda ou cantor”, adianta. Em 2006, a Uma Arquitetura desenvolveu o projeto arquitetônico. Depois, em 2010, a Urbana Arquitetura assinou a reforma e o projeto de interiores, buscando trazer ainda mais esse estilo de vida do Eduardo para a casa. E toda a decoração é pensada para isso: o sofá, com base de concreto, pode virar palco para shows de bandas ou DJs, cama para mais um hóspede ou até mesmo uma grande mesa. As almofadas do sofá viram pufes, a sala de jogos é um quarto, os ganchos da sala seguram redes para deitar. E mais importante é que tudo pode mudar para as próximas etapas de vida. “A sala, imagino, ganhará ares mais aconchegantes e, consequentemente, menos voláteis. O quarto de hóspedes pode ser pintado e acolchoado para os futuros herdeiros. Ainda, quem sabe, a casa como um todo vira empreendimento, como um bar ou um atelier”, planeja.

FOTOS: MARCELO DONADUSSI

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CARLA

PERNAMBUCO

Petrópolis: sabores que nunca saem da memória

DOCE QUE TE QUERO DOCE Almoço de final de semana, festa, aniversário... não tem jeito, data especial pede um doce caprichado, uma sobremesa gostosa e bonita. Com sabor de “feito em casa” mas com estilo de cafeteria, a Sugar Box (Av. Lajeado, 321, esquina com Ijuí) oferece docinhos, altas tortas, ou melhor, tortas altas e baixas (a de negrinho é de capotar!), e papos de anjo que trazem a infância em Porto Alegre de volta à lembrança, com água na boca. Cuidado para não babar!

CHURRAS & CHOPP(S) A churrascaria Barranco está entre os empreendimentos mais clássicos da gastronomia de Porto Alegre. Uma pioneira no conceito de servir o churrasco típico de forma descontraída e casual. Para comer: xixo, galetinho no espeto, lombinho com queijo e a picanha suculenta, claro. Também é possível ainda se esbaldar no carrinho de saladas, com direito a uma porção de polenta frita. Para beber: chopp gelado, vários. Pra desfrutar: as boas companhias. Av. Protásio Alves, 1578.

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Não me canso de dizer e reconhecer os tantos corações que tem Porto Alegre. Corações como órgãos regentes da deliciosa trilha sonora que paira pela nossa capital. Corações também como baús que guardam as melhores recordações, aquelas lembranças que nos acompanham tanto em nossa memória quanto impregnam nossos sentidos: tato, visão, audição, DESTAQUE: olfato e paladar. Memórias como informações preciosas que guiarão nosso caminho pelo mundo, a nossa expressão enquanto artista, ser humano e indivíduo. No bairro Petrópolis estão, até hoje, alguns dos restaurantes mais impactantes no que se tornou meu próprio exercício da gastronomia. Impossível eu não sentir uma espécie de amor por esse bairro, já que muitos dos pratos foram apresentados pelo meu pai em uma espécie de aula sobre o que viria se tornar um grande foco da minha vida. Ainda para reforçar minha ligação tão familiar com esse bairro encantador de ruas acolhedoras e cuidadosamente desenhadas pelas copas altas das árvores, era onde eu passava dias na casa do meu bisavô entre almoços de domingo e cochichos de primos. Foi também por entre subidas e ladeiras daquela região tão bonita da cidade que fiz amigos importantes e recolhi impressões significativas a respeito da arte, da vida e sobre quem eu me tornaria. Se esse bairro de ar bucólico e tradicional trouxe descobertas importantes aos 13 anos de idade, elas foram todas mais bem exploradas mais tarde. Tudo a seu tempo, tudo com gosto de uma peça de teatro inspirada nos inconfundíveis sabores da vida privada. Assim, cada lugar desse bairro foi uma casa, cada casa como uma família, cada família com seus costumes, temperos e iguarias. Que delícia poder voltar no tempo e apreciar memórias tão saborosas desta vida!


te gustó? então me passa um e-mail, indicando o teu endereço secreto e preferido da mesa porto-alegrense (carlota@carlota.com.br)

FOTOS: DIVULGAÇÃO

PRINZ: COMIDA AFETIVA

PERSONA GRATA: Dono El Pueblo Coisa boa quando um bairro recebe pessoas tão determinadas quanto Aline Bergmann e Eduardo Mallmann. Ainda mais quando se trata de oferecer algo novo, uma culinária típica, cheia de detalhas, ingredientes especiais e diferenças que gritam com nosso paladar, às vezes nos fazendo voltar, outras nos pedindo distância para processar. Mas o caso do El Pueblo (Ijuí, 147), aberto em 2005 pela dupla, foge à regra exatamente pela dedicação, pelo trabalho sério da dupla e, principalmente, pela sensibilidade em fazer as adaptações necessárias para manter satisfeita a clientela. O sucesso foi tanto que desde 2011 os pratos do El Pueblo são servidos no Complex Skatepark (Protásio Alves, 3839), para a garotada de verdade e também para todos os de espírito jovem que vão curtir por lá e são pegos pela fome – ou simplesmente não resistem, porque é gostoso mesmo. Chimichangas, fajitas, burritos, nachos, tacos e tequilas – arriba! – neste charmoso point de cozinha mexicana em Petrópolis. Um verdadeiro destaque do empreendedorismo local. Parabéns, Aline e Eduardo, por trazerem um pedaço tão saboroso do mundo e torná-lo nosso próprio bairro!

Entre as casas mais clássicas de Porto Alegre está o Prinz Bar, Protásio Alves, 3208. Quando eu ainda era menina ele tinha todo um ar de modernidade, que aos poucos foi ficando pra trás. Todos os estabelecimentos que abrem e fecham, os diversos estilos, fachadas, as composições que se formam e se moldam à urbanidade que nos cerca foram aos poucos mudando a cara do Prinz. Mas lá dentro o que realmente importa segue igual como da primeira vez que provei: o filé ao molho de nata e a mais clássica mostarda – te liga, é gostosa mas ardida! Os filés à milanesa são inconfundíveis e o sanduíche aberto de lombo vale com destaque o título de melhor da cidade! Chopp para brindar as coisas boas que permanecem.

CAVERNA DO RATÃO Na Eça de Queiroz, 16, está um dos mais clássicos bares de Porto Alegre e que incrivelmente parece nem se abalar com os bacharéis de jovens que cursam a vida por aquelas redondezas. Na Caverna do Ratão jovens de diferentes idades e gerações têm encontrado abrigo para suas calorosas discussões e para amargas desilusões. Garçom, faça o favor de me trazer – depressa! – um chopp bem gelado e um bolo de carne recheado: de queijo! Há seis décadas, o bolo de carne pode ser recheado com queijo, cebola ou ovo. Cada um tem seu preferido, todas as versões encantam a freguesia.

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CARLA

PERNAMBUCO

ASIÁTICO Na Ijuí, bem pertinho da praça da Encol, o japa Saiko realiza um trabalho sempre impecável: atende e serve muito bem. Tem produtos sempre frescos e de primeira qualidade, o que é fundamental no caso do ingrediente principal, o peixe. Mas o Saiko também está atento e sensível para agradar a exigentes clientes vegetarianos. Adoro a berinjela empanada no panko e recheada de salmão. O shimeji na chapa é excelente. Bom custo/benefício. Para os preguiçosos tem tele-entrega eficiente.

FORNO & FARINHA Também no finalzinho da Ijuí, 641, quase na Encol, a confeitaria uruguaia MercoPan oferece doces e pães da melhor qualidade. O mil-folhas de dulce de leche merece destaque. Lindas manhãs de domingo pelas redondezas do Petrópolis pedem medialunas pra o café da manhã ou antes do chimarrão na praça. Ah, e mais algumas para levar para casa!

PEPE LAYTANO, COMIDA MEDITERRÂNEA Na Ijuí, 568, o chef Pepe Laytano serve sua saborosíssima fusion cousine mediterrânea-oriental. Além da simpatia do dono da casa que recebe de forma especial, os frutos do mar estão sempre no ponto certo e as massas são bem temperadas. Bruschettas para começar e Cannoli Sciciliano para encerrar, claro, querendo voltar.

SEGREDO Quase escondido, protegido pela discrição das indicações de conhecidos, Vittorio recebe apreciadores de cervejas especiais. O BierKeller poderia ser literalmente o porão da cerveja, não fosse o ambiente tão agradável que o dono da casa faz questão de oferecer. Há cerveja por todo lado, e é por isso mesmo que um grupo selecionado de apreciadores da bebida se encontra por lá. Na João Abott, 596. Agora... desafio é conseguir entrar nesse universo secreto protegido pelos guardiões do “não-bar”.

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O

Evangelho

segundo

Baker

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P O R

G U S TAVO

M I N I

I LU S T R A Ç Õ E S

Domingo de manhã, certamente você lembra, costumava ser o grande momento da semana dedicado à reflexão. Nesse turno, era comum que as pessoas se reunissem com sua comunidade para ouvir um bom sermão, reavaliar a vida, cantar hinos, ler alguma liturgia e sair para almoçar com a alma renovada e mais leve. Embora em algumas tradições religiosas esse tipo de ritual venha sendo questionado por gerações mais jovens, em uma nova linhagem laica ele parece fazer todo o sentido do mundo. No dia 16 de março, uma amena manhã de domingo de final de verão em Porto Alegre, fui até o Teatro do CIEE para ouvir o sermão do inglês David Baker, cantar alguns hinos e pensar na vida digital. Baker não é padre, seu sermão não veio do cânone católico e os hinos eram a mais pura MPB. Mas, depois do evento, eu senti mesmo como se tivesse saído de algum tipo de missa contemporânea – no bom sentido. O sermão de David Baker foi parte da programação da The School of Life na cidade, uma escola dedicada a

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DA B L E

“desenvolver a inteligência emocional com a ajuda da cultura” sediada em Londres, mas que oferece cursos e sermões em diversas partes do mundo. Sim, você não leu errado: sermões. Fundada pelo filósofo inglês Alain de Botton, a The School of Life aposta, entre outras atividades, na ideia do sermão secular, recuperando o significado laico do termo, mais relacionado à conversação do que propriamente à exposição e contextualização de uma doutrina religiosa. Os sermões da The School of Life nasceram em 2008 e, segundo o site da escola, “exploram os valores pelos quais devemos viver hoje”, são proferidos por “inconformistas culturais” e incluem “polêmica pervasiva, hinos pop e quitutes artesanais”. Baker e sua fala sobre Tecnologia e Humanidade cumpriram plenamente esses requisitos. Ele se apresenta como escritor, comunicador, coach e consultor. Seus cursos e sermões versam sobre questões como o equilíbrio entre vida pessoal e carreira, as demandas excessivas da tecnologia di-


Tecnologia gital e sobre como identificar seu verdadeiro potencial. Falando assim, pode não parecer muito anárquico e polêmico, mas os questionamentos que ele trouxe aos porto-alegrenses eram práticos, profundos e muito mais eficientes do que as provocações pirotécnicas de que se valem os palestrantes baratos que a gente vê com frequência nos plenários e YouTubes da vida. Quando cheguei ao Teatro do CIEE, naquele domingo, o público estava reunido no saguão degustando sucos de frutas, chás, café e alguns simpáticos salgadinhos. O clima era mesmo de congregação. As conversas giravam em torno do tema do sermão e do workshop que Baker havia dado a um grupo menor nos dias anteriores. Uma mesa foi convertida em livraria, com o pessoal da Palavraria vendendo livros da The School of Life e de outros autores relacionados ao sermão. Nada muito grandioso, nada muito transcendental, apenas o prosaico encontro de cabeças interessadas no mesmo tema em um dia e horário considerados hoje inusitados para a reflexão em grupo. Mas o fato é que o tal sermão funcionou. Baker foi antecedido por um trio local de MPB, que botou os presentes pra cantar o hino de abertura, “Cérebro Eletrônico”, do Gilberto Gil. Em seguida, entrou no palco, se posicionou no púlpito e abriu os trabalhos. Sua grande provocação foi contrapor a narrativa popular subjacente da tecnologia, que diz que ela nos empodera, que facilita a nossa vida, que nos torna melhores e mais felizes. Segundo nosso palestrante, o uso excessivo de tecnologia, o que seria considerado normal atualmente, tem um efeito totalmente oposto, um efeito de nos fazer “perder nosso sentido pessoal de poder”: quanto mais atividades e decisões entregamos a dispositivos e aplicativos, maior a sensação de impotência e de dependência, o que reduz nossa autonomia e, por consequência, a satisfação. “Todo mundo precisa de autonomia, pois ela traz autoconfiança e prazer”, diz Baker. Na relação exagerada com a tecnologia, a autonomia é sempre a primeira vítima. A tecnologia anda decidindo o que lembramos ou

não, o que vamos ler ou não, que notícias dos amigos vamos ver ou não e quando vamos trocar de celular. Com tanta coisa que não decidimos, é fácil entender a ansiedade que toma conta de nós no uso cotidiano da tecnologia. Diante disso, a proposta de Baker para um uso saudável da tecnologia é enxergá-la justamente como uma “ferramenta de que nós lançamos mão quando realmente precisamos”, o que vai contra a ideia comum que se construiu dela. Na prática, Baker resume sua abordagem de resgate da autonomia em três itens: “Retrair, refletir e regressar”. Retrair diz respeito a “desinventar o conceito de always on”, criar momentos e espaços livres de tecnologia para que possamos tomar as rédeas de certas atividades literalmente nas nossas mãos, resgatando assim também uma sensação mais verdadeira de empoderamento. Refletir é aproveitar o tempo offline para pensar mais em valores e princípios básicos da humanidade e apostar menos em doses turbinadas de distração superficial, o que também nos rouba sentido das atividades. Regredir seria a coragem de não embarcar na velocidade que a indústria da tecnologia imprime. As novidades não vão parar de chegar, mas nós podemos tomar uma posição ativa de dar PAUSE e PLAY quando queremos nos envolver ou não em certas ondas – autonomia na veia. Mas tudo isso é apenas argumentação lógica. A melhor defesa para qualquer tese é o exemplo prático. E isso, mesmo que nem todos tenham percebido, foi o que David Baker fez COM seu sermão – e não NO seu sermão. Durante cerca de duas horas, numa singela manhã de domingo, nós nos “retraímos” prestando atenção mais no palco do que no celular; “refletimos” digerindo as provocações do orador; e, mais do que tudo, “regredimos” escolhendo estar na presença física de uma pessoa interessante em vez de simplesmente assistirmos a um vídeo no YouTube que apareceu na timeline do Facebook. Ou seja, para um programa que tem alguns milhares de anos de uso sem muitas atualizações, até que a ideia de sermão aos domingos de manhã funcionou muito bem.

“NINGUÉM PRECISA ABANDONAR A TECNOLOGIA, MAS É NECESSÁRIO EXPERIMENTAR MOMENTOS DE DESCONEXÃO”

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perguntas para

David

Baker

1. QUANDO VOCÊ COMEÇOU A PERCEBER QUE A TECNOLOGIA ESTAVA OCUPANDO UM ESPAÇO GRANDE DEMAIS NAS NOSSAS VIDAS? Pra mim, os problemas começaram com o smartphone. Porque eu gosto muito de conversar com as pessoas e não gosto nada quando usam o smartphone enquanto estamos conversando. Isso é uma coisa burra. Eu tenho pensado nisso há muitos anos. Eu gosto de tecnologia há muito tempo. Quando eu estava na escola, eu estudei latim, história, literatura e ao mesmo tempo a gente construía computadores rudimentares, isso nos anos 80. Mas eu sempre estava um pouco separado da tecnologia, as coisas andavam separadas. Eu prefiro me manter mais como um turista, como alguém que viaja para o mundo da tecnologia, porque quando você viaja, você tem um olho diferente. 2. E VOCÊ, QUE VIAJA BASTANTE, VÊ ISSO EM TODO O MUNDO OU É ALGO RESTRITO AOS PAÍSES MAIS DESENVOLVIDOS? Acho que todo mundo está muito animado com tecnologia. A gente está como criança com presente novo de Natal. E acho que isso é em todo o mundo. Eu vi isso na África, Brasil, Londres. Tem sempre aquela coisa de “eu tenho um novo presente, olha meu novo presente”. Tem uma coisa que eu vi no Brasil e que não tem na Inglaterra: é um celular que você grita nele... AH, É O CELULAR COM RÁDIO, O NEXTEL. Isso é uma coisa que seria impossível em Londres!! Pra gente não dá, isso é muito brasileiro. As pessoas usam no aeroporto, nas ruas... (risos)

DAVID BAKER JORNALISTA FUNDADOR DA REVISTA INGLESA WIRED

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Vida C E L S O

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IMAGENS, ORIGENS

Lembrar de cinemas daria um romance longo, desses russos, com muitas personagens e nomes. Afinal, havia salas em quase todo bairro de Porto Alegre. Tinha cinema até mesmo na praia. Tudo em plena rua, nada confinado em shopping. A programação era farta e atualizada. Ela se espalhava rapidamente, mesmo sem redes sociais. Em Capão da Canoa, o cine Rio-Grandense fez a festa de muita gente pequena e grande. Fomentou o imaginário de um povo de veranistas sem nada dever ao mar. Mar de manhã, cinema à tarde, sonho o dia inteiro, inclusive à noite. Dez mandamentos, Ben Hur, Irmã La Dulce, todo o Jerry Lewis, o Fellini inteiro e mais um pedaço do Bergman. Um pedaço do Bergman é imenso. A praia era leve, pesada. A praia era real e imaginária. O paradoxo. Uma festa da arte em plena vida. Completo. A cidade nada devia aos seus balneários. Sessões duplas no ABC, no Baltimore, no Bristol. Marrocos e Scala na Rua da Praia do Cinema. Só de Avenida, dois. Projeções à meia- noite à beira das avenidas seguras. Tão seguras que a tia pediu para levar o primo à matinê. Ele ainda era um pirralho de dois anos, mas eu já tinha nove. Ou seja, era considerado responsável para a época. O que vinha de fora não nos ameaçava. Passava o Tom & Jerry, e me animei bem mais do que o primo. Desinteressado pelo imaginário da história, ele ficou mexendo na realidade das cadeiras. Elas eram agora para ele um brinquedo de montar e desmontar. Deixei: cada um na sua tela. Ele erguia e baixava os assentos, tudo rangia um pouco, mas o Tom estava muito supimpa, e ninguém deu bola. Estávamos entretidos na outra cena, mais viva. Mas a vida imita a arte e gosta de propor uma guinada às narrativas. A cadeira desabou no dedo minúsculo do primo. Ele acusou

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o golpe. A plateia também, aos gritos de cala a boca, tirem esta peste daqui. Naquele tempo, não havia o politicamente correto. Crianças eram ainda menos respeitadas em sua dor de existir. Como ele não obedecia ao cala a boca, tive de tirá-lo dali. O dedo estava inchado, mas não muito. E nem sangrava. Foi só um susto, eu dizia para ele, que escutava durante alguns segundos. Depois, retomava o pranto sem querer saber de cadeira, cinema, Tom, Jerry e muito menos de mim. Ele só queria a mãe dele e, apartado do filme, eu também. Estamos falando de um tempo sem celular existente nem orelhão acessível. Suportei duas horas aquele choro; duas horas inteiras de um choro de criança, desses que ecoam de criança em criança até chegar a um vazio inconsolável; desencravei todos os meus truques para combatê-lo, mas nada foi eficiente. Com exceção de um: botá-lo na garupa e ficar correndo de um lado para outro na entrada do cine Rio Branco aos gritos de Shazan. Só o Shazan foi mais ou menos terapêutico, assim de durar meio minuto antes de voltar o pranto. O baleiro e o lanterninha não reclamaram, mas o fiscal, sim. Tive de retomar as atividades na rua gelada. Só a volta da mãe funcionou. Ela chegou com o rastro da pergunta: voltassem todas as mães, a vida se resolveria? Minha tia encontrou uma criança pequena com dor no dedo e outra maior, com dor nas costas e na alma. Consta entre minhas dúvidas o que teria me motivado a tornar-me um psicanalista de crianças. Às vezes, penso que foram pedaços dos filmes do Bergman. Em outras, o desejo de acalmar todo o pranto de uma criança menor do que eu. Vai saber... CELSO GUTFREIND É PSIQUIATRA E ESCRITOR, ESPECIALISTA EM PSIQUIATRIA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA


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Slow food


Tempo de ser P O R

V E R A

M O R E I R A

Talvez fosse o caso de dizer como aquele esquimó que, depois de uma corrida desabalada, sentou-se na neve e explicou: “Preciso que minha alma me alcance novamente”. Desde a Revolução Industrial corremos desatinados e uma avalanche iminente nos alerta que já é hora de esperar pela alma – o “ser” resgatar seu valor surrupiado pelo “ter”. E isso já tem até um nome: Slow, a atitude de “fazer devagar”. Significa mais qualidade de vida, um trabalho prazeroso e bem-feito, atenção para os detalhes, relações cordiais e mais amorosas, uma alimentação saudável. São filósofos, artistas, cientistas, economistas, professores, estudantes e outras tantas pessoas esclarecidas, que formam uma parcela muito significativa da sociedade, pensando esse jeito de fazer um mundo mais humano. Na comida, o principal manifesto: o Slow Food com seu amplo significado; afinal, comer é intrínseco à existência e determinante – tu és o que tu comes. Estilo Zaffari

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Slow food

A lição, tão velha como a história do mundo, ficou esquecida. Tudo está na natureza. Dos alimentos ao nosso vestuário, da medicação ao combustível, tudo vem da natureza, que tem dinâmica própria, a ser explorada com inteligência. O fotógrafo Sebastião Salgado, com seu monumental trabalho Gênesis – oito anos excursionando por zonas longínquas do globo –, faz um dos mais eloquentes chamados à consciência do homem. “Eu queria examinar como a humanidade e a natureza têm coexistido ao longo dos tempos naquilo que agora chamamos de equilíbrio ecológico. Este trabalho é um hino visual à grandeza e à fragilidade da Terra. Mas é também um aviso, espero, acerca de tudo o que nos arriscamos a perder”, escreveu no prefácio do livrão com todas as fotos dessa viagem que estão percorrendo o mundo em uma exposição impressionante e atraindo milhões de espectadores. BOM, LIMPO E JUSTO “Se é desenvolvimento, é sustentável”, avalia Isabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente – que palestrou na abertura do seminário “Bioma Pampa, valores biológicos, culturais e econômicos”, em abril passado, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul – e ressalta: “É possível

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ganhar mercado com respeito ao ambiente”. Na concepção do Slow Food, o desenvolvimento deve passar, antes de mais nada, por um novo modelo de produção, que respeite os saberes e as tradições das comunidades locais, o homem e o meio ambiente, os sabores e a paisagem. “O conceito básico se sustenta no tripé bom, limpo e justo”, explica o chef e professor do curso de Gastronomia da Unisinos, Alexandre Baggio, à frente do movimento no Rio Grande do Sul. Luiza Chomenko, da Fundação Zoobotânica do RS, doutora em Biogeografia pela Universidade de Saarland, na Alemanha – que apresentou o painel “Utilização de elementos de biodiversidade” no seminário Bioma Pampa –, afirma que “a biodiversidade garante a segurança alimentar desejável. É pela biodiversidade também que obtemos a lã para nos abrigar no inverno e a possibilidade de contemplação de belas paisagens. É preciso conservar para evitar o declínio, cada vez maior, dos serviços dos recursos naturais, que são a base de construção de uma sociedade equitativa, segura e sustentável”. O vínculo com a natureza deve determinar as práticas a serem seguidas, e o chef Baggio enfatiza as seguintes: a diversidade de culturas, e não a monocultura; o conhecimento das safras dos produtos para plantio e

FOTO: GLAUCO ARNT

BRUNO ARDISSONE, PRODUTOR ORGÂNICO, ACREDITA QUE O SLOW FOOD PODE SER VISTO COMO UMA


BANDEIRA POLÍTICA PELA QUALIDADE DE VIDA, UM RESGATE DE ORIGENS, UM CHAMADO À SAÚDE colheita, assim como das épocas de pesca; e até mesmo a reeducação do paladar, já tão adulterado pelo fast-food. “O Brasil tem uma enorme riqueza de alimentos, que precisa ser mais conhecida. Usamos muita farinha, enquanto a natureza nos oferece uma variedade de grãos, sementes e tubérculos. Nos queijos, predominam os insossos prato e mozarela, mas podemos consumir vários outros, como os de cabra, de ovelha, o Minas, que já foi nomeado Patrimônio Imaterial, e inclusive queijos frescos”, defende Baggio. O produto elaborado com leite cru enfrenta barreiras de legislação, mas o Minas Tradicional da Canastra já foi aprovado e pode ser encontrado no mercado. Baggio informa que o Slow Food desenvolve inúmeras iniciativas: encontros com comunidades; preservação de alimentos em extinção; o Disco Xepa, um festival contra o desperdício; até viagens que documentam saberes e sabores e expedições de cunho científico. O site do movimento mostra tudo, e qualquer pessoa pode se associar: http://www.slowfoodbrasil.com Brunno Ardissone, comerciante e produtor orgânico com a família no sítio Viver Bem Alimentos, Zona Sul de Porto Alegre, exemplifica como a natureza é sábia: “As safras nos mostram claramente os produtos de que nosso organismo

precisa em cada época do ano. Os cítricos com sua vitamina C, como laranjas e bergamotas, para nos proteger das gripes no inverno; as frutas com muita água, como melão e melancia, para nos hidratar no verão”. Simpatizante do Slow Food, ele comenta que o movimento pode ser visto como uma verdadeira bandeira política pela qualidade de vida. “É um resgate de origens, de raízes. Um chamado à saúde. A economia está invertida, pois a comida deveria continuar no topo das nossas necessidades, mas a demanda por tudo o que não é comida aumentou de tal forma que a produção de alimentos foi sendo manipulada para se tornar mais e mais barata, perdendo muito do seu valor nutritivo e comprometendo a natureza”, afirma. Some-se a isso a falta de tempo generalizada: “Ninguém mais tem condições ou paciência para gastar horas no preparo da comida”, lamenta Ardissone. VOLTA À COZINHA Mas, como do limão uma limonada, essa realidade acabou por lançar uma nova tendência de consumo, a dos produtos fracionados e pré-prontos, que no exterior se debelou no início dos anos 90 e no Brasil vem crescendo com força há mais de uma década. Os supermercados oferecem

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REUNIÃO DE CHEFS EM TORNO DA PROPOSTA SLOW FOOD, NO IAIÁ BISTRÔ, EM PORTO ALEGRE. O CHEF AMAZONENSE OFIR OLIVEIRA (DE AVENTAL PRETO), DONO DO RESTAURANTE “SABOR SELVAGEM”, COMANDOU O ESPETÁCULO

uma grande variedade de opções para o consumidor preparar a refeição com praticidade – desde verduras e legumes cortados, lavados e até mesmo selecionados em uma mesma embalagem por tipo de receita a cortes de carne para os diferentes usos, etc. Basta selecionar, consultando rótulos e elegendo os melhores produtos. É uma volta à cozinha e, mesmo que parcial, já se refletiu até na arquitetura, com projetos que integram o ambiente de serviço ao espaço social da casa, permitindo a cozinheiros, familiares e amigos confraternizarem durante o preparo da comida. Uma grande conquista. Confraternização também é Slow Food, e nos seus eventos – em Porto Alegre há sempre um jantar mensal e itinerante – as pessoas interagem à mesa, conversam com os chefs, conhecem novos ingredientes e brindam à la Festa de Babette. Em abril, o chef amazonense Ofir Oliveira, incansável defensor dos orgânicos, veio à capital a convite do movimento e realizou um almoço marcado pelo clima de amizade, no GT de Gastronomia do Palácio Piratini, e um jantar no Iaiá Bistrô, restaurante parceiro do Slow desde o início, em 2011. Íntimo da natureza, o chef apresentou seus pratos dis-

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correndo com entusiasmo sobre os ingredientes, que usa e divulga no seu restaurante Sabor Selvagem: o beju e a tapioca (derivados da mandioca), o tacacá (caldo da folha da mandioca, com camarão seco), o tucupi (sumo extraído da mandioca), o arubé (o molho mais antigo do Brasil, concentrado de tucupi), entre tantas delícias. “A mandioca é uma dádiva da natureza, alimenta milhões de pessoas no mundo, pode ser usada numa infinidade de receitas e a sua folha é muito nutritiva”, diz Oliveira. Mas ele lamenta também que alguns ingredientes, ao ganharem fama, acionem fortuna, caso do açaí: “Era um produto sazonal típico da região, consumido por toda a população, até que virou moda. Agora temos açaí 365 dias por ano e exportam para todos os lugares, ao ponto de faltar pra nós em Belém do Pará”. A experiência gastronômica promovida pelo Slow Food tem análogo em outros eventos. Um exemplo de grande sucesso é o Outstanding in the Field, criado em 1999, na Califórnia, já com filhote no Brasil, o Gastronômade. Chefs renomados, de cada região por onde passa, realizam banquetes a céu aberto, em locações de beleza singular, servindo receitas a partir de ingredientes locais em extensas mesas coletivas, com a participação dos produtores rurais.

FOTO: GLAUCO ARNT

É UM VERDADEIRO DESPERTAR PARA O TEMPO, PARA O DELEITE DO CONVÍVIO, DO “FAZER DEVAGAR”.


PERCEBE-SE NO MUNDO INTEIRO UM “RETORNO À COZINHA”, MESMO QUE SEJA DE FORMA MAIS PRÁTICA Há também manifestações que pipocam nas ruas, em praças e parques, reforçando o conceito do comer bem apreciando a paisagem. E o melhor de tudo, ocupando espaços públicos que são por direito de usufruto da população, coibindo a marginalização e a violência. Mas também em propriedades particulares, como sítios e fazendas, vinícolas e hotéis, como o restaurante Butiá (Itapuã/RS) e seus almoços seguidos de show de música ao vivo, a Fazenda Petim (Guaíba/RS) e os banquetes de longa duração ao ar livre e o luxuoso Hotel Emiliano (São Paulo/SP) com a sua feirinha de produtores orgânicos. É um verdadeiro despertar para o tempo, para o deleite do convívio, do “fazer devagar”. SLOW TV E não é só na gastronomia, essa tendência de comportamento ganha importante espaço na televisão. Numa reação ao ritmo de videoclipe que tomou conta da programação, o canal público NRK, da Noruega, ganhou projeção internacional com a Slow TV, lançada em 2009. A primeira atração foi um passeio de trem, da linha Bergensbanen, com duração de sete horas e meia, exibido ao vivo e sem interrupções, filmado de dentro do trem. A audiência foi

um sucesso e a emissora foi lançando outros programas sem periodicidade definida, nem muito aviso prévio. Vieram mulheres tricotando e falando sobre lã, inclusive com a exibição da tosa de uma ovelha e da fiação da lã nas rocas, por 12 horas consecutivas; uma pescaria de salmão por 18 horas; um jogo de xadrez do norueguês Magnus Carlsen – o jornal Washington Post já o chamou de “Mozart do xadrez” – por 100 horas; um cruzeiro de navio de Bergen até Kirkenes, com transmissão de 134 horas, entre outros. A audiência e a repercussão em redes sociais mostraram que as pessoas estavam adorando e o formato da programação foi vendido, no final do ano passado, para a LMNO Productions, nos EUA. A produtora de Los Angeles pretende colocar os seus primeiros “shows”, de observação da vida selvagem e viagens de cross-country, no ar já em julho deste ano. Como disse a norueguesa Rannveig Falkenbergen-Arell, crítica de TV, em uma reportagem da BBC, “a Slow TV é um verdadeiro reality show, um tipo de Big Brother onde nada acontece”. Ou, segundo o executivo da NRK, Fredrik Faerden, “muitas coisas acontecem, mas é preciso relaxar e ir assistindo”. Parece uma bela opção para quem chega em casa exaurido da correria da vida lá fora.

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Slow food Creme de Cenouras Orgânicas

Salada de Bergamota e Folhas Verdes

P O R

P O R

A L E X A N D R E

B A G G I O

4 UNIDADES DE CENOURA ORGÂNICAS LAVADAS COM CASCA EM RODELAS 50 G DE CEBOLA EM CUBOS 20 G DE SALSÃO EM CUBOS 1 DENTE DE ALHO INTEIRO 1 FOLHA DE LOURO 300 ML DE ÁGUA 50 ML DE VINHO BRANCO SECO ALECRIM, TOMILHO, MANJERICÃO 100 ML DE AZEITE DE OLIVA 100 ML DE MELADO 4 FOLHAS DE COUVE MINEIRA (CORTADAS EM TIRAS BEM FINAS) FRITAS SAL E PIMENTA

MODO DE FAZER:

M E Y E R

1 UNIDADE DE ALFACE CRESPA 1/2 UNIDADE DE RÚCULA 1 CAIXINHA DE BROTO DE AGRIÃO 2 BERGAMOTAS 2 TOMATES ITALIANOS SEM CASCA E SEMENTE MOLHO 50 ML DE LIMÃO GALEGO (CATARINENSES) OU LIMÃO BERGAMOTA (PARA OS GAÚCHOS) 100 ML DE AZEITE DE OLIVA SAL E PIMENTA QB 4 FATIAS DE PÃO INTEGRAL TOSTADAS NO AZEITE DE OLIVA MODO DE FAZER: Higienize as folhas verdes e seque. Rasgue grosseiramente a alface e a rúcula, o broto de agrião use inteiro e reserve. Descasque a bergamota e separe em gomos. Corte os tomates em forma em pétalas e reserve. Junte o azeite de oliva com o suco de limão e emulsione bem; tempere com sal e pimenta e reserve. Em um bowl (bacia) disponha todos os ingredientes reservados (menos o pão). Mescle tudo muito bem para que o molho envolva todas as folhas verdes, o tomate e a bergamota (importante: esta etapa deve ser feita apenas na hora de servir a salada). Disponha em pratos ou travessas e guarneça com as fatias de pão tostadas.

FOTO: LETÍCIA REMIÃO

Refogue (cuidando para não queimar) em uma panela, com 50 ml de azeite de oliva, a cebola, o salsão e o alho. Acrescente o vinho branco e deixe reduzir pela metade. Acrescente a água, as cenouras e a folha de louro. Tampe e cozinhe até a cenoura ficar bem macia. Em seguida, retire a folha de louro e leve a processar aos poucos no liquidificador, até virar um creme (se ficar muito espesso, acrescente um pouco de vinho branco ou água). Tempere com sal e pimenta. Processe as ervas com o azeite de oliva restante e reserve. Pincele o prato ou xícara de vidro transparente com o melado e as ervas processadas, disponha o creme de cenoura quente e guarneça com as tiras fritas de couve mineira.

R O D O L F O

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Slow food


Hambúrguer Orgânico

Tacacá

P O R

P O R

B R U N N O

A R D I S S O N E

1 PÃO DE MALTE (COM FARINHA DE TRIGO ORGÂNICA E MALTE DE CERVEJA) 1 FATIA DE TOMATE GAÚCHO ORGÂNICO 130 G DE PICANHA OU CONTRAFILÉ 1 CEBOLA ORGÂNICA EM RODELAS 2 FATIAS DE QUEIJO DE IOGURTE (QUEIJO DESNATADO, QUE ALÉM DO CÁLCIO DO LEITE CONTÉM TODOS OS BENEFÍCIOS DO IOGURTE) 3 FATIAS DE BACON MAGRO 1 FOLHA MÉDIA DE ALFACE AMERICANA ORGÂNICA 6 COLHERES DE ACETO BALSÂMICO ORGÂNICO 5 COLHERES DE AÇÚCAR CRISTAL ORGÂNICO MODO DE FAZER:

FOTO: LETÍCIA REMIÃO

Corte a carne desejada bem fininho, a ponto de guisado (pode acrescentar um pouco da gordura da carne no guisado, pois a gordura ajuda a dar leveza). Tempere com sal e modele em formato redondo mais ou menos no diâmetro do pão. Reserve. Coloque o aceto e o açúcar em uma panela pequena e leve ao fogo. Ferva ao passo que fique uma calda bem viscosa e, então, acrescente a cebola. Cozinhe a cebola na calda rapidamente, para não perder sua textura crocante. Reserve. Frite o bife em uma frigideira com pouco óleo até dourar, vire, coloque o queijo em cima e deixe fritar mais um pouco. Reserve. Retire o óleo da frigideira com um guardanapo de papel e frite o bacon, cuidando para não endurecer. Retire e reserve sobre uma folha de papel absorvente. Abra o pão, coloque a fatia de tomate, a carne com o queijo, em cima o bacon, a cebola caramelizada, a alface e finalize com a parte de cima do pão.

O F I R

O L I V E I R A

350 ML DE TUCUPI 1/2 MAÇO DE JAMBU 80 G DE CAMARÃO SECO GRANDE 1 PIMENTA-DE-CHEIRO 1 MAÇO DE CHICÓRIA DO PARÁ 1 MAÇO DE ALFAVACA 35 G DE GOMA DE TAPIOCA SAL MODO DE FAZER: Retire a cabeça do camarão e deixe de molho na água para retirar o excesso de sal. Coloque o tucupi para cozer por 40 minutos, com sal, chicória, alfavaca. Limpe o jambu e leve ao fogo para cozinhar em água por aproximadamente 20 minutos. Leve a goma ao fogo para fazer um mingau (preparar como se prepara um mingau de maisena espesso). Sirva quente em cuias, colocando o tucupi, algumas colheres de goma, folhas de jambu e camarões. Acrescente pimenta-de-cheiro a gosto. Dica: se não encontrar jambu, pode substituir por agrião ou espinafre. E a alfavaca pode ser substituída por manjericão.

Dica: toste na frigideira as partes internas do pão antes da montagem.

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Risoto Serrano com Ragu de Ossobuco P O R

A L E X A N D R E

B A G G I O

1 LITRO DE CALDO DE LEGUMES AZEITE DE OLIVA 1/2 CEBOLA 50 G DE MANTEIGA 120 G DE ARROZ ARBÓRIO 60 ML DE VINHO BRANCO 60 G DE QUEIJO SERRANO 8 PINHÕES PARA O RAGU 2 UNIDADES DE OSSOBUCO 1 CEBOLA 1/2 CENOURA 1 RAMO DE SALSÃO 2 DENTES DE ALHO 100 ML DE VINHO BRANCO ALECRIM, TOMILHO E MANJERONA 3 TOMATES MADUROS SALSA 1 UNIDADE DE LIMÃO BERGAMOTA SAL PIMENTA A GOSTO

MODO DE FAZER O RAGU: Marine a carne com uma pitada de sal e pimenta, as ervas e a cebola, cenoura e salsão cortados em cubos. Regue com o vinho branco e reserve no refrigerador dentro de um recipiente (ou saco plástico fechado) nesta marinada por 24h. Seque bem a carne e doure de ambos os lados (de preferência em panela de ferro!). Reserve e, então, refogue os demais ingredientes da marinada. Retire a casca e sementes dos tomates, corte em cubos e refogue junto com a carne. Retorne à carne e coloque o vinho, raspando o fundo da panela com uma colher (deglacear!). Coloque um pouco das ervas, um pouco de água (ou do caldo de legumes) e cozinhe em fogo baixo até a carne ficar bem macia. Retire os ossos e desfaça a carne em lascas. Acerte o sal e a pimenta e reserve.

MODO DE FAZER O RISOTO: Leve o caldo de legumes à fervura. Corte a cebola em brunoise (bem picadinha!) e refogue em azeite de oliva com uma colher de manteiga, até ficar transparente. Refogue junto o arroz por um minuto, mexendo sempre, e coloque o vinho. Continue mexendo e vá colocando o caldo aos poucos até chegar ao ponto al dente e, então, acrescente os pinhões já cozidos e cortados em fatias. Desligue o fogo e “mantecar” (colocar o queijo ralado e o restante da manteiga, mexendo para que fique bem homogêneo e cremoso!). Sirva o risoto com o ragu no centro. Finalize com a “gremolata”*, uma telha de parmesão** e algumas folhas de rúcula ou agrião. E mangia, il risotto non aspetta!

FOTO: LETÍCIA REMIÃO

*Gremolata: pique bem o alho sem a parte central, salsinha e coloque zests (raspinhas) de limão bergamota. **Telha de parmesão: coloque queijo parmesão ralado em uma frigideira antiaderente até derreter, dourar e formar a telha. Quando resfria fica mais duro, podendo antes ser moldado no formato desejado.

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O sabor e o saber F E R N A N D O

LO K S C H I N

PIZZA. THAT’S AMORE. Tudo se relaciona a comida, a começar pela queda do Paraíso. E também a ascensão de Jesus. Às vésperas da crucificação, Joshua de Nazaré reuniu os doze apóstolos num jantar de despedida para oferecer seu sangue e carne: vinho e matzá, o pão sagrado israelita, o precursor da hóstia. Lâmina fina de cereal, o matzá lembra uma grande bolacha tostada. Sua origem é bíblica, a fuga de Moisés do cativeiro egípcio. Da falta de tempo para fermentar e de forno para assar a farinha surgiu o primeiro fast food. Nem faca e prato eram necessários, a alimentação não tolhia o movimento. Esta migração do Egito a Canaã, da obediência ao Faraó a Jeová, da escravidão à religião, é celebrada no Pessach com vinho e matzá. A Santa Ceia foi um jantar de Pessach. Nos primórdios da civilização os pães eram não fermentados, planos. Muita superfície e pouca espessura permitem o cozimento sem calor prolongado e uniforme – basta uma pedra incandescente. A rapidez de exposição mantém bolhas de vapor na farinha, o que empresta leveza e consistência. Há tantos pães laminares como povos. O Iran tem o sangak, o Egito, o baladi, a Etiópia, o injera. Come-se o bing chinês, a tortilla mexicana e o beiju, a tapioca do índio brasileiro, feito de mandioca. As tropas persas de Dario (séc. V A.C.) aqueciam seus escudos para fazer pão. Os gregos adicionaram complementos à massa no plakuntos, placa de trigo, não o acompanhamento, mas refeição completa. Daí nasceu a placenta romana – bolo de farinha, azeite, queijo e louro –, inspiração do termo placenta da qual recebemos a mais importante das dietas. A Eneida, poema latino do séc. I A.C., conta de Enéas e companheiros sentados à sombra de uma árvore, “dividindo frutas silvestres e reforçando a magra refeição com bolos de pão” – seu filho Ascanius observa: “Nós devoramos até os pratos nos quais comemos”. O autor, Virgílio, viveu em Nápoles, sul da Itália, o berço

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da camorra e da pizza. Os napolitanos criaram a pizza ao juntar o pão laminar com tomate e queijo. Imitavam os vendedores ambulantes de massa que ‘molhavam’ de tomate o vermicelli – e o nome, ‘pequeno verme’, diz das condições sanitárias da época. A pizza passou dois séculos com naturalidade napolitana: um prato regional, só ganhou cidadania italiana depois da II Guerra, quando já ‘fazia a América’. Não surpreende que a Itália, península interposta entre o Oriente e o Mediterrâneo, seja o epicentro da pizza. A pizza expressa as trocas comerciais que distinguem a história italiana desde Marco Polo, Américo Vespúcio e Cristóvão Colombo. O trigo é originário do Oriente, a oliva e o orégano são nativos da bacia mediterrânea, o tomate veio da América e a mussarela de búfala, da Ásia. O nome diz a origem grega, Neopolis, ‘cidade nova’. Debruçada no mar, Nápoles nasceu como porto, núcleo de pescadores, marinheiros e viajantes. Colônia espanhola nos séc. XVI e XVII, foi um polo importador do novo mundo, seja da sífilis, seja do tomate. Os tomates atracaram no Porto de Nápoles em 1522 vindos do Peru. Enquanto a Europa torcia o nariz para os ‘venenosos’ frutos vermelhos, o sul da Itália, beneficiado pela própria fome, abriu a boca concedendo-lhes a honrosa titulação de pomodoros, ‘pomos de ouro’. O tomate correspondeu aclimatando-se ao solo vulcânico das encostas do Vesúvio, vizinho a Nápoles. Ali brotou o San Marzano; de casca fina, polpa espessa e com poucas sementes é o re di pomodoro, coroa da vera pizza napoletana. Se a América dista um oceano, a Europa e Ásia compõem um continente, Eurásia. A Itália tem regiões afins ao sudoeste asiático em seus baixios e banhados; daí o risotto e os termos malaria (mau ar) e paludismo (pântano) – o mosquito, como o arroz, é próprio do alagado. E, como o arroz, o búfalo veio da Ásia, gado com músculos e cascos adaptados ao banhado. Trazido por normandos e árabes no séc. XIII, o búfalo se acli-


matou bem. Embora o nome Itália invoque o ‘touro’ (Gr. italos, ‘touro’), a carne não distingue a cozinha italiana, já a mussarela de búfala é um de seus fundamentos, o sine qua non da pizza. O azeite de oliva banha as costas do Mediterrâneo tal qual o mar. Acreditava-se que as raízes da oliveira dependessem do sal marinho entranhado no solo. O azeite se confunde com o passado italiano; Rômulo e Remo ainda não mamavam, e o azeite já existia. O orégano e o manjericão, os aromas da pizza, são ervas nativas da região e brotam nas várzeas e beiras de estrada. São os temperos mais abundantes e baratos. Mas a sustento da pizza está no trigo, hospedeiro insubstituível que acolhe o tomate, o azeite, o queijo e o que mais se possa ter. Se a Ásia é o arroz e a América é o milho, o trigo define a Europa. O triângulo alimentar italiano – pão, massa e pizza – na verdade é um alimento único, farinha do mesmo saco. Até a polenta era antes de trigo. O centro urbano napolitano era um amontoado de casebres junto ao cais do porto sem instalações de cozinha e banheiro. As refeições ou eram preparadas na rua ou compradas de vendedores: pizza. Alexandre Dumas (1835) descreveu a dieta dos habitantes – a quem chamou lazzari (<Lázaro, mendigo) – como melões no verão, pizza no inverno. Uma população móvel de marinheiros, mas também artistas, intelectuais e viajantes, atraídos pelo clima e beleza da baía de Nápoles, passou a gostar e divulgar a bizarra especialidade local. Ir a Nápoles e não comer pizza era como não ver o papa em Roma. Havia críticos. Samuel Morse, o inventor do telégrafo, descreveu a pizza como “pão cheirando a esgoto” (1831), e para Carlo Collodi (1885), o autor de Pinóquio, “a pizza parece retirada da lixeira, imundície afim à de seu vendedor”. A “comida típica do pobre”, seu custo era o da esmola, inclusive comprada como pizza a prazzo, a otto, coma agora e pague em oito dias. A pizza era o sustento do dia a dia, as

economias empregadas no macarrão de domingo. A pizza é antiga na região. Nápoles e vizinha a Pompéia, um tesouro arqueológico que inclui 33 fornos, alguns contendo o que assavam em 29 de agosto de 79, na erupção do Vesúvio: discos de massa. Essas massas eram vendidas em balcões com mesas ao ar livre tais as modernas pizzarias. Só não se encontraram registros de tele-entrega. A pizza ganharia glamour na visita do rei Umberto I e esposa a Nápoles em 1889. Dos três sabores preparados pelo pizzaiolo Raffaele Esposito, a rainha escolheu aquela com as cores da Itália recém-unificada, vermelho, verde e branco: tomate, manjericão e mussarela. O nome da rainha? Margherita. Até então pizza era de tomate, alho, azeite e orégano, provisão dos pescadores ao sair ao mar e preparada pela esposa do marinheiro, a Marinara. Margherita e Marinara são os sabores primordiais da pizza, os únicos garantidos pelos puristas. Após a derrota na Segunda Guerra, a pizza migrou com os napolitanos ao norte da Itália e à América do Norte. O retorno das tropas estacionadas no golfo de Nápoles – “do recruta ao general” – ajudou a difundir o gosto pela pizza. Prática, fácil, calórica, barata e prestando-se à industrialização e ao congelamento, a pizza tanto foi reinventada como reinventou o american way of life. O tripé da obesidade norte-americana se compõe de hot-dog, hambúrguer e pizza. Lá, sessenta hectares de pizza são consumidos ao dia, um bilhão de toneladas por ano, 350 porções por segundo, 46 fatias por habitante ao ano. Um quinto dos restaurantes norte-americanos são pizzarias. Foi no centro-oeste americano, zona sem imigração italiana, que surgiram as cadeias de pizza como o Pizza Hut (Kansas, 1958) e o Domino’s (Michigan, 1960). A pizza se tornou o alimento da franquia e da tele-entrega. Vale para quem come, vale para a comida, o segredo da sobrevivência é a adaptação. O mais flexível dos alimentos, a

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O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N

O MAIS FLEXÍVEL DOS ALIMENTOS, A PIZZA FOI CAPAZ DE CONSERVAR UMA IDENTIDADE APESAR DE SOFRER TODO TIPO DE MUTAÇÃO. HÁ PIZZA DE TUDO, DESDE BATATA FRITA ATÉ FOIE GRAS E CAVIAR pizza foi capaz de conservar uma identidade apesar de sofrer todo tipo de mutação. Há pizza de tudo, desde batatas fritas e hambúrguer até foie gras e caviar. Vale tudo. Originalmente escorte do penne (quem diz é o casto Dizionario De Mauro), a puttanesca também serve a pizza: tomate, anchova, pimentão, alcaparra, azeitona e alho, um ragu in modo da puttana, vulgar. A Unesco fez da pizza napolitana um patrimônio gastronômico da humanidade. Para ostentar o selo VPN, Vera Pizza Napoletana, há que honrar requisitos: a massa é preparada e moldada à mão com 35cm de diâmetro, 35mm de espessura. É assada em forno a lenha como os de Pompeia em forma de sino a 4850C por 90 segundos. O trigo é de grão duro, o azeite é extravirgem, a mussarela é de búfala e os tomates são frescos – dispostos em sentido horário, há quem insista... Não há tele-entrega ou congelamento. O ‘terminar em pizza’ veio do futebol. Jornalista nos anos 60, Milton Peruzzi noticiou uma reunião do Palmeiras (antes Palestra Itália) quando, após 14 horas de discussão, os cartolas confraternizaram numa pizzaria, com a manchete na Gazeta Esportiva: “Crise do Palmeiras termina em pizza”. A expressão passou ao cotidiano nacional no Impeachment de Fernando Collor em 1992. No depoimento em que denunciava a Operação Uruguai, a secretária Sonia de Oliveira corajosamente declarou ao Senado: “Se isto acabar em pizza, como querem alguns, acho que é o fim do Brasil”. Um amigo confidencia que um seu amor pretérito agonizou na mesa e expirou na sobremesa de uma pizzaria. O pedido da namorada – pizza de galinha seguida de pizza de chocolate – foi uma punhalada fatal no relacionamento. Para ele, a incompatibilidade de tempero prenunciava a de temperamento. O amor literalmente acabou em pizza. Como este casal, a pizza se reparte entre tradição e inovação, fidelidade e heresia. Seja o corpo e alma da pizza artesanal do aficionado, seja a mercadoria industrial feita em massa do indiferente, há pizzas para todos os gostos. A pizza é o prato da inclusão social, da cucina povera, mescla necessidade e simplicidade, vitória da criatividade sobre a carência.

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Se tantos espectadores ruminam baldes de gordura saturada, a pizza é o alimento mais bem documentado no cinema. A cena de abertura compõe o personagem: John Travolta caminhando pelo Brooklin comendo duas pizzas superpostas (double-deck) é Joe Manero, nos dias de semana um ítalo-americano anônimo, nos embalos de sábado à noite, o astro da pista de dança (1977). É também uma pizzaria do Brooklin o cenário das tensões entre ítalo e afro-americanos no Faça a Coisa Certa de Spike Lee (1989). A freguesia negra se revolta com a decoração: muitos pôsteres de Joe DiMaggio, Frank Sinatra e Rocky Marciano, sem qualquer Nelson Mandela ou Michael Jordan. Pesadelo para o nutricionista, as tartarugas Ninja são adictas à pizza. Robert Parker é demitido como entregador de pizza – nem o Homem Aranha, um Tarzan urbano, é capaz de entregar uma pizza no prazo. Julia Roberts por duas vezes contracenou com pizzas. Aos 21 anos é garçonete em Três Mulheres, Três Amores, e aos 33, em Comer, Rezar, Amar, se delicia na La Michele, uma das melhores pizzarias de Nápoles, ou seja, do mundo. Curiosamente na sem-cerimônia da entrega de pizza na entrega dos Oscars de 2014, Julia Roberts é agraciada com uma fatia e John Travolta é quem dá a gorjeta ao entregador. Como diz alguém na procura da transcendência, nem o acaso ocorre ao acaso. Mas é em Nápoles, como uma pizzaiola de calçada no clássico L’oro di Nápoles, que Sofia Loren aos 20 anos encarna magistralmente a feminilidade latina de todas as margheritas e marinaras. Para o sexagenário pseudopoeta de pizzaria, a jovem garçonete da pizzaria e a pizza são quase sinônimos, por isso chamadas de ‘brotinho’. E cantando ‘o que se diz em Nápoles, onde o amor impera’, o verso e voz de Dean Martin, nascido Dino Crocetti, condimenta a garçonete, a pizza e talvez o texto: ‘When the moon hits your eye like a big pizza pie – That’s Amore.’ FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br


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Tanzânia

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A SAVANA AFRICANA: ATÉ ONDE A VISTA ALCANÇA, UMA IMENSIDÃO DOURADA, COM OS ANIMAIS CIRCULANDO POR PERTO: ANTÍLOPES, ZEBRAS, ELEFANTES, BÚFALOS, GNUS, JAVALIS...

Chegar à Tanzânia requer alguma paciência e muita vontade. Sair da Tanzânia dá uma sensação de alma lavada. O país recebe turistas dos quatro cantos do planeta e conta com uma estrutura que muitos não imaginam existir em um país pobre do leste da África. Antes de chegar ao destino final, é preciso passar por Nairóbi, no Quênia. A chegada é caótica e às vezes exige troca de aeroporto em meio ao trânsito conturbado de uma cidade sem maiores atrativos. Normalmente é necessário pernoitar por lá, mas as opções de hospedagem são bem diversas. A grande pedida é ficar no supermoderno e estiloso hotel The Tribe, projetado pelo arquiteto iraniano Mehraz Ehsani, e parte da Design Hotels. No dia seguinte, a aventura começa. Para alguns, embarcar em um avião monomotor já é parte de adrenalina (meu caso). O voo felizmente é supertranquilo: no primeiro trecho o destino é o aeroporto de Arusha ou o de Kilimanjaro – e deslizar sobre a maior montanha da África é um presente à parte. A última etapa é o voo para um dos diversos campos de pouso com pista de terra batida, no meio da savana.

Nós desembarcamos no campo de Sakawa, que serve a reserva privada de Grumeti. É lá que ficam os lodges da rede Singita, a melhor e mais luxuosa rede de lodges em toda a África. Assim que o avião toca o solo, um sorridente Ranger dirigindo um jeep nos espera. O trajeto até o Singita Explore Mobile Tents leva pouco mais de uma hora e a viagem passa rápido. Ficamos hipnotizados pelo que vislumbramos no caminho: um casal de leões apaixonados, zebras, antílopes e gnus. Todos em meu grupo estão ansiosos e curiosos para chegar logo e conferir de perto este novo lodge da rede, conhecido até então somente por fotos na internet. Adjetivos faltam quando finalmente chegamos. Toda a equipe do local nos aguarda, começando pelo host e passando pela chef de cozinha (sim, aqui teremos uma chef de cozinha sul-africana), camareiro e finalizando com os guardas que zelarão por nossa segurança durante as duas noites. O design regular de um hotel não se aplica aqui. O lodge tem seis tendas/quartos superconfortáveis, além de uma tenda maior, com salas de jantar e de estar. A deco-

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ração é lindíssima, de muito bom gosto, com objetos escolhidos a dedo para deixar o lugar não apenas bonito como muito acolhedor. Cada tenda conta com uma varanda, um quarto lindo e confortável e com detalhes que encantam: roupa de cama feita do mais puro algodão e até um kit com aquarelas, mimo perfeito para estimular os hóspedes a pintar a paisagem, digna mesmo de um quadro. O banheiro é espaçoso, com todo o conforto de um hotel. Sim, e com água quente. Basta dizer em que momento e a que temperatura queremos tomar banho e nosso reservatório é enchido prontamente, garantindo um banho farto (limitado até 4 minutos). Aqui tudo é pensado nos mínimos detalhes para os padrões mais exigentes, desde a qualidade da bebida a disposição dos hóspedes no bar até os pratos cuidadosamente preparados pela nossa chef. O cardápio conta com saladas sempre frescas, pizzas crocantes e jantares elaborados, inclusive com camarões também fresquinhos. Tudo isso sempre acompanhado da melhor seleção de vinhos sul-africanos. A experiência de dormir duas ou mais noites neste local é um misto de aventura e total conforto. Estamos no meio da savana, mas cercados de luxo. As torneiras não são de ouro e não há ostentação, mas o visitante encontra aqui o que há de mais valioso em termos de serviço e conforto. Confesso que esta foi uma das melhores camas,

EXPERIÊNCIA ÚNICA: HOSPEDAR-SE DENTRO DA SAVANA, DORMINDO EM TENDAS SUPERCONFORTÁVEIS E MUITO BEM DECORADAS, COM SERVIÇO DE PRIMEIRA

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UM MISTO DE AVENTURA E LUXO, UMA VIAGEM SURPREENDENTE E EXCLUSIVA. O SINGITA EXPLORE MOBILE TENTS HOSPEDA NO MÁXIMO 12 PESSOAS DE CADA VEZ

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com alguns dos melhores travesseiros, edredons e lençóis em que já dormi em toda minha vida. De nossas janelas, varandas, ou ao redor da fogueira, a vista que temos é de tirar o fôlego: uma imensidão dourada que vai até onde a visão alcança, com animais sempre à vista, principalmente antílopes. Quando a noite cai, o único som é o da natureza em sua mais plena forma. Os guardas nos acompanham até as tendas, onde podemos dormir com as janelas abertas e assim sentir a brisa e os sons da savana. No meio da madrugada acordamos com algum barulho mais forte, talvez passos de um elefante ou uma zebra nos arredores, mas nada que signifique qualquer tipo de risco (muita gente deita olhando para as janelas, torcendo para que a qualquer momento seja contemplado com algum desses visitantes). Além de ser o local ideal para uma reunião familiar ou com amigos, o Singita Explore Mobile Tents fica exclusivo para o número de hóspedes daquela única reserva, seja um casal em lua de mel (com toda a infraestrutura reservada só para a dupla) ou um grupo de até 12 pessoas. O dia começa cedo e frio, com o café da manhã ao redor do fogo. Depois partimos para um safári fotográfico que dura cerca de 4 horas. Nosso Ranger parece farejar a presença de animais e logo nos deparamos com elefan-


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OS SAFÁRIS FOTOGRÁFICOS PROPORCIONAM AO HÓSPEDE VER OS ANIMAIS EM SEU HÁBITAT NATURAL, MAJESTOSOS. INESQUECÍVEL

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tes, zebras, gnus, girafas, javalis e leões. Majestosos em seu hábitat natural, os animais nos deixam sem palavras. Depois do almoço, um descanso merecido e daí seguimos para o safári da tarde, repetindo a aventura e nos surpreendendo ainda mais, para então voltarmos ao conforto de nosso inesquecível acampamento. Para quem não gosta das tendas, mesmo que com todos os luxos, tenho outra sugestão. Nossa viagem continua e passamos a terceira noite na reserva de Grumeti, mas em outro lodge, o Singita Private Houses. O lugar é quase indescritível. Uma casa no meio da savana, com decoração deslumbrante, típica de capa de revista. Duas suítes junto à casa e duas nas laterais dão ao local a sensação de privacidade e isolamento. Dentro delas, muito bom gosto, conforto e amenidades para quem não quer ficar tão longe do mundo real: internet, caixas de som para smartphones e iPods, toda a tecnologia disponível. E o passeio pela savana africana pode ainda se estender. Nós seguimos nossa jornada em direção à cratera de Ngorongoro, mas pode-se conjugar o destino com o Quênia, com a bela África do Sul ou ainda com as praias paradisíacas, pouco exploradas (e com hotéis lindíssimos) de Zanzibar. Opções não faltam!


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Feito à

mao P O R

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M U

As técnicas artesanais, legado de antigas gerações, ganham brilho novo nas mãos

de gente talentosa, que transita pela arte e pelo design, refinando o bruto e transformando-o em objetos com alma. A personalidade está no toque; tudo é feito manualmente, deixando transparecer a entrega e a dedicação do designer, artesão, artista – seja lá como for definido – que desenvolve peças exclusivas e únicas. Essa é uma indústria feita à mão, que retoma o jeito de fazer mais antigo e que prova que o artesanal não se perdeu com a evolução da tecnologia. A criação é atemporal, assim como uma obra de arte, mas o bom mesmo é que dá para usar no dia a dia.

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A FRICÇÃO É A PRIMEIRA TÉCNICA QUE O HOMEM DESENVOLVEU PARA TRABALHAR COM A LÃ

As técnicas milenares dos povos nômades da Ásia Central ganham frescor e contemporaneidade nas mãos da designer Inês Schertel, que há alguns poucos anos desenvolve objetos decorativos a partir da feltragem da lã. A época de tosa do rebanho de ovelhas criado por Inês e pelo marido, Neco, em São Francisco de Paula, na Serra do RS, causava certa inquietação na designer. “O que poderia fazer com toda essa lã?”, perguntava-se. Ela ainda não tinha descoberto o potencial do material. O insight se deu numa viagem a Milão. “Passeávamos no espaço Rossana Orlandi, que é uma mistura de loja e galeria, quando vi feltros de lã produzidos artesanalmente por povos asiáticos. A fricção, como é chamada a técnica, é a primeira maneira que o homem desenvolveu para trabalhar com a lã de que se tem registro, antes mesmo da fiação ou do tear”, revela. O processo é simples, delicado e requer paciência. É preciso molhar a lã para que ela encolha e as fibras se aglomerem. “Daí começo a dar forma para os tapetes, vasos, cestos, esculturas, almofadas e, mais recentemen-

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te, capas para banquinhos. O processo é mágico”, encanta-se. Antes disso, a lã tosquiada nos meses que antecedem o verão – por uma questão de saúde dos animais – é lavada, penteada e, se Inês quiser, tingida. Depois, o material fica secando ao sol e ao vento. O atelier de Inês tem uma vista deslumbrante para o campo. Numa grande mesa ela coloca (de verdade) a mão na massa e vai moldando o que tiver em mente. “Quando a lã está muito molhada, ela lembra um papier maché. E, muitas vezes, algo que imaginei vai tomando rumo próprio. É isso que surpreende”, diz. Arquiteta de formação, Inês sempre teve as artes por perto. Depois de 25 anos morando em São Paulo, onde trabalhou boa parte do tempo com desenvolvimento de cenários, decidiu pegar as malas e, em 2014, mudou-se de vez com o marido para a propriedade. O casal, com a ajuda de dois funcionários, envolve-se com tudo que exige a produção das ovelhas e curte cada uma das etapas. “É uma mudança de estilo de vida”, reconhece.

FOTOS: PEDRO REVILLION

Toque de mágica


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FOTOS: FABIO DEL RE E GUSTAVO FARACO/AMAGO IMAGES

Mais do que um verão

A essência do surfe está na conexão: homem e natureza; adrenalina e contemplação. E é o que dá sentido ao trabalho de Henrique Perrone, o Ogro, que leva tudo isso para a produção de pranchas, agregando, ainda, a arte e as técnicas de marcenaria. Tudo feito à mão. Suas criações passam longe do “descartável”: as pranchas, produzidas artesanalmente, não são feitas para apenas um verão. “Procuro fazer pranchas que durem como as antigas. Sei que isso vai contra uma ‘lei de mercado’ que prega que no ano seguinte será preciso trocar por uma nova. Acho que temos que estabelecer uma relação mais longa com as coisas, usufruir delas em diferentes fases de nossas vidas. Até porque levamos um ensinamento de cada uma delas”, reflete. Depois de uma temporada na Austrália e na Nova Zelândia, quando começou uma coleção de pranchas antigas que acabaram destruídas com o uso, decidiu que queria replicá-las. E ninguém fazia isso em terras tupiniquins. “Fiz um curso de marcenaria e outro para aprender a ‘shapear’ uma prancha. A partir disso, apliquei os conhecimentos para replicar modelos de pranchas antigas usadas nos anos de 1960, 1970 e 1980”, revela. A prancha é pensada para quem irá usá-la. “Não é toda pessoa que procura uma prancha de performance. Às vezes, ela só quer um simples deslizar”, afirma. O bloco de poliuretano – que é um “primo” do isopor, só que mais denso – recebe o traços que determinam seu formato, a partir de alguns moldes já prontos. Depois, o corte é feito com serrote e o material passa pela plaina elétrica até que fique com a espessura e o tamanho desejados. São feitos o acabamento com lixas, a marcação da posição das quilhas, a assinatura e, finalmente, é enviada para pintura ou laminação e acabamento final. “Eu toco no material e existe uma troca com aquilo que estou desenvolvendo. Meu sentimento está ali. Gosto de acompanhar todo o processo e apreciar os detalhes. A prancha tem que estar perfeita para que a pessoa sinta o prazer que tive em fazê-la”, garante. A arte das pranchas assinadas pela Ogro Surfboards está no processo. “Eu me sinto como um escultor: pego um bloco bruto de poliuretano e crio algo que para uma pessoa vai resultar em momentos inesquecíveis, que farão um bem enorme na qualidade de vida dela. O trabalho artesanal é como escrever uma carta à mão; a máquina de shape é mandar um e-mail.”

“TEMOS QUE ESTABELECER UMA RELAÇÃO MAIS LONGA COM AS COISAS, USUFRUIR DELAS EM DIFERENTES FASES DE NOSSAS VIDAS”

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Laços de afeto

AS TÉCNICAS ARTESANAIS DE TRICÔ E CROCHÊ GANHAM NOVAS LEITURAS E APLICAÇÕES EM MATERIAIS INUSITADOS, COMO SOBRAS DE TECIDOS E CORDAS DE NAVIO

FOTOS: MARCELO DONADUSSI E MARIANA CHAMA

Nicole Tomazi é arquiteta, mas descobriu no artesanato um novo caminho, que, aliás, sempre esteve muito perto. “Minha afinidade com o trabalho artesanal não é de hoje. Nasci e cresci no interior. Aprendi muito do que sei com a minha avó. Tínhamos uma ligação muito forte e os laços de amor transformavam-se em laços de tricô e crochê.” Os objetos assinados por sua marca, a Oferenda, trazem novas leituras para as técnicas artesanais, aplicadas em materiais diversos, como resíduos da indústria têxtil e até cordas de navio. A busca é a experimentação. “Eu saio do comum e coloco fios muito mais grossos que os usuais, chapa metálica para bordar, agulhas de tricô feitas de cabo de vassoura. Isso é transpor o preestabelecido para criar algo novo.” Em seu processo criativo, Nicole prevê o que quer fazer e, a partir daí, escolhe a técnica mais indicada para chegar na textura desejada, seja para mobiliário ou para objetos decorativos. E tudo é bem pensado e estudado. Por isso, demora. “O processo de produção é lento. Acredito no movimento slow que já toma conta do mundo. Uma peça handmade deve ser feita devagar, com tempo suficiente para que seja bem executada. E isso varia para cada produto”, conta. O trabalho de Nicole faz um resgate da conexão entre as pessoas. “O objeto feito à mão tem um pouco de quem o fez, uma dedicação daquela pessoa que entregou suas mãos para aquele objeto”, comenta. Mas no trabalho da designer o envolvimento das pessoas é ainda maior. Nicole desenvolve os produtos e faz a “autoprodução”, que é o acompanhamento das peças e sua comercialização. “Faço protótipos para viabilizar as técnicas. Toda a produção artesanal é feita por um grupo de mulheres da região metropolitana de Porto Alegre em situação de vulnerabilidade. Assim, é possível criar núcleos produtivos e gerar trabalho para quem precisa”, explica.

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Equilíbrio C H E R R I N E

C A R D O S O

VIRAMOS JUSTICEIROS?

FORMADA EM JORNALISMO PELA UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI, FEZ ESPECIALIZAÇÃO EM PUBLICIDADE & PROPAGANDA E MARKETING. HOJE ATUA COMO INSTRUTORA DE ALTA PERFORMANCE DO MÉTODO DEROSE EM PELOTAS, DIFUNDINDO UMA PROPOSTA DE LIFE STYLE COACHING, UM JEITO DIFERENTE DE SE CUIDAR E DE VIVER. ACESSE WWW.METODODEROSEPELOTAS.COM

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Há tempo que evito assistir a telejornais ou ler impressos com o objetivo de me informar, pois só o que eu vejo por aí são desgraças. Evito me contagiar com as notícias de tanta coisa ruim que vejo acontecendo no nosso mundinho de “seres conscientes”. Até porque, sendo uma educadora, prefiro me focar no que ainda temos de bom para uma mudança positiva, individual e coletiva. Mas, infelizmente, acabo travando contato com notícias que me assustam! Toda vez que ouço os comentários de situações como as que foram reportadas nesses últimos meses pelo Brasil afora, sobre pessoas fazendo justiça com as próprias mãos, eu me pergunto: será que nosso caminho para frente é na direção de uma evolução? Não sei, me parece que o ser humano está regredindo. Entender por que há milhares de anos a espécie humana agia como agia, diante de uma cultura mais bárbara, acho que é compreensível. Havia menos regras, menos leis, menos valores mesmo. Era a imposição do mais forte. O mal, ou não, era cortado pela raiz. Mas, ora bolas, nós evoluímos! Por mais descrentes e cansados que estejamos, diante de tanta barbárie, de tanta criminalidade, de tanta gente que trabalha e acaba sendo vítima da falta de uma estrutura rígida e funcional neste país em que estamos, nós não podemos matar alguém com a justificativa de que este matou. O mesmo vale para roubos, agressões e até mesmo julgamentos. Sabemos que a educação é a base de tudo. A educação que recebemos em casa, que recebemos na escola, que recebemos de nossos pais. O Brasil sofre um pouco neste sentido. Temos pessoas que vivem em situações tão precárias que pedir para esta camada da população demonstrações de valores e respeito é quase hipocrisia. No entanto, mesmo dentro desta partícula da sociedade há os que se esforçam para ser e fazer diferente! Não podemos nos deixar levar pela ira, pelo ódio. Esses são sentimentos que não constroem. Você ter raiva de ver e ouvir casos como os dos assaltantes amarrados a postes, espancados como forma de puni-los por suas atitudes, é compreensível. Até o mais pacífico dos homens tende a sentir raiva. No entanto, este sentimento nos impulsiona e nos motiva a promover mudanças. O ódio, não! Este apenas nos leva a atitudes impensadas, das quais nos arrependeremos depois. O que eu desejo então? Que consigamos ser mais tolerantes e civilizados. Que tenhamos mais força para gritar por justiça do que para fechar as mãos em punho. Que possamos conduzir os mais novos a exemplos mais civilizados, para que possam no futuro contribuir com essa mudança. Que respeitemos o ser vivo, seja ele na forma de pessoas ou de animais. Que nos esforcemos para deixar de lado aquela malandragem e o jeitinho de querer conseguir as coisas sem esforço. E que trabalhemos mais para sentir prazer em nossas conquistas. Que quando formos expor nossos pensamentos e opiniões consigamos falar com carinho e não gritando, para mantermos a proximidade do coração. Que possamos ser verdadeiros exemplos de boas relações humanas, bons hábitos, boa alimentação, a fim de deixar para as gerações futuras um bom legado. E que sejamos mais humanos! Já terá sido uma evolução e tanto.



Sustentabilidade

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Vida que brota

do lixo P O R

F L AV I A

M U

DESENHANDO UM FUTURO MAIS VERDE O Sprout é uma criação de – na época – estudantes de design de produto do Massachusetts Institute of Technology: um

O mundo dá sinais de que do jeito que está não dá para

lápis que quando fica curtinho

ficar. A palavra “sustentabilidade” nunca esteve tão pre-

pode ser plantado na terra. E

sente nas rodas de conversas, propagandas e manifes-

dali podem nascer hortaliças,

tações sociais. Muito além dos modismos, esse pode ser

ervas para chá e temperos. A cápsula que guarda a semente

um caminho para o consumo ou uma solução para os pro-

dissolve-se em água. Então,

blemas que surgiram com o tempo. Já parou para pensar

é preciso regar para que ela

que o Brasil produz 228,4 mil toneladas de lixo por dia?

permita a germinação. A ver-

E o que fazer com tudo isso? A criatividade está aí para

são brasileira é o “Lápis Se-

mostrar que aquilo que só aumentaria ainda mais esse número – responsável por ruas alagadas, desabamentos, poluição – pode gerar vida nova.

mente”, assinado pela SP Ecologia, que funciona da mesma maneira.


Sustentabilidade

PAPEL QUE VIRA FLOR

NOVA VIDA PARA PALITINHOS DE SUSHI Quantos palitinhos de madeira, utilizados pelos orientais na hora da

É um papel produzido ar-

refeição, devem ir para o lixo diariamente? Afinal, o número de chi-

tesanalmente pela empresa

neses, japoneses e coreanos no mundo é bem impressionante. Pen-

Papel Semente, de Niterói/RJ,

sando nisso, o designer sul-coreano Gyeongwan Koo inventou hashis

com matéria-prima reciclada

sustentáveis: um dos palitos tem uma cápsula de amido com uma

e biodegradável que, duran-

sementinha que começa a germinar quando cravada na terra. O outro

te o processo de fabricação,

palito pode dar uma forcinha e ser colocado ao lado para que a planta

recebe sementes de flores,

tenha um suporte para crescer.

verduras e hortaliças em sua composição. Assim, em vez de jogar fora aquele envelope, convite, cartão de visita ou embalagem, é só rasgar o papel em pedacinhos, colocar num vasinho com pouca terra e esperar uns dez dias para que uma vida nova e colorida apareça ali.



Ser & Vestir R O B E R TA

G E R H A R D T

APOSTE NO VISUAL COM CARA ANTIGUINHA, O RETRÔ A tendência do momento para a moda masculina é o que chamo de um visual vintage. Explico: está valendo construir looks com uma cara antiguinha, aquele tipo de visual que parece que você roubou o paletó do seu avô ou andou fazendo comprinhas em algum brechó de bom gosto europeu. Dentre as peças do momento, o paletó de veludo anda sendo considerado “a” peça masculina da estação. Em cores sóbrias e num veludo cristal, sem ser o cotelê; ele acompanha muito bem uma camisa tradicional ou mesmo um tricô de gola alta e uma calça de alfaiataria de lã. O visual fica quentinho e com o ar retrô que referi antes. O terno ou o costume nunca sai de moda! É um clássico do guarda-roupa masculino, mas sempre apresenta alguns toques de estilo que sinalizam atualidade ou não. A tendência é a gravata mais fininha. E para aqueles que podem deixar a gravata em casa, aposte em camisas com colarinho mais estruturado e abuse de um lenço no bolso para dar um charme especial. Nos pés, seguindo a linha esporte chic, é perfeitamente possível você combinar o seu costume escuro, com uma camisa e gravata clara e um sapatênis de tom sóbrio e material nobre; como, por exemplo, o couro phyton. Estas mélanges de estilo, quando as peças têm qualidades indiscutíveis, deixam o homem numa elegância ímpar. Aposte!

TENHA CUIDADO: PARA O VISUAL FICAR MODERNO, NADA DE

DEIXAM O VISUAL ATUAL E ARROJADO. PARA SOFISTICAR, OS

CONSTRUIR O LOOK TODO NO MESMO ESTILO RETRÔ. O CHAR-

ACESSÓRIOS DEVEM SER EM AÇO E COURO MARROM-ESCURO.

ME É MISTURAR NO MESMO LOOK PEÇAS ANTIGUINHAS COM OUTRAS DE MATERIAL E ESTILO ULTRAMODERNO. EXEMPLO: JEANS COM VELUDO E SEDA.

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Estilo Zaffari

O ESTILO MILITAR VOLTOU COM TUDO. PORÉM, SE ANTES O CHARME ERA COMBINÁ-LOS COM JEANS, AGORA, O BACANA É QUEBRAR A SOBRIEDADE DA ALFAITARIA E MISTURÁ-LOS.

O CINZA ANDA SENDO A COR PREFERIDA PARA OS MELHORES

EXEMPLO: UMA CALÇA SUPERTRADICIONAL E BEM-CORTADA

LOOKS DESTE INVERNO. ELE FICA ÓTIMO EM COSTUMES E

ACOMPANHA UM CASACO ACINTURADO DE ESTAMPA MILITAR

CASACOS PESADOS. MAS SAIA DO ÓBVIO E APOSTE EM COM-

PARA UM CASUAL DAY. EXPERIMENTE. INOVE. REJUVENESÇA

BINAÇÕES DE CINZA COM OUTROS TONS: BERINJELA E LARANJA

SEM PERDER A ELEGÂNCIA!


TÊNIS, NOVO OBJETO DE DESEJO DAS FASHIONISTAS Todo mundo adora um conforto, e o estilo esportivo é atualmente “A” tendência. Talvez motivada pelo clima de Copa do Mundo, esta onda esporte invadiu os mais diferentes momentos do guarda-roupa. A inspiração está no recorte das peças, nos tecidos... Mas é o tênis, sem dúvida, a peça-chave deste visual. Sim! O tênis é essencial e virou objeto de desejo dos fashionistas. Ele saiu das academias e pistas de corridas para inspirar mulheres modernérrimas no trabalho, no shopping, no supermercado, no almoço com amigas e até mesmo num jantar descontraído, por que não? Tênis à noite? Pode sim! Mas desde que se sigam alguns códigos. Vou trazer minhas dicas para você entrar numa onda esporte-chic. Primeiro de tudo: nada de querer combinar o tênis que você usa para a prática de atividade física. Não! Não pode ser um tênis de solado grosso e muito menos cheio de cores extravagantes. Mesmo que em muitas passarelas internacionais tal ideia tenha sido sugerida, nunca siga a moda sem antes fazer um filtro... O tênis ideal é feito de couro nobre, detalhes discretos, cadarços de tons escuros, solado baixo e formato anguloso, pontudinho. Estes que acolhem os pés com delicadeza. Podem ter cor, desde que fiquem na paleta dos tons primários para criar um efeito retrô. Nada de cítricos! Segunda dica importante: calce seu tênis sempre e sempre acompanhado de peças de alfaitaria – um paletó ou camisa com colarinho e punhos proeminentes ou uma calça do terninho bem-cortado que você tem. Isso é obrigatório para que o visual fique adequado aos ambientes. Mas não pare por aí: misture no look algo arrojado, como um tricô metalizado ou pashimina de tom vibrante ou, ainda, algo em jeans. É fundamental construir o look com esta mistura para que a linguagem visual se harmonize. Pronto! Você está com o look perfeito!

QUEM QUER PARECER MAIS ALTA E MAGRA SEMPRE DEVE OPTAR PELO TÊNIS DA MESMA COR DA CALÇA. EVITE USAR TÊNIS COM SAIAS SOCIAIS. CALÇA SKINNY COM TÊNIS? SÓ PARA QUEM NÃO TEM QUADRIL LARGO E O MODELO DEVE SER BEM DISCRETO, NADA DE TÊNIS COLORIDO E COM VOLUME. PARA QUEM TRABALHA EM AMBIENTES FORMAIS O TÊNIS

ROBERTA GERHARDT É CONSULTORA DE MODA, ESTILO E COMPORTAMENTO robertagerhardt@terra.com.br

SÓ PODE NA SEXTA-FEIRA E SEMPRE COM TERNINHO. JAMAIS JEANS COM TÊNIS NESTES CASOS, OK? Estilo Zaffari

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Lugar


The Breakers

Palm Beach Um achado entre Miami e Orlando T E X TO S

E

F OTO S

P O R

A L E X A N D R A

A R A N OV I C H

Entre Miami e Orlando, dois destinos internacionais preferidos por brasileiros, encontra-se um refúgio cenográfico e icônico. Fundado em 1896, o The Breakers Palm Beach é muito mais do que um resort de luxo. É lendário. Lugar para perder o fôlego. Admito, é difícil não se deslumbrar. Foram apenas dois dias comemorando uma data importante de aniversário em família no The Breakers. Trocamos uma grande festa por uma viagem que teve o seu ápice nessas intensas 48 horas que valeram cada milésimo de segundo. Preciso declarar que a descoberta desse paraíso ao sol não foi minha. Indicação de um amigo, Marcelo Ferreira. Graças a sua descrição apaixonante, resolvi incluir West Palm Beach em nosso roteiro. Mil vezes obrigada, Marcelo.

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Lugar A ELEGÂNCIA DE PALM BEACH De Orlando até West Palm Beach, pela estrada Florida Turnpike, são 240 km. Para quem vem de Miami, são apenas 110 km. Já tinha ouvido comentários de que a praia de Palm Beach é famosa por suas mansões milionárias e pelas boutiques chiques da Worth Avenue, apelidada de “Rodeo Drive da Cost Leste americana”. A avenida reúne grifes, jardins tropicais e galerias abertas com opções charmosas para almoço ao ar livre. Palm Beach já foi eleita como a melhor cidade para se morar em todos os Estados Unidos. Conhecida, também, por ser um dos destinos favoritos dos golfistas em solo americano. Recentemente, para a alegria dos brasileiros que sonham com as compras nos States, a inauguração do imenso Palm Beach Outlet colocou a cidade na rota dos outlets.

PARTE DA ARQUITETURA É INSPIRADA NAS ANTIGAS VILAS ITALIANAS. ALÉM DA DECORAÇÃO E DAS MORDOMIAS, A GASTRONOMIA TAMBÉM SUPERA TODAS AS EXPECTATIVAS

PALM BEACH NASCEU COM O THE BREAKERS Se por um lado eu sabia da vocação glamourosa de Palm Beach, por outro não tinha ideia de que por lá havia um dos resorts à beira-mar mais exclusivos dos Estados Unidos: The Breakers Palm Beach. Um verdadeiro “palácio” renascentista que atrai não só hóspedes do mundo inteiro em busca de uma experiência única como também turistas curiosos que o visitam percorrendo seus restaurantes, lobby, salões, jardins, fontes e vistas fenomenais. O The Breakers se confunde com a história da Flórida e de seu idealizador, Henry Flagler (1830 a 1913). Magnata do petróleo e ferrovias, Mr. Flagler ficou conhecido como “pai de Miami” e fundador de Palm Beach, onde construiu o The Breakers. A cidade foi criada por esse visionário para ser um centro de lazer dos ricaços. E já no início do século 20 o hotel recebia presenças ilustres para as férias. Parte desses acontecimentos ímpares estão registrados em fotos e notícias históricas nas paredes do resort, assim como dois fatos marcantes: os incêndios que destruíram o The Breakers nos anos de 1903 e 1925. Em ambos os acidentes, a estrutura foi reconstruída de forma impecável. Porém, foi o segundo incêndio que impulsionou a reconstrução no estilo renascentista e na forma e conjunto arquitetônico que o hotel preserva atualmente com as duas torres. Tapeçarias, jardins, chafariz e obras de arte, enfim, todos os detalhes foram inspirados nas antigas vilas italianas. O foco constante em renovação fez com que o hotel, listado no Registro Nacional de Locais Históricos dos Estados Unidos, preservasse a sofisticação e o charme inabalável. Só nos últimos dez anos foram investidos mais de 250 milhões de dólares em sua estrutura. Até hoje, a propriedade segue sob o comando da família de Henry Flagler. UMA JANELA SOBRE AS ONDAS DO OCEANO Nossa chegada no The Breakers aconteceu ao entardecer. Já no lobby ficamos todos de boca aberta com ta-

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Lugar

NOSSO QUARTO ESTAVA TÃO PRÓXIMO DA ORLA QUE ERA POSSÍVEL SENTIR A FORÇA DAS ONDAS SOBRE AS PEDRAS. COM CERTEZA, O QUARTO COM VISTA PARA O MAR VALE O INVESTIMENTO

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manha imponência. Entretanto, o impacto foi ainda maior quando entramos no quarto (da categoria “oceanfront suite”) com duas camas de casal e, ao fundo, amplas janelas em vidro que se abriam para uma sacada de cortinas esvoaçantes e uma vista mirando o infinito oceano. Estávamos tão próximos da orla que era possível sentir a força da ondas sobre as pedras. A INTENSA PROGRAMAÇÃO À BEIRA-MAR Tivemos a sorte de acordar com o sol “nos abanando” pela janela e fazendo um convite irrecusável para celebrar a vida. E foi o que fizemos. O The Breakers tem uma praia exclusiva com nada menos do que cinco piscinas (uma para cada perfil de público), incluindo uma olímpica, e jacuzzis coladinhas na areia. Para os que valorizam privacidade, o Clube de Praia do The Breackers aluga bangalôs confortáveis e equipados com geladeira, televisão, banheiro, entre outras mordomias. Um luxo. Já para a turma que curte um agito ou aventura, uma tenda na praia oferece aulas de mergulho e snorkel e caiaques. Há ainda o fitness, as massagens e terapias exclusivíssimas do Spa, um playgrond externo e uma área de lazer kids com cinema e recreacionistas. Para os esportistas, canchas de tênis, trilhas, bicicletas e os célebres campos de golf com ares aristocráticos que cercam os 60 hectares da propriedade do hotel. Sentiu falta de umas comprinhas? No Coconut


Crew Shop encontramos souvenirs, grifes badaladas e até um coffee shop. Aliás, uma das dicas mais preciosas é pegar um café por lá ao entardecer e se jogar em uma das poltronas do jardim cenográfico sobre um gramado de tapete florido. O paisagismo é de arrepiar. A IMPRESSIONANTE CENA GASTRONÔMICA Afora a arquitetura, as mordomias e a paisagem, a gastronomia também supera expectativas. Cada restaurante (são nove!) ou bar é um cenário particular dentro do The Breakers. O cardápio é variado, da culinária asiática à italiana. Um dos hot spots do momento de Palm Beach está localizado dentro do The Breakers e foi inaugurado há pouco mais de um ano: o HMF, que transporta os visitantes para o glamour dos anos dourados da década de 50 através da sua decoração, ambientação sonora, figurino dos atendentes e coquetéis. Quem assina o conceito do HMF é o famoso designer Adam D. Tihany, queridinho entre chefs renomados como Daniel Boulud e Jean-Georges Vongerichten. Hóspede ou não hóspede, é imprescindível tomar algo por lá e tirar uma foto da enorme adega de vidro que faz parte da coleção de vinhos do resort e que é destaque anualmente em revistas especializada como a Wine Spectator. Nosso primeiro jantar foi em um dos restaurantes mais

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UMA PRAIA EXCLUSIVA COM NADA MENOS DO QUE CINCO PISCINAS – UMA PARA CADA PERFIL DE PÚBLICO –, INCLUINDO UMA OLÍMPICA E VÁRIAS JACUZZIS COLADINHAS NA AREIA 112

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12 PROGRAMAS PARA CURTIR O THE BREAKERS EM ALTO ESTILO Um café da manhã ou um brunch no The Circle. Um drinque à noite na atmosfera contagiante do hot spot HMF. Um bom vinho, carnes de primeira e a vista do campo de golfe da varanda do restaurante The Flaglers Steakhouse. Alugar o “bangalô 25” – o “camarote” com vista mais espetacular do Clube de Praia. Admirar o show de luzes à noite na fonte da piscina. Participar do tour guiado de bike do hotel (que é gratuito, você só aluga as bicicletas) e aprender um pouco sobre a história de Palm Beach.

despojados e que conta com uma superfacilidade para quem viaja em família: está localizado ao lado do espaço kids (o Family Entertainment Center). O menu é italiano, com massas, carnes, pizzas e saladas fantásticas. Para uma experiência clássica e sem igual, reserve uma mesa no elegante The Flaglers Steakhouse, o restaurante dentro do Clube de Golf do The Breakers. Foi, a refeição mais notável de toda a viagem, e talvez a carne mais saborosa que já experimentei: uma “USDA prime steaks” preparada num forno a 330 graus de temperatura. Durante o almoço, visitamos o prático Ocean Grill ao lado da piscina e fomos dar uma conferida no Seafood Bar, que tem um balcão sensacional de aquário e uma vista linda do oceano. O café da manhã também faz parte da cena gastronômica. O banquete do amanhecer é servido em dois ambientes diferenciados: ao ar livre e no suntuoso salão The Circle, com teto oval alto em afrescos que retratam paisagens renascentistas, como a Villa Médici e os famosos Jardins Tivoli. O MUNDO À PARTE DO THE BREAKERS Resumir a experiência no The Breakers é tarefa difícil. Mas o slogan do resort consegue essa façanha com louvor: “Once you Stay, You’ll Understand”. Em uma tradução livre: “Só mesmo estando lá para viver e entender o que significa esse mundo à parte”. Um achado entre Miami e Orlando. O empenho por manter as cinco estrelas do hotel brilhando com certeza já as transformou em cinco valiosos diamantes.

Pegar um café com croissant no The Breakers News & Gourmet e contemplar o paisagismo fora de série. Investir no quarto com vista para o oceano. Deixar as crianças se divertindo no espaço de lazer kids. Fazer um tour pelos afrescos do hotel (lobby, HMF e The Circle) Uma massagem ou tratamento no Spa. Um mergulho no mar e, quem sabe, uma aula de snorkel para descobrir também o tesouro do The Breakers no fundo do oceano!

THE BREAKERS PALM BEACH

One South County Road Palm Beach – Flórida Reservas: 888 273.2537 reservations@thebreakersreservations.com www.thebreakers.com

QUANTO CUSTA?

As diárias no The Breakers variam conforme a época do ano e a localização dos quartos. Na baixa temporada, de maio a setembro, os preços iniciam em US$ 350 e podem incluir alguns mimos como café da manhã, refeições, entre outros. Já na alta temporada, os valores partem de US$ 600.

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Palavra LU Í S

AU G U S TO

F I S C H E R

MACHADO DE ASSIS ADAPTADO

Esses tempos voltou ao centro das atenções o tema das adaptações de clássicos. O motivo foi o projeto de uma produtora paulista, que atualizou o vocabulário de um clássico de Machado de Assis, a novela O Alienista, de 1882. A história original, que se passa logo antes da Independência do Brasil, é uma joia: um médico de carreira acadêmica promissora em Portugal resolve retornar ao Brasil. Aqui, o médico (Simão Bacamarte) resolve estudar a loucura. A história é narrada com ironia, o que nos deixa sempre desconfiados da piada que vem vindo. Simão constrói um vasto hospício para internar os malucos tradicionais – aqueles com delírio de grandeza, os que andam na rua sem rumo, etc. Em seguida ele avança na pesquisa e inventa uma definição para a doença mental: louco seria o sujeito com qualquer desequilíbrio em suas faculdades mentais. O resultado da aplicação deste critério causa uma comoção imensa. Porque, claro, o número dos que têm qualquer desequilíbrio é imenso. Bacamarte começa a encarcerar até gente tida como saudável, apenas porque, por exemplo, um cara gosta demais de dinheiro, ou porque elogia demasiadamente o próprio médico. Resultado: o hospício, lá pelas tantas, abriga a maioria da população. Há uma revolta popular, comandada pelo barbeiro da pequena cidade. Grupos de insatisfeitos marcham pelas ruas, até alcançar a casa do médico. Querem justiça! Mas Simão logo passa a conversa nos insatisfeitos. De mais a mais, ele mesmo estava se dando conta de que a maioria não podia ser louca, porque a loucura é sempre a exceção; e essa convicção o leva a inverter o critério para internação: agora, serão presos todos os que forem perfeitamente equilibrados. A esta altura o leitor está rindo por dentro, claro, porque uma coisa como essa não tem cabimento. Mas tem sim: Machado está, com certa sutileza mas grande força, ironizando o poder da ciência, de vez em quando se converte em poder absoluto.

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Tendo prendido os totalmente equilibrados, Simão continua a tratá-los, com um remédio eficaz. Se o cara era, por exemplo, um exemplo de funcionário incorruptível, Simão mostra que o cara é subornável. Se era um modesto que nunca aceitava elogios, o médico demonstra que ele pode sim sucumbir a uma badalação. E assim todos são libertados, porque nenhum dos equilibrados é verdadeiramente equilibrado, e sim um desequilibrado, portanto uma pessoa saudável. A história nos deixa com um sabor de já ter certa intimidade com gente como este Simão Bacamarte. Não é? Arbitrariedade, autoritarismo, engambelação dos poderosos sobre os incautos, tudo isso é tão a cara do Brasil e de outros países da América... Ah, sim: e tem o problema da adaptação. Será o caso de precisar simplificar o vocabulário, de mudar alguma frase para torná-la mais clara? Minha resposta tende a ser sim. Claro que eu preferiria que todo mundo lesse os textos originais, de preferência nas línguas originais. Mas isso é uma utopia sem sentido, especialmente para quem não tem experiência boa de leitura – e são legiões de brasileiros a quem nunca oferecemos escola decente, nem bibliotecas públicas bem-equipadas, nem renda para ter vida cultural rica. Para leitores inexperientes, de pouca cultura letrada, de escassa ligação familiar ou grupal nas artes mais exigentes, creio que as adaptações são uma excelente maneira de oferecer caminhos de acesso. Podem ser adaptações para outras linguagens (quadrinhos, por exemplo) ou para modalidades simplificadas de linguagem escrita. Precisa apenas é dizer claramente que se trata de uma simplificação e convidar o novo leitor a avançar em sua nova trilha, para, quem sabe, ali adiante jogar-se sem medo na leitura dos originais. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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