Revista Estilo Zaffari - Edição 25

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Ano 6 N0 25 R$1,80

TXAI RESORT, A BAHIA ABENÇOADA POR DEUS SABORES QUE VÊM DO MEDITERRÂNEO

Bendito ~

verao



NOTA

DO

EDITOR

Cuca

fresca

O VERÃO GAÚCHO NÃO FICA NADA A DEVER AOS VERÕES TROPICAIS, AO MENOS EM TERMOS DE CALOR. SE NO RIO FAZ 40 GRAUS, AQUI FAZ 39. SÓ QUE LÁ TEM SEMPRE AQUELA DELICIOSA BRISA MARINHA... POR ISSO É QUE TANTOS RIO-GRANDENSES ESCAPAM DE SUAS CIDADES NESTA ÉPOCA E VÃO REFRESCAR A CABEÇA E O CORPO NO LITORAL. QUALQUER LITORAL, DIGA-SE DE PASSAGEM. MESMO QUE SEJAM, COMO DIZ O NOSSO COLUNISTA LUÍS AUGUSTO FISCHER, AS MONÓTONAS PRAIAS GAÚCHAS... (VEJA TEXTO NA ÚLTIMA PÁGINA DESTA EDIÇÃO). ESSA AUTÊNTICA FUGA SE VERIFICA PREDOMINANTEMENTE NOS MESES DE JANEIRO E FEVEREIRO, MAS JÁ TEM MUITA GENTE QUE PREFERE ESPERAR A TROPA VOLTAR PARA A CIDADE E, APROVEITANDO O REFLUXO, CURTIR AS DELÍCIAS DA BEIRA-MAR EM MARÇO. OU ABRIL, MAIO, JUNHO... É O CASO DO PESSOAL DA ESTILO ZAFFARI. AGORA, EM PLENO FEVEREIRO, ESTAMOS EM PORTO ALEGRE, BEM FACEIROS DA VIDA, ELABORANDO A NOSSA EDIÇÃO DE VERÃO, CHEIA DE DICAS PARA VOCÊ CURTIR, SEJA ONDE FOR, ESTA GLORIOSA ESTAÇÃO. QUEM, COMO NÓS, AINDA NÃO TIROU FÉRIAS E ANDA “TOMANDO A FRESCA” DENTRO DO ESCRITÓRIO (BENDITO AR- CONDICIONADO!) VAI ENCONTRAR INSPIRAÇÃO NA REPORTAGEM SOBRE O TXAI, MISTO DE RESORT E CENÁRIO DE SONHO, LOCALIZADO NA BELÍSSIMA ITACARÉ, BAHIA. DEDICAMOS PÁGINAS E MAIS PÁGINAS PARA TENTAR DESCREVER ESSE LUGAR. MAS SOMENTE AS FOTOS DE LETÍCIA REMIÃO CONSEGUEM EXPRESSAR O ENCANTAMENTO DO TXAI. E O MELHOR: VOCÊ PODE ESCAPAR PRA LÁ EM QUALQUER MÊS DO ANO. A BAHIA É SEMPRE UMA MARAVILHA. OS GOURMETS VÃO SE DELICIAR COM RECEITAS QUE TÊM A CARA DO CALOR. BUSCAMOS OS “CAMPEÕES DE AUDIÊNCIA” DA CULINÁRIA MEDITERRÂNEA E SERVIMOS A VOCÊ COM TODA A TRADIÇÃO DOS SEUS PAÍSES DE ORIGEM: PORTUGAL, FRANÇA, ESPANHA, TURQUIA, ITÁLIA, GRÉCIA, LÍBANO, SÍRIA, EGITO E MARROCOS. EM PRATOS DE CERÂMICA PINTADOS DE AZUL, É CLARO. E COMO VERÃO NO BRASIL É SINÔNIMO DE DESCONTRAÇÃO E DESCOMPROMISSO, ORGANIZAMOS UMA MATÉRIA COM RECEITAS DE SANDUÍCHES MUITO GOSTOSOS E SUPERFÁCEIS DE FAZER. AFINAL, OS MENOS DOTADOS DO PONTO DE VISTA CULINÁRIO TAMBÉM MERECEM COMER BEM. ESTANDO OU NÃO EM FÉRIAS, UM PROGRAMA ÓTIMO É VISITAR OS RESTAURANTES ANTIGOS DE PORTO ALEGRE QUE SE MANTÊM COM MUITO SUCESSO HÁ MAIS DE QUARENTA ANOS. SELECIONAMOS QUATRO EXEMPLARES DE UMA SAFRA DE VITORIOSOS – AFINAL, NÃO É NADA FÁCIL ATRAVESSAR DÉCADAS COM A CASA LOTADA, EM UMA CIDADE ONDE ESTABELECIMENTOS ABREM E FECHAM DIARIAMENTE – E CONTAMOS PRA VOCÊ UM POUCO DA HISTÓRIA DESSES TEMPLOS DA GASTRONOMIA. COM DIREITO A PALPITES E HOMENAGENS DOS FREQÜENTADORES MAIS FIÉIS. LEIA TAMBÉM UMA MATÉRIA FRESQUINHA E DIVERTIDA SOBRE A ÁGUA-DE-COCO, QUE FELIZMENTE NÃO É MAIS PRIVILÉGIO DOS HABITANTES DO LADO DE CIMA DO EQUADOR. HOJE EM DIA, VOCÊ PODE COMPRAR UM COPO DA AUTÊNTICA, SAUDÁVEL E DELICIOSA ÁGUA-DE-COCO ATÉ DENTRO DO SHOPPING! BOM VERÃO!

OS EDITORES


Milene Leal milene@contextomkt.com.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Fernanda Doering, Paula Taitelbaum, Rose Suleiman REVISÃO Flávio Dotti Cesa PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade luciane@contextomkt.com.br ILUSTRAÇÕES Nik FOTOGRAFIA Cláudio Meneghetti, Cristiano Sant’Anna, Letícia Remião PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Jorge Nascimento COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COLABORADORES Studio AD, Ser e Estar, La Gourmandise, Objetos de Charme

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

DIRETORA DE ATENDIMENTO PUBLICIDADE HRM Representações (51) 3231.6287

9983.7169

9987.3165 rosamaggioni@hrmmultimidia.com.br

DEPTO. DE ATENÇÃO AO LEITOR Renata Xavier Soares renata@contextomkt.com.br A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares PRÉ-IMPRESSÃO Maredi IMPRESSÃO Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

CAPA: FOTO DE LETÍCIA REMIÃO, NO RESORT TXAI, EM ITACARÉ.



Correio ESTILO EM PERNAMBUCO

ELOGIOS DE LONDRES Escrevo apenas para parabenizá-los pela edição de Natal da revista Estilo Zaffari. Moro em Londres, e cada vez que meus pais me enviam a revista é uma alegria. Bonita, elegante, informativa e atual, é um orgulho para nós, gaúchos, e não fica devendo nada para as publicações do “velho mundo”. Parabéns pelo ótimo trabalho! Saudações. ROBERTA FACCIONI

Nossa, já temos leitores até na terra do Príncipe Charles! Quanto prestígio! Roberta, em 2004 vamos publicar uma matéria sobre o britânico hábito do chá das cinco. Fique de olho e depois nos envie a sua opinião, por favor. Abraço!

Sou gaúcha, mas moro há dez anos em Recife. Ao passar férias em POA, fui presenteada pela minha irmã com a revista da Companhia Zaffari. Adorei, tudo de muito bom gosto e requinte, aliás, exatamente igual à rede de supermercados. Gostaria de saber se posso receber a revista aqui em Recife, pois eu e minha família iríamos adorar ter este pedacinho do Sul no nosso ambiente familiar! Caso positivo, me retornem, que enviarei meus dados para a remessa. Desde já, obrigada pela atenção e parabéns a todos que participam desta obraprima!!! Atenciosamente, ANITA QUEQUE

Anita, estamos trabalhando na elaboração de um sistema de assinaturas que possa atender às demandas de pessoas que, como você, não residem nas cidades onde a revista é vendida. Aguarde para breve um contato do nosso Departamento de Atenção ao Leitor, ok? Por enquanto, queremos agradecer por ter chamado a Estilo de “obra-prima”! Puxa, ficamos tão felizes...

GRANDE PRIVILÉGIO Meu nome é Fernando Alberton, moro em São Paulo, SP. Recebo a revista Estilo Zaffari em minha casa, o que é um grande privilégio e uma enorme satisfação, pois a revista é excelente e eu tenho muito prazer em lê-la. Gostaria de desejar a todos vocês um Feliz Natal e um próspero Ano Novo. Um abraço, FERNANDO ALBERTON

SUGESTÃO IMPORTANTÍSSIMA Sou leitora da Estilo desde a primeira edição e a coleciono, pois acho a revista super-sofisticada. Gostaria de saber qual o endereço da esteticista Tânia Rosa, da reportagem sobre beleza e massagem oceânica. Queria sugerir a colocação, talvez em uma seção à parte, da lista de profissionais consultados nas reportagens e de locais que aparecem nas mesmas. Obrigada.

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Estilo Zaffari

DEGUSTANDO A ESTILO Milene A escolha inteligente e gostosa do mix das crônicas, reportagens, assuntos, receitas gastronômicas, etc. que fazes em cada edição da revista – mercê da qualidade de seus autores e da habilidade de quem fotografa – cai muito bem no universo de pessoas que atinges. A elas proporcionas momentos de um lazer diferenciado e de muito bom gosto. Agradecendo a gentileza na habitual remessa da Estilo Zaffari, quero dizer que é também com benfazeja emoção que eu leio e “degusto” o que me oferece a revista. Como já estou “viciado” em recebê-la, fico sempre na expectativa de uma nova edição. Com carinho e amizade,

LUCIANA SULZBACH DA SILVA

PEDRINHO GIACOMET, CANELA – RS

Luciana, o endereço da Tânia Rosa nós já fornecemos a você. Tomara que tenha gostado da massagem oceânica! Quanto à sua sugestão, já é uma unanimidade entre os leitores. Precisamos providenciar essa página de endereços. Com urgência!

Pedrinho, uma carta carinhosa como essa é recompensa até maior do que o nosso merecimento. Fiquei emocionada com a gentileza e muito agradecida pelas tuas palavras. Um grande abraço de toda a equipe da Estilo Zaffari!


ALTO-ASTRAL Milene! Antes de mais nada, PARABÉNS! Inicialmente comprava as revistas devido às receitas publicadas, mas logo fui capturada pelo excelente trabalho de vocês. As reportagens, a apresentação, as receitas, os colunistas, as dicas... ADORO! Atualmente é a única revista que leio integralmente, com muito prazer e de forma lúdica. Gosto da “proposta alto-astral” (assim denominada por mim). Chega de notícias que instigam a ameaça, o medo e a insegurança, ou falsas receitas de felicidade. Disto a vida nos dá avalanches de notícias diariamente. Como leitora, sugiro que possa ser publicado o endereço ou telefone das pessoas que produzem os produtos que vocês apresentam. Um abraço. CARMEN SILVIA MURATORE

Você denominou bem a proposta da Estilo Zaffari. Queremos de fato ser uma revista “alto-astral”. A cada edição, buscamos publicar dicas, idéias e informações para tornar o dia-a-dia das pessoas mais alegre, mais leve, mais colorido, mais feliz. Por favor, continue lendo a Estilo inteirinha, e não deixe de nos dizer o que achou, ok? A página de endereços que você sugere está se tornando a cada dia mais necessária. Aguarde que ela virá! Abraço!

SENSÍVEL E ELEGANTE Querida Paula (Taitelbaum), parabéns pela edição de Natal e em especial pela matéria de velas. Sensível e elegante. Obrigada pelas delicadas palavras sobre meu trabalho. Um abraço para toda a equipe, um beijo. CLAUDIA SCHMITZ, ATELIER FRAGRANCIARIA

ESTILO EM CURITIBA Olá, tudo bem? Será que eu poderia assinar a revista Estilo? Gosto bastante do estilo de vocês e da amplitude das matérias. Moro em Curitiba. Como poderíamos fazer isso? Um grande abraço. CRISTINA DE SOUZA, JACARANDÁ BOOKS

Cristina, aguarde um contato do nosso Departamento de Atenção ao Leitor, ok? Estamos em processo de elaboração de um sistema de assinaturas que possa atender às solicitações que chegam de diferentes locais do país. Assim que tivermos isso organizado, você será informada em primeira mão sobre como proceder. Obrigada pelos elogios, abraço.


Beba à

saúde

A água-de-coco é a bebida do verão, na praia ou na cidade

22 Í N D I C E 08 Cartas 12 Coluna: Cotidiano 20 Coluna: Consumo 46 O Sabor e o Saber 68 Restaurantes Tradicionais 80 Gula: Sanduíches


Sabor que vem do

Mediterrâneo

Receitas tradicionais da região que foi o berço da cultura clássica ocidental

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Bendito ~

verao O Txai Resort é um presente dos deuses para nós, mortais

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Cotidiano MARTHA MEDEIR OS

MUDANÇAS DE ESTAÇÃO Eu mudei. Não sou mais só verão, nem mais só rock’ n’ roll Esta crônica é mais uma da série “Você sabe que está envelhecendo quando...”. Já escrevi sobre minha capitulação às águas quentes: fiquei viciada em sopa e chá. Pois agora estou trocando de estação preferida. Quando eu era adolescente, preferia o verão. Depois, quando entrei na casa dos 30 anos, passei a preferir o inverno com seu poético céu cinzento, os blusões de gola rulê, os vinhos e queijos, as conversas diante da lareira, as introspecções, tudo aquilo que sugere uma certa maturidade. Pois amadureci bem amadurecida, estou na casa dos 40, e já não quero mais saber de rinites alérgicas, pés gelados e quilos acumulando-se por baixo do blusão. Voltei a preferir o calor, os vestidos leves, os pés descalços, e ao menos por enquanto esta minha escolha me soa como definitiva: já me vejo que nem aquelas velhinhas que ficam sentadas nas varandas de Miami, de frente pro mar, com um sorriso banguela no rosto. A não ser que daqui a um tempo eu volte a preferir o frio. Que eu sinta saudades de uma echarpe e de um rodízio de fondue. Eu mudo com certa freqüência. Aliás, dei pra mudar até de freqüências moduladas. Pois é, vale para estações de rádio também. Você sabe que está envelhecendo quando não consegue mais ser fiel a sua emissora preferida. É uma constatação dolorosa. Você segue adorando rock´n´roll, mas de repente descobre que está para se tornar um ouvinte adúltero. As músicas da sua rádio preferida não lhe dão mais o mesmo prazer que davam anos atrás. Mesmo assim, você tenta se manter firme no mesmo dial, até que um belo dia eles botam pra tocar uma banda eclética e

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Estilo Zaffari

revolucionária recém-surgida nos cafundós de New Jersey e você cai em tentação: troca de FM. É uma derrota. Por mais que você pense que a rádio é que piorou, a verdade acachapante é que você é que está mudando, você é que não tolera mais bandas ecléticas e revolucionárias, você é que não vibra mais com pretensas novidades, você é que passou a chamar certos sons de “barulho”, você é que esgotou sua capacidade de renovação e não consegue ir adiante. E agora? Agora é tratar de encontrar uma rádio que toque (durante a meia hora que dura o trajeto desde sua casa até o trabalho) Norah Jones, Los Hermanos, Dephazz, Monica Tomasi e uma antiga dos Beatles. Que toque Nei Lisboa e em seguida emende uma Janis Joplin. Que não considere heresia misturar na programação Fito Paez, Tom Waits, Piazzola, Les Negresses Vertes, Nirvana e música cubana. Que toque Cassia Eller, John Coltrane e algum clássico do Lynyrd Skynird. Que toque Your Song do Billy Paul, no minuto seguinte Yamandu Costa e na continuação uma balada da Tom Bloch. E então Buddy Guy seguido por Paulinho da Viola, fechando o bloco com Gerry Mulligan. E no bloco seguinte inicie com Adriana Calcanhoto + John Pizzarelli + Burt Bacharach + Reação em Cadeia! Prendam-me. Você sabe que está envelhecendo quando não se enquadra mais em nenhuma segmentação e deseja que sua estação de rádio preferida toque tudo o que você é. E você não é mais só verão, e nem mais só rock´n´roll. MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA




Cesta básica DICAS PARA ESTIMULAR TODOS OS SENTIDOS: MÚSICA, CINEMA, COMIDINHAS, LUGARES, PASSEIOS, COMPRAS. ESTA É A SUA CESTA BÁSICA DO BIMESTRE

Sofá interativo As linhas sinuosas do sofá da foto abaixo são inspiradas na arte do pintor Vasarely, nascido na Hungria em 1908 e apontado como o rei da op art. Pois os arquitetos Tuti Giorgi e Beto Salvi reproduziram tridimensionalmente as formas de um dos quadros do pintor, e criaram muito mais do que um móvel: um objeto de desejo e uma obra de arte do design. O sofá Vasarely é composto por dois tipos de módulos, um côncavo e um convexo (ambos com ou sem braço), que podem combinar-se de infinitas maneiras, assumindo as mais diversas formas. Na foto, ele aparece montado segundo um conceito comum nos anos 60: o de “conversation pit”, ou “sofá de entrar dentro”, conforme a explicação bem-humorada de Tuti Giorgi. Quem assina o design é Beto Salvi, e a fabricação do móvel ficará ao encargo de uma indústria local (Maville). O sofá deverá estar disponível no mercado em meados de 2004. Já encomendei o meu! MILENE LEAL, JORNALISTA

FOTO: LETÍCIA REMIÃO


Cesta básica

RECESSIVO OU DOMINANTE? Não importa a discussão genética. Maria Rita, filha de Elis com Cesar Camargo Mariano, tem luz própria, talento de sobra e por isso personificou, em 2003, nossas esperanças de que é possível ter uma MPB revigorada, de muita qualidade e com apelo mercadológico. MPB capaz de lotar teatros e vender centenas de milhares de CDs e DVDs. Bom, sugiro então que você reforce ainda mais essas esperanças e compre o DVD da moça. Gravado no Bourbon Street, em São Paulo, ele tem um repertório que surpreende ao apostar preferencialmente no novo, como as duas MPBérrimas faixas assinadas por Marcelo Camelo, do Los Hermanos (Veja Bem Meu Bem e Cara Valente). E que se completa com canções consagradas de Rita Lee e de Milton Nascimento. Os arranjos são maravilhosamente minimalistas, à base de piano, baixo e percussão. Só no DVD, de embriagantes imagens, gestos e voz confinados numa caixinha, você poderá observar que Maria Rita, sem querer ou precisar, é a confirmação, pelo menos para nós, estudantes e pichadores dos muros da Porto Alegre de 1982, de que “Elis Vive”. CESAR PAZ, ENGENHEIRO

FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

Refúgio urbano Sua casa é mais do que apenas um endereço? É seu recanto e seu relicário? Então você vai adorar a Refúgio Urbano. Mix de loja rústica e alternativa, lá tem aquele artesanato especial que a gente sempre traz quando viaja para outras cidades do Brasil e mais uma infinidade de coisinhas legais. Tem esculturas e arranjos em papel machê, quadros orientais feitos com notas antigas (parece que atrai dinheiro), almofadas que são uma fofura, delicadas toalhinhas bordadas, rosas vermelhas para encher a casa de paixão e por aí vai. Fora as utilidades e enfeites para a casa, você ainda vai encontrar roupas e bijuterias cheias de bossa. Bom para achar um presente diferente e impressionar. Aninha e Anete Carrard, as proprietárias, escolhem tudo a dedo e dão preferência a produtos alternativos vindos de organizações sociais que tenham um trabalho original e de qualidade. O site da loja é www.refugiourbano.com.br PAULA TAITELBAUM, ESCRITORA

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Café com letrinhas Dentre as muitas coisas bacanas que nós, simples mortais, temos a chance de desfrutar neste mundo, algumas são especiais e combinam muito entre si: sentar com os amigos, saciar a sede com uma bebidinha gostosa, provar quitutes que lembram os botequins da boemia carioca e folhear livros especiais. Há cinco meses um ponto absolutamente cool conseguiu, com maestria, conjugar todos esses prazeres. É o Botequim das Letras, misto de bar e livraria, instalado no conjunto de casas tombadas pelo Patrimônio Histórico de Porto Alegre, em pleno coração do bairro Moinhos de Vento. A maravilhosa idéia foi de duas amigas, que marcam presença na casa com um atendimento superatencioso e muito bom gosto na escolha dos comes, bebes e dos livros. Passe por lá! IZABELLA BOAZ

FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

SABOR DE INFÂNCIA A primeira edição circulou em 1940 e vendeu 20 mil livros. Isso em plena Segunda Guerra Mundial! Ao longo dos anos, as receitas de Dona Benta tornaram-se um verdadeiro fenômeno editorial, e o livro atingiu a cifra recorde de 1 milhão de exemplares. Dona Benta virou tradição, suas receitas foram passadas de geração a geração, o livro funcionou como uma escola de culinária para milhares de brasileiros. Agora você pode encontrar nas livrarias a 75ª edição desta preciosidade. Revista, adaptada aos tempos e hábitos modernos, enriquecida com receitas de delícias de outros países, Dona Benta, no entanto, não perdeu nada de sua identidade. Tem receita de quiche e de risoto, mas continua ensinando como ninguém os segredos do trivial, com sabor de infância. Companhia Editora Nacional, 1.120 páginas, 1.500 receitas, à venda na Livraria Cultura.



Consumo TETÊ PACHECO

NADA A turma dos loucos-por-um-stress quer seu lugar ao sol Alguém levemente psicótico um dia chegou à conclusão de que as férias eram o momento perfeito para a gente a-p-r-o-v-e-i-t-a-r e fazer todas as coisas que a rotina produtiva nos impede. E, a partir dessa brilhante conclusão, inventou-se o aparato necessário para que a turma dos loucos-por-um-stress tivesse com o que se distrair durante os 30 dias de falta do que fazer. Foi daí que surgiram gênios como o criador das academias de ginástica na praia ou a inventora da gincana de verão (que por acaso também era mãe e culpada): parquinho-aquático-minigolfe-paraguai-sorveteria-aluguel de cavalos-piscina-fliperama. Como é possível imaginar que uma verdadeira legião de seres humanos que vivem para o trabalho vão conseguir não ter trabalho algum só porque saíram de férias? O ser humano voltado para o trabalho só sabe fazer uma coisa, trabalhar. É fácil reconhecer esses seres porque eles, naturalmente, são muito úteis na sua atividade e animação. Toda turma verdadeiramente em férias precisa de pelo menos um desses. São aqueles que pulam na frente quando alguém menciona a intenção de fazer um churrasco, dizendo: "Eu compro a carne!". E são os mesmos que podem ser vistos logo a seguir brigando com o dono do açougue porque a carne não está boa o suficiente ou se digladiando com os seus semelhantes em alguma fila de supermercado. Os loucos por trabalho amam carros que precisam ser lavados, coisas que precisam ser consertadas, compradas e, se derem sorte, trocadas. Os loucos por trabalho precisam urgentemente de férias. Até quando já se encontram de.

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Eu me identifico muito com eles porque tenho uma imensa dificuldade de não fazer nada. E reconheço cada vez mais que é para isso que as férias servem. Lembra da rede? E do joguinho de cartas? E da preguiça? Daquele livrinho que levamos três meses para ler porque cada vez que começamos dá vontade de dormir? Quanto mais absolutamente nada a gente tiver para fazer, mais vamos conseguir nos desconectar, quem sabe ao ponto do tédio, e desejar voltar à nossa rotina porque o descanso já foi o suficiente. Já reparou como o estressado em férias sempre acha que as férias passaram rápido demais? Eu sugiro uma rebelião. Os que já perceberam que férias são para não fazer nada e têm tirado proveito dessa descoberta, que se dêem o trabalho de fazer alguma coisa. Agitem-se. Já para o supermercado, já para a fila dos cinemas, para os postos de gasolina. Nós, estressados, também queremos um lugar ao sol. Eu tentei meu motim pessoal e não fui feliz. Tanto que estou aqui trabalhando, a pedido da minha querida editora, em plena tentativa de fazer nada. Se você tiver mais sorte que eu e conseguir o seu lugar na rede, não deixe de levar pra ela o "Livro sobre o Nada", do Jerry Seinfeld. Não é exatamente uma novidade. Mas é uma delícia. E você vai poder levar uns bons três meses lendo.

TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA



Bebida


ÁGUA-DE-COC0: BEBA, SIM. MAS BEBA MUITO! BEBA À SAÚDE, AO SABOR E À BRASILIDADE POR

F E R N A N DA

D O E R I N G

F OTO S

L E T Í C I A

Verão. Sol escaldante, temperatura chegando aos 40 graus. Vai e vem de surfistas, casais caminhando à beira-mar, crianças brincando na areia, natureza por todos os lados. E, para complementar esse cenário, águade-coco para matar a sede. Antes que você pense que estamos falando de uma praia do Nordeste, ou de oásis perdidos entre desertos, saiba que esse é o mais novo hábito dos gaúchos: dividir o chimarrão com uma bebida deliciosa, direto da fruta e que transpira saúde. Talvez a idéia tenha dado certo exatamente pela nossa afinidade com a cuia e a bomba, que tanto se assemelham ao tradicional coco e canudinho. Sua casca dura sucumbe somente à lâmina de um facão bem afiado, e é exatamente esse ato que dá início a um ritual mágico. Tomar água-de-coco não é beber um líquido qualquer. Significa degustar uma bebida, fazer uma

R E M I Ã O

viagem por diversas regiões litorâneas do País, vislumbrando lugares tranqüilos, mares que se perdem no horizonte, coqueiros que trazem sombra à areia branca. Não por acaso, o coqueiro é considerado pelos pesquisadores a árvore da vida e um dos principais recursos vegetais da humanidade. Além de todas as suas partes serem utilizáveis, o coqueiro produz um fruto muito rico em nutrientes e usado para diversos fins. Segundo a nutricionista Magda Victorino Munari, a água-de-coco é uma dádiva: “Seus componentes hidratam e amaciam a pele, reduzem o nível de colesterol, controlam a pressão arterial, combatem a prisão de ventre e a desidratação, repõem a energia e ainda previnem e auxiliam no tratamento de artrite. Além disso, a água-de-coco é uma excelente fonte de sódio, cloro e potássio, rica em vitaminas e sais minerais, também considerada um excelente calmante natural”.

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Bebida


CURIOSIDADES SOBRE A ÁGUA-DE-COCO É UM EXCELENTE DIURÉTICO, CAPAZ DE DIMINUIR O EXCESSO DE ÁGUA DO ORGANISMO SEM ALTERAR A PROPORÇÃO DE POTÁSSIO COMO FAZEM OS DIURÉTICOS ARTIFICIAIS. NA 2ª GUERRA MUNDIAL, COSTUMAVA-SE INJETAR ÁGUA-DE-COCO NA VEIA DOS SOLDADOS COM DESIDRATAÇÃO GRAVE. O PRODUTO FUNCIONAVA COMO UM SORO FISIOLÓGICO CAPAZ DE EQUILIBRAR OS LÍQUIDOS DO ORGANISMO DURANTE AS CIRURGIAS DE EMERGÊNCIA. A PALAVRA COCO TAMBÉM DESIGNA UM RITMO DO FOLCLORE NORDESTINO. NO TIMOR, A ÁGUA-DE-COCO É UM LÍQUIDO SAGRADO USADO PARA ABENÇOAR AS PLANTAÇÕES DE MILHO. EM ALGUNS PAÍSES ONDE O DÉFICIT NUTRICIONAL É ALTO, A ÁGUA-DECOCO É UTILIZADA COMO SUBSTITUTA DE PRODUTOS PROTÉICOS.


Bebida

ATÉ NAS GRANDES CIDADES, LONGE DO LITORAL, A ÁGUA-DE-COCO É A BEBIDA DA SAÚDE E DO VERÃO Coqueiros artificiais Até há bem pouco tempo, ser apreciador de águade-coco não era fácil para quem vive fora da região litorânea. Em todo o Nordeste e no Rio de Janeiro, o coco faz parte da paisagem. Já em cidades como Porto Alegre, por exemplo, encontrar um coco verde era a legítima missão impossível. Felizmente, a partir da década de 90, a criação de instrumentos que facilitam a extração da água e de carrinhos que comercializam o produto, bem no espírito dos velhos carrinhos de picolé, acabou com a “lei seca da água-de-coco”. Esses coqueiros artificiais colocaram a água-de-coco no cenário das grandes cidades. Hoje é possível degustar essa bebida mágica nos lugares mais inusitados, como shoppings e supermercados. Origens e variedades O coqueiro é uma planta de clima tropical, existente em mais de 85 países, e que deve ser cultivada no sol. Sua origem é bastante controversa. Enquanto alguns historiadores acreditam que o fruto é oriundo da

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Estilo Zaffari

Índia, outros afirmam que é proveniente de ilhas do Pacífico. Ou, ainda, que já existia nos tempos pré-colombianos, na América Central. A verdade é que, no Brasil, ou melhor, na Bahia, o coco chegou por volta de 1553, a bordo das embarcações portuguesas que vinham das ilhas de Cabo Verde, e espalhou-se por toda a costa, levado, provavelmente, por dispersão natural, com a ajuda das correntes marítimas. Atualmente, os coqueiros mais comuns no País são encontrados em duas variedades: a gigante e a anã. Como é uma planta de grande longevidade, podendo viver além dos 150 anos, chega a atingir 35 metros de altura, dificultando bastante a coleta dos frutos e tornando-a uma atividade arriscada, que exige do apanhador grande destreza, prática e coragem. Em contrapartida, com toda a sua altura, elegância e porte, a árvore transforma-se em uma das mais belas e ornamentais plantas existentes. O Nordeste brasileiro é a região responsável por cerca de 85% da produção nacional e por mais de 90% da área plantada, principalmente com os estados de Alagoas, Sergipe e Bahia.



Viagem

Abenรงoado por

Deus ( E L I N D O P O R NAT U R E Z A )



Viagem


TXAI RESORT, ITACARÉ, BAHIA, BRASIL. ESTE É O SEU DESTINO. P O R

M I L E N E

L E A L

F OTO S

L E T Í C I A

Prometi a mim mesma que não usaria a palavra PARAÍSO para descrever ou classificar o Txai no texto desta reportagem. Maldita resolução! Há dias penso em uma maneira de começar esta narrativa e a tal palavrinha fica me rondando, me tentando, sabotando meu firme propósito de escrever um texto bacana, desprovido de clichês e que possa transmitir aos queridos leitores da Estilo ao menos um pouquinho do deslumbramento causado pelo Txai. Sim, não pense que eu sou a única boba-alegre que, ao se deparar com aquele lugar abençoado, disse, enchendo o peito de ar: “Meu Deus, mas isso aqui é o paraíso!”. Não conheço, não vi e nem ouvi falar de alguém que não tenha se encantado com o Txai. Em primeiro lugar, você está na Bahia, mais precisamente em Itacaré. Êta lugarzinho bonito! A natureza é um arraso: mar cristalino, coqueirais, areias branquinhas, mata atlântica, cachoeiras, rios que serpenteiam entre a mata e as montanhas. Daí tem os baianos. E eles

R E M I Ã O

são simplesmente sensacionais. O sorriso, o jeitinho de falar, as histórias lindas que eles contam, as delícias que eles preparam pra gente saborear... E então você entra nos domínios do Txai Resort. Espiando pelos vidros da van que faz o transporte dos hóspedes entre Ilhéus e Itacaré, você já percebe que adentrou em um lugar, digamos, diferente. O Txai é impecável. Tudo lá dentro é lindo, absolutamente bem cuidado e de muito, muito, muito bom gosto. Na recepção, os hóspedes são recebidos por meninas – quase todas baianas, nascidas ali na região – vestidas com trajes de algodão cru, brancos, leves, despojados, cheios de estilo. Elas são as encarregadas de encaminhar cada um aos seus aposentos. Quem vai ao Txai passa lá pelo menos quatro dias. E, para viver seus dias no paraíso (ops, esqueci!), você recebe a chave de um bangalô, que pode ficar bem próximo à praia ou bem próximo do céu, em cima dos morros que estão dentro dos limites do resort.

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Viagem

UMA FESTA PARA OS OLHOS, UMA EXPLOSÃO DOS CINCO SENTIDOS: VOCÊ ESTÁ NO TXAI

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Eu tive a sorte de ficar no bangalô 1, majestosamente instalado sobre o morro, senhor de uma vista absolutamente deslumbrante para a praia de Itacarezinho. Em nenhum momento dos meus cinco dias de Txai lamentei essa sorte, nem mesmo quando, no fim do dia, ao voltar de um dos exaustivos passeios que, como repórter, fui “convidada” a fazer, me deparava com os cento e tantos degraus e mais um pedaço de morrinho que era preciso subir para chegar ao oásis do meu quarto. Os bangalôs do Txai são maravilhosos. Uma combinação exata entre conforto e estética. Usufruto e bom gosto. Funcionalidade e requinte, mas com total adequação ao ambiente praiano. Quando a baiana abriu a porta do bangalô, minha primeira visão foi... a cama. Impossível não botar os olhos direto naquele autêntico leito nupcial, todo branco e convidativo, instalado no meio do quarto. Nessa hora, virei pro lado e percebi meu


primeiro e grande erro nessa ida ao Txai: a escolha da companhia. Conselho de amiga Aliás, eu já devia ter falado desse assunto lá no começo da matéria. Mas sempre é tempo. Portanto, atenção ao meu mais importante conselho para todos os que pensam em ir a esse lugar: leve ao Txai a sua paixão, sua carametade, o amor da sua vida ou, ao menos, alguém por quem você tenha um carinho muuuuuuuito especial. Nada contra a Izabella, minha grande amiga e diretora de atendimento da Estilo Zaffari. Mas, sinceramente, ela não é exatamente a minha idéia de par romântico. E esse é um lugar que convida ao romance, foi feito para ser desfrutado aos pares. Mais tarde, olhando em torno, no restaurante, à beira da piscina e em todos os ambientes do resort, per-

cebi que Izabella e eu éramos praticamente dois ETs naquele cenário. Todas as outras pessoas agrupavam-se em casais. A única exceção era uma família de americanos: casal mais dois filhos pequenos. Pois Izabella e eu não tardamos a fazer amizade com vários desses felizardos casais. Gente de todas as idades, vinda dos mais diversos lugares. O Txai atrai muitos estrangeiros. Portugueses vêm aos borbotões. Americanos, idem. Mas também circulam por lá suíços, japoneses, espanhóis, gente do mundo inteiro. Dentre os brasileiros, predominam os paulistas. Ninguém nos perguntou, mas a cada contato nós já íamos explicando: estamos aqui a trabalho, viemos fazer uma reportagem, blábláblá... O primeiro jantar foi uma prova de fogo. Imagine o seguinte cenário: salão a meia-luz, delicados vasos com flores fresquinhas e velas acesas em todas as mesas. Um desfile de iguarias inacreditavelmente saborosas (vou

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A PAISAGEM É ARREBATADORA, MAS A COMIDA É ESCANDALOSAMENTE DELICIOSA falar sobre isso com bastante calma mais adiante), taças de champanhe, bossa nova tocando baixinho, suavemente. Nas mesas em volta, os casais. Uns mais sorridentes, outros mais introspectivos, alguns absolutamente enlevados. Mas, invariavelmente, casais. Lá pelas tantas, eu disse pra Bella: “Daqui a pouco vou me sentir obrigada a pegar na tua mão...”. Rimos à beça e, a partir dali, fomos edificando nossa imagem junto aos outros hóspedes. “Como são alegres essas gaúchas, elas estão sempre rindo!”. Muito estilo Utilizamos as horas restantes do nosso primeiro dia para conhecer as dependências do resort. Circulamos bastante, espiamos a praia e todos os recantos e

ambientes destinados aos hóspedes. A arquitetura do Txai é cheia de personalidade. Como convém a um hotel de praia, os ambientes são amplos e sempre super arejados. Janelas, portas e muitas aberturas integram as construções com a natureza. De onde você estiver, vai avistar os coqueirais, um pedaço de mar ou simplesmente os belos jardins do hotel. A decoração, percebe-se instantaneamente, tem a mão de alguém meticuloso, alguém que acredita naquela frase “a diferença está nos detalhes”. Não demorei a descobrir quem, nesse caso, era a fada-madrinha: Dona Vera (como é chamada pela equipe do resort), uma das proprietárias do local e, sem sombra de dúvida, a alma do Txai. Ela costuma circular discretamente pelas dependências do hotel, ajeitando vasos de flores, abrindo cor-

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SE DEUS, A SABEDORIA E A DIFERENÇA ESTÃO NOS DETALHES, TUDO ISSO ESTÁ NO TXAI tinas, afofando as almofadas nos sofás, conferindo detalhe por detalhe, com uma capacidade incrível de tornar os ambientes ainda mais acolhedores, mais agradáveis. O cuidado e o bom gosto estão visíveis em todos os locais. No bangalô, predominam o branco e o cru. Os armários têm cortinas com bordados delicados. Os acessórios são em madeira, fibras naturais ou cerâmica. Os enfeites expressam a cultura local e aparecem “na medida”. No Txai não há exagero, os objetos sempre estão agradavelmente integrados ao cenário. Nos lavabos, na sala de estar, na sala de leitura, no restaurante, em todos os ambientes do Txai você vai perceber a mão inspirada de Dona Vera. Tudo tem alma e muito estilo. Nada da impessoalidade e frieza dos grandes hotéis. Comer, comer A comida é um capítulo à parte. Se você tem alguma pretensão de emagrecer durante sua estada no Txai,

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fique longe dos domínios do Paulinho. E trate de acordar bem cedo pra fazer longas caminhadas pela praia. O Paulinho, ou Paulo Martins, é o chef de cozinha do Txai. Paulista, ele fez carreira no Manacá, um dos mais incensados restaurantes do litoral de São Paulo. Estudou em Paris, mas faz questão de dizer que seu grande mestre foi Edinho Engel, o dono do Manacá. Bem, o Paulinho é um demônio. Por obra e graça de sua mente doentia, os hóspedes acabam ingerindo diariamente uma quantidade enorme de calorias. Sim, porque não há a menor possibilidade de resistir à beleza e ao sabor dos pratos que o restaurante serve em todas as refeições. Ao compor suas receitas, ele dá preferência à matériaprima local, aos produtos da terra. Segundo ele, o Txai faz uma culinária baiana contemporânea, com toques fusion. Seja lá que nome aquilo tenha, é ma-ra-vi-lho-so. O Txai funciona no sistema de pensão completa. Então, tudo o que você tem a fazer é se dirigir ao restau-



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AS PRAIAS SÃO LINDAS, A NATUREZA EMOCIONA. RESPIRE FUNDO. E APROVEITE rante e esperar que comece o desfile de quitutes. O café da manhã já é especial. Tem pães quentinhos, tem um prato de frutas tropicais deliciosas, bolinhos de diversos sabores, tapioca doce ou salgada preparada na hora, queijo de coalho assado, biscoitinhos, queijadinha e uma variedade de delícias tipicamente baianas. E mais: tudo isso pode ser regado a água-de-coco fresquinha. Na hora do almoço ou do jantar, prepare-se para deliciar seu paladar com receitas como “Dueto de peixe e pitu com purê de batata-doce”, “Perdiz recheada com abóbora e castanha de caju”, “Lagosta com molho de mostarda”. E fique sabendo que, após um ou dois dias, a equipe já vai estar familiarizada com seus gostos, por mais exóticos ou esdrúxulos que eles sejam. É apenas mais um

pequeno detalhe de atendimento. Mas que a gente se sente o máximo, ah, se sente! Como se tudo isso fosse pouco, o assunto “refeições” no Txai tem ainda outra particularidade: os horários. Alguma mente civilizada estabeleceu que o café da manhã vai até as 11h30min, o almoço das 14h às 17h e o jantar das 21h às 23h30. Você jamais vai precisar se preocupar em correr para tomar o café da manhã, ou em voltar logo de um passeio para poder almoçar. Os horários permitem uma liberdade de que raramente os hóspedes de um hotel podem desfrutar. Ponto para o Txai! E mais um detalhe: o almoço, em dias de sol, é servido no restaurante da piscina, à sombra dos coqueiros, sobre a areia. Uma delícia.

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CHARME, BOM GOSTO, CONFORTO, SIMPLICIDADE. UMA EQUAÇÃO MAIS-QUE-PERFEITA

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Aventuras e ecologia Uma das coisas mais gostosas de fazer no Txai é... nada. Isso mesmo. Nada melhor do que não fazer nada. A piscina é um lugar ideal para praticar esse esporte. Deixar-se ficar em uma das espreguiçadeiras, com uma água-de-coco na mesinha ao lado, aquela companhia que você escolheu cuidadosamente antes de ir para o Txai (lembra do meu conselho, lá no início deste texto?) e, por que não, um bom livro ou revista, é um dos melhores programas que você pode fazer. Mas se você tem bicho-carpinteiro no corpo e detesta ficar parado, ótimo! O hotel tem um setor especializado em passeios, que oferece opções de atividades puramente contemplativas ou bem dinâmicas, como um rafting no Rio de Contas ou uma trilha a pé pelas praias da região. Itacaré é um dos locais mais bonitos deste Brasil. A combinação de praia com mata atlântica é não apenas


linda, mas a chave para um tipo de viagem que cada vez se torna mais procurado no país: o ecoturismo. E eu, como repórter, pude experimentar o que a região tem de melhor nesse aspecto. Fiz trilha de Land Rover, cavalgada no meio do mato, banhos de cachoeira, trilha pelas praias, navegação de canoa no rio, caminhada no mangue, descida de corredeiras num barquinho chamado duck... Ufa! Confesso que foi cansativo. Mas foi também sensacional! E tudo isso graças a um baiano chamado Helomar, que vem a ser o coordenador da Casa de Passeios do Txai. Ir a Itacaré e não conhecer o Helomar é como ir a Roma e não conhecer o Papa (desculpe pela frase infame, mas não resisti...). Esse baiano, além de ser uma “querideza” de pessoa, sabe tudo de Itacaré. Conhece a fauna e a flora como ninguém. Sabe a história. E torna todos os passeios mais interessantes, divertidos, emocionantes. Além do Helomar, você vai conhecer no Txai ou-

tros baianos muito legais, que deixam saudade quando a gente vai embora. Adorei conversar com a Zete, a Alene, a Jeísa, o Maurício e tantos outros meninos e meninas nascidos e criados na região e que trabalham no Txai. Segundo a Zete (ou Ariozete Soares Sá), o hotel dá oportunidade aos nativos, o que não é muito comum na hotelaria local. Melhor para os hóspedes, que podem conviver com o sorriso, a amabilidade, a educação, o bomhumor e a cultura desse povo maravilhoso. Ocupando um lugar que certamente é abençoado por Deus – faz parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica –, o Txai sabe também como reverenciar e preservar a natureza ao seu redor. Repare nas luminárias baixinhas espalhadas pelos jardins. Não pense que aquela penumbra foi pensada para estimular o romance. É apenas um jeitinho de não desorientar as tartarugas que circulam pela areia da praia. Esse lugar é realmente o paraíso!

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FOTO: DIVULGAÇÃO


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SAÚDE, PRAZER E RELAX No alto de uma colina, com vista panorâmica para o mar, o resort montou, para deleite de seus hóspedes, o Txai Saúde. Verdadeiro templo de relaxamento e prazer, o Txai Saúde é, em primeiro lugar, um local belíssimo, inspirador. A arquitetura segue a proposta adotada em todo o resort: espaços abertos, materiais nativos e rústicos, cores fortes, ambientação detalhada. Mas no Txai Saúde essa proposta se torna ainda mais encantadora. Tomar um banho de ofurô ou fazer uma massagem ayurvédica dentro de uma sala toda aberta para o céu e o mar, entre futtons, sais cheirosos e toalhas macias, vai parecer um sonho. Eu garanto. Você não vai apenas relaxar, vai se transportar para outra dimensão. E se tiver a lucidez de reservar um horário para uma sessão de watsu (shiatsu dentro d’água), posso garantir que você vai se sentir como se tivesse voltado ao ventre da sua mãe. A sensação é indescritível. O watsu é feito dentro de uma piscina que fica quase debruçada sobre a encosta, mirando a praia. A água é suavemente

aquecida. Ao entardecer, uma sessão de watsu no Txai Saúde pode ser o melhor presente que você já se deu. Esse lugar onírico é dirigido por Helena Peirão. Ela é quem dá as aulas de yoga e treina a equipe de massoterapeutas do Txai Saúde. Lá em cima da colina, além dos diversos tipos de massagens, da yoga, da sauna (seca e a vapor) e do watsu, você ainda pode optar por tratamentos puramente estéticos, mas cheios de charme e de segredinhos especiais. Ou pode simplesmente deixar a vida te levar relaxando nas chaises duplas (feitas para casais), colocadas em uma espécie de lounge, entre os vestiários e a sauna. Ah, aproveite para pedir um chazinho verde, preparado ali mesmo, no bar do Txai Saúde. Para alguns hóspedes, o difícil é sair de dentro do Txai Saúde. Muitos chegam e já vão marcando vários tratamentos para todos os dias, a fim de garantir seus momentos de transcendência, já que alguns horários são muito disputados. Devo dizer que eles estão cobertos de razão. Da próxima vez, já vou pra lá com o meu “quadro de horários” montado...

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FIQUE POR DENTRO DE TUDO PRAIAS

A CIDADE DE ITACARÉ

A REGIÃO TEM DIVERSAS PRAIAS BELÍSSIMAS. ALGUMAS DE ÁGUAS TRANQÜILAS, OUTRAS COM ONDAS QUE MOBILIZAM A SURFISTADA. O TXAI FICA NA PRAIA DE ITACAREZINHO. ALI VOCÊ PODE SE INICIAR NO SURF, POIS HÁ INSTRUTORES E EQUIPAMENTO DISPONÍVEIS PARA OS HÓSPEDES.

O TXAI ESTÁ INSTALADO A 12 KM DA CIDADE DE ITACARÉ. PEQUENA E SIMPLES, MAS DESCOLADA, A CIDADE ADQUIRIU, NOS ÚLTIMOS ANOS, UMA FEIÇÃO MAIS TURÍSTICA. HOJE JÁ TEM DIVERSAS POUSADAS E VÁRIOS BARES, ALGUNS BEM CHARMOSINHOS. EXPERIMENTE O MAR E MEL, NA PRAIA DA CONCHA. SE FOR A ITACARÉ, APROVEITE PARA CURTIR UM FORRÓ (COMEÇA À 1H DA MADRUGADA E VAI ATÉ O AMANHECER) E PARA VER O PESSOAL NATIVO JOGANDO CAPOEIRA NO PORTO DE TRÁS (PARA CHEGAR LÁ, PEÇA INFORMAÇÕES À EQUIPE DO HOTEL).

PATIZEIRO – AO LADO DE ITACAREZINHO, AO SUL. PRAIA POUCO MOVIMENTADA, ÓTIMA PARA BANHOS DE MAR. CAMBOINHA TAMBÉM FAZ VIZINHANÇA COM ITACAREZINHO, AO NORTE. PRAIA ABERTA, MAR COM ONDAS. HAWAIZINHO – PRAIA PEQUENA E LINDA. VOCÊ PODE CHEGAR ATÉ LÁ FAZENDO A “TRILHA DAS PRAIAS” DO TXAI. ENGENHOCA – BOA PARA SURF, FICA A 15 MINUTOS DE CAMINHADA A PARTIR DE HAWAIZINHO. JERIBUCAÇU – LINDA E DESERTA, É CORTADA PELO RIO JERIBUCAÇU. FICA A 30 MINUTOS A PÉ A PARTIR DE HAWAIZINHO. SÃO JOSÉ – OUTRA PRAIA LINDÍSSIMA. É LÁ QUE FICA O ITACARÉ ECO RESORT. PRAINHAS – IMPERDÍVEL. É UMA PEQUENA ENSEADA, COM ACESSO – PAGO – FEITO POR UMA TRILHA.

ONDE FICA O TXAI

OUTROS ATRATIVOS DO RESORT SALA DE LEITURA – NESTE AMBIENTE AGRADABILÍSSIMO VOCÊ VAI ENCONTRAR UM PEQUENO ACERVO DE LIVROS E CDS, PARA CURTIR ALI MESMO OU NO SEU BANGALÔ (TODOS OS QUARTOS TÊM CD PLAYER). LOJINHA – FOI LÁ QUE EU COMPREI A MINHA HAVAIANA TREK, CALÇADO PERFEITO PARA FAZER OS PASSEIOS PELA REGIÃO. A LOJINHA TEM TAMBÉM ROUPAS E ACESSÓRIOS DE BOM GOSTO, COMO BATINHAS DE ALGODÃO CRU. E LÁ VOCÊ PODE ADQUIRIR OS DELICIOSOS ROUPÕES DO HOTEL.

RODOVIA ILHÉUS – ITACARÉ, KM 48 – FONE: (73) 634.6936 – www.txai.com.br

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O sabor e o saber FERNANDO LOKSCHIN

MOUSSE DE SALMÃO Salmão, o sol da água a dourar a mesa Nossos antepassados tinham razão em adorar o sol como um deus. Que o sol seja o pai da criação é, ao mesmo tempo, uma das mais antigas e mais modernas observações humanas. Todo o universo, em sua matéria e energia, corpo e espírito, tem origem solar. Cada átomo aqui existente foi feito no sol, e as entranhas incandescentes (e materiais radioativos) da Terra são faíscas ainda não apagadas de seu astro-rei. Sem qualquer exagero, somos todos filhos do sol, o pioneiro dos deuses. Especula-se que, nos primórdios da linguagem, o primeiro ser inanimado a receber uma palavra só para si tenha sido o sol. O cristianismo não exorcizou os símbolos solares das religiões que o precederam: a guarda aos domingos, ‘dia do sol’ (I. sunday; sontag nas línguas nórdicas; diesolis em latim), o corte de cabelos que deixa um halo no topo da cabeça, as auréolas (L. aureola corona, ‘coroa de ouro’) de luz sobre a cabeça dos santos são todas heranças pagãs de adoração ao sol incorporadas e adaptadas pela igreja. Mitra, o chapéu alto e pontudo dos bispos, era originalmente usado pelos sacerdotes de Mitra, o deus-sol dos persas. O nome do chapéu está na origem da válvula mitral do coração, órgão, aliás, de grande simbolismo solar: situado no centro a irradiar calor, sangue e sentimento para todo o universo corporal. Foi a comparação com o sol que concedeu fascínio e valor ao ouro. Amarelo brilhante, incapaz de envelhecer ou enferrujar, o ouro sempre apareceu ao homem como um pedaço do sol na terra. Este deslumbramento é a explicação para que o ouro tenha sido descoberto e utilizado tão antes que o ferro, mesmo que muito mais raro e menos útil. Os adornos de ouro fazem cintilar o sol junto ao corpo, e dourado (<L. ‘de auro’) era o manto do rei, representante de deus e do sol (deus-sol) a governar a Terra. Se o ouro é o sol da terra, o salmão é o sol da água fria. Um peixe de cor e forma belíssimas, carne deliciosa e um ciclo vital cheio de magia e heroísmo. Nascendo na água doce e vivendo na profundeza do mar, o salmão é capaz de viajar 3.000 km, vencer toda sorte de obstáculos – a gravidade, inclusive – para retornar exatamente à sua ‘água natal’, deixar descendência e morrer. É nadando contra a correnteza dos rios, vencendo corredeiras aos saltos, corpo dourado repleto de vigor e instinto, que o salmão é a delícia de pescadores e gourmets, sejam eles ursos ou homens. FOTOS: LETÍCIA REMIÃO (PORTRAIT), CRISTIANO SANT’ANNA (MOUSSE DE SALMÃO)

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É como se o salmão fosse o sol mergulhado na água azul que espelha o céu. A riqueza da carne do salmão tem algo em comum com a frugalidade da cenoura, da abóbora e do mamão. Sua cor se deve ao acúmulo de caroteno proveniente dos crustáceos com que se alimenta. O peixe compartilha a cor e o caroteno até mesmo com a folhagem avermelhada do outono: menos luz solar faz com que diminua a clorofila da folha, o que dá maior expressão ao caroteno. O salmão cedeu à cor o nome que recebeu a partir dos ‘saltos’ característicos. A palavra salmão (L. salmon) é derivada de saltar (L. saltare) e prima de sair (L. salire), originalmente, ‘saltar fora’. Assim como o céu da ave, o simbolismo do peixe é inseparável da água onde vive. Sua fertilidade e a infinidade de ovas o transformaram num afrodisíaco. Os dildos usados pelas romanas tinham a forma não de um pênis, mas de um peixe. O gosto pelo salmão é milenar, a arte rupestre testemunha seu favoritismo pré-histórico. Na Provence, uma pedra encontrada na Caverna de Quinson traz o desenho de um salmão fisgado no anzol. Na Dordonha, a gruta Abri du Poisson (‘abrigo do peixe’) deve o nome ao magnífico baixo-relevo de um salmão: 1metro de comprimento e 25.000 anos de idade! Nos idiomas nórdicos primitivos, as palavras para ‘peixe’ são as mesmas que para ‘salmão’. Nos seus mitos somente o tamanho da baleia faz jus à cor e ao sabor do salmão. O salmão já foi tão abundante que uma lei medieval inglesa proibia que ele fosse dado aos mendigos mais do que três vezes por semana. Hoje, a poluição, barragens e predação transformaram o salmão natural num peixe raro e caro. A sua carne firme e macia se presta a todo tipo de culinária: pode ser servida crua, defumada ou curada ao sol, ou preparada no espeto, grelha, assadeira, frigideira ou panela. O salmão, cor e sabor a saltar até a boca. Do mar ao molho, a longa viagem do prazer. Depois de tanto nadar na água, o mergulho no vinho e o repouso na saliva. O estômago, como o coração, pede uma dieta saudável mas variada. Bem-vindo o salmão, mistura viva da água fria com o brilho do sol. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fer nando@vanet.com.br


2 PORÇÕES DE SALMÃO DEFUMADO (200 G), 1 PACOTE DE GELATINA TRANSPARENTE SEM SABOR, 2 CLARAS BATIDAS EM NEVE, 1 XÍCARA DE NATA, 1 XÍCARA DE ÁGUA, 4 COLHERES DE SUCO DE LARANJA, 2 COLHERES DE VINHO BRANCO, 1 COLHER DE KETCHUP, 1 CEBOLA PICADA, 1 DENTE DE ALHO, SAL E PIMENTA. DISSOLVER A GELATINA, MISTURAR COM A ÁGUA E TEMPEROS E LIQUIDIFICAR ATÉ FICAR HOMOGÊNEO. ACRESCENTAR A NATA E AS CLARAS E MEXER BEM; COLOCAR NUMA FORMA UNTADA E DEIXAR NO GELO PELO MENOS 4 HORAS. PODE-SE SUBSTITUIR PARTE DA NATA POR IOGURTE NATURAL. PODE-SE TAMBÉM COLOCAR ALGUMAS ALCAPARRAS. SERVIR COMO ENTRADA COM TORRADAS E VINHO BRANCO.

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Iguarias do

Mediterrâneo P O R B E AT R I Z G U I M A R Ã E S I LU S T R A Ç Õ E S

N I K

F OTO S

L E T Í C I A

R E M I Ã O


Sabor

UMA VIAGEM AO BERÇO DA CULTURA OCIDENTAL Há pouco mais de uma década, estudiosos descobriram que a comida mais saudável era aquela encontrada na região do Mediterrâneo. A longevidade e a qualidade de vida dos povos que ali vivem podem ser o resultado de hábitos milenares que ainda permanecem entre eles. Um cruzeiro que nos levasse pelo litoral e proximidades de Portugal, Espanha, sul da França, Itália, pelas ilhas gregas, Turquia, Líbano, Síria, Egito e Marrocos estaria fazendo um dos trajetos marítimos mais antigos da humanidade. A região foi cenário de guerras, de comércio intenso e do surgimento de grandes civilizações, berço de toda a cultura clássica ocidental. O perfume do vinho e do azeite Mas, na verdade, o que há em comum na culinária desses povos aparentemente tão diferentes entre si? Além do uso de legumes, ervas frescas, peixes e grãos em abundância, todos esses povos consomem vinho (com exceção dos muçulmanos) e principalmente usam o azeite como base da sua alimentação. O azeite tem sido considerado um dos alimentos mais importantes na dieta humana pelas suas propriedades como as vitaminas E e A, como os óleos benéficos à saúde, além de reconhecidamente combater o colesterol. Também tem sido utilizado como medicamento e cosmético há milênios.

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Mas talvez o aspecto mais importante de tudo isso é que todos esses povos têm como hábito o prazer de sentarse à mesa com os amigos e familiares e apreciar uma boa comida, um vinho caseiro e, literalmente, repartir o pão. Geralmente durante o verão, debaixo de uma parreira, as famílias preparam a mesa com pães, legumes grelhados, peixes, carne de cordeiro, saladas e azeitonas, e muitas das ervas frescas, como a hortelã, o tomilho, o manjericão e a sálvia, servem de complemento para os pratos. Tudo isso é regado a um bom azeite e acompanhado de um vinho da região. Entre as parreiras e as oliveiras Talvez o que melhor defina a paisagem do Mediterrâneo, além do mar que varia do verde pálido ao azul intenso, sejam as oliveiras e as parreiras, presentes em toda a parte. Nas janelas de casas brancas, vasos de gerânios vermelhos se destacam, contrastando com a luz abundante do sol. Num final de tarde, próximo ao mar, nada melhor que um camarão fresco flambado em Jerez, ou em conhaque, à moda da Espanha. Um Manzanilla gelado, o vinho branco da Andaluzia, com peixes, ou com lulas en su tinta, ativam o apetite. Aliás, não só na Espanha com os seus tapas, mas em todos esses países há o tira-gosto, pequenas entradas para acompanhar os aperitivos antes das refei-


HÁBITOS MILENARES, SABOROSOS E SAUDÁVEIS ções. Na Turquia, e imediações, há a salada de iogurte e pepino, perfumada com hortelã, muito refrescante. No sul da França, em Provença, além dos figos frescos, muito maduros, há o perfume das ervas como o tomilho e a lavanda, que se espalham por toda a região dos países do Mediterrâneo. Sugerimos aqui a salada Niçoise, evocando a beleza da Côte d'Azur. Ainda como aperitivo, vem do Egito a simplicidade e perfeição do patê de favas. A Itália apresenta uma das mais criativas e completas cozinhas do mundo. Pode-se dizer que cada cidade, além de ter o seu próprio dialeto, também apresenta um conjunto gastronômico excepcional. Cada cidade, cada região possui a sua própria especialidade. Apresentamos aqui uma pasta tão saborosa quanto simples, o Penne alla matriciana, muito apreciado em Roma. Embora o Líbano seja um país pequeno, possui uma cozinha extraordinária, principalmente pela riqueza do seu solo e clima, que produzem do vinho ao trigo, das frutas aos queijos de cabra e de ovelha, peixes e frutos do mar. Sua cozinha é muito semelhante à da Síria e uma das mais saudáveis, justamente pela variedade que apresenta. O peixe assado com molho tarator enfeitado com semente de romã é muito original. Na Grécia, a luz do sol sobre as casas brancas contrasta com um azul vibrante do Mar Egeu. Ali, entre milhares de ilhas, encontramos a fartura de legumes, peixes

e frutos do mar, além da carne de cordeiro presente em qualquer ocasião. Um dos pratos mais populares, encontrado nas ruas e em qualquer parte, é o shish kebab, espetinho de cordeiro assado nas brasas. Na Grécia, e em toda a região, além dos vinhos bebe-se o ouzo, chamado também de arak nos países árabes, uma bebida feita de anis, muito semelhante ao Pernod francês. Amêndoas e tâmaras O Marrocos, com suas noites cheias de mistério e de magia – talvez pela proximidade do deserto e das montanhas, ou pela presença das caravanas levando e trazendo mercadorias para as feiras livres –, tão bem descritas em “O céu que nos protege”, de Paul Bowles, oferece uma infinidade de pratos combinados com tâmaras, perfumados com canela, açafrão, passas de uva, limões em conserva, entre outros. Além do café, a bebida mais comum é o chá de hortelã. Sugerimos aqui o frango com amêndoas, prato típico da região, que às vezes é preparado com tâmaras também. A cozinha magnífica de Portugal, que além de oferecer uma variedade de frutos do mar, queijos e vinhos excepcionais consegue superar-se pela sua doçaria, um verdadeiro requinte e extravagância. A confeitaria portuguesa está entre as mais refinadas do mundo (aqui não sei se é melhor o arroz doce ou uma torta de nozes com ovos moles).

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França SALADA NIÇOISE 1 CEBOLA PICADA E ESCALDADA 2 TOMATES CORTADOS EM CUBOS TAPENADE 1 PEPINO FRESCO PICADO 250 G DE AZEITONAS PRETAS 1 PIMENTÃO VERMELHO PICADO 1 DENTE DE ALHO CEBOLINHA / AZEITONAS PRETAS 1 COLHER DE ALCAPARRAS 1 LATINHA DE ALICHE 50 G DE ALICI 2 OVOS COZIDOS EM FATIAS 60 ML DE AZEITE 2 BATATAS COZIDAS / FOLHAS DE MANJERICÃO SUCO DE 1 LIMÃO SAL / AZEITE Modo de fazer: Num prato grande, arranjar as batatas cozidas em fatias, cobri-las com azeite e sal e acrescentar o restante dos ingredientes, finalizando com mais azeite e com as folhas de manjericão.

Modo de fazer: Colocar todos os ingredientes no processador. Servir com torradas ou fatias de pão. Também pode ser usado como molho frio para carnes e peixes.

A SALADA NIÇOISE É PERFEITA PARA O VERÃO, POIS, MESMO SERVIDA FRIA, É BASTANTE SUBSTANCIAL. COMBINA A ABUNDÂNCIA DOS LEGUMES DO SUL DA FRANÇA COM O PERFUME E AS CORES DA RIVIERA FRANCESA. UM ROSÉ DA PROVENÇA, LEVEMENTE RESFRIADO, É A BEBIDA IDEAL PARA ESTE PRATO. JUNTO COM A SALADA, SIRVA O TAPENADE, UMA PASTA DELICIOSA PARA COMER COM TORRADINHAS.

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A SALADA DE IOGURTE COM HORTELÃ, TAMBÉM CHAMADA DE CACIK NA TURQUIA, É ENCONTRADA NA MAIORIA DOS PAÍSES DO MEDITERRÂNEO, COM ALGUMAS VARIAÇÕES. EXCELENTE COMO ENTRADA, É RECOMENDADA NO VERÃO PELO FRESCOR DOS PEPINOS E DA HORTELÃ, EM COMBINAÇÃO COM O IOGURTE. SEU PERFUME E SABOR EVOCAM A BELEZA DAS ILHAS DO MAR EGEU, ENTRE A GRÉCIA E A TURQUIA.


Turquia SALADE DE IOGURTE COM HORTELÃ

TOMATES RECHEADOS COM PINHÕES E ERVAS

1 COPO DE IOGURTE NATURAL

2 TOMATES TIPO GAÚCHO

1 PEPINO BEM PICADO

2 A 3 FATIAS DE PÃO TORRADO E MOÍDO

FOLHAS DE HORTELÃ FRESCA

FOLHAS DE MANJERICÃO E MANJERONA FRESCAS

1 DENTE DE ALHO

2 COLHERES DE PINHÕES (PIGNOLI) ITALIANOS

SAL / AZEITE À VONTADE

SAL / AZEITE

Modo de fazer: Num prato fundo, adicionar o pepino picado, mantendo a casca, pois ela ajuda a digestão. Acrescentar o alho bem picado, o sal, as folhas de hortelã partidas com a mão, e cobrir com azeite à vontade. Por fim, acrescentar o iogurte, mexer bem e está pronto para servir, geralmente acompanhado de pão árabe.

Modo de fazer: Cortar os tomates ao meio, descartar as sementes e aproveitar o resto para misturar com os outros ingredientes. Picar os pinhões, misturar com o pão torrado, as ervas, o azeite e o sal e rechear os tomates. Pode-se servir frio ou tostar no forno por alguns minutos.

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CAMARÃO FLAMBADO COM JEREZ: A CIDADE ANDALUZA DE JEREZ DE LA FRONTERA, NO SUL DA ESPANHA, PRODUZ UM VINHO ESPECIALÍSSIMO E APRECIADO NO MUNDO TODO. OS INGLESES O CHAMAM DE SHERRY, E NÓS, DE XEREZ. ASSIM COMO OS VINHOS, OS FRUTOS DO MAR SÃO MUITO APRECIADOS NA ESPANHA. AQUI, O FRESCOR DOS CAMARÕES É COMBINADO COM A TRADIÇÃO DO JEREZ. SIMPLES E DELICIOSO.


Espanha CAMARÃO FLAMBADO COM JEREZ

ROMESCU (MOLHO DE PIMENTÃO COM AMÊNDOAS)

500 G DE CAMARÃO GRANDE COM CASCA

3 PIMENTÕES VERMELHOS

2 COLHERES DE AZEITE

30 AMÊNDOAS, SEM PELE, TOSTADAS

1 CEBOLA PICADA

3 TOMATES MADUROS / PÁPRICA

50 ML OU ¼ DE COPO DE JEREZ

2 COLHERES DE VINAGRE DE VINHO TINTO

OU CONHAQUE

1 DENTE DE ALHO / SAL

SALSINHA / SAL Modo de fazer: Numa frigideira grande, pôr o azeite e a cebola. Deixar dourar, acrescentando o camarão e deixando que ele frite levemente. Caso seja necessário, pôr umas colheres de água quente ou caldo de peixe, para cozinhar melhor. Adicionar o sal, a salsinha, reduzir o líquido e, por fim, acrescentar o Jerez para flambar.

Modo de fazer: Grelhar bem os pimentões até queimar as cascas. Colocálos em água fria e em seguida tirar a pele e as sementes. Reservar. Tirar a pele e as sementes dos tomates e reservar. Moer as amêndoas no processador, e acrescentar o restante dos ingredientes. Este molho serve como acompanhamento para carnes e peixes, tanto frio como quente. Também pode ser servido em fatias de pão e levado ao forno para tostar.

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Sabor

Itália PENNE ALLA MATRICIANA 1 LATA DE TOMATE ITALIANO 1 CEBOLA 2 DENTES DE ALHO 1 FATIA DE PANCETTA OU BACON PICADO FOLHAS DE MANJERICÃO ITALIANO (OU ALFAVACA) PARMESÃO, OU PECORINO 500 G DE PENNE 3 COLHERES DE SOPA DE AZEITE / SAL

Modo de fazer o molho básico de tomate: Fazer um molho básico de tomate, colocando numa panela azeite e a cebola picada. Deixar dourar, acrescentando os tomates sem pele. Mexer, juntando um copo de água fervente e o sal, e deixar cozinhar lentamente por uns 10 minutos. Desmanchar, com a colher, os pedaços de tomate. Retirar do fogo e reservar. Este molho pode ser guardado em geladeira durante muitos dias, e é a base para muitos pratos. Modo de fazer: Numa panela, colocar o azeite, a pancetta, ou bacon, deixar dourar e acrescentar o alho machucado, cuidando para que ele não queime. Adicionar a metade do molho de tomate, ou um pouco mais, e deixar no fogo por alguns minutos. Antes de desligar, acrescentar as folhas de manjericão partidas com a mão (não use faca), deixar por mais um minuto e desligar. Numa outra panela, ferver água suficiente para cozinhar a pasta. Quando ferver, adicionar sal e em seguida o penne. Cozinhar por 10 ou 12 minutos, conforme a indicação, escorrer e colocar diretamente no molho alla matriciana em fogo brando. Deixar por alguns minutos até misturar bem. Ralar o queijo na hora e servir em travessa funda. Dá para 4 porções.

PENNE ALLA MATRICIANA: FAVORITA DOS ROMANOS, ESTA PASTA É TÃO SABOROSA QUANTO FÁCIL DE PREPARAR. COMO OS ITALIANOS NORMALMENTE TÊM ALGUM MOLHO DE TOMATE JÁ PREPARADO NA GELADEIRA, EM POUCOS MINUTOS A PASTA ESTARÁ PRONTA, COM O PERFUME DO MANJERICÃO SE ESPALHANDO PELA CASA E ABRINDO O APETITE DOS CONVIDADOS. É UM PRATO LEVE E AROMÁTICO.

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Sabor


Líbano PEIXE ASSADO COM MOLHO TARATOR

BABA GANOUJ (PATÊ DE BERINJELA)

1 ANCHOVA, OU OUTRO PEIXE SIMILAR

2 BERINJELAS

1 TOMATE / FOLHAS DE SÁLVIA, OU TOMILHO

1 DENTE DE ALHO

1 COLHER DE FARINHA DE ROSCA CASEIRA

1 COLHER DE TAHINE, OU AZEITE,

SAL GROSSO / AZEITE / 2 COLHERES DE TAHINE

SE PREFERIR

2 DENTES DE ALHO / 1 LIMÃO / ROMÃ

SAL

Modo de fazer o m olho t arator: molho Amassar bem o alho e misturar com o tahine, acrescentando um pouco de água, o suco de limão e o sal. Continuar misturando bem até atingir a consistência de maionese. Adicionar mais água, se preciso. Modo de fazer o peix e: peixe: Assar o peixe no forno, ou churrasqueira, recheando-o antes com tomate picado, 1 dente de alho, sálvia, sal e farinha de rosca. Ao servir, cobrir com molho tarator. Enfeitar com sementes de romã.

Modo de fazer: Perfurar as berinjelas com um garfo e colocá-las na grelha ou no forno até que as cascas fiquem bem queimadas. Deixar escorrer o líquido, se houver, e quando esfriarem retirar a casca, separando todo o miolo. Misturar o restante dos ingredientes, ou colocar tudo no processador. Servir com pão árabe ou torradas.

O MOLHO TARATOR TAMBÉM É MUITO USADO EM PRATOS COM FRANGO, E É EXCELENTE EM SANDUÍCHES, COMBINANDO PEPINOS, TOMATES E CARNES DIVERSAS. SUPERNUTRITIVO, CONFERE UM SABOR DELICIOSO E MUITO PARTICULAR AOS PRATOS. A COMBINAÇÃO DE PASTA DE GERGELIM COM ALHO É UM ACHADO. EXISTE TAMBÉM A VERSÃO DOCE DESTA PASTA DE GERGELIM, GERALMENTE FEITA COM MEL.

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Sabor


Marrocos FRANGO COM MOLHO DE AMÊNDOAS

MOLHO DE AMÊNDOAS

4 PEDAÇOS DE FRANGO

1 COLHER DE MANTEIGA

1 COPO DE VINHO BRANCO SECO

50 G DE AMÊNDOAS SEM PELE, FATIADAS

SAL / 1 PITADA DE CANELA

50 G DE AMÊNDOAS MOÍDAS SEM PELE

1 PITADA DE NOZ-MOSCADA

150 ML DE CREME DE LEITE / 2 GEMAS

MANJERONA FRESCA 2 DENTES DE ALHO AMASSADOS Modo de fazer o frango: Temperar bem de véspera. Assar no forno, coar o caldo da forma e reservá-lo.

Modo de fazer o molho de amêndoas: Numa frigideira, colocar a manteiga e as amêndoas para dar cor. Retirar da frigideira e reservar. Aquecer o caldo de frango e adicionar a amêndoa moída, deixando cozinhar um pouco até combinar bem. Numa vasilha, bater o creme e as gemas ligeiramente. Adicionar o caldo a esta mistura aos poucos e levar ao fogo brando novamente, sem ferver. Corrigir os temperos, pôr o molho sobre o frango e acrescentar as amêndoas tostadas por cima.

A RIGIDEZ DA CARNE DO FRANGO – GERALMENTE SÃO UTILIZADAS AVES MAIS VELHAS – REQUER UM COZIMENTO LENTO. A FAMOSA TAGINE, EM QUE AS AVES SÃO COLOCADAS EM RECIPIENTES DE CERÂMICA VEDADOS, JUNTO COM LEGUMES E ERVAS FRESCAS, E COZIDAS POR MUITO TEMPO EM FOGO LENTO, É UM DOS PRATOS MAIS POPULARES DO MARROCOS. AQUI A DELICADEZA DO MOLHO DE AMÊNDOAS É O DESTAQUE.

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Sabor

Portugal TOUCINHO DO CÉU

MAÇÃS ASSADAS COM VINHO RIESLING

250 G DE AMÊNDOAS RALADAS

1 XÍCARA E ½ DE SUCO DE LARANJA

1 KG DE AÇÚCAR / 12 GEMAS

1 XÍCARA DE VINHO RIESLING OU MOSCATO

250 G DE FARINHA DE TRIGO

5 COLH. (SOPA) DE AÇÚCAR CRISTAL DOURADO

250 G DE MANTEIGA

RASPA DE 1 LARANJA, CANELA EM PAU,

AÇÚCAR DE CONFEITEIRO PARA ENFEITAR

2 CRAVOS, RASPAS DE GENGIBRE 8 MAÇÃS CORTADAS EM 8 FATIAS

Modo de fazer: Fazer uma calda com o açúcar em ponto de pasta, juntar a manteiga e deixar esfriar. Depois de esfriada a calda, adicionar as gemas e os outros ingredientes, deixando por último a farinha. Despejar tudo em uma assadeira e levar ao forno não muito quente, para corar.

Modo de fazer: Colocar todos os ingredientes numa forma, cobrir com papel-alumínio e assar por 30 a 40 minutos no forno. Uma sugestão é servir as maçãs quentes com sorvete.

TOUCINHO DO CÉU: COMO A MAIORIA DOS DOCES PORTUGUESES, ESTE TAMBÉM SE ORIGINOU NOS CONVENTOS. PORTUGAL, DURANTE SÉCULOS, MANTEVE UMA INTENSA PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NAS SUAS COLÔNIAS, O QUE PERMITIU CRIAÇÕES EXTRAVAGANTES E O APRIMORAMENTO EXCEPCIONAL DE SUA DOÇARIA. AQUI, MAIS UMA VARIAÇÃO DE CALDA, OVOS E AMÊNDOAS. REALMENTE CELESTIAL.

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TOUCINHO DO CÉU: COMO A MAIORIA DOS DOCES PORTUGUESES, ESTE TAMBÉM SE ORIGINOU NOS CONVENTOS. PORTUGAL, DURANTE SÉCULOS, MANTEVE UMA INTENSA PRODUÇÃO DE AÇÚCAR NAS SUAS COLÔNIAS, O QUE PERMITIU CRIAÇÕES EXTRAVAGANTES E O APRIMORAMENTO EXCEPCIONAL DE SUA DOÇARIA. AQUI, MAIS UMA VARIAÇÃO DE CALDA, OVOS E AMÊNDOAS. REALMENTE CELESTIAL.


Bom conselho P O R M A LU C O E L H O

VIVA A ÁGUA A maior parte do nosso planeta é composta de água. A vida na superfície da Terra depende essencialmente desse elemento. Mas não de qualquer tipo de água, pois a água salgada dos oceanos e mares não se presta para os usos indispensáveis à vida, como beber, banhar e irrigar. A água vital para a sobrevivência do planeta é a água doce, que existe em muito menor quantidade. Do total existente no planeta, 97% são de água salgada. Dos 3% restantes, 2,3% estão armazenados nas geleiras e calotas polares. Somente 0,7% (ou 9 milhões de quilômetros cúbicos) está contido no subsolo, lagos, rios e é passível de exploração. Daí a grande necessidade de preservação desse elemento indispensável ao ecossistema. A demanda por água constitui um dos maiores desafios a serem enfrentados, especialmente nos grandes conglomerados humanos. Por enquanto, felizmente ainda podemos nos dar ao luxo de saborear um bom copo d'água, seja ela natural, mineralizada ou mineral. Você sabia que a água comercializada que hoje tomamos já foi chuva, há cerca de dez anos? Depois de correr pelos rios e entrar em contato com as rochas, ela recebe os sais minerais. Por essa razão é considerada uma substância viva, e suas propriedades não se perdem mesmo depois de engarrafada. A água mineralizada recebe artificialmente, em laboratório, os sais de que necessita, enquanto a natural é simplesmente potável. As águas minerais trazem somente benefícios para o nosso organismo e são auxiliares em diversos tratamentos de saúde.

DESCUBRA NOS RÓTULOS OS PODERES DA ÁGUA: FLUORETADA - ÁGUA ADICIONADA DE FLÚOR. É IMPORTANTE PARA A SAÚDE DOS DENTES E DOS OSSOS. QUASE TODA A ÁGUA POTÁVEL DAS CIDADES É FLUORETADA. CARBOGASOSA OU ÁGUA COM GÁS - ESTE TIPO DE ÁGUA TEM GÁS CARBÔNICO. AUXILIA NA DIGESTÃO E É UMA OPÇÃO MAIS PRAZEROSA DO QUE MEDICINAL. BICARBONATADA SÓDICA - CONTÉM BICARBONATO DE SÓDIO. AUXILIA NO TRATAMENTO DE GASTRITES E ÚLCERAS, ALÉM DE AJUDAR NO FUNCIONAMENTO DO PÂNCREAS E DO FÍGADO. CÁLCICA - CONTÉM BICARBONATO DE CÁLCIO. CONTRIBUI PARA A REDUÇÃO DE DOENÇAS DE PELE, RAQUITISMO E É EFICAZ PARA CONSOLIDAR FRATURAS. RADIOATIVA - TEM O MINÉRIO RADÔNIO. AJUDA NA ELIMINAÇÃO DE CÁLCULOS BILIARES E AUXILIA O PROCESSO DIGESTIVO. PODE ATUAR COMO CALMANTE E LAXANTE, ALÉM DE PARTICIPAR NA FILTRAGEM DE EXCESSO DE GORDURA NO SANGUE. ADICIONADA DE SAIS - TEM GOSTO DIFERENCIADO, SEM PROPRIEDADES MEDICINAIS. OLIGOMINERAL RADIOTIVA - TEM VÁRIOS TIPOS DE MINERAIS EM PEQUENAS QUANTIDADES. AJUDA NO CONTROLE DO ÁCIDO ÚRICO E INFLAMAÇÕES URINÁRIAS. CONTRIBUI PARA UMA DESINTOXICAÇÃO GERAL DO ORGANISMO.

HIDRATE SEU CORPO E MANTENHA SUA SAÚDE NESTE VERÃO!

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Ontem, hoje e sempre P O R R O S E S U L E I M A N F OTO S C R I S T I A N O S A N T ’ A N N A

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Em dias de modismos efêmeros e points que seguem o frenético ritmo do abre-e-fecha, a gastronomia de Porto Alegre tem do que se orgulhar. A cidade apresenta uma harmoniosa mescla entre as propostas inovadoras, temáticas, sofisticadas e até de vanguarda dos novos estabelecimentos e a tradição de casas decanas, que já se incorporaram à memória da capital. Felizmente, não são poucos os estabelecimentos merecedores do título desta reportagem: “Ontem, hoje e sempre”. Existem dezenas de restaurantes e bares que franqueiam décadas de tradição sem perder o brilho, o apelo, a majestade. Em comum, eles reúnem a fidelidade de seus públicos, inúmeras premiações recebidas de guias gastronômicos, a administração familiar, a preservação de seus estilos originais, a simplicidade, um marketing que se resume ao bom e velho “boca-a-boca” dos habituès, excelência na comida, atendimento

carismático e mais um sem-número de características que, juntas, compõem a receita do sucesso. Na reportagem a seguir, apresentamos quatro exemplos de estabelecimentos que podem comemorar sua longevidade de portas abertas e casa sempre cheia: os restaurantes Gambrinus, Copacabana, Santo Antônio e o bar Caverna do Ratão. Porto Alegre tem ainda diversas outras casas de idade avançada, tão bem-sucedidas e amadas como essas quatro. Mas, sempre presos aos critérios de antigüidade e sucesso, fizemos um sorteio para definir quem seriam os “perfis” apresentados nesta edição. Na última página da matéria, você vai encontrar um pequeno guia com os endereços e características principais de outros restaurantes e bares antigos, tradicionais e vitoriosos há muitas décadas. Todos esses endereços devem pular imediatamente para sua agenda. Se já não estiverem lá há anos.

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Lugar

Alma, tradição e a bênção da clientela

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“A felicidade não se compra, encontra-se na mesa 1 do GAMBRINUS.” A declaração romantizada é a síntese do sentimento dos tradicionais freqüentadores de um dos mais antigos restaurantes de Porto Alegre. É assim que se sente, literalmente, Antônio Nunes Vieira, autor da frase acima, registrada em uma placa comemorativa que homenageia o restaurante. A placa está lá para perpetuar o prazer e a essência das reuniões de amigos que há mais de 40 anos se encontram no Gambrinus, em especial, na mesa 1. Pode parecer exagero para quem tem menos intimidade com o restaurante, mas durante os seus 114 anos o Gambrinus virou sinônimo de tradição gastronômica e vem provocando manifestações apaixonadas como essa. Há mais de um século, os ladrilhos e adereços de


inspiração portuguesa testemunham a história e o diaa-dia do mercado público municipal, onde o restaurante está instalado desde sempre. A acolhedora simplicidade característica do lugar é parte fundamental desta história. Com origens que remetem a uma hermética confraria de imigrantes alemães, o Gambrinus passou em 1964 às mãos de Antônio Dias de Melo, que redesenhou a proposta do local. Ali, conforme homenagem da Câmara Municipal de Porto Alegre pelo centenário do Gambrinus, formou-se um cenário em que convivem, democraticamente, doutores e trabalhadores. O ponto referencial das mais significativas tradições de humanismo da cidade. A receita do sucesso pode ter várias explicações: a proteção do mitológico deus cervejeiro Gambrinus, que,

com seu nome, batiza a casa; a qualidade no atendimento; o sabor dos bolinhos de bacalhau; o chope gelado em copo de cristal, ou um misto de tudo isso. Para o universitário João Alberto Cruz de Melo, de 25 anos, que herdou do pai o leme do restaurante e, ao lado de familiares, mantém a tradição, a palavra-chave do Gambrinus é continuidade. Continuidade do conceito adotado desde o princípio, da forma amistosa de contato com os clientes, do cardápio (no qual muitas das especialidades da casa – peixes e receitas portuguesas – ainda têm preservados os ingredientes e o modo de preparo). A ordem é pouca renovação: “Quem vem aqui, na maioria das vezes, vem atrás de algo que sabe que vai encontrar. Procura o que nós oferecemos há muito tempo”, afirma Melo.

“A FELICIDADE NÃO SE COMPRA, ENCONTRA-SE NA MESA 1 DO GAMBRINUS” ANTÔNIO NUNES VIEIRA, HOMENAGEANDO O RESTAURANTE Q UE FREQÜENTA HÁ MAIS DE 40 ANOS Estilo Zaffari

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Quatro gerações na frente e atrás do balcão

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O carisma e a união da família no comando são os principais ingredientes do sucesso do restaurante SANTO ANTÔNIO, segundo a proprietária Elaine Aita. Tudo começou há mais de 70 anos, quando o imigrante italiano Antonio Aita casou com dona Concheta e, em 1929, ela resolveu vender viandas para auxiliar na criação dos quatro filhos. Esta foi a preliminar daquele que viria a ser um dos mais tradicionais restaurantes da capital gaúcha. Em 1935, os negócios começaram a mostrar resultado, e o casal Aita adquiriu um prédio. Nascia ali o Santo Antônio, que acabou transformando-se de mercadinho e hospedaria em restaurante. Anos mais tarde, a responsabilidade pela cozinha passou aos filhos do casal. O cardápio ganhou


novos itens quando Caetano Aita, um dos quatro irmãos, assumiu a casa depois que o pai morreu. Os pratos italianos eram, então, muito elaborados para a pouca experiência culinária que tinha, e ele precisou inovar. Introduziu no cardápio o filé, ainda hoje o carro-chefe entre os pedidos. Na seqüência vieram os molhos, grelhados e o churrasco. Durante todo esse tempo, apenas duas coisas mudaram radicalmente na casa: o fogão a lenha e as viandas foram abolidos, diz Elaine, ao falar das adaptações que o irmão Jorge implantou, além de “colocar a mão na massa”. Mas a antiga e boa caderneta de conta ainda funciona no Santo Antônio, para os tradicionais clientes. Tudo isso, mais o atendimento familiar, fomentou a tradição e enraizou a fidelidade

do público. São quatro gerações dos dois lados do balcão: os irmãos Elaine e Jorge Aita e seus filhos estão juntos no comando do restaurante, enquanto os bisnetos dos primeiros freqüentadores já ocupam os espaços destinados aos clientes. Mas não é só a nova geração que assina o ponto. Armando e Clarice Guimarães são exemplos da fidelidade ao Santo Antônio. Há mais de 40 anos freqüentam o restaurante. Se a família quiser ver o casal no horário do almoço, em qualquer dia, sabe onde encontrá-los. E não é em casa. Eles têm cadeira cativa, diariamente, no restaurante. Começaram como clientes e se transformaram em amigos da casa. “Eles nos tratam como amigos. Nós nos sentimos em casa”, diz Clarice.

“ELES NOS TRATAM COMO AMIGOS E NÓS NOS SENTIMOS EM CASA” ARMANDO E CLARICE GUIMARÃES, CASAL QUE ALMOÇA TODOS OS DIAS NO RESTAURANTE Estilo Zaffari

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Lugar

Mesas e paredes que contam histórias

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Reduto de políticos e intelectuais de todas as hostes, o restaurante COPACABANA, com seu estilo de cantina italiana, coleciona recomendações e indicações de uma clientela ilustre. Os muitos troféus recebidos têm destaque na decoração, que registra ainda as figuras mais freqüentes na casa, estampadas em fotos que cobrem as paredes dos três ambientes. Vem sendo assim desde que, há 65 anos, o imigrante italiano Leonardo Vitola adquiriu o Copa. Mas o impulso maior veio em 1953, quando Sanzi Biagio, o Biaginho, entrou na sociedade. O Copacabana cresceu e se tornou referência na cidade, edificando a tradição da boa comida e do atendimento personalizado. Política e futebol têm larga convivência no restaurante. Campanhas políticas foram deflagradas em mesas do Copa, que já re-


ceberam Lula e o ex-primeiro-ministro português Mário Soares, entre outros. Lupicínio Rodrigues inspirou-se no local ao compor o trecho “até a pé nós iremos”, do hino do Grêmio, referindo-se ao deslocamento no trajeto do Copacabana até o campo Timbaúva, onde se realizavam jogos do time. O ex-presidente do Grêmio, Fábio Koff, assina ponto na casa há mais de 40 anos e afirma: “O serviço continua o mesmo, o atendimento é perfeito, a cozinha italiana é das melhores e a simpatia dos donos é imbatível”. “Nossas ligações são históricas”, ressalta Koff, lembrando que muitas comemorações dos feitos gremistas aconteceram lá. Os festejos de Koff e sua turma incluem sempre a Vitela ao Forno, prato preferido do gremista. Para ele, o Copa representa “um marco afetivo”.

Para os mais curiosos, as histórias do Copa podem ser apreciadas de viva-voz com o Biaginho. Do alto de seus 80 anos, muita vitalidade e simpatia, ele está lá, todos os dias, há 50 anos, recebendo os clientes. Hoje, ele reveza o comando da casa com José Vitola, herdeiro do fundador, e com os próprios netos. Considerado o impulsionador do Copa, Biaginho promoveu ampliações e melhoramentos, e acabou até sendo incorporado ao cardápio: um dos pratos da casa chama-se Filé à Biaginho. Na preferência da clientela, porém, o prato perde para as receitas tradicionais da casa, como a vitela, o cordeiro na tábua e o rascatelli ao suco. “Tenho muito orgulho daqui. Isto é a minha vida”, revela o imigrante italiano.

“O COPA REPRESENTA, PRA MIM, UM MARCO AFETIVO. TEMOS UMA LIGAÇÃO HISTÓRICA” F Á B I O K O F F, E X - P R E S I D E N T E D O G R Ê M I O , F R E Q Ü E N T A D O R H Á M A I S D E 4 0 A N O S Estilo Zaffari

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Boemia, alto-astral, sabor e amizade

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Para os entendidos, o melhor sanduíche aberto e o melhor chope da cidade têm endereço certo: a CAVERNA DO RATÃO. O local simples e despojado já contabiliza 49 anos desde que seu fundador, Aristides Saldanha, abriu as portas do bar, em 1955. O nome peculiar tem a marca dele. É decorrência da forma com que se dirigia aos amigos na rua, convidando-os a entrar e tomar um chopinho. Para ele, todos os amigos chamavamse “ratão”. A brincadeira pegou e a casa virou a Caverna do Ratão. Além dos bolinhos de bacalhau, dos bolinhos de carne com queijo, do sanduíche aberto e do chope extraído do barril, a informalidade é uma das marcas registradas do Ratão, característica que as filhas Vera, Shirlei e Elizabeth procuram manter, bem ao espírito do pai.


“A Caverna do Ratão é a casa de todo mundo. Não tem frescura”, diz Vera, definindo a fórmula do sucesso que perdura. “Temos clientes que namoraram, casaram e agora trazem os filhos aqui. Nosso público é de todas as idades. São anônimos e famosos”, orgulha-se. Mas Vera faz questão de ressaltar também os cuidados com a qualidade. A casa reabastece diariamente os barris de chope, para um consumo médio que chega a seis barris por dia (cerca de 180 litros). Os quitutes são todos preparados pela própria família. O resultado é a confraternização instalada e permanente que habita as mesas da Caverna, parada quase que obrigatória para muitos, no final da tarde, depois de um dia de trabalho. A intimidade dos clientes na Caverna do Ratão é tanta que eles viram auxilia-

res quando o movimento é maior. O produtor cultural Cézar Prestes, por exemplo, era solteiro quando começou a freqüentar o local. Casou, e a comemoração do nascimento da filha não poderia ter sido em outro lugar, relata. Os brindes foram regados a chope do Ratão. Lá se vão mais de 20 anos, a filha cresceu e ele continua dando aquela passadinha rápida, mas constante, no bar que, para ele, criou personalidade. “A Caverna do Ratão é um lugar único em Porto Alegre. Uma peça única cuja fôrma se quebrou. Só tem esse”, assegura. Cristiano Matte, morador do bairro, testemunhou o nascimento da Caverna do Ratão: “É uma confraria, não tem sofisticação, mas tem nível intelectual. Os anos só acentuaram a qualidade do local”, afirma Matte.

“A CAVERNA DO RATÃO É UMA PEÇA ÚNICA, CUJA FÔRMA SE QUEBROU. SÓ TEM ESSE” CÉZAR PRESTES, PRODUTOR CULTURAL, HABITUÈ DA CASA Estilo Zaffari

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Lugar ONTEM, HOJE E SEMPRE BAR DO BETO AV. VENÂNCIO AIRES, 876, (51) 3332.0063 HORÁRIO: DE SEG. A DOM., DAS 17H ÀS 3H; SÁB. ESPECIALIDADE: PICANHA NA CHAPA COM ALHO TEMPO DE MERCADO: 52 ANOS

BARRANCO AV. PROTÁSIO ALVES, 1.578, (51) 3331.6172 HORÁRIO: DE SEG. A DOM., DAS 11H ÀS 2H ESPECIALIDADE: CHURRASCO TEMPO DE MERCADO: 35 ANOS

ALÉM DOS QUATRO ESTABELECIMENTOS ENFOCADOS NESTA

BOLOGNA

RANTES E BARES QUE JÁ SE TORNARAM INSTITUIÇÕES DA

AV. CORONEL MARCOS, 2539, (51) 3246.8485 HORÁRIO: DE SEG. A SEX., DAS 18H30 ÀS 24H30; SÁB., DOM. E FERIADOS, DAS 11H ÀS 24H ESPECIALIDADE: FILÉS TEMPO DE MERCADO: 50 ANOS

CIDADE. CONFIRA A LISTA A SEGUIR E, SE TIVERMOS DEIXA-

CAVERNA DO RATÃO

REPORTAGEM, PORTO ALEGRE TEM VÁRIOS OUTROS RESTAU-

DO ALGUÉM DE LADO, MANDE INFORMAÇÕES PARA A REDAÇÃO!

PROTÁSIO ALVES, 1709, (51) 3332.6774 HORÁRIO: SEG. A SEX., DAS 17H À 1H ESPECIALIDADE: CHOPP GELADO E SANDUÍCHE ABERTO TEMPO DE MERCADO: 49 ANOS


DON NICOLA

LOURIVAL

RUA ENG. VERÍSSIMO DE MATOS, 310, (51) 3331.5464 HORÁRIO: DE QUA. A SEX., DAS 19H30 ÀS 23H; SÁB. DAS 11H30 ÀS 15H E DAS 19H30 ÀS 22H; DOM. DAS 11H30 ÀS 15H ESPECIALIDADE: FRANGO PRENSADO E MASSA TEMPO DE MERCADO: 40 ANOS

RUA 24 DE OUTUBRO 1.624, (51) 3337.3405 HORÁRIO: SEG. A SÁB., DAS 11H30 ÀS 16H30/18H30 ÀS 2H ESPECIALIDADE: FILÉS E PETISCOS TEMPO DE MERCADO: 50 ANOS

COPACABANA

AV. BENJAMIN CONSTANT, 1.791, (51) 3342.2503 HORÁRIO: DE SEG. A QUI., DAS 11H30 ÀS 14H E DAS 19H ÀS 23H30; SEX. E SÁB., DAS 11H30 ÀS 14H30 E DAS 19H ÀS 24H ESPECIALIDADE: FRUTOS DO MAR TEMPO DE MERCADO: 32 ANOS

PRAÇA GARIBALDI, 02, (51) 3221.4616 HORÁRIO: SEG. A SAB., DAS 11H30 ÀS 15H E DAS 19H À 1H; DOM. DAS 11H30 ÀS 16H E DAS 19H30 ÀS 24H. ESPECIALIDADE: VITELA, RASCATELLI AO SUGO TEMPO DE MERCADO: 65 ANOS

GAMBRINUS AV. BORGES DE MEDEIROS, 85, (51) 3226.6914 HORÁRIO: SEG. A SEX., DAS 11H ÀS 21H; SÁB., DAS 11H ÀS 16H; DOM., DE MAI. A DEZ., DAS 11H ÀS 15H. ESPECIALIDADE: PEIXES (SALMÃO, BACALHAU) TEMPO DE MERCADO: 115 ANOS

WALTER AV. CRISTÓVÃO COLOMBO, 933, (51) 3225.2658 HORÁRIO: DE SEG. A SÁB., DAS 18H30 À 0H30 ESPECIALIDADE: FILÉS TEMPO DE MERCADO: 42 ANOS

PAMPULHINHA

PRINZ AV. PROTÁSIO ALVES, 3208, (51) 3383.0675 HORÁRIO: SEG. A QUI., 18H ÀS 24H; SEX. E SÁB., 18H À 1H ESPECIALIDADE: CULINÁRIA ALEMÃ - RAHM SCHNITZEL (FILÉ À MILANESA COM MOLHO DE NATA) TEMPO DE MERCADO: 39 ANOS

SANTO ANTÔNIO DR. TIMÓTEO, 465, (51) 3222.3130 HORÁRIO: SEG A SEX, DAS 11H ÀS 15H; SÁB E DOM, DAS 11H ÀS 16H; À NOITE, DAS 19H ÀS 24H (SEG A DOM) ESPECIALIDADE: FILÉS (FILÉ À PARMIGIANA) TEMPO DE MERCADO: 69 ANOS


Gula


Pão, pão queijo, queijo POR F E R N A N DA D O E R I N G F OTO S C L Á U D I O M E N E G H E T T I

Muito tempo já passou desde que o Lorde John Eduard Montague, conhecido como Conde Sandwich, fascinado por jogos de cartas, resolveu colocar um pedaço de carne entre duas fatias de pão, evitando, dessa forma, sujar as mãos enquanto praticava seu hobby favorito. Mal sabia ele que, a partir de um gesto tão prático e despretensioso, surgiria o sanduíche, refeição que vem conquistando gerações e já se transformou em um importante ramo da gastronomia mundial. De lá para cá, inúmeras adaptações e ajustes foram feitos à fórmula inicial e os ingredientes mais diversos já foram usados como recheio das tais fatias de pão. Na verdade, esta é justamente a principal característica do sanduíche: sua versatilidade. De junkies a naturebas, do faquir ao esfomeado, todo mundo acaba descobrindo um tipo de sanduíche que combina com a sua fome ou o seu paladar. Hoje, o “sanduba” é uma unanimidade universal. Está presente à mesa do estudante, da empresária e até do presidente da República. É o menu ideal no momento do aperto, da pressa ou quando bate aquela preguiça de ir para o fogão. E já existem até versões ultra-sofisticadas, vedetes de cardápios estrelados. A seguir, apresentamos as receitas de quatro sandubas que são “best-sellers” em Porto Alegre.

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Gula

Beiruth de Roast Beef 300 G DE ROAST BEEF FATIADO 70 G DE QUEIJO MUSSARELA FATIADO TOMATE, RÚCULA OU ALFACE 20 G DE MAIONESE DOIS PÃES LIBANESES Modo de preparo: Colocar, em um dos pães, o roast beef (300 g) e o queijo fatiado. Levar ao forno microondas por 20 segundos. No outro pão, colocar a maionese. Acrescentar o tomate, a alface ou a rúcula sobre a maionese. Colocar ambas as partes na chapa, para tostar os pães. Após um minuto, unir os dois pedaços. Prensar por um momento. Em seguida, cortar em quatro pedaços e servir.

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FELIPE MENNA B ARRETO ENGENHEIRO DE FORMAÇÃO, FELIPE MENNA BARRETO LEAL SEMPRE ACALENTOU O SONHO DE ABRIR UM NEGÓCIO NO RAMO GASTRONÔMICO. EM 2002, ELE FINALMENTE MONTOU SEU PRÓPRIO RESTAURANTE, EM PORTO ALEGRE: O BEIRUTH, QUE OFERECE VARIADAS OPÇÕES DE SANDUÍCHES FEITOS COM O PÃO DE ORIGEM ÁRABE: "COMECEI TESTANDO RECEITAS ENTRE OS MEUS AMIGOS, E DEU CERTO". UM DOS PRINCIPAIS SEGREDOS DE FELIPE É JUSTAMENTE A MANIA DE TESTAR NOVAS IDÉIAS E INGREDIENTES: "SEMPRE GOSTEI DE INVENTAR. UM TEMPERO AQUI, UMA IGUARIA DIFERENTE E PRONTO. ACABAVA CRIANDO MAIS UMA RECEITA". O RESTAURANTE SERVE SANDUÍCHES FEITOS COM O VERDADEIRO PÃO LIBANÊS: "TENTEI MANTER A TRADIÇÃO, APESAR DE TER SIDO OBRIGADO A DAR UM AR MAIS GAÚCHO AO BEIRUTH, PRENSANDO O PÃO". OUTRO SEGREDO DO SUCESSO DA CASA É O MOLHO DE PIMENTA QUE ACOMPANHA OS SANDUÍCHES, UMA RECEITA EXCLUSIVA: "É PRECISO INCREMENTAR. O PÃO, MESMO CROCANTE E QUENTE, SOZINHO, NÃO TEM UM GOSTO MUITO ESPECIAL. SEU SABOR DEPENDE DO RECHEIO E DOS MOLHOS".



Gula

Sanduíche Basílico 220 G DE MOZZARELLA DE BÚFALA ½ XÍCARA (CHÁ) DE FOLHAS DE MANJERICÃO ¼ DE XÍCARA (CHÁ) DE SALSINHA PICADA 1/3 DE XÍCARA DE AZEITONAS SEM CAROÇO / SAL PIMENTA / CALABRESA PICADA / AZEITE DE OLIVA PÃO CIABATTA FATIADO / RÚCULA Modo de fazer: Picar todos os ingredientes da marinada, acrescentar o sal, a pimenta e o azeite de oliva em grande quantidade e reservar durante, no mínimo, 24 horas. Depois, dispor sobre um prato as folhas de rúcula. Colocar sobre elas as fatias de ciabatta e cobri-las com a marinada.

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ANA CLÁUDIA BESTETTI HÁ 8 ANOS, ANA CLÁUDIA BESTETTI, A CACAIA, CRIOU O CAFÉ DO PORTO, UM LUGAR CHARMOSO E DIFERENTE, COM O JEITINHO DOS CAFÉS ARGENTINOS E EUROPEUS. ARQUITETA DE FORMAÇÃO, CACAIA SENTIA FALTA EM PORTO ALEGRE DE UM LUGAR ONDE AS PESSOAS PUDESSEM CURTIR AQUELE ASTRAL GOSTOSO DE MESAS NA RUA, DESCONTRAÇÃO E LONGAS CONVERSAS. ELA CONCEBEU PESSOALMENTE A DECORAÇÃO DA CASA: "PROCUREI CRIAR UM AMBIENTE AGRADÁVEL A TODOS, POIS NOSSO PÚBLICO É BEM VARIADO". CONSIDERADO PARADA OBRIGATÓRIA PARA OS FREQÜENTADORES DA TRADICIONAL PADRE CHAGAS, O CAFÉ DO PORTO SERVE VÁRIOS TIPOS DE CAFÉS E CRIATIVOS SANDUÍCHES, QUE SÃO SUCESSO ENTRE A CLIENTELA: "FIZ MUITAS VIAGENS, E ELAS FORAM MINHA FONTE DE INSPIRAÇÃO PARA CRIAR AS MAIS VARIADAS RECEITAS", CONTA CACAIA. SUA PAIXÃO POR SALGADOS TAMBÉM FOI DECISIVA NA ESCOLHA DO MENU: "TESTO TODOS OS INGREDIENTES, FAÇO EXPERIÊNCIAS COM DIFERENTES IGUARIAS. ALÉM DISSO, ACHO QUE A APRESENTAÇÃO DOS SANDUÍCHES É SUPERIMPORTANTE. A GENTE COME COM OS OLHOS", CONCLUI.



Gula


Sanduíche Natural 3 FATIAS DE PÃO PRETO LIGHT 100 G DE RICOTA 2 COLHERES (SOPA) DE CENOURA RALADA OU TRITURADA 1 COLHER (SOPA) DE SALSA TRITURADA 2 COLHERES (SOPA) DE OVOS PICADOS 2 COLHERES (SOPA) DE ALFACE AMERICANA PICADA MOSTARDA PIMENTA-DO-REINO SAL A GOSTO Modo de fazer: Misturar todos os ingredientes em um recipiente e, em seguida, rechear cada fatia.

TERESA SANCHES DE YUSTAS JÁ FAZ MUITAS DÉCADAS QUE O CASAL ARGENTINO JÚLIO EDUARDO YUSTAS E TERESA SANCHES DE YUSTAS VEIO PARA O BRASIL, EM FUNÇÃO DE UMA PROPOSTA DE TRABALHO RECEBIDA POR JÚLIO. DEPOIS DO PERÍODO DE ADAPTAÇÃO AO NOVO PAÍS, TERESA DECIDIU INICIAR SEU PRÓPRIO NEGÓCIO, NO RAMO DE GASTRONOMIA. DESDE O PRINCÍPIO, SUA IDÉIA FOI PRODUZIR O MIGA, UM SANDUÍCHE TRADICIONAL NA ARGENTINA, FEITO COM FATIAS DE PÃO FININHAS E RECHEIO BASTANTE SIMPLES. "TROUXE UMA PESSOA DE LÁ PARA ME ENSINAR TODO O KNOW-HOW. MEU AJUDANTE FICOU 20 DIAS AQUI E AUXILIOU A DESENVOLVER NOSSA FÓRMULA DE SUCESSO", CONTA TERESA. EM 1975 FOI INAUGURADA A PRIMEIRA LOJA FLOR DE PRIMAVERA. NO DIA-A-DIA, TERESA PERCEBEU A NECESSIDADE DE ADAPTAR O SEU PRODUTO AO GOSTO DO GAÚCHO: "AOS POUCOS, FOMOS INCREMENTANDO O SANDUÍCHE E ELE FOI FICANDO MAIOR. AS RECEITAS DOS RECHEIOS FORAM CRIADAS POR MIM. VIAJEI E FIZ MUITOS CURSOS". TANTA DEDICAÇÃO VALEU A PENA. A RECEPTIVIDADE DO PÚBLICO FOI TANTA QUE JÚLIO ACABOU LARGANDO O EMPREGO PARA TRABALHAR NA LOJA. FOI UM GRANDE ACERTO, CONTAM AS FILHAS DO CASAL, CARINA ANDREA YUSTAS E SILVINA YUSTAS: "O PAI, HOJE FALECIDO, ERA MUITO CATIVANTE. TINHA UM JEITO TODO ESPECIAL PARA LIDAR COM OS CLIENTES. FAZIA QUESTÃO DE CONHECER OS GOSTOS E ATENDIA TODOS DE FORMA PERSONALIZADA". TERESA ACREDITA QUE O DIFERENCIAL DE SEU PRODUTO VAI MUITO ALÉM DOS TEMPEROS: "NOSSA EMPRESA É FAMILIAR. SEMPRE FIZEMOS QUESTÃO DE ESTAR PRESENTES NA LOJA, DE CONHECER NOSSOS CLIENTES, DE PARTICIPAR DE TODAS AS ETAPAS DO PROCESSO". O RESULTADO NÃO PODERIA SER DIFERENTE: HOJE EM DIA, A MAIORIA DOS PORTO-ALEGRENSES JÁ PROVOU, PELO MENOS UMA VEZ, O SANDUÍCHE PRIMAVERA, CARRO-CHEFE DA SANDUICHERIA.

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Sanduíche Buena Vista BAGUETE COM SEMENTES DE PAPOULA MAIONESE / ALFACE 100 G DE SALAME ITALIANO FATIADO 100 G DE MUSSARELA DERRETIDA COMPONATA DE BERINJELA EM ESCABECHE Modo de fazer: Untar as partes do pão com a maionese. Derreter o queijo em um forno de microondas durante um ou dois minutos. Em seguida, colocar o queijo no pão e as fatias do salame sobre ele. Depois, colocar a berinjela e a alface.

MÁRIO E ANA FERNANDEZ CASADOS HÁ 28 ANOS, MÁRIO AQUILES ALGECIRAS FERNÃNDEZ E ANA MALIUK FORMAM UM CASAL ÍMPAR, QUE TEM MUITAS HISTÓRIAS PARA CONTAR. ELA É GAÚCHA, ELE É CUBANO. CONHECERAM-SE NA RÚSSIA, MORARAM EM HAVANA E HÁ 10 ANOS CHEGARAM A PORTO ALEGRE. A IDÉIA DE MONTAR UM BAR LATINO-AMERICANO NA CAPITAL GAÚCHA CONCRETIZOU-SE HÁ CERCA DE UM ANO E MEIO, QUANDO ABRIRAM O PUB E BAR SIERRA MAESTRA, CUJO NOME É UMA HOMENAGEM À REGIÃO MONTANHOSA QUE FOI UM DOS CENÁRIOS DA REVOLUÇÃO CUBANA. O ESPAÇO É TOTALMENTE TEMÁTICO E FAZ UMA VIAGEM PELA CULTURA DA ILHA. "SERVIMOS DRINQUES EXCLUSIVOS E COMIDAS QUE ESTÃO À ALTURA DE CUBA. NOSSO BAR TEM AUTORIZAÇÃO DO GOVERNO CUBANO PARA DIVULGAR SUA CULTURA EM PORTO ALEGRE. SEJA NA GASTRONOMIA OU NO ARTESANATO", AFIRMA MÁRIO, COM SOTAQUE CARREGADO. O LUGAR TAMBÉM TEM SALAS COM EXPOSIÇÕES DE QUADROS E FOTOGRAFIAS, FAZ LANÇAMENTOS DE LIVROS E APRESENTAÇÕES DE MÚSICOS LATINOS. O MENU TRAZ RECEITAS DE FAMÍLIA, ADAPTADAS À COZINHA BRASILEIRA. OS SANDUÍCHES SÃO UM SUCESSO. "MISTURAMOS DIVERSOS INGREDIENTES E CRIAMOS TUDO. O MÁRIO TAMBÉM FAZ QUESTÃO DE EXPERIMENTAR TODOS OS NOSSOS COQUETÉIS", CONTA, BEM-HUMORADA, ANA.



Assim, ó... LUÍS AUGUSTO FISCHER

LITORAL MONÓTONO Os gaúchos e a geografia do estado têm uma certa harmonia Conta-se de Freud que ele experimentava um sentimento de ambigüidade quando recebia a visita de certos parentes interioranos. Ele, afinal, era um vienense refinado; seus primos, ao contrário, eram meio caipiras. E, para o futuro criador da psicanálise, aqueles parentes eram exóticos demais para serem familiares, mas exóticos de menos para terem algum encanto. Para mim, essa é a fórmula para descrever a nossa ambígua relação com o litoral. Claro que até uns 25 ou 30 anos atrás o litoral era mesmo exótico, totalmente raro, entrando na nossa vida apenas na época do verão, e olhe lá. Era uma miragem da felicidade, para as crianças que se deslocavam até lá, o aparecimento das primeiras areias brancas, promessa de muita brincadeira... exótica, inusual, rara. O cheiro era diferente do cheiro da cidade, a casa da praia tinha fantasmas próprios, os vizinhos não tinham nada que ver com os habituais, a rotina toda era outra, desde a ida ao armazém para as compras até o puxa-puxa de sobremesa, vendido pelo menino praieiro que – espanto total para nós, assustados viventes de 2004 – atravessava os terrenos das casas para vender seu produto. Ocorre que a praia ficou comum. Se não fosse uma afronta à matemática, diria mesmo que a distância encurtou. No lugar daqueles intermináveis cento e tantos quilômetros, hoje temos uma hora e pouco de deslocamento. A praia perdeu a condição mágica, passou a integrar a rotina de nosso ano. O guri do puxa-puxa nem cogitaria perambular entre as casas, porque ia ser confundido com ladrão. (Suspeito que nem as crianças comam mais puxa-puxa.) Nem tem mais cheiro diferente a praia. Perdeu, justamente, o exotismo. Segue daí que tudo, incluindo os nativos, perdeu para nós o relativo charme de outrora, o charme da diferença. Mas nós transferimos essa diferença para as praias de Santa Catarina. Lá, sim, nossa sensação de conhecer o estranho se realiza. As curvas das praias. Os morros. A água mais quente, limpa, transparente. A comida, com tanto peixe e fruto do mar. Até as gen-

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tes locais ganham uma aura de atração, de interesse, de exotismo: alugamos suas casas e vivemos nelas semanas inteiras, sem o conforto de nossa casa urbana. Apreciamos o cheiro estranho, a louça simples, o fogão velho. Se bobear, até do mofo de lá a gente gosta. Porque é tudo exótico. Geografia é destino mesmo, não tem muito jeito. Quis o Acaso que o litoral gaúcho fosse uma linha reta, com mar grosso, sem as sensuais e aconchegantes reentrâncias e saliências de Santa Catarina (feminina até no nome). Nosso litoral é duro e cru, sem nenhuma dessas graças identificáveis à primeira vista. Na época das chamadas descobertas, navegantes passavam pelo litoral gaúcho, em busca de um porto pelo qual penetrar no continente. Quase em vão. De Laguna para baixo, até a região de Punta del Este, a coisa era hosca. A não ser as bocas dos rios em Torres (uma praia de temperamento catarina, nesse aspecto) e em Tramandaí, só a barra do Rio Grande, traiçoeira para danar, porque tinha um fundo muito movediço, que afundava e levantava ao menor sinal de mudança na maré (a coisa só ficou mais amena na altura de 1900, quando começaram a fazer aqueles molhes, que atenuam o problema). Vista do mar, a terra gaúcha é uma linha contínua de areia, com cômoros que agora nós estamos chamando de dunas, e nada mais. Quer dizer: parece haver uma certa harmonia entre nós e a geografia, quanto ao nosso jeito secarrão, enigmático e impenetrável aos olhares estrangeiros. Justamente ali onde o Brasil é engraçadinho e efusivo, a praia, calhou de nós sermos hostis e melancólicos. Fazer o quê. Fazer o quê? Nos divertir um pouco, rir de nós mesmos. Correr para a beira do velho e bom marzão, relaxar e deixar rolar. Beber um pouco, tostar ao sol e esticar ao máximo o pequeno intervalo de soltura que nos permitimos. Saúde para todos! LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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