Ano 12 N0 78 R$ 7,90
safra
Vamos cozinhar respeitando os ciclos da natureza e aproveitar a exuberância de cada alimento?
VIAGEM
AS INCRÍVEIS PAISAGENS DO ALASCA
CASA
A MEMORABILIA QUE TRAZ ALMA À DECORAÇÃO
Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br
EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Vera Moreira, Flavia Mu, Loraine Luz, Milene Leal, Beto Conte, Dóris Fialcoff, Luiza Estima
REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Marcelo Donadussi, Beto Conte, TriLeal Trip Photos, Denison Fagundes, Cris Berger COLUNISTAS Cris Berger, Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Luiza Estima Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Roberta Coltro, Tetê Pacheco EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.
TIRAGEM 20.000 exemplares Ano 12 N0 78 R$ 7,90
IMPRESSÃO Gráfica Pallotti ArtLaser
ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 675, cj. 301 Porto Alegre I RS I Brasil I 90440 000 51 3395.2515
safra
Vamos cozinhar respeitando os ciclos da natureza e aproveitar a exuberância de cada alimento?
VIAGEM
AS INCRÍVEIS PAISAGENS DO ALASCA
CASA
A MEMORABILIA QUE TRAZ ALMA À DECORAÇÃO
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FOTO: LETÍCIA REMIÃO
23/03/2017 23:33:39
N OTA
D O
E D I TO R
OS CICLOS DA VIDA
A primeira Estilo Zaffari de 2017 vem cheia de frescor, de cor, de ideias e de sabores, como de praxe sempre acontece em nossas páginas. Mas ao iniciar um novo ciclo paramos para refletir sobre o conceito de recomeço, ou seja, de princípio e fim, velho e novo, vida e morte. Um conceito fundamental a todas as áreas da existência. Dirigimos nosso foco básico para o universo da alimentação, assunto sobre o qual diariamente nos debruçamos com muita curiosidade e avidez. Com sua peculiar sensibilidade, a jornalista Vera Moreira escreveu sobre os ciclos da vida para nos mostrar que consumir alimentos da safra é uma atitude simples que só produz vantagens: sustentabilidade, economia, sintonia com a natureza e seus movimentos, criatividade à mesa. Flavia Mu, outra jornalista que costuma escrever com a alma, aborda os ciclos da vida na reportagem “Memorabilia”, em que várias pessoas mostram aos leitores da Estilo Zaffari objetos que fazem parte de sua história, de momentos do passado que todos mantêm presentes no dia a dia como parte da decoração da casa, reavivando doces memórias. Beto Conte, intrépido viajante, nos leva para uma viagem pelo Alasca, terra que infalivelmente nos remete à noção de fim e começo e aos inexoráveis movimentos da natureza. Há muito carinho em todas essas reportagens e em todas as páginas desta revista. E há também a certeza de que começos e fins são lindas e indissociáveis partes da vida. Boa leitura! OS EDITORES
Cesta Básica
8
Coluna Humanas Criaturas
26
Coluna Vida
46
Coluna Equilíbrio
64
Coluna Sampa
66
O Sabor e o Saber
78
Viagem: Alasca
82
Moda
92
Mulheres que Amamos
94
Coluna Palavra
98
MEMORABILIA: OBJETOS QUE CONTAM HISTÓRIAS
68
SABORES DA SAFRA:
3 MIAMIS: GASTRONOMIA
O ALIMENTO
E HOTELARIA NO SUL,
EM SEU APOGEU
DOWNTOWN E NORTE
28
48
PRALÁ & PRACÁ: DICAS DE LUIZA ESTIMA
22
Cesta básica
NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO! T E X TO S
P O R F OTO S
LO R A I N E
LU Z
D I V U LG A Ç Ã O
CAFTÃS ÚNICOS
Com singularidade, elegância, conforto, cuidado artesanal e resultado exclusivo. É assim que a designer Cintia Gonçalves chega ao mercado da moda. Ela lança sua marca apresentando uma linha autoral de caftãs de seda pura, com estampas únicas. A fotografia é uma das ferramentas de trabalho no atelier que Cintia mantém em sua casa, no coração do Centro Histórico de Porto Alegre. Ali, ela extrai de seus cliques despretensiosos os elementos para reproduzir na seda. A foto vira abstração, e a abstração vira estampa. O resultado são peças atemporais e deliciosas de usar. Neste ano, além de lançar sua marca, Cintia participa do Projeto Identidade do Instituto By Brasil, criado por grandes nomes como o de Walter Rodrigues, para desenvolver e fortalecer a cara da moda brasileira. A escolha pelos caftãs veio em 2012, quando viajava pela Indonésia. Lá entendeu o que desejava fazer de sua vida: vestir pessoas de forma elegante, confortável e com exclusividade. No Marrocos, pôde viver um pouco mais da cultura em que os caftãs estão inseridos. Com origem na Mesopotâmia antiga e usada por muitos grupos étnicos do Oriente Médio, a peça é símbolo da realeza. Desde então, cursos e pesquisas para a execução de estampas inusitadas, modelagens diferenciadas e acabamentos delicados passaram a ser a rotina dessa gaúcha de 41 anos, que teve passagem pelas faculdades de Design e Artes Visuais.
CINTIAGONCALVES.COM.BR 8
Estilo Zaffari
8 9
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1
São Paulo, Brasil
DIÁRIO DE BORDO RECOMENDA: VOLTA AO MUNDO!
Uma das mais espetaculares expedições pelo mundo já tem data marcada, e com partida de São Paulo. A Grandes Impérios da Humanidade – uma realização da Latitudes Viagens de Conhecimento – percorrerá oito países, de 28 de março a 21 de abril de 2018. Depois do Brasil, o grupo passa por México, Havaí, Japão, China, Índia, Irã, Itália e Marrocos, ficando três noites em cada (exceto Índia, onde serão duas). Cinco especialistas acompanham os aventureiros: Plinio Gomes, historiador; Lourival Sant’Anna, comentarista internacional de geopolítica e economia; Márcia Arcuri, arqueóloga especialista em maias e astecas; Michiko Okano, especialista em cultura e arte japonesa; além do médico Fabio Tozzi. Serão 25 dias a bordo de um avião privativo remodelado internamente com 50 confortáveis poltronas de classe executiva. A partir de São Paulo, as cidades escolhidas são Mérida (México), Big Island (Havaí | USA), Kyoto (Japão), Lijiang (China), Jodhpur (Índia), Shiraz (Irã), Taormina (Sicília | Itália) e Marrakech (Marrocos). A agêndia Diário de Bordo, de Porto Alegre, tem essa viagem no seu portfólio.
PRIVATEJET.LATITUDES.COM.BR
DIARIODEBORDO.TUR.BR
Estilo Zaffari
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Cesta básica
TRADIÇÃO FRANCESA NO CARIBE
Criada em 1981 por Jocelyne e Jean-Louis Sibuet, a rede francesa Maisons & Hotels Sibuet está abrindo sua primeira unidade fora da Europa. E em que lugar! Saint-Barth, o paraíso de águas cor turquesa no mar do Caribe. O Villa Marie Saint-Barth tem 21 acomodações em estilo colonial, incluindo três vilas, com piscina privativa e cozinha com chef à disposição. O ambiente interno segue o conceito “tropical chique”, unindo com graça, leveza e elegância os estilos romântico (nos tons claros) e caribenho, na escolha dos itens que compõem a decoração. O cuidado com a identidade tropical chegou também ao menu do famoso restaurante François Plantation. Comandado pelo chef Emmanuel Motte, os pratos unem elementos da gastronomia local à elaborada e tradicional culinária francesa. Depois de um dia inteiro curtindo as praias dessa incomparável região do Caribe, os hóspedes do Villa Marie Saint-Barth são presenteados com os tratamentos do Spa Pure Altitude, marca registrada da Maisons & Hotels Sibuet. A unidade oferece produtos com ingredientes próprios para destinos com condições climáticas extremas, para garantir momentos realmente relaxantes e de cuidados com a saúde.
EN.EXPERIENCE-SIBUET.COM
FITNESS E FASHION
É pensando no dia a dia de quem transita por diferentes cenários urbanos, incluindo aí os destinados à prática de atividades físicas ou treinos, que a Abusy planeja suas peças. A marca de moda fitness aposta num vestuário que vá do trabalho à academia, de maneira estilosa e confortável, promovendo versatilidade para quem busca qualidade e conforto na sua rotina. Idealizada por Simone Salazar, a fábrica gaúcha inaugurou showroom no finalzinho do ano passado, no bairro Moinhos de Vento. São 20 anos de experiência no mercado de moda esportiva. As roupas se destacam, ainda, pela tecnologia de alta compressão, projetadas para a prática de exercícios sob a exposição direta ao sol, proporcionando maior controle de temperatura e transpiração.
ABUSY RUA PADRE CHAGAS, 240 I SALA 302 MOINHOS DE VENTO I PORTO ALEGRE I RS WWW.ABUSY.COM.BR
FOTOS: LETÍCIA REMIÃO
GREICE ANTES DE CASA NOVA
O ateliê da estilista Greice Antes ganhou novo endereço, agora em um antiguinho e charmoso prédio no bairro Rio Branco. Greice tem focado seu trabalho em roupas sob medida, principalmente vestidos de noivas e de festas. Segundo a estilista, ela leva para o sob medida o conceito que também norteia suas coleções: peças exclusivas, atemporais, que tenham uma história pra contar. “O processo de criação de um vestido para alguém é muito especial, porque a relação com a cliente é muito próxima, é uma cocriação, feita com carinho, delicadeza e dedicação. Comparo os vestidos de noiva que eu faço com música: é uma canção minha na história do casal”, diz a estilista, com a sensibilidade que lhe é peculiar. Greice Antes é formada em Publicidade e Propaganda pela Puc/RS e em Moda pelo Senai/RS. Passou um período em Londres, onde acompanhou o trabalho do estilista Erdem e da designer de joias Julia Muggemburg, da Belmacz. Seu trabalhou revela o fascínio pelo diferente, pela ousadia e exclusividade. Greice já atirou em roupas com um revólver calibre 38, trabalhou com o artista Guilherme Dable imprimindo música em tecido, transformou gravuras em estampas numa coleção criada para a Fundação Iberê Camargo. Em “Vinho mancha?”, convidou um grupo de amigos a desejar o indesejável: manchar roupas com vinho! As coleções da estilista não seguem tendências nem calendários de mercado.
RUA CEL. PAULINO TEIXEIRA, 193 I 1º ANDAR I PORTO ALEGRE I RS WWW.GREICEANTES.COM.BR GREICEANTESSTUDIO
Estilo Zaffari
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Cesta básica
LITORAL O ANO TODO Falou em condomínio no Litoral Norte gaúcho, Xangri-Lá é destaque entre as praias. Alto padrão define a expectativa sobre cada novo lançamento. E o Sense Xangri-Lá, com entrada no acesso principal à praia, não deixou por menos. O lançamento aconteceu em janeiro. Inspirado em resorts e hotéis de lazer, unindo áreas de moradia, convivência, entretenimento e esportes, o condomínio acolhe os moradores com conforto, segurança e opções de lazer em qualquer época do ano. O espaço Club House tem concierge, lounges internos e externos, resto lounge, piscina externa de borda infinita, espaço kids e área hangout para os adolescentes. As áreas de lazer e esportes, bem como sua ambientação, pensadas para verão e inverno, têm infraestrutura fechada e ambientes ao ar livre. O Wellness Center tem piscina térmica, SPA, sauna, espaço fitness e deck para a práticas ao ar livre. Quadras de tênis cobertas, quiosques com churrasqueiras e playground também estão lá. No Beach Club à beira-mar em Xangri-Lá, é possível guardar equipamentos de praia; há bicicletário, vestiários e chuveiros, armários e piscina. O Sense Xangri-Lá integra natureza e urbanismo e está planejado a partir de um eixo central, distribuído entre três ilhas projetadas às margens de um lago e interligadas por passarelas suspensas. O projeto rendeu ao Sense o prêmio inglês de arquitetura International Property Awards 2016, categoria Condomínios de Lazer.
SENSE-XANGRILA.COM.BR
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Estilo Zaffari
SE É BROWNIE, É BOM
Fãs de brownies não faltam por aí… agora imagina esse bolinho de sabor e textura arrebatadores ainda trazendo coberturas e recheios variados, a escolher? Pare de imaginar e conheça já a Sweet Brownies – confeitaria que começou despretensiosa. A ideia de abrir uma loja de doces surgiu em 2013, quando a arquiteta e confeiteira Hélade Antypas se deu conta de que os brownies que fazia para presentear os amigos – muito elogiados e solicitados – podiam se transformar em um negócio. Com o sucesso da venda em cafeterias, e a demanda crescendo, Hélade propôs uma sociedade com sua mãe, Lucila Antypas, que encarou o desafio e colocou a mão na massa também. Logo, logo a iniciativa mereceu um lugar propício para se experimentar tanto sabor, onde amigos e novos clientes se sentissem em casa. No cardápio, além dos brownies de diversos sabores, bolos caseiros, tortas de brownie, biscoitos e salgados, como a torta folhada de queijo, e quiches variadas. Para eventos, as opções doces estão em porção míni e em lembrancinhas.
SWEET BROWNIES AV. PIRAPÓ, 09 I PETRÓPOLIS I PORTO ALEGRE 51 3109. 9004 I 51 99993.9002 SWEETBROWNIESBRASIL @SWEET_BROWNIES_BRASIL
Educação Infantil do Colégio Monteiro Lobato
Venha conhecer a estrutura e a proposta pedagógica da nossa Educação Infantil. Você também vai ver de perto o Turno Integral do Monteiro, com atividades e aulas especializadas para o desenvolvimento global da criança. Agende uma visita pelo site www.colegiomonteirolobato.com.br/matriculas ou pelo fone (51) 3328.5035.
Cesta básica
PP PLUS SIZE
Pensa num PP com pinta de GG (and counting...)? De casa nova, a marca PP, baseada no upcycle, reuniu forças com o Coletivo 828, formado por sete marcas de moda e design que compartilham os mesmos valores: produção lenta e duradoura, valorização do trabalho manual e local, sustentabilidade e ética social. Grife de origem gaúcha, a PP surgiu da mão de duas amigas designers, Amanda Py e Petula Silveira. Era 2010 e nascia um negócio de bolsas e acessórios confeccionados com o excedente (leia-se, peles em desuso) da indústria calçadista, abraçando o conceito upcycle. Trabalhando o couro na forma mais pura e artesanalmente, as peças têm edição limitada, principalmente em cores e texturas. A PP tem agora duas lojas, uma em POA, outra em SP, além de representantes no Rio, em Belo Horizonte,
Portugal e Londres. Ampliou a linha de bolsas, carteiras e bijus, com quase 60 modelos. Virou roupa – e linda. E há algum tempo começou a vestir também a casa, com cortinas, almofadas, estojo para facas e ferramentas, vasos, aventais e outras delicadezas e minúcias para o lar. O Coletivo 828 é o encontro de sete marcas locais: Ada (vestidos veganos e minimalistas feitos à mão), Brisa (alfaiataria com tecidos orgânicos e tingimentos naturais), Côté (acessórios confeccionados com madeira e outros materiais de descarte da indústria), Cria (decoração para bebês, feita com matéria-prima orgânica), Sall (roupas casuais confeccionadas com fibras naturais), Shieldmaiden (marca de camisetas, blusões e mantas utilizando tecidos orgânicos e sustentáveis) e Valéria Sá (joias contemporâneas criadas com prata reciclada).
PP PORTO ALEGRE: RUA VISCONDE DO RIO BRANCO, 828 I FLORESTA WWW.PPACESSORIOS.COM.BR PP SÃO PAULO: RUA ARTUR DE AZEVEDO, 499 I PINHEIROS @PPACESSORIOS
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Estilo Zaffari
ZOO DE RESPEITO
GABI CHANAS VIRA PORTAL
A jornalista gaúcha Gabi Chanas se tornou célebre ao longo dos últimos dez anos com os blogs GabiChanas. com e Noiva.com, conquistando uma audiência cativa e incontáveis admiradores. Depois de um intervalo em que atuou na área de branding, em São Paulo, Gabi está de volta a Porto Alegre com uma grande novidade: ela agora assina um portal, ou melhor, um superhub que concentra vários blogs. Na fase de lançamento, o portal já inclui 5 canais: o GabiChanas.com, o Noiva.com (que sempre foi um sucesso no segmento), o blog da Bárbara Anton (voltado ao universo kids) e os blogs Gremistas e Coloradas, estes dois escritos por leitoras que são torcedoras dos times em uma cocriação coletiva que vai gerar muito buzz na internet. A estimativa de audiência é de 100 mil views por mês até o fim do ano. Outros blogs serão agregados ao longo dos próximos meses. “O novo portal teve seu layout totalmente reformulado e modernizado. Inclusive o logotipo, que deixou de ser aquela coisa romântica e manuscrita. Tudo está acompanhando uma nova fase na minha vida, em que curto coisas mais simples, ainda mais descomplicadas, criar conteúdo que realmente possa ser aplicado na vida. A internet já está cheia de ideias boas, mas que ninguém consegue reproduzir, né?”, explica Gabi.
A valorização da fauna brasileira e a garantia do bem-estar dos animais são o foco do Gramadozoo, um empreendimento na Serra gaúcha que investe em inovações no segmento de zoológicos. Sem grades e jaulas, o parque apresenta animais em recintos separados por vidros blindados. Em outros, o visitante fica em contato direto com os bichos. Pesquisa, educação e conservação ambiental são outras das características do lugar. São aproximadamente 800 animais, de diferentes espécies. Ao longo do passeio, os visitantes encontram um zoológico completamente diferenciado: os animais brasileiros são mantidos em enormes viveiros de imersão, que reproduzem com alto grau de fidelidade o habitat das espécies. Educadores ambientais e placas ilustrativas de fácil leitura oferecem informações sobre os animais e conservação ambiental durante o trajeto. Outra novidade exclusiva do Gramadozoo é a possibilidade de um passeio noturno, que permite uma experiência incrível ao contemplar espécies com hábitos não diurnos. Espécies em extinção recebem cuidados e atenção redobrados para pesquisa e reprodução. Com hospital veterinário, berçário e ambientes especiais para os animais de clima quente, o zoológico conta com uma equipe especializada de biólogos, veterinários e educadores ambientais. O zoo ainda conta com uma exclusiva loja – parte do valor arrecadado é destinado para pesquisa e preservação de espécies ameaçadas de extinção.
GRAMADOZOO RS-115 - KM 35, S/N VÁRZEA GRANDE I GRAMADO I RS 54 3421.0800 I DAS 9H ÀS 17H (VENDA DE INGRESSOS) O PARQUE FECHA ÀS 18H30 PASSEIO NOTURNO MEDIANTE AGENDAMENTO
GABICHANAS.COM Estilo Zaffari
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Cesta básica
RANGO NAS REDES CAMINHADA MEDITATIVA NO EXTREMO SUL
Não há hotéis, pousadas, lojas, ruas, sinal de telefone, e-mails, nem o excesso de afazeres e preocupações do dia a dia que superlotam a mente e sufocam o espírito. Uma experiência de passar oito dias caminhando numa praia deserta entre conchas, dunas, naufrágios e faróis, convidando o viajante a perceber o que é realmente importante na sua vida: essa é a proposta do Caminho dos Faróis, cuja programação para este ano já está definida. O trajeto de 190 km, percorrido em oito dias a partir de 21 de abril, com aproximadamente 25 km por dia, começa na localidade da Capilha, Rio Grande (RS), margeia a estação ecológica do Taim até o litoral pela estrada da Serraria, segue pela orla marítima até o balneário da Barra do Chuí, em Santa Vitória do Palmar (RS). O público também poderá optar por duas outras datas previstas para o segundo semestre: 8 de setembro e 13 de outubro. O desafio exige preparo físico e com ações ecologicamente ativas: está programada a realização voluntária de atividade de coleta do lixo da praia e outras ações de cuidados com o ambiente.
Com muito gosto (literalmente!), o empresário Felipe Spiller Boito explora um componente comum entre boa comida e redes sociais: a capacidade de reunir pessoas, para a troca de afeto e experiências na cozinha. Em julho de 2016, com o objetivo de registrar, compartilhar seus experimentos gastronômicos e inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo, ele criou a plataforma digital Meu Rango do Dia, interligada com as principais redes sociais. No blog, uma receita nova toda semana. Nas redes sociais como Instagram, Facebook e Pinterest – tudo o que for relacionado à boa gastronomia. No Youtube e no Spotify, há listas de músicas criadas por Felipe para diferentes momentos: “Cozinhando”, “Jantar a dois” e “Cerveja com Amigos” estão entre elas. A ideia é inspirar os seguidores a escolherem uma bela trilha sonora e preparar receitas deliciosas, divertindo-se na cozinha, ao redor de quem se gosta. O Meu Rango do Dia propõe uma culinária amigável, feita com ingredientes, utensílios e técnicas possíveis para transformar uma refeição cotidiana em algo diferente ou, pelo menos, um pouco mais divertido e prazeroso. Felipe é adepto da culinária simples, saborosa e agregadora. Meio cozinheiro amador e meio empresário, Felipe aposta nas postagens alternativas para tornar qualquer receita possível e ao alcance de todos.
WWW.MEURANGODODIA.COM.BR FACEBOOK.COM/MEURANGODODIA
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CAMINHODOSFAROISRS@GMAIL.COM
MEU RANGO DO DIA
TRIP & TRAVEL E STUDIOCLIO JUNTOS
“Itália Grega”, uma expedição cultural à Magna Grécia, é a edição de estreia de uma parceria que promove muito turismo e conhecimento: a Trip & Travel, rede de agências de viagens dirigida por Beto Conte, foi escolhida pelo StudioClio para cuidar da organização das suas expedições culturais. O resultado dessa aliança entre Francisco Marshall (historiador e professor titular da UFRGS), do renomado Instituto de Arte & Humanismo, e a agência de viagens com o selo de qualidade Virtuoso (a exclusiva rede que reúne as melhores agências de turismo do mundo) poderá ser conferido de 27 de maio a 10 de junho. A StudioClioTur by Trip & Travel desvendará as belezas e o patrimônio cultural da região italiana entre a Sicília e Nápoli, sob o clima ameno da primavera mediterrânica. O roteiro explora parques arqueológicos e museus impregnados da presença grega, que se iniciou no século VIII a.C. e se estendeu por mais de mil anos. Ao longo do trajeto, se estudarão in situ a arte e a arqueologia, a literatura, a filosofia, os mitos e o teatro dessa incrível parte do mundo grego, tendo como destino a visita a Pompeia. Expectativa de muita cultura, logística de primeira e belas paisagens.
WWW.STBRS.COM/ROTEIROS/ITALIA-GREGA-2017 BETOCONTE@STB.COM.BR FRANCISCO.A@STB.COM.BR 51 4001.3000
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É COMO ESTAR NO JAPÃO
Chega ao Brasil, pelas mãos do chef Edson Yamashita, o primeiro e único restaurante especializado em Kaiseki-Ryori do Brasil, o RYO Gastronomia. A cidade escolhida foi São Paulo. O estilo Kaiseki-Ryori consiste em uma sequência de pratos artisticamente formatados, semelhante ao “menu degustação”, mas com um profundo respeito a conceitos muito sutis: a filosofia “arigatai” carrega a ideia de gratidão, de causa e efeito, com cuidados do cultivo das sementes até o produto final. A água, por exemplo, chamada “kangen”, alcalinizada, protege o organismo do processo de oxidação e prepara o paladar para uma experiência oriental gastronômica pura e autêntica. Nessa tradição, cabe até uma carta de agradecimento aos clientes assinada pelo próprio chef. Na criação dos pratos, a preocupação com o equilíbrio entre o sabor, a textura, a aparência, as cores dos alimentos e até mesmo as estações do ano. São seis ou nove opções, um passeio pelo azedo, o amargo e o salgado prepara o paladar para a apreciação do quinto sabor, o umami. O RYO segue uma linha de Kaiseki Contemporâneo, onde valores tradicionais são mantidos e potencializados pelas novas técnicas, que incluem um menu vegetariano, com matérias-primas regionais que valorizam o Brasil e sua sazonalidade. O atendimento é preferencialmente feito mediante reserva. Ao entrar em contato com o restaurante, o cliente será apresentado ao menu do dia e terá a possibilidade de adequá-lo às suas preferências. A intenção é atender o público da forma mais personalizada possível, sempre com pratos frescos e bem preparados. Além disso, o restaurante tem carta de bebidas assinada por Celso Ishiy, especialista em saquê há mais de 13 anos, certificado pelo Sake Professional Course em Tóquio, no Japão. Para completar, o RYO abriga obras da muralista Erica Mizutani e tem concepção têxtil elaborada pela estilista Erika Ikezili, desde os detalhes que compõem o miseenplace do serviço até o uniforme da equipe. A casa conta também com apresentações de shamisen – instrumento tradicional japonês de três cordas – do músico YuzoAkahori.
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Estilo Zaffari
RYO GASTRONOMIA RUA PEDROSO ALVARENGA, 665 ITAIM BIBI I SÃO PAULO RESERVAS: 11 3881.8110 WWW.RYOGASTRONOMIA.COM.BR
STOKKE NO BRASIL
O JEITO ME VOY
A gaúcha Me Voy funciona como uma curadoria, muito mais do que uma marca. No universo que norteia os passos do negócio, experimentação, inovação, vivências que inspiram, produtos que expressem um estilo de viver fora da caixa. Além da loja física na Galeria 24 de Outubro, 1600, loja 111, conta, a partir de abril, com uma nova plataforma e-commerce, que vai expressar na prática esse life style Me Voy. O negócio tem produção própria de vestuário e agrega itens de outras quatro empreendedoras gaúchas: Lu Bodanese Acessórios, Lu Oliveira Arte em Flora, Me Voy Bolsas e Mochilas e Coisas da Beltrana.
@USOMEVOYOFICIAL @COISASDABELTRANA @LUBODANESEACESSORIOS @AMO.MEVOY @LUOLIVEIRAPAISAGISMO
A Stokke, uma marca norueguesa de produtos infantis com conceito funcional, acaba de chegar ao Brasil. Os itens são desenvolvidos tendo como conceito a priorização das necessidades da criança e o fortalecimento dos laços entre pais e filhos – daí seu destaque mundo afora. Pelo design e pela inovação, a marca é considerada um dividor de águas nesse mercado. Criada em 1932 em Alesund, Noruega, a Stokke foi uma das primeiras empresas do mundo a atuar no segmento de design de interiores. Nos anos 60, a marca foi uma das precursoras do que seria chamado design funcional, ao lançar a primeira cadeira reclinável. Em 1972, a Tripp Trapp, uma cadeira que acompanha o desenvolvimento da criança, marcou a entrada da marca no segmento infantil. Tem mais de 10 milhões de peças vendidas e continua a ser o principal produto da Stokke. Com o pioneiro sistema de ajuste da altura do assento, o carrinho Stokke Xplory deixa os bebês mais próximos de seus pais, proporcionando mais interação. A banheira Flexi Bath é outro exemplo de design simples e inovador: é dobrável e fácil de guardar, portátil e eficiente.
WWW.STOKKE.COM WWW.FACEBOOK.COM/STOKKEBRASIL Estilo Zaffari
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Cesta básica VINHO BIODINÂMICO
Apostando na sustentabilidade e no equilíbrio do ecossistema, a Don Giovanni vem fazendo história na Serra gaúcha. A vinícola de Pinto Bandeira comemora os primeiros resultados positivos após o início da conversão dos vinhedos para o processo biodinâmico. O conceito desse processo utiliza ferramentas sutis, como, por exemplo, preparados com plantas medicinais na sua base. A execução leva em consideração, ainda, a astrologia e outros produtos naturais. Todos esses cuidados buscam expressar ao máximo o terroir e potencial dos vinhedos. Os trabalhos de conversão de seus vinhedos para o manejo biodinâmico começaram há três anos. A empresa trabalha com cultivo de uvas desde os anos 1950 e estima que, num prazo médio de cinco anos, seja possível concluir a transição dos 14 hectares de vinhedos. “Podemos perceber uma maior vitalidade na vinha, mais vida no ecossistema e uvas com mais sabor e profundidade. Sabemos que o caminho é longo e árduo, mas seguimos com muita observação, paciência e sensibilidade, para atingir o equilíbrio máximo entre a terra e a planta, de forma sustentável e qualitativa”, explica o enólogo Maciel Ampese. A Don Giovanni é um complexo que reúne vinhedos, vinícola, varejo de vinhos, pousada e restaurante. Mantém uma produção média de 120 mil garrafas/ano.
NOVO ESPAÇO PARA A ARTE
O Espaço 373 chega à cena porto-alegrense como uma megacharmosa opção de ambiente para abrigar as mais variadas expressões de arte e cultura. Uma casa do início do século passado (1925), Patrimônio Cultural do Município, foi totalmente reformada para acolher com conforto e profissionalismo eventos e realizações criativas, bem de acordo com o DNA da região onde o Espaço 373 está situado. Amplo salão climatizado, pé-direito de 6 metros, pátio interno, cozinha, banheiros e, acima de tudo, muito estilo dão personalidade ao local. Para apresentar as inúmeras possibilidades do Espaço 373, as irmãs e sócias Fernanda e Silvana Diniz Beduschi prepararam uma inauguração com uma variada programação artística. A artista plástica multimídia Liana Timm abriu a agenda de exposições com a mostra “Retratos do Imaginário”, que harmoniza duas grandes obras-recorte a outros 40 quadros no formato 30x30, produzidos em arte digital. Um toque de modernidade e cor aos charmosos tijolos expostos que compõem a arquitetura interna do sobrado. O Espaço 373 também surge com formação musical: quatro feras da música local se uniram especialmente para formar o Quarteto 373: Luiz F. Rocha, no trompete, Luis Maurinho, no teclado, Éverson Vargas, no baixo, e Marquinhos Fê, na bateria.
ESPAÇO 373 RUA COMENDADOR CORUJA, 373 DISTRITO C I PORTO ALEGRE I RS WWW.FACEBOOK.COM/ESPAÇO373
DON GIOVANNI VRS 805 I LINHA AMADEU (28) I KM 12 PINTO BANDEIRA I RS 54 3455.6293 I 54 3455.6294 WWW.DONGIOVANNI.COM.BR
FEIJOADA BENEFICENTE DAS VOLUNTÁRIAS PELA VIDA As Voluntárias Pela Vida darão início à pro-
gramação 2017 de arrecadação de fundos para suas causas com a II Feijoada Beneficente. O evento vai acontecer no dia 21 de maio, um domingo, na Casa NTX, e contará com show da dupla Zezé Di Camargo & Luciano. O apresentador Galvão Bueno também já confirmou presença. A II Feijoada está marcada para as 12h e a expectativa de público é de cerca de 800 pessoas. A renda obtida com os ingressos (R$ 500,00 por pessoa) será totalmente revertida para o novo projeto das Voluntárias: ampliação e reforma das salas de cirurgia neurológica do Hospital São José, do complexo Santa Casa. O custo total da obra é de R$5.625.727.18, valor que deve ser arrecadado ao longo dos próximos meses por meio de eventos e de doações diretas. Os interessados em participar da II Feijoada das Voluntárias Pela Vida podem adquirir ingressos com as integrantes do grupo (contatos através das redes sociais das Voluntárias e do e-mail contato@voluntariaspelavida.com.br).
II FEIJOADA BENEFICENTE I VOLUNTÁRIAS PELA VIDA SHOW ZEZÉ DI CAMARGO & LUCIANO DATA: DIA 21 DE MAIO, DOMINGO, ÀS 12H LOCAL: CASA NTX I AV. DAS INDÚSTRIAS, 1395 SÃO JOÃO I PORTO ALEGRE I RS INGRESSOS: R$ 500,00, À VENDA PELO CONTATO@VOLUNTARIASPELAVIDA.COM.BR
INSERÇÃO DIGITAL
Fazer parte e transitar com desenvoltura no universo virtual não é, ainda, comum para a população com mais de 60 anos. A tecnologia, no entanto, pode ser uma grande aliada nessa fase da vida: por meio das redes sociais e outras ferramentas de comunicação, é possível reduzir o isolamento social, interagir com a família, principalmente netos, e exercitar o cérebro. A mudança de costumes, e de formas de interação, é inegável e inevitável. Pensando assim, a A Integrar surgiu em 2013 com a missão de aproximar o idoso das tecnologias que melhorem sua qualidade de vida. Com metodologia própria, respeitando as características de aprendizado desse grupo etário, a empresa realiza oficinas individuais e em grupo, além de palestras sobre o tema. Porto Alegre é uma das capitais brasileiras com maior número de idosos. É o grupo que mais cresce no país: em 2025, serão 35 milhões, e em 2050, um em cada três habitantes.
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Pralá & Pracá LU I Z A
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PORTO ALEGRE E SÃO PAULO
Faz tempo que o trânsito entre as duas cidades movimenta a ponte aérea, a economia, agita a cultura, a gastronomia, corações apaixonados e os negócios. Gaúchos que vão, paulistas que vêm e vice-versa, o sobe e desce entre as metrópoles tem gerado muitos sabores e prazeres. Seja para conhecer e voltar ou para ficar, trocando endereços. Gaúchos em São Paulo me procuram para dar as boas da temporada na Pauliceia. Esforçada, faço a lição e saio a pesquisar peças, comidas, gringos, exposições, compras inéditas, sambas inesperados – de roda, da vela, de raiz, um esquecido do Adoniran. Coisas que não estão nos links fáceis e que são especialmente do meu gosto. Paulistas quando em Porto Alegre me chamam no whats pedindo as dicas de vinhos, churrasco a sagu e cuca, sem perder a chance de perguntar se tem um lugar bacana para tomar chimarrão. Fora a casa dos amigos, pode pedir onde avistar a cuia e a bomba, respondo, mas a terminologia dos apetrechos confunde os turistas, então continuo esperando uma coisa tipo Rei do Chimas aparecer pra eu fazer um post e replicar a cada inquirida. Fica a dica! Em São Paulo, chimarrão está disponível nas churrascarias, mas ninguém costuma se entregar. A coisa
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fica séria na A LOJA DO CHÁ, que serve comme il faut e, mais ainda, com uma erva nativa orgânica cortada em quadradinhos tão chique quanto o Iguatemi, onde está a loja, permitindo que a gente passeie com aquele negócio folclórico nas mãos sem precisar se sentir um esquisitão, mas pelo contrário, lançando uma tendência. Vale cada térmica servida pela Carla Saueressig, a musa do chá no Brasil, que criou essa loja com mais de 200 variedades de chás, ervas e flores para o preparo da bebida e com isso fincou uma nova categoria de mercado. Experimente provar as comidinhas com chás que ela tem: um sanduíche de pão naan, aquele indiano sequinho e redondo, com recheio de shitake preparado com o chá lapsang souchong, que dá um sabor defumado ao cogumelo. É incrível! Para acompanhar com chá frio ou quente e depois fechar com um mil crepes de matchá recheado de creme de damasco. Pedidos sem medo são garantia de prazeres perenes. Gaúcho em Sampa desde o final de 2016, Felippe de Sica se instalou de dólmã e cuia no estiloso TAVARES para agitar a cozinha do casarão histórico que fica na Consolaçãozinha, aquele pedaço fashion & fancy que fica nos Jardins com o mesmo nome da grande avenida que vem do
Centro. Felippe deixou Porto Alegre para desenvolver ainda mais seu conhecimento culinário e encantar os felizardos paulistanos, encarando o desafio de escrever sua parte na história da fascinante gastronomia que acontece na cidade. Chegou e já mandou bem: o risoto de cordeiro que deixou saudade nos gaúchos já faz parte do menu do Tavares – tri! O cordeiro está para o gaúcho como o porco para o paulista: é um fruto da pecuária que se tornou um costume alimentar regional e foi guindado ao posto de iguaria. As ovelhas e seus familiares são os queridinhos da gastronomia do Pampa e saber prepará-los é uma arte, como bem faz o Felippe. Em São Paulo, quem sabe tudo do porco, da orelha ao rabo, é o Jefferson Rueda, que teve a ideia mais feliz dos últimos tempos ao construir um verdadeiro templo para degustar o bicho, a incrível A CASA DO PORCO. Prova do que estou falando são as gentes pipocando do lado de fora, entre a espera atenciosa e uma vaga na divertida janelinha que dá para a calçada, onde são servidos quitutes to go, os sanduíches porcanos e veganos (sim!) e uma caipirinha que dá vontade de não ir embora nunca mais. Como seus porquinhos, Jefferson é caipira nascido e criado no interior de São Paulo, o Velho Oeste paulista,
SAMPA A LOJA DO CHÁ Shopping Iguatemi 3º Piso Av. Brigadeiro Faria Lima, 2232 Jardim Paulistano I 11 3615.5359 RESTAURANTE TAVARES Rua da Consolação, 3212 Jardim Paulista I 11 3062.6026 A CASA DO PORCO Rua Araújo, 124 Centro I 11 3258.2578 BAR DA DONA ONÇA Edifício Copan lojas 27 e 29. Av. Ipiranga, 200 Centro I 11 3257.2016
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A CASA DO PORCO, DO CHEF PAULISTA JEFFERSON RUEDA, É UM VERDADEIRO TEMPLO PARA DEGUSTAR O BICHO, DA ORELHA AO RABO mas muito sofisticado nos preparos gastronômicos, o que já lhe rendeu prêmios de Melhor Chef, melhores restaurantes, assim no plural, seja em frente ao braseiro da sua A Casa do Porco ou no fogão de cozinhas como Pomodori, Attimo, que ele enfrentou em sua carreira. As preliminares falando do chef servem para aumentar a curiosidade, para chegar aqui e contar, em palavras, a fantástica experiência de provar as invenções que ele faz. Passeando pelo divertido cardápio, o clima é assim uma espécie de anedotário do porco, com opções tipo “De tudo um porco”, “Sanguiça” (adivinha o que é!), “Porcopoca!, bem crocantinha, e o “Porco San Zé”, um combinado que traz nacos espetaculares do bicho acompanhados de cumbucas com tutu de feijão, tartar de banana e salada de couve arrepiada como fica o paladar do sortudo sentado à mesa – ou no balcão. O famoso “Porco em cinco versões” é o must da festa, pra rimar com o clima que reina na casa – tem leitão de leite, medalhão em bacon, barriga crocante, linguiça e codeguim (essa especialidade italiana feita com a carne e o couro do porco), preparados no suculento caldo. Reservado e risonho, Jefferson marcou do seu jeito
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mais pontos para o Centro de São Paulo, que só ganha com as investidas audaciosas da família Rueda na região. Janaína, a mulher, é a garota destemida que em 2008 deu nome e vida ao seu Bar, o BAR DA DONA ONÇA, incrustrado no prédio-símbolo de São Paulo, o Copan, onde o casal reside com seus filhotes. Costumo fazer uma jornada dupla, por lá: começo em um, termino no outro. Tanto faz a ordem. As caipirinhas da Onça são sucesso irrefutável, os drinques do Porco idem. A comida da Janaína, que assim como o Jeffin está sempre na casa, salvo nas viagens de férias, é tão boa como a que um dia comemos na mesa com a mãe e o pai, ou a vó, mas é aquele clima da toca da onça que a faz única. Para 2017, a dupla anuncia mais surpresas por aquelas bandas, com a participação da confeiteira e parceira Saiko Izawa, japa quente da pâtisserie porco-caipira. LUIZA ESTIMA É JORNALISTA, GAÚCHA, CIDADÃ PAULISTANA HÁ MAIS DE DUAS DÉCADAS, ADORA COMER E ESTÁ SEMPRE ÀS VOLTAS COM PROJETOS QUE ENVOLVEM O UNIVERSO DA GASTRONOMIA BRASILEIRA. AUTORA DO BLOG LUESTIMAPRALAEPRACA.COM
Humanas criaturas T E T Ê
PAC H E C O
NÃO É SÓ COMIDA IV
“POR QUE TEMOS QUE COMER AS CRIATURAS MAIS MARAVILHOSAS DO PLANETA?” OTTO L. – 8 ANOS O que a gente come nos define. Cultural e fisicamente falando. Antes (entenda-se por antes o período que vai da Pré-História até ontem) a gente não tinha muita noção disso. Através dos tempos acumulamos conhecimento e informação. Ovo provoca aumento de colesterol, gordura é veneno, deve-se ingerir proteína diariamente. O conhecimento muda a cada nova etapa de evolução científica e a informação muda de acordo com o vento ou os likes do Facebook. Informação e conhecimento não levam necessariamente à consciência. Embora o acúmulo dos dois possa levar a uma noção de que é preciso fazer alguma coisa. Quando chegamos a este ponto, é preciso fazer alguma coisa, a consciência está começando a tomar o poder do processo. A consciência é a cereja do bolo de uma existência. Normalmente presenteia os anciãos com um poder que os mais jovens ignoram. Por um lado, que beleza, pois alguma vantagem a velhice tinha que dar aos seus heróis e heroínas, mas por outro, que pena. Jovens dotados de consciência e maturidade fariam um bem danado à nossa espécie. Como é o caso daquele da citação acima. De mim o que posso dizer é que quanto mais o tempo avança, mais Darwin faz sentido. Evoluir enquanto espécie é uma premissa necessária para os que ainda têm o privilégio de viver essa passagem aqui. Muito ruim a ideia de uma vida não ser suficiente para mover a evolução. Se existe algo que não dá pra procrastinar é o sentido da evolução. Não tem deixar para a próxima. Sob o risco de a gente não ter a experiência plena de ser quem se é e sob a sacanagem de deixar para as próximas gerações o peso de não ter conseguido. O tempo, ao contrário do que dizem, se move devagar. As mudanças são lentas, levam uma eternidade para se concretizar. O tempo que temos é o do agora. E isso é definitivo. Categórico. E imperativo. Suas opiniões, sua visão de mundo, sua curiosidade, sua opção sexual, seus apelos, desejos, conhecimento e acúmulos são naturais consequências de uma vida escolhida ou herdada, conscientemente ou não. Se você está com problemas, e a maioria de nós está, é porque sua consciência não está agindo no campo das escolhas. 26
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Talvez valha a pena pensar em como seres humanos lotados de bichos e venenos de todos os tipos circulando livremente pela corrente sanguínea podem agir de forma desintoxicada. Muito difícil. Experimente fazer uma desintoxicação que comece pelo que você ingere. E depois observe, se você realmente estiver fazendo algo por você e não pelos outros, como o que sai da sua boca se transforma também. E o quanto uma transformação leva a outra. Não é milagre. É consequência. Pensando sobre a ação da consciência na forma como nos alimentamos, é fácil perceber que um número assustador de jovens hoje tem distúrbios alimentares. Baseados em parte na qualidade do que ingerem, mas em grande parte no que são levados a pensar sobre a vida. Os modelos errados de comportamento e alimentação não estão desassociados. Estão confusamente misturados. É possível mudar isso para as futuras gerações. Comecemos por nós. Comida é combustível, não é show de vaidades. Compartilhar comida não é só jantar com os amigos. É dividir com os outros, é uma ideia, antes de tudo, política. Aprender a cozinhar não para ser chef, mas para poder escolher, editar, equilibrar a vida. Plantar o máximo que o seu espaço permitir é criar um novo modelo de vida e aproveitamento que, acredite, vai valer mais para os seus filhos no futuro do que o que eles aprendem no colégio. O poder que a tomada de consciência geral me permitiu ter hoje eu dedico à pessoa que primeiro influenciou uma mudança alimentar na minha vida. Meu querido, amoroso e inesquecível pediatra. Mas não só meu, dos meus pais e irmãos, além de uma infinidade de outras sortudas crianças e famílias. Com ele reaprendi a comer numa fase decisiva da vida. Com ele aprendi a comemorar as pequenas vitórias da balança. Talvez por causa dessa experiência, nunca foi um trauma para mim mexer em cardápios e ingredientes. E nem procurar em remédios aquilo que eu só podia encontrar em mim. Obrigada, Dr, Décio Martins Costa. Obrigada eterno, tio Decinho. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA
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CONCEITUAÇÃO:
INCORPORAÇÃO E CONSTRUÇÃO:
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da safra F OTO S
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UM ALIMENTO NO SEU AUGE É SINÔNIMO DE FARTURA, POR VEZES ATÉ UM EXAGERO, E ESSA É A HORA
Todo início de ano carrega um forte simbolismo de recomeço. O ano velho morreu e à frente se oferece o novo. É uma boa oportunidade para refletirmos sobre o que é fim e o que é começo: processos indissociáveis. Morte e vida. A cultura ocidental enclausurou em dogmas e doutrinas um dos aspectos mais básicos e profundos da natureza selvagem, reduzindo a morte às trevas eternas. Mas a morte incuba vida nova, é um processo que se repete infinitamente: vida-morte-vida, início-fim-início. Das estações do ano a cada dia de nossa vida, esse eterno anoitecer e amanhecer, escuridão atrelada à luz. Tudo é um ciclo a ser compreendido e aceito. No universo do alimento, os ciclos podem ser claramente identificados com as safras de hortifrútis, as épocas de peixes nos mares, de cogumelos nas florestas, de caça. Tudo o que nos alimenta começa e termina. Mas a vida moderna também ajuda a atrapalhar essa percepção, pois hoje podemos ter quase todo tipo de produto em qualquer época do ano. Ainda assim,
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esses ciclos podem ser percebidos a partir do valor no supermercado. Por exemplo, o tomate in natura: quando está no auge da safra é barato, quando fora de época custa mais caro. E aqui temos outra questão, de oferta e procura, de oportunidade e aproveitamento. Um alimento no seu auge é sinônimo de fartura, por vezes até um exagero, e essa é a hora de tirar o máximo proveito de tudo o que oferece. Isso é muito mais abrangente do que se costuma imaginar, e quem explica é o chef Carlos Kristensen: “Da laranja, por exemplo, podemos aproveitar desde o suco e os gomos até a casca, desidratada, cristalizada, e a pectina – a película branca interna da casca – como um espessante natural. E ainda as folhas e os galhos da laranjeira, que podem ser secos, e depois as folhas moídas em pó para tempero e os galhos para defumar e perfumar azeites e vinagres. Sem esquecer das flores aromáticas, para chá e outras infusões. Tudo a seu correto tempo, respeitando a hora da colheita e da poda, para o sadio desenvolvimento da planta”.
DE TIRAR O MÁXIMO PROVEITO DO QUE ELE OFERECE. “TUDO A SEU CORRETO TEMPO”, DIZ KRISTENSEN
Kristensen diz que, ao sair do conforto de sua bela e bem equipada cozinha do restaurante Hashi, chegou ao momento da Verdade, pois é lá onde está o produtor – em ligação direta com a terra, a água, o clima, o tempo, o movimento da natureza – que se encontra a sabedoria. “Eu fui aprender.” E assim o chef criou o Internacionalmente Local, um projeto de resgate de cultura alimentar, que enriquece todos os elos da cadeia produtiva, chegando até o consumidor, para ele entender a verdade no ato principal de sua subsistência, o comer. No Hashi, as pessoas vivenciam essa experiência com o Menu Degustação da Safra – muda conforme a sazonalidade dos produtos –, no qual Kristensen oferece vários ingredientes da parceria com os produtores e receitas criativas e deliciosas da sua cozinha. “É importante as pessoas perceberem cada alimento, de onde ele vem, como se originou, o seu período de vida, os processos antes de chegar ao prato. A safra rende o que há de melhor em sabor, e
sobressaímos os alimentos muito frescos, que acabam e outros entram em cena. É preciso aceitar a espera de cada safra”, ensina.
A ARTE DO APROVEITAMENTO No Chicafundó, uma jabuticabeira é paixão e orgulho de Elisa Prena, que faz questão de mostrar a linda árvore exótica aos clientes quando está carregada, no quintal onde as mesas do restaurante são muito disputadas na primavera/verão. “Dá frutos apenas duas vezes ao ano e por cerca de três semanas, mas é uma exuberância e temos o privilégio de aproveitar”, diz Elisa, que prepara calda e compota aproveitando as cascas, incrivelmente saborosas e funcionais – há cientistas que apontam sua eficácia até contra tumores. A fruta tem vida útil muito curta, pois fermenta rápido devido à elevada concentração de frutose, e, assim, Elisa também congela baldes e baldes da pequena jabuti-
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Sabor “É SEMPRE PREFERÍVEL UM CARDÁPIO COM PRODUTOS DE ÉPOCA”, DIZ ELISA PRENA, QUE SERVE
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UMA COMIDA ABUNDANTE, FEITA COM AMOR
caba para futuras elaborações. A jabuticabeira parece a essência do Chicafundó, pois o trabalho de Elisa Prena é generoso e dinâmico, não existe cardápio nem ficha técnica de receitas. Os menus de almoço mudam todos os dias, e também os jantares especiais. Formada em administração, ela não se preocupa com padronizações e constâncias, opera na intuição, quer servir uma comida abundante, feita com amor, com os melhores produtos que encontra a cada semana, a cada dia. “Nem mais os eventos eu programo com muita antecedência, pois é sempre preferível um cardápio com produtos de época, e isso varia bastante, em função, inclusive, das mudanças climáticas no planeta”, informa e exemplifica com um ingrediente aparentemente dos mais simplórios, mas nem tanto: o creme de leite. “Usamos o creme fresco, e para ter oferta isso depende da produção de leite. Na época de pasto baixo, as vacas dão menos leite e a oferta de creme e de manteiga diminui, às vezes o produto até some.” O chef Marcelo Schambeck, do bistrô Del Barbieri, também reconhecido por seu trabalho com ingredientes de safra, para não perder sequer um butiá do balde que ganhou em fevereiro, transformou tudo em polpa para usar durante o ano. “A arte das compotas, das conservas, etc. está novamente em alta na cozinha e com um ganho em relação às práticas antigas, pois se agregaram técnicas, temperos diferenciados e especiarias que incrementam as tradicionais receitas”, comenta. Ele cita o jovem chef sueco Magnus Nilsson, que trabalha exclusivamente com ingredientes locais, secando, defumando, fermentando, mergulhando em salmouras, cozinhando em compotas e, inclusive, aproveitando fungos e podridões numa exploração entre o produto comestível e o descartável. Nilsson abriga potes e potes no seu celeiro para enfrentar os glaciais invernos da região sempre com um menu muito exclusivo no seu pequeno restaurante, Faviken. “Há um tempo para tudo na natureza, e eu comecei a aprender isso com o surf, pois o mar nunca é o mesmo, nunca é como se espera, é preciso observar, conhecer, respeitar e esperar o movimento certo. O homem moderno é ansioso, imediatista, quer tudo para ontem, não percebe o tempo das coisas, o que só gera mais e mais ansiedade”, reflete Schambeck.
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Há também os processos industriais de aproveitamento dos ingredientes, como destaca o chef Floriano Spiess, que inaugurou em janeiro uma nova casa, elaborando pizzas artesanais com um molho exclusivo de tomates a frio – cozinha junto com a massa no forno, o que garante mais aroma e sabor –, valendo-se de tomates pelados em lata. Esta é uma excelente solução para as abundantes safras de tomate em diversos países, o que torna ainda mais chocante quando uma lavoura é destruída pelo produtor em resposta ao preço baixo decorrente de oferta maior que a demanda – nem tão raramente, isso acontece. “Quem produz, em especial o produtor de larga escala, deve programar a total vazão da sua safra, com estratégias de venda e de aproveitamento”, enfatiza Floriano, que chama a atenção ainda para nossa pobreza cultural na classificação dos alimentos. “No caso das carnes é gritante, mas está melhorando. Carne bovina boa é a dos cortes nobres e também a dos outros cortes, fantásticos, chamados de carne de segunda. Não existe isso, toda carne é de primeira, é originada do mesmo bicho, difere apenas o corte. Nos últimos anos, com o melhoramento genético dos animais, houve ganhos de qualidade e sabor que desabonam ainda mais essa diferenciação. Finalmente estamos tendo um estímulo ao total aproveitamento do animal abatido, o que, além de necessário, é também uma questão de respeito”, posiciona-se. Porém, o chef alerta que tão logo os cortes menos nobres passaram a ser valorizados, já começaram a ser gourmetizados, o que é um equívoco, pois só servirá para inflacionar seus preços. Em Santa Catarina, na praia da Armação, sul da ilha de Florianópolis, Valdir Vieira se debate com a redução na oferta do peixe fresco. Ele e a esposa, Marilene, foram obrigados a se adaptar aos peixes que chegam de alto-mar já congelados dentro dos próprios barcos de pesca. “Os pescadores locais de menor porte diminuíram muito, e com eles os peixes sazonais, como o robalo no inverno e o espada no verão”, lamentam, mas compensam as perdas fazendo um preparo especial de salga e temperos para os filés de linguado que armazenam e depois deliciam os clientes em receitas simples e irretocáveis. Há quase quatro décadas com o simpático restaurante Vieira, ele já falou em fechar várias vezes, mas acaba entrando mais um ano com a casa aberta – agora só aos fins de semana fora da temporada. A verdade é que a questão é bem mais complexa do que apenas cerrar portas – é difícil para o casal findar o longo ciclo de vida
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“HÁ UM TEMPO PARA TUDO NA NATUREZA. O HOMEM MODERNO É ANSIOSO, IMEDIATISTA, QUER TUDO PARA ONTEM, NÃO PERCEBE O TEMPO DAS COISAS”, REFLETE SCHAMBECK
que lhes arrebatou tanta energia, dedicação e crescimento pessoal. “O que fazer com a cabeça depois?”, questiona-se Marilene, que sequer sabia cozinhar quando abriram o restaurante e hoje pilota o fogão com mãos de expert. Ela e o marido gostam de frequentar a praia, ver o mar, os barcos, os pescadores de Pântano do Sul, onde ela nasceu, logo ali abaixo da Armação. Se não tiverem mais a cozinha, seu olhar será outro, inevitavelmente. É este recomeço que o casal ainda não consegue vislumbrar, para sorte dos seus clientes.
RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS DE MÃO DUPLA Com o Internacionalmente Local, o chef Kristensen buscou também um papel transformador para seu trabalho, de obter recursos e proporcionar oportunidades, de somar e dividir conhecimento. “Eu me abasteço e ofereço um canal; o pequeno produtor sempre precisa de mais chance para a venda dos seus produtos”, afirma Kristensen, que depois de quatro anos de muita estrada e pesquisa pelo interior do Rio Grande do Sul e Santa Catarina reuniu 20 famílias que fornecem produtos muito artesanais, como o peito de ganso defumado, as frutas nativas, a Jurupiga da Ilha dos Marinheiros – “Dá pra fazer um balsâmico com esta bebida”, revela – ou o queijo artesanal Serrano, de Ausentes, que o chef termina de curar dentro da adega de vinhos no Hashi: “O meu cofre”, brinca ele, mas o ambiente é realmente uma preciosidade. Em dezembro do ano passado, o Hashi passou a comercializar os produtos do IL para os clientes levarem pra casa e realizarem sua própria experiência de degustação. Alguns itens são sob encomenda, como o patê de fígado de galinha cai-
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Sabor
“QUEM PRODUZ, EM ESPECIAL O PRODUTOR DE LARGA ESCALA, DEVE PROGRAMAR A TOTAL VAZÃO
pira, pois a prática imperativa é o produto vivo, puro, sem conservantes, estabilizantes e outros aditivos químicos – portanto perecíveis em tempo curto. Marcelo Schambeck também foi se aproximando de produtores, na Grande Porto Alegre, ao buscar orgânicos na feira ecológica do Bom Fim para o seu Menu Degustação de sábados do Del Barbieri. E firmou parceria com o casal Dodô e Vera, do Lami. “Eu trouxe sementes de mostarda do Peru pra eles, que plantaram e desenvolveram por quatro anos e hoje comercializam na banca”, conta, ressaltando que o casal é aberto e interessado em desenvolver novas culturas. O chef agora prepara mudas na sua adega Plantario – uma pequena joia idealizada para tanto, com luz e irrigação controladas – para entregar ao casal. “Estou com uma muda de coentro da Amazônia, logo já poderei entregar para o Dodô”, se anima. O entusiasmo de chefs que trabalham junto a produtores é um ganho para os consumidores e mais ainda quando esse trabalho se propaga e provoca reflexão, como o que está fazendo Carlos Kristensen. Ele passou a documentar tudo em imagens e já são vários vídeos, belíssimos, disponíveis nos site do Hashi e do IL e exibidos para o grande público em congressos de gastronomia. Quem quiser se encantar – e emocionar – deve acessar o vídeo de Dona Romilda Grimm, o xodó do chef, com sua criação de gansos para a produção anual de exatos cem peitos curados no sal e defumados, no qual ela vai mostrando o seu dia a dia. “Aquilo que a gente aprende com os pais, os avós, aquilo nunca mais se esquece, parece que a gente se sente obrigado a fazer aquilo, mas é um fazer com muita alegria”, diz a senhora vivaz, em Prado Novo, 200 km ao sul da capital gaúcha, proclamando aquilo em que os cientistas na Europa e nos EUA apostam para este século, depois de inimagináveis testes e pesquisas de mapeamento do genoma humano: o DNA nos define e carregamos 3 bilhões de letras que, tão logo sejam interpretados os sequenciamentos, poderão contar toda a nossa história, dos antepassados recentes a tempos muito remotos. Amar e curar gansos talvez esteja escrito nas células de Dona Romilda, assim como a conivência com a natureza nas células de todos que se envolvem profundamente no ofício da comida.
DE SUA SAFRA”, AFIRMA FLORIANO SPIESS
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C A R LO S
K R I S T E N S E N
1 MINIBAGUETE DE PÃO DE MILHO 100 G DE PASTRAMI ARTESANAL 115 G DE MOSTARDA DE BUTIÁ 65 G DE PICLES DE BATATA-DOCE 50 G DE MANTEIGA SEM SAL BROTOS (MOSTARDA, NABO, RABANETE) PÃO DE MILHO 2 XÍCARAS DE FARINHA DE TRIGO 1 XÍCARA DE FARINHA DE MILHO 1 COLHER (CHÁ) DE SAL 3 COLHERES (SOPA) DE AÇÚCAR 1 COLHER (SOPA) DE FERMENTO 1 COLHER (SOPA) DE BANHA 100 G DE MILHO-VERDE COZIDO 1 OVO 1 COLHER (CHÁ) DE ERVA-DOCE 1/2 XÍCARA DE LEITE 1/2 XÍCARA DE ÁGUA 38
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Pão de Milho, Pastrami, Mostarda de Butiá e Picles de Batata-Doce MODO DE FAZER O PÃO DE MILHO: Em um bowl adicione todos os ingredientes secos, exceto o fermento, e misture bem. Bata o leite com o milho cozido, peneire e adicione aos secos, junto com a água, o ovo batido e a banha. Acrescente o fermento e sove a massa por alguns minutos. Porcione em 4 minibaguetes e deixe crescer por 25 minutos, coberto e em temperatura ambiente. Asse em forno preaquecido, a 1700C, por 15 minutos. MODO DE FAZER: Corte o pão de milho em fatias de 2 cm de espessura e leve em uma chapa quente com manteiga até dourar. Retire da chapa e acrescente o pastrami fatiado, a mostarda de butiá e o picles de batata-doce. Finalize com os brotos.
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F LO R I A N O
S P I E S S
Pizza Fiori MOLHO DE TOMATE A FRIO 1 KG DE TOMATE PELADO EM LATA 100 ML DE AZEITE DE OLIVA VIRGEM 40 ML DE SHOYU 12 G DE FLOR DE SAL (OU SAL COMUM) MASSA PARA PIZZA 800 G DE FARINHA DE TRIGO DE BOA QUALIDADE 200 G DE FARINHA DE SÊMOLA 1 COLHER (SOBREMESA) DE FERMENTO BIOLÓGICO SECO 300 ML DE ÁGUA MINERAL FRIA 50 ML DE AZEITE DE OLIVA VIRGEM 20 G DE SAL
MODO DE FAZER O MOLHO: Bata tudo no liquidificador e ajuste o sabor com um pouco de pimenta. Floriano explica que o molho frio é perfeito para usar em pizzas, porque vai chegar ao ponto de cozimento junto com a massa no forno, que atinge uma temperatura muito alta. MODO DE FAZER A MASSA: Junte todos os ingredientes até formar uma bola elástica, e sove essa massa por 10 minutos, no mínimo. Deixe descansar por 10 horas, em um recipiente coberto com filme plástico ou pano, na geladeira.Reparta a massa em pedaços de 200 g. Deixe descansar, fora da geladeira, por 1 hora. Abra a massa com um rolo enfarinhado e sobre uma superfície lisa e também enfarinhada. Coloque em uma forma untada e leve ao forno na temperatura máxima, colocando direto na parte mais baixa, sobre a chapa mesmo. A massa deve ser assada parcialmente por 40 segundos. Retire do forno e acrescente o molho e a cobertura da sua preferência.
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Tartare de Caqui 5 CAQUIS CHOCOLATE 1 MARACUJÁ AZEDO 5 COGUMELOS CASTANHOS 100 G DE PÃO RÚSTICO 1/4 DE MAÇO DE RÚCULA SELVAGEM 1 COLHER (CAFÉ) DE MOSTARDA DIJON 1 COLHER (CHÁ) DE MEL 150 ML DE AZEITE EXTRAVIRGEM MODO DE FAZER: Comece cortando o caqui em pequenos cubos regulares. Coloque num bowl e reserve. MODO DE FAZER O MOLHO: Bata no liquidificador a polpa do maracujá, em seguida coloque o azeite, mel, mostarda e um pitada de sal e pimenta-do-reino. Bata até emulsionar. Tempere os cubinhos de caqui com este molho. Corte o pão em finíssimas fatias, leve ao forno a 1000C até dourar levemente. (O pão congelado ou dormido fica mais fácil para fatiar bem fininho.) Sirva o tartare em um prato, coloque as folhas de rúcula, as fatias crocantes de pão e, na hora, lamine o cogumelo por cima.
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Sabor
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Cremoso de Iogurte com Calda de Compota de Jabuticaba CREMOSO DE IOGURTE 1 KG DE IOGURTE NATURAL INTEGRAL 800 G DE LEITE CONDENSADO CALDA E COMPOTA DE CASCAS DE JABUTICABA 1.200 G DE JABUTICABA FRESCA 1/2 KG DE AÇÚCAR MODO DE FAZER O CREMOSO DE IOGURTE: Misture os dois ingredientes em uma tigela até formar um creme homogêneo. Caramelize de leve uma forma clássica de pudim, com uma camada bem fininha. Você pode usar também forminhas pequenas individuais de alumínio. Despeje o creme na forma e leve ao forno a 1500C, em banho-maria, por aproximadamente 40 minutos – depende de forno para forno, mas o ponto é quando está levemente dourado nos cantos e com consistência firme. Deixe na geladeira por, no mínimo, duas horas – melhor ainda por 24 horas – antes de desenformar. Sirva gelado. MODO DE FAZER O CALDA E COMPOTA DE JABUTICABA: Coloque as frutas em uma panela de inox, preferencialmente de fundo triplo, ou em uma panela de fundo grosso, e por cima despeje o açúcar. Leve ao fogo para cozinhar, tampada, lentamente, até que as jabuticabas comecem a explodir e soltar o suco. Então aperte a mistura com uma colher e vá mexendo de tanto em tanto; deixe ferver para reduzir a aproximadamente 1 dedo. Passe por uma peneira grossa, separando a calda das cascas e caroços. Leve a calda, agora peneirada, novamente ao fogo por mais 30 minutos para reduzir até o ponto de quase geleia. Separe manualmente, preferencialmente com uma luva de silicone, as cascas dos caroços da fruta e acrescente um pouquinho da calda (antes da redução) para que fiquem úmidas, e reserve como uma compota. Sirva uma fatia do cremoso de iogurte gelado com a compotinha por cima e a calda ao lado.
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Vida C E L S O
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O AMIGO ENRASCADO
Todo mundo se enrasca, todo mundo se enrola e, volta e meia, mobiliza o outro neste mundo humano. Paulo Bentancur foi um amigo enrascado. Paulo se enrascou mais do que a média. Paulo se enrolou mais do que a média. Podia ser para pedir um dinheiro que raramente conseguia devolver, para magoar um amor que não conseguia perdoá-lo, para pedir um remédio que nunca o curava. Não era fácil ser seu amigo. Ser seu amigo era viver a um passo do abismo e a um segundo da explosão. Era volta e meia cair no abismo e explodir junto com ele, se estivesse presente; às vezes, desesperado, Paulo marcava um encontro na Zona Norte e, depois de enfrentar preocupado um engarrafamento enorme, a gente encontrava a Zona Norte sem o Paulo. Mas ser seu amigo não era ser masoquista. Quando o Paulo aparecia no Centro, na Casa de Cultura, na Secretaria Municipal ou mesmo na Zona Norte, e não pedia remédio ou dinheiro – ou mesmo se pedia –, ele te olhava com um olhar de verdade e te ouvia com ouvidos que não há mais no mundo e, chegada a tua vez de contar o que te enrolava, o que te enrascava, o dinheiro que não tinhas, o amor que tinha magoado, o remédio que te faltava, o Paulo vinha com uma empatia dessas raras. Então, ele era capaz de tirar do bolso o dinheiro
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que não tinha e sei lá de onde – da empatia? – trazia palavras que ajeitavam a tua mágoa e repunham o desejo de viver. A vida ali se redimia, mas vinha mais ainda. Paulo tirava da pasta amarfanhada um texto também amassado e te lia com vontade uma parte suficiente para entenderes que a beleza havia comparecido plenamente no meio daquelas palavras. Podia ser um livro inteiro de poemas como Bodas de Osso, uma prosa inovadora como Instruções para iludir relógios ou uma história breve e encantada para encantar crianças como As Rimas da Rita. E, lá onde a vida tinha vindo pequena, comezinha, passageira, ela voltava maior. Muito maior. Infinita, talvez. Como uma criança que conserta o brinquedo que ela mesma estragou ou continua brincando com ele apesar de estragado, o Paulo sabia avariar a vida sem querer e, depois, querendo muito, mostrar que sempre tem jeito quando se é capaz de brincar e fazer arte. Assim fez durante a vida inteira da nossa amizade. Só não soube não morrer precocemente, embora tenha morrido tão somente fora dessas lembranças e de outras páginas que ele deixou vivas para sempre.
CELSO GUTFREIND É PSIQUIATRA E ESCRITOR, ESPECIALISTA EM PSIQUIATRIA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA
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Viagem
Miamis
Sul, Downtown e Miami Beach. Três regiões bem diferentes dentro da mais famosa cidade da Flórida. Tão diferentes que se poderia dizer que são três Miamis. Nesta viagem explorei um pouco de cada uma delas, fiquei hospedada em três diferentes hotéis e conheci restaurantes que classifico como espetaculares. Foram somente 6 noites e 6 dias, com a missão de observar as diferenças entre cada uma dessas Miamis, mas sobretudo de fazer um roteiro gastronômico para os leitores da Estilo Zaffari. Então, vamos às delícias! P O R F OTO S
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Sul: tranquilidade e luxo em Coral Gables
Bairro que faz parte da história de Miami, Coral Gables foi planejado na década de 20 e ficou conhecido como a Riviera Americana. O luxo das mansões da região e a arquitetura em estilo mediterrâneo, com praças, arcos e fontes, justificam o apelido. Coral Gables de fato remete a uma Miami mais glamourosa e sofisticada, e oferece muitos atrativos, de passeios à gastronomia e até compras. É lá que fica um dos shoppings mais agradáveis da cidade, o Village at Merrick Park, distribuído entre prédios baixos e jardins, com lojas de grifes famosas e vários restaurantes charmosinhos. Coral Gables é também uma região de boutiques requintadas e lojas especiais, algo que a maioria dos turistas desconhece. E é neste bairro que está a famosa Venetian Pool, maior piscina artificial dos Estados Unidos, passeio ótimo para fazer com crianças.
HOTEL THE BILTMORE Estar no Biltmore é curtir uma Miami diferente daquele clichê que todos conhecemos: praia + agito + juventude + moda + música alta + noitadas. Bastante afastado de Miami Beach, Coral Gables é um bairro residencial chique e
tranquilo. O hotel ocupa uma área de 60 hectares e engloba um campo de golfe de 18 buracos, um spa europeu, 10 quadras de tênis e a maior piscina de hotel da costa leste dos Estados Unidos. A piscina, aliás, é um dos grandes destaques. Tem mais de 2 mil metros quadrados e áreas com diferentes profundidades (algumas bem fundas!), tem uma cachoeira, um trampolim, um bar e restaurante (chamado Cascade) e um interessante formato irregular que cria diferentes recantos para relax em meio a um belo e verdejante jardim. O prédio em si é uma enorme atração. Inaugurado em 1926, foi construído em um peculiar estilo arquitetônico: mediterrâneo com influências italiana, moura e espanhola clássicas. A torre do Biltmore é um dos marcos da paisagem do sul de Miami. O hotel faz parte da rede The Leading Hotels of The World e atrai um público sofisticado, que busca relaxar, curtir bons momentos em família, praticar esportes e dourar-se sob o sol de Miami sem o ruído incessante de música pop. Casais em lua de mel também são vistos com frequência por lá. Uma vez dentro do Biltmore, você vai ter preguiça de sair. Os restaurantes são ótimos. Um deles, o francês Palme
A PISCINA DO BILTMORE É UM ESPETÁCULO. O PRÉDIO, CONSTRUÍDO NOS ANOS 20, UM MARCO 50
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d’Or, é reconhecido nacionalmente. Mas eu me apaixonei pelo italiano Fontana, que ocupa um espaço térreo no centro do edifício, incluindo um pátio interno lindíssimo, com mesas dispostas em torno da fonte do Biltmore, em meio à vegetação. E atividades extras não faltam: além do golfe e do spa, o hotel tem um centro de fitness superequipado que oferece aulas de pilates, zumba, ioga, spinning, etc. E tem também a sua própria Academia Culinária, que oferece cursos para adultos e crianças. Como o público infantil é assíduo nas aulas de culinária, você provavelmente irá encontrar alguns pequenos vestidos de chefs pelos corredores do hotel. Faceiros e realizados! O quarto em que nos hospedamos era maravilhoso. Um apartamento, na verdade. Sala de estar ampla e charmosa, uma grande sala de banho com bancada de duas pias, um dormitório com duas camas tamanho casal, um closet e um ambiente com frigobar e duas poltronas diante das janelas, que nos ofereciam uma bela vista dos jardins. A decoração é toda clássica, com móveis de estilo e cores neutras. Orquídeas naturais complementam a agradável ambientação. WWW.BILTMOREHOTEL.COM
DA PAISAGEM DO SUL DE MIAMI. NA GASTRONOMIA, DESTAQUE PARA O ITALIANO FONTANA Estilo Zaffari
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O EPIC OFERECE CONFORTO, CHARME, LOCALIZAÇÃO EXCELENTE, VISTAS LINDÍSSIMAS PARA O SKYLINE DE DOWNTOWN E O RIO MIAMI, ALÉM DOS RESTAURANTES ZUMA E ÁREA 31
Quem guardou na cabeça aquela imagem de Miami Downtown de uns 20 anos atrás e por isso evita percorrer essa região da cidade não sabe o que está perdendo... Afirmo convicta que hoje Downtown é uma das áreas mais interessantes de Miami. Lá estão instalados alguns dos melhores e mais badalados restaurantes, vários hotéis bárbaros e também o Brickell City Centre, novíssimo shopping center que reúne as marcas mais nobres do universo da moda e do consumo de luxo. O problema de segurança, que apavorava todos os turistas, já não existe. Passear a pé pelas avenidas de Downtown é uma delícia, especialmente no entorno da Byscaine Avenue e junto às margens do Rio Miami. O vai e vem das megalanchas e iates é a cara da cidade mais glamourosa da Flórida, diversão garantida.
HOTEL EPIC O Epic reúne qualidades que qualquer viajante exigente sabe apreciar. Moderno e descolado, o hotel tem sempre muito movimento no lobby, pois além dos hóspedes circulam por lá os frequentadores do Zuma, restaurante instalado no térreo, à beira do rio Miami, ou do Area 31, restaurante que fica no andar da piscina do Epic. Em suas idas e vindas através do lobby você com certeza vai encontrar mulheres e homens megaproduzidos, algumas celebridades e os turistas, claro, vindos de todas as partes do mundo. Apesar de 52
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badalado, o hotel acolhe muito bem famílias com crianças e oferece conforto para diferentes perfis de hóspedes. Os quartos têm um tamanho ótimo e decoração contemporânea, bonita e funcional. O banheiro da nossa suíte era excelente, com banheira, box, uma bancada ampla com duas pias. Estar em um andar alto neste prédio que se debruça sobre o rio Miami é garantia de vistas lindíssimas. Da sacada do nosso quarto podíamos ver uma porção do skyline de Downtown, que fica especialmente bonito com as luzes da noite. Já do restaurante instalado no andar da piscina, a vista engloba os prédios do entorno e também o rio e suas embarcações. Impossível não tirar mil fotos. A área da piscina é puro charme e deleite, tem uma atmosfera cool que é a cara de Miami: mobiliário de design, música lounge tocando ao fundo (inclusive muita MPB), gente jovem e bonita, drinks e vistas espetaculares, já que as piscinas ficam num andar bem alto. Outro atrativo do hotel é que ele fica a confortáveis distâncias a pé de várias atrações de Downtown. Dica: dê uma voltinha pela região, vá conhecer o novíssimo hotel East, o hotel W com seus pilares que são esculturas de rostos, o restaurante Cipriani, tire fotos no calçadão à beira d’água, observe os belos prédios comerciais, as esculturas nos jardins. Downtown é um show! WWW.EPICHOTEL.COM
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Miami Downtown é um show!
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NATUREZA E SOSSEGO NA PRAIA DO ST. REGIS BAL HARBOUR. DA SACADA, SEMPRE UMA VISTA ARREBATADORA. DENTRO DO HOTEL, LUXO E SERVIÇOS DE ALTO PADRÃO
Norte: a melhor região de Miami Beach Arranha-céus de estilo arquitetônico contemporâneo dominam a faixa litorânea de Bal Harbour, seguramente uma das regiões mais sofisticadas de Miami. Localizada ao norte de Miami Beach, Bal Harbour é reconhecida pelos inúmeros resorts e condomínios luxuosos à beira-mar, pela bela extensão de praia e, sobretudo, pelo Bal Harbour Shops, shopping que reúne boutiques e lojas de grifes mundialmente famosas. Dentro do shopping e nos requintados hotéis da região estão instalados vários restaurantes de grande renome, reconhecidos pela qualidade de sua gastronomia.
HOTEL ST. REGIS BAL HARBOUR São raros os hotéis que merecem nota 10 em todos os quesitos. O St. Regis Bal Harbour é um deles. Impecável em termos de localização, conforto, atendimento, qualidade das instalações, gastronomia, estrutura de praia e de piscina, requinte e padrão estético de suas dependências, o hotel é realmente encantador. Ficamos hospedadas em um apartamento enorme, moderno, lindo, com sacada de frente para o mar e composto de muitas peças: vestíbulo, uma ampla sala de banho com banheira e box, walk-in closet, dormitório com cama king, um estar com sofá confortável, minicozinha e a belíssima
sacada com suas chaise longues que convidam à contemplação. A vontade, claro, era de se instalar ali por uma longa temporada. Infelizmente, foram apenas duas noites, ambas curtidas ao máximo dentro do hotel e no seu entorno. A localização do St. Regis é ótima. Na minha opinião, o hotel fica em um dos melhores trechos de praia de Miami, tranquilo e exclusivo. Pra completar, está diante do Shopping Bal Harbour, famoso por suas lojas de grifes internacionais e também por oferecer ótimas opções de restaurantes e cafés. Uma de nossas manhãs foi dedicada à praia. Que delícia curtir o sol e o mar com todo o conforto que o St. Regis proporciona: espreguiçadeiras, guarda-sóis, toalhas fofas, água gelada, frutas e um atraente cardápio de bebidas e comidinhas. Tudo megaorganizado e entregue aos hóspedes por uma turma de rapazes atenciosos, gentis e sorridentes. Mais do que o conforto, porém, me apaixonei pela tranquilidade dessa praia. Não há música ou agito, o que você escuta são os ruídos da natureza. Não há superpopulação ou um monte de gente circulando, há espaço de sobra e privacidade. WWW.STREGISBALHARBOUR.COM
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Restaurantes
POR MILENE LEAL
Que belíssima experiência jantar no La Mar! Seguramente foi o ponto alto da viagem em termos gastronômicos. Com a assinatura do prestigiado Gaston Acurio, o La Mar oferece uma culinária peruana autêntica, porém muito criativa e inovadora, que em determinados pratos flerta com a cozinha oriental. O resultado é uma mescla inesquecível de sabores, servidos em um espaço com decoração contemporânea, muito charmoso e agradável, com vista para a Biscayne Bay. O La Mar está instalado dentro do hotel Mandarim Oriental e conta com diferentes ambientes, internos e ao ar livre. À noite a luz é difusa, a música se faz mais presente e os três bares ficam bem badalados. Nosso jantar foi impecável e o atendimento idem. Pedimos diversos pratos para compartilhar entre as três pessoas à mesa, e foi ótimo poder experimentar os diferentes sabores do restaurante. Recomendo os ceviches, todos deliciosos, os tiraditos (o nikkei é maravilhoso), os arrozes (provamos o chaufa aeropuerto, excelente), as causas... e ainda as sobremesas “beso de moza” e “el chocolate en texturas”, ambas espetaculares. Ah, para dar início à noite tomamos um Pisco Sour, entrando no clima peruano. WWW.MANDARINORIENTAL.COM/MIAMI/FINE-DINING/LA-MAR-BY-GASTON-ACURIO/
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LA MAR
UM ROTEIRO PELO MELHOR DA GASTRONOMIA DE MIAMI
QUINTO LA HUELLA
POR MILENE LEAL
Como fã do La Huella de Jose Ignacio, no litoral uruguaio, fui conferir o novo restaurante de Miami cheia de expectativa, mas também de temores. Será que conseguiriam reproduzir a atmosfera despojada e ao mesmo tempo chique do La Huella original? Será que os pratos que me acostumei a degustar no Uruguai e que são típicos da culinária sul-americana estariam no cardápio? Pois devo dizer que o Quinto La Huella me surpreendeu muito, e de forma totalmente positiva. Pra começar, o restaurante é lindo. Ele está instalado no quinto andar do novíssimo hotel East, em Downtown Miami, e se espalha gostosamente por diversos ambientes, incluindo um belíssimo terraço. Depois vem o atendimento, outro ponto alto. O garçom que nos atendeu era um italiano residente em Miami, educado, gentil, sorridente, prestativo e muito bem informado sobre as opções do restaurante e o estilo da cozinha. Estávamos em três pessoas e pedimos pratos bem diversos: peixe, carne de gado, vegetais. Todos estavam muito gostosos. Comi inicialmente uma tarta de cebola ao vinho tinto com queijo de cabra e salada de rúcula. Divina! Depois pedi um saboroso tartare de peixe (Crudo Siciliano), que também era uma entrada, mas que satisfez totalmente o meu apetite. Uma das pessoas do nosso grupo comeu um Filé de Merluza a la Plancha, leve e delicioso. E a outra pediu uma Milanesa, honrando a tradição da culinária uruguaia. Comemos divinamente. Pulamos a sobremesa, mas foi com muito pesar... as opções são todas encantadoras. Adoramos o Quinto La Huella e ficamos com vontade de voltar à noite, para curtir o restaurante em um momento mais badalado e também para experimentar outros pratos. Ah, o bar do Quinto é um charme à parte, lindo, amplo e muito convidativo.
WWW.QUINTOLAHUELLA.COM
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PAO BY PAUL QUI
POR MILENE LEAL
Simplesmente amei o restaurante, que foi uma grata surpresa e reúne muitos atrativos, da decoração à comida. A ambientação do PAO é muito diferente, com um quê de exotismo, um tanto de luxo e toques de tropicalidade. Charmosa e cheia de personalidade. O atendimento é impecável, nota 1000 para esse quesito. Já que os pratos do menu são bastante diferentes do que você está acostumado a encontrar por aí, a equipe destaca pessoas para esclarecer todas as dúvidas que o cliente possa ter. Um rapaz gentil e sorridente nos atendeu, explicou cada prato, fez sugestões e inclusive nos impediu de pedir comida demais, ponderando nossas escolhas. Foi dele também a sugestão do vinho branco que tomei durante o jantar, e que tinha uma excelente relação custo-benefício. O Pao pratica uma cozinha asiática moderna, com influências internacionais. Compartilhamos uma entrada de “folhas grelhadas”, que foi uma das mais maravilhosas saladas que já comi na vida. Uma total surpresa, pois o sabor era incrivelmente delicioso. Os pratos principais também estavam saborosíssimos. Nossa conta não foi alta, especialmente levando em conta o padrão do restaurante e a qualidade da comida. Adorei e recomendo muito! WWW.FAENA.COM/MIAMI-BEACH/RESTAURANT/PAO-BY-PAUL-QUI/
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MATADOR ROOM
POR LUCIANE GARCIA
Dividido em dois ambientes, este é hoje um dos top restaurantes de Miami. Lá, além de se comer bem – muito bem – é um ponto de encontro de celebridades. Na parte interna, um salão com reminiscências do estilo art déco. Destaque para o lustre branco que lembra um polvo, herança do antigo hotel Seville, que funcionava no mesmo prédio e que tinha um salão chamado Matador. No lado de fora, um jardim com pequenas luzes e velas, que remete a lugares de Havana. O cardápio, assinado pelo superchef Jean-Georges Vongerichten, não desaponta. Surpreende. Aqui ele reinventa sua cozinha, levando-a para os sabores latinos. Peixes frescos com misturas de pimentas e sucos e pratos tipo tapas, para compartir, são parte do menu. WWW.MATADORROOM.COM/ABOUT/MATADOR-ROOM
CASA TUA
POR LUCIANE GARCIA
Sem placa na rua, discreto como a casa de um amigo. Quem passa pela frente nem nota que naquelas paredes revestidas com heras bem verdinhas está um dos restaurantes mais deliciosos e charmosos de Miami Beach. Tudo é decorado com muito bom gosto, como numa casa mesmo. Quadros, livros, pequenos objetos e música gostosa. O cardápio é italiano, requintado, com maravilhosas opções de vinhos. Como a temperatura ajuda, na rua também tem um jardim, super-romântico. É um lugar ideal para ir a dois ou para bater papo com os amigos. Não deixe de provar o fettuccine com lascas de trufas. E não deixe de reservar, pois está sempre lotado. WWW.CASATUALIFESTYLE.COM/
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THE BAZAAR
POR JULIANA DRUCK SOUTO
Um dos restaurantes do hotel SLS, em South Beach, o The Bazaar é comandado pelo premiado chef de origem espanhola José Andrés. Oferece pratos inovadores e criativos, servidos em pequenas porções para serem compartilhadas (tapas), o que permite experimentar um série de pratos do cardápio. Com decoração de Phillipe Starck, o ambiente é alegre e o clima é informal e agradável. O cardápio é amplo, com muitas opções de peixes e frutos do mar, tanto com preparo cru como cozido, legumes em receitas criativas e saborosas, além de presuntos e queijos espanhóis. O atencioso e simpático garçom, a partir das nossas preferências e gostos, nos guiou pelo cardápio sugerindo a combinação de pratos mais aprazível ao nosso paladar e a sua melhor sequência. Os pratos são surpreendentes pelas suas inovadoras e inusitadas apresentações, além de terem textura original e sabor apurado. Sugestões: LN2 Caipirinha (caipirinha congelada com nitrogênio líquido; a preparação é feita à mesa), Ferrán Adriá Modern and Traditional Olive (azeitonas com texturas surpreendentes), Dragon Fruit Ceviche (ceviche de atum), Traditional Sui Mai (dumpling de porne camarão), Octopus Romesco (polvo grelhado) e Secreto Iberico de Bellota (corte de carne de gado extremamente macia e saborosa, com purê de batatas). WWW.SBE.COM/RESTAURANTS/LOCATIONS/THEBAZAAR-SOUTHBEACH
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BH BURGUER BAR
POR JULIANA DRUCK SOUTO
Em julho de 2016 nos hospedamos no St Regis Hotel, na região de Bal Harbour, e uma ótima surpresa foi o BH Burger Bar, um dos restaurantes do hotel. O ambiente informal é de um dinner da década de 50, com destaque para os estofados (booths) em couro vermelho. Combina perfeitamente com o cardápio de hambúrgueres, cachorros-quentes, milk-shakes e outros típicos lanches americanos. O horário de funcionamento permite tanto um almoço tarde, para quem quiser aproveitar bastante a praia, como um jantar cedo, que se encaixa na rotina de quem tem filhos pequenos, como os meus. O diferencial do cardápio é a possibilidade de combinar os ingredientes e personalizar o seu hambúrguer gourmet. A carne (que já se diferencia por ser mais alta) pode ser escolhida entre a moída tradicional ou a de wagyu beef (carne marmorizada, saborosa e macia). Os pães variam do amanteigado brioche, passando pelo tradicional pão com gergelim, pelo pão sem glúten e há até uma opção sem pão (substituído por uma cama de alface americana). As opções de queijos são inúmeras, como gouda, suíço, roquefort e burrata. Os demais ingredientes são bem variados também: cebola, tomate, alface, bacon, ovos (organic free range eggs), abacaxi, pimentões ou cogumelos grelhados. Há, por fim, molhos especiais e secretos, sendo um deles trufado. E tudo acompanhado de uma batata frita sequinha e macia. WWW.STREGISBALHARBOUR.COM/BHBURGERBAR
OUTROS RESTAURANTES QUE VALE A PENA CONHECER: CECCONI’S (Miami Beach) BEACHCRAFT (Miami Beach) JUVIA (Lincoln Rd Miami Beach) QUATTRO (Lincoln Rd Miami Beach) MILO’S (Miami Beach) PRIME 112 (Miami Beach) MANDOLIN (Design District) VERDE (Perez Museum) KOMODO (Downtown) SEASPICE (Downtown) CIPRIANI (Downtown)
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O ESPETACULAR C’EST ROUGE Um show no melhor estilo dos cabarés franceses, apresentado no Teatro do Hotel Faena, em Miami Beach, com música ao vivo e performances arrebatadoras. Dança, música, canto, acrobacia e sensualidade, tudo com muito bom gosto e um alto padrão técnico. As coreografias, os figurinos, os bailarinos e performers são impecáveis, assim como os cenários e a iluminação. O resultado é um espetáculo que prende a atenção do início ao fim, que surpreende, diverte e encanta. Como afirma o material de divulgação, “C’est Rouge mescla entretenimento, humor e beleza para apresentar a habilidade do corpo humano de criar inspiradoras performances”. Os shows acontecem às quintas, sextas e sábados e o teatro é também um show: vermelho é a cor dominante, associada ao dourado e aos cristais. Dica de programa nota 10: assistir ao C’est Rouge e depois jantar no restaurante Pao, dentro do mesmo hotel. FAENA THEATER AT 32ND STREET AND COLLINS AVENUE
ROTEIRO E ORGANIZAÇÃO: DIÁRIO DE BORDO WWW.DIARIODEBORDO.TUR.BR LGARCIA@DIARIODEBORDO.TUR.BR 51 3314.8600
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Equilíbrio C H E R R I N E
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MELINDRES NÃO, POR FAVOR!
Trabalhando com um processo de reeducação comportamental há mais de dez anos, pude observar um traço de personalidade em algumas pessoas que normalmente as afasta do convívio social e ainda as faz perder muito em termos de conquistas, seja no âmbito pessoal ou profissional. Este traço se chama “melindres”. Sabe quando você convive com alguém que o tempo todo se coloca na defensiva, fazendo você ter que repensar mil vezes antes de dizer alguma coisa? Ou o tempo todo busca formas de negativar situações e relacionamentos? Que o tempo todo deprecia as atitudes alheias sem fazer um autoestudo? Que faz questão de dizer “não levo desaforo para casa”? Pois bem, essas pessoas podem ser chamadas de melindradas. São aquelas que normalmente sugam nossas energias e deixam sempre o clima pesado, nos fazendo o tempo todo ter medo do que falar e de como agir, por não saber qual será a sua reação. Pessoas que agem dessa maneira, em sua maioria, são descontentes com a vida. Nada para elas é satisfatório ou prazeroso. São pessoas que não aceitam “nãos”. Dificilmente se colocam no lugar do outro. Acham que difamação e discórdia fazem parte do convívio entre as pessoas e não veem mal algum em falar mal dos outros. Talvez assistam a muitas novelas! Ao mesmo tempo que quem consegue se dar conta das deficiências comportamentais dessas pessoas procura ao máximo não se envolver ou se relacionar com elas, muitas vezes acaba sendo atingido direta ou indiretamente. Quando nos deparamos com essa pose de força e superioridade, temos em contrapartida a certeza de que se trata de alguém triste, fraco, com uma autoestima baixa e que tem atitudes como essas para conseguir chamar a atenção. E o que fazer nesse caso? Como conseguir se desvencilhar da aproximação de pessoas que já de cara nos mostram traços comportamentais como esses? Se a pessoa em questão faz parte da sua família, a possibilidade de distanciamento é mais difícil (mas não impossível). Se faz parte de um grupo de amigos, o jeito é se afastar desse grupo para não ser contaminado pelo tipo de energia que ela emana, mesmo que isso implique se afastar até de lugares ou outras pessoas com as
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quais gostaria de estar. Temos que partir do pressuposto de que se você não se sente à vontade com as atitudes dessa pessoa e ela te incomoda, então, não tem por que seguir convivendo com ela. E que se outros amigos optam por esse convívio, cedo ou tarde apresentarão traços similares. Se há algo que prezo muito, como um valor pessoal, é a educação. Falar eventualmente sobre a atitude de alguém, por mais que não seja o adequado, acaba sendo inevitável. Mas usar isso como um argumento para difamar, tratar mal, desrespeitar, ser ingrato e grosseiro, isso para mim é inadmissível. Como preceito moderador, até para tudo o que escrevi, há também algo válido a reforçar. Se porventura você está recém chegando a um local ou a um grupo e uma pessoa começa a falar mal de alguém para você, primeiro: duvide da índole dessa pessoa. Se ela fala mal de outro para você, falará mal de você para os outros. E segundo: duvide sempre! Muito provavelmente, ao você tentar se aproximar daquele que recebe a difamação poderá ver se o que ouviu tem fundamento ou não. É importante saber tirar suas próprias conclusões. Os melindrados normalmente querem se destacar e ter o todo para si. Não sabem dividir e dificilmente aceitam rejeição. É um perfil de pessoa que infelizmente não agrega e não sabe conviver em grupo, por sempre se achar melhor que todo mundo, mas no fim, vive sozinha. A coluna desta edição vem como um alerta. Quando se vir diante de situações como as citadas, corra rapidinho na direção oposta. Do contrário, poderá se sentir fadigado, cansado, esgotado, triste e talvez nem tenha se dado conta do porquê. A resposta pode estar aí: no convívio com pessoas de estima baixa e que para “serem felizes” não podem ter ao lado ninguém mais feliz que elas. Quem precisa desse tipo de amizade, não é mesmo? ;). JORNALISTA COM ESPECIALIZAÇÃO EM PUBLICIDADE & PROPAGANDA E MARKETING. INSTRUTORA DO MÉTODO DEROSE EM PELOTAS. www.metododerosepelotas.com
Sampa C R I S
B E R G E R
A capital paulista se classifica no tipo de cidade em que podemos voltar inúmeras vezes e sempre terá algo novo a ver e experimentar. Mesmo quem mora nela vive a constante “necessidade” de estar atualizado: é a dica de um amigo a conferir, o review de um expert em gastronomia, a novidade do bairro que acaba de abrir ou aquele clássico do outro lado da cidade que é imperdível. Listei alguns passeios consagrados, que merecem a sua visita, e sabores que definitivamente você deve provar.
paulistano
rolê
O Beco do Batman, na Vila Madalena, foi ganhando mais e mais notoriedade ao passar dos anos – ele foi “inaugurado” na década de 80. Hoje, é um ponto turístico básico. Fazer uma selfie, com seus muros coloridos como cenário de fundo, faz parte do programa. Ele fica entre as ruas Gonçalo Afonso e Medeiros de Albuquerque. Anos atrás, os carros podiam transitar por suas ruelas. Agora, apenas pedestres. A proposta é caminhar e admirar os grafites “tribacanas” que tomam conta de todos os muros, postes e parte do chão.
CRIS BERGER É JORNALISTA E ESCRITORA
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crisberger@crisberger.com
O Masp (Museu de Arte de São Paulo), além de entregar arte aos paulistanos, é um dos mais importantes cartões-postais da metrópole. Localizado na Avenida Paulista, outro marco da cidade, foi projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi com quatro grandes colunas vermelhas e uma área livre de 70 metros entre elas. Este vão imenso vira ponto de encontro de lazer e cultura e oferece uma bela vista para a Avenida Nove de Julho e centro. Aos domingos, o trânsito para carros é fechado. A ciclovia, que funciona todos os dias, passa em frente ao museu.
Toda vez que vou ao bairro da Liberdade sinto que viajo para outra cidade mesmo estando em SP. Não são apenas as luminárias, características do Japão, que me remetem a este “outro mundo”, mas principalmente a sua gente. Maior reduto de japoneses em São Paulo e colônia no mundo, a Liberdade oferece aos visitantes o comércio de rua com produtos típicos e um sem-fim de restaurantes japas, é claro. Sua vibe é contagiante.
Sampa também é conhecida por ter um roteiro gastronômico que não perde em nada para as principais capitais do mundo. Selecionei bons motivos para seduzir seu paladar. Vamos começar com o bom e velho pastel de feira. Todos os dias da semana, há uma feira livre em diferentes bairros da cidade. O Ser Cozinha Contemporânea serve um bacalhau confitado em cima da batata doce que é de levitar. Pequeno, charmoso e intimista, fica nas arborizadas ruas da Vila Nova Conceição. O novo Marakuthai Kumbukha abriu suas portas em fevereiro de 2017 na Alameda Lorena, nos Jardins, e traz no seu criativo cardápio de sabores thai, peruano e brasileiro, os refrescantes e saborosos Noodles. No quesito sobremesa, o Galuska arrasa com o delicado souflê de goiabada. Saboreá-lo do alto da cidade – ele fica no terraço do shopping Cidade Jardim, que tem uma vista interessante da Marginal Pinheiros e skyline paulista – é um programa definitivamente saboroso. E para encerrar, vale dar uma passada, ao entardecer, no bar do Skye, que está na cobertura do hotel Unique. Badalado e frequentado por quem quer ver e ser visto, tem uma vista bárbara das antenas da Paulista.
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Objetos que contam histรณrias
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ME MO RA BI LIA
A decoração carrega muito das experiências e das vivências dos donos da casa. Histórias e lembranças, por vezes eternizadas em objetos que simbolizam algo, remetem a alguém querido ou trazem de volta um momento feliz. Os lares mais acolhedores – e encantadores – são aqueles que, em cada canto, revelam um tantinho da personalidade de seus moradores. De um jeito delicado e próprio, os personagens desta matéria apresentam ao observador seus interesses e suas descobertas. Objetos que ajudam a refrescar memórias – a chamada Memorabilia – podem parecer apenas detalhes. Mas é nessas pequenas sutilezas que vivem os maiores tesouros da decoração. P O R F OTO S
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M A R C E LO
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Herança de família
Luciana Chwartzmann mostra, com orgulho e alegria, um livro bem antigo. Capa dura e folhas amareladas que revelam a passagem do tempo. É o livro de receitas de sua mãe. “Logo percebi que este livro contém um tanto da minha história, minha raiz, meu ponto de partida para um caminho rico e criativo feito por ela e que eu usaria como pano de fundo para a minha própria criatividade”, explica Lu. A relíquia é um dos xodós de sua casa. E é na cozinha que a ausência de uma pessoa tão especial se faz presente. O caderno de receitas tem mais de 45 anos e carrega um legado de família. “Ali estão os conhecimentos adquiridos pela minha mãe com minha avó paterna, vinda da Rússia, que por um tempo morou em nossa casa em Passo Fundo”, conta. Além disso, registros de receitas da TV e o passo a passo das delícias que ela trocava com amigas, vizinhas e tantas ou-
tras pessoas. “Era como se ela quisesse contar histórias por meio daquelas receitas. Então, ao lado de cada título escrevia, entre parênteses: ‘Torta Suzana’, ‘pão caseiro Ofélia’, ‘bolachinhas: as que sempre faço’”, derrete-se Luciana. Com o livro na mão, ela assume: “Não desenvolvi dom para a gastronomia”. Mas Lu sabe direitinho suas receitas preferidas. “Uma delas é a cuca ligeira, que é realmente rápida de fazer. Poucos ingredientes, o azedinho do iogurte natural, a crocância da farofa. Tudo me encantava nesta receita. E a rapidez de fazer a cuca foi a mesma rapidez da presença da minha mãe na minha vida. Como uma cuca bem ligeira, ela deixou essa herança maravilhosa em que hoje acrescento pitadas de memórias de uma infância feliz, para contar para minhas filhas sobre isso tudo que mora dentro de mim”, emociona-se.
EM UM ANTIGO LIVRO DE RECEITAS, MEMÓRIAS DE INFÂNCIA, REGISTROS DE SABORES INESQUECÍVEIS, DE PESSOAS QUERIDAS, DE UMA AFETUOSA HISTÓRIA DE VIDA EM FAMÍLIA 70
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Guia do coração
Os olhos estão no mundo. Mas o coração sempre traz de volta para casa. Fernanda Costa Gama é assim. À frente da plataforma digital Spice up the Road, ela viaja inúmeras vezes ao ano para os mais diferentes destinos, em busca de experiências que enriquecem qualquer conversa. Porém, conhece e valoriza o reencontro. Com o próprio lar. Com a família. Com os amigos. Na mesa de centro da sala de estar, Fernanda tem, entre outros objetos decorativos, uma bússola. Detalhe que chama a atenção à primeira vista. Esse é um presente de aniversário de casamento que ela trouxe de Florença para o marido, Alexandre, e que carrega significado forte. “A bússola guia os navegadores em suas viagens. E a bússola, quando dentro de casa, guia a família. Tornou-se o símbolo do nosso norte”, ela explica, com emoção.
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Para contar histórias
“O que importa mesmo é que tenha uma boa história.” Esse é o critério para escolha dos objetos e móveis do apartamento de Marcelo Schambeck. Cada peça de decoração ali presente rende papo. Sobre um lugar. Sobre um alguém. Sobre um momento. E aí a conversa rola. É o caso do remo apoiado na parede da sala de estar. Em uma viagem a Paraty, no Rio de Janeiro, após estacionar o pequeníssimo carro alugado, Schambeck passou pela frente de uma loja de artigos de pesca. Ali, exposto ao lado de redes, cordas e muitos apetrechos para quem vai ao mar, estava um belo remo talhado em madeira, herança viva da cultura caiçara. Amor à primeira vista. Ele avistou o remo quando ainda estava do outro lado da rua. Ao chegar mais perto nem teve dúvidas: “Vou levar para Porto Alegre”. O remo viajou até a capital carioca dentro do minúsculo automóvel, para então seguir seu destino. Já no aeroporto, na fila do quiosque para embalar e lacrar a bagagem, as atendentes observaram a peça com espanto e comentaram entre si, bem sinceras: – Qual é a coisa mais estranha que tu já embalaste por aqui? – Às vezes eu embalo berimbaus para turistas. Mas isso aqui é a coisa mais estranha com certeza! O remo ocupa lugar de destaque na sala, ao lado de um quadro de Heloísa Crocco e dos azulejos de Athos Bulcão. Sem deixar de citar o broto de araucária seco que nasceu de um pinhão cravado num pote com terra na sacadinha do apê. “Mas aí já começam outras histórias”, brinca Marcelo.
O REMO ENTALHADO EM MADEIRA CONQUISTOU À PRIMEIRA VISTA O MORADOR DESTA CASA. NA SALA DELE, CADA OBJETO NÃO SÓ ENFEITA COMO CONTA HISTÓRIAS DELICIOSAS
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Símbolo de amizade
Karin Fiori Hagemann mexe cuidadosamente no organizador de feltro de lã que fica ao lado do sofá da sala de estar. O cesto é uma peça única feita a partir da técnica milenar da feltragem, pelas mãos de Ines Schertel, reconhecida designer que encontrou no handmade a melhor maneira de aproveitar a lã das ovelhas criadas por ela e o marido, Neco, em São Francisco de Paula. Esta história Karin viu de perto acontecer: Ines é sua amiga desde a adolescência. O cesto fica ao lado da poltrona de leitura. “Coloco ali os jornais e as revistas. Então, acabo usando este objeto tão especial todos os dias em meus momentos de descanso, lendo e ouvindo uma música”, comenta. As pesquisas de Ines sobre feltragem se iniciaram quando ela ainda morava em São Paulo. “Sempre tive muito prazer em acompanhar a evolução e o reconhecimento do trabalho da minha amiga. Quando Ines visitava Porto Alegre ela ficava na minha casa, assim como eu ficava na casa dela em São Paulo. Com isso, muitas peças iam e vinham, passando por aqui. Era um jeito de ajudar minha amiga e eu me sentia participando desse processo todo. Até que um dia ela chegou com este cesto organizador de presente”, conta. A peça é símbolo de uma amizade, longa, duradoura e sólida. “A lã, depois de feltrada, aguenta todas as intempéries e não se destrói, assim como a amizade que eu tenho pela Ines”, afirma Karin.
MUITO MAIS DO QUE UM OBJETO ÚTIL E BONITO, O CESTO DE LÃ FEITO DE FORMA ARTESANAL SIMBOLIZA UMA LONGA E SÓLIDA AMIZADE
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Ícone de pertencimento
Diana Werner sempre manteve viva na memória a sensação deliciosa de ficar deitada naquele enorme tapete preto, objeto decorativo que circulou pelas casas de seus familiares ao longo dos anos. Por último, ficava na casa de praia dos avós. “Até que decidimos levá-lo para a nossa casa. E de lá nunca mais saiu.” O tapete preto, com seus bordados florais em tons claros, é uma lembrança concreta dos momentos de Diana em família. “E isso me traz a sensação de continuidade e também de pertencimento.” Prato cheio para quem adora a casa cheia (como é o caso de Diana): se o sofá não é suficiente para receber todo mundo, não demora até que o primeiro convidado sente ou deite no tapete para seguir o papo, tomar um vinho ou ouvir boa música. É o lugar preferido também do mascote Swell, um labrador preto que, com alguma frequência, é confundido com o próprio tapete. “E como poderia ser diferente? O tapete é bem peludo. É bem fofo, porém firme pela altura. Não é raro as pessoas tropeçarem no cachorro”, diverte-se.
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Parede de lembranças
O arquiteto Lucas Obino demorou até decidir o que colocar na enorme parede da sala. Com a esposa Carolina – que também é arquiteta –, mora num duplex no bairro Moinhos de Vento, onde o pé-direito duplo dá a sensação de amplitude, realçada pelo branco dos móveis e pelo tom minimalista do ambiente único. “Estivemos em algumas galerias de arte buscando algo para aquela parede. Porém, não encontrávamos algo que realmente tivesse significado e não fosse apenas decorativo”, comenta. Em uma viagem a Paris, o casal visitou o Centro Georges Pompidou, ícone da arquitetura contemporânea. “E que, por acaso, naquele período recebia uma exposição sobre a obra do arquiteto Le Corbusier. Ao final do passeio, compramos o pôster da exposição como souvenir. E aí começamos a nossa coleção”, relembra. Quem entra no apartamento inevitavelmente para em frente à grande parede da sala e fica tentando desvendar qual é a obra arquitetônica célebre apresentada em cada um dos quadros. São pôsteres que trazem referências da arquitetura de diferentes prédios pelo mundo afora. “Nossos roteiros de viagem sempre incluem visitas aos edifícios locais consagrados. Pois, além de ser nosso trabalho, arquitetura é lazer também”, diverte-se Lucas. Ao lado do Centro Pompidou, a coleção inclui pôsteres da Villa Savoye, da Unite d’ Habitacion, do Pavilhão Barcelona, além de um belo pôster da coleção de cadeiras Vitra, adquirido na sede da empresa, na Basileia. Cadeiras que, certamente não por acaso, compõem a mesa de jantar do loft.
ALÉM DE BELA, A PAREDE REÚNE MEMÓRIAS E PAIXÕES DE UM CASAL DE ARQUITETOS. SÃO PÔSTERES DE PRÉDIOS, EXPOSIÇÕES, DESIGN E ARQUITETURA ADQUIRIDOS EM VIAGENS PELO MUNDO
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COMIDA E VIDA
Há 2000 anos Petrônio (Satiricon) contou da Viúva de Éfeso prostrada sobre o marido morto, determinada a não mais comer ou beber e só chorar até morrer sem que ninguém conseguisse dissuadi-la da desdita infligida. Eis que no cemitério um sentinela que guardava um ladrão crucificado se compadeceu da viúva e tentou confortá-la insistindo na sua companhia, seu farnel e suas palavras: “Por que manter o luto inútil, os soluços vãos, se o mesmo fim, o mesmo local de repouso aguarda a todos?”. O sentinela era persistente: “Para que entregar o espírito antes que o destino exija? Por que não desfrutar da luz enquanto possível? O próprio defunto parece tentar convencê-la a reagir”. No texto, “ninguém pressionado a comer e viver ouve de má vontade”, e a viúva, após cinco dias de jejum e pranto, comeu e bebeu com avidez. O sentinela, “sabedor da tentação que acompanha o estômago cheio”, seduziu a viúva, seguindo-se não uma, mas três esplêndidas noites de amor. A sepultura virou alcova. Um soldo inteiro foi investido na bebida e comida dos festejos do casal. Impossível amar e vigiar ao mesmo tempo. O cemitério ficou desguarnecido e o ladrão foi removido da cruz por familiares. O sentinela entrou em desespero; à desonra da punição preferia o suicídio. Foi a vez então da viúva acudir: “Melhor crucificar o morto para salvar o vivo!”. E o corpo do marido acabou pendurado na cruz. A viúva de Éfeso é um exemplo de elaboração do luto, triunfo dos nossos dois principais impulsos vitais – comida e sexo – sobre a morte. Guardadas as devidas desproporções da sátira, expõe a relação da tristeza com a renúncia ao apetite e a recuperação conjunta de ambos. O morto não come, o enfermo come pouco, o saudável goza um, melhor, goza dois apetites. Não é por outra razão que tantos ritos funerários incluem refeições. Demarca-se, para usar um termo atual,
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um muro entre o mundo dos vivos, que comem (e copulam), e o mundo dos mortos que são comidos; apartam-se os que sentem prazer (e dor) dos que nada mais sentem. Nascemos sob o imperativo “crescei e multiplicai-vos”, comer e reproduzir. Poucos dias sem comida e o indivíduo morre, poucas gerações sem sexo e a espécie morre. A cópula é o alimento da espécie. Eros a se contrapor a Tanatos, natural que os universos alimentar e sexual sejam tão intermeados, compartilhem as premências, gratificações, receptores neuronais, anatomia, vocabulário e metáforas. Na língua materna da gastronomia, passer a la casserole significa ter relações sexuais. O glutão tem paixão pela comida, o apaixonado tem fome de amor. Há quem fale em orgia gastronômica, bulimia sexual ou estupro alimentar. Conheço quem oponha à alimentação orgânica a orgástica. Triunfo dos apetites vitais sobre a morte iminente é notável o último desejo do guilhotinado na Place de Gréve em 1860, “um pernil de ovelha e uma mulher”. As presenças alimentar na sexualidade e sexual na alimentação são universais e remontam aos primórdios da civilização. Especialistas que estudavam os blocos sumerianos de Uruk em 1977 se depararam com a frase: “Colocou um peixe quente no seu umbigo”. Conhecendo a erotização do umbigo na região (Bíblia inclusive) e as imagens dionisíacas do pênis-falo (o it. pesce é sinônimo de cazzo), a tradução ficou óbvia. No primeiro legado escrito conhecido o sexo já era um tabu a exigir imagens alimentares. O mito fundador judaico-cristão não é tão mítico e pode ser traduzido como ‘papai e mamãe jantaram e depois copularam para me gerar’. A ascensão do Éden se dá no binômio comida&sexo, da mordida ao fruto segue a concepção de Caim e Abel, os primeiros seres humanos gerados naturalmen-
SÓ A PAIXÃO NÃO CORRESPONDIDA TIRA O SABOR DA MANTEIGA DE AMENDOIM (CHARLIE BROWN) SEU ESTÔMAGO PENSAVA QUE FOSSE O CORAÇÃO (ERICA JONG, HALF LIFES 1973)
te. Difícil evitar o sentimento de gratidão à intermediação da serpente, “a mais astuta das alimárias”, e à ousadia de Adão e Eva em desobedecer a divindade tão poderosa para pôr em marcha nossa existência. Desde nossos pais primordiais, a refeição é vizinha do amor. ‘Seu estômago pensava que fosse um coração’ diz o verso de Erica Jong. No mundo literário, espelho do real, 90% das seduções ocorrem à mesa. Num dos seus poemas mais célebres, Catulo (Séc. I A.C.) incita Ipsilla à sesta: “Depois de um bom almoço / deitado de costas / sinto um despontar sob a túnica e lençol.” Quero quer que o menu de Catulo para satisfazer esta ‘segunda fome’ seja licença poética ou hipérbole etílica: “novem continuas futitiones” – por dois milênios leitores perplexos com as ‘nove e sem intervalos’ se indagam que condimento haveria naquele ‘bom almoço’... Se la Reyniére, patrono dos que sentem, pensam e agem pelo estômago, chegou à hipérbole de publicar as ‘Vantagens da boa comida sobre as mulheres’ – o opúsculo deveria vir em branco –, também descreveu: “Que delicioso prazer depois da comida ... invocar as Graças, os Risos e os Amores. Que encantadora forma de fazer a digestão” e continuava “se as mulheres são belas e jovens e os homens são amáveis e gulosos o resto se advinha”. Na perspectiva falocêntrica do passado, a mulher à mesa é parte do cardápio, seu corpo integra o jantar. Casanova aproxima sua cadeira das belas noviças à medida que os pratos se sucedem e escolhe carinhosamente a comida e bebida conforme a companhia. Degusta o que come antes, durante e depois do sexo e quem ama antes, durante e depois da refeição. É lendária sua harmonização de vinhos: tinto com morenas, branco com loiras, rosé com ruivas, espumante com todas. E, tal a viúva de Éfeso, Casanova foi salvo do suicídio pela comida. Visitando Londres em novembro de 1763, desistiu de se afogar no Tâmisa pela promessa de um delicioso Roastbeef servido em Convent Garden.
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Há um acasalamento entre os vocabulários da alimentação e do sexo. A palavra apetite (L. appetere, ad- ‘em direção’, petere- ‘saltar’), cognata de ímpeto (in petere), era antes relacionada a pulsão sexual. O termo grego para ‘apetite’ orexis (a-norexia, ‘falta de apetite’) é afim a orgasmo, ambos se enraízam em oregein, ‘inflar, espichar em direção a algo’. O verbo comer, tão aplicado à cópula, prioriza o uso de um corpo por outro sobre o desfrute mútuo, o prazer compartilhado. Nos idiomas germânicos (o I. eat e o Al. essen), comer se atém ao sexo oral. O tratado pioneiro de culinária (Bartolomeu de Platina, 1475) tem o título de ‘Volupia Honesta’, alusão inspirada a outra volúpia, não tão ‘honesta’ – a gula é um pecado menor que a luxúria, tantas vezes seu eufemismo ou substituto. Freud chamou a boca de órgão sexual inicial e atribuiu ao mamar uma gratificação erótica afim a nutricional. Contraponto a bouche sans dents dos franceses, haveria uma vagina dentata no imaginário do temor da castração. A ‘boca sem dentes’ tem lábios, pequenos e grandes, e inclusive língua, como no belga linwette (‘lingueta’) e no alemão schamzunglein (‘lingueta da vergonha’), o clitóris. Vagina vem de ‘vagem’, a bainha que abriga a semente, a espada e o pênis. Glande quer dizer ‘noz’ (L. glans), o fruto endurecido do carvalho. Toda glândula é uma ‘pequena glande’, a pineal lembra o pinhão. Ovo, arredondado e de função reprodutiva, também é ‘testículo’ e o mesmo ocorre com bago, o fruto do cacho de uva. Abacate vem do asteca ahuácatl, ‘testículo grande’. a conotação afrodisíaca fez do abacate a fruta predileta de Luis XIV, que o chamava de bonne poire, ‘boa pera’. A forma e consistência designaram o mamão, ‘mama grande’. Em Cuba, o nome original da fruta, papaya, assumiu de tal forma um sentido sexual – ‘mama, vagina, pênis ereto’, inclusive com o verbo papayar – que o mamão passou a ser chamado de fruta-bomba e de lechosa. Todas as cores, sabores, odores, formas e consistências alimentares se revestem de sensualidade. À primeira vista o I. pudding (pudim) não parece um bom sinônimo
para pênis. A explicação é que o termo descrevia antes a morcilha. Onde há morcilhas, salsichas, linguiças ou salames – cilindros de carne ou sangue – há o sentido fálico. Stew, outro termo inglês, significa ‘ensopado’ mas também ‘bordel’ nas relações entre ‘sopa <água quente> casa de banho > bordel’. O prazer carnal transcende a chuleta. Alimento dos poderosos e potentes (palavras gêmeas), a carne – e mais a dos animais de sangue vermelho e quente que se reproduzem por cópula – é a proteína sexual. No Genesis, a carne só é oferecida a Adão e Eva depois do pecado original, o conhecimento carnal. No estéril mundo do Éden só havia frutas e folhas. E, ao contrário dos santos, que as plantas tivessem vida sexual só foi descoberto no Séc. XVIII. Os exemplos abundam. Tom Jones, o maior sucesso editorial do Séc. XVIII, é um primor de sexismo irônico: “O que chamamos de amor não passa da satisfação de um apetite voraz por certa quantidade de delicada carne branca”. E delicada (L. delicatus) é tanto ‘tenra’ como ‘gostosa’ e na origem é ‘o que traz prazer’, volúpia. Mas se a carne é tecido muscular, o enfoque da dieta vegetal está na genitália: os grãos, nossos alimentos principais, são sementes (<sêmen) e os frutos são ovários fecundados. A sexualidade botânica tende a ser uma ménage a trois e, para atrair polinizadores (e o homem), a natureza enriqueceu de cor, forma, aroma, sabor e nutrientes os órgãos reprodutivos das plantas. Na mesma época da Viúva de Éfeso, Marcial descrevia o teor lipídico da carne: “Detesto a mulher magra / braços finos que cabem em anéis / de coluna em serra, joelhos como pregos / e cóccix afilado como um dardo. / Também evito grandes volumes / gosto de boa carne e não banha em meu prato”. Para Marcial a beleza está no centro, no meio – inclusive na anatomia. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br
AS PRESENÇAS ALIMENTAR NA SEXUALIDADE E SEXUAL NA ALIMENTAÇÃO SÃO UNIVERSAIS E REMONTAM AOS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO. HÁ ATÉ UM ACASALAMENTO DE VOCABULÁRIOS
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Alasca
A Ã&#x161;LTIMA
FRONTEIRA
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PISAR PELA PRIMEIRA VEZ NO ALASCA PROVOCA FORTE EMOÇÃO. UMA REGIÃO INTOCADA DE MONTANHAS, GELEIRAS, FLORESTAS E RIOS. TERRA DE URSOS, ALCES E POVOS DESBRAVADORES
Apesar de ter vivido nos EUA, nunca havia estado no Alasca, e resolvi desvendá-lo de uma forma muito prática e prazerosa: em um cruzeiro de uma semana partindo de Vancouver, no Canadá, até Anchorage, no Alasca. Em nosso primeiro dia de navegação seguimos a costa canadense da Brittish Columbia – o cenário de ilhas cobertas de florestas de um lado e baías com montanhas ao fundo já nos dava uma ideia da natureza exuberante que nos aguardava. Ao longo da noite cruzamos a divisa com os Estados Unidos e amanhecemos em Ketchikan – o povoado mais ao sul do Alasca –, um pequeno porto com seus barcos de pesca e casario colorido de madeira. Foi grande a emoção de pisar pela primeira vez no Alasca, por muito tempo considerada a última fronteira. Uma região intocada de montanhas, geleiras, florestas de coníferas e rios com salmão. Terra de ursos e alces, de povos nativos e desbravadores aventureiros. Tivemos muita sorte com um belo dia de sol nessa região onde chove 300 dias por ano, totalizando quase 4 mil milímetros de chuvas nesse período. Ketchikan, capital mundial do salmão, conta com as 5 espécies de salmão selvagem do Pacífico e pudemos conferir a exausta jornada desse peixe rio acima, desafiando as corredeiras que cortam o centro do povoado.
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TODOS SOMOS TOCADOS PELA NATUREZA, PELA VIDA SELVAGEM E PELA IMPORTÂNCIA DE PRESERVAR ESSA IMENSIDÃO. O ALASCA É A SEGUNDA MAIOR ÁREA PROTEGIDA DO PLANETA, DEPOIS DA ANTÁRTIDA
Muito interessante a visita ao Totem Blight State Park, com a maior coleção de totens do mundo representando as tradições e valores dos povos nativos, que ainda compõem 20% da população. Esta arte nativa do Alasca pode ser comemorativa de um evento ou celebrar importantes membros de uma tribo. Já os totens familiares comemoram a linhagem e a história familiar. Nossa segunda parada foi em Juneau, capital do Alasca, com apenas 30 mil habitantes, que surgiu em 1880 com a corrida do ouro. Trata-se da única capital estadual americana sem acesso por estrada. A única forma de chegar lá é de navio, como fizemos, ou de avião. Apenas 10% população vive no centro de Juneau, que é compacto o suficiente para fazer todo a pé. Com abundância de áreas densamente florestadas e baías tranquilas para caiaque, aqueles que buscam o Alasca por seu isolamento também fogem de seus poucos agrupamentos urbanos. Sua maior atração é o Glacial Mendenhall, que se estende por 20 km, com 800 m de largura de gelo milenar. O terceiro porto foi Skagway, no fundo de um fiorde de águas profundas, que também surgiu com a corrida do ouro em 1896, quando chegou a ter mais de 10 mil habitantes. Hoje é um povoado do “velho noroeste”, com 950 residentes. O barco de cruzeiro Princess Coral, que foi nossa “casinha” no Alasca, com 210 m de comprimento e 15 andares, tem três vezes mais pessoas que a população local.
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A IMPONÊNCIA DA NATUREZA ROCHOSA NA IMENSIDÃO AZUL DO ALASCA. NOSSO DIA DE NAVEGAÇÃO ACOMPANHOU 11 PICOS NEVADOS, ENTRE ELES O MOUNT FAIR WEATHER, DE 4.669 METROS 88
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Fizemos uma “supertrip” pela estrada de ferro construída em poucos anos no final do século XIX para conduzir os aventureiros até as minas de ouro – um fenômeno de engenharia enfrentando uma geografia desafiadora –, passando por florestas subtropicais, cânions e vales, cascatas e lagos, tundras, até um cenário subártico nas montanhas de Yukon, no Canadá, a mais de mil metros de altitude. No dia seguinte percorremos o Glacier Bay National Park, com 3,2 milhões de acres de florestas, fiordes e montanhas de 4 mil metros. Sete rios de gelo chegam até essa baía, entre eles o Margerie Glacier, um dos mais ativos do Alasca. Foi nosso dia mais espetacular: glaciares pela manhã e à tarde a vida selvagem, com lontras e baleias nos acompanhando, terminando o dia com a vista de Taylor Bay e os picos nevados do Brady Icefield. Memorável. A bordo, a guarda-parques Mary Lou fez uma excelente explanação, nos apresentando esse conjunto de parques. Eles compõem a segunda maior área protegida do planeta, depois da Antártida. Percebemos como todos somos tocados pela natureza e pela vida selvagem, e a importância de protegê-las e de manter essa imensidão selvagem para a humanidade. James Cook e George Vancouver, entre outros grandes exploradores, passaram por aqui no final do século XVIII buscando um acesso ao Atlântico pelo norte.
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SERVIÇO: COMO CHEGAR: Sugiro voo pela United a Vancouver, seguindo por cruzeiro pela costa do Alasca ate Anchorage, voltando via Chicago. ONDE FICAR: Hotel Fairmont em Vancouver e cruzeiro Princess – em cabine externa com varanda para ir apreciando a imponente vista. MELHOR ÉPOCA: Junho a setembro. ROTEIRO: STB Trip & Travel
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MAIS IMAGENS EM WWW.BETONOMUNDO.WORDPRES.COM 90
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Nosso dia de navegação continuou maravilhoso, acompanhando 11 picos nevados, entre eles o Mount Fair Weather, de 4.669 metros. É impressionante a imponência da natureza rochosa na imensidão azul do Alasca. Um detalhe interessante do cruzeiro: ao longo de nossos jantares fomos servidos pelo Mathias Vieira, de Gramado, supersimpático. Saboreamos uma ótima seleção de halibut (peixe do Alasca), king crab, lagosta, escargot, salmão, truta, mexilhões… ômega 3 em dia! Em nosso último dia de cruzeiro pelo Alasca chegamos até o College Fjord – um braço de mar que serpenteia entre montanhas e onde desembocam 6 glaciares. Nesse belo final de tarde, apreciando os gigantes de gelo, tivemos o presente de observar na costa uma família de ursos. Usando a imaginação, seguimos o relato do ranger descrevendo a cena da mamãe urso com 3 babies na praia e papai urso no bosque. Somente binóculos potentes puderam conferir, mas de fato conseguíamos ver os pontos negros se deslocando pela praia. Vida selvagem com sombra e água fresca. Partimos então para Anchorage, a maior cidade do Alasca, com 290 mil habitantes – 10% dos quais descendentes dos povos nativos que aqui chegaram há 15 mil anos, atravessando o estreito de Bering. Chegamos até a última fronteira, com gostinho de quero mais. Recomendo.
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Ser & Vestir R O B E R TA
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UM PALETÓ PODE FAZER MILAGRES
O paletó está popularizado. Ainda que seja extremamente sofisticado, é possível encontrar nas araras de magazines bem populares e a preços módicos modelos que atendam aos diferentes estilos de homens e às suas mais variadas necessidades. Se for comprar um baratinho, opte por tons escuros, pois eles disfarçam qualquer imperfeição de acabamento, ok? Os ombros – na linguagem visual masculina – têm um efeito poderoso. Devem estar perfeitamente vestidos. Portanto, o paletó deve cair impecavelmente sobre eles. O desafio aqui é que os ombros são os únicos lugares onde não é possível fazer qualquer ajuste. Tome muito cuidado na hora da compra. A cintura do paletó deve estar correta com o seu tipo físico: para você tirar a dúvida de que está comprando o tamanho certo, feche todos os botões e verifique se o tecido não está repuxando. Prefira paletós com cintura marcada para alongar sua silhueta. 92
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Dentro do vasto e intrigante mundo da moda masculina, o business suit ou costume, como chamamos hoje o terno sem colete, é, sem dúvida, um dos itens-chave do guarda-roupa masculino. Ele começou a ser adotado no fim do século XX e vem influenciando o dia a dia dos homens, a ponto de eu lhe assegurar que, independentemente da idade, profissão, estilo pessoal, estilo de vida e até mesmo classe social, todo homem, mas todo homem mesmo, deve saber vestir um bom costume, a começar pelo paletó. E por que o paletó? Acontece que estamos vivendo uma das mais graves crises econômicas no nosso país; uma recessão profunda e demorada, que, na prática, coloca muitos homens em batalhas ou desafios diários extremamente agressivos, seja pela perda do emprego, seja pela necessidade de se reinventar e buscar alternativas criativas para conseguir sobreviver no mercado ou aumentar sua renda. E o guarda-roupa, a moda, o estilo pessoal, pode e deve ser um grande aliado desse homem lutador. O paletó, por exemplo, é um item que ajuda muito. Diria que é uma das peças-chave do homem atual. Explico: a linguagem visual é um recurso extremamente importante nos dias de hoje, seja dentro ou fora do ambiente profissional. É algo que já faz parte da estrutura do homem moderno. Vestir-se com uma linguagem visual correta é, portanto, fundamental. Um dos pontos mais importantes para o visual masculino são os ombros. Quando bem vestidos, diga-se, bem marcados, eles oferecem uma espécie de escudo positivo ao homem, dentro da linguagem da psicologia da roupa. E o paletó ajuda muito na definição dos ombros. Por exemplo: se você está com uma calça jeans básica, uma camisa branca ou mesmo camiseta e vestir um paletó, pronto! Seu visual já ganhou um novo status, em razão de o paletó favorecer sua silhueta, em especial, como disse: marcar bem os seus ombros. Na ótica da linguagem visual, fica facilmente identificado que você está pronto para uma entrevista de emprego, apto ao trabalho ou, então, está adequado para atender um novo setor dentro do seu trabalho – ainda que seja informal o ambiente perseguido, posso garantir que o efeito será bem positivo, também nesses casos. Nada mau, não é mesmo? Portanto, se você está com o seu dinheiro contadinho e só pode comprar uma única peça, invista sem dúvida em um paletó: ele fará milagres no seu guarda-roupa! Abuse desse recurso a seu favor, sem medo!
SOFISTICAÇÃO + CONFORTO RELAX A moda há muito tempo não é apenas um luxo estético. Na velocidade espantosa da era da imagem, mobiliza, além do consumo, a publicidade, a cultura e todas as mídias que interferem diretamente em comportamento & lifestyle. E percebo que já vem de algum tempo uma nova contestação no ar. E ela chega à moda em forma de combinações impertinentes e estranhamente sedutoras. Por exemplo: grifes de alto luxo como a Gucci propõem elementos da realeza e toda a estética que compõe o vestuário da aristocracia – brocados, veludos, pedrarias, bordados ricos, jacquard lembrando tapeçarias –, mas, ao mesmo tempo, nos pés, um toque bem masculino como coturnos pesados. Eis o toque de contestação. Luxo ou moda, nestes tempos, é você conseguir vestir diferente, usar diferente – de um jeito bem único, bem seu –, às vezes, algo que é supercomum. O sexy de hoje também está com um toque de irreverência, de contestação. Atualmente, o sexy está no inesperado, em uma imagem mais cool do que óbvia, com um certo ar de desleixo misturado a espontaneidade. A sofisticação está no conforto extremo das peças e dos materiais. Como a maioria das mulheres encontra-se no mercado de trabalho, a alfaiataria é um grande aliado do guarda-roupa profissional. Pois nesta temporada a alfaiataria está relax: continua forte a influência esportiva. A proposta é o mood relaxe e chique. Visual amplo e longo. Calças oversized, pantalonas em looks branco total. Mangas superlongas de camisas, com punhos cheios de babados ou plissados. Assim como as fendas, discretas, mas presentes na alfaiataria deste outono-inverno. Roupas versáteis, influência esportiva, mas que carregam certa carga de sensualidade e irreverência, seja nos shapes, seja nas misturas. Sim. Causam um estranhamento. Mas não é de hoje que tudo o que causa um certo estranhamento tem um enorme poder de atração. E é o que, no final das contas, nos diverte na arte diária de nos vestir e nos apresentar ao mundo. ROBERTA COLTRO É CONSULTORA DE MODA, ESTILO E COMPORTAMENTO
Paletós prometem ser uma das peças indispensáveis para looks dia a dia no outono/inverno. Práticos, ótimos para dar um toque mais formal em looks casual-chic trabalho, acompanham superbem produções em jeans, mas que precisam ter um aspecto arrumadinho. E mesmo em looks bem esportivos, o paletó refina o estilo na medida certa. Estampas para 2017? Aposte em grafismos ultracoloridos. Também continua fortíssima a mistura de várias estampas num mesmo look e os florais. Sempre lembrando a regrinha de que os tons das diferentes estampas, quando juntas, precisam ser os mais próximos possíveis para criar uma harmonia, ok? A cintura marcada e os ombros estreitos e contidos são o shape do inverno 2017. Aposte em faixas, obis, calças clochard. Vale tudo para deixar sua silhueta com a cinturinha superfina e com os excessos de volumes contidos ou, no mínimo, harmonizados. Abuse!
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E CÁ ESTAMOS NÓS COM MAIS DUAS INSPIRADORAS MULHERES. DESTA VEZ, POR PURO ACASO, DUAS JORNALISTAS, ANANDA APPLE E SÔNIA ZANCHETTA. DUAS TRAJETÓRIAS PROFISSIONAIS BEM DIFERENTES, MAS COM UMA COISA IMPORTANTÍSSIMA EM COMUM: AMBAS MOBILIZAM SEUS TALENTOS E ESFORÇOS PARA PROMOVER A CULTURA, PARA LEVAR INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO, BELEZA E ALEGRIA PARA O GRANDE PÚBLICO. CONHEÇA ANANDA E SÔNIA,
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ANANDA APPLE Uma garota com nome de maçã que ama plantas e flores. Que sabe tudo de Beatles. Uma jornalista curiosa que na intimidade preserva suas raízes e o silêncio. Uma mulher que quanto mais belezas conquista, mais as compartilha. Repórter da TV Globo, criadora e apresentadora do Quadro Verde no Jornal Bom Dia São Paulo há 18 anos, onde se mostra toda sexta-feira; autora da coluna mensal “Meu Jardim”, na revista Casa e Jardim, curiosa e autodidata do tema verde, a jornalista Ananda Apple tornou-se especialista em plantas, flores e jardinagem. No ano de 2016, foi premiada na categoria Sustentabilidade por seu trabalho de comunicação dedicado ao assunto. Como ela mesma diz: “Natureza não é um jornalismo menor nem perfumaria”. A gaúcha que criou fortes raízes em São Paulo há 28 anos planta todo dia o seu cotidiano de muito trabalho, generosidade e simplicidade. Cercada pelas flores Liz e Ceo, as gêmeas que, com a mãe, foram homenageadas com seus nomes em um cruzamento de orquídea Militonia. Ananda é uma colecionadora desapegada: tudo o que conquista, distribui e retribui, como quem dá uma maçã ao mestre com carinho. Já foi Ananda Lima Lairihoy, de sobrenome basco. Incorporou o brand Apple da famosa gravadora inglesa ao seu primeiro nome quando passou a ser identificada como a Ananda dos Beatles, diante de sua paixão pelo célebre quarteto de Liverpool, ainda criança. Com apenas 12 anos trabalhava em um escritório a fim de ganhar dinheiro para comprar discos da banda – um LP para cada salário recebido. Colecionava tudo o que encontrava sobre a banda em álbuns plásticos – juntava recortes, fotos, letras das canções e misturava às histórias que desenhava e inventava. Shows a que não assistira, mas sonhava ter ido; conversas com Paul, Ringo que viviam em seus sonhos. A beatlemania cresceu junto com ela. Tudo isso a preparava para ser a grande repórter que se tornou: desenhando, colando e escrevendo o mundo. ”Não imaginava ser outra coisa na vida do que contadora de histórias”, conta com os brilhantes olhos de jabuticaba. Muito jovem, vivia pendurada nos shows de rock da Porto Alegre nos anos 70 – Flavio Venturini, Utopia, Hermes Aquino, a dupla Kleiton e Kledir Ramil.
Tudo se tornava assunto para seus álbuns. Recheava as páginas plásticas com tíquetes, fotos, desenhos e textos, contando cada detalhe do que via. Amigos carregaram os álbuns e a garota de cabelos longos e lisos, até hoje sua marca registrada, até o produtor musical Julio Fürst. Encantado com o trabalho de Ananda, Fürst a contratou para fazer, para ele, o que ela já fazia por pura paixão: álbuns-memória dos shows. Ananda tinha 18 anos – era novata na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – e o chefe Fürst descobriu o conhecimento que a garota alimentava sobre o quarteto londrino. Colocou-a na rádio com um programa próprio. Ela então espalhou sua beatlemania para a Rádio Cultura, para a Continental e não demorou para receber convite da Gaúcha FM, estreando a posição de única mulher nas modernas rádios FM do Rio Grande do Sul. Depois da temporada de sucesso, despediu-se das rádios e foi para a reportagem de televisão, no grupo RBS, encarando a câmera sem medo. Aos 27, descobriu o amor e deixou Porto Alegre para enfrentar São Paulo. Em Sampa Ananda se encontrou e cresceu profissionalmente. Encarou as reportagens do dia a dia como oportunidade para descobrir as manhas e truques de uma cidade fascinante. Nas ruas, criou intimidade com o público, e a garota beatle passou a ser reconhecida como “aquela moça das flores”, do Quadro Verde. Em busca de boas pautas, ela visita feiras, mostras de paisagismo, é habitué festejada em Holambra (SP), a cidade floreada. Entrevista arquitetos e decoradores, jardineiros, colecionadores, adoradores da flora que passam a adorá-la em seus jardins. São poucos os felizardos que se tornam seus amigos próximos, mas podem se dizer abençoados com sua generosidade. Reservada, diz que é “bicho do mato”, mas é capaz de mobilizar o mundo para ajudar uma família que pouco conhece e que perdeu tudo em um desabamento. Também é capaz de contar para o público, em suas reportagens, a descoberta de um jardim secreto doado para suavizar o ambiente de um hospital para tratamento de câncer. No pouco tempo que lhe sobra, escolhe estar em casa ou no campo, junto à natureza, suas plantas, suas filhas, seus livros e nada mais. POR LUIZA ESTIMA, JORNALISTA
SÔNIA ZANCHETTA
Leitura poderia fazer parte do sobrenome da porto-alegrense Sônia Zanchetta. Jornalista e produtora cultural, há muitos anos compreendeu que os momentos entre os livros na infância alinhavaram o seu futuro. As obras que iniciaram tal encantamento foram itens de destaque no enxoval da mãe: a coleção completa de Monteiro Lobato, de 1930, e a coleção Thesouro da Juventude. “Apesar dessa ligação com a literatura ter se estabelecido desde bastante cedo na minha vida, dei muitas voltas antes de, de repente, cair na área da leitura, que é onde eu deveria ter estado sempre”, conta Sônia. Formada em jornalismo pela PUCRS, em 1979, chegou a trabalhar em assessoria de imprensa, mas por pouco tempo. Já no ano seguinte, aprovada em um concurso do Ministério das Relações Exteriores, fez as malas e foi para o Equador. Faria estágio na área de Comércio Exterior e a ideia era voltar para casa dois anos depois e atuar no segmento. Porém, no final do período ela estava namorando um equatoriano – com quem se casou e teve três filhos – e quis ficar. A Embaixada, então, a contratou como funcionária local do novo departamento de Promoção Cultural. Para Sônia não poderia ter sido melhor, pois desde que lá chegou esteve ligada ao cenário das artes. Nos 17 anos que viveu em solo equatoriano, a gaúcha realizou muitas ações culturais, inclusive como empreendedora. Com uma sócia, também brasileira, teve, por cerca de 11 anos, o Bangalô Salón de Té, um “salão de chá”, que se tornou ponto de encontro de apreciadores de arte. Em 1997, quando voltou a Porto Alegre, mesmo com a insistência da família para que atuasse no mercado ascendente do Comércio Exterior, ela não se rendeu. Queria mesmo transitar pela área cultural, de preferência pela da leitura. E realmente não há nada como uma certeza! Mal Sônia tinha chegado ao Brasil e, como ela mesma diz, “aconteceu algo muito interessante”. A convite de um amigo, foi ao lançamento da revista literária Blau, editada pelo escritor Walmor Santos. Como o amigo se atrasou, Sônia olhou em volta e, após tanto tempo fora, não conhecia ninguém. Como é comum em situações assim, ela aceitou um cálice de vinho e ficou dando voltas. “De repente, um cidadão se aproximou: ‘Tu estás tão perdida, acho que não és daqui’”, relembra a jornalista. Era o escritor Dilan Camargo, e assim que ela disse ser daqui, mas ter ficado anos no Equador,
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levou-a até uma pessoa que sabia também ter estado lá: “Júlio, tu estiveste no Equador, não é?”. Pronto, ela estava conhecendo o então presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Júlio Zanotta Vieira. E o papo, cheio de felizes coincidências, foi a introdução para os inúmeros capítulos que viriam imprimir o nome Sônia Zanchetta na história de um dos acontecimentos anuais mais aguardados pelos gaúchos: a Feira do Livro de Porto Alegre. Dois dias depois desse encontro, a pedido de Júlio, ela foi à Câmara do Livro ajudá-lo no contato com um importante dramaturgo equatoriano e por lá ficou. Há 20 anos, portanto, integra a comissão executiva do evento e coordena a Área Infantil e Juvenil, a Área Internacional e a programação para professores do Ensino Básico. Esta é uma das inúmeras facetas de Sônia, que é incansável no compromisso de promover a cultura por onde quer que passe. A comunidade de Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre, sabe bem disso. Desde que se mudou para lá, em 2000, ela já lançou um bom número de projetos de leitura e cidadania, incrementou outros e segue idealizando novidades. O primeiro de todos, e guarda-chuva de tantos outros posteriores, começou na garagem de casa, onde a nova moradora organizou a sua biblioteca. Os mais de mil livros ali expostos chamavam a atenção das pessoas, que eram convidadas a entrar e escolher o que desejassem levar emprestado. E assim nasceu o projeto Quitanda da Leitura, que atualmente abastece outros, como a biblioteca comunitária Ponto da Leitura Sol e Lua, na Praça Telmo da Silveira Dornelles – projeto premiado pelo concurso Mais Cultura/Pontos de Leitura, do Ministério da Cultura, em 2014; o Piquenique da Leitura, criado com a contadora de histórias Rosane Castro, em 2011, para organizar troca-trocas de livros em praças; além de apoiar mais várias iniciativas. O fato é que, muito provavelmente, neste exato instante em que estou escrevendo ou em que você está lendo o Mulheres que Amamos, a Sônia Zanchetta está se mobilizando para que a leitura cumpra mais e mais a sua missão. E qual seria, Sônia? “Se eu tivesse que resumir a leitura em uma palavra, diria emancipação.” POR DÓRIS FIALCOFF, JORNALISTA
FOTO: DENISONFAGUNDES
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Palavra LU Í S
AU G U S TO
F I S C H E R
GENOVEVAS
Machado de Assis escreveu mais de 200 contos. A gente diz o número e precisa respirar um pouco. Um livro de contos tem, em média, entre 10 e 20 contos, e isso já é grande coisa, para grandes contistas como Guimarães Rosa, Rubem Fonseca, Caio Fernando Abreu ou Moacyr Scliar. Qualquer escritor que tivesse escrito apenas isso, essas duas centenas de contos, com a qualidade superior que eles ostentam, já teria sua obra inscrita na galeria dos autores importantes de sua língua. Mas acrescente nessa conta seus dez romances, entre os quais um clássico absoluto como Dom Casmurro, mais uns bons livros de poesia, mais centenas de crônicas, um punhado bom de ensaios, algumas peças de teatro (na juventude ele achava que o teatro é que era a arte à qual ele deveria consagrar seus talentos). E tradução, e cartas... Mas fiquemos nos contos. Sem conceder nem um milímetro em matéria de qualidade, podemos colecionar uns 25 ou 30 que fariam bonito em qualquer língua. Não por acaso Machado tem sido lido cada vez mais em comparação com os bambas de sua época, em todo o Ocidente. Contistas como Anton Tchekov, russo, ou Guy de Maupassant, francês, romancistas como Henry James, norte-americano que migrou para a Inglaterra, ou o megacelebrado Marcel Proust, francês, para nem falar de Eça de Queirós, português. Essa é a companhia certa para pensar sobre o grande Machado de Assis. Estou fazendo essa volta para lembrar de um de seus contos, não dos mais famosos, mas um grande conto: “Noite de almirante”. Trata da história de um marinheiro, homem simples, que volta de um tempão em alto-mar, para reencontrar sua amada, aquela que ele deixou com o coração partido e a promessa de retorno. Chamava-se Deolindo Venta-Grande, e sua amada era a Genoveva. Ele desce do navio e se toca para a casa da amada, saudoso, apressado, com um lindo presente nas mãos. Mas não a encontra na casa em que morava; ali uma antiga vizinha fala mal de Genoveva e diz que ela saiu dali com um mascate, para morar com
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ele. Deolindo fora, sim, traído. Vai atrás dela e a encontra, justamente na casa desse novo parceiro, que está ausente. Seguem-se algumas páginas que eu não me atrevo a resumir – mas o conto é fácil de achar na internet ou em livro (está em Histórias sem data). Nem vou contar o desfecho, claro, porque seria uma maldade com o meu leitor. Eu só queria mesmo era contar de um diálogo, porque eu o revivi com minha filha, que completa 7 anos neste começo de 2017. Deolindo, pasmo com a novidade e com ganas de estrangulá-la, lembra a Genoveva que ela tinha jurado esperar por ele. Jurado! E agora se revelava isso, que ela o tinha trocado na maior! Tinha ou não tinha jurado, hein, Genoveva? Tinha sim, ela admite. Mas então? – pergunta ele. E ela diz, candidamente: “Quando jurei, era verdade. Tanto era verdade que eu queria fugir com você para o sertão. Mas vieram outras coisas... Veio este moço, e eu comecei a gostar dele...”. Quando li esse conto, nas primeiras vezes, antes dos 40 anos de idade, eu confesso que tive muita dificuldade de entender, ou de aceitar, ou de enfim admitir que Genoveva pudesse ter feito isso. E agora, alcançando os 60 anos, vejo minha filhota de certa forma repetir a fala. Foi agora, nas férias de verão, numa manhã luminosa em que ela e eu tomávamos café da manhã sozinhos. Charmosa e confiante como uma menina de 6 anos sabe ser, ela afirmou determinada coisa sobre uma amiguinha. Eu chamei a atenção dela que no dia anterior ela tinha dito coisa bem diferente, e que portanto eu não podia saber qual era a verdade. E ela, que ainda não leu Machado de Assis, repetiu instintivamente a Genoveva: “Mas naquela hora era verdade, pai”. Há uma sabedoria, que eu desconfio que seja feminina, ou mais feminina do que masculina, implicada nessa conversa – na minha incapacidade de entender a mudança, na serena capacidade das genovevas em admitir a mudança. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR
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