Revista Estilo Zaffari - Edição 26

Page 1

COSTA RICA, O CARIBE COM CHARME EUROPEU

A n o 6 N 0 2 6 R $ 2, 50

SCLIAR, MARCENEIRO DAS PALAVRAS

Doces

Bocados



NOTA

DO

EDITOR

Prepare seu

coração “PREPARE O SEU CORAÇÃO, PRAS COISAS QUE EU VOU CONTAR...” LEMBRA DESSA MÚSICA? POIS ELA FOI A PRIMEIRA COISA QUE ME VEIO À CABEÇA QUANDO SENTEI PARA ESCREVER O EDITORIAL DESTA ESTILO ZAFFARI. LINDA DE MORRER E CHEIA DE CONTEÚDO (MODÉSTIA ÀS FAVAS!), ESTA EDIÇÃO FOI FEITA ESPECIALMENTE PARA VOCÊ CURTIR EM CASA, APROVEITANDO A TEMPERATURA AMENA DO OUTONO E AQUELES MOMENTOS DE RELAX ENTRE UMA E OUTRA OBRIGAÇÃO DIÁRIA. PRA COMEÇAR, ESTAMOS PUBLICANDO A PRIMEIRA VIAGEM INTERNACIONAL DA FASE II DA ESTILO ZAFFARI. NOSSO INTRÉPIDO CASAL DE REPÓRTERES, DAN E CRIS, FOI PARA A COSTA RICA DESENCAVAR SEGREDOS DESSE PEDAÇO AINDA VIRGEM DO CARIBE, E CONTA TUDO EM UMA REPORTAGEM GOSTOSÍSSIMA DE LER. A SEÇÃO PERFIL, QUE VOLTA DEPOIS DE UMA RECLAMADA AUSÊNCIA NA EDIÇÃO ANTERIOR, TEM COMO ENTREVISTADO NINGUÉM MAIS, NINGUÉM MENOS DO QUE O NOSSO GLORIOSO IMORTAL, MOACYR SCLIAR. LEIA O TEXTO ASSINADO PELA PAULA TAITELBAUM E CONHEÇA MELHOR ESSE INTERESSANTÍSSIMO ESCRITOR, MÉDICO, PROFESSOR, JORNALISTA E JOGADOR DE BASQUETE (SIM, O SCLIAR JOGA BASQUETE!). NOSSAS PÁGINAS DEDICADAS A GASTRONOMIA ESTÃO ARRASANDO. PRIMEIRO, O BACALHAU. RECEITAS MARAVILHOSAS QUE TRANSFORMAM O NOBRE PESCADO EM UMA TENTAÇÃO ABSOLUTAMENTE IRRESISTÍVEL. NOSSA DICA É: ESQUEÇA ESSA BOBAGEM DE SÓ COMER BACALHAU NA PÁSCOA E DELEITE-SE A QUALQUER MOMENTO COM SEU SABOR INIGUALÁVEL E SUA VERSATILIDADE. DEPOIS, PARA ADOÇAR O PALADAR, NADA MAIS PERFEITO DO QUE DOCES AMARELINHOS, FEITOS DE OVOS E MUITO AÇÚCAR. APRENDA A FAZER PASTÉIS DE SANTA CLARA, PASTÉIS DE NATA, FIOS DE OVOS E DELICIE-SE COM ESTES PEQUENOS BOCADOS DE MUITO PRAZER. E JÁ QUE ESTAMOS FALANDO DE COMIDA, LEMBREI TAMBÉM DE RECOMENDAR A LEITURA DA MATÉRIA VEGETARIANOS X CARNÍVOROS, VIVE LA DIFFÉRENCE! ATUAL, DIVERTIDA, BEM-HUMORADA E CHEIA DE INFORMAÇÕES, ESSA MATÉRIA DESMISTIFICA O EMBATE ENTRE AQUELES QUE COMEM CARNE FERVOROSAMENTE E AQUELES QUE A REJEITAM COM A MESMA DEVOÇÃO. NOSSA CONCLUSÃO É: A COMIDA ESCOLHIDA É UMA FORMA DE PRAZER E TAMBÉM DE EXPRESSÃO E DE ESTILO DE VIDA. ENTÃO, CADA UM NA SUA, PORQUE RESPEITO É BOM E CONSERVA A AMIZADE... BEM MENOS POLÊMICA, A REPORTAGEM DA SEÇÃO CASA – OUTRA QUE VOLTOU CHEIA DE CHARME NESTA EDIÇÃO – MOSTRA ESPELHOS E COMO ELES REFLETEM UM JEITO DE MORAR, A PERSONALIDADE DA CASA. APROVEITE AS NOSSAS IDÉIAS E RENOVE OS AMBIENTES DA SUA MORADIA. PEQUENAS MUDANÇAS PODEM SIGNIFICAR GRANDES MELHORIAS!

OS EDITORES


Milene Leal milene@contextomkt.com.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Cris Berger, Paula Taitelbaum, Ruza Amon REVISÃO Flávio Dotti Cesa PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade luciane@contextomkt.com.br ILUSTRAÇÕES Nik FOTOGRAFIA Angela Farias, Cristiano Sant’Anna, Dan Berger, Letícia Remião PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Jorge Nascimento COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COLABORADORES Antônio Carlos Schilling Minuzzi, Livraria Cultura

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

DIRETORA DE ATENDIMENTO PUBLICIDADE HRM Representações (51) 3231.6287 9983.7169 9987.3165 rosamaggioni@hrmmultimidia.com.br

DEPTO. DE ATENÇÃO AO LEITOR Renata Xavier Soares renata@contextomkt.com.br A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares PRÉ-IMPRESSÃO Maredi IMPRESSÃO Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

CAPA: FOTO DE LETÍCIA REMIÃO



Correio OLHO VIVO

EM BELO HORIZONTE Bom-dia, Renata Sou de Belo Horizonte/MG e morei em Porto Alegre em 2003. Adorei essa cidade, e uma grande referência é o Zaffari. Morava a 2 quadras da loja do Menino Deus e era cliente assíduo. Enquanto em POA comprei todas as edições da Estilo Zaffari lançadas no período. Por motivos diversos tive que voltar para BH, mas a saudade é grande. Num momento especial, folheando um exemplar da revista, vi seu e-mail e gostaria de informações sobre como assinar e como receber em BH. Um abraço. Elói/BH Caro Elói, estamos trabalhando na montagem de um sistema de assinaturas que possa atender aos pedidos que chegam de todo o Brasil e até do exterior, mas esse sistema precisa ter uma viabilidade financeira para nossos leitores. Acontece que, como o preço de capa da revista é muito acessível, o custo de correio acaba ficando mais caro do que a própria Estilo Zaffari. É um dilema que estamos tentando resolver, ok? Seu nome vai ficar em nosso cadastro, para fazer parte desse sistema assim que ele estiver definido. Um grande abraço e obrigada pelos elogios ao Zaffari e à revista.

EM TEMPO Parabéns pelo artigo “Iguarias do Mediterrâneo”. A respeito da bebida feita de anis, conforme página 51, chamada de ouzo na Grécia e arak nos países árabes, o verdadeiro nome da bebida semelhante na França é pastis, sendo o nome Pernod uma das principais marcas entre muitos fabricantes. Esperando ter ajudado, reitero meus parabéns pelo trabalho. Atenciosamente, JEAN-JACQUES DELAPRAZ

Jean-Jacques, em primeiro lugar, obrigado pelo esclarecimento, que foi de grande valia. Ainda bem que temos leitores atentos, bem-informados e dispostos a contribuir! E depois, obrigado também pelos elogios à revista. Continue de olho na gente!

8

Estilo Zaffari

A cada vez que vou no Zaffari Bourbon fazer as compras da semana, fico de olho para saber se já chegou a nova edição da Revista Estilo. Confesso que é uma das poucas revistas que leio do início ao fim. E gostaria muito de saber como faço para adquirir edições anteriores. Bom, sucesso para que a Estilo Zaffari nunca nos abandone! Aguardo contato, obrigada. MIRNA WIDHOLZER

No que depender de nós, Mirna, a Estilo será eterna e cada vez melhor. Vontade e empenho para isso não faltam! Ainda mais contando com o estímulo de leitoras como você. Para adquirir edições atrasadas, entre em contato com o Departamento de Atenção ao Leitor, no fone (51) 3395.2515, com Renata, ou pelo e-mail renata@contextomkt.com.br. Mas atenção: muitas edições já estão esgotadas! Um grande abraço.

NA CALIFÓRNIA Meu nome é Lea. Vivo atualmente em Los Angeles e sou fã desde o primeiro número da revista, na época ainda morava em POA. Agora só consigo ler a revista porque minhas amigas sempre me mandam pelo correio quando sai uma nova revista. Adoro fazer as receitas que vocês publicam e que fazem muito sucesso por aqui. O que eu mais gostaria é que vocês pudessem me mandar uma assinatura desta maravilhosa revista, apenas me digam se é possível e o que devo fazer para isto. Outra coisa é que eu adoraria ver publicadas algumas receitas de cucas (estilo de Feliz, ou seja, estilo alemão). Abraços desta fã número 1. Lea, claro que uma leitora fiel como você merece receber a revista, esteja onde estiver. Só que o envio dos exemplares para Los Angeles tem um custo bastante alto... Para tentar resolver a questão, a Renata, do nosso Departamento de Atenção ao Leitor, vai entrar em contato com você via e-mail, ok? Adoramos a sua sugestão e ela inclusive já está pautada para este ano. Vamos fazer uma edição temática sobre a imigração alemã e sua culinária. Um grande abraço.


MATÉRIA APROVADA É uma imensa honra estar na revista Estilo Zaffari!!! A qualidade das matérias, o layout, a impressão, as fotos, enfim, tudo está maravilhoso! E a reportagem sobre o Txai? Maravilhosa!!! Eu passei uma semana em Itacaré no final de novembro. Infelizmente não foi no Txai, apesar de ter ido conhecer. Mas dia desses... Vou cuidar para escolher bem a companhia, Milene... Se eu puder colaborar com alguma coisa mais, será um prazer! CACAIA – CAFÉ DO PORTO

Melhor ainda é obter a aprovação do entrevistado, pois isso demonstra que conseguimos reproduzir com fidelidade o que foi dito e mostrado. Teu estabelecimento é um sucesso que merece todas as homenagens, e para nós é uma honra tê-lo nas páginas da Estilo. Quanto ao Txai, o lugar é de fato uma maravilha. Todas as pessoas que estiveram lá voltaram muito impressionadas. Segue aquele conselho que dei na matéria (edição 25) e aproveita! Abraço e obrigada pelo apoio.

É ISSO AÍ! Querida Milene Quando recebemos vocês no nosso hotel não sabíamos do prazer que teríamos ao ler a edição de janeiro da Estilo Zaffari. Nunca alguém descreveu tão bem, numa reportagem, a idéia do que o Txai tem para oferecer a seus hóspedes. Entre fotos e texto, nos sentimos identificados, e à medida que cada um de nós ia lendo apareciam sorrisos como querendo dizer: “É isso aí!”. Espero ter vocês numa próxima vez com companhias mais românticas. De parte de nossa equipe, muito obrigado. Abraços. ALEJANDRO FEDERICO URETA GERENTE COMERCIAL TXAI

ESCLARECIMENTO: (Referente à matéria Ontem, Hoje e Sempre, publicada na edição 25 da revista Estilo Zaffari) DE 1955 A 1964 FUNCIONAVA NA AVENIDA PROTÁSIO ALVES, Nº 1709 UM ESTABELECIMENTO DENOMINADO “BAR ELITE”, QUE FOI SUCEDIDO PELA “CAVERNA DO RATÃO”. O “BAR ELITE” PERTENCIA A MAX ALBINO KLEIN, CONFORME INFORMAÇÃO OBTIDA DE SEU FILHO, JOÃO BATISTA KLEIN, EM 1º DE ABRIL DE 2004.


Í N D I C E 08 Cartas 12 Coluna: Cotidiano 15 Cesta Básica 22 Coluna: Consumo 36 O Sabor e o Saber 66 Vegetarianos x Carnívoros 74 Casa: Decore com Espelhos 90 Coluna: Gauchismos

Costa muy

Rica

Uma viagem deliciosa ao lado mais agreste e mais charmoso da Costa Rica

38


Doces BOCADOS

80

Amarelinhos, pequeninos e cheios de sabor, eles são irresistíveis

56

Bacalhau Dos gélidos mares para

a mesa tropical 24

MARCENEIRO DAS PALAVRAS


Cotidiano MARTHA MEDEIR OS

O FEITIÇO DOS RESTAURANTES Comer fora é uma aventura, dá novo sabor à vida Quando eu era menina, adorava domingos, e isso prova que a tendência do ser humano é mesmo evoluir. Gostava porque não tinha aula e porque passava as tardes na casa da minha avó, e a casa da minha avó tinha lareira, pátio, sótão e até uma misteriosa adega embaixo de uma escada, lugar perfeito para eu e meus primos nos escondermos. Mas o que me fazia torcer para o domingo chegar é que era o dia em que a gente almoçava fora. Naquela época não havia tanta oferta de restaurantes como há hoje, e pizza era novidade que ainda não havia desembarcado aqui. Pois bem: meu pai, minha mãe, meu irmão e eu acabávamos sempre indo na Churrascaria Santa Tereza, na Assis Brasil. Não existe mais, virou um bingo. Era um lugar simples. Eu pedia filé com fritas e uma Coca-Cola permitida apenas nos finais de semana, e me tornava a menina mais feliz do universo, sentada diante de uma mesa de fórmica cor-derosa que era medonha, mas que se tornava linda simplesmente por não pertencer à minha rotina. É justamente para fugir do cotidiano que até hoje comer fora segue sendo um prazer para meninas e meninos que se tornaram adultos e que já não comem apenas filé com fritas (ainda que seja uma dobradinha imbatível). Agora a gente tem cozinha tailandesa, italiana, mexicana, árabe, vegetariana, comida para todos os gostos e em ambientes cada vez mais bonitos. Certa vez jantei com meu marido numa ilha paradisíaca muito longe daqui, num restaurantezinho charmoso que me transportou para um comercial de cartão de crédito assim que lá coloquei os pés. A noite caindo, poucas mesas na varanda ao ar livre, castiçais, um transatlântico todo iluminado cortando o mar a nossa

12

Estilo Zaffari

frente e música erudita tocando bem baixinho: só faltou o logotipo do American Express no canto direito do vídeo. A comida nem precisava ser boa, mas foi sublime. É bom salientar que sofisticação não é ingrediente obrigatório: em botecos de beira de praia já comi feito uma embaixatriz, em vilarejos de estrada já tive o privilégio de banquetear, mesmo sentada em cadeirinha de palha e com a toalha manchada por refeições passadas. Todos os créditos para quem estava no comando das caçarolas. A eficiência na escolha da companhia não é menos importante. Jantar ou almoçar fora pressupõe deixar as incomodações em casa: nada de levar com você pessoas que reclamam do preço da água mineral, que falam alto demais, que são insolentes com garçons. Comer fora não é buscar na rua novas razões para se irritar. Comer fora é, isto sim, uma aventura, se por aventura entendemos proporcionar a nossos olhos outra paisagem e a nosso paladar outros temperos. É uma satisfação dos sentidos. Mesmo que sejam raros os chefs que cozinhem tão bem quanto nossas mães e nossas Marias, topamos pagar caro pelo ambiente, pela música, pela louça, pelo astral, pela iluminação, pelo burburinho. Sigo gostando do programa, mesmo sabendo que restaurantes são como refeitórios de pensão, nada mais do que um monte de pessoas matando a fome no mesmo local. Mas a gente coloca uma roupa mais bonitinha, escolhe no cardápio umas estranhezas e está feito: damos novo sabor à vida. MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA




Cesta básica NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA-A-DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, CINEMA, LUGARES, COMIDINHAS, OBJETOS ESPECIAIS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO.

Plástico high-tech Bonitos, coloridos, modernos, divertidos, práticos, versáteis. Os objetos de polipropileno criados pela Coza (diga Cóza) são um achado para quem quer fugir da mesmice que reina no universo das utilidades domésticas. Os sousplats aí ao lado escapam do convencional pela forma quadrada e as lindas cores. Dão vida e personalidade a qualquer mesa. O forte da Coza – empresa de Caxias do Sul que já soma 20 anos de atividade – são justamente as cores e a excelência do design, assinado por profissionais que são referência nacional nesta área. Os sousplats são fabricados nas cores preto, branco, azul-escuro opaco, azul turquesa, amarelo, laranja citra, pimenta opaco, verde e rosa. Chega ou quer mais? Solte a criatividade e faça suas combinações. MILENE LEAL, JORNALISTA

FOTO: LETÍCIA REMIÃO


Cesta básica FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

Mimos delicados

CARRIE, A FASHION

Travesseirinhos com mensagens personalizadas e bordadas em linha de seda são um mimo para se ter em casa, levar em viagem ou presentear pessoas que “já tem tudo”. Um toque de romantismo, humor ou descontração pode complementar a decoração de camas de todos os tamanhos e estilos. Quem assina a idéia é a empresária e artesã Martha Candemil, que criou frases tais como “Princess sleeps here” e “Ser feliz não é um sonho . É uma decisão” para seus “travesseirinhos mensageiros”. Os recheios são de espuma siliconada e as fronhas, em Percal branco 200 fios. O tamanho tradicional é de 30 x 40cm, mas o cliente pode optar por tamanhos especiais e por frases de sua preferência.

Tudo bem que ninguém merece ver, mais uma vez, a dificuldade que os americanos têm para entender que no Brasil se fala português e não espanhol. E que aqui nós não chamamos um indivíduo do sexo feminino de “chica”, mas de moça, garota, menina, guria, sei lá. Abstraindo a duvidosa participação da brasileira Sônia Braga como uma artista plástica muderrrrrrrna que se chama Maria Diega Reyes (!), a quarta temporada de Sex and The City vale a compra destes DVDs. O seriado americano, que faz um sucesso impressionante entre as mulheres brasileiras, continua divertidíssimo, mostrando as peripécias e desventuras das quatro “heroínas” (Carrie, Samantha, Charlote e Miranda) em suas andanças amorosas. O cenário – Nova York – continua sendo uma das maiores atrações do seriado. Sem falar no desfile de grifes superfashion protagonizado por Carrie, a personagem principal.

RUZA AMON, JORNALISTA

MILENE LEAL, JORNALISTA



CHOCOLATE COM PIMENTA Novela da Globo dita moda até no ramo da gastronomia. Aproveitando o sucesso do folhetim das 18h, Chocolate com Pimenta, a Editora Globo lançou um livro com o mesmo nome, reunindo receitas testadas e assinadas por consagrados chefs, doceiros e fabricantes de chocolate. São salgados e doces, todos baseados nesta – a princípio – inusitada combinação. Quem já provou diz que o mix do picante com o doce resulta em um sabor exótico e muito interessante. Só arriscando pra saber... Editora Globo, 136 páginas, 2003, à venda na Livraria Cultura.

Cherry Blues Pub Eu nunca fui à Irlanda, mas acabo de conhecer um legítimo pub irlandês. E fica aqui pertinho. Na Hilário Ribeiro, 52. É o tipo de lugar pra chamar de seu. Onde sua alma boêmia se sente em casa e fica com vontade de ter cadeira cativa. No Cherry Blues Pub, o ambiente é superaconchegante sem ser sufocante, isso graças aos móveis rústicos e ao pé-direito altíssimo. Nas paredes, cartazes e fotos se misturam a quadros negros escritos com giz e dão aquele toque de “boteco chique” que a gente tanto adora. A grande atração é a carta de cervejas e chopps. Não sou grande entendida no assunto, mas tomei um chopp de trigo da Eisenbahn que foi algo. Sabe aquela espuminha cremosa que gruda entre o nariz e a boca? E se você resolver ficar até mais tarde pra curtir o show acústico que começa lá pelas 21h30 (num volume que dá pra continuar conversando), poderá jantar também. A grande pedida é o Filé Porto Dublin ou o Gaelic Boxty, a tradicional panqueca de batatas irlandesa recheada com filé cozido e cogumelos ao molho de whisky. Saia do trabalho e vá direto pra lá.

PAULA TAITELBAUM, ESCRITORA FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA



Cesta básica

Linda Patagônia Quem for na Habitart a partir do dia 13 de abril vai ver coisas lindas até nas paredes da loja. A Habitart, loja de móveis e objetos de design, está expondo fotos inéditas de Celso Chittolina. A exposição se chama Torres del Paine e reúne fotografias em P&B que Chittolina fez na Patagônia, em 1999. Se você for até a Habitart para ver as fotos lindas do Chittolina, vai descobrir a nova coleção de móveis e objetos da loja. E se aparecer por lá para ver a nova coleção de móveis e objetos, vai descobrir fotos sensacionais. Ou seja, de qualquer jeito, é um programa imperdível. A Habitart fica ali na Furriel Luís Antônio Vargas, 374 – loja 7, esquina com a Carlos Gomes. E a exposição permanece até o dia 22 de maio.

SÓ PARA FORMIGAS Atenção, formigas de todos os tamanhos e procedências: já está nas livrarias a bíblia dos viciados em açúcar. A deliciosa obra chama-se Doces Sabores e tem, além de interessantíssimas informações sobre a trajetória do açúcar no mundo e no Brasil, um montão de receitas daquelas que fazem salivar qualquer formigão. A pesquisa sobre a origem do açúcar e sua democratização é muito bem feita, enfatizando as qualidades simbólicas desse produto e seu papel nas relações sociais. Mas guarde sua voracidade para as receitas. O livro faz um apanhado completo das doçuras que freqüentam a mesa luso-brasileira e também estrangeira, com ênfase para os doces regionais brasileiros. Esqueça a dieta! Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas, à venda na Livraria Cultura. MILENE LEAL, JORNALISTA

FOTO: CRISTIANO SANT’ANNA



Consumo TETÊ PACHECO

PATRICINHAS SEM BEVERLLY HILLS É “moderno” dizer que estilo é não ter estilo No mês de março, a Revista da Folha publicou uma reportagem que, quanto mais o tempo passa, mais incrível me parece. O texto ultra-irônico do jornalista Paulo Sampaio tratava de anunciar o fim da era das Patricinhas e o nascimento de uma nova versão, mais atualizada, as Camilinhas. As Camilinhas, segundo ele, rejeitam o modelo anterior de consumo e comportamento. São fruto da geração-música eletrônica, mais eclética, com padrões mais “democráticos”. Camilinha que é Camilinha questiona tudo que é grife. Se permite sair à noite vestindo um short de capoeira, bem desencanado, enquanto os pezinhos continuam confortáveis num bom sapato Gucci, de preferência velhérrimo. “O legal é misturar tudo.” Roupas, pessoas… Saem as festas em danceterias e entram em ação as raves, em galpões ou lugares menos óbvios. Pra turma ser boa, não vale só ser composta por gente rica, tem que ter “gente de atitude”. Leia-se, moderninha. Que não julga pelas aparências. Mas só aparentemente. Viajar é descobrir alguma conexão exótica que de preferência não faça muito sentido. Nova Iorque é eclética, mas meio óbvia. Legal é Hong Kong-Cape Town-Veneza. Tudo é tão oco que chega a fazer eco. Não consigo deixar de pensar que, quando um movimento passa a ser facilmente enquadrado como estilo, já ficou velho. E é patético se sentir moderno fazendo parte de uma coisa que já foi. Uma nova atitude, nova de fato, só pode ser nova quando ainda sequer foi vista, ou reconhecida. A mídia destrói o conceito do que é novo.

Se está na TV ou na revista, se já tem suas grifes símbolo, se tem seguidores em vez de inventores, se virou tendência em vez de ser investigado como uma coisa desconhecida, me perdoem Camilinhas, mas não é novo, não. É de massa. Virou consumo. É “moderno” dizer que estilo é não ter estilo. Então, o que podemos observar é uma legião de pessoas sem estilo nenhum protegidas atrás do rótulo dos sem estilo. Não vejo graça nenhuma nisso. Mas via muita graça nas Patricinhas. E naquele mundo absolutamente lotado de coisas sem significado e importância nenhuma. Assumidamente fúteis, exageradas por essência e convicção. Quem viu nunca vai esquecer a imagem do guardaroupas da Alicia Silverstone no filme As Patricinhas de Beverlly Hills. Hilário. A personagem, assim como quem com ela se identificou um dia, era aquilo mesmo, sim. E daí? Como metida a olhar para os comportamentos de consumo, vejo mais originalidade em quem se define do que em quem quer ser “de tudo um pouco”, “uma coisa bem misturada, sabe?”. O vale tudo não vale nada. E as Camilinhas, na verdade, não passam de Patricinhas sem Beverlly Hills, sem a trilha sonora do início dos anos 90, sem as roupas escandalosas, sem os poodles, sem os conversíveis, sem humor. Nada que a próxima tendência ou estilo não ajude a enterrar. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA

22

Estilo Zaffari



Sabor

Bacalhau Dos gélidos mares para

a mesa tropical Nos dias de hoje não podemos avaliar o impacto que foi a revolução liderada por Portugal e Espanha no mundo dos séculos 15 e 16, na época dos descobrimentos. Muito mais ousadas do que as viagens espaciais dos nossos tempos foram as aventuras marítimas realizadas pelos navegadores portugueses, frutos de anos de dedicação do Infante D. Henrique, visionário brilhante, e guiadas pela fabulosa Escola de Sagres criada por ele. Mas, afinal, o que é que o mar tem a ver com a mesa? Tudo. E no caso dos portugueses, eles foram geniais nos dois campos. Aproveitaram muito bem toda a contribuição dos árabes, que depois de muitos séculos de convivência produziram ali uma cultura muito avançada, rica e que acabou impulsionando Portugal àqueles

P O R

24

B E AT R I Z

Estilo Zaffari

G U I M A R Ã E S

F O TO S

mares misteriosos e, de fato, nunca dantes navegados. Das viagens, traziam toda a riqueza e os mistérios do Oriente e do novo mundo, como as especiarias, fundamentais para a conservação dos alimentos, o açúcar, tecidos, madeira, frutas, ervas, etc. Como a travessia dos mares durava meses, anos até, os navegadores tinham que levar alimentos secos, fáceis de armazenar, e que se conservassem pelo maior tempo possível. Assim o bacalhau acabou se tornando a dieta essencial nas grandes viagens. Além disso, a severa restrição da Igreja Católica em relação ao consumo de carne, duas vezes por semana, mais a quaresma, levou os portugueses a consolidar o hábito de comer peixes e, principalmente – que castigo –, o bacalhau.

L E T Í C I A

R E M I Ã O

I LU S T R A Ç Õ E S

N I K



ORIGINÁRIO DOS MARES DO NORTE, O BACALHAU JÁ ERA Originário dos frios mares do norte, o bacalhau já era conhecido pelos Vikings, que secavam o peixe ao sol e ao vento para serem consumidos em suas viagens. Os Bascos, no norte da Espanha, que conheciam a técnica de salgar alimentos desde a Idade Média, se tornaram pioneiros no comércio do bacalhau salgado, principalmente na costa espanhola. Mas Portugal, pela necessidade de produzir um alimento básico para as grandes viagens, além de comprá-lo da Noruega, passou também a enviar barcos de pesca para a difícil e perigosa tarefa de buscar bacalhau nas águas gélidas do norte, e acabou se tornando um dos grandes comerciantes do peixe. Embora o bacalhau seja consumido e apreciado por todo o Mediterrâneo, com cada país apresentando suas receitas típicas, é em Portugal que encontramos as receitas mais variadas e originais, sendo os portugueses os maiores consumidores de bacalhau do mundo.

O bacalhau no Brasil Dentre tantas riquezas, como a língua, a gastronomia e a generosidade, herdamos dos portugueses a paixão pelo bacalhau. Do bolinho ao assado, do bacalhau em postas ao cozido com batatas e azeitonas, e até – segredo de cozinheira baiana tradicionalíssima – vai um tiquinho de bacalhau no Vatapá! Data de 1843 a primeira importação oficial de bacalhau da Noruega para o Brasil. No entanto, foi com a vinda da Família Real, em 1808, que o bacalhau passou a fazer parte da gastronomia da Colônia. No começo, no entanto, o bacalhau servia de alimento às camadas mais populares, daí ter se tornado um verdadeiro prato típico da nossa culinária. O Rio de Janeiro, cidade que abriga uma das maiores comunidades portuguesas no Brasil, tem no bacalhau uma de suas melhores e mais conhecidas especialidades. No entanto, o hábito de comer bacalhau atravessa o Brasil inteiro, e ele é


CONHECIDO PELOS VIKINGS consumido principalmente na Páscoa e no Natal. Dizem que o escritor Machado de Assis tinha por hábito comer bacalhau aos domingos, o que acabou sendo adotado por muitos cariocas ao longo do tempo – e ainda hoje vários restaurantes mantêm essa tradição no Rio de Janeiro. O bacalhau, além de ser muito saboroso e apreciado no mundo todo, é um alimento bastante nutritivo. Em cada 100 g de bacalhau, encontramos 38 g de proteína, 1 g de gordura, 60 g de cálcio, 1,6 mg de ferro, vitamina B, e ele totaliza em torno de 160 calorias. É três vezes mais nutritivo do que outros tipos de peixe, e também é mais substancioso do que outras carnes e aves em geral. Na memória coletiva do brasileiro, no seu inconsciente gastronômico mais remoto, está um belo prato de bacalhau com batatas, regado com abundância pelo melhor azeite português. Ah, e acompanhado de um bom vinho tinto novo, como bem fazem os portugueses.


Sabor

Porto BACALHAU A GOMES DE SÁ 400 G DE BACALHAU, DESSALGADO 600 G DE BATATAS / 3 OVOS COZIDOS

PREP ARO BÁSICO DO BA CALHA U: PREPARO BAC ALHAU: Procure, de preferência, o legítimo bacalhau do Porto, ou Imperial, pois a qualidade é muito importante no resultado final. Além das postas, as cartilagens, ossos e aparas podem ser utilizados também em caldos, nos assados (retirando-os na hora de servir) e principalmente no risotos, pois acabam dando um sabor muito especial ao prato. Independentemente da forma como vai ser preparado o bacalhau, é necessário seguir as seguintes instruções: Colocar as postas em recipiente com água abundante. Deixar de molho, no mínimo, por 12–14 horas, trocando a água umas 5 vezes.

1 COPO DE LEITE QUENTE 2 CEBOLAS EM RODELAS 2 DENTES DE ALHO BEM PICADOS AZEITE / SALSINHA PICADA 100 G DE AZEITONAS PRETAS

28

Estilo Zaffari

Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá: Desfie o bacalhau, coloque-o numa travessa e despeje o leite bem quente por cima, deixando-o de molho por umas 2 horas. Numa frigideira grande, aqueça o azeite, acrescente a cebola e deixe dourar. Depois ponha o alho. Junte ao refogado a batata cozida com a pele, em rodelas. Coe o bacalhau desfiado e leve-o à frigideira também, em fogo moderado. Coloque a mistura em travessa refratária, leve ao forno, em temperatura média, por uns 15 minutos. Ao servir, enfeite com ovos cozidos fatiados, azeitonas pretas e salsinha.



Sabor

Região Norte

Lisboa

ARROZ COM BACALHAU

BACALHAU COM NATAS

1 XÍCARA DE ARROZ (200 G)

400 G DE BACALHAU EM POSTAS, DESSALGADO

150 G DE BACALHAU, DESSALGADO E DESFIADO

1 COPO E ½ DE LEITE

2 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES

1 CEBOLA PICADA

1 CEBOLA PICADA

2 COLHERES DE FARINHA DE TRIGO

1 FOLHA DE LOURO

600 G DE BATATA / AZEITE

3 XÍCARAS DE ÁGUA FERVENTE

NOZ-MOSCADA / 200 G DE NATA

AZEITE

Modo de fazer: Faça um refogado com azeite, cebola, louro e depois acrescente o arroz. Junte o bacalhau desfiado, mexa bem e por fim ponha a água fervente. Abaixe o fogo e adicione os tomates picados. Corrija o tempero, se necessário, e sirva assim que estiver pronto. Não deixe secar muito. Na hora de servir, acrescente um fio de azeite sobre o prato.

30

Estilo Zaffari

Modo de fazer: Depois de dessalgado, deixe o bacalhau aferventar junto com o leite por uns poucos minutos. Deixe esfriar, desfaça o bacalhau em lascas e reserve. Numa panela, refogue a cebola até dourar e acrescente o bacalhau. Polvilhe a farinha e em seguida adicione, aos poucos, o leite em que foi cozido o bacalhau. Deixe engrossar ligeiramente e desligue. Rale um pouco de noz-moscada e adicione ao peixe. Reserve. Cozinhe as batatas com casca, tire a pele e corte-as em rodelas. Em fogo baixo, dê uma dourada leve nas batatas e escorra-as em papel-toalha. Arranje as batatas com o bacalhau em forma refratária, adicione as natas e leve ao forno por alguns poucos minutos. Sirva em seguida.



Sabor


Lisboa

Estremadura

EMPADÃO DE BACALHAU

BACALHAU A BRÁS

400 G DE BACALHAU

300 G DE BATATAS CORTADAS EM

600 G DE BATATAS

FORMA DE PALITO

4 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES

200 G DE BACALHAU, DESSALGADO

1 CEBOLA PICADA

3 OVOS

1 PIMENTÃO VERMELHO PICADO

SALSINHA PICADA

2 OVOS / AZEITE

AZEITE

1 COLHER DE MANTEIGA

2 DENTES DE ALHO

Modo de fazer: Desfie bem o bacalhau e reserve-o. Numa panela ponha o azeite e deixe aquecer, acrescentando a cebola, o pimentão e depois os tomates picados. Refogue os ingredientes e junte o bacalhau desfiado. Deixe por mais alguns minutos e desligue. Cozinhe as batatas com casca. Depois de cozidas, tire a pele e faça um purê, acrescentando a manteiga para dar sabor e consistência. Bata os ovos e misture ao purê. Reserve. Numa travessa refratária coloque o bacalhau com os legumes e por cima ponha o purê de batatas, formando o empadão. Leve ao forno por uns 10 minutos ou até dourar. Não deixe muito tempo no forno, para não secar.

Modo de fazer: Desfie o bacalhau e reserve-o. Aqueça o azeite numa frigideira grande, coloque os dentes de alho inteiros para dar sabor e depois os descarte. Acrescente as batatas e frite-as levemente no azeite, sem deixar queimar. Escorra e reserve as batatas. Repita a operação com o bacalhau desfiado, fritando-o por uns 5 minutos. Misture as batatas com o bacalhau da frigideira. Bata ligeiramente os ovos com um garfo e despeje na frigideira. Quando os ovos estiverem firmes (não deixe cozinhar muito), desligue o fogo, acrescente a salsinha e sirva em seguida.


Sabor

Andaluzia

Região Norte

ISCAS DESFIADAS DE BACALHAU

BOLINHO DE BACALHAU

250 G DE BACALHAU

250 G DE BACALHAU

1 CEBOLA

400 G DE BATATAS

AZEITE

1 CEBOLA BEM PICADA

SALSINHA PICADA

2 COLHERES DE SALSINHA PICADA

AZEITONAS PRETAS (OPCIONAL)

3 OVOS / ÓLEO PARA FRITAR

Modo de fazer: Tire o bacalhau do molho, desfie e reserve. Pique a cebola em rodelas bem finas. Coloque numa panela o azeite, a cebola e o bacalhau desfiado. Deixe por uns 3 a 4 minutos, no fogo brando, cozinhando levemente. Acrescente a salsinha e corrija o sal se preciso. Sirva frio, com azeitonas, um fio de azeite por cima, com torradas e pães. Vai muito bem com um vinho verde branco, fresquíssimo.

Modo de fazer: Cozinhe as batatas com a pele, descasque e amasse bem. Reserve. Depois de deixar o bacalhau de molho, leve-o a cozinhar por alguns minutos, sem deixar ferver. Descarte a água e desfie o bacalhau, e depois o amasse com um garfo. Misture o peixe ao purê de batatas, acrescentando os ovos um a um, depois as cebolas e a salsinha. A mistura deve ficar firme. Deixe esfriar e faça os bolinhos. Frite-os em óleo quente e deixe, depois, escorrer em papel-toalha. Dá umas 25 unidades. Sirva quente.

34

Estilo Zaffari



O sabor e o saber FERNANDO LOKSCHIN

SUSPIROS DA AMÉLIA Bacalhau, a mais deliciosa das penitências Com bichos ou com gente, por terra, mar ou ar, todas as grandes migrações foram motivadas por comida. O estômago é um órgão peregrino; os maiores viajantes são os ‘gastronautas’. Se portugueses chegaram ao Brasil em busca de temperos orientais, o Canadá foi ‘descoberto’, primeiro, por bascos que caçavam baleias, e depois por franceses pescando bacalhau. Erik, o ruivo, depois de expulso da Noruega (“por matar gente”) e da Islândia (“por matar mais gente”), pôde explorar a Groelândia há 2000 anos porque aprendera a conservar o bacalhau ao expor o peixe ao vento polar. Sem visto ou passaporte, foi com o bacalhau que o filho de Erik, Leif, chegou à América 500 anos antes de Colombo. A carne de peixe nos alimenta desde as cavernas. Fósseis de peixe são comuns em sítios arqueológicos e, ainda hoje, algumas culturas da Amazônia e do Pacífico Sul dependem totalmente do pescado como fonte de proteína. O peixe nada na geografia. Os mapas da Noruega, Escócia e Japão espelham fielmente áreas pesqueiras: as cidades emergiram junto às zonas onde os cardumes mais se aproximavam das costas. O peixe mergulha na História. O Brasil sofreu uma invasão holandesa porque a pesca fez daquela nação uma potência colonial marítima. Capital de um país onde até a terra foi cedida pelo mar, diz-se que Amsterdan foi construída sobre escamas e espinhas de peixe. Tudo o que importa na cultura tem expressão mítica. O peixe é o símbolo vivo da água no seu poder gerador e purificador, um poder feminino. Historicamente seu desenho imita a vulva da deusa mãe natureza. Não é coincidência que o signo astrológico de Peixes seja duplo – um casal –, que se situe em total oposição ao de Virgem e que, no hemisfério norte, sua constelação prenuncie o equinócio de primavera, a estação da renovação e fecundidade. Ícone pagão, natural que o peixe, devidamente eviscerado das conotações genitais, se tornasse uma marca registrada do cristianismo. Afinal, o catolicismo surgiu junto ao mar da Galiléia e pelo menos sete dos 12 apóstolos de Jesus eram pescadores. Imagem de fecundidade, o milagre substituindo a reprodução, Jesus saciou a fome de 4.000 fiéis pela multiplicação de “quatro pães e dois peixes”. Recém-ressuscitado, Jesus teve como refeição uma “posta de peixe assado”. Desde o Jordão até a pia batismal, o batismo religioso dá-se na água, e o fiel era chamado de pisciculu (‘peixinho’), na mesma metáfora dos índios tupis, que apelidaram as crianças de guri (‘bagrinho’). O reino cristão é figurado como uma rede de pesca, e os sacerdotes, como pescadores de almas. O anel papal, o anel piscadore – colocado na sagração e quebrado na morte do pontífice –, traz a imagem de Pedro jogando uma rede no mar.

FOTOS: LETÍCIA REMIÃO (PORTRAIT), CRISTIANO SANT’ANNA (SUSPIROS)

Um desenho fácil, os primeiros cristãos se representavam com a figura do peixe. Na catacumba romana, é o peixe que identifica a sepultura de um cristão. As cinco letras da palavra grega para peixe, ictys, formam um ideograma que diz ‘Jesus Cristo Filho de Deus, Salvador’ (Iesus Christus Theou Yucis Soter). Nos primórdios do catolicismo o peixe foi um símbolo maior do que a própria cruz e integrava um curioso rito de reconhecimento religioso. Ao encontrar um desconhecido, o fiel riscava um arco no solo. O outro, se também cristão, desenhava um arco reverso, completando assim o desenho de um peixe. O peixe está nas origens do catolicismo, e o catolicismo é a alma da península luso-ibérica, região onde a igreja medieval foi mais poderosa. Na Espanha, o incêndio inquisidor foi o maior, e em Portugal até os nomes dos dias da semana foram excomungados. Outras zonas européias se cindiram em papistas e protestantes, mas ali não existiram protestantes. O gosto português pelo bacalhau veio a calhar aos preceitos religiosos que interditavam a carne (e o sexo) em mais de um terço dos dias do ano: os 40 dias da Quaresma, Páscoa, Natal, Sextas, Sábados e um grande número de ‘dias santos’. O peixe servia bem à penitência por ser um animal silencioso, humilde, de carne branca e fria que se contrapõe ao rubor e calor da carne de gado. Como era abundante e barato, permitia que pobres e ricos comungassem a mesma refeição. Até hoje se mantém a tradição portuguesa do bacalhau na mesa da Páscoa – a mais expressiva data cristã. Além da fé, foi importante a vizinhança entre lusos e bascos, os pioneiros na pesca e salga do bacalhau. A própria palavra bacalhau é de origem basca, e, a se acreditar nas histórias desses pescadores, os cardumes eram antes tão grandes que dificultavam a movimentação dos navios, deixavam a água do mar quase sólida, a permitir, inclusive, que se caminhasse sobre sua superfície!... Eça de Queirós, o principal escritor português, apesar de se considerar quase um francês, reconhecia em si o que definia como os três traços lusitanos: uma tristeza lírica, o gosto pelo fado e o “justo amor” pelo bacalhau. Já Machado de Assis, o primeiro imortal brasileiro, sempre almoçava aos domingos em restaurantes onde pudesse saborear a conversa, o vinho e um bacalhau do Porto. Deixemos de lado a tristeza lírica e o gosto pelo fado, mas cultivemos o justo amor pelo bacalhau, a mais deliciosa das penitências. Na melhor tradição literária, religiosa e lusitana, a santíssima trindade culinária – a conversa, o vinho e o bacalhau do Porto – imortaliza a refeição. Se o peixe morre, o homem vive pela boca.

FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fer nando@vanet.com.br


DESSALGAR 500 G DE BACALHAU. AFERVENTAR E DESFIAR EM PANO ÚMIDO. MISTURAR BEM COM O PURÊ DE 4 BATATAS PEQUENAS E COM 3 OVOS LEVEMENTE BATIDOS. FAZER BOLOTAS E DOURÁ-LAS EM ÓLEO QUENTE. SERVIR COMO ENTRADA EM CAMA DE VERDES. O SEGREDO DA AMÉLIA: O BACALHAU DEVE SER DESFIADO PRESSIONANDO PORÇÕES ENTRE 2 PANOS DE PRATO UMEDECIDOS, ATÉ QUE A CARNE FIQUE EM FLOCOS DIMINUTOS. QUANTO MENORES OS FLOCOS, MAIS LEVEZA E SABOR NOS SUSPIROS.


Viagem

Costa P O R

C R I S

B E R G E R

muy F OTO S

C R I S

E

DA N

B E R G E R


Rica


Viagem

PEACE AND LOVE E PURA VIDA: É COMO SE DIZ BOM-DIA POR LÁ Uma coisa é certa. Você não vai voltar a mesma pessoa ao retornar da Costa Rica. Portanto, prepare-se para um encontro consigo mesmo. É hora de se aventurar, provar novos sabores, beijar a natureza e se sentir absolutamente feliz e radiante. Não tenha pressa em ler esta matéria. Pressa é uma palavra que não combina com o espírito costa-riquenho. Venha devagar, na ginga dos que ouvem Bob Marley, música presente em todos os cantos do lado Atlântico. Feche seus olhos e imagine um lugar mágico, com pessoas inesquecíveis, um estilo de vida único. Imagine que esses bons pensamentos podem se transformar em uma doce e fabulosa realidade. Agora que você já entrou no espírito da viagem vou lhe mostrar onde fica este pedaço de aquarela no mapamúndi. A Costa Rica é um pequeno país localizado na América Central, e nele 30% de todo o território é área de proteção ambiental. Do lado esquerdo você encontra o oceano Pacífico, no direito, o Atlântico. Nossa bússola aponta para a direita, que nos leva ao mar caribenho. Esqueça referências como Cancún ou Aruba. As únicas semelhanças entre eles são águas quentes e transparentes. Nosso rumo

40

Estilo Zaffari

inicial são três aldeias, chamadas Cahuita, Puerto Viejo e Manzanillo. Elas são o ouro do Caribe. Encantam com sua alma livre e personalidade marcante. “Peace and Love” é a melhor expressão para descrevê-las. Uma opção não-turística do tipo “off Broadway”. É uma descoberta, um segredo que a gente conta só para os amigos. Depois das aldeias, seguimos para as montanhas. Monteverde é nosso pouso final. Onde o verde nos abraça com graça e harmonia. Caça ao tesouro San José, capital costa-riquenha, é a primeira parada da viagem. Como os vôos vindos do Brasil chegam por volta das 20h (os da empresa Copa), uma noite na capital será inevitável. Verdade seja dita: o trânsito é caótico e a sinalização é precária. Depois de horas viajando, cama e um belo banho é tudo o que se deseja. Sugestão? Vá direto para um hotelzinho e recarregue as baterias, porque há muito para ver na manhã seguinte. O Riviera Hotel é uma opção que agrega boa acomodação e preço acessível, e fica a poucos minutos do aeroporto. Alugar um carro é fundamental na Costa Rica. Pal-



Viagem

DEIXE A CURIOSIDADE AFLORAR. FAÇA NOVOS AMIGOS. PROVE OUTROS SABORES. 42

Estilo Zaffari

pite: escolha um 4x4 com ar-condicionado. Acho prudente fazer a reserva do Brasil. Maiores são as chances de se conseguir uma boa tarifa. Peça para retirá-lo ao desembarcar. As estradas que se tem pela frente se alteram entre boas, nem tão boas e nada boas. De San José até a costa do Atlântico se leva em média de três a quatro horas, dependendo do número de paradas durante o percurso e do peso do pé do motorista. Saindo de San José, tome o caminho de Limón, para finalmente chegar em Cahuita. Dicas importantes: não hesite em pedir informação (essa vai para os homens) e não espere contar com muitas placas de sinalização. Encontrar a saída para Limón pode se tornar um problema. Se a situação complicar, peça a um motorista de táxi que indique o caminho de saída. Gaste alguns colones, moeda local, e tenha certeza de que foi um dinheiro bem investido. Sobrevivendo à primeira parte, tudo fica mais fácil.


O trecho até Limón pode ser acompanhado de caminhões, pois é uma cidade portuária. É provável que o tráfego fique mais lento. Relaxe, contemple a natureza do Parque Nacional Bráulio Carillo, que emoldura a estrada, e comece a entrar no clima “pura vida” da região. A partir de Limón tudo vira festa. Alma caribenha em seu melhor estilo O primeiro contato com a alma costa-riquenha foi ao conhecer o sueco Martin. Um entre tantos estrangeiros que estiveram por lá apenas a passeio, se apaixonaram, voltaram para seu país de origem, fizeram as malas e se mudaram de vez para o paraíso. Foi com olhos curiosos que encontramos o Martin. Passávamos de carro quando o avistamos preparando trouxinhas de tamale, comida típica natalina. Feitas à base de farinha de milho e recheadas com cenoura, pimentão, batata, passas, carne de por-

co, galinha, arroz e ervilha. Enroladas em folhas de bananeira, são levadas ao fogo em uma panela de ferro até cozinhar. São tradicionais da região e deliciosas. Fomos recebidos calorosamente, fizemos amizade, compramos artesanatos e começamos a entender a beleza do local. Beleza que vem da alma, que se revela na paz de espírito, no balanço do reggae, no descompromissado jeito de viver. Logo à frente encontramos Cahuita. Um pitoresco vilarejo que respira paz e tranqüilidade. Pequenina, rústica e colorida. Onde a natureza se mostra exuberante, soberana e totalmente presente. Por indicação do nosso amigo sueco chegamos até o Alby Lodge. O Alby são românticos bangalôs em um jardim tropical ao som dos Kongos, pequenos macacos que rugem como leões. Na varanda do nosso bangalô uma rede esperava por nós. Obedientes ao chamado da vida simples e sem pressa, passamos o restante do dia entregues à leitura e ao balanço da rede. A noite se fez pre-

Estilo Zaffari

43


Viagem

AS ALDEIAS CARIBENHAS DA COSTA RICA SÃO RÚSTICAS, CHARMOSAS E ENCANTADORAS sente pouco antes das 18h. Por lá as estrelas chegam mais cedo. Decidimos que era hora de procurar algum lugar para jantar e mais uma vez fomos deliciosamente surpreendidos com o charmoso restaurante Cha Cha Cha. Obra do chef canadense Bertrand, que comanda a cozinha e assina os pratos, verdadeiras obras de arte. O ambiente é acolhedor e o atendimento, perfeito. Se banana flambada é sua sobremesa preferida, não perca a preparada pelo Bertrand – é de saborear de olhos fechados! Pérolas do Caribe tão pertinho de nós A meia hora de carro ao sul de Cahuita encontra-se Puerto Viejo. No tradicional estilo afro-caribenho da costa do Atlântico está escondida esta pérola do Caribe. Não menos encantador do que Cahuita, Puerto Viejo se revelou mágico. Tem a alma de Bob Marley. O estilo dos rastafáris. O ritmo de quem sabe viver. As cores explodem aos olhos ainda não acostumados com beleza tão singular. A negritude das areias de Playa Negra contrasta com o branco da espuma das ondas e nos faz perder o fôlego. Na praia de Cocles estão localizados os bangalôs de La Costa del Papito, desenhados pelo nova-iorquino Eddie, que deixou há 11 anos o Bronx e fez da Costa Rica seu novo lar. São nove bangalôs espalhados por um jardim lindo, repleto de árvores e pássaros. Peça o café da manhã no bangalô – ele é servido na sacada – e comece o dia contemplando pássaros típicos da região. No fim do dia, curta

44

Estilo Zaffari

o entardecer em uma rede e lembre-se de agradecer a Deus por uma vida tão plena. Após 48 horas no paraíso, passamos a sentir que a ferrugem do concreto urbano começa a desaparecer e o nosso lado “pé no chão e cabelos ao vento” sobressai. É nesta hora que os sentidos começam a aflorar e podemos entender melhor o estado de espírito da costa das Caraíbas, nome dado a esta região da Costa Rica banhada pelo mar do Caribe. Há muitas praias a descobrir entre Puerto Viejo e Mazanillo. A partir de Cocles a areia branca predomina. Punta Uva é deslumbrante e se tornou minha preferida. Por toda costa litorânea a floresta vai de encontro ao mar com tamanha euforia e beleza, que nos sentimos meros espectadores de um espetáculo comandado pela natureza. Somos grãozinhos de areia em meio a tão grandiosa fauna e flora. Existe uma estrada que liga todas essas praias. Pegue o carro ou uma bicicleta e deixe o vento levar você. Não resista e se entregue aos mistérios e surpresas de cada recanto. Uma lembrança para toda vida O Parque Nacional de Cahuita é um espetáculo à parte. Imperdível! Separe um dia para desfrutar dessa reserva ecológica e se entregar a essa experiência fabulosa. Existem duas entradas para o parque: por Cahuita ou Puerto Vargas. São sete quilômetros que ligam as duas entradas e devem ser percorridos a pé. Não economize em filmes fotográficos, encha o cantil de água, porque lá den-



Viagem

tro não há nada para vender, calce uma sandália confortável e prepara-se para sentir o pulsar de uma floresta e contemplar praias de uma beleza impressionante. Ao todo, são 14 quilômetros de trilha (ida e volta) que devem ser percorridos saboreando as surpresas que se revelam no decorrer do caminho. Se você tiver sorte vai encontrar macaquinhos fazendo piruetas entre os galhos das árvores. Eles gostam de frutas e podem ser alimentados com elas. Outro momento memorável são as vozes da floresta. Pare por alguns minutos, faça silêncio e se deixe arrebatar pela melodia que emana de dentro do coração da mata tropical. Entre um mergulho e outro você ainda vai cruzar por outros viajantes e terá a oportunidade de fazer novos amigos. Afinal, ninguém passa indiferente. Certamente você escutará “buenas”, “good morning” ou “puravida”, sendo esta a saudação típica local. Saudações que revelam a harmonia do ambiente e as diferentes nacionalidades. Para

46

Estilo Zaffari

FECHE OS OLHOS, OUÇA AS VOZES DA FLORESTA, REVERENCIE A BELEZA DESTA TERRA


fechar com chave de ouro, ao sair do parque por Puerto Vargas tome um drinque no Boca Chica. Rodolfo Botti vai receber você de braços abertos e lhe contar que foi o primeiro italiano a chegar em Cahuita, no início da década de 90. A piña colada é maravilhosa! Em caso de fome, os aperitivos são uma ótima pedida. Peça ao Rodolfo para tocar o CD Mobi Hits, entre no clima, arrisque alguns passos de dança, caia na piscina e assista ao sol se pôr entre as árvores. Paladares à flor da pele Não são apenas os olhos os principais contemplados na Costa Rica. O paladar é também abençoado com os sabores do mar. No Sobre las Olas, em Cahuita, de outro italiano, o Marco Botti, os pratos são elaborados com maestria. Chegue cedo, pelo menos uma hora antes de anoitecer, escolha uma mesinha no lado de fora, estude o

cardápio com calma e peça um vinho branco (o Marco tem ótimas opções). Vá saboreando o momento, deixe a noite chegar e as velas serem acesas. Você estará a poucos metros do oceano e se sentirá plenamente integrado ao ambiente, como se ali fosse sua casa há muito tempo. Se não resistir, atire-se na rede presa entre dois coqueiros e fique a observar as estrelas de um céu cravejado de brilhantes. Em Puerto Viejo, duas outras experiências gastronômicas que não podem deixar de ser provadas são o La Pecora Nera e o EZ Times. O peculiar La Pecora Nera (em português, Ovelha Negra) é comandado pelo italianíssimo Illário Giannoni. O menu é uma difícil decisão. O ator norte-americano William Hurt, durante as filmagens de “Blue Butterfly”, foi presença constante no restaurante do Illário. Não é para menos: a combinação entre a cozinha italiana, frutos do mar e sabores caribenhos transforma cada prato em uma verdadeira inspiração. Che-

Estilo Zaffari

47


Viagem


LIVROS ESTÃO POR TODA PARTE. LEVE UM DO BRASIL E PRESENTEIE UM NOVO AMIGO gamos no La Pecora já tarde da noite, as últimas mesas se despedindo satisfeitas e nós conversando despreocupadamente com o Illário. Fomos ficando. As luzes da cozinha se apagaram. Illário, acompanhado de seus pais e equipe de trabalho, montou uma grande mesa. O ambiente se encheu da música de Beethoven, os copos brindaram e nós ficamos ali observando de longe a celebração da noite de Natal. Ao pé da mesa, um cão. A imagem perfeita de um filme europeu. Já o EZ Times tem seu estilo. O cardápio não é vasto. Aposte na salada, na bruschetta e no Especial do Dia. A música é sempre boa. As mesas ficam distribuídas em um jardim. Tem cara de bar-restaurante e é freqüentado por europeus e gente local. Lugares para o “desayuno” (café da manhã) são vários. Gostamos e recomendamos: Internet Café Rio Negro e o Pan Pay Bakery. Pode parecer meio pesado começar o dia comendo arroz e feijão, mas em nome de “novas experiências” experimente o Gallo Pinto. Caso seja demais para seu estômago, as panquecas com syroup e frutas são deliciosas! Uma doce descoberta antes de dizer adeus Uma vez mais em Cahuita, antes de seguir para a área central da Costa Rica, tivemos o prazer de conhecer o Kelly Creek. Um hotel-restaurante perfeitamente localizado entre a praia e o rio, na entrada do Parque Nacional de Cahuita. Fomos muito bem recebidos pelo espanhol Andrés e pela cocker Ruby, por quem morri de amores.

Pouco depois conhecemos o restante da família, Marie Claude, a boxer Sálvia e o papagaio Thomas. Andrés e Marie vivem em Cahuita há sete anos. “Precisávamos mudar nosso estilo de vida”, revelou Andrés, enquanto Ruby e Salvia pulavam no meu colo. O ritmo frenético de Madri não fazia mais sentido, e a Costa Rica se mostrou encantadora para eles. Da Espanha ficou a especialidade da casa: paella. Reservas se fazem necessárias. Andres garante e conta o segredo: “Preparamos a melhor paella. Não há igual nem na Espanha. Não temos pressa, e cozinhamos por duas horas”. Depois de um jantar em grande estilo, dormimos embalados pelo barulho das ondas. O amanhecer no Kelly Creek é uma nova sensação. A apenas alguns passos do mar, a luz da manhã intensifica a exuberante explosão de cores. Antes de nos despedirmos dos nossos mais recentes amigos, nos deixamos ficar um pouco mais. Saboreamos os ovos mexidos, as torradas e o suco de frutas com a certeza de que este seria um ótimo lugar para se levar a vida. Deliciosas surpresas em meio às montanhas De volta à estrada. Se por um lado já sentíamos saudade das aldeias caribenhas, por outro estávamos curiosos pelas surpresas que nos esperavam na parte central da Costa Rica. Não nos decepcionamos. A viagem de regresso até San José foi tranqüila. Logo que chegamos de volta à cidade não hesitamos em pagar um táxi para nos indicar a saída a Monteverde, nosso próximo destino. Em alguns

Estilo Zaffari

49


Viagem

minutos seguíamos rumo às montanhas. Nesta parte da viagem redobramos a atenção. A estrada não é lá grande coisa. Sem acostamento e com pista única. Quando saímos da rodovia principal em direção a Monteverde, a beleza do campo voltou a tomar conta do cenário. São infinitos tons de verde que comandam o espetáculo e seduzem os viajantes. A estrada de terra com seus ziguezagues enfeita ainda mais a paisagem. Chegamos à pousada e spa El Sol justamente quando ele, o sol, se despedia de nós e nos deixava seguros no aconchego e na hospitalidade de Elisabeth, Inácio e Javier. Escondidas no meio da floresta tropical, três cabanas. Duas para hóspedes. Uma para eles, onde as refeições são servidas. Uma piscina com água das montanhas e uma sauna. Vista espetacular. Rede que convida ao descanso. Por que não? Vimos os degradês de azul do céu se transformarem em noite escura e deliciosamente fria. Depois um jantar sublime, preparado pelo Inácio.

50

Estilo Zaffari

Uma grande mesa, todos reunidos. Os copos brindaram a vida. Tanto a contar e ouvir. A luz amarelada das velas aquecia o ambiente invadido por diferentes sotaques de uma língua universal. Dormimos sorrindo e plenos por tanta harmonia. Para guardar no coração Em toda viagem existem aquelas coisas que listamos como as mais importantes, as imperdíveis e as que jamais poderiam deixar de ser vistas, amadas e admiradas. Claro que cada um de nós tem sua própria percepção. E é exatamente isso que nos faz singulares. Mesmo assim vou arriscar uns palpites. Quem sabe nossos gostos não se cruzam? Até porque estamos falando de um pedacinho do céu na terra. E no céu está o paraíso. Começando com sabores: Guanábana. Parecida com o quê? Já tentei achar uma fruta que fosse parente dela e fracassei. O que


TODOS OS SENTIDOS SÃO ABENÇOADOS NESTE LUGAR FASCINANTE E DOCE

importa é que o paladar se encanta com a doçura desta fruta que é misturada com água ou leite e servida no café da manhã. Depois que eu a descobri, aonde íamos suplicávamos por ela, que não está disponível em todos os lugares. O que a deixa ainda mais desejável. Quando penso em lugares não hesito em falar novamente do Parque Nacional de Cahuita, que amei de corpo e alma. Foi o Marco Botti que nos falou sobre o parque. Num tom de quase segredo, ele nos confidenciou ser lá o seu lugar preferido. Conferimos e entendemos o porquê de tanta fascinação. Se você ama a companhia de um livro, vai se impressionar pelo modo como eles estão presentes por lá. Onde se vai há uma minibiblioteca com os mais ecléticos exemplares. Você pode alugá-los ou comprá-los. Minha dica é: leve um do Brasil e presenteie a um novo amigo. Eu deixei “Agosto”, de Ruben Fonseca, no Kelly Creek e trouxe “Re-

Estilo Zaffari

51


Viagem

trato em Sépia”, da Isabel Allende. Não deixe de dar um pulo na galeria de artes “Luluberlu”, em Puerto Viejo. São peças lindas feitas por índios e artistas plásticos locais. Uma visita à reserva indígena também é uma ótima pedida. Na rua principal de Puerto Viejo tem uma agência de turismo onde você pode contratar o serviço de um guia. Aproveite para dar uma espiada em várias outras tentadoras opções. Para quem gosta de surfar, a Costa Rica é o local. Na praia de Cocles e Salsa Brava estão as melhores formações. O agito noturno fica por conta dos bares à beira-mar que lá pelas tantas se transformam em danceteria. Nem preciso dizer que o reggae é o ritmo que predomina nas pistas de dança. A Costa Rica é ideal para quem não quer fazer nada e para quem quer fazer tudo. Quem gosta de natureza e não abre mão do conforto. Para solteiros, casais a fim de uma lua-de-mel e famílias. Perfeita para quem acha que há muito para desvendar neste mágico pedacinho da América Central.

COMO IR AÉREO COPA AIRLINES – US$ 740 – US$ 840 WWW.COPAAIR.COM

ACOMODAÇÃO SAN JOSÉ HOTEL LA RIVIEIRA – US$ 60 –WWW.LARIVIEIRAHOTEL.COM

CAHUITAS KELLY CREEK – US$ 50 WWW.2000.CO.CR/HOTELKELLYCREEK ALBY LODGE – US$ 30 A US$ 50 – ALBY_LODGE@RACSA.CO.CR

PUERTO VIEJO LA COSTA DEL PAPITO – US$ 32 A US$ 62 WWW.GREENCOAST.COM/PAPITO.HTM

MONTEVERDE EL SOL – US$ 60 A US$ 80 - WWW.ELSOLNUESTRO.COM

RESTAURANTES CAHUITAS CHA, CHA, CHA – US$ 30 - COZINHA INTERNACIONAL E CARIBENHA, PEIXES E MARISCOS E SOBRE LAS OLAS – US$ 30 – COZINHA ITALIANA, PEIXES E MARISCOS

PUERTO VIEJO LA PECORA NERA – US$ 50 – COZINHA ITALIANA E FRUTOS DO MAR; EZ TIMES – US$ 30 – COZINHA INTERNACIONAL E PIZZARIA OS VALORES DA HOSPEDAGEM E DOS RESTAURANTES SÃO PARA DUAS PESSOAS

52

Estilo Zaffari



Bem Viver ANTÔNIO CARLOS MINUZZI

A FONTE DA JUVENTUDE EXISTE? O maior elixir da juventude é a boa alimentação Desde os primórdios da humanidade, o homem busca desesperadamente uma maneira de retardar o envelhecimento. A ciência ainda não encontrou um jeito de nos deixar eternamente jovens, entretanto, boas novas têm surgido. As mais recentes pesquisas em envelhecimento têm demonstrado que, atualmente, não podemos impedir completamente os estragos do tempo, mas já dispomos de algumas armas que podem minimizá-los e retardá-los. Os cientistas sabem que não é só a herança genética que determina o quanto será longa e saudável nossa existência. O envelhecimento é um processo multifacetado, do qual fazem parte inúmeros mecanismos. Terapias médicas como a modulação hormonal, drogas adaptógenas, antioxidantes e tratamentos dermato-estéticos têm se mostrado bastante eficazes no combate ao envelhecimento, mas nem todas as pessoas têm acesso a esse tipo de tratamento. Felizmente, há um elixir mágico capaz de melhorar nossa qualidade de vida e retardar o envelhecimento. E a esse todos têm acesso. Um fato interessante é que no mundo científico não há controvérsias sobre essa "droga". Embora ela esteja entre nós há milhares de anos, só agora estamos nos dando conta de seu real poder . Essa droga chama-se alimentação saudável. Nos últimos anos, descobriu-se a propriedade do licopeno, substância encontrada no tomate, na goiaba e na melancia, que protege órgãos como próstata, pele e aparelho cardiovascular. Na soja, existem princípios ativos como a genisteína e a daidzeína, que vêm sendo usadas na prevenção de alguns tipos de câncer e de doenças cardiovasculares, além do uso em vários cosméticos que têm como objetivo retardar o aparecimento de rugas. Na uva encontramos o poderoso resveratrol, que tem efeito cardioprotetor, além de atuar de forma efetiva na prevenção do mal de Alzheimer, derrame cerebral e câncer de pâncreas, mama, rim, próstata e cólon. Recentemente foi divulgada a descoberta, realizada por pesquisadores da Harvard Medical School e Biomol laboratórios, de que o resveratrol ativa o gene da longevidade. Tal desco-

54

Estilo Zaffari

berta talvez esteja abrindo a maior porta para o desenvolvimento de substâncias que efetivamente retardem o envelhecimento. Não podemos deixar de citar também o indol -3 carbinol, elemento encontrado no brócolis, couve-flor e repolho e que tem inúmeros efeitos positivos no ser humano. Sem sombra de dúvida, um dos princípios ativos mais estudados e com efeitos comprovados é o ômega-3, encontrado em determinados peixes. Ele exerce efeitos positivos em praticamente todo nosso corpo, da visão ao funcionamento cerebral. Atua diminuindo a pressão arterial, protegendo contra o infarto e o derrame cerebral. Pesquisas demonstraram, recentemente, que sociedades com baixo consumo de peixe apresentam índices elevados de depressão, suicídio e violência. O consumo elevado de peixe previne o aparecimento de inúmeros tipos de câncer. Com certeza eu ocuparia todas as páginas desta revista descrevendo o poder de determinados alimentos no retardo do envelhecimento. Isso é impossível, mas não posso deixar de comentar a importância da restrição calórica como a mais poderosa arma no retardo do envelhecimento. Restrição calórica não é sinônimo de jejum ou desnutrição. Significa ingerir quantidades adequadas de proteínas e ácidos graxos essenciais, bem como carboidratos suficientes para manter uma função cerebral equilibrada. Está comprovado que esse tipo de alimentação é capaz de prolongar a vida, aumentar a capacidade de aprendizado, reforçar o sistema imunológico, melhorar a função renal, além de diminuir o acúmulo de gordura corporal e a perda de massa óssea. Também diminui os riscos de diabetes, cardiopatias e câncer. Tenho um conceito muito pessoal sobre alimentação e gostaria que as pessoas parassem um pouco para pensar sobre isso. No dia em que conseguirmos ter o mesmo respeito e valorizarmos a alimentação como fazemos com os remédios, aí poderemos tirar verdadeiro proveito desse poderoso "elixir da juventude". ANTÔNIO CARLOS SCHILLING MINUZZI



DOCES DE ALÉM-MAR: TRADIÇÃO, HISTÓRIA, ARTE, BELEZA E MUITO, MUITO SABOR

Gula


Portugal apresenta uma das cozinhas mais completas do mundo, que começa com a qualidade de seus vinhos e vai até os queijos, como o da Serra da Estrela, tão delicioso quanto original. Do tira-gosto à sobremesa, eles são impecáveis. Mas é na doçaria, em especial, que Portugal se torna imbatível. Quando se fala em doces portugueses, faz-se referência principalmente aos chamados doces conventuais, quer dizer, criados nos conventos. Quase todos são feitos à base de ovos e calda, e muita amêndoa também. A tradição doceira veio inicialmente com os árabes, que introduziram as amêndoas, as caldas e o açúcar, tão abundante nas colônias. Mas é nos conventos, por volta do século 16, que se aperfeiçoam esses doces tradicionais, cuja fama chega até os nossos dias. Como os conventos abrigavam as filhas da nobreza e das famílias ricas, é dali que partiam verdadeiras iguarias. Uma cozinha sofisticada, com suas receitas mantidas em segredo por muito tempo, e motivo de orgulho e de disputa entre os vários conventos e mosteiros. É por isso também que os nomes dos doces são quase sempre uma referência divertida à religiosidade: Papos-de-Anjo, Barriga de Freira, Toucinho do Céu, Orelhas de Abade, Pudim Celeste e assim por diante. Lisboa, no século 19, sempre charmosa e romântica, abrigava, em seus inúmeros cafés, artistas, boêmios, políticos, escritores, visitantes estrangeiros, que passavam horas a fio consumindo essas maravilhas. Especialmente aquele que é o mais refinado e o mais representativo doce da confeitaria portuguesa: o pastel de nata. O pastel de nata é, na verdade, uma tortinha de massa folhada, delicadíssima, com um creme de baunilha dentro, temperado com canela. O pastel de nata mais famoso é o do restaurante da Torre de Belém, em Lisboa, instalado ali desde 1837. Nesse local, são produzidos mais de 10 mil pastéis de nata por dia. A receita desse sucesso é mantida em segredo, muito bem guardada.

POR B E AT R I Z G U I M A R Ã E S F OT O S L E T Í C I A R E M I Ã O


Gula

Beira

Coimbra e Beira

BARRIGAS DE FREIRA

PASTÉIS DE NATA

280 G DE AÇÚCAR

RECHEIO

3 COLHERES DE FARINHA DE ROSCA CASEIRA

140 G DE CREME DE LEITE / 4 GEMAS

5 GEMAS

80 G DE AÇÚCAR / CANELA EM PÓ

1 TIRINHA DE CASCA DE LIMÃO

Massa folhada: Pode-se usar aqui a massa folhada já pronta, de 400 g, aproximadamente. Caso contrário, o preparo da massa exigirá muito tempo e atenção. É importante, sempre que as massas forem abertas, usar uma bancada de pedra ou inox, e ter cuidado para que a temperatura da cozinha esteja fria.

2 COLHERES DE MANTEIGA 1 PITADA DE CANELA Modo de fazer: Com água suficiente para desmanchar o açúcar, faça uma calda rala e ponha a casca de limão. Depois de pronta, retire a casca e acrescente a farinha de rosca, a manteiga e, por fim, as gemas ligeiramente batidas. Aqueça, sem deixar ferver, mexendo sempre por uns 2 a 3 minutos até engrossar. Coloque em taças e polvilhe a canela.

58

Estilo Zaffari

Modo de fazer o recheio: Bata as gemas e o açúcar até ficarem com consistência grossa. Acrescente o creme aos poucos, bata bem e leve ao fogo. Mexa sempre até atingir uma consistência cremosa. Deixe esfriar e cubra com um pano úmido. Abra a massa folhada, corte-a em rodelas e arranje-as nas forminhas. Encha cada forminha com uma colher do recheio e asse em forno quente (250ºC) até dourar o creme e a massa. Ao servir, acrescente uma pitada de canela e açúcar de confeiteiro. Consuma no mesmo dia. Dá em torno de 16 tortinhas.


O PASTEL DE NATA SURGIU NA REGIÃO DE LISBOA. COMO O RESTAURANTE QUE O POPULARIZOU – E QUE DIZ MANTER A VERDADEIRA RECEITA – FICA PERTO DA FAMOSA TORRE DE BELÉM, NA CAPITAL LUSITANA, O DOCE TAMBÉM É CHAMADO DE PASTEL DE BELÉM.


Gula

ASSIM COMO OS OVOS MOLES, OS FIOS DE OVOS, OU OVOS REAIS, TAMBÉM SÃO ORIGINÁRIOS DO AVEIRO, NA REGIÃO DA BEIRA LITORAL. UTILIZADOS COMO RECHEIO E COMO GUARNIÇÃO PARA BOLOS E TORTAS, OS FIOS DE OVOS SÃO MUITO APRECIADOS NO BRASIL.


Aveiro

Minho e Douro

FIOS DE OVOS

ALETRIA COM OVOS

200 G DE AÇÚCAR

80 G DE ALETRIA, OU VERMICELLI, QUEBRADOS

4 GEMAS

100 G DE AÇÚCAR

1 OVO

1 COPO (300 ML) DE LEITE

100 ML DE ÁGUA

2 GEMAS PASSADAS NA PENEIRA

50 G DE CEREJAS EM CALDA (OPCIONAL)

2 COLHERES DE MANTEIGA

Modo de fazer: Para este doce é necessária uma espécie de funil com vários furinhos, para que os ovos possam escorrer e formar os fios sobre a calda. Afora isto, seu preparo é muito fácil e bastante apreciado. Pode ser servido sozinho ou também como guarnição para bolos. Bata bem as gemas e o ovo, passe a mistura pela peneira e reserve. Faça uma calda grossa, e depois reduza o fogo, mas mantendo a fervura. Despeje na calda metade dos ovos, pelo funil, girando-o para que forme os fios. Deixe cozinhar por 1 ou 2 minutos e retire os fios de ovos com uma escumadeira. Repita a operação. Ao servir, enfeite com uma ou duas cerejas em calda, se quiser.

CANELA RASPA DE LIMÃO Modo de fazer: Cozinhe a aletria no leite e em seguida adicione o açúcar e a raspa de limão. Deixe cozinhar até ficar cremoso. Acrescente a manteiga e as gemas batidas. Deixe no fogo até quase ferver. Coloque em uma travessa, polvilhe a canela. Sirva quente ou frio.

Estilo Zaffari

61


Gula

Algarve

Coimbra e Beira

MARZIPÃ

PASTÉIS DE SANTA CLARA

200 G DE AÇÚCAR

MASSA 200 G DE FARINHA / 110 G DE MANTEIGA

200 G DE AMÊNDOAS MOÍDAS (USAR O

1 OVO PARA PINCELAR

PROCESSADOR)

RECHEIO 7 GEMAS PENEIRADAS E BEM BATIDAS

4 A 5 COLHERES (SOPA) DE ÁGUA

110 G DE AMÊNDOAS MOÍDAS / 200 G DE AÇÚCAR

Modo de fazer: Em fogo moderado, faça uma calda grossa, em ponto de pérola (quando se formam bolinhas que parecem pérolas). Acrescente as amêndoas moídas, misture bem, mexendo sempre, e deixe ferver até quase secar. Deixe a mistura secar até o dia seguinte. Se a massa não estiver suficientemente firme, cozinhe novamente até secar mais. Com as mãos úmidas, dê a forma desejada à massa. Para a Páscoa é costume moldar os marzipãs em forma de ovos. Deixe secar até o dia seguinte, e pinte os marzipãs com tintas apropriadas para alimentos. Coloque-os em forminhas de papel e sirva como sobremesa.

62

Estilo Zaffari

Modo de fazer a massa: Misture, com os dedos, a manteiga e a farinha, acrescentando um pouquinho de água gelada para auxiliar a mistura, até obter uma massa uniforme. Enrole a massa com filme e guarde na geladeira. Modo de fazer o recheio: Faça uma calda grossa e coloque as amêndoas e as gemas. Misture bem e leve ao fogo médio, mexendo sempre até ficar com consistência grossa. Deixe esfriar. Montagem dos pastéis: Abra a massa e corte com um molde redondo ou, se preferir, em pequenos retângulos (dessa forma se aproveita melhor a massa). Coloque o recheio em cada uma das rodelas, umedeça as bordas e feche bem. Coloque os pastéis numa assadeira, pincele com o ovo e leve ao forno pré-aquecido (200ºC) até ficarem dourados. Depois, polvilhe com açúcar.


COIMBRA ABRIGA INÚMEROS CONVENTOS E MONASTÉRIOS. DALI POSSIVELMENTE SURGIRAM VÁRIAS RECEITAS DE DOCES QUE CHEGARAM ATÉ NOSSOS DIAS. OS DELICADOS PASTÉIS DE SANTA CLARA SÃO, TALVEZ, A GRANDE CONTRIBUIÇÃO DE COIMBRA PARA A DOÇARIA PORTUGUESA.


Bom conselho P O R M A LU C O E L H O

PONHA MAIS PEIXE NA SUA DIETA

Na Semana Santa os peixes entram com toda a força na nossa mesa, mas por sua qualidade nutricional devem ser consumidos durante todo o ano. Com mais peixe na sua dieta você ganhará em saúde e qualidade de vida. As proteínas encontradas nos peixes são vitais para a renovação celular, auxiliam no fortalecimento dos cabelos e da pele. Se você não quer engordar, prefira o bacalhau, que possui pouca caloria e é nutritivo, saboroso, de fácil digestão, rico em minerais e vitaminas e com colesterol quase zero. É saudável e totalmente natural. O bacalhau é mais nutritivo que o peixe, a carne e o frango. O valor nutritivo de 1 kg de bacalhau equivale a 3,2 kg de peixe! E rende mais, podendo alimentar de seis a oito pessoas.

TIPOS DE BACALHAU – DA ESCOLHA AO PREPARO

PORTO: O MAIS CARO. ALTO E SUCULENTO. VENDIDO NA NORUEGA. POSSUI GROSSAS LASCAS NATURAIS. SAIHT: PRÓPRIO PARA BOLINHOS. DESFIA FÁCIL. SABOR MAIS FORTE. LING: MUITO CONSUMIDO NO BRASIL. É MAIS CLARO E MAIS ESTREITO, PORTANTO, MENOS PROVEITOSO. ZARBO: MAIS BARATO E POPULAR. ESCURO E ESTREITO. É O MAIS VENDIDO POR SER MAIS BARATO.

COMO DESSALGAR LAVE BEM AS PONTAS, COLOQUE NUMA TIGELA COM A PELE VOLTADA PARA CIMA. CUBRA COM ÁGUA. TAMPE E GUARDE NA GELADEIRA (A ÁGUA GELADA AJUDA NA MANUTENÇÃO DA QUALIDADE). SE AS POSTAS FOREM GROSSAS E ALTAS, O TEMPO DE MOLHO É DE 48 HORAS; SE FOREM MÉDIAS É DE 36 HORAS. SE QUISER ESPERAR MENOS TEMPO, O MÍNIMO É DE 24 HORAS, MAS AS POSTAS DEVEM SER FININHAS. DE QUALQUER FORMA, TROQUE A ÁGUA TRÊS VEZES POR DIA. ALGUMAS PESSOAS, AO FINAL DESSE PROCESSO, COBREM AS POSTAS COM LEITE QUENTE POR ALGUNS MINUTOS. MAS ISSO É DISPENSÁVEL. LEMBRE-SE: O IMPORTANTE É PLANEJAR SUA COMPRA E, DEPOIS, PREPARAR UMA BELA REFEIÇÃO. ORGANIZE UM CARDÁPIO EQUILIBRADO, COM BOA APRESENTAÇÃO E DELICIOSO. BOLINHO DE BACALHAU É SEMPRE UMA ÓTIMA OPÇÃO.

COMA MAIS BACALHAU. NÃO IMPORTA A DATA, É GOSTOSO E SÓ FAZ BEM.

64

Estilo Zaffari



Estilo

Carnívoros versus

vegetarianos VIVE

LA

DIFFÉRENCE!

Comer ou não comer carne, eis a questão. Uma questão que, diga-se de passagem, vai muito além de uma simples opção gastronômica. De um lado, temos os adoradores de um suculento filé, amantes do prazer que uma picanha proporciona. Do outro, os vegetarianos convictos, seguidores de uma alimentação considerada mais ética e purificadora. Não cabe a nós julgar um ou outro lado. Apenas mostrar que são pontos de vista diferentes, que a comida escolhida é forma de prazer e também de expressão, devoção e filosofia de vida. P O R

66

Estilo Zaffari

P AU L A

TA I T E L B AU M

I LU S T R A Ç Õ E S

N I K



Estilo

"SE EU OUÇO COMENTÁRIOS DE CARNÍVOROS? TÁ BRINCANDO? EU É QUE ENCHO O SACO DELES. MÍSEROS COMEDORES DE CADÁVERES!" E D UA R D O B U E N O, ESCRITOR E JORNALISTA

"FUI ACOSTUMADO A COMER CARNE DESDE CRIANÇA E CONFESSO NUNCA TER PARADO PARA PENSAR NO ASSUNTO. É BOM E PRONTO." ZÉ VICTOR CASTIEL, ATO R

68

Estilo Zaffari

Consciência ética Domingo, Rio Grande do Sul. O cheiro do churrasco emana das chaminés, espalha-se pelas esquinas. Em algum lugar, família reunida, um pai está magoado porque o filho recusa-se a provar a sua carne, aquela que ele escolheu, salgou, espetou e assou com tanta dedicação. O filho, por sua vez, já não agüenta mais explicar que é uma questão filosófica, que optou por uma vida mais saudável e espiritualizada e que não, não vai morrer de anemia e de desnutrição. Provavelmente eles jamais se entendam nos domingos de churrasco. Porque o que está na mesa é também a negação de uma cultura, o sentimento de rejeição (se ele não prova a comida que eu faço, é sinal de que não gosta de mim) e a aceitação das diferenças. Quanta confusão por causa de uma simples costela minga, não? Não, diriam os vegetarianos, não é uma simples costela minga, é um animal que sofreu muito antes de morrer. Pois um dos motivos que levam alguém a tornar-se vegetariano é o respeito para com os animais. Os mais radicais são os vegans (pronuncia-se vigan), que além de não comerem carne de espécie alguma, não consomem nenhum derivado animal, nem mesmo mel. Também não usam pele, couro, lã ou seda. Vânia Recchi é gaúcha e mora em Londres há dez anos. Era vegetariana quando se mudou para lá, e há cinco anos tornouse vegan. Mestranda em Filosofia com especialização em Direitos Animais na Lancaster University, Vânia palestrou no Fórum Social Mundial e já desfilou nua pelas ruas de Londres, protestando contra o uso de peles. Engana-se quem imagina uma garota pálida de aparência mórbida. Longe disso. Cheia de energia, ela adora falar no assunto e suas frases levantam bandeiras como "quem come carne absorve também os hormônios que o animal liberou antes de morrer, relacionados com o medo, a frustração, a ansiedade e a raiva". Mas será mesmo que os comedores de carne vermelha são mais agressivos? Ilson Fonseca, produtor cultural, foi lactovegetariano durante onze anos, até que decidiu que estava na hora de mudar novamente. "Eu trabalhava em um mercado competitivo, precisava guerrear. A carne tornou-me mais explosivo." Segundo Ilson, estudioso da cultura oriental, os lutadores chineses de boxe são vegetarianos, mas em época


de campeonato tornam-se carnívoros para estimular sua raiva. Mas ele completa: "Isso não quer dizer que um vegetariano não possa ser agressivo ou que um carnívoro não seja calmo, também existem outras coisas envolvidas". A maioria dos vegetarianos, no entanto, é bem radical. "Eu voltaria a comer carne, sim, se meu avião caísse nos Andes...", ironiza o escritor e jornalista Eduardo Bueno, o Peninha. A estudante de publicidade e produtora de figurino Simone Gavillon profetiza: "Nunca, jamais voltaria a comer carne, e nem namoraria um carnívoro... só de imaginar o beijo depois de um churras... eca!". Simone namora o tatuador Edinilson da Rosa Soares, mais conhecido como Tinico. Quando Tinico tinha uns seis anos, assistiu ao pai e ao tio carneando um boi. A imagem o persegue até hoje e foi um dos motivos que o fizeram deixar a carne definitivamente. Anemia à vista A essa altura você deve estar se perguntando: mas, afinal, o que os médicos dizem de tudo isso? O Dr. Paulo Henkin, mestre em nutrição humana, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia – RS, afirma que as pessoas só devem ser adeptas do vegetarianismo por motivos religiosos ou filosóficos e sempre precisam procurar orientação nutricional competente, pois do contrário podem ficar anêmicas, já que a carência de ferro é bastante comum para quem opta pela negação da carne vermelha. Anemia, aliás, foi justamente o que fez com que a doutora em filosofia Andréa Bieri voltasse a comer carne vermelha. Professora universitária, ela nasceu no Rio Grande do Sul e mora há mais de vinte anos no Rio de Janeiro. "Não comia carne desde 1980, e lá pelo ano 2000 comecei a me sentir muito cansada. Procurei um hematologista e vi que estava com uma anemia muito forte. Ele me explicou que é difícil os vegetarianos seguirem uma dieta equilibrada e que o ferro dos vegetais não é de tão boa qualidade quanto o da carne vermelha." Andréa passou a comer bife uma vez por semana, mas só o que ela mesma prepara e muito bem passado. Diz que quando isso acontece sente-se pesada e que a carne faz com que seu intestino demore a funcionar. As mulheres estão mais suscetíveis à anemia por causa


Estilo

"DETESTO QUALQUER PRECONCEITO, FANATISMO E MANIPULAÇÃO. VIVOS SÃO TODOS OS SERES, TAMBÉM OS VEGETAIS, AÍ O CRITÉRIO SERIA QUE ELES NÃO SENTEM DOR? OU MENOS DOR?" L Y A L U F T, E S C R I T O R A

70

Estilo Zaffari

da perda de sangue na menstruação. Vantagem para os homens vegetarianos. "Estou esperando pelo problema que todos disseram que eu teria 23 anos atrás", diz Eduardo Bueno. Paixão pelo sabor O Dr. Waldomiro Manfroi, cardiologista, Diretor da Faculdade de Medicina da UFRGS, diz que para saber se há diferença entre vegetarianos e carnívoros seria preciso acompanhar, durante muitos anos, populações ou grandes grupos de pessoas, desde a infância até a idade adulta. E, além da dieta, outros fatores deveriam ser considerados: propensão genética, fumo, estresse... Preocupado em obter respostas sobre isso, o Dr. Manfroi está orientando uma pesquisa com uma aluna de mestrado, visando comparar o perfil lipídico de jovens vegetarianos com o de outro grupo com dieta considerada normal, já que ainda não é comprovado se as concentrações de lipídios no sangue (as gorduras prejudiciais) são diferentes em uma ou outra população. Uma coisa é certa: diferentemente dos Hare Krishnas, dos Budistas, dos Adventistas do Sétimo Dia e dos seguidores de outras filosofias que abolem a carne por acreditarem na elevação espiritual, os carnívoros acreditam em uma única coisa: que comer carne é bom e dá prazer. O escritor e psiquiatra Celso Gutfreind considera-se um apaixonado pelo sabor da própria dieta. Para ele, o gosto delicioso da carne, e sobretudo da sua gordura, é indescritível, e abrir mão disso seria uma renúncia, sofrida como todas as outras. Gutfreind brinca dizendo que a felicidade de comer carne vermelha dissolve as placas de colesterol e gorduras não-saturadas que ela provoca. Uma brincadeira que não deixa de ser baseada em pesquisas científicas, já que estudos na área de psicoimunologia mostram que quando estamos alegres nossos linfócitos destroem as células cancerígenas que o próprio organismo produz. E comer carne demais pode fazer mal à saúde? O Dr. Paulo Henkin diz que não são conhecidos os efeitos negativos do "exagero" de carne vermelha em pessoas normais, com saúde. O reumatologista Fernando Neubarth explica que o



Estilo

excesso de ácido úrico no sangue, atribuído ao alto consumo de proteína, só acontece em quem já possui uma falha em seu metabolismo. Cientificamente, o que se sabe é que o desequilíbrio alimentar é prejudicial. Ou seja, uma pessoa que só come carne, que não ingere frutas, verduras e cereais, com certeza terá problemas. Por falar em problemas, sempre vale lembrar que toda carne crua está sujeita à contaminação por bactérias. Por isso, é preciso saber sua origem e ter um cuidado muito grande com a conservação. Importante é comer bem Em Porto Alegre, opções não faltam para agradar a gregos e troianos. A maioria dos restaurantes vegetarianos está concentrada no bairro Bom Fim. Há 23 anos, o Ocidente oferece almoço vegetariano, sendo que 14 deles sob o tempero do chef Alexis Zarate. O chileno Alexis tomou gosto pela vida culinária em um templo hindu, onde foi monge durante dois anos. Hoje, ele é adepto de uma cozinha lactovegetariana fusion, em que mistura temperos indianos a receitas da sua avó. O resultado não poderia ser melhor, e nos domingos ainda tem um Banquete Indiano. Na Colméia, as receitas vegetarianas são menos sofisticadas, e além do buffet servido a partir das 11 da manhã há um entreposto de produtos naturais e uma lancheria com delícias integrais. Na mesma rua, temos o Govinda, restaurante vegetariano, onde a comidinha é deliciosa e sempre preparada como uma oferenda a Krishna. Outras boas opções são o Prato Verde, também no Bom Fim, o Nova Vida e o Namastê, na Cidade Baixa, e o Pé de Alface, no Moinhos de Vento. Assim como encontramos carnívoros que adoram almoçar em restaurantes vegetarianos, churrascarias como o Barranco oferecem saladas em abundância. Segundo a Secretaria Municipal da Indústria e Comércio, são cerca de 138 churrascarias espalhadas pela cidade, todas oferecendo, pelo menos, uma saladinha mista aos adeptos da vida natureba. Carnívoros e vegetarianos dividindo felizes a mesma mesa. Isto é que a gente poderia chamar de harmonia gastronômica. E VIVE LA DIFFÉRENCE!



Casa


UM ESPELHO PODE REFLETIR E DUPLICAR (!) A PERSONALIDADE DA SUA DECORAÇÃO POR

R U Z A

A M O N

F OTO S

L E T Í C I A

O espelho já é um clássico na decoração de interiores, e sua aplicação até dispensa consultas em se tratando de lugares consagrados. Duplicar os cristais e a prataria de uma mesa bem posta, conceder uma última olhadinha no visual para quem está de saída ou valorizar os altos de uma lareira lhe são atribuições indissociáveis. A mais impressionante e notória utilização de espelhos de que se tem notícia foi feita pelo arquiteto Jules Hardouin Mansart, oficial da corte do rei Luis IV, idealizador da Galeria dos Espelhos. No mais célebre aposento do Palácio de Versalhes encontra-se a impressionante seqüência de majestosos espelhos biselados que têm por objetivo refletir os jardins do palácio através das 70 janelas do salão de 73 metros de comprimento. À época, final do século 17, a iniciativa do arquiteto era de total ousadia, e a elegância do resultado perdura soberana até hoje.

R E M I Ã O

Porém, mesmo com precedente histórico tão nobre, o espelho na decoração já cometeu seus pecados. Nos anos 70, ele subiu as paredes das casas noturnas, motéis e residências, e em muitos casos alojou-se (inclusive) no teto. Passado o susto, a arquitetura prosseguiu com bons motivos para mantê-lo por perto corrigindo ângulos, duplicando e sofisticando ambientes. A descoberta que nós, ocidentais, fizemos do Feng Shui agregou ainda mais motivos para se ter o espelho como um dos elementos equalizadores das energias positivas e da harmonia. Porém, para acompanhar as tendências da arquitetura de interiores, mobiliários e adereços devem renovar constantemente sua atuação, seja pela ousadia ou pelo inusitado. Assim são os exemplos que se seguem.

Estilo Zaffari

75


Casa


Branco, luz suave e muitos espelhos Para decorar a loja de Porto Alegre da grife Antonio Bernardo, a proprietária Helena Sefton levou em consideração a técnica Feng Shui, antiga arte chinesa de criar ambientes harmoniosos. A consultora Martine Monios determinou a presença de espelhos em quase todas as peças, e Helena optou por longos painéis com mais de dois metros de altura que, propositadamente, permanecem apenas encostados nas paredes. Sendo o imóvel de estrutura moderna, com uma planta de ângulos não-convencionais, os espelhos também contribuem para tornar ainda mais instigante o jogo de imagens, produzindo uma ampliação virtual dos ambientes. Outros elementos foram designados pela consultora, tais como uma pequena fonte de água logo na entrada, uma peça de cristal pendente no cômodo mais afastado e uma única cadeira estofada em tom avermelhado. O piso em madeira de aparência rústica e fosca proporciona um efeito aconchegante, tornando dispensável a presença de tapetes. Arandelas localizadas bem próximas ao teto contribuem com uma iluminação eficiente e suave, sem conflito com a profusão de espelhos. As cores claras do mobiliário, combinadas com as cortinas translúcidas, reforçam o clima de tranqüilidade. Na opinião de Helena, que recebe clientes e amigos com champanhe e muita atenção, era este o resultado desejado: que a decoração pudesse assegurar, além da estética, o equilíbrio do humor e boas energias às pessoas. Tendo incorporado o Feng Shui já há alguns anos também nos ambientes residenciais, ela acredita que a posição dos objetos e a composição de elementos tenham o mesmo poder de influência que as cores já provaram ter.


Casa


Jogo de reflexos e transparências Na residência do decorador Ari Lyra encontramos duas diferentes aplicações de espelho, mas que são igualmente generosas na utilização do material. Para Ari, uma regra básica é usar o espelho sem timidez, sempre em grandes lâminas. No principal dormitório da casa, uma cômoda francesa do século 19 integra-se ao clima contemporâneo do ambiente graças a um painel de espelho de dimensões propositadamente exageradas. Sobre o móvel, uma pilha descontraída de livros, uma luminária de design moderno e um desenho displicentemente encostado no espelho reforçam o ecletismo da composição. Na parede lateral, um par de fotos emolduradas chama a atenção pela originalidade do passepartout, feito de adamascado bordô. A escolha do tecido que circunda os nus artísticos foi justificada pelo criador: “Pensei em fazer uma referência ao requinte dos antigos bordéis”, confessa Ari Lyra, entre risos. No amplo corredor, para onde convergem as principais peças do apartamento, está a exclusivíssima “cômoda de vidro”, com design assinado pelo proprietário. O móvel é uma releitura ousada e pragmática da antiga cristaleira, pois acumula ainda a função de bar completo. Com dois metros de largura por 70 centímetros de profundidade, foi confeccionado unicamente em espelho e vidro, graças ao poder da cola UV, um produto de tecnologia revolucionária. Ali, fazem companhia aos copos muitos acessórios de bar, cinzeiros de cristal em cores extravagantes, velas perfumadas, uma multicolorida coleção de caixas de fósforo, cubos de gelo polar, entre outras preciosidades. Lâmpadas tipo AR 111 fazem toda a diferença: ao reduzir sua potência por meio de um dimer, obtém-se o efeito de luz de velas... Aos que têm medo de usar espelhos, Ari Lyra garante: “O espelho em si não é nada; só reflete o que existe ao seu redor”.


Perfil


Marceneiro das

palavras ELE ESTAVA COMO QUALQUER UM DE NÓS ESTARIA NUM SÁBADO À TARDE EM CASA. À VONTADE. MESMO ASSIM, EU NÃO TINHA MUITA CERTEZA SE O CHAMAVA DE SENHOR OU DE TU. FIQUEI COM A SEGUNDA OPÇÃO, PORQUE A IDÉIA ERA UM PAPO INFORMAL. E ESPERO QUE ELE NÃO TENHA ACHADO QUE FOI FALTA DE RESPEITO. LONGE DISSO, FOI UMA HONRA. COM CERCA DE 60 LIVROS PUBLICADOS E, DESDE OUTUBRO PASSADO, MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, MOACYR SCLIAR É UM DOS MAIS RESPEITADOS NOMES DA LITERATURA NACIONAL. TRÊS DIAS ANTES DE COMPLETAR 67 ANOS, ELE RECEBEU A GENTE E FALOU DE TUDO UM POUCO. QUE USA SEU TEMPO DA MANEIRA MAIS INTENSA POSSÍVEL, QUE ADORA JOGAR BASQUETE, QUE TEM MEDO DE MONTANHA-RUSSA, QUE NA INFÂNCIA QUERIA ESCREVER DA MESMA FORMA COMO OS TIOS FAZIAM MÓVEIS.

POR

P AU L A

TA I T E L B AU M

FOTOS

A N G E L A

FA R I A S

Estilo Zaffari

81


Perfil


UMA COISA DA QUAL NÃO POSSO ME QUEIXAR É DE FALTA DE IDÉIA. AS MINHAS IDÉIAS OCORREM DIARIAMENTE

QUE TAL SER IMORTAL? Eu não sou dessas pessoas que se sentem muito à vontade com cargos e honrarias, então tinha medo de que isso pudesse alterar de alguma forma a minha maneira de viver, mas não aconteceu e eu estou muito satisfeito com isso. Vou na Academia, dou sugestões, mas continuo na minha casa escrevendo, lendo, continuo dando as minhas aulas na faculdade de medicina.

encontre alguma notícia de jornal e faça sobre ela uma história. Quando isso começou, éramos vários escritores, e todos desistiram porque achavam muito angustiante este desafio. Eu continuei sozinho e até hoje, 11 anos depois, não teve uma semana em que eu não tivesse idéia para fazer essa história. Pode acontecer até que eu tenha mais de uma história e precise escolher entre elas, o que também é uma coisa difícil.

COMO É ESSA ROTINA?

TU DISSESTE QUE NÃO ÉS DE ALMOÇAR, NEM DE JANTAR...

Bem, não chega a ser uma rotina. A essa altura da minha vida, eu tenho muitas demandas, muitas palestras, muitas viagens programadas, no mínimo uma por semana até o final do ano. Agora, por exemplo, estou indo para a Feira do Livro em Los Angeles e no dia seguinte vou para Boston dar algumas palestras. Tenho muitas coisas também aqui em Porto Alegre e no interior do Rio Grande do Sul. Está sendo difícil atender a todas essas demandas, mas eu não abro mão de encontrar leitores, sobretudo leitores jovens, conversar com eles.

Isso nas viagens. Mas refeição pra mim não é um ritual, é uma coisa pra sustentar e fazer as atividades do dia.

MAS NÃO TEM NENHUM PRATO PREFERIDO, AQUELE QUE DE VEZ EM QUANDO DÁ UM DESEJO DE COMER? Não, eu não sou gourmet, e pra mim a melhor comida é aquela comida honesta, arroz de carreteiro, por exemplo, que é uma coisa que aqui em casa fazem seguidamente. Comida italiana eu gosto muito, macarronada.

E ALGO QUE TE DÊ UMA SATISFAÇÃO, UM PRAZER ENORME. E COM TUDO ISSO DÁ TEMPO DE ESCREVER? Eu aprendi a usar o meu tempo da maneira mais intensa possível. Quando eu viajo, escrevo muito, levo um laptop, escrevo no aeroporto, no avião, no hotel, nos intervalos. Eu não sou de almoçar, nem de jantar, em geral como um sanduíche, e então uso esse tempo para escrever. Isso eu aprendi quando ainda era um estudante, um jovem médico. Essa coisa de não ter tempo é papo furado.

E AS IDÉIAS, OS ARGUMENTOS? Uma coisa da qual eu não posso me queixar é de falta de idéia. As minhas idéias ocorrem diariamente. Faz 11 anos que eu escrevo para a Folha de S.Paulo uma vez por semana, e é uma tarefa difícil, porque eles pedem que eu

Pãezinhos...

MAS NÃO NECESSARIAMENTE RELACIONADO A COMIDA... Ah, eu gosto muito de ir ao cinema, de assistir filmes em casa.

ALGUM GÊNERO EM ESPECIAL? Filmes que envolvam ficção histórica ou ficção política. Gosto dos clássicos. Pra minha geração, o cinema foi de certa forma um aprendizado, o cinema mudou a literatura, a maneira de escrever, é uma forma de narrativa muito mais sintética e dinâmica que te obriga a pensar assim: “Se o filme consegue contar uma história em duas horas, como é que eu faço para que o meu livro tenha tanto interesse como tem o filme”.

Estilo Zaffari

83


Perfil


EU ACHO QUE SUPERMERCADO É O SONHO MÁGICO, É A GRUTA DE ALADIM, A GENTE DIZ ABRE-TE, SÉSAMO E ESTÁ LÁ...

E SER ADAPTADO PARA O CINEMA, COMO É? Não é algo que eu considere muito importante para a obra literária. Acho que conquista um outro público, mas uma coisa fica bem clara, que cinema é cinema e literatura é literatura. Isso é uma coisa óbvia, mas corresponde mesmo à realidade. Quando um diretor vai filmar uma obra, tudo pode acontecer. Eu me lembro de uma frase do Jorge Amado, que teve muitas obras adaptadas para o cinema e a televisão. Ele dizia: “Quando eu cedo os direitos da minha obra para a TV, eu esqueço que eu sou o autor, porque sei que o que vai aparecer na tela será completamente diferente do que eu imaginei”. Isso é uma coisa que o escritor precisa ter bem presente. Inclusive para não se meter.

ALGUM PERSONAGEM TEU QUE SEJA O MAIS QUERIDO, COM QUE TU TE IDENTIFIQUES? Ah, é Capitão Birobidjan, de “O Exército de um Homem Só”. Eu acho que ele é o símbolo da minha geração. Uma geração que viveu sob o signo da utopia, da idéia da transformação radical do mundo e de uma sociedade justa e igualitária. Uma geração que quebrou a cara, continua quebrando a cara, mas que apesar disso segue acreditando. Essa crença é algo comovente pra mim. A pessoa que apesar de tudo acredita, que pode até ser meio maluca, mas que, do ponto de vista ficcional, é um personagem fascinante.

minhas aspirações sempre foram modestas, porque eu sou filho de imigrantes, de judeus pobres do bairro Bom Fim, para quem o máximo seria ter uma casa, uma profissão, coisas que as pessoas podem considerar habituais, mas que para eles era um sonho. Esses sonhos todos eu realizei, e eu não sei sonhar mais alto do que meus pais. Eu me sinto plenamente satisfeito.

CADA LIVRO É UMA FORMA DE SE CONHECER MELHOR? Cada livro é uma aventura. A gente nunca sabe para onde aquilo nos conduzirá. Cada vez que embarco em um projeto, tenho uma expectativa muito grande e também uma ansiedade de que aquilo possa ou não dar certo. Mas independentemente disso, tenho o prazer de escrever, o prazer do texto, o prazer de sentar e ver aquelas palavras aparecendo na tela do computador, as frases se formando e a história se desenrolando. O prazer da criação é um prazer muito grande. Mas isso não só para quem escreve. A pessoa que gosta de cozinhar, a pessoa que faz um móvel... Eu sou de uma família de marceneiros. Pegar a madeira e transformar numa coisa que as pessoas podem usar dá uma alegria muito grande. Eu via isso desde a infância, e a idéia que eu tinha quando comecei a escrever era a de que eu queria escrever da mesma forma como os meus tios faziam seus móveis.

FAZES ALGUMA COISA PARA RELAXAR? TENS ALGUM HOBBY? E SE APARECESSE AQUI, AGORA, O GÊNIO DA LÂMPADA, QUE PEDIDOS TU FARIAS A ELE? Isso é uma coisa engraçada, eu não teria nada pra pedir, nada. As coisas que eu pediria seriam de caráter interior. Eu gostaria, apesar de já ser um homem maduro, de me entender cada vez mais, de entender o mundo cada vez mais, mas fora isso eu não preciso de coisas materiais, nem recompensas. A verdade é que a vida me deu tudo o que um ser humano pode querer. Claro que também as

Eu tenho um hobby que teoricamente é para relaxar, mas que não me relaxa em nada. Eu jogo basquete. Faz 30 anos que nós, como um grupo, começamos a jogar basquete na Associação Cristã de Moços. E eu nunca falto, eu vou lá segunda, quarta, sexta e domingos (nessa hora tive que soltar um “nossa!”), e é uma coisa, porque eu sou um péssimo jogador... É um desastre, porque eu não consigo nunca fazer cesta. Ontem aconteceu um negócio que se eu contar tu não vais acreditar! (ele começa a rir, fica empol-

Estilo Zaffari

85


Perfil


EU GOSTARIA, APESAR DE JÁ SER UM HOMEM MADURO, DE ME ENTENDER CADA VEZ MAIS

gado). Basquete é um time de cinco pessoas e, bom, no nosso grupo tem muita gente, então tem que ir trocando. Lá pelas tantas a gente estava jogando e alguém gritou: “Peraí um pouquinho, esse time aí tá com seis pessoas”. Era o time em que eu estava. Então um deles disse: “Ah, mas o sexto é o Scliar, pode deixar ele aí...”. (Riso geral)

mas muito antes do Mel Gibson eu sempre achei que a Bíblia, inclusive o Antigo Testamento, é uma fonte de inspiração. E há um personagem na Bíblia que sempre me intrigou, um personagem enigmático chamado Onan. É uma história incrível, em que eu me propus a traduzir literariamente o mistério de Onan e seus irmãos.

COM TANTA COISA PRA FAZER, NÃO DEVE DAR PRA DORMIR MUITO...

E POR FALAR EM BÍBLIA, SE DEUS APARECESSE NA TUA FRENTE...

Eu durmo pouco, muito pouco. Desde o tempo dos plantões médicos, quando eu me acostumei a passar noites trabalhando e no dia seguinte continuar trabalhando e dizer: “Tá bom, quando der eu vou descansar”. A medicina me ensinou muita coisa para a literatura. Em primeiro lugar, essa experiência fantástica que é tu lidares com o ser humano doente, sofrendo. Eu não fiquei muito tempo na medicina clínica porque eu fui para a medicina pública, que é outro tipo de ensinamento, quando tu aprendes como vivem os brasileiros, como é a realidade brasileira, como são os mecanismos do poder. Aprendi muito. Uma coisa engraçada que eu noto nos meus textos é que grande parte das minhas leituras foram textos científicos, textos médicos, e eu fui absorvendo a objetividade desses textos, então eu não gosto de papo furado. Eu vou direto ao assunto, da forma mais sintética e objetiva possível. É o exercício da objetividade.

QUAIS OS TEUS PLANOS? Nesse momento, estou envolvido com duas novelas. Histórias curtas, porém autônomas. Uma delas para público juvenil, que envolve uma figura fascinante, Castro Alves, esse grande poeta que morreu aos 24 anos e nesse pouco tempo teve uma vida intensa. E a outra história, da qual eu já concluí a primeira versão, mas que eu vou retomar, é com um personagem bíblico... Eu sou fascinado pela Bíblia. Tá todo mundo vendo o filme da Paixão de Cristo,

Sabe que tu acabaste de dizer uma frase sobre a qual eu tenho pensado muito, que é: “Se Deus aparecesse na minha frente”. Às vezes as pessoas me perguntam: “Como é que é não acreditar em Deus?”. É uma pergunta que à medida que tu vais avançando na vida se torna mais crucial. Eu nunca acreditei, nunca fui crente, por várias razões, razões políticas, razões até ligadas à ciência e, sobretudo, por ser um cético de nascença. Bom, então se Deus aparecesse na minha frente seria uma resposta para uma pergunta que eu não precisaria mais me formular, mas realmente até agora não aconteceu. Quem sabe no Zaffari, tu removes um pacote de café e ali atrás está a face de Deus te olhando, dizendo: “Pode levar este café”. Deus ou o Zeca Pagodinho...

TU TERIAS ALGUM DESEJO? NÃO PESSOAL... Uma coisa que eu pediria a Deus seria que o mundo fosse melhor, porque realmente, lá pelas tantas, tu olhares tanto sofrimento, gente passando fome na rua, pedindo esmola, gente morrendo em guerras, em atentados terroristas... O mundo é assim, sempre foi assim e provavelmente continuará assim por muito tempo, mas isso não deixa a situação menos angustiante. Eu continuo tão incomodado pela miséria quanto quando era adolescente, quando eu acreditava que a gente poderia mudar o mundo a curto prazo. Hoje, eu tenho certeza de que isso não acontecerá, mesmo que eu ache que ainda vai mudar, que eu tenha esperanças...

Estilo Zaffari

87


Perfil


A GENTE NÃO PRECISA SE EXPLICAR. AS EXPLICAÇÕES SÃO DADAS PELA MANEIRA COMO A GENTE VIVE

TU TENS ALGUM MEDO ESPECÍFICO? Medo? Não... Não... Tenho... (começa a rir). Não deixa de ser um medo, mas esse não é um medo próximo. Eu tenho medo de montanha-russa. Mas aí aconteceu que uma vez eu fui a Los Angeles, na Disneyland, e aí tinha uma montanha-russa que não me parecia tão arriscada. Eu disse: “Bom, eu vou experimentar, porque se eu der um vexame, ninguém me conhece”. Eu lembro que embarquei em um carrinho e que nesse carrinho estavam uns meninos americanos. Aí aquilo começou a andar e eu gritava tanto que os meninos ficaram com muito medo, não por causa da montanha-russa, mas por minha causa. Eu saí dali de pernas bambas, mas pelo menos uma vez na vida eu andei de montanha-russa. Enfrentei...

GOSTAS DE IR AO SUPERMERCADO? Eu adoro supermercado! Eu só não vou mais seguidamente por pura falta de tempo. Mas eu acho que supermercado é o sonho mágico, é a gruta de Aladim, a gente diz Abre-te, Sésamo e está lá, cheio de riquezas culinárias e objetos e coisas maravilhosas. O que me fascina no supermercado é a abundância, essa idéia da variedade, de mil coisas que têm. A minha geração, por causa da influência de esquerda, desprezava o consumo, consumista era uma acusação. Eu acho que consumir é uma coisa boa, consumir significa ter acesso a coisas que outros fizeram pra ti. Tu vais partilhar a criação da humanidade, seja essa criação expressa sob a forma de um pão de sanduíche, seja ela expressa sob a forma de um chinelo de dedo ou coisa qualquer. Comprar no supermercado é uma coisa que dá prazer. Eu também gosto de livraria, mas livraria pra mim é diferente, porque em supermercado eu não sofro, mas em livraria eu sofro porque eu sempre quero comprar muito mais livro do que eu posso ler e até do que eu posso carregar. Em viagens internacionais, por exemplo, seguido eu tenho que pagar excesso de peso por causa da quantidade de livros que compro. Lembro de uma vez em que eu vim

dos Estados Unidos com uma mala cheia, e o fiscal da alfândega me olhou com aquela expressão e disse: “Vamos abrir isso aí”. Eu abri e estava cheio de livros, e ele disse: “Mas são só livros?”, e eu fiquei envergonhado, ele achou que tinha muamba, gravadores, mas só tinha livro... “Só livro! Fecha isso aí!”. Mas eu acho que supermercado é uma coisa que pra minha geração foi muito marcante, foi a geração que viu surgir o supermercado. Antes, pra nós, fazer compras era no armazém da esquina, que é um lugar que continua tendo o seu encanto, um lugar sonolento, o dono com os cotovelos apoiados no balcão.

TENS ALGUM CORREDOR PREFERIDO? Pois é... Eu tenho... Mas não devia preferir... É o de doces e chocolates. É uma tentação com a qual eu luto com todas as forças, eu sou médico de saúde pública, eu tenho que recomendar que as pessoas comam direitinho. Mas esse é um corredor de que eu gosto. Também gosto do corredor de artigos elétricos. Uma das coisas que eu sempre gostei de fazer, e que agora eu faço menos por falta de tempo, é consertar coisas na minha casa. Eu tenho uma grande habilidade manual, eu me orgulho muito disso. Eu sei consertar objetos, eu sei fazer objetos. Na casa em que nós morávamos, eu fiz várias prateleiras, serrei, colei... Então eu gosto de olhar as ferramentas, as coisas pra substituir na casa.

PRA FINALIZAR, ALGUMA FRASE, ALGUM LEMA QUE TU GOSTES DE REPETIR, QUE TE ACOMPANHA: Eu tenho uma frase, mas é em inglês: “Don’t explain, don’t complain”. É uma frase da sabedoria prática dos americanos. A gente não precisa se explicar, a gente não deve se queixar. As explicações são dadas pela maneira como a gente vive, pelas coisas que a gente faz. E não se queixar acho que é uma coisa muito boa, acho que a energia gasta nas queixas e nas lamentações é mais bem utilizada quando a pessoa decide que vai mudar a sua vida e busca fazer isso.

Estilo Zaffari

89


Assim, ó... LUÍS AUGUSTO FISCHER

A CIDADE É SEMPRE MEIO Por mais minha que seja, a cidade parece sempre instável Uns meses atrás eu voltava de Passo Fundo para Porto Alegre de ônibus. Era o fim da mais recente edição das Jornadas de Literatura promovidas pela Universidade de Passo Fundo, uma das coisas mais impressionantes que pode haver em matéria de mobilização cultural – milhares de crianças, jovens e adultos em favor de presenciar palestras e debates em torno da literatura, com convidados de todo o Brasil e muitos de outros países. Realmente espantoso. Mas o caso é a viagem. Eu ando pouco de ônibus, como muita gente. Mesmo nas viagens ao interior, em geral para perto de Porto Alegre, vou de carro. E de Passo Fundo eu voltei num deles. Quem viaja de ônibus tem uma liberdade interessantíssima. Se não sofrer muito da coluna, nem tiver vizinho chato, pode ler concentradamente por aquelas horas. Pode ouvir música de sua escolha, se tiver levado o aparelho adequado. Pode ficar apenas olhando a paisagem e tratando das caraminholas pessoais e intransferíveis. (“Caraminhola” era, originalmente, o nome de um penteado, em que os cabelos são apanhados no alto da cabeça e presos por uma fita, despencando em flor, numa espécie de crista, debaixo da qual ficam as “caraminholas” figuradas, os sonhos e questões que cada um carrega consigo.) Foi o que eu fiz – pensar nas coisas, não ajuntar os cabelos no alto da cabeça, mesmo porque eles já são poucos. A paisagem ia se desdobrando com aquela alternância magnífica que nosso interior oferece aos olhos: aqui uma pequena cidade, ali uma vila, mais adiante umas roças e um gadinho, depois vastidões de uma só cultura, um distrito industrial; rocha, perau, lomba, rio, arroio, planície; alemão, italiano, negro, português, índio, em misturas de proporções variadíssimas. E eu pensando, daquele jeito de quem não conduz as idéias mas é levado por elas. Pensando em como aquilo ali, aquele mundo que desfilava na janela do ônibus, parecia um ponto de amarração do mundo, um ponto do qual alguns partem e ao qual podem voltar, um ponto, enfim, estável. Um ponto inicial, um ponto final. Não sei se consigo explicar. Pensei na minha cidade, Porto

90

Estilo Zaffari

Alegre, minha casa, meu lugar no mundo. Eu saio dela e volto a ela. Mas alguma acontece no meu coração quando eu cruzo por uma estrada interiorana, dando-me a impressão de que eu tenho algo a ver com aqueles começos, aqueles pontos estáveis. Estáveis, esta a palavra: a cidade, por mais minha que seja, parece sempre instável – e é mesmo instável. A vida na cidade tem muito de provisório, passageiro, frágil. Ao contrário do campo que eu via pela janela do ônibus, que parecia sólido e estável como... como... Como o quê, mesmo? A sucessão das estações. A aparição diária do sol. A beleza e a dureza da vida. Historicamente, a cidade nasceu depois: primeiro veio a vida no campo, e depois ali, na aglomeração; por isso mesmo, a cidade sempre parece um meio, e não um início ou um fim. As pessoas estão passando por ali, mas têm origem em outra parte e possivelmente vão terminar sua vida em outro lugar ainda. Você mesmo, que me lê agora, pode fazer a conta e reconhecer que seus antepassados vieram para a cidade não faz tanto tempo assim, considerando a vastidão do ritmo da História. Não é? Não foi? Vai daí, sempre que a cidade fica mais estável e mais familiar algo de positivo está ocorrendo. Salvo casos que eu não sei nem pensar direito, como as megalópoles que nunca param de se transformar e dão a impressão de que vão explodir daqui a 15 minutos, a cidade fica mais dentro do coração quando ela vira um ponto fixo, adquirindo a aura de um início ou um fim dignos para nós. Para isso são indispensáveis as pessoas que estabilizam um sentimento que nós temos difuso, focando-o e dando-lhe alma. Gente que simboliza a cidade. Gente como o recém-falecido publicitário Jesus Iglesias, um dos inventores de uma misteriosa entidade conhecida por sua sigla – SAPA, uma mitológica Sociedade dos Amigos de Porto Alegre, que ele fundou só para dizer como era, como podia ser bom viver aqui. Aqui, neste lugar que ficou mais claro em nosso sentimento com a vida dele. LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.