Revista Estilo Zaffari - Edição 30

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A n o 6 N 0 30 R $ 3, 50

ano

novo vida nova DELICADEZA E FORÇA, BELEZA E EQUILÍBRIO, PACIÊNCIA E PAIXÃO: O BONSAI RESUME NOSSOS DESEJOS PARA 2005


Milene Leal milene@contextomkt.com.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Cris Berger, Daniel Martins, Irene Marcondes, Paula Taitelbaum REVISÃO Flávio Dotti Cesa PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade

luciane@contextomkt.com.br

ILUSTRAÇÕES Nik FOTOGRAFIA Cris Berger, Cristiano Sant’Anna, Daniel Martins, Eduardo Iglesias, Letícia Remião PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Jorge Nascimento COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Ruza Amon, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COLABORADORES Carlos Eduardo Tavares, Livraria Cultura, Zuca Feijó

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

DIRETORA DE ATENDIMENTO PUBLICIDADE HRM Representações (51) 3231.6287

9983.7169

9987.3165 rosamaggioni@hrmmultimidia.com.br

DEPTO. DE ATENÇÃO AO LEITOR Renata Xavier Soares

renata@contextomkt.com.br

A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares PRÉ-IMPRESSÃO Maredi IMPRESSÃO Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

CAPA: MINIBONSAI FOTOGRAFADO POR EDUARDO IGLESIAS


NOTA

DO

EDITOR

Ano Novo é pra sonhar Sempre achei a frase “Ano novo, vida nova” um grande exagero. Mais do que isso, a expressão me soava meio derrotista, uma autêntica tentativa de fuga, de jogar pra frente os problemas, de transferir pra depois a realização das expectativas e sonhos. Algo do tipo: “Xiiiiii, 2004 está terminando e eu não casei nem comprei uma bicicleta. Mas em 2005 eu prometo que resolvo tudo isso!”. Desse jeito, o tal Ano Novo vira válvula de escape, tábua de salvação, porta da esperança. E haja sorte pra não se frustrar nos 365 dias seguintes... Também é engraçado escutar os comentários das pessoas no final de cada ano. Tem sempre aqueles que amaldiçoam o ano que está terminando: “Já vai tarde, 2004!”. E, do lado oposto do ringue, os que gostariam de prolongar indefinidamente um ano que consideram “perfeito!”. A verdade é que, descontando as justas reações emocionais aos acontecimentos que marcaram a vida de cada um nesse conjunto de 365 dias, um ano nada mais é do que... um simples conjunto de 365 dias! Mas calma! Não pensem vocês, caros leitores, que estou aqui para avacalhar com a mística do Ano Novo. Pelo contrário. Escolhemos como capa desta última edição da Estilo Zaffari em 2004 justamente a frase “Ano novo, vida nova”. E não foi de graça. Acompanhando a frase, você vê a imagem de uma plantinha. É um bonsai, uma árvore em miniatura, tão bela e delicada que parece uma obra de arte. Bonsai é “arte viva”, como diz o título da matéria magistralmente escrita por Paula Taitelbaum a partir da página 76. E, em nossa capa, essa plantinha significa o eterno recriar, a transformação constante, a vida expressa em ciclos. O final do ano marca o encerramento de um ciclo e o princípio de outro. São limites convencionados no calendário, ok, mas também marcantes em nossas cabeças, nossos planos de vida, nossas atitudes do dia-a-dia. Esta edição da Estilo Zaffari é uma concentração de energias positivas para o início do nosso próximo ciclo, o ano de 2005. Mas de que forma você pode usar a Estilo para começar o ano que vem em altíssimo astral? Simples: conhecendo a arte e um pouquinho da alma do grande Vitor Ramil, enchendo os olhos com nossas sugestões para a mesa da festa e os quitutes da ceia, percorrendo o ambiente zen do deserto do Atacama ou o clima romântico da italiana Cinque Terre, imaginando um jardim fresco e agradável que você possa chamar de seu. Enfim, Ano Novo é pra sonhar, sim! É pra comemorar, sim! Que o seu 2005 seja tudo menos superficial. Que seja tranqüilo, mas não morno; marcante sem ser traumatizante; especial, mas não único. Em 2006 começa tudo outra vez!


Correio EM FAMÍLIA Olá. Sendo leitora-colecionadora da Estilo, não podia deixar de parabenizá-los – especialmente por ser descendente de colonizadores alemães – pela edição nº 28 desta querida revista. Mando anexa uma carta que minha filha, residente em Brasília, enviou à Cia. Zaffari. Modéstia à parte, fiquei orgulhosa da maneira como soube exprimir a falta que sente das “idas ao súper” aqui em Porto Alegre. Obs.: a Carolina teve uma cartinha dela publicada na edição nº 5, quando então tinha apenas 15 anos. Um abraço, DENISE - PORTO ALEGRE

AVAL IMPORTANTÍSSIMO

Denise, se a matéria sobre a imigração alemã agradou a quem entende do assunto (uma descendente de imigrantes!), então é porque realmente acertamos. Obrigado por ser uma parceira de nosso trabalho, como leitora e cliente assídua. A Cia. Zaffari ficou lisonjeada com o comentário de sua filha! Um abraço pra você e outro para a Carolina.

Prezada Senhora Milene Leal: Em nome da FIRGS – Federação Israelita do Rio Grande do Sul, quero expressar o quanto nos emocionou a reportagem impressa em sua bela revista “Estilo Zaffari”. Peço-lhe que transmita à redatora Beatriz Guimarães e a seus colaboradores nosso agradecimento pela elegância, conhecimento e encanto que conseguiram imprimir e manifestar nas páginas que dedicaram ao Centenário da Imigração Judaica Organizada para o Brasil, que ocorreu a partir de 18 de outubro na colônia de Philippson, próxima a Santa Maria. Receba, senhora Diretora, os agradecimentos sinceros de nossa Federação pelo interesse em divulgar a contribuição da comunidade judaica gaúcha, que se declara credora em admiração de sua inteligente gestão à frente dessa prestigiosa revista. Atenciosamente,

AZEITES INSPIRADORES MATILDE GROISMAN GUS – PRESIDENTA

Olá. Quero parabenizar a revista pela reportagem de Rejane Wilke, sobre a degustação de azeites. Li num dia daqueles em que, depois de uma longa jornada de trabalho, passei no Zaffari para fazer umas compras e... lógico, comprei a Estilo. Em casa, após guardar as compras, comer alguma coisa e tomar um banho refrescante, deitei para ler a revista. Vocês acreditam que após a leitura sobre os azeites, apesar do adiantado da hora, fui até a cozinha vasculhar que tipos de azeite tinha em casa? Descobri que tinha um português, um espanhol e um grego. Fiz a degustação com pão, sentindo todos os sabores e aromas relatados no texto. Foi delicioso. Espero ler outras reportagens desta jornalista. SOLANGE MOTTA DA SILVA

Que coisa boa saber que a Estilo Zaffari é uma companhia tão agradável e inspiradora. A matéria dos azeites ficou realmente linda. Certamente iremos brindar nossos leitores com novas reportagens de Rejane Wilke. Obrigado pelo carinho.

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Estilo Zaffari

Prezada Matilde: Muito nos alegrou receber esta mensagem, que representa um valioso aval às informações publicadas pela revista Estilo Zaffari em sua mais recente edição. Durante todo o trabalho de elaboração da reportagem sobre a comunidade judaica, tivemos a preocupação de levantar cuidadosamente os dados, consultar pessoas envolvidas com a história da imigração e, especialmente, transmitir em nosso texto a importância dessa comunidade para a construção da cultura do estado e do país. Agradecemos imensamente o gesto da FIRGS ao enviar esta mensagem, pois nem sempre temos a satisfação de receber o reconhecimento por um trabalho que é muito complexo e muito absorvente. Obrigada pelos elogios! Nossa equipe sente-se lisonjeada e recompensada. Um abraço. Atenciosamente, Milene Leal


ATENTO E COM BOM GOSTO

BARATA E MUITO ESPECIAL

Olá, Milene, como vai? Parabéns pela revista Estilo Zaffari, a cada edição vocês se superam. Estou escrevendo porque sou um curioso em gastronomia e venho testando algumas receitas que me interessam. Na edição número 29 foi publicada a receita de petit gâteau com sorvete, e eu gostaria de saber em que parte da receita entra a farinha de trigo. Será junto com os ingredientes na batedeira ou no banho-maria? Isso não foi publicado, por isso surgiu minha dúvida. Outra dúvida que tenho é em relação à quantidade. Essa receita serve quantas pessoas? A massa pode ser armazenada em geladeira depois de pronta ou toda a receita é para ser levada ao forno? É possível congelar o petit gâteau? E minha última dúvida é a seguinte: a foto da página 72 mostra um petit gâteau cortado e o recheio de chocolate saindo do seu interior. O que deve ser feito para o recheio sair dessa maneira? Pois imagino que o chocolate misturado à farinha e levado ao forno, se torna como um bolo, e isso deve secar toda a massa. Agradeço antecipadamente suas respostas e deixo uma sugestão para as próximas edições: receitas de crème brulée e suas mais diversas variações. Com baunilha, gengibre, açafrão, chocolate, pimentas e outras especiarias. Um forte abraço.

Em primeiro lugar, parabéns a toda a equipe. Parece impossível mas aconteceu com a Revista Estilo: é barata e muiiiiiiiito especial. Dá uma vontade de ler sem parar, todas as reportagens são de um conteúdo de alta qualidade, sempre aprendemos mais e nos divertimos com ela. Mas HELP! Adorei a sobremesa petit gâteau da revista de novembro, só que ficaram me devendo o que faço com a farinha de trigo. Abraços e boa sorte, DENISE MARIA THOMÉ PEREIRA

Oba! Elogio à qualidade e também ao preço da revista, que maravilha! De fato, a Estilo poderia custar muito mais, mas é fundamental para nós mantê-la acessível a todos os clientes da Cia. Zaffari. Quanto à sua dúvida sobre a farinha na receita do petit gâteau, você tem toda a razão. Outros leitores também pediram essa explicação. Leia a resposta completa – elaborada pelo pessoal do Sanduíche Voador, que forneceu a receita – ao lado, junto à carta do leitor Ricardo... Um abraço e tomara que agora você possa fazer um petit gâteau delicioso!

RICARDO VELLOSO

Prezado Ricardo, é empolgante saber que nossos leitores realmente utilizam as sugestões e receitas publicadas na revista. Felizmente, você (assim como outros leitores) atentou para um pequeno deslize na transcrição da receita do petit gâteau, e isso nos oportunizou esclarecer a questão com os autores da receita. Veja, a seguir, as informações fornecidas pela equipe do Sanduíche Voador. Ah, um abraço e obrigada! “PARA AS QUANTIDADES INDICADAS NA RECEITA, DEVEM SER ACRESCENTADAS 2 COLHERES DE FARINHA NA BATEDEIRA, JUNTO COM A MASSA. O TEMPO DE FORNO (AQUECIDO A 1800C) É DE APROXIMADAMENTE 8 MINUTOS. AO DESENFORMAR, O CENTRO DO PETIT GATEAU DEVE ESTAR AMOLECIDO, POIS SE PASSAR DO PONTO VIRA BOLO. A RECEITA RENDE 15 UNIDADES. O PETIT GATEAU NÃO DEVE SER CONGELADO.”

ELOGIOS DE LYA LUFT! Cris (Berger) Adorei a revista, gracias pela menção a mim, tuas fotos e reportagem são maravilhosas, ficamos loucos pra ir à Patagônia em setembro. Achas que uma vovó nada atleta também aproveita, lendo e olhando a paisagem enquanto outros escalam montanhas e andam a cavalo? Beijão, LYA LUFT

Nossa redatora e fotógrafa, Cris Berger, ficou emocionadíssima com este e-mail enviado a ela pela escritora Lya Luft, a respeito da reportagem sobre a Patagônia. Lya foi citada no texto de Cris. Não poderíamos deixar de publicar aqui na seção de Cartas uma mensagem tão amável e simpática, ainda mais estando assinada por alguém que a revista Estilo Zaffari admira tanto! Um abraço, Lya!

Estilo Zaffari

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ร N D I C E 8

Cartas

12 Coluna: Cotidiano 13 Cesta Bรกsica 38 O Sabor e o Saber

Virada em

42 Lugar: Cinque Terre 60 Viagem: Deserto do Atacama

alto-astral

76 Hobby: Bonsai 98 Coluna: Gauchismos

VITOR RAMIL VISTO DE PERTO:


ALEGRIA, BOA COMIDA, PESSOAS QUERIDAS, ALTO-ASTRAL E UMA LINDA

Viva

o

verde

MESA SÃO OS INGREDIENTES DE UM ANO-NOVO INESQUECÍVEL. APROVEITE AS NOSSAS IDÉIAS!

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Quatro propostas diferentes de jardins, para você se inspirar e montar em casa o seu oásis de natureza

RAZÃO, SENSIBILIDADE E MUITA ARTE

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Cotidiano MARTHA MEDEIR OS

PARAÍSO ZODIACAL Em 2005, seja doze vezes mais você. Feliz Ano Novo. Não sou astróloga, apenas metida. Escrevi um horóscopo em que cada leitor pode se reconhecer em todos os signos. Por que não? Em 2005, seja doze vezes mais você. Áries: não tenha medo de sua personalidade forte, de ser vigoroso e um pouquinho autocentrado, a exemplo de Marlon Brando, Bette Davis e Cazuza, arianos célebres. Ok, são pessoas temperamentais, mas ao mesmo tempo atraentes, fogosas. Viva o aquecimento das relações. Touro: ninguém consegue ser vigoroso o tempo todo, é verdade. Portanto, saiba quando deixar baixar um taurino em você. Movase lentamente, fale pouco, seja mais meditativo e paciente. Buda e o Papa João Paulo II são representativos deste signo: calmos, porém obstinados. Gêmeos: quem não pira de vez em quando? Tem horas em que não há quem nos segure, confundimos realidade e ilusão, falamos rápido, escutamos rápido, pensamos rápido, abrimos o livro e vamos direto ler a última página. Esta ansiedade até que pode ser bem produtiva, que o digam Bob Dylan e Prince. Câncer: tem dias em que vale a pena optar pelo lado mais secreto da nossa personalidade. Deixar nossa sensibilidade à flor da pele. Há quem diga que cancerianos são meio lunáticos, mas Raul Seixas, Neruda e Frida Kahlo demonstram que não há mal nenhum nisso, muito pelo contrário. Leão: quer aplausos, purpurina? Ah, todos temos nossa porção estrela. Gostamos de elogios, encaramos desafios de forma apaixonada, o palco é nosso lugar, assim como para Madonna, Mick Jagger, Caetano e Fidel. Permita-se brilhar, não é pecado. Virgem: e permita-se, também, recolher-se. Em determinadas situações, o melhor é afastar-se do estardalhaço, curtir um certo isolamento, abrir as portas para a serenidade, como os virginianos Guga, Madre Tereza, Ingrid Bergman e Greta Garbo. Salve a discrição.

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Estilo Zaffari

Libra: a busca pelo equilíbrio é sempre proveitosa. Não aceite de imediato tudo o que lhe dizem, contrabalance as opiniões. Gandhi e John Lennon não se deixavam influenciar para um lado ou para o outro, buscavam a verdade universal. Sábios. Escorpião: todos reconhecem que você não veio ao mundo a passeio. Talvez por isso mesmo, confiam na sua lealdade. Abuse do seu olhar penetrante, do seu poder hipnótico, o mundo precisa de magia. Escorpianos clássicos: Maria Antonieta, Pablo Picasso e os donos do campinho, Pelé e Maradona. Sagitário: não tema o perigo, faça e diga o que pensa, sem medir consequências, já que elas nunca serão muito graves. Todos reconhecem as boas intenções destes bon vivants e viajandões. Temos aí Sammy Davis, Frank Sinatra, Spielberg e Vera Fischer para provar. Intempestivos e adoráveis sedutores. Capricórnio: quietinho assim, ninguém diria que é você quem vai surpreender todos. Centrado, forte, pé no chão. Não tem a menor necessidade de se pavonear, sabe que alcançará o que lhe é de direito. Martin Luther King, Selton Mello, Mel Gibson, Edgar Allan Poe e você, os reis do prumo. Aquário: seu endereço é dentro de um arco-íris. O mundo seria muito chato sem pessoas sonhadoras e surpreendentes como você, James Dean, Mozart, Bob Marley e Tom Jobim. Sem falar que este é o signo que dá o devido valor às amizades. Peixes: que ninguém se atreva a roubar sua liberdade e a lhe impor um ritmo. Você já tem o seu. Esotérico, cristalino, detalhista, idealista, você concentra todos os signos num só. Glauber, Einstein, Elis, Regina Casé, Renoir. Sim, o mundo pode ser diferente, pode ser cor-de-rosa, depende do nosso olhar. Feliz Ano Novo. Água, terra, fogo e ar para todos.

MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA


Cesta básica FOTO: CRISTIANO SANT’ANNA

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA-A-DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, CINEMA, LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!

Just Burgers Abriu! Depois de uma espera ansiosa, os freqüentadores da Padre Chagas já podem se deliciar com os hambúrgueres especiais servidos pela Just Burgers, que inaugurou no finalzinho de novembro. E também podem curtir o movimento da rua mais badalada da cidade em um ambiente bonito, moderno e confortável, cheio de janelões que deixam entrar a luz e a paisagem. Funcionando todos os dias desde as 11h30 da manhã até a despedida do último cliente, a Just Burgers tem também um telão que reproduz os DVDs mais solicitados do momento, desfile de gente bonita na escadaria envidraçada que leva ao piso superior, hambúrgueres deliciosos e um clericot no copo que é imperdível.

MILENE LEAL, JORNALISTA

ATACAMA EM EXPOSIÇÃO O MISTERIOSO DESERTO DE ATACAMA FOI REGISTRADO PELAS LENTES DE CRIS BERGER E REVELADO EM REPORTAGEM DESTA EDIÇÃO DA ESTILO ZAFFARI (A PARTIR DA PÁGINA 60). AS IMAGENS DO VALLE DE LA LUNA, DOS GÊISERES DEL TATIO E DA FLORESTA DE CACTOS TAMBÉM PODEM SER VISTAS NA MOSTRA FOTOGRÁFICA “YA, ATACAMA” NO SHOPPING BOURBON COUNTRY, 2º PISO, DE 20 A 31 DE JANEIRO. O COQUETEL DE LANÇAMENTO DA MOSTRA ACONTECE NO DIA 19 DE JANEIRO, DAS 21 ÀS 23H, NO BARBAZUL PUB (AV. ITAQUI, 57). OS PARCEIROS DO PROJETO SÃO HOTEL EXPLORA ATACAMA, CATHEDRAL DIGITAL, AUTÊNTICA VISUAL E DEZ PROPAGANDA. Estilo Zaffari

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Cesta básica

Sem culpa e com muito sabor A consagrada linha Substância de produtos light – que virou grife desejadíssima por aqueles que se empenham em manter a forma mas não querem de forma alguma perder o sabor – já pode ser encontrada na rede Zaffari/ Bourbon. Procure nas lojas os freezers dos produtos da marca e encha seu carrinho com refeições, lanches e sobremesas deliciosamente não-engordantes! Tudo congelado e superprático. A Substância é uma marca gaúcha que conquistou o centro do país graças à qualidade dos alimentos que produz, e hoje serve refeições até para os globais, em pleno Projac!

FERNANDA DOERING, JORNALISTA

ERA UMA VEZ TRÊS LIVROS LINDOS “O Menino que Queria Ser Celular”, de Marcelo Pires. “Romilda e Margarida”, de Eduardo Bueno e Lízia Bueno. “Histórias de Bruxa Boa”, de Lya Luft. Três livros lindos. No texto moderno e coloquial do Marcelo, um menino diz que se fosse Toshiba ou Nokia, em vez de Souza da Silva, sua mãe se divertiria muito mais com ele. Com projeto gráfico de Roberto Lauter, esse livro é muito mais atual do que o seu aparelho com câmera acoplada. E muito mais sensível. Então saímos da realidade e entramos nos contos de fadas. “Romilda e Margarida” é uma fantasia poética e inteligente que mostra que Eduardo Bueno não entende só de história do Brasil. Ele e a filha, Lízia, criaram duas meninas que poderiam ser descritas como o Doctor Jekyll e o Mr. Hyde da literatura infantil. Romilda tem unhas imensas e imundas, onde crescem mundos de fungos na frente e nos fundos. Já Margarida tem aura de perfume e rastro de flores, é sorridente e silenciosa. Há um quê de Romilda e um pouco Margarida em cada um de nós. Mudando de história, entramos no universo de Lilibeth, a bruxa boa que é o alterego de Lya Luft. Cheio de achados sensíveis e divertidos, o livro traz cinco histórias criadas junto com a pequena Isabela, neta da autora. Têm as malvadas Bruxa Cara de Panela e Bruxa Cara de Janela e passagens muito engraçadas, como quando a neta de Lilibeth precisa conseguir pum de minhoca para uma poção da avó. Esses três livros lindos não podem faltar na árvore de Natal de quem tem criança em casa, e você encontra todos na Livraria Cultura. FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

PAULA TAITELBAUM, ESCRITORA



Cesta básica

A Habitart é uma raridade em Porto Alegre. Especializada em design, a loja mostra que entende do riscado. Uma simples visita já faz bem aos olhos e à mente de quem aprecia objetos decorativos, móveis e arte, sempre tendo o design como linha mestra. E comprar algo na Habitart significa levar para casa algo que certamente vai virar patrimônio da família. Lá você encontra peças assinadas pelos maiores artistas e designers brasileiros, como os irmãos Campana, Carlos Motta, Luiz Pedrazzi, Rafael Patalano, além de obras de gaúchos consagrados nacionalmente: Heloisa Crocco, Tuti Giorgi e Beto Salvi, Albert Wainer, Tina e Lui. Na foto abaixo você já pode ir namorando a originalíssima cadeira Celia, de Fernando e Humberto Campana, feita de OSB, um prensado de lascas de madeira e resina. Ela já foi exposta no Design Museum de Londres! Fone da loja: (51) 3328.0623.

FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

Design Nacional

MILENE LEAL, JORNALISTA

OSTRAS VINDAS DA PRAIA DO SONHO! Ostras, muitas ostras saborosas... Acaba de inaugurar no coração do Moinhos de Vento o Oysterbox. Uma parceria do casal Rogério Caldana e Isabel Luz com o Beto, do famoso Box 32 de Florianópolis. Vindas da Praia do Sonho, as ostras, que são o carro-chefe do restaurante, ficam à vista em um balcão. Espetinhos de camarão, de atum e outras especialidades em frutos do mar, com uma variada carta de vinhos, chopp gelado e o espumante do Box 32, fazem parte do exclusivo cardápio. Localizado na Barão de Santo Ângelo, 166, entre dois casarões listados pelo patrimônio histórico, o Oysterbox tem um ambiente agradável, com arquitetura em estilo mediterrâneo, à sombra de uma milenar nogueira. Um convite ao happy hour, pois abre de segunda a sexta das 17h às 23h e aos sábados das 11h às 15h. Sem dúvida alguma, um dos lugares mais charmosos da boa gastronomia de Porto Alegre.

LIZE JUNG, JORNALISTA

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Estilo Zaffari



Consumo T E T Ê

PAC H E C O

PACOTE DE FINAL DE ANO Mal aponta dezembro e já estamos contaminados pela maluquice Não adianta. Está completamente incorporado ao espírito do fim do ano o tal do stress. É sempre a mesma coisa. A gente jura que não vai entrar nessa de novo, mas mal aponta dezembro e já estamos totalmente contaminados pela maluquice. O primeiro sintoma aparece quando nos damos conta, sem nenhuma serenidade, de que já está na hora de arrumar a árvore!!!! Depois dessa constatação, as noites e os dias nunca mais são os mesmos. Uma lista absurda de necessidades urgentes nos atropelam. E nenhuma agenda parece comportar tanta afobação. Tudo transcorre em contagem regressiva. O pinheiro, a ceia, a lista de presentes da família, dos inimigos secretos do trabalho, os presentinhos do porteiro, da empregada, dos melhores amigos, os cartões escritos à mão, must nessa era de internet, os bazares cheios de ofertas imperdíveis, as festas de empresas, os coquetéis, os filmes, shows e peças de teatro que estréiam justamente no meio do transtorno. Os décimos terceiros que temos que pagar versus o décimo terceiro que temos a receber. A roupa do réveillon, a roupa de baixo do réveillon, a festa do réveillon, as sete ondas que devem ser puladas, a companhia ideal para virar o ano, a lista de desejos. Isso sem mencionar que as crianças já estão em férias, os clubes estão lotados, assim como os shoppings e os aeroportos, e o trânsito vira uma coisa indizível. Ah, sim. E faz calor.

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Estilo Zaffari

Definitivamente, o fim do ano é algo suarento e atormentado. Um amigo tem a tese de que isso só acontece aqui entre nós, seres dos trópicos. Nos países que têm o privilégio de ter neve, a história é bem diferente. Tudo é mais intimista e infinitamente mais chique, uma vez que ninguém fica suando em bicas, carregando pacote de um lado pra outro. Eu sou obrigada a concordar. Mas cá estou, novamente, em pleno dezembro, fazendo tudo aquilo que condeno. Talvez, refletindo melhor, faça parte do pacote das festas de fim de ano a exacerbação, a catarse. Dessa forma, pelo contraste, é mais fácil duvidar um pouco desse sistema ao qual todos nós sucumbimos anualmente. Acreditar que se deve bancar o feliz junto de uma árvore cheia de presentes ou de uma mesa cheia de peru com farofa? Não dá. Mas dá pra acreditar que é possível se reunir, acalmar os ânimos, refletir, fazer um brinde, trocar idéias, guloseimas e até alguns mimos. Mas num ritmo outro. Próprio de cada um. Sem enlouquecer no padrão. Que 2005 seja tudo novo. E não tudo de novo. São os meus singelos votos pra você. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA



Festa

Virada em

alto-astral


ALEGRIA, BOA COMIDA, PESSOAS QUERIDAS, ALTO-ASTRAL E UMA LINDA MESA SÃO OS INGREDIENTES DE UM ANO NOVO INESQUECÍVEL. APROVEITE AS NOSSAS IDÉIAS! POR

M I L E N E

L E A L

FOTOS

L E T Í C I A

R E M I Ã O


Festa

FLORES NÃO PODEM FALTAR. E AS VELAS DÃO UM TOQUE DE ACONCHEGO E REQUINTE À MESA Neste 31 de dezembro, aposte as suas fichas na alegria. Deixe um pouco de lado as broncas com o ano que está terminando e, ao mesmo tempo, não projete coisas impossíveis para 2005. Simplesmente comemore. A festa de Réveillon marca o fim de um ciclo e o início de outro. Então, celebre o fato de estar vivendo essa passagem. Junte a família e os amigos do coração e organize uma linda noite de festa. Esta é uma das melhores maneiras de receber o Ano Novo. Abra a sua casa para uma noite de confraternização com as pessoas que você ama, faça uma seleção de músicas especiais, monte uma mesa linda, prepare comidinhas para agradar aos convidados. Nesta e nas próximas páginas você vai encontrar inspiração para fazer da noite de 31 de dezembro um grande momento. Desde a montagem do cenário onde serão feitos os brindes e as promessas de Ano-Novo até a definição do cardápio que vai encantar os mais exigentes pa-

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Estilo Zaffari

ladares. A revista Estilo Zaffari reuniu um time de craques para montar esta reportagem especial de festas. Nosso consultor de gastronomia, o chef Jorge Nascimento, criou o menu da ceia. Encomendamos a ele uma refeição completa, com todas as suas etapas: começando pelos drinks, depois as entradas, o primeiro prato, o segundo prato – ambos com seus acompanhamentos – e, como grand finale, deliciosas sobremesas. Jorge testou e preparou pessoalmente todos os pratos. São receitas muito especiais, criativas, sempre com um toque de sofisticação e utilizando ingredientes nobres. Afinal, ceia de Ano Novo tem que ser diferente, tem que ser realmente especial. Para montar a mesa de Ano-Novo da Estilo Zaffari, convidamos Zuca Feijó, proprietária de uma loja de flores muito prestigiada em Porto Alegre por seu bom gosto e criatividade. Com o auxílio da amiga Lygia Vasconcellos, que cedeu sua casa e objetos para a realização das fotos, Zuca criou um cenário suave e requintado.




RECEBA 2005 COM ALEGRIA, CONCENTRANDO ENERGIAS POSITIVAS. E CAPRICHE NOS DETALHES! Segundo o Feng Shui, o astro regente de 2005 é a Lua. Lucimara Stràda, nossa consultora de Feng Shui, explica que a Lua simboliza o romantismo, a sensibilidade e a feminilidade. E que está associada a cores como o branco, os azuis tênues e os tons de cinza. Inspirada nas dicas de Lucimara, Zuca fez suas escolhas para a montagem da mesa. A toalha de linho branca, clássica, ganhou uma sobretoalha de organdi suíço bordado à mão. A louça, que pertence ao acervo familiar de Lygia Vasconcellos, também é branca e clássica. Os talheres de prata e os lindos copos de cristal complementam harmoniosamente a produção. Velas em tom de azul são peças-chave nesta composição. Acesas, elas proporcionam ao ambiente uma luz difusa e suave, ideal para garantir o aconchego na hora da ceia. E as flores são o detalhe fundamental. Experiente, Zuca selecionou espécies que, associadas aos azuis das velas, contribuem para a criação de uma atmosfera de tranqüilidade, sofisticação e suavidade.

Lisiantus e Agapantus são as grandes estrelas dessa mesa. E o charme também está na maneira de expô-las: dentro de copos de cristal de formas e tamanhos variados, compondo um arranjo diferente, cheio de espontaneidade. As flores também estão presentes no belo lustre que encima a mesa e em outros detalhes da produção. Para garantir a alegria e a prosperidade, Zuca criou pequenos arranjos com laços de fita e folhas de oliveira, colocados nos encostos das cadeiras. E um ramo de alecrim envolvendo os guardanapos. Estes “mimos” são quase amuletos, e estão ali para garantir os bons fluidos e o alto-astral do Ano Novo. O resultado de toda essa cuidadosa produção você pode ver nestas páginas da sua Estilo Zaffari. E, quem sabe, daqui saia a inspiração para uma grande e inesquecível noite. Estamos torcendo para que o seu Ano Novo seja lindo, saboroso, animado, carinhoso e, sobretudo, muito feliz!

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Festa

Drinks MARGARITA DE MANGA COM CARDAMOMO

COQUETEL COM LICHIA

2 XÍCARAS (CHÁ) DE POLPA

500 G DE LICHIA FRESCA OU EM CONSERVA

DE MANGA MADURA

½ XÍCARA (CHÁ) DE GLICOSE DE MILHO

½ XÍCARA (CHÁ) DE TEQUILA

¼ DE XÍCARA (CHÁ) DE LEITE DE COCO

2 COLHERES (SOPA) DE CONTREAU

1 XÍCARA (CHÁ) DE GELO MOÍDO

2 XÍCARAS (CHÁ) DE GELO MOÍDO

¾ DE XÍCARA (CHÁ) DE TRIPLE SEC

6 BAGAS DE SEMENTES DE CARDAMOMO

¼ DE XÍCARA (CHÁ) DE CURAÇAO BLUE

Modo de fazer: Misture a polpa da manga com a tequila, o contreau e o gelo moído. Misture bem e coloque nas taças. Abra as bagas de cardamomo e polvilhe sobre cada taça de drink.

Modo de fazer: Lave e descasque as lichias, remova as sementes. Reserve 6 unidades. Num liquidificador, junte as lichias restantes, o leite de coco, a glicose de milho e o triple sec. Bata a ter uma consistência homogênea, adicione o gelo moído e mexa bem. Coloque o coquetel nos copos. Decore com duas lichias e derrame no centro o Curaçao blue.

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Festa


Entradas SALADA DE LARANJAS COM VERMICELLI

CREME DE MEXILHÕES COM NOTAS DE GENGIBRE

100 G DE VERMICELLI DE ARROZ

½ XÍCARA DE AZEITE DE OLIVA EXTRAVIRGEM

3 LARANJAS MADURAS

4 CM DE GENGIBRE FRESCO

2 COLH. (SOPA) DE MOLHO DE PEIXE JAPONÊS

1 COLHER (SOPA) DE CEBOLAS

3 COLHERES (SOPA) DE SUCO DE LIMÃO

1 DENTE DE ALHO PICADO

1 COLHER (SOPA) DE ÓLEO DE GERGELIM

½ XÍCARA DE VINHO CHARDONNAY

½ XÍCARA DE AZEITE DE OLIVA EXTRAVIRGEM

4 XÍCARAS DE CALDO DE GALINHA OU PEIXE

1 COLHER (SOPA) DE VINAGRE DE ARROZ

400 G DE MEXILHÕES LIMPOS

2 COLHERES (SOPA) DE AÇÚCAR MASCAVO

2 COLHERES DE SOPA DE GORDURA DE COCO

1 PIMENTA DEDO-DE-MOÇA

1 COLHER (SOPA) DE FOLHAS DE COENTRO

1 COLHER (CHÁ) DE GERGELIM TOSTADO

PIMENTA-DO-REINO / SAL

3 COLHERES (SOPA) COCO TOSTADO

200 G DE MANDIOQUINHA EM PURÊ

¼ DE XÍCARA DE FOLHAS DE HORTELÃ FRESCA

4 COCOS MARRONS CORTADOS À TAMPA

1 ALFACE AMERICANA RASGADA

Modo de fazer: Numa panela, aqueça o azeite de oliva junto com a gordura de coco, refogue as cebolas até ficarem douradas, junte o alho e refogue por uns 3 minutos. Adicione os mexilhões e cozinhe por mais 3 minutos. Coloque o vinho e deixe o álcool evaporar, complete com o caldo, o purê de mandioquinhas, sal e pimenta-do-reino. Deixe ferver por uns 10 minutos em fogo brando. Coloque os cocos abertos no forno por 10 minutos, com ajuda de uma faca solte um pouco da polpa da fruta e reserve em local quente. Adicione as folhas de coentro ao creme e deixe levantar fervura, prove os temperos e ajuste se julgar necessário. Preencha os cocos com o creme e sirva em seguida. Este creme pode ser servido frio e decorado com conchas de mexilhões.

Modo de fazer: Cozinhe o vermicelli de arroz em água com sal por 2 minutos, resfrie e reserve. Descasque e corte as laranjas em gomos retirando as sementes. Deve ficar somente a polpa da fruta no formato do gomo; reserve. Misture o molho de peixe, suco do limão, açúcar mascavo peneirado, o óleo de gergelim, o azeite de oliva. Lave as folhas de hortelã e alface. Numa tigela, misture as folhas de alface rasgadas, as folhas de hortelã, a pimenta dedo-de-moça cortada em rodelas finas, o gergelim tostado, o coco, os gomos de laranjas e o vermicelli cortado ao meio. Junte o molho e misture com cuidado.

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Festa

Primeiro Prato COSTELETAS DE PORCO EM CROSTA DE BARBECUE GUARNECIDA POR ARROZ BASMATI COM DAMASCO 1 QUILO DE COSTELETAS DE PORCO

ARROZ

½ XÍCARA (CHÁ) DE AMEIXAS SECAS

2 XÍCARAS DE ARROZ BASMATI

¼ DE XÍCARA (CHÁ) CATCHUP

2 COLHERES (SOPA) DE AZEITE DE OLIVA

¼ DE XÍCARA (CHÁ) DE AÇÚCAR MASCAVO

EXTRAVIRGEM

3 COLHERES (SOPA) DE MOLHO

2 COLHERES (SOPA) DE AÇÚCAR

WORCESTERSHIRE (MOLHO INGLÊS)

½ COLHER (CHÁ) DE SEMENTES DE CARDAMOMO

1 COLHER (SOPA) DE VINAGRE DE ARROZ

½ COLHER (CHÁ) DE CANELA EM PÓ

PIMENTA CHILLI SECA / SAL

1 COLHER (CHÁ) DE SAL ½ XÍCARA DE DAMASCOS SECOS PICADOS

Modo de fazer: Corte as costeletas, elimine os excessos de gordura. Tempere com o sal e deixe marinar por duas horas. Para fazer o molho barbecue, primeiro deixe as ameixas se hidratarem em água por uma hora, escorra a água e num processador junte as ameixas, o catchup, o açúcar mascavo, o molho worcestershire, o vinagre, a pimenta chilli, o sal e 1 xícara de água. Bata tudo até ficar uma mistura homogênea. Passe as costeletas neste molho e leve ao forno médio por uns 45 minutos. Retire do forno e sirva acompanhada do arroz e do restante do molho barbecue quente.

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Modo de fazer o arroz: Numa panela coloque o azeite de oliva extravirgem, o açúcar, o cardamomo, canela e o sal. Quando o açúcar começar a caramelizar, junte o arroz e complete com 4 xícaras de água. Passados 10 minutos, junte os damascos e termine de cozinhar. Prove os temperos e ajuste se julgar necessário.



Festa


Segundo Prato PARGO ASSADO SERVIDO COM HUMMUS GUARNECIDO POR PURÊ DE CENOURAS COM QUEIJO GORGONZOLA 1 PARGO DE 1 QUILO E ½

PURÊ

2 LIMÕES SICILIANOS

2 COLHERES (SOPA) DE MANTEIGA

4 COLHERES (SOPA) DE AZEITE

1 COLHER (SOPA) DE AZEITE DE OLIVA

DE OLIVA EXTRAVIRGEM

1 CEBOLA PEQUENA PICADA MIÚDA

½ MOLHO DE FOLHAS DE SALSINHA

500 G DE CENOURAS

SAL / PIMENTA-DO-REINO

3 XÍCARAS (CHÁ) DE CALDO DE GALINHA

2 XÍCARAS DE HUMMUS (PASTA DE GRÃO

½ XÍCARA (CHÁ) DE SUCO DE LARANJA

DE BICO COM GERGELIM)

100 G DE QUEIJO GORGONZOLA 1 XÍCARA DE PÃO CORTADO EM CUBOS SAL / PIMENTA-DO-REINO

Modo de fazer o pargo: Tempere o pargo com o suco e raspas de um limão, as folhas de salsinha, sal, pimenta-do-reino e o azeite de oliva. Deixe tomar gosto por uns 20 minutos. Leve a assar no forno por 20 minutos. Retire do forno e com ajuda de um garfo retire a pele do pargo. Espalhe sobre o pargo o hummus, volte ao forno por 5 minutos. Sirva guarnecido pelo purê de cenouras.

Modo de fazer o purê purê: Lave e descasque as cenouras, corte em rodelas. Aqueça numa panela a manteiga com o azeite de oliva, doure as cebolas, junte as cenouras e refogue por uns 3 minutos. Coloque o suco de laranja, o caldo, sal e a pimenta-do-reino. Cozinhe em fogo baixo até que fiquem macias. Passe pelo espremedor e transforme em purê. Volte à panela e aqueça. Por cima do purê salpique o queijo gorgonzola e os cubos de pão dourados na manteiga.

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Festa

Sobremesas TORTA CHEESECAKE DE CHOCOLATE E BANANAS CARAMELIZADAS COM CRAVO-DA-ÍNDIA

CREME LIBANÊS COM MANGOSTINS 4 XÍCARAS (CHÁ) DE LEITE

1 E ½ XÍCARA DE AÇÚCAR

7 COLHERES (SOPA) DE AÇÚCAR

100 G DE MANTEIGA GELADA

2 COLHERES (SOPA) DE GELÉIA DE LARANJAS

6 OVOS

2 COLHERES (SOPA) DE ESSÊNCIA DE ROSAS

200 G DE BOLACHA MAISENA MOÍDA

5 COLHERES (SOPA) DE AMIDO DE MILHO

600 G DE CREAM CHEESE

100 G DE PISTACHES

300 G DE CHOCOLATE MEIO-AMARGO

100 G DE PINOLES (PINHÕENZINHOS

300 G DE BANANAS

TURCOS) TOSTADOS

4 CRAVOS-DA-ÍNDIA

100 G DE AMÊNDOAS 4 MANGOSTINS

Modo de fazer: Amasse as bolachas junto com a manteiga gelada até formar uma farofa. Forre uma fôrma de 26 cm de diâmetro e leve a massa ao forno por 10 minutos (pré-aquecido em 180°C). Reserve. Bata as gemas com 1 xícara de açúcar até formar um creme claro e fofo. Depois, misture na batedeira o cream cheese e o chocolate ralado no ralo grosso; reserve. Numa outra tigela, bata as claras em neve e misture com o creme já batido. Coloque na fôrma e leve ao forno por aproximadamente 25 minutos. Pique as bananas em pedaços regulares, faça um caramelo com ½ xícara de açúcar e os cravos-daíndia, caramelize as bananas de forma que fique uma calda espessa e não dura. Coloque por cima da torta e sirva.

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1 SACHET DE PISTILOS DE AÇAFRÃO Modo de fazer: Coloque 3 xícaras de leite, o açúcar, o açafrão, a geléia de laranjas e a essência de rosas numa panela, cozinhe em fogo brando por uns 5 minutos. Junte 2/3 dos pistaches, os pinoles tostados, as amêndoas. Acrescente a outra xícara de leite dissolvido no amido e cozinhe até engrossar. Retire do fogo e deixe esfriar. Leve à refrigeração por seis horas. Distribua o creme em taças e por cima coloque o restante dos pistaches, dos pinoles tostados e das amêndoas. Tire as cascas dos mangostins e coloque um em cada taça.



O sabor e o saber F E R NA N D O

LO K S C H I N

POMAROSA Maçã, a fruta fetiche Há muito conflito de interesses entre as espécies vivas: o pernil é locomoção para o leitão e presunto para o homem; a espiga é semente, futuro do milharal, e ração, o presente do leitão. É da natureza: A– comer implica um sacrifício; B – todos acabam como refeição. Viver é um privilégio transitório, há prazo de validade, um tempo de expiração. Só o mais forte sobrevive e ninguém é sempre o mais forte. A vida é um matadouro não consentido. A gazela foge do leão o quanto pode, e o peixe, enganado pela isca e puxado pela linha, deixa a água se debatendo. Todos relutam em se transformar em alimento. É inesquecível o lamento do cordeiro prestes a ser abatido, e a galinha corre espavorida mesmo quando sua cabeça já foi cortada. Com as frutas é diferente. As frutas pedem para ser comidas, foram feitas para isto: o próprio sentido original da palavra fruta é ‘aproveitar, fazer uso’, daí a semelhança com desfrutar. Enquanto suas sementes não estão desenvolvidas, a fruta é pura pectina, toxina que a defende das bocas alheias. Mas logo que as sementes estão prontas, a fruta amadurece, desenvolve forma, cor, odor e sabor apropriados para ser mordida, devorada. As sementes então viajam, voam na barriga dos pássaros até caírem ao solo (junto com adubo orgânico: fezes) para germinarem e assim perpetuar o ciclo. Sexo é sedução mesmo entre vegetais. Órgãos reprodutores, as partes mais belas da planta são a flor e fruto. O caule pode ter espinhos para manter distância, mas a flor e a fruta são pura atração. A flor – e flerte deriva do F. fleur, ‘flor’ – existe para atrair o inseto a fim de ser polinizaFOTOS: PORTRAIT (LETÍCIA REMIÃO), MAÇÃ (CRISTIANO SANT’ANNA)

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da e se transformar em fruto, o ovário da planta. União entre fauna e flora, as flores copulam com os insetos. Não só exalam ferormônios para excitá-los como lhes oferecem réplicas de órgãos sexuais. E a flor da baunilha (de vanilla, termo gêmeo de vagem e vagina) até mesmo um hímen tem: a abelha literalmente ‘deflora’ a flor de baunilha. Flores e frutos são tão atraentes para tantas espécies que há quem especule haver um senso estético universal permeando a natureza. A macieira é uma rosácea; a maçã é irmã da rosa, ambas flor e fruto da beleza e sedução. Quanta semelhança há entre a maçã, a rosa e o coração, os três símbolos amorosos. A maçã e o amor A maçã é sedução e feminidade nas culturas judaica, greco-romana, celta e escandinava. Não avantajada e alongada como o mamão (aumentativo de mama), a maçã é uma réplica da mama jovem. Fruta fetiche, no corte longitudinal suas sementes imitam uma vulva e no transversal refazem a trajetória de Vênus no céu, a estrela de cinco pontas. Páris jogou a ‘maçã da discórdia’ a Afrodite, sagrando-a vencedora do concurso de beleza entre, de fato, três deusas gregas. Como recompensa recebeu Helena, “rosto de lançar uma frota ao mar”, o que deu início a dez anos de guerra entre gregos e troianos. Atalanta só se entregaria ao homem que lhe fosse mais veloz. Foi por se distrair com as maçãs que seu pretendente e competidor colocara no caminho que a deusa perdeu a corrida e a virgindade. Presentes de casamento de Hera e Zeus, uma das fa-


çanhas de Hércules foi colher as maçãs douradas do jardim das Hespéries, os frutos da eternidade. Nas quermesses estudantis, a ‘maçã do amor’ repete um costume milenar. Ao cortejar uma jovem, o grego, como Páris, lhe jogava uma maçã: segurá-la implicava aceitação; na cerimônia de casamento, os noivos dividiam outra maçã. Na Alemanha do séc. XV, tempos sem água e sabão, namorados se presenteavam com maçãs mantidas sob suas axilas por dias para que se impregnassem de suor, talvez ferormônios. Tais lembranças eram provas de amor, equivalentes olfatórios íntimos da visualidade da nossa troca de fotografias. Fruto proibido? Nas lendas medievais, a maçã aparece na prova de pontaria imposta a Guilherme Tell e no envenenamento de Branca de Neve. No folclore científico, a queda de uma maçã, “a segunda maçã mais importante da História”, teria inspirado Newton a descrever a Lei da Gravidade (1687). A importância da alimentação é tal que uma dentada no fruto proibido, desobediência a uma restrição dietética imposta, resultou no fim do Paraíso para o casal infrator e toda sua descendência, enquanto na geração seguinte um fratricídio, crime de morte, foi punido só com o exílio (com salvo-conduto contra a vingança de terceiros...). Adão e Eva, como Oscar Wilde, podiam resistir a tudo, menos à tentação. A maçã não é citada no Gênesis, sua imagem como Fruto do Paraíso surgiu a partir do séc. VIII e, como muito do Natal, Páscoa e carnaval, foi uma importação de costumes hereges. A Bíblia não especifica qual o verdadeiro fruto proi-

bido. Os estudiosos se dividem entre o damasco, a romã e o marmelo, frutas nativas no Oriente Médio. O certo é que no Éden havia figos, já que a folha da figueira foi a primeira das vestimentas. Diferente do Gênesis, o Cântigo dos Cântigos menciona a maçã. Num verso tão erótico e lírico que se estranha sua presença no Velho Testamento, Sulamita compara Salomão entre os jovens à macieira entre as árvores, e almeja “sentar-se à sua sombra” e “ter seu fruto à boca”. A relação presumida entre o L. malus, ‘maça’, e o L. malus, ‘mal’, ajudou a demonizar a maçã; também fez com que o L. malus desaparecesse no latim substituído por matiana (origem do P. maça e E. manzana), nome da cidade germânica onde se cultivava uma variedade de maçã (malus Mattiana). A fama de ‘fruto proibido’ foi tal que o termo francês pomme, ‘fruto em geral’, adquiriu o sentido de ‘maça’. Pomona era a deusa latina das frutas e pomar (L. pomarium), a sua moradia. A aura pecaminosa da maçã fez com que no pomar dos mosteiros as macieiras fossem plantadas bem longe da capela... Foi o uso da polpa de maçã como veículo de remédios e cosméticos que originou pomada (F. pommade). Maça é a raiz de maçaneta, antes circular e branca como a maçã partida. O ‘Pomo de Adão’ é o estigma do pecado original entalado na garganta, e as ‘maçãs do rosto’ são redondas e rosadas tal a fruta. Aliás malar e maxila têm a mesma etimologia que o L. malus, ‘maça’. As palavras para ‘maça’ mudaram com o lugar e tempo. O termo grego para ‘maça’, melon, veio a dar em melão, melancia, e o It. mela, ‘maça’. A palavra celta avella cunhou

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OOsabor saboreeoosaber saber F E R N A N D O LO K S C H I N F E R N A N D O LO K S C H I N

CORTAR UMA TAMPA NO TOPO DA MAÇÃ. RETIRAR O MIOLO E PARTE DA POLPA COM COLHER. FERVER NO SUCO DE LARANJA A POLPA DA MAÇÃ, PASSAS DE UVA, DAMASCOS E NOZES PICADAS. DAR CONSISTÊNCIA DE PURÊ. GOTEJAR GRAND MARNIER OU VINHO DO PORTO. RECHEAR A MAÇÃ COM O PURÊ, RECOLOCAR A TAMPA, BORRIFAR CANELA AÇUCARADA E LEVAR AO FORNO. SERVIR QUENTE COM SORVETE DE CREME.

avelã, Avignon e Avalon, a ilha mística do Rei Artur. Nova York, “a cidade que nunca dorme’, é conhecida desde o final do séc. XIX como big apple (‘grande maçã’), título oficializado em 1971 para fins de turismo. Apple, o nome da gravadora dos Beatles, teria sido narcisamente sugerido por McCartney: ‘apple’ invoca a sonoridade de ‘Paul’. Apple foi como Steven Jobs chamou a fabriqueta de computadores que montara na garagem de casa; além de homenagear os Beatles, queria constar na lista telefônica antes da HP, IBM e Burroughs. Uma das primeiras frutas cultivadas, nas suas quase 8 mil variedades, a maçã é a fruta mais consumida. Sua técnica de enxerto antecede a nossa era, foi descrita por Cato na seu tratado De Agricultura no séc. II A.C. Nessa época, segundo Plínio, os gauleses eram fruticultores tão hábeis que cultivavam maçãs, peras, uvas, cerejas, romãs e nozes em diferentes ramos de uma mesma árvore! Alexandre teria espalhado macieiras por toda a Europa, seu quintal. Na mesma expedição em que procurava a Fonte da Imortalidade, o conquistador teria encontrado as ‘Maçãs da Longevidade’: os sacerdotes que delas se alimentavam viviam 400 anos. Alexandre não parece ter provado delas, uma vez que morreu de Malária aos 33 anos, a idade de Cristo. A Pomarosa é uma prima da Torta de Maçã, o mais tradicional prato de frutas da culinária ocidental; sua origem estaria no costume milenar de se assarem maçãs nas lareiras domésticas. Crua ou assada, é difícil haver quem não goste da maçã. Há uma atração genética universal a seu sabor. Diferentemente da uva e dos cítricos, que exigem aprendizado, a maçã tem um gostar inato, já se manifesta na criança pequena. Malícia e inocência, a maçã é o amor à mesa, o pecado frutificado. No grand finale da refeição, a mordida na Pomarosa, o fruto permitido, pomo da concórdia, a ‘terceira maçã mais importante da História’ traz não a queda, mas a ascensão ao Paraíso. Quatrocentos anos em uma vida é o que temos a desfrutar.

FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fer nando@vanet.com.br

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Lugar


Golfo

dos

poetas T E X TO S

E

F OTO S

P O R

D A N I E L

M A R T I N S


NO SÉCULO XV O LUGAR JÁ DESPERTAVA A ATENÇÃO DOS VIAJANTES. POUCO DEPOIS, INSPIRAVA POETAS E ESCRITORES


O percurso de trem entre La Spezzia e o primeiro vilarejo de Cinque Terre não dura mais do que trinta minutos. Quando as portas dos vagões se abrem, em Riomaggiore, uma leva de viajantes de todos os cantos do mundo começa a caminhar a passos largos em busca de um primeiro contato visual com o azul-turquesa do mar Ligúrio. Ficam ali, voltados para a imensidão da costa durante alguns minutos, envolvidos pelo barulho das ondas que se chocam nas rochas. Depois, lentamente começam a caminhada montanha acima para o centro dessa minicidade, onde estão localizados os hotéis e pousadas. Vendo a cena não é difícil entender por que Cinque Terre é chamada de Golfo dos Poetas. O apelido vem do fim do século XIX, época em que poetas e escritores como Charles Dickens, Virginia Woolf e George Byron saíam de La Spezia, o centro urbano mais próximo, em busca de inspiração e quietude para criar. Passado mais de um século, Cinque Terre continua fascinando quem a visita. É um dos lugares mais peculiares da Itália e vem chamando a atenção de quem só pensava na famigerada Costa Amalfitana quando o assunto era a Riviera Italiana. Localizadas a 80 quilômetros ao sul de Gênova, as “cinco terras” foram consideradas patrimônio mundial da humanidade em 1997 pela Unesco, para logo em seguida virarem Parque Nacional e área de proteção marinha. Não é para menos. São 17 quilômetros de uma costa deslumbrante, natureza virgem e casas multicoloridas que se agrupam numa estreita porção de terra acidentada que se debruça sobre o mar. Espremidas entre encostas íngremes e o Mar Ligúrio, hoje as cinco vilas colhem os frutos de um

desafio travado há séculos pelo homem que vivia na região: vencer o relevo acidentado e tornar as terras agriculturáveis. Graças a esse esforço coletivo, Cinque Terre produz um vinho branco que há tempos vem conquistando os apreciadores da bebida. “Ao longo da costa existem cinco castelos, com praticamente a mesma distância entre um e outro. Rubra, Vulnetia, Cornélia, Manium Arula e Rivus Maiorche, que agora são chamados de Monterosso, Vernazza, Corniglia, Manarola e Riomaggiore. Conhecidos não só na Itália, mas também no País de Gales e na Inglaterra, pela nobreza do seu vinho. Daqui vem um vinho para a mesa de um rei” (Giacomo Bracelli, historiador e humanista genovês, 1448) Nessas terras também se colhem azeitonas frescas, ervas como manjericão e um tipo de limão que no Brasil chamamos de siciliano. É só passear pelas ruelas estreitas de Monterosso,Vernazza, Corniglia, Manarola e Riomaggiore para ver tudo isso em abundância no comércio local. Mas não é só da terra que vem o sustento dos vilarejos. A pesca também é uma fonte de renda para quem vive lá. Os restaurantes locais são abastecidos diariamente com os mais frescos peixes, lulas, mariscos e lagostas da costa italiana. Os frutos do mar caem na mesa dos turistas muitas vezes sem passar pelo freezer. O slogan da Trattoria La Lanterna, em Riomaggiore, resume muito bem isso. “Dove si mangia il pesce con il profumo del mare”. Traduzindo, “Onde se come o peixe com o perfume do mar”. O proprietário e chef, Massimo Del Canale, confessa com uma ponta de orgulho que não existe na Itália melhor lugar que a costa liguriana para mangiare el pesce.

A COMIDA É MARAVILHOSA, A PAISAGEM É DESLUMBRANTE E O RITMO DE VIDA É O IDEAL Estilo Zaffari

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Lugar

EM POUCO MAIS DE CINCO HORAS É POSSÍVEL CONHECER A PÉ OS CINCO VILAREJOS E puxando a brasa para o seu pescado, fala um pouco da La Lanterna, que desde 1982 serve em Riomaggiore pratos com o melhor aroma do Mediterrâneo. Entre um gole e outro de Sciacchetra, um vinho branco doce feito com uvas maduras e de teor alcoólico maior, Massimo conta algumas histórias curiosas de Riomaggiore. Na Páscoa, época em que o mar está um pouco mais agitado, ovos de chocolate são atirados no mar por familiares e amigos de pescadores, caso estes estejam demorando para retornar de um dia de pesca. Segundo a tradição, isso faz com que voltem seguros de sua jornada. Dentro do restaurante, um sino preso à parede chama a atenção de mulheres que querem engravidar. Massimo diz que bastam algumas badaladas para que a barriga comece a crescer. A melhor maneira de conhecer Cinque Terre é a pé. Em apenas cinco horas é possível percorrer os cinco vilarejos, em meio a trilhas de mata nativa que vão contornando as montanhas. O trecho mais conhecido é a Via dell´Amore, um túnel de pedra sobre o mar, em cujos

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muros os apaixonados expressam suas juras de amor em forma de rabiscos, poesias e outras abstrações. São cinco horas de caminhada, mas que merecem ser divididas em vários dias, com paradas para tomar um gelatto, uma taça de vinho ou comer uma bruschetta al pesto. É nesses caminhos, entre um vilarejo e outro, que acabamos descobrindo o que Cinque Terre tem de mais fascinante. Apesar de o turismo hoje significar muito para o local, não temos aquela impressão de estar num circo armado, onde tudo gira em torno de turistas e souvenirs de viagem. Ainda é possível flagrar a rotina dos moradores, que permanecem alheios à movimentação causada pelos turistas. Assistir a uma conversa de janela para janela que toma conta das ruelas como um ritual cotidiano, ficar hospedado numa pousada cujo dono só fala italiano e absorver um pouco do ritmo de vida de um lugar onde todos se conhecem pelo nome. Mesmo que você não seja poeta ou escritor, vai achar tudo isso muito inspirador.



Casa


Viva o

verde P O R I R E N E M A R C O N D E S F OTO S L E T Í C I A R E M I Ã O Nós que moramos nos centros urbanos e enfrentamos diariamente o estresse da vida moderna sabemos o valor que tem aquele pedacinho de natureza projetado sob medida para a nossa casa. Pode ser uma varanda rodeada de vasos multicolores, ou quem sabe um amplo espaço com direito a piscina e árvores frondosas... Até mesmo aquela jardineira à beira da janela do quarto pode abrigar temperinhos e cheirinhos que se misturam às brisas das manhãs... O fato é que dedicar alguns minutos do dia aos cuidados ou à contemplação do jardim é uma das melhores maneiras de recarregar as energias, de conviver com a família e de celebrar a chegada do calor. Pensando nisso, selecionamos quatro projetos paisagísticos assinados por renomados profissionais de Porto Alegre, para você se inspirar. Cada um desses jardins revela diferentes soluções para espaços distintos. No entanto, uma semelhança faz com que esses ambientes tenham a mesma magia: cor, aroma, textura, som e sabor surgem em cada um deles com a mesma intensidade. Confira!

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Charmosas Vilas Italianas A mansão erguida no alto da cidade contempla uma vista maravilhosa do Rio Guaíba. Na encosta, outras residências pontilham a vegetação nativa de Porto Alegre. Qualquer semelhança com as vilas italianas é mera coincidência, mas foi exatamente essa a sensação que o arquiteto Raul Hilgert sentiu quando entrou nesta casa pela primeira vez. Contratado pelos proprietários para projetar os 500 m2 de área verde, Hilgert logo imaginou uma composição de plantas e de pedras que imprimisse um aspecto rústico ao lugar, mas com contornos de jardim contemporâneo. Destaque do projeto, os Pinheiros Velas conferem um ar imponente ao local, além de reproduzirem em pequena escala a marcante paisagem da Itália. Outras coníferas, como o Pinheiro Prateado, o Cipreste Dourado e os Juníperos, adaptam-se com facilidade ao clima gaúcho e pontuam o jardim com diversas texturas. “Repare que não plantamos flores, mesmo assim, a variada paleta de tons verdes quebra a monocromia”, diz Hilgert. Outra estratégia do arquiteto foi agrupar as plantas por espécie. Segundo ele, a repetição

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destaca as principais características de cada uma, como cor e volume. Repare na seqüência de Cycas que ladeiam o quiosque projetado pela arquiteta Sandra Tanajura. A fácil manutenção desta ampla área é outro ponto a favor do projeto: o sistema de irrigação é automatizado e a adubação ocorre apenas duas vezes ao ano. Rusticidade com muita classe também nos projetos da piscina e dos móveis. A pedra eleita para brilhar por aqui foi o Granito Marrom Guaíba, tipicamente gaúcho. A borda inclinada da piscina segue o moderno conceito de não limitar o nível da água, deixando que o movimento seja natural, assim como a maré na areia. “Idealizei ainda uma suave queda d’água, que emite um agradável som relaxante”, comenta Hilgert. Para tomar sol e contemplar a vista, o arquiteto desenhou móveis também de granito, que são sustentados por matacões, ou seja, pedras descobertas em escavações. “A natureza se encarregou de esculpir as peças que eu precisava para criar os móveis deste jardim”, conclui Hilgert.



Casa


As Cores do Marrocos As paredes cobertas com tonalidades terrosas e os azulejos hidráulicos com motivos marroquinos revelam a predileção dos proprietários pela cultura árabe. “Meus clientes valorizam a convivência em família, uma boa leitura e bastante privacidade. Essas três diretrizes deram formas ao projeto paisagístico que idealizei para este apartamento em Porto Alegre”, conta a arquiteta Léa Japur. Cobrindo toda a extensão do jardim de 120 m2, decks de madeira de pinus autoclavado e rústicos tijolos de demolição transmitem as sensações de aconchego e de conforto tão valorizadas pela família. O contraponto aos materiais quentes que predominam neste cenário é a arrojada piscina de cor azul profundo, com uma sofisticada borda de pastilhas de vidro. A moderna fonte de aço inox é outra atração: além do efeito estético, proporciona uma refrescante queda d’água e um agradável burburinho. Apaixonada por flores, a proprietária solicitou que o ambiente estivesse sempre colorido e perfumado. Desejo atendido. Vasos de cerâmica acomodam verdadeiros buquês: ao contrário do que muita gente pensa, é possível plantar mais de uma espécie no mes-

mo vaso sem que o crescimento das flores seja afetado. Um bom exemplo são os arranjos das Buganvilea com as Lisimáquias, que pintam esta cobertura de rosa e de amarelo. O gazebo, que exibe um charmoso pergolado coberto por trepadeiras Sapatinho de Judia, desempenha um importante papel. “Para manter o jardim sempre florido é preciso renovar os arranjos a cada estação. As mudas que são retiradas seguem para o gazebo e ali se recuperam para dar novas flores na estação seguinte”, conta Léa. Para que o jardim permaneça verde o ano inteiro, a arquiteta posicionou cactos de diversos tipos nas áreas onde o sol bate intensamente. Quebrando a rigidez desta composição mais selvagem, montou um exuberante vaso de cerâmica com plantas aquáticas das espécies Ninféia, Salvínia e Alface d’Água. Ao lado, uma bromélia com mais de um metro de altura exibe uma exótica flor vermelha. Mas o espetáculo completo só pode ser visto à noite, quando ela delicadamente abre suas flores. Sentiu um aroma no ar? Vasinhos de Alecrim, Hortelã, Orégano, Melissa e Manjericão ficam à disposição da proprietária para incrementar as receitas da família.

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Paisagismo Exuberante Construir um refúgio para os finais de semana era a idéia inicial dos proprietários desta residência. O cenário não poderia ser mais convidativo: um condomínio de casas próximo de Porto Alegre que conserva a atmosfera bucólica do campo combinada com uma boa dose de conforto e de luxo. Campo de golfe, guarita com segurança 24 horas e cafés com mesinhas na calçada conquistaram esta família de tal forma que hoje ela vive aqui permanentemente. O jardim de 1 545 m2 cuidadosamente planejado pela paisagista Susana Nedel teve uma importância fundamental na mudança de planos (e de endereço!) da família. “O lago que fica entre a casa e o campo de golfe era um ponto forte que precisava ser bem explorado no projeto”, relembra Susana. Com o desafio lançado, a paisagista desenhou uma piscina com a borda infinita, em forma de cascata, de modo a fundir a vista de suas águas azuis com as do lago. “Quando estão jogando golfe, nas margens opostas da casa, os proprietários desfrutam do visual diferente e arrojado que esta

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queda d’água proporciona”, descreve Susana. Marca registrada do projeto, o transborde também assume outro papel que vai além da preocupação estética. “O movimento da água da piscina conduz folhas e poeira para que caiam na cascata. Desta forma, 75% dos resíduos se concentram na calha, facilitando a limpeza”, ressalta Susana. Praticidade também na manutenção das plantas que desfilam pelo jardim: o Buriti, o Coqueiro e o Fênix formam o time de palmeiras resistentes às variações climáticas da região. Trepadeiras como as Três Marias, os Jasmim da Índia e as Glicíneas contornam os pergolados do jardim. Ao redor da piscina, nesgas de grama preta anã ladeiam as placas de cimento, suavizando a extensão do piso. “Projetamos também um deck de madeira com uma linguagem idêntica à dos trapiches, para que as pessoas se sintam convidadas a se aproximar do lago”, diz Susana. Visitas freqüentes também dos coloridos beija-flores, que são atraídos pelas flores como o Jasmim do Imperador e a Russélia Vermelha.




Materiais Ecológicos Já diziam os antigos que os menores frascos guardam as melhores essências... Este espaço em Porto Alegre, recémidealizado pelo paisagista Kiko Simch, é a prova de que 35 m2 podem se transformar em um jardim cheio de personalidade e de beleza. “O projeto está pronto há apenas uma semana, mas já é possível ver o resultado final, pois utilizei plantas estruturadas, com um bom porte”, explica Simch. Basta um olhar atento para se perceber a preocupação com a ecologia. Os seis elementos estruturais respeitam a natureza: tijolo de demolição e dormentes no piso, eucalipto e taquara nos muros, seixos provenientes de regiões autorizadas e móveis de madeira certificada pelo Ibama. Isso sem contar com as inúmeras espécies de plantas, adequadas ao clima gaúcho e de fácil manutenção. A opção pela cerca de taquara tratada tem um propósito bem definido. “Os clientes queriam bastante privacidade, sem se sentirem enclausurados. As frestas entre as taquaras deixam o ar e a luz passarem, eliminado essa sensação”, explica. O corredor na entrada do jardim foi um desafio à parte. A

laje irregular e estreita pedia uma solução eficaz. Simch optou por nivelar o chão com os seixos e criar um caminho com os tijolos de demolição. As espécies de plantas foram escolhidas criteriosamente de forma a ampliar visualmente a área. Resultado obtido com a ajuda dos esguios Bambuzinhos, com a seqüência delicada das flores Nandinas e com o volume inconfundível dos Agapantus. Para arrematar, Simch posicionou a escultura de arenito assinada pelo artista plástico Bez Batti num ponto estratégico do jardim, que pode ser observado por quem caminha pelo corredor. “Próximo da escultura eu criei um ambiente de relax, onde os proprietários podem descansar na namoradeira e curtir o suave barulhinho da fonte”, descreve o paisagista. Plantas de variadas espécies, como o Ligustro, as Strelitzia e a Heliconia, desfilam harmoniosamente pelo canteiro. Ao pé da chaise longue, diversas plantas aromáticas garantem manhãs e tardes com um perfume inconfundível no ar. O Jasmim do Cabo, a Murraia e a Lavanda são algumas amostras das riquezas trazidas para este jardim.

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(con)vivências R U Z A

A M O N

QUERO SER BRIGITTE Vale tudo na luta contra a inércia da rotina Sei que é em dezembro que preparamos a lista de resoluções de ano novo, mas por força das circunstâncias e da arte eu me adiantei em algumas semanas. A precipitação se deu em novembro, enquanto acompanhava a mostra de Cinema Francês – Filmes de Culto e a Seleção de Filmes Bourbon. Dentre os vários exibidos, dois filmes mexeram comigo: “E Deus Criou a Mulher” e “Whisky”. O primeiro me fez sentir saudades de Brigitte Bardot, a precursora de todas as ninfas-bebê, a menina que revolucionou a estética feminina com suas pernas longas e bumbum arrebitado. Mas no filme La Bardot ainda não exibia o look que a consagrou como musa dos anos 60. Fui para casa com muita vontade de revê-la tal qual a tinha em minhas lembranças: louríssima com olhos pintados de kajal. Entrei na internet e durante horas visitei todos os sites sobre a atriz, devorando suas fotos em busca da fórmula que a fez virar mito. Cheguei, enfim, a uma certeza conclusiva: o segredo estava na franja longa, desfiada, negligente, cuidadosamente desgrenhada. Imprimi as fotos mais reveladoras do corte misterioso e fui à procura da tesoura. Meus cabelos inteiros, usados assim há tantos anos, estavam com seus minutos contados. Abri a gaveta e vi o instrumento a postos, como a perguntar: “O que vai ser hoje?”, a que eu respondi: “Quero ser Brigitte”. Já tendo separado os fios que seriam sacrificados, resolvi refletir sobre aquela incontinência cosmética, projetando suas implicações. Cabelos na testa? Franja nos olhos? Brigitte

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não digitava no computador, Brigitte não usava óculos para ler. Brigitte não freqüentava academias (pra quê?), Brigitte não cozinhava aos domingos. É por isso que nas fotos não vemos tique-taques nem grampos nem tiaras. Devolvi a tesoura à gaveta. Não estava pronta para ser Brigitte. Volto a apostar no cinema, e assisto a “Whisky”. O personagem principal se chama Jacobo e, para meu alívio, não usa franja. Já nos primeiros cinco minutos do filme, sinto-me esbofeteada pela rotina de Jacobo. Percebo que é muito fácil se deixar levar pela inércia, fazendo as mesmas coisas durantes tantos dias de tantos anos de uma só vida. Decido que não quero ser Jacobo. Saio da sessão diretamente para o restaurante de um amigo que não vejo há dez anos, ao qual devo uma visita. Na manhã seguinte, ligo para a agência de turismo e programo as três viagens curtas que estava adiando há meses. Mudo o horário da academia, vou a uma festa rave, compro uma iguana. Volto ao espelho, e penso: o que é uma franja para quem adotou um réptil como bicho doméstico? Uso a tesoura. Mesmo com a visão reduzida em 70%, arrebito o nariz e faço beiço de menina mimada. Tento de tudo, mas não viro Brigitte. No máximo, Suzana Vieira. Quer saber? Não importa se Brigitte não se reconheceria em mim. O que importa é que sua franja transformou minha vida. RUZA AMON É JORNALISTA



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ya

Atacama!

YA É UMA EXPRESSÃO MUITO USADA PELOS CHILENOS. SIGNIFICA: SIM, JÁ, AGORA. SINÔNIMO DE CONCORDÂNCIA E ENTUSIASMO. ESTA É A IDÉIA: DIZER “YA” PARA ESTE CANTO ÁRIDO DO CHILE QUE CARREGO NO LADO ESQUERDO DO PEITO. SE VOCÊ ME PERGUNTAR QUANTO TEMPO É O IDEAL PARA FICAR POR LÁ, TEREI QUE DIZER “A VIDA TODA”. SE ISTO NÃO FOR POSSÍVEL, FIQUE O MÁXIMO QUE PUDER! TRÊS DIAS JÁ FOI O SUFICIENTE PARA EU PARTIR COM O CORAÇÃO EM PEDAÇOS. TEXTOS E FOTOS CRIS BERGER


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NO VALLE DE LA LUNA, ASSISTA AO COLORIDO PÔR-DO-SOL DE CIMA DE UMA DUNA

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O deserto é uma terra de ares misteriosos. Como eu poderia imaginar que nele haveria tanta beleza e harmonia? O não saber o que vinha pela frente foi o ingrediente que fez Atacama ganhar ainda mais sabor. Uma deliciosa descoberta que foi me seduzindo, até eu não resistir e me entregar. A porta de entrada para chegar no deserto chileno é por Santiago do Chile. De lá, mais um vôo até o aeroporto de Calama. Uma hora cortando o deserto e pronto – chega-se ao povoado de San Pedro de Atacama. Minha base foi o hotel Explora, que fica bem perto de San Pedro. O povoado localiza-se dentro de um oásis no deserto de Atacama, alimentado pelos rios San Pedro e Vilama. Foi fundado pelos espanhóis em 1520. Os tiwanakus e os incas foram grandes influências culturais para o povo dali. De um lado temos o Oceano Pacífico, de outro, a Cordilheira dos Andes. Entre eles, o deserto e seu oásis. Atacama está a 2.450 metros acima do nível do mar. Noventa por cento dos dias não chove, ou seja, céu azul limpinho e sol radiante a maior parte do tempo. À noite cai a temperatura. No inverno ela pode chegar a menos dois graus. No restante do ano não é tão frio. Um oásis dentro do oásis Na recepção do hotel, drinks de boas-vindas. Eu não sabia o que fazer primeiro: me deixar ficar naquela sala aconchegante com seus largos e confortáveis sofás ou sair para fazer um reconhecimento de território. Estava muito animada para deixar o ócio tomar conta do meu corpo e tratei de percorrer os jardins do hotel. Não há outra palavra para descrevê-los, a não ser: encantadores! Eu diria que os jardins do Explora são um oásis dentro do oásis. As características naturais do deserto



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A AMPLIDÃO PROVOCA UM SENTIMENTO DE PAZ E QUIETUDE


foram preservadas. Reina o rústico e a personalidade local. Mais além, quatro piscinas, estrategicamente acompanhadas de saunas secas. Uma delas aquecida para os nadadores noturnos. Espreguiçadeiras seduzem o olhar. Mas novamente resisti ao “não fazer nada” e me pus em movimento. Astronauta por um dia Primeiro destino a percorrer: Valle de la luna. Começo com uma curiosidade: o solo lunar é tão parecido com o do Valle de la Luna que a Nasa em 1997 testou o veículo-robô Nomad antes de enviá-lo à superfície de Marte. Há 26 milhões de anos ele foi um lago de água salgada, o que explica o fato de os componentes do solo serem o cálcio, o sulfato, a argila e o sal. Singulares formações geológicas enfeitiçam olhares curiosos. Um programa imperdível é ver o pôr-do-sol de cima das dunas do vale. Para chegar em uma delas percorri 5 quilômetros. A caminhada é leve. No final, uma

subida íngreme e o peculiar colorido do fim de tarde do deserto chileno. No meu grupo havia três americanas de Chicago. Uma delas definitivamente não fazia o tipo atlético. Quando vi o tamanho da duna que deveríamos subir, pensei: ela vai desistir. Que nada! Foi no seu ritmo, chegou depois que todo mundo, mas alcançou o topo. Todos vibramos. O vento começou a soprar mais forte, procuro meu agasalho. O sol já se despediu. Agradeço a Deus por estar em um lugar tão mágico. Na volta, desço a duna correndo de braços abertos, brinco que estou na neve e deslizo até a sua base. Acho que neste dia fui um pouco astronauta e deixei a gravidade me conduzir pelo inebriante deserto de Atacama. Não tenha medo de água fria! Agora vou dividir com você um daqueles dias especiais que listo entre as 10 coisas mais legais que fiz na


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AS POESIAS DO DESERTO SE ESCREVEM COM SIMPLICIDADE, FORÇA, MISTÉRIO

vida. Ele começou em cima de duas rodas. Sim, resolvi que uma maneira bacana de explorar o deserto seria de bicicleta. Estava certíssima. Deixei o Explora na companhia da doce Julieta, minha guia. Cuidadosa, ela me fez passar protetor solar, usar boné, óculos e abasteceu minha garrafinha de água durante os 19 quilômetros de pedalada. Lá está a cordilheira, deixando o cenário ainda mais belo com seus planaltos e vulcões. Alguns ainda em atividade. A paisagem oscila entre tons de marrom e amarelo. Cruzei o Salar de Atacama, uma lagoa que evaporou completamente há 4 milhões de anos, deixando o sal petrificado no meio do deserto. É o salar mais extenso do Chile (3 mil quilômetros quadrados) e o terceiro maior do mundo.


A amplidão desperta um sentimento de paz e quietude. Enquanto eu pedalava, meus pensamentos voavam livres. Era profundamente terno fazer parte daquele cenário. A verdade é que o deserto é o lugar perfeito para deixar a imaginação correr solta. Estava adorando a liberdade de pedalar. Atrás de nós a van do Explora para dar suporte no caso de alguma emergência. Tudo correu tranqüilamente. De repente, avisto de longe a Laguna Sejas. Perdi o fôlego. Era paradisíaca a imagem que se formava diante dos meus olhos. Águas turquesas se exibiam no meio da coloração avermelhada do deserto. Na Laguna ao lado, flamingos desfilavam orgulhosos de sua beleza. Um mergulho estava dentro da programação. Levei 15 minutos para ter coragem de entrar em suas águas gélidas.

Até coro se formou: um, dois, três. Eu dizia: por favor, contem até vinte! Tomei coragem e fui. Agora vem a melhor parte: nos primeiros cinqüenta centímetros de profundidade a água é realmente muito fria (não estou exagerando), logo abaixo ela fica extremamente quente. O que a aquece são os vulcões das Cordilheiras dos Andes, que têm forte influência em todo o deserto. A Laguna é como o Mar Morto. A quantidade de sal que existe em suas águas faz com que a densidade aumente, e sem fazer qualquer esforço você se manterá na superfície. Boiar é inevitável. Então lá vai o segredinho: mantenha-se reto, com as pernas esticadas, mexa lentamente os pés; a água quente vai subir e temperar a baixa temperatura. Ao sair da água, mantenha a calma, seu corpo vai arder devido à ação do sal. Garrafas de água

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estarão à sua espera para você se enxaguar. Toalhas também vão esperá-lo. Mordomias do Explora. O dia estava na metade e a sensação era de ter vivido tanto... Olha, eu quase não entrei na Laguna. E digo: jamais teria me perdoado por isso. Foi uma experiência revigorante. Mais uma lição para trazer na bagagem: não tenha medo de água fria. Arrisque, experimente!

EM UMA LAGUNA, FLAMINGOS EXIBIAM ORGULHOSOS SUA BELEZA COR-DE-ROSA

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Viva a independência chilena! Em 18 de setembro de 1810 o Chile declarou sua independência da Espanha. Tive a sorte de estar em San Pedro num dia de festa e presenciar o patriotismo chileno. Bandeirinhas por toda parte e clima festivo. O pessoal do Explora preparou um almoço típico para seus hóspedes. Nos reunimos em uma estância. No horizonte, os Andes compunham um cenário impecável junto às copas amareladas das árvores e o azul do céu. Saboreamos um churrasco, cordeiro e salmão acompanhado do bom vinho chileno. Considerando que eu havia pedalado 19 quilômetros, almoçado e bebido vinho, cheguei a cogitar de esquecer da vida por umas horas, mas meu espírito de repórter falou mais alto. Pedi à Julieta que me levasse a explorar outro recanto atacamenho. Fui conduzida pela minha sorridente guia à trilha de Guatin. O que encontrei por lá? Cactos, muitos cactos no meio de formações rochosas. Gosto de dizer que fui a uma floresta de cactos. Lindíssimos! A Julieta me contou que eles crescem um centímetro por ano. Sua flor chama-se Pasacana, dura apenas um dia e só cresce na primavera. Raramente são vistas. Tive a sorte de admirar uma. O cacto é usado para construir telhados, janelas e portas para isolar o calor. Hoje em dia é proibido cortá-lo nesta região do deserto, pois muitas pessoas o deixavam morrer para fazer artesanato.



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O ESPETÁCULO DOS GÊISERES DEL TATIO COMEÇA AO AMANHECER

Inclusive eles levam uma plaquinha de identificação. Nesta trilha você pode ver cactos enormes de até três metros de altura. Além da exótica beleza, a trilha é um exercício de equilíbrio. Não deixe de percorrê-la – é um dos lugares que carrego com uma especial afeição. Mais um dia chegava ao fim. Que deliciosa sensação de prazer! Quantos lugares deslumbrantes eu conheci e registrei com a minha câmera fotográfica! Repassava cada parte do dia, incansavelmente, para reviver os momentos especiais com que o deserto tão gentilmente havia me presenteado. A beleza dos vulcões Hora de conhecer, na língua dos atacamenhos, “as lágrimas de um homem velho”. Estou falando dos Gêiseres del Tatio, resultado da água gelada subterrânea que


entra em contato com rochas superaquecidas pelas camadas mais baixas do magma vulcânico. O espetáculo começa nas primeiras horas após o sol nascer. A água atinge a temperatura de 850C. Vale a pena conferir a fumaça que sai dos cones vulcânicos. Os Gêiseres del Tatio estão a 4.300 metros de altitude, localizados a duas horas do povoado de San Pedro. Próxima parada: águas termais de Puritama. Você tem duas opções: ir de van ou caminhando. Quem fez o trekking garante que as três horas de caminhada valem a pena. Creio que este trajeto exija algum preparo físico e determinação. Entre em concordância com seus limites e vá em frente. As termas são seis pequenas piscinas naturais aquecidas a 320C por influência dos vulcões. Elas ficam num desfiladeiro. A grandiosidade das montanhas é impres-

sionante e de uma beleza singular. A vegetação é rica, as águas transparentes. Perfeito para relaxar. Um caminho de madeira liga uma piscina à outra. Para completar o dia: um piquenique nas margens de suas águas. Poesias do deserto A fauna do deserto é majestosa. Lhamas, vicunhas, flamingos. As lhamas são animais doces. Fotografei várias bem de pertinho. Um contraluz lindo as iluminou de maneira especial. Muitas usam fitas coloridas nas orelhas. As fitas são colocadas pelo povo pré-hispânico, Lickan Antai, que vive no povoado de Machuca. Tratase de uma antiga tradição. Mais à frente, as vicunhas (da família das lahmas). Selvagens. Se enclausuradas, morrem. Como as compreendi! A liberdade é como oxigênio. A natureza, tão sábia. Hora do balé dos flamin-

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gos: acompanhei, deslumbrada, o vôo dessas aves de corpo rosado e harmoniosa elegância. Mais um cenário mágico é o pequenino vilarejo de Machuca. No alto da montanha, uma igrejinha branca com teto de palha, janelas em arco revelando dois sinos, um muro feito de barro. As poesias do deserto não se escrevem com palavras, mas com simplicidade, força e mistério. Mente quieta e coração tranqüilo Era feriado no povoado de San Pedro de Atacama. A rua Caracoles acordou preguiçosa. Janelas e portas começaram a ser abertas. Cachorros circulavam despreocupadamente. Bicicletas levantavam poeira das ruas de terra. Sentia-me invisível caminhando entre suas casas feitas de adobe. Na praça central, uma igreja do século XVI. Entrei em silêncio e fiquei a observar o teto feito de madeira de cactos gigantes. Depois de explorar o deserto, dê um pulo na colorida feira de artesanatos de San Pedro. Visite o cemitério e descubra por que ele é um ponto turístico da região. Deixe a noite chegar. Você vai encontrar viajantes de todas as partes do mundo. San Pedro é totalmente cosmopolita. Os brasileiros são adorados por aqueles lados. Esbanje nossa habitual simpatia e volte para casa cheio de novos amigos. O deserto de Atacama é um dos melhores lugares do mundo para observar estrelas, planetas e constelações. As altas montanhas seguram as nuvens e garantem um espetáculo sem igual. São milhares de pontinhos luminosos. Última noite. Depois de ficar a observar as crateras da lua em um telescópio, resolvi dar um pulo no povoado para me despedir do deserto. Escolhi o bar Adobe. Ambiente ao ar livre, uma fogueira no chão. Acabei cantarolando: “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo”.

HOSPEDAGEM SAN PEDRO DE ATACAMA – WWW.EXPLORA.COM SANTIAGO DO CHILE – MARRIOTT WWW.MARRIOTT.COM – 0800 891 3311

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Bem Viver C A R LO S

E D U A R D O

T AVA R E S

FORÇA VITAL O homem adoece quando sua condição humana é desvirtuada Confesso que não sei bem quando despertou em mim a vocação pela medicina, mas desde onde me lembro, esta paixão vem de pequeno, ainda na antiga Farmácia D’Arrigo, em Caxias do Sul. Lá eu observava meu velho bisavô aviando com seriedade e compenetração as fórmulas guardadas pelo seu conhecimento farmacêutico trazido da Itália, sua terra natal. Ficava observando cada detalhe do interior da farmácia, com seus frascos, balanças de precisão, os cadinhos, onde eram misturadas as substâncias. O cheiro do cedro dos armários, a luminosidade mística daquela sala... A imaginação do jovem aprendiz ganhava os ares vendo o bom velhinho atender pacientemente quem o procurasse. Embora eu fosse ainda muito pequeno, aquela atmosfera me envolvia como se fosse algo mais do que meramente familiar. Aquilo tudo de alguma forma já estava em mim. Aprendi que, muito mais do que aviar fórmulas, havia nele uma dimensão mais profunda, que ia além da técnica usual para a manufatura dos remédios. Seu sorriso era constante; sua atenção era com tudo e seu carinho para todos. Descobri que seu maior segredo não se escondia nos sais curadores usados para fazer os medicamentos, nem era sua capacidade de discernir sobre algumas prescrições mais elaboradas, ou mesmo estabelecer qual o melhor remédio para esta ou aquela doença. Coisas que fazia muito bem, diga-se de passagem. O que o tornava singular para mim era o profundo sentimento de fidelidade ao que fazia, no que acreditava, no que ele era. A natureza constituiu-o de um talento especial e ele foi fiel a este talento.

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Recebeu de Deus este dom e colocou-o à disposição daqueles que necessitavam de sua arte. Passado o tempo, não se dissipou a fragrância da minha memória. Hoje ainda carrego comigo as verdadeiras essências deixadas pelo vovô D’Arrigo, na sua prática diária de “bem viver”: jamais abdicar das suas crenças, ser fiel sempre aos ditames da sua consciência e respeitar incondicionalmente a voz do coração. Creiam-me que não são meros sofismas alentadores de auto-ajuda, mas um conceito de amor à vida, ao próximo e si mesmo. Se existe uma verdadeira condição para que o homem adoeça, esta diz respeito necessariamente ao desvirtuamento da sua condição humana. É quando ele se afasta do que lhe é mais profundo, mais peculiar, mais íntimo, inseparável e inarredável: o amor à verdade! Convenço-me diariamente de que não existe força mais destruidora e, ao mesmo tempo, regeneradora do que a Força Vital que habita nosso ser. Nela se encontram todas as nossas funções, sentimentos, percepções, vontades. Adoecer é perder-se de si mesmo; é desencontrarse dos seus fundamentos; é negligenciar seus desejos. Curar-se, pelo contrário, é exercitar sua natureza no caminho do bem comum. Amar-se é reconhecer com gratidão o amor maior recebido dAquele que gerou a vida; amar ao próximo é dar desse amor gratuitamente para reverenciar a vida. CARLOS EDUARDO MUNIZ TAVARES É MÉDICO HOMEOPATA UNICISTA



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Arte vva BONSAI É UMA PALAVRA JAPONESA QUE QUER DIZER “CULTIVADO EM BANDEJA”. MAS BASTA APROXIMAR O OLHAR E O ESPÍRITO DESSAS PEQUENAS ÁRVORES PARA DESCOBRIR QUE ELAS SIGNIFICAM MUITO MAIS DO QUE ISSO. BONSAI É A NATUREZA EM SI E SUA REPRESENTAÇÃO. É UMA OBRA DE ARTE EM CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO. É PAIXÃO. E BOTA PAIXÃO NISSO. POR

PAU L A

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O desembarque em Porto Alegre Quando as malas de Eloá Levandowski passaram na alfândega brasileira sem que nenhum fiscal pedisse para abri-las, ela respirou aliviada. Era início dos anos 80 e Eloá voltava pra casa com o marido e os filhos depois de passar dois anos em Itaka, cidadezinha perto de Nova York. Os Levandowski, no entanto, não retornavam sozinhos a Porto Alegre. Nas malas, cuidadosamente acomodados, estavam os novos membros da família. “Meu primeiro contato com bonsai foi em um curso extracurricular na universidade de Cornell, onde meu marido era mestrando.” Estou com Eloá em seu jardim, no meio de centenas de bonsais de diferentes tamanhos e formas. Enquanto me mostra uma minimacieira com maçãzinhas aqui, um pinheiro italiano com mais de cinqüenta anos ali, ela conta como se tornou uma das primeiras bonsaístas da cidade e uma das maiores precursoras dessa arte. Pergunto se, entre tantos belos exemplares, existe um preferido. Ela sorri. “Esse Ficus de 27 anos”, diz apontando para a miniatura de uma figueira. A preferência logo se explica: a pequena árvore é uma daquelas imigrantes ilegais. Há trinta anos, ninguém ouvia falar em bonsai por aqui. Essas mini-árvores, pacientemente moldadas, podiam ser encontradas com mais facilidade nas enciclopédias do que nos jardins. Os bonsaístas eram artistas solitários e autodidatas que dividiam um mesmo sentimento: a vontade de trocar experiências e de compartilhar uma paixão em comum. Em meados da década de 90, dez bonsaístas (entre eles, Eloá) começaram a se reunir mensalmente em Porto Alegre. E os dez foram se multiplicando, começaram a realizar cursos, plantaram a semente de uma associação regional e, quando viram, tinham fincado as raízes do bonsai na cidade. Hoje, a Associação Bonsai Sul, fundada em 1997, tem 125 sócios ativos que se reúnem quinzenalmente para, entre outras coisas, fazer os procedimentos adequados de cada época do ano. Eu des-

MAURI ÁVILA BAPTISTA, PROFESSOR DE BONSAI, ESCOLHEU O GALHO DE UMA ÁRVORE ADULTA QUE JÁ TINHA O FORMATO DE UM MINIBONSAI E APLICOU UMA TÉCNICA DE ENRAIZAMENTO NELE. A MUDA FOI PLANTADA EM UMA GARRAFA DE ÁGUA MINERAL PARA QUE AS RAÍZES CRESCESSEM. AGORA QUE ELAS ESTÃO FORTES, ELE CORTA A GARRAFA E RETIRA O EXCESSO DE TERRA.


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cobri, por exemplo, que há o tempo certo para podar os galhos e podar as raízes, o tempo certo para trocar a terra, o tempo certo para fazer a desfolha, o tempo certo para conduzir os galhos e o tempo certo para fazer a manutenção da poda. Ufa, haja tempo! E disciplina. Eu, pessoalmente, não me sinto capaz de ter um bonsai sequer. Falta-me um quesito fundamental: paciência.

DEPOIS DE FEITA UMA PEQUENA PODA NAS RAÍZES, MAURI COLOCA O SUBSTRATO NO VASINHO. É UTILIZADO UM COMPOSTO COM 50% DE TERRA VEGETAL E 50% DE PEDRISCOS FINOS DE AREIA DE RIO. O MINIBONSAI É PLANTADO COM TODO CUIDADO, E A TERRA É ARRUMADA COM UM PAUZINHO QUE LEMBRA OS HASHIS UTILIZADO NA CULINÁRIA JAPONESA.

Com paciência e muito amor “Quem perde a paciência com o bonsai, tem que encontrar, se não for assim, não pode ter um”, diz Luiz Fernando Rigotti, que há 15 anos freqüenta encontros que abordam o assunto. É sábado e eu estou conversando com ele no final de um curso de minibonsai. Junto com Rigotti, há pelo menos outra dúzia de bonsaístas já experientes. As frases que escuto são tão boas que fico anotando tudo sem parar. Ouço coisas como “quem não matou um bonsai não é bonsaísta, pois tem que sobreviver à decepção de perder um”. Ou, ainda, “não dá pra criar bonsai dentro de casa, como diz um dos maiores mestres no assunto: as árvores existiam muito antes das casas”. Nessa hora, paro de anotar e questiono se só quem tem pátio pode ter bonsai. Flávio Perrone, outro participante do curso, responde muito calmamente que ele mora em apartamento, mas que as sacadas e janelas estão tomadas de bonsais. Luis Macedo Rodrigues, presidente da Associação dos bonsaístas, completa dizendo que todo bonsai precisa de bastante ventilação e luz. Aliás, Luis não sossegou enquanto não encontrou um local onde pudesse acomodar todos os seus bonsais ao ar livre. O “sítio”, como ele carinhosamente chama a morada de suas arvorezinhas, é um oásis no meio do caos. Em plena avenida Azenha, num corredor estreito cedido por um lojista, há uma flora abundante. Mudas, prébonsais, bonsais... Tudo ali, a céu aberto, separado da rua por uma tela. Muitos que passam pensam que é uma floricultura e perguntam por que ela está sempre fechada. E



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ao ouvirem que o dono não vende as plantas, perguntam: “Mas ele é louco?”. Realmente, Luis é louco por seus bonsais. Depois de fazer a poda, por exemplo, ele coloca um pinguinho de pasta cicatrizante em cada galhinho cortado. É por essas e por outras que bonsai é considerado terapia, jardinagem lúdica e forma de preservação. Ou seja, ai de você se considerar essa planta um simples objeto de decoração. Um investimento em você O bonsai é bastante valioso para a maioria dos bonsaístas, não apenas no sentido monetário, mas principalmente no afetivo. “Quando eu saio de férias, sinto muita falta deles, me preocupo demais”, diz Eloá. Realmente, um bonsai exige tanta atenção e cuidado que, muitas vezes, é melhor deixá-lo num hotel. A Viva Bonsai, além da venda de bonsai, oferece hospedagem e hospital. E ainda tem vaso, ferramenta, adubo orgânico e substrato preparado no local. Ah, e lá você também pode fazer cursos que vão do básico ao avançado. Vou com Valdoir Rocha da Silva, o dono da Viva Bonsai, ver o viveiro. Aponto para o bonsai que mais me chama a atenção e pergunto o preço. Fico sabendo que é um Ulmus Parvifolha de aproximadamente 55 anos, que custa 5.800 reais. “Bonsai é um investimento, agrega valor como obra de arte”, diz Valdoir. Mas não se assuste, no geral, este não é um hobby caro. Você pode começar com um bonsai pequenino e ir trabalhando nele (paciência, lembra?). Dependendo da espécie, em uns quatro anos ela já vai ter jeito de árvore miniaturizada. E você, assim como a sua planta, também estará diferente. Todos os meus entrevistados concordaram que quem começa a fazer bonsai fica mais perceptivo, mais atento, passa a olhar o mundo de um jeito diferente. Ou seja, fica mais zen. Como me disse o Luis, presidente da Bonsai Sul: “O caminho do bonsai não tem um fim, é uma eterna transformação”.

MAIS UMA ARRUMADINHA COM A MÃO, PARA GARANTIR QUE A ARVOREZINHA FIQUE FIRME EM SEU VASO, E PRONTO – TEMOS UM JOVEM MINIBONSAI DE ROMANZEIRA. “A SENSAÇÃO É A DE QUE UM FILHO CHEGOU À ADOLESCÊNCIA”, DIZ MAURI. PARA FAZER MINIBONSAI É BOM TER ALGUMA EXPERIÊNCIA COM OS BONSAIS TRADICIONAIS, POIS ELE EXIGE TÉCNICAS MAIS AVANÇADAS.


Bom conselho P O R

M A LU

C O E L H O

ENERGIAS POSITIVAS Coisas que você precisa fazer para começar 2005 Desde se livrar de antigos vícios até cuidar melhor dos detalhes do seu dia-a-dia, acompanhe algumas dicas vitais para quem deseja começar o novo ano com energia positiva e muito bom humor. Veja como: LIMPE O SEU CORAÇÃO: NÃO GUARDE RESSENTIMENTOS, MÁGOAS E CIÚMES. FAÇA AS PAZES COM O SEU CORPO: CURTA-SE DIANTE DO ESPELHO. NÃO TOME DECISÕES IMPOSSÍVEIS DE REALIZAR. RECLAME MENOS DA VIDA E VALORIZE OS MOMENTOS BONS. PERDOE OS ERROS DAS PESSOAS QUE ESTÃO A SUA VOLTA. CUIDE DO PLANETA, FAÇA A SUA PARTE, ECONOMIZE ÁGUA, SEPARE SEU LIXO, PLANTE FLORES E ÁRVORES. DIGA A SEUS AMIGOS O QUANTO ELES SÃO IMPORTANTES PARA VOCÊ. EXPERIMENTE FAZER UMA LIMPA EM COISAS QUE ESTÃO ESTRAGADAS E QUEBRADAS NA SUA CASA, E REPONHA COM NOVIDADES. Como o verão está chegando, junto com o novo ano aproveite para transformar este período em momentos de alto-astral, de fluidos positivos e de vontade de fazer coisas novas e de tomar novas atitudes. E para completar a idéia de harmonia com o novo, coloque pequenos vasos de ervas na janela ensolarada da cozinha, cuide-os e lembre-se de que para uma paz interior maior você deve entender que sua vida depende de você. Aproveite o verão!

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Perfil


Vitor

Ramil POR

P A U L A

TA I T E L B AU M

FOTOS

L E T Í C I A

R E M I Ã O


Perfil ESTOU SEMPRE PRODUZINDO. A MINHA PRODUÇÃO É CONTEMPLATIVA, MAS EU NÃO VITOR RAMIL HABITOU A MINHA CAMA E NEM

TEM UMA FRASE DO TEU NOVO LIVRO QUE É “NASCER LEVA TEMPO”. ENTÃO EU TE PERGUNTO: VITOR RAMIL JÁ NASCEU?

SABE DISSO. NÃO TIVE CORAGEM DE CONTAR.

Eu acho que eu nasci nesses últimos dois anos. Foi um processo bem maluco que eu vivi, bem interessante.

DURANTE A ENTREVISTA, FIQUEI COM VERGONHA DE DIZER QUE, EM 1987, TINHA TODAS AS LETRAS DO DISCO “TANGO” ESCRITAS NAS TÁBUAS DO MEU BELICHE. NÃO VOU DAR UMA DE ADOLESCENTE TIETE, PENSEI. DIAS DEPOIS, ASSISTINDO AO SHOW DE LANÇAMENTO DO SEU

O QUE ACONTECEU NESSES ÚLTIMOS DOIS ANOS? Na verdade, dizer que eu nasci é um certo exagero, porque pretendo seguir nascendo, mas aconteceu de eu me livrar de demoninhos que me atormentavam há muitos anos. Deve ter sido a tal crise dos quarenta. Eu tinha chegado a pensar que a minha criatividade dependia dos meus estados de melancolia. Hoje, no entanto, me sinto mais criativo do que nunca, estando feliz como nunca. Eu não me sentia digno de um elogio, não relaxava, cada conquista era só um passo na direção de algo verdadeiramente bom que eu ainda iria fazer, eu não desfrutava nada. Aceitar-me... Acho que essa foi a chave pro meu “nascimento”.

OITAVO CD, “LONGES”, FOI QUE ME DEI CONTA QUAL A HISTÓRIA DO LIVRO?

DE QUE AINDA SOU A MESMA: UMA GAROTA APAIXONADA POR SEUS VERSOS. VITOR É QUE MUDOU. CONTINUA A SER O IRMÃO MAIS NOVO DO KLEITON E DO KLEDIR E A FAZER MÚSICA

Um cara que está completando trinta anos no dia em que volta à sua cidade natal, Satolep. O livro tem fotos de Pelotas feitas em 1922, e pra cada foto eu criei uma ficção. A história vai se construindo em partes e só lá pela metade do livro o leitor entende quem está narrando e o porquê daquelas fotos. O personagem encontra o João Simões Lopes Netto no Café Aquário, em Pelotas, tem uma longa conversa com ele...

COM UMA PROFUNDIDADE ÍMPAR. MAS, HOJE, MUITA FILOSOFIA...

TAMBÉM É AQUELE QUE INVENTOU A ESTÉTICA

É uma filosofia toda intuitiva, porque eu não chego a ser um leitor de filosofia a ponto de sair filosofando.

DO FRIO. QUE TEVE A CORAGEM DE TROCAR O

TU ÉS MUITO CONTEMPLATIVO? DO TIPO QUE PODE FICAR HORAS VIAJANDO NUMA MESMA IMAGEM?

RIO DE JANEIRO POR PELOTAS. QUE LARGOU AS GRAVADORAS PARA CRIAR UM SELO PRÓPRIO.

Posso, mas não fico. Eu viajo muito rápido, eu não fico parado nunca, eu tô sempre produzindo. A minha produção é contemplativa, não eu.

CONHEÇA AQUI O VITOR RAMIL QUE NÃO PÁRA.

COMO É O TEU PROCESSO DE CRIAÇÃO? EXISTE UMA DISCIPLINA?

ESCRITOR, MÚSICO, POETA, LOUCO DE CARA.

Não, não chega a ter uma disciplina, mas com o tempo tu começas a ter as tuas manias, o teu jeito de fazer a coisa.

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OUVI NA REUNIÃO DE MARKETING DA GRAVADORA QUE JOAQUIM (JOEY) NUNCA IA TOCAR NO RÁDIO QUAIS SÃO AS TUAS MANIAS? Não chego a ter mania, mas sim uns horários em que eu gosto de escrever, como no fim da manhã ou depois do almoço. Sento na minha escrivaninha, deixo tudo bem arrumado e fico com a janela aberta pra rua. Crio o ambiente e ali eu vou me abstraindo pra escrever. Mas isso é na literatura. Com música é diferente, a gente está conversando aqui e, se eu tô com o violão, vou compondo alguma coisa. Não que eu não esteja prestando atenção na conversa...

SEMPRE FOI ASSIM? Na minha casa sempre tinha muita gente. Éramos seis irmãos, pai, mãe e mais uma avó que morava junto. Não tinha silêncio, era sempre zoeira. Eu gostava de compor no corredor de casa. Eu ficava ali, de vez em quando passava um, passava outro, eu me acostumei a compor assim.

O FOCO DO TEU TRABALHO SEMPRE TEM, DE ALGUMA FORMA, REFERÊNCIA A TUA CIDADE, PELOTAS... OU SATOLEP... ÉS ADEPTO DO “CANTA A TUA ALDEIA E CANTARÁS O MUNDO”? Na verdade, eu acho que é mais fácil quando tu defines alguns pontos, onde tu vais te situar, do que tu vais falar. Então eu me apego a algumas coisas, não significa dizer que eu vá dizer: “Oh, como a minha cidade é bonita”, não é isso, eu não tenho essa visão convencional da coisa.

POR QUE A VOLTA PRA PELOTAS DEPOIS DE MORAR NO RIO? Quando eu estava no Rio, fazia muito show, viajava muito, chegava a ficar três meses fora. Isso desestruturava a minha casa, porque a minha mulher ficava sobrecarregada, nossos dois filhos eram muito pequenos, ela nunca conseguia terminar a faculdade de Letras. E, no Rio, eu tava secando. Era na época do rock Brasil, então simplesmente não tinha como fazer a música que eu queria. Aí eu resolvi voltar pra Pelotas, pra casa em que eu praticamente tinha nascido e que tava desocupada. Mas eu não deixei de vir com medo. Com a impressão de “vou me ralar porque eu tô fazendo o anticaminho”.

FOI UMA DECISÃO RADICAL? Foi, mas uma coisa boa, que me tirou toda a ansiedade, foi eu pensar: “Bom, eu tô em Pelotas, não me restou

nada, só me resta criar. Eu não posso pensar no mês que vem, tenho que pensar na minha vida como um todo”. E foi quando eu comecei a fazer os trabalhos que considero mais legais. Porque eu saí do ambiente de gravadora.

A GRAVADORA TE SUFOCAVA? Quando eu gravei o Joaquim (Joey), que é uma música grande, ouvi da gravadora que ela nunca ia tocar no rádio, que era uma porcaria porque durava 8 minutos. E é uma das músicas mais tocadas em rádio, se não for a mais. Então é sinal de que os caras não sabiam tudo. Em gravadora sempre tem um produtor em cima de ti, é uma pressão muito chata.

HOJE TU ÉS DONO DO TEU NARIZ? Hoje eu faço tudo. Esse livro que eu tô editando agora é meu, Satolep Livros, eu faço tudo, eu não quero ninguém me dizendo nada, eu quero que as pessoas legais me digam coisas, eu te dou o original pra tu leres, a gente troca idéias, mas tu não vais me tirar do meu caminho sensível. Antes, ser independente era uma droga. Hoje, o pessoal diz: “Bah, esse cara é um vitorioso, ele tem o selo dele, o cara vende o disco dele no país inteiro”. Às vezes, até fazem uma fantasia que é maior, que não é verdade, porque eu tô ralando como todo mundo.

NÃO É DIFÍCIL SEGURAR ESSA ONDA DE SER INDEPENDENTE? É, é difícil. Às vezes me perguntam: qual é o conselho pra quem tá começando agora? Eu digo: olha, não sigam o meu exemplo. Morar no interior do Rio Grande do Sul, longe de todo mundo... O êxito profissional também tá nos contatos, nas relações pessoais. Mas pensando bem, eu passei a ter muito mais relações pessoais morando em Pelotas. Hoje, eu tenho um monte de amigos em São Paulo e não moro lá. Quando eu vivia no Rio eu era muito mais bicho do mato do que eu sou hoje.

TU NÃO TENS NENHUM PLANO DE SAIR DE PELOTAS? No momento, não. Já tive um desejo de ir embora pra São Paulo. Mas agora inverteu a situação em casa. Minha mulher se doutorou em lingüística e tem um trabalho muito importante, e não quer deixar a universidade na mão. Então tem aquela coisa, eu não sou só.

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Perfil SOU INTERIORANO, GOSTO DE MORAR NO INTERIOR, TRABALHO COM A MINHA JANELA ABERTA PRA RUA OU SEJA, TU ÉS UM CARA DO INTERIOR, FAMÍLIA... Eu sou interiorano, eu gosto de morar no interior, trabalho com a minha janela aberta pra rua. Esses dias, eu tava no Rio e me estressei muito. Engarrafamento... A polícia me parou, me achacou, essas coisas são um inferno, eu não suporto essas coisas.

QUAL A MELODIA QUE ACOMPANHA OS TEUS DIAS? Eu trabalho em silêncio. Mas quando eu tô escrevendo e passa uma charrete, eu sempre paro e fico escutando. É um som superbonito, eu adoro. E de madrugada eu sei que lá pelas três da manhã toca o apito de um trem. Então tem os sons do interior que eu gosto. Uma cidade grande já é um excesso, o som deixa de existir e passa a ser ruído.

NO “LONGES” HÁ VÁRIAS INTERFERÊNCIAS SONORAS, URBANAS... Eu sempre penso o meu arranjo visualmente. A harmonia do meu violão é uma grande planície onde vão entrando as coisas. Mas esse é o conceito geral. E aí, bom, me juntei com o Santiago Vazquez, que é um percursionista que toca comigo desde o Tambong. O Santiago tem essa característica. Ele ia pra trás de um biombo com tudo, chaleira com água, pistolinha de criança, coisa de camelô, palm-top, tudo, até instrumentos de verdade, então ele ficava ali atrás tocando musicalmente, e a gente ia registrando tudo. Depois fazia uma seleção. E isso acabou se tornando uma marca do disco.

FALA UM POUCO DA ESTÉTICA DO FRIO. A expressão surgiu no finalzinho dos anos 80, quando eu estava no Rio, em casa, com o Kleiton. Era junho, a gente ali tomando um mate, um calorão. Na televisão tava passando um carnaval fora de época na Bahia. Aí eu disse: “Pô, tu vê, tchê, eu jamais estaria atrás desse caminhão, eu não me imagino ali agora”. Daqui a pouco mostrou a chegada do frio no sul, o campo, a neve, aquelas imagens todas. Aí eu vi aquilo e me senti estranho ao lugar onde eu estava, me senti deslocado, então eu comecei a me dar conta de um monte de coisas. Pomba, esse deslocamento que a gente sente em relação ao Brasil não é só histórico, político, as nossas guerras e tal, passa por mil outros fatores, entre eles essa questão do clima. Naquele momento, o frio surgiu como uma coisa emblemática

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pra mim. Eu disse: “Pô, mas se a gente não compartilha dessa estética do calor, qual é a nossa onda?”. Nós não temos uma estética do frio que fale de nós, vou constituir essa expressão.

HOJE A ESTÉTICA DO FRIO É UM ESTILO? Na verdade, é uma idéia que não tá concluída. Não é que eu queira algo como: “Ó, essa é a música que eu faço lá no Rio Grande do Sul, se alguém quiser fazer dessa forma...”. Eu não tenho nenhuma pretensão nesse sentido. É simplesmente um acompanhamento crítico do meu trabalho, uma maneira de dar continuidade. É que, hoje, a expressão ficou muito forte.

E AS SETE CIDADES DA MILONGA QUE FAZEM PARTE DA ESTÉTICA DO FRIO: RIGOR, PROFUNDIDADE, CLAREZA, CONCISÃO, PUREZA, BELEZA E MELANCOLIA. COMO ISSO SURGIU? Quando eu pensei na Estética do Frio pela primeira vez, a imagem que me veio foi uma planície bem limpa, um gaúcho tomando seu chimarrão, uma cena bem clássica, aí eu disse: “Tu vê, olha que loucura, eu tô tendo um surto de estereótipos”. Mas aí eu fui me dando conta de que não era isso, era uma oposição ao que eu tava vendo na televisão. E logo eu comecei a pensar nas qualidades daquela cena como imagem. Vi rigor naquela imagem, vi leveza, melancolia...

A ESTÉTICA DO FRIO NÃO PODE TE APRISIONAR? Quando eu dei a palestra sobre Estética do Frio em Genebra eu disse: “Olha, eu quero dizer pra vocês que, se eu voltar daqui a dez anos, eu posso dizer coisas contrárias às que estou dizendo hoje. Não quero que vocês pensem que isso aqui é uma coisa que eu fiz agora e que eu vou passar o resto da minha vida preso”. Tu não podes fazer algo que te imobilize, pelo contrário, tens que fazer algo que te livre de qualquer possibilidade de engessamento.

TUA CASA TÁ SEMPRE CHEIA DE AMIGOS? Não. Eu não recebo quase ninguém. Eu recebia muito antes. Mas eu levei algumas lições da vida. Quando eu voltei a Pelotas, eu deixava a porta da rua aberta, meus filhos pequenos brincavam na rua. Até que um dia o meu vizinho entrou e roubou toda a minha casa.



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EU SEMPRE PENSO O MEU ARRANJO VISUALMENTE. A HARMONIA DO MEU VIOLÃO É UMA GRANDE PLANÍCIE COMO ASSIM? Eu tinha um vizinho que era traficante. E os filhos dele brincavam, almoçavam e jantavam lá em casa. Eu era tão ingênuo que, depois do assalto, fui na casa dele pedir ajuda, porque eu sabia que ele conhecia os canais da marginalidade. Eu disse: “Pô, cara, me ajuda a descobrir quem foi”... E ele com a minha roupa no quarto do lado. Depois com o tempo foi me caindo a ficha. Bom, e depois disso, não precisava ser o meu vizinho marginal, muitas pessoas me aprontaram, pessoas próximas, pessoas no geral, nos envolvimentos políticos. Todas as minhas utopias foram embora. Eu até termino o Longes dizendo assim: “Deixo ao vento o que quiser levar, minhas folhas secas de utopia”. Hoje em dia eu sou assim, eu não tenho utopias. Agora eu trato de ser legal, de levar a minha vida, de fazer com que meus filhos tenham uma vida legal, ser correto, boto toda a energia no meu trabalho, se eu tenho alguma contribuição pra dar às pessoas, e ao mundo, é produzindo.

que eu encontrei de me proteger.

COMO É A TUA RELAÇÃO COM O PÚBLICO? O meu público é fiel e acompanha o que eu faço em qualquer lugar. E ele sabe que eu não vou traí-lo. É um público engajado, que me escreve, que me manda coisas, que vai no show, que canta as letras difíceis. Não é um público que se junta em torno de alguém que fez um tema de sucesso. Ele se sente um pouco cúmplice de uma trajetória. Isso é superbom, pra mim é ótimo.

QUAL O CD QUE TU ANDAS OUVINDO ULTIMAMENTE? Eu ouço muito Drexler. Já escutou? É um compositor uruguaio, hoje em dia é meu parceiro, a gente tá fazendo música juntos. Ele mora em Madrid. É fantástico, meu compositor favorito. Tem um disco dele chamado “Eco”, que eu ouço bastante. Miles Davis é um troço que eu ouço sempre, o tempo inteiro.

TU ÉS UMA PESSOA ESPIRITUALIZADA?

E MPB?

Eu fui bastante, eu fazia muito yoga, fazia meditação, fui vegetariano durante sete anos. Mas tudo ainda rescaldo dessa coisa hippie, eu adorava isso.

“Poeira Leve”, da Adriana Maciel. Acho que é um dos melhores discos brasileiros de 2004, realmente bárbaro.

O QUE TE EMOCIONA? PASSOU TUDO? Não, não passou, até hoje ainda sou espiritualizado, mas de outro jeito. Não é uma espiritualidade vinculada a nada. Eu me sinto um livre pensador.

TU GOSTAS DE BRINCAR COM AS PALAVRAS: SATOLEP, RAMILONGA...? Eu sempre tenho que fazer um esforço de síntese pra poder escrever letra de música, pra dizer muita coisa num espaço pequeno. Bom, enfim, eu penso alto e rapidamente eu vou atrás do que encerra tudo aquilo. Pode ser uma palavra, ou uma expressão como Estética do Frio. A palavra Satolep, por exemplo, se encheu de significado depois de um tempo. Porque não é Pelotas. É uma visão minha de Pelotas, é Pelotas ao revés. Isso me dá uma liberdade muito grande de falar de Satolep. Eu não tô dizendo Pelotas é assim, assado. Eu sempre falo “Satolep”. Satolep não é Pelotas.Talvez seja uma maneira

Eu me emociono muito facilmente. Ultimamente eu tenho me emocionado e chorado escutando música. Mas eu era muito ruim de chorar. Eu comecei a chorar depois que eu fiz análise. Eu chorei tanto durante a análise que eu saí de lá meio regulado (risos), de vez em quando eu dou uma choradinha e tal.

QUANTO TEMPO DE ANÁLISE? Um ano. E sabe que eu saí da análise produzindo muito melhor do que eu produzia antes?

O QUE TE INSPIRA? Tanta coisa... Pode ser algo que a gente conversa... A coisa da criação é muito mais lúdica do que se imagina. A criação te dá uma adrenalina. No momento em que tu tá criando deve liberar alguma química, que dá um prazer muito grande. Esse prazer da criação é fantástico. Eu recomendo. Essa droga eu recomendo... Estilo Zaffari

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EU GOSTO DE INVENTAR, NÃO LIDO BEM COM RECEITA. É BEM PARECIDO COM A MINHA VIDA NO GERAL PLANOS PRA 2005... Eu adoraria terminar meu livro, Satolep, e lançá-lo. E a gente tem também plano de fazer uma turnê com o “Longes”. A mesma coisa que fez com o “Tambong”.

Talvez missoshiro, aquela sopinha japonesa, que te dá uma levantada, se eu tomasse um missoshiro agora... falava mais seis horas sem parar.

QUAL A COMIDA PRA NAMORAR À LUZ DE VELAS? CARNÍVORO OU VEGETARIANO? Adoro carne, adoro churrasco, ontem fiz um churrasco na casa do Kleiton. Fazer churrasco no pátio é o máximo, com a família, é um momento maravilhoso.

No inverno, eu gosto quando a Ana faz uma sopa de cappelletti maravilhosa, a gente senta, os dois... Mas namorando com os nossos dois filhos junto.

QUAL A COMIDA QUE LEMBRA INFÂNCIA? GOSTAS DE COZINHAR? Meus filhos adoram quando eu vou pra cozinha, mas eu gosto de inventar... Isso é bem parecido com a minha vida no geral. Não lido muito bem com receita. Agora, se eu tenho que criar, se eu começar a pensar no que eu posso fazer com aquelas combinações, isso me interessa.

QUAL A COMIDA QUE TE FAZ FILOSOFAR?

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Massa verde, que a minha vó fazia, massa verde com espinafre, cortava em quadradinhos, assim... Ela passava o dia preparando.

E A COMIDA PRA REUNIR A FAMÍLIA EM VOLTA DA MESA? No domingo, a gente sempre almoça com a minha mãe. Ela cada dia faz um prato diferente. Então, pra reunir a família pode ser a comida feita pela mãe.



Assim, ó... L U Í S

A U G U S TO

F I S C H E R

ARTES DA CANÇÃO Entendendo melhor o lugar que nos cabe neste mundo A canção é a porta de entrada do brasileiro no mundo simbólico, no plano estético, na experiência artística. Por ela nós nos tornamos concidadãos e nos reconhecemos como pertencentes ao mesmo ambiente cultural. (Por ela, pelo futebol e pela televisão, claro.) Tal é a força da canção no Brasil que se pode afirmar, sem exagero algum, que nos últimos 40 anos não há brasileiro sem uma trilha sonora pessoal formada de pedaços dessa longa e sensacional história, colhida do vasto patrimônio que canção popular. Patrimônio que vem de Chiquinha Gonzaga (Ó, abre alas, que eu quero passar), de Catulo da Paixão Cearense (Não há, ó gente, ó não, luar como este do sertão), de Noel Rosa (Com que roupa eu vou ao samba que você me convidou?), de Ary Barroso (Meu Brasil brasileiro, meu mulato inzoneiro, vou cantar-te nos meus versos), de Braguinha (Chiquita bacana lá da Martinica se veste com uma casca de banana nanica), de Dorival Caymmi (O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito), de Luiz Gonzaga (Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João, eu perguntei a Deus do céu por que tamanha judiação). Alguém das tuas relações, prezado leitor, não conhece alguma dessas passagens? São jóias que cada brasileiro tem em seu coração e na comunhão virtual com seus patrícios. E tudo isso é anterior à revolução da Bossa Nova, que explodiu em 1958 nas melodias e harmonias de Tom Jobim, nas letras de Vinícius de Morais e na interpretação, voz & violão, de João Gilberto. De então até agora, mais duas ou três gerações vieram cantar nossas dores, maravilhas, sensações, atrapalhações, utopias – nossa vida. O Rio Grande do Sul participa dessa construção coletiva com valores altos, como Lupicínio Rodrigues e Elis Regina, por exemplo. Mas, seguindo a tradição local que nos faz simultaneamente parecidos com o e diferentes do brasileiro tropical, nossa participação é meio de viés, meio de banda, meio de revesgueio. (Não sei explicar direito esta graciosa expressão, que se usa em todo o Sul, do Paraná para baixo. Sei que ali dentro da palavra tem “revés”, que deve ser sua origem, acrescentada de um final sonoro.) Lupicínio, por exemplo: faz samba, como sua geração de gênios nacionais – Ataulfo Alves, Geraldo Pereira, Assis Valente, Cartola e tantos mais –, mas suas

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composições não escondem a marca meio tangueira daqui do estado, uma tristeza que atravessa seus inesquecíveis sambas: “Nunca, nem que o mundo caia sobre mim, nem se Deus mandar, nem mesmo assim, as pazes contigo eu farei”. O samba que se pratica aqui, por sinal, bastante desconhecido da maioria, tem grande qualidade. O prezado leitor quer um exemplo? Está à venda, nas lojas Zaffari, um ótimo CD chamado “Uma canção para Porto Alegre”. Trata-se de um projeto da Secretaria de Cultura da capital, que apresenta sambas de variado tipo, e não só sambas, que celebram a cidade-síntese do Rio Grande. Imperdível. A mesma conta, que nos aproxima e nos afasta em relação às imagens do Brasil – praia-e-coqueiro –, deve ser feita para entender a enorme qualidade das canções de Vitor Ramil. Da mesma geração de compositores que inscreveu o Rio Grande do Sul atual no mundo da MPB, geração de gente como Nei Lisboa, Nelson Coelho de Castro, Bebeto Alves e, na ala jovem, Adriana Calcanhoto, já faz muito tempo que sua arte encontrou um patamar excelente de realização. Vitor tinha uns 18 anos quando gravou “Estrela, estrela”, uma canção de acalanto, uma maravilha que a gente canta como se estivesse rezando. Agora, quando os 18 estão já bem no passado, Vitor lança um novo CD, “Longes”, que vai ficar rodando nos aparelhos de todas as casas e automóveis sensíveis por muito tempo, até que tenhamos recebido tudo o que ele nos oferece. (E pensar que seu revolucionário disco “A paixão de V” está comemorando nada menos que 20 anos...) Com a arte de Vitor Ramil, experimentamos a gostosa sensação de que há, nas redondezas, um artista que prestou atenção às coisas que em nossa retina nem deixaram marca, tão depressa passaram, e deu a elas uma forma superior – uma forma artística, isso mesmo, uma forma que estabiliza as experiências fugazes e por isso nos permite, para sempre, a experiência reconfortante de entender melhor o lugar que nos cabe neste mundo.

LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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