Revista Estilo Zaffari - Edição 31

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A n o 7 N 0 31 R $ 3, 50

CULINÁRIA LIGHT: O DESEJADO EQUILÍBRIO DECORAÇÃO: TECIDOS QUE VESTEM A CASA BANHO DE CACHOEIRA: NATUREZA NA PELE

Paris UM ROLÉ POR SAINT-GERMAIN-DES-PRÉS



NOTA

DO

EDITOR

Trocando de pele Depois de muita praia, muito calor, muito carnaval e ziriguidum, recomeça a vida normal em nossas cidades. Todo mundo ainda meio de ressaca, sofrendo pra domar os hábitos adquiridos nas férias: dormir até 11 da manhã, torrar ao sol do meio-dia, se esbaldar em churrascadas, dormir de novo à tarde, encher a cara de caipirinha e cerveja, badalar todas as noites ou assistir religiosamente ao Big Brother ao lado da criançada... É verdade que uma parcela significativa da população foge desse script praiano como o diabo foge da cruz. Mas a tribo dos antiorla terá igual dificuldade em se readaptar. Como é que o pessoal vai arranjar tempo, agora que é preciso trabalhar de segunda a segunda, pra ler três livros por semana, assistir a todos os filmes em cartaz e fazer happy hours com os amigos todos os dias? Mas nós garantimos: retomar a rotina da vida na cidade pode ser uma delícia. Mesmo que você fique irritadíssimo porque as ruas voltaram a estar cheias. Mesmo que os termômetros marquem 35 graus e o asfalto exale aquele vapor de fervura. Mesmo que você tenha que correr de um lado pro outro, envergando um terno azul-marinho, pra participar de cinco reuniões por dia. Quer saber como transformar este cenário do inferno em uma verdadeira delícia? Então percorra devagar as páginas desta Estilo Zaffari. Pra começar, adote novos critérios à mesa. O dia vai parecer muito mais leve se você estiver leve. Só que, para isso, vai ter que abrir mão da picanha gorda por uns tempos... A culinária light é uma estratégia infalível para atravessar com desenvoltura os dias de calor na cidade. E não pense que estamos falando em dieta de faquir! Experimente as receitas que indicamos e saiba o que é comer com prazer e bom senso. Dedicar-se à casa e empenhar energias na renovação do espaço onde você vive pode ser outra ótima providência. Aproveite para enxergar seu lar com olhos mais atentos – afinal, a cabeça veio descansada das férias, não? – e divirta-se pensando em maneiras de deixá-lo mais bonito e aconchegante. Neste edição, mostramos que os tecidos são uma alternativa muito versátil. Reunimos idéias bárbaras, sugeridas por grandes arquitetos. A Estilo Zaffari “volta ao lar” tem muitas outras matérias interessantes. Apostamos que você vai se encantar com os desenhos de Nik retratando a maravilhosa Paris. E que vai ficar com muuuuuita água na boca vendo as fotos do guia gastronômico de Punta del Este, redigido em tom confessional por Tetê Pacheco. Tem também uma entrevista com a Lya Luft, um roteiro com o que há de melhor pra se comer em Floripa, uma reportagem sobre os alimentos orgânicos e as preciosidades escritas pelos colunistas. Uma edição de arromba, portanto. Mas se nada disso der certo e você embarcar na síndrome de “Quero minhas férias de volta!”, criamos uma saída de emergência. Paula Taitelbaum e Eduardo Iglesias rodaram nossas estradas e várias trilhas secretas em busca das melhores cachoeiras do Estado. Descobriram verdadeiros oásis de natureza, frescor e pura diversão. Se a vida urbana está oprimindo seu espírito, não perca mais tempo. Um banho de água gelada num cenário de encher os olhos é tudo de que você precisa pra se encher de ânimo novo. E bom retorno à realidade!


Correio Milene Leal

PRESENTE PARA NÓS

milene@contextomkt.com.br

Parabéns! Cada momento da Estilo Zaffari é um gratificante presente. Nossa, como vocês sabem fazer melhor, muito melhor. “Ano Novo Vida Nova” faz saber e descobrir ainda mais. Tudo especial, difícil destacar algo. Mas reunir Paula Taitelbaum e Vitor Ramil é dose, overdose. Abraços, parabéns.

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Cris Berger, Irene Marcondes, Paula Taitelbaum, Tetê Pacheco

REVISÃO Flávio Dotti Cesa RUI SPOHR

PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade luciane@contextomkt.com.br ILUSTRAÇÕES Nik FOTOGRAFIA Angela Farias, Cláudio Meneghetti, Cris Berger, Cristiano Sant’Anna, Eduardo Iglesias, Letícia Remião

Que grande honra receber seu e-mail, Rui. Nada pode ser mais gratificante do que ser elogiado por uma pessoa que é referência de bom gosto e estilo. É uma delícia saber que você é nosso leitor e, mais ainda, descobrir que admira nosso trabalho e torce por nós! Saiba que a recíproca é verdadeira. Um grande abraço!

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Camila Abascal, Fredy Anjo, Marcelo Jacobi COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Ruza Amon, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COLABORADORES Arte Plantas, Jorge Curia Filho, Livraria Cultura, Studio AD, Ser e Estar, Ponto de Antiguidades

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

DIRETORA DE ATENDIMENTO DEPTO. DE ATENÇÃO AO LEITOR Renata Xavier Soares renata@contextomkt.com.br A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares PRÉ-IMPRESSÃO Maredi IMPRESSÃO Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

VIAGEM COMPARTILHADA Se a reportagem sobre a Guatemala foi um primor, esta última sobre a Patagônia é um colírio para os olhos! Excelente o trabalho da Cris Berger. Que momentos únicos vocês nos proporcionaram! Se as fotografias trouxeram o visual, as letras nos trouxeram as emoções vividas pela repórter. As fotografias, de uma beleza estonteante, nos fizeram viajar ao desconhecido de maneira extremamente prazerosa, e o texto, escrito com poesia e leveza, nos arrebatou numa viagem emocionante! Agora, cá pra nós, se ler a Lya Luft já é uma delícia, imagine só ter o privilégio único que a Cris Berger teve de fazê-lo numa viagem de sonhos! Quero parabenizar toda a direção da Estilo pela excelente escolha dos seus colaboradores! Sou fã da Martha Medeiros também... Cris, um dia eu e meu marido iremos à Patagônia com as nossas próprias pernas, não com as tuas, tenha certeza! Quem sabe, quando celebrarmos bodas de ouro? Ou antes? Se Deus quiser, antes... O presente do seu aniversário é nosso também, né? LEILA M. SANTOS

Prezada Leila, seu entusiasmo nos deixou muito faceiros! A Patagônia é mesmo irresistível, linda de morrer. Encaminhamos seu e-mail à Cris Berger, para que ela também possa ter a alegria de ler sua mensagem. Um grande abraço e boa sorte na Patagônia, o quanto antes!


COLECIONADORA Apesar de não haver loja do Zaffari em Pelotas – o que é lamentável –, há mais ou menos dois anos coleciono sua revista. Gostaria imensamente de poder assiná-la, a fim de tornar mais fácil e rápida sua aquisição, pois dependo da minha cunhada, que mora em Porto Alegre e que, gentilmente, sempre a adquire para mim. Há ocasiões em que chego a receber duas edições de uma só vez, tal a dificuldade de portador. Leio a revista de “cabo a rabo”, inclusive as propagandas. Adoro-a. A seção de culinária é uma das minhas preferidas e sempre que posso experimento suas receitas. Agradeço a vocês por me proporcionarem uma leitura tão leve e agradável e ao mesmo tempo momentos tão felizes. Um abraço. VERA MOREIRA – PELOTAS

Prezada Vera: em primeiro lugar, estamos honradíssimos em tê-la como colecionadora da nossa revista, especialmente tendo em vista a trabalheira que tem sido fazê-la chegar até a sua casa... Como fãs de Pelotas, também achamos uma pena o Zaffari não estar presente na cidade. Vamos fazer chegar à diretoria da Cia. Zaffari a sua reivindicação. Quem sabe no futuro? Quanto ao envio da revista, embora não tenhamos um sistema de assinaturas em funcionamento, vamos pensar em uma maneira de facilitar a chegada dela ao seu endereço. Aguarde um contato da Renata Soares, que cuida do atendimento aos nossos leitores, ok? Um grande abraço e obrigado pelo carinho.

ROMANCE NA ITÁLIA Oi, gente, escrevo para dizer que amei de paixão a revista de dezembro. Em especial aquele lugarzinho romântico na Itália. Que sonho... as fotos são mágicas. Continuem assim, com uma revista maravilhosa... Beijos a todos. ADRIANA REIS

Que bom que você gostou tanto assim da revista! É maravilhoso receber esses elogios. Vamos continuar, sim, e tentar fazer da Estilo Zaffari uma revista cada vez melhor. Esta edição de fevereiro está linda. Confira! Um abraço.

VIRANDO CRIANÇA A revista Estilo sempre que chega às minhas mãos causa um encantamento que me remete a gostosas sensações infantis. Vira preciosidade como um dia foram as pedrinhas brilhantes encontradas pelas ruas, as folhas coloridas do outono, a lata de biscoitos de Natal. Neste Natal, a edição trouxe uma alegria multiplicada, anunciando uma proximidade tão sonhada. A chegada do Bourbon a nossa cidade garante que, daqui para frente, não perderei mais um só número da Estilo e que, mensalmente, passarei momentos inspiradores na sua companhia. Parabéns, a revista é um convite irresistível a perseguirmos a beleza e a nos nutrirmos das suas inúmeras fontes. ROSANA SPEROTTO, SÃO LEOPOLDO

Rosana, que alegria receber o seu e-mail! Vamos encaminhá-lo à diretoria da Cia.Zaffari, para que eles possam também receber suas carinhosas palavras. Nada pode ser mais gratificante do que receber uma mensagem como essa escrita por um leitor. Desejamos um 2005 maravilhoso pra você, com o Bourbon aí bem pertinho e a Estilo Zaffari sempre na cabeceira, ok? Abraço!

REVISTA SUCULENTA Muito entusiasmada e feliz foi como me senti ao conhecer a revista Estilo Zaffari. Ela é linda, estilosa e recheada de um conteúdo suculento, nutritivo, apetecedor, a tal ponto que a degustamos com muita gula, ficando o gostinho de quero mais. Mas meu entusiasmo esfriou ao saber que ela é vendida somente no “forno” do Zaffari. Sabe, Milene, sou gaúcha de Porto Alegre, mas resido atualmente em Maringá, Paraná. Eu não teria a chanche de assinar a revista e ela ser enviada para cá? Eu amaria. Um grande abraço, um muito feliz 2005 e que continuem assim. Não mudem nada, por favor! CARMEN PETRY

Carmem, suculenta é a sua cartinha! Adoramos! A Estilo Zaffari tem ido longe, e isso nos deixa muito orgulhosos. O difícil é atender a pedidos de tantos e tão diferentes locais... Mas a Renata Soares, que atende os nossos leitores, vai entrar em contato com você para ver se descobrimos um jeito de fazer a revista chegar até Maringá, ok? Um abraço e superobrigado pelas dicas que você mandou!

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Férias Punta del Este é o destino de quem quer alimentar – e muito bem – o corpo e ainda assim ficar de alma leve

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Í N D I C E 7 Cartas 10 Coluna: Cotidiano 12 Cesta Básica 20 Sabor: Culinária Light 44 O Sabor e o Saber 56 Roteiro: Floripa Gastronômica 66 Cachoeiras 90 Perfil: Lya Luft

peso pesado


Vista sua

casa Tecidos bem escolhidos e bem combinados transformam ambientes

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ALIMENTOS ORGÂNICOS: VIDA NO PRATO 36

Encontrando

Paris Um passeio pelas ruas do bairro Saint-Germain-des-Prés

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Cotidiano MARTHA MEDEIR OS

A PEQUENA TORRE EIFFEL Eu caminhava, caminhava e ela crescia à minha frente. Linda! Era minha primeira viagem à Europa. Desembarquei em Londres, onde aluguei um quarto por 15 dias, depois passei um final de semana em Bruxelas com um casal de amigos e finalmente cheguei em Paris, sozinha, de trem. O dinheiro era curto, fui direto para uma pensão indicada por um amigo brasileiro que também era hóspede e que me conseguira uma cama a um preço que era uma pechincha. Então peguei um metrô e lá me fui. Não havia enxergado Paris ainda. Quando saí da estação, visualizei os primeiros prédios. Era domingo, a noite havia caído e o bairro não era exatamente um SaintGermán-des-Prés. Tudo meio désolé. Vi várias fachadas de pequenos salões de beleza, coiffeur, coiffeur, coiffeur, todos fechados. Em poucos passos estava na pensão, um prédio austero, escuro. Mas, voilà, era Paris. Meu amigo brasileiro estava me esperando na porta, ansioso. Permitiu apenas que eu largasse a mochila no quarto, escovasse os dentes e cumprimentasse a dona da pensão, pois estávamos atrasados. Para quê? – perguntei. Então eu não sabia? Tinha jogo do Brasil pela Copa do Mundo. Claro. Junho de 1986. Lá fomos nós pegar um ônibus para assistir à partida na casa de um amigo dele – coiffeur – que morava nos cafundós da cidade, bem longe dos museus, vitrines, cafés, monumentos ou de qualquer outro cartão-postal. Voltei pra casa tarde da noite, com uma vitória da seleção no bolso, mas ainda sem conhecer as luzes da Cidade Luz. Quando acordei na manhã seguinte, coloquei meus melhores tênis – os únicos que eu tinha levado – e saí feito uma bandeirante pela cidade. Havia decidido que iria percorrê-la a

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pé. E meu primeiro destino seria a Torre Eiffel, que eu julgava não estar muito longe. Caminhei umas setes quadras em linha reta e me deparei com o Sena. Ora, a torre fica às margens do Sena, agora é só margeá-lo e darei lá. Dito e feito. Dobrei à direita e segui caminhando pela beira do rio, até que vi, lá adiante, a torre. Tum-tum, tum-tum. Meu coração esmurrava meu peito pedindo pra sair. Que pequeninha a torre, pensei. Mas linda. Mais umas cinco quadras e a alcanço. Caminhei cinco quadras, e mais cinco, e ela crescia à minha frente, e eu pensava, não é tão pequeninha, mas é longe. Caminhei mais sete ou oito quadras, ela crescia à minha frente, e eu não chegava. Caminhei mais dez quadras, e outras dez, e que coisa, ela crescia, mas eu não chegava. Andei, andei, andei, andei, a torre erguia-se diante de meus olhos e eu não chegava. Que linda, mon Dieu, e que distante. Até que, depois de quase duas horas de caminhada, eu estava a seus pés e descobri que ela não era grande: era espantosamente gigantesca, muito maior do que os meus sonhos podiam adivinhar, muito mais impactante do que qualquer foto pudesse reproduzir, muito mais majestosa e bela do que outros viajantes haviam me descrito – e ficava perto de tudo. Mais uma caminhadinha e eu estava na avenida Champs Elysées, e da Champs Elysées para o Louvre, e do Louvre para Saint-German, e de Saint-German para o Quartier Latin. Voilà, agora sim, Paris. Voltei de metrô, logicamente, para o subúrbio, onde ficava aquela pensão que só então entendi por que era tão barata. MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA



Cesta básica FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA-A-DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, CINEMA, LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!

Bistrô da Rua Ao passar pela Dinarte Ribeiro não deixe de dar uma paradinha no número 128, onde fica o Bistrô da Rua. São muitas as razões pelas quais o lugar vale a visita, mesmo que seja apenas para tomar um café: um blend feito especialmente para o Bistrô com três grãos selecionados do serrado mineiro. Mas se você tiver um pouquinho mais de tempo, recomendo a seguinte pedida: uma taça de champanhe e a salada verde da casa, servida em uma cestinha de parmesão feita na hora pela chef Sueli Maldonado, uma das proprietárias do lugar. Além do cardápio fixo, Sueli cria um outro especial a cada semana. E todos os dias o Bistrô oferece um risoto diferente. As mesas são todas de material de demolição e, para estimular o apetite – como se fosse preciso... –, paredes em tom vermelho-alaranjado fazem parte do décor. O happy hour se inicia às 18h30 e o jantar a partir das 20h. Imperdível!

LUCIANE TRINDADE, DESIGNER GRÁFICA


FOTOS: JOANA MOREIRA/DIVULGAÇÃO

Mesa de Cinema Sabe aquele cenário de filme romântico? Casinha no meio do bosque, janela no teto que se abre para as estrelas, lareira e tapete felpudo? Não é ficção. Chamase Pousada do Engenho e fica em São Francisco de Paula. Além de ser um lugar perfeito para o seu roteiro de amor, lá tem um evento muito legal chamado Mesa de Cinema. Eu fui na estréia, que aconteceu em janeiro, e recomendo. Todos os meses, a pousada promove um encontro perfeito para quem curte boa mesa e bons filmes. A primeira parte acontece em um legítimo galpão de engenho com telão e cadeiras confortáveis, onde o pessoal assiste a um filme que tem a ver com gastronomia. Quando o filme termina, tem um batepapo com um convidado especial. Depois, no restaurante da pousada – um espaço superaconchegante, à luz de velas –, aparece a grande estrela da noite: um jantar maravilhoso preparada pelos chefs Ananda e Alex. O filme de estréia foi o clássico A Festa de Babette e, entre muitas delícias que serei incapaz de descrever, foram servidos Blinis à Demidof e Blinis com Zattar, iguarias preparadas por Babette em seu banquete. A idéia é justamente essa: degustar no jantar os pratos do filme assistido. Entre no site www.pousadadoengenho.com.br ou ligue (54) 244-1270.

PAULA TAILTELBAUM, ESCRITORA

Erico Verissimo “Erico Verissimo, 100 anos, o tempo e o vento a passar” é uma publicação histórica, de edição limitada. À venda nas redes Zaffari e Bourbon, o livro proporciona a quem o adquire contribuir para o Instituto do Câncer Infantil, pois a Cia. Zaffari estará doando 100% da venda à instituição. Para estreitar vínculos com o grande escritor gaúcho, ou mesmo para dar início à descoberta da sua obra, não há oportunidade igual. Se a idéia for apresentar a cultura e a história do Rio Grande do Sul a quem ainda não as conheça, o livro é um presente inestimável. Apresentada por Luis Fernando Verissimo, a obra é dicionarizada e reúne cerca de 800 verbetes pesquisados na ampla obra do autor, após estudo realizado pelo escritor Luiz Coronel e pela diretora da Fundação Erico Verissimo, Maria da Glória Bordini. A emoção se completa com o CD que acompanha o livro e contém a trilha sonora da minissérie “O Tempo e o Vento”, de autoria de Tom Jobim.

RUZA AMON, JORNALISTA


Cesta básica

Marisa Monte em dose tripla

POP, MAS COM MUITO ESTILO Show do “Papas da Língua” no Theatro São Pedro é um programa tipicamente porto-alegrense. Mas o CD “Ao Vivo Acústico Papas da Língua”, recémlançado pela Orbeat, ultrapassa as fronteiras do pampa. É música de caráter universal. A coletânea reúne os hits que marcaram a trajetória da banda ao longo dos dez anos de existência, dessa vez desligados da tomada. Sem renunciar à simplicidade e às raízes regionais, o Papas escolheu o mais pomposo teatro da capital como cenário de uma produção de luxo, que contou com a participação de músicos como Cau Netto, Eduardo Bisogno, Branca e Luciano Albo. A viagem no tempo começa ao som de “Democracy”, música que alavancou o grupo em 1993. E segue fazendo paradas em “Pra Gente Passear” e “Espelho Meu”, as novas canções, que demonstram a maturidade sonora dos dez anos de estrada. O toque moderno e urbano fica a cargo dos convidados Tonho Crocco e DJ Anderson, da Ultramen, na faixa “Viajar”, recheada de scratches e com levada funky, contrastando com a voz rouca e sossegada de Serginho Moah. Bem bom

para fechar os olhos e relembrar a última década. RAFAEL TRINDADE, JORNALISTA FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

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É uma caixinha de surpresas. Três DVDs de Marisa Monte, remasterizados e remixados, numa caixa super-bonita criada pelo artista gráfico Gringo Cardia. Além dos shows ao vivo, têm faixas inéditas, ensaios, convidados especiais e por aí vai. O DVD “MM ao Vivo” é Marisa em 1988, no início de carreira, com uma fotografia belíssima e músicas que fazem o delírio dos fãs com “Bem que se quis” na versão original. O DVD “Mais”, de 1991, tem bastante papo e making off: a cantora no aeroporto, no camarim, num ensaio com os Titãs (assista e depois me diga como é que Branco Melo consegue cantar fumando daquele jeito). “Barulhinho Bom”, o DVD de 1996, é a própria viagem musical, a gente vê Marisa Monte com os Novos (velhos) Baianos, cantando com as pastoras da Velha Guarda da Portela e improvisando com Carlinhos Brown. É bom pra ter em casa, degustar com calma e deixar rolando feito CD quando os amigos aparecem. Tem na Livraria Cultura.

PAULA TAITELBAUM, ESCRITORA



Consumo T E T Ê

PAC H E C O

O SOL NÃO NASCEU PARA TODOS No verão, não deixe de usar os Fatores de Proteção ao Ridículo Que não dá para se expor demasiadamente ao sol todo mundo já aprendeu. Proponho iniciar uma nova campanha, a de não se expor demasiadamente ao ridículo no verão. O verão é uma estação jovem por natureza. Aberta, livre, democrática. E é muito comum que, na tentativa de querer fazer parte desse espírito, as pessoas percam um pouco o senso crítico. A praia é para todos, ok. Já as modinhas, alguns biquínis, roupas curtas e decotes, não. Esta coluna pretensiosamente apresenta alguns Fatores de Proteção ao Ridículo que qualquer pessoa de bom senso deveria usar. Regra geral: ficar na dúvida é sinal de maturidade. Respeite sua dúvida. Não use o que você não tem certeza de que está adequado ao seu tipo físico e, principalmente, a sua idade. 1) Piercing no umbigo fica expressamente proibido para maiores de 18 anos. E não se fala mais nisso. 2) Calça de cintura baixa mostra a barriga, portanto... 3) Excesso e praia não combina. Mulheres excessivamente bronzeadas não ficam bonitas. O sol não esconde nada, pelo contrário, deixa ainda mais aparente. As de cabelo excessivamente pintado idem. 4) Biquínis: esse é um fator complicado. Digamos assim, fica muito feio quando o biquíni tapa menos do que deveria. Não é uma questão de pudor. É apreço à estética. 5) Havaianas com calça jeans é moda. E como moda, fica bem em menores de 30. Depois dos 30, estilo e personalidade caem melhor que modas e tendências. 6) Tatuagem tribal: chega, né? 7) Unhas vermelhas nos pés, apesar de que os homens

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odeiam, ficam lindas numa sandália. Já num chinelinho à beira-mar, menos. 8) Boné virado pra trás. Se você enxergar algum homem nessa situação, chame imediatamente o salva-vidas. 9) Caso sua barriga possua mais de uma dobra aparente, entre no mar sem pular as ondas e evite aquele frescobol frenético na beira da praia. Ou use um maiô bem firme. 10) Até o surgimento da lipoaspiração nenhum homem sabia o que era celulite. Fizemos o favor de contar a eles. Agora temos que arcar com as conseqüências: shortinhos e minissaias são só pra quem pode. 11) Tererês e trequinhos de pendurar nos cabelos: resista. Se você tem sobrinhas, filhas pequenas, enteadas ou coisas do gênero, gaste sua vontade com elas. 12) Se você já está no ponto de achar que aquela feira hippie até tem umas coisinhas legais, é hora de terminar as férias. 13) Ouvir a conversa dos outros no celular é a pior coisa do mundo, mesmo quando são situações de trabalho. Mas celular na beira da praia não é a pior coisa, é simplesmente inaceitável. Uma gafe. Um horror. Uma cafonice sem fim. 14) Uma das maneiras mais rápidas de aprender o que fica bem na gente é observar o que fica mal nos outros. Se esforce para não ser o exemplo. 15) Se você for esse tipo insuportável de ser humano, o que vai à praia para olhar os comportamentos alheios (eu!!), não esqueça, use óculos escuros. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA



Sabor

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Culinária

light Em inglês, light tem inúmeros significados, mas quando se fala em comida alguns deles se destacam. Assim, numa tradução bem ampla, light pode ser leve, delicado, digestivo, fácil, frugal, moderado, simples. Já completamente incorporada ao nosso dia-a-dia, a expressão light faz parte de uma verdadeira revolução que vem ocorrendo nas últimas décadas com relação à alimentação. Nunca antes tivemos tanta consciência do que comemos. Como numa espécie de etiqueta gastronômica, nunca fomos tão determinados a adotar ou recusar certos alimentos em nossa rotina. Ficamos horrorizados com a simples menção de algumas comidas que – antes tão comuns nas mesas de

POR BEATRIZ GUIMARÃES

nossos avós – acabaram radicalmente riscadas das nossas listas de compras. Um desses tabus se refere às carnes vermelhas, por exemplo, ou à manteiga, ou aos ovos. A dieta alimentar dos soldados americanos na Segunda Guerra era muito rica em carnes e proteínas, em razão de sua atividade. Acredita-se que soldados tenham necessidade de mais proteínas para poder desempenhar bem suas tarefas. Além disso, supõe-se que uma dieta rica em carnes ativa a mente, desperta os instintos “básicos” e nos torna mais competitivos. Nada mal para quem quer vencer uma guerra. Mas... como não estamos propriamente numa guerra, a dieta pode e deve ser mais leve.

ILUSTRAÇÕES NIK

FOTOS CLÁUDIO MENEGHETTI

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Sabor CONSUMIR ALIMENTOS

É verdade que hoje, numa sociedade bastante automatizada, gastamos pouca energia física, e por isso não precisamos de tanta gordura animal ou de açúcares em excesso, para citar alguns exemplos considerados vilões. As academias tornaram-se os verdadeiros templos modernos, pois parece que é só ali que gastamos as calorias consumidas a mais, e onde moldamos compulsivamente nossos corpos, numa liturgia repetitiva e solitária. Da caça ao supermercado Muito distantes estão os tempos em que os homens precisavam se arriscar para conseguir caça, lutando contra animais ferozes, com armas rudimentares, para trazer para suas tribos algum alimento que garantisse a sobrevivência e a reprodução. A conservação e o transporte dos alimentos foram sempre muito precários até a Revolução Industrial. Assim, o avanço tecnológico acabou trazendo também uma melhoria na produção, na conservação, no transporte e na distribuição dos alimentos. Nunca tivemos tanta oferta de comida, nunca foi tão acessível e variada, nunca houve tanta abundância, tudo como resultado de inovações tecnológicas, de uma agricultura moderna, ágil, de investimentos em pesquisas genéticas, da adoção de novos equipamentos – tudo isso fez com que hoje tenhamos apenas que escolher nas prateleiras dos supermercados o que vamos comer. Basta um esticar de braços para conseguir o que quisermos. Apesar de desigualdades sociais graves, há um fantasma rondando o mundo moderno. A obesidade já chegou a todos os confins do mundo, e aqui no Brasil derrubou um dos mais fortes mitos do marketing político atual: 40% da população brasileira estão acima do peso, dos quais, 10% são obesos. Super size me Além disso, o que antigamente era sinal de riqueza e de saúde – o excesso de peso – hoje é visto como um problema. Num mundo de abundância, em meio a tantos atrativos, ser magro é que é o desafio. Um dos filmes que causaram maior sensação no

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MAIS SAUDÁVEIS SIGNIFICA QUALIDADE DE VIDA

ano passado foi o documentário de Morgan Spurlock, produtor, diretor e cobaia de “Super size me”, onde acompanhamos a transformação assustadora do autor após um mês de consumo exclusivo do chamado fast food. Um exagero, claro, mas aponta para um problema real. Hoje vivemos mais do que em qualquer outra época anterior, e em razão disso as pessoas querem ter mais conforto na sua longevidade. Maior qualidade de vida significa principalmente consumir alimentos mais saudáveis, sem os excessos de gordura animal, moderar os açúcares e evitar alimentos demasiadamente processados. Por isso o consumo de produtos light tem aumentado muito em todo o mundo. Há um crescimento também na busca de produtos como os diet, por exemplo, que são aqueles voltados a um grupo específico de consumidores. Geralmente são alimentos que tiveram um ou mais ingredientes substituídos, modificados ou acrescidos. Este é o caso de produtos destinados aos diabéticos, ou pessoas alérgicas, por exemplo, ao glúten, e assim por diante. Já os alimentos light, que têm um público mais abrangente, procuram ter um teor calórico menor, menos gorduras, sódio ou açúcares, principalmente. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra Nunca a profissão de nutricionista teve tanto prestígio quanto hoje. Seus profissionais são requisitados tanto em prisões como nos programas de TV, passando por escolas, hospitais, empresas, restaurantes, etc. Isto demonstra uma preocupação crescente com o que comemos e com o que deve ser uma alimentação ideal. Fala-se muito também em alimentação funcional: aqueles alimentos que têm uma “função” qualitativa, são mais saudáveis e que atuam, possivelmente, na prevenção de doenças, além de serem nutritivos. Será apenas mais um modismo? Na verdade não há receitas prontas, não há dietas perfeitas, nem somos tão previsíveis assim, a ponto de nos ajustarmos a equações nutricionais equilibradas. Devemos comer de tudo um pouco. Manteiga não faz mal, ao contrário, possui cálcio, e é um alimento mais inte-

gral, sem conservantes. Ovos são excelentes fontes de proteínas, vitaminas necessários ao funcionamento de nosso corpo. Carnes vermelhas não fazem mal de vez em quando, e são essenciais na nossa dieta. O resto, muita fruta fresca, muita verdura, legumes e peixes. Devemos evitar, sim, os alimentos muito processados, com muitos conservantes, sódio e de sabores artificiais. Gastando não vai sobrar Invertendo o dito popular, podemos afirmar que “gastando não vai sobrar”– se tivermos atividade física regularmente, se gastarmos as calorias consumidas em excesso, teremos um bom equilíbrio físico e mental para enfrentar bem a longevidade que nos cabe nestes tempos. Comida não deve ser tortura, mas prazer. O excesso é sempre excesso, e devemos olhar para os nossos antepassados – que comiam de tudo, moderadamente, de torresmo a pão caseiro feito com banha de porco, e viviam bem. Os franceses são muito felizes com sua comida e o seu vinho. Estudiosos chamam de o “paradoxo francês” o fenômeno que ocorre na França, pois, comendo tudo o que comem, os franceses têm a menor taxa de colesterol em comparação com outros povos. Há estudos sendo feitos na região de Veranópolis, no RS – cujos habitantes atingem uma das maiores taxas de longevidade do país –, para investigar as razões desse fato. Nada surpreendente foi descoberto até agora, apenas se constatou que eles comem de tudo um pouco, muitos alimentos são produzidos localmente, inclusive o vinho, e quase todos os idosos trabalham diariamente na sua horta, cuidam dos animais, param para a sesta, têm alguma atividade comunitária, etc. Qual o segredo? Talvez seja como fazem os povos do mediterrâneo, como os franceses, os italianos, os espanhóis, portugueses, entre outros: ter tempo para sentar-se à mesa, comer saladas, carnes, legumes, frutas, vinho tinto, cafezinho, petit fours – e fazer dessa ocasião um momento de alegria, de dividir as preocupações, de divertir-se, de rir e de, literalmente, repartir o pão.

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Sabor

Mousse de Brócolis

Berinjela Grelhada

300 G DE BRÓCOLIS

3 BERINJELAS MÉDIAS

1 COLHER DE AZEITE

1 CEBOLA PICADA

200 ML (3/4 DE XÍCARA) DE CALDO DE

2 A 3 COLHERES DE FARINHA DE ROSCA CASEIRA

LEGUMES OU ÁGUA

3 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES

NOZ-MOSCADA MOÍDA

1 PIMENTÃO VERMELHO BEM PICADO

SAL / 2 OVOS

100 G DE AZEITONAS PRETAS PICADAS

¼ DE XÍCARA DE CREME OU NATA

2 COLHERES DE PARMESÃO

4 COLHERES DE QUEIJO TIPO QUARK

AZEITE / SAL

1 COLHER DE NOZES PICADAS

Modo de fazer: Corte o brócolis e coloque numa frigideira com o azeite por alguns minutos. Acrescente o caldo, sal e a noz-moscada moída. Deixe cozinhar em fogo baixo por uns 10 minutos. Depois de frio, leve ao processador até formar um purê. Bata bem os ovos, acrescente o creme e misture tudo muito bem. Ponha a mistura em vidro refratário untado ou em fôrma. Leve ao forno em banho-maria por aproximadamente 40 minutos. Sirva quente ou frio, guarnecido por queijo tipo quark com nozes por cima.

Modo de fazer: Corte as berinjelas em fatias (mais ou menos 1 cm) e ponha tudo na grelha para assar dos dois lados, até ficar tostada. Retire e reserve. Separe 1/3 da berinjela e corte em cubinhos. Numa frigideira, ponha o azeite, a cebola e deixe-a dourar. Acrescente o pimentão, o tomate, deixando cozinhar mais um pouco. Ponha, então, os cubinhos de berinjela. Cozinhe mais um pouco e adicione o sal e as azeitonas. Retire do fogo, acrescente a farinha de rosca e o parmesão, com cuidado para que o recheio não fique muito seco. Intercale fatias de berinjela com esta mistura, polvilhe mais parmesão e leve ao forno, em fôrma untada, por 8 a 10 minutos. Acrescente mais azeite antes de servir. Pode ser servida quente ou fria.

A BERINJELA É UM LEGUME BASTANTE VERSÁTIL E MUITO RICO EM POTÁSSIO, FIBRAS, CÁLCIO E FÓSFORO. É UM ANTIOXIDANTE IMPORTANTE E TAMBÉM PODE AUXILIAR NA REDUÇÃO DO COLESTEROL. AS AZEITONAS, ALÉM DE SABOROSAS, SÃO EXCELENTES, POIS POSSUEM VITAMINAS E, A E ÓLEOS BENÉFICOS PARA A SAÚDE. O BRÓCOLIS TEM PROPRIEDADES QUE AJUDAM A COMBATER A GASTRITE. ALÉM DISSO, TEM VITAMINAS C E A, POTÁSSIO, CÁLCIO E FIBRAS.

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Sabor


Peito de Frango Recheado com Manga e Sálvia

Pimentões Amarelos na Grelha com Alcaparras

4 FILÉS DE PEITO DE FRANGO (SEM OSSO)

3 PIMENTÕES AMARELOS

1 COPO DE VINHO BRANCO

1 COLHER (SOPA) DE AZEITE

2 DENTES DE ALHO AMASSADOS

1 COLHER (SOPA) DE ALCAPARRAS PICADAS

4 FOLHAS DE SÁLVIA

2 COLHERES DE AMÊNDOAS TOSTADAS E PICADAS

SAL / 1 MANGA

1 DENTE DE ALHO MACHUCADO

AZEITE

SAL / SALSINHA

PAPEL-MANTEIGA / PAPEL-ALUMÍNIO Modo de fazer: Tempere bem os filés de peito de frango e deixe marinando (no vinho branco com alho) por pelo menos 1 hora. Corte a manga em tiras finas. Coloque as tiras de manga e as folhas de sálvia sobre os filés de peito e enrole um a um, envolvendo em papel-manteiga e depois em papel-alumínio. Leve ao forno por uns 20 minutos. Deixe esfriar, abra os rolinhos e fatie. Sirva quente ou frio.

Modo de fazer: Grelhe os pimentões inteiros até ficarem com a casca queimada. Em seguida coloque os pimentões dentro de um saco plástico e feche bem. Depois de alguns minutos, despeje os pimentões em uma vasilha com água e gelo. Deixe ali por 5 a 10 minutos. Em seguida tire a pele, que, desse modo, sairá facilmente. Corte os pimentões em tiras, ponha numa vasilha juntamente com o sal, o alho, o azeite e a salsinha. Na hora de servir, misture as alcaparras e jogue as amêndoas por cima.

A CARNE DE FRANGO É DE FÁCIL PREPARO E FONTE DE PROTEÍNAS. A SÁLVIA É EXCELENTE AUXILIAR NA DIGESTÃO. TAMBÉM É ANTISSÉPTICA, FUNGICIDA, AJUDA NAS AFECÇÕES DA BOCA, ALÉM DE CONTER ESTRÓGENO. OS PIMENTÕES DÃO COLORIDO AOS PRATOS E SÃO RICOS EM VITAMINA C E A. AS ALCAPARRAS SÃO BOTÕES DE FLORES, COM PROPRIEDADES DIURÉTICAS, CALMANTES, ANTI-REUMÁTICAS E ANTIARTRÍTICAS.

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Sabor

Nhoque de Espinafre com Molho de Tomate 500 G DE BATATAS COZIDAS COM CASCA

MOLHO BÁSICO DE TOMATE

100 G DE FARINHA DE TRIGO

1 LATA DE TOMATES INTEIROS SEM PELE

1 OVO / 1 GEMA / SAL / NOZ-MOSCADA MOÍDA

1 CEBOLA PICADA

50 G (1/3 DE XÍCARA) DE PURÊ DE ESPINAFRE

2 COLHERES DE AZEITE

2 COLHERES DE QUEIJO PARMESÃO RALADO

SAL

100 G DE QUEIJO TIPO GORGONZOLA Modo de fazer: Faça um purê das batatas, acrescente a farinha, o ovo, a gema, o sal e a noz moscada moída até formar uma massa homogênea. Retire bem a água do purê de espinafre e misture a essa massa. Acrescente queijo ralado para maior consistência. Faça rolos com a massa e corte os nonhes. Coloque os nhoques, em porções, numa panela com água fervente e sal. Quando eles subirem, retire-os com escumadeira e coloque numa travessa refratária cobrindo com o molho de tomate. Finalize com o restante do molho, ponha pedaços de queijo tipo gorgonzola por cima e leve ao forno por alguns minutos.

Modo de fazer: Ponha numa panela azeite e a cebola picada. Deixe dourar, adicionando os tomates sem pele. Mexa, acrescentando um copo de água fervente e o sal, e deixe cozinhar lentamente por 10 minutos. Desmanche, com a colher, os pedaços de tomates. Retire do fogo e reserve. Este molho serve de base para inúmeros pratos. Mantém-se bem por vários dias na geladeira.

AQUI O ESPINAFRE ACRESCENTA COR E LEVEZA. ELE É RICO EM FERRO, CÁLCIO, ÁCIDO FÓLICO E FIBRAS, ENTRE TANTAS OUTRAS PROPRIEDADES. O TOMATE POSSUI VITAMINA C, ALÉM DE CONTER UMA SUBSTÂNCIA CHAMADA LICOPENO, QUE É UM PODEROSO ANTIOXIDANTE.

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Sabor


Filé de Salmão Grelhado com Salsa Verde 4 FILÉS DE SALMÃO FRESCO

SALSA VERDE

SAL

1 MOLHO DE SALSINHA (SÓ FOLHAS)

LIMÃO

1 MOLHO DE MANJERICÃO (FOLHAS)

1 DENTE DE ALHO AMASSADO

1 PUNHADO DE FOLHAS DE HORTELÃ

2 COLHERES DE AZEITE

1 FILÉ DE ALICHE LAVADO 2 COLHERES DE ALCAPARRAS, LAVADAS

Modo de fazer: Misture todos os temperos e passe nos filés de salmão. Em seguida, coloque os filés sobre uma grelha bem quente. Deixe 5 minutos de cada lado, ou até a superfície ficar bem dourada, e sirva com salsa verde.

1 COLHER (SOPA) DE VINAGRE DE VINHO 3 A 4 COLHERES (SOPA) DE AZEITE 1 COLHER PEQUENA DE MOSTARDA 2 DENTES DE ALHO / 1 PITADA DE SAL Modo de fazer: Pique todos os ingredientes, ou ponha no processador, e por fim adicione o azeite e a mostarda. Sirva ao lado ou sobre o peixe.

A CARNE DE PEIXE É BENÉFICA E MUITO SAUDÁVEL. ALÉM DE SER UMA ÓTIMA FONTE DE PROTEÍNAS, É RICA EM POTÁSSIO, CÁLCIO, VITAMINAS, ESPECIALMENTE A DO SALMÃO, QUE APRESENTA O ÔMEGA 3, UM IMPORTANTE ÓLEO NO COMBATE A DOENÇAS CARDIOVASCULARES. ALÉM DISSO, PREPARAR ALIMENTOS NA GRELHA É MUITO MAIS SABOROSO E MENOS CALÓRICO. AS ERVAS FRESCAS SÃO RICAS EM VITAMINAS E SAIS MINERAIS. A COMBINAÇÃO DESSES VÁRIOS INGREDIENTES É MUITO SAUDÁVEL E SERVE TAMBÉM COMO CONSERVANTE NATURAL.

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Sabor

Suflê de Maracujá

Mousse de Manga

3 GEMAS

400 G DE POLPA DE MANGA

200 G DE AÇÚCAR (2/3 DE XÍCARA)

1 COPO DE 200 ML DE IOGURTE DESNATADO

140 ML (½ XÍCARA) DE SUCO DE MARACUJÁ

1 ENVELOPE DE GELATINA SEM SABOR (12 G)

(6 A 8 FRUTAS)

3 CLARAS BATIDAS EM NEVE

6 CLARAS BATIDAS

3 COLHERES (SOPA) DE AÇÚCAR

1 COLHER DE MANTEIGA

RAMOS DE HORTELÃ (OPCIONAL)

1 COLHER DE AÇÚCAR CONFEITEIRO

RASPAS DE GENGIBRE FRESCO

Modo de fazer: Tire a polpa do maracujá, bata no liquidificador rapidamente. Coe até conseguir a medida necessária. Bata bem as gemas com metade do açúcar. Acrescente o suco de maracujá. Bata bem as claras em neve e acrescente a outra metade do açúcar. Misture com cuidado as claras com as gemas batidas. Leve a uma fôrma ou travessa de suflê untada com manteiga e pulverizada com açúcar, e cozinhe em banho-maria por 10 minutos no topo do fogão. Retire a fôrma do banho-maria e asse em forno médio, pré-aquecido, por uns 30 minutos. Sirva imediatamente e, com uma peneira, pulverize o açúcar confeiteiro por cima.

Modo de fazer: Bata a polpa de manga no liquidificador, com as raspas de gengibre, e depois passe tudo numa peneira, acrescentando o açúcar. Dissolva a gelatina conforme instruções e junte à manga. Combine o iogurte desnatado com as claras em neve e misture tudo muito bem. Teste o açúcar. Junte tudo, misture e coloque em uma travessa apropriada. Leve à geladeira por algumas horas. Enfeite com folhas de hortelã.

O MARACUJÁ É UMA FRUTA PERFUMADÍSSIMA E RICA EM VITAMINAS C, A, B1 E B2. CONTÉM FÓSFORO, CÁLCIO E FERRO, ALÉM DE SER UM TRADICIONAL CALMANTE. A MANGA É UMA FRUTA RICA EM VITAMINAS A E C, E DO COMPLEXO B. CONTÉM TAMBÉM POTÁSSIO E UM POUCO DE FÓSFORO, MAGNÉSIO E FERRO. É UM ALIMENTO COMPLETO E SABOROSO.

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Bem Viver J O R G E

C U R I A

F I L H O

ESQUECEU?!? Pequenos cuidados, memória de elefante No corre-corre do dia-a-dia, milhares de pessoas acabam esquecendo onde colocaram os óculos, onde estão as chaves do carro ou até mesmo em que local do estacionamento está o seu próprio carro !!! No nosso cotidiano a memória tem papel fundamental. Estima-se que o ser humano possua capacidade de armazenar BILHÕES de informações. Diante de tanta informação, pequenos esquecimentos são considerados normais e aceitáveis, e por muitas vezes até motivos de piada, mas quando estes começam a prejudicar nos estudos, no trabalho, nos relacionamentos sociais e, até mesmo, começam a pôr em risco a integridade física de seu portador e seus familiares, aconselha-se buscar orientação de um especialista, pois muitas vezes o déficit de memória é o primeiro sinal de alerta de que algo não vai bem no nosso cérebro. Atualmente sabe-se que a memória do indivíduo até os 70 anos é igual à do adulto jovem. Desta forma, se por algum motivo estiver ocorrendo perda de memória significativa é imprescindível realizar uma investigação para descobrirmos o que está causando este transtorno, com o objetivo de corrigirmos de pronto para evitarmos futuras complicações, já que existem doenças importantes como: Depressão, Distúrbios do Sono, Transtorno de Déficit de Atenção, Doenças Vasculares Cerebrais e Alzheimer, que podem estar associadas a este sintoma. Sabe-se que o esquecimento que ocorre no envelhecimento normal é leve e não compromete as atividades diárias. Já os esquecimentos mais significativos devem ser avaliados por um especialista munido de exames específicos, como, por exemplo, o exame Neuropsicológico, que é realizado no consultório e que fornece dados precisos so-

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bre todas as funções cerebrais, como: memória, percepção, atenção, concentração, raciocínio abstrato, fala escrita, bem como, sobre a personalidade e o emocional que tanto interferem no desempenho intelectual do paciente. (Segundo o Centro de Pesquisa em Doenças Neurodegenerativas do Canadá, o exame Neuropsicológico é capaz de detectar indicadores alterados de memória e atenção em até 2 anos antes da Doença de Alzheimer se manifestar.) Mas é importante salientar que o fundamental para um bom funcionamento da memória é a prevenção. Aqui seguem algumas dicas para manter a sua memória afiada: Preste bastante atenção às informações que receber. Pois sem atenção o mecanismo de fixação do conhecimento não funciona: Tenha uma boa noite de sono, faça atividades físicas e mantenha a alimentação e o peso equilibrados. Pratique atividades que exijam concentração e raciocínio, tais como ler, resolver palavras cruzadas, jogar xadrez... Utilize técnicas de memorização realizando associações entre o que deseja lembrar e algo que você já sabe. Procure fazer cálculos de cabeça antes de recorrer ao papel ou a calculadora Atualize-se. Vá ao teatro, cinema, shows, exposições, etc. Observe tudo e depois comente com alguém a respeito. Procure aprender novos idiomas, novas receitas, realizar novas atividades, ou seja, novas aprendizagens. JORGE CURIA FILHO É NEUROLOGISTA, PÓS-GRADUADO EM NEUROPSICOLOGIA



Saúde

Orgânicos: MAIS SABOR, COR E NUTRIENTES


vida no prato ALIMENTOS ORGÂNICOS SÃO O MÁXIMO

P O R

P AU L A

TA I T E L B AU M

F OTO S

E D U A R D O

I G L E S I A S


Saúde

OS ORGÂNICOS NÃO CONTÊM ADITIVOS QUÍMICOS, Porto Alegre, sábado de manhã, feira de produtos orgânicos. Paro pra comprar maçãs e começo a conversar com o senhor que me atende. Seu Romeu Righs é um pequeno produtor da serra gaúcha e me conta que, pra garantir que sua safra não fosse destruída pela mosquinha que ataca as frutas, ele e a família ensacaram 170 mil maçãs no pé. Uma por uma, eles foram protegendo as maçãs com saquinhos de papel. Eu devo ter feito uma cara de quem não estava acreditando, pois ele logo completou: “É o sistema da Nona, o melhor que existe”. Segui meu caminho pensando que orgânicos são isso: alimentos que parecem ter saído da horta das avós de antigamente. Nada além de nutrientes Na verdade, orgânico é todo alimento que não contém qualquer espécie de aditivo químico. Não tem herbicida, nem fertilizante, muito menos hormônio ou droga veterinária. Isso quer dizer que a lista não se limita a frutas, legumes e verduras. Até a carne e o leite podem

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ser orgânicos, desde que os animais sejam tratados com homeopatia e fitoterapia. O veterinário e homeopata Adriano Echevarne foi um dos pioneiros neste tipo de tratamento em rebanhos bovinos e ovinos no Rio Grande do Sul. “Além de o produto ficar íntegro, leite com gosto de leite, carne com gosto de carne, tem toda a questão do animal ser tranqüilo, e isso melhora o produto consideravelmente.” Entre as várias propriedades que atende, Adriano é o veterinário responsável pelo Sítio Pé na Terra, que fica na Lomba Grande, em São Leopoldo. Talvez por causa do nome, eu estava imaginando que o Pé na Terra fosse uma daquelas comunidades hippies dos anos 70. Ledo engano. Lá, encontrei equipamentos modernos para pasteurização do leite e armazenagem dos produtos. O carro-chefe da produção são os laticínios e a padaria. “O leite aqui é vivo”, diz Adriana Kraemer, que é a responsável pelo desenvolvimento de produtos. Adriana procura ouvir os consumidores que encontra nas feiras ecológicas das


SÃO SAUDÁVEIS E O MEIO AMBIENTE AGRADECE quais participa. “Estamos desenvolvendo uma linha de produtos para criança, pois percebemos que os pais têm uma grande preocupação com a alimentação dos seus filhos.” Além dos queijos, iogurtes, pães e biscoito, agora o Pé na Terra tem picolé e sorvete orgânico pra gurizada. Aproveitando esse gancho, fui atrás da opinião médica. Perguntei à doutora Elza de Mello, membro da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, se está provado que criança que consome orgânico é mais saudável. Segundo ela, não há comprovação científica de que os orgânicos são melhores para a saúde. Perguntei então sobre as alergias e ela disse que algumas crianças são alérgicas a agrotóxicos e aditivos (muitas vezes sem que os pais percebam) e, neste caso, os orgânicos são uma ótima alternativa. A doutora Elza lembrou ainda que, por serem mais gostosos, os alimentos orgânicos fazem com que a criança tenha mais vontade de comer frutas, verduras e legumes.

Por um mundo melhor Na Alemanha, 44% das crianças de 0 a 7 anos só consomem produtos orgânicos. No Reino Unido, cerca de três quartos das famílias compram algum alimento orgânico durante o ano. Além de a oferta ser maior, na Europa o pessoal ganha bem e isso conta na hora de escolher os alimentos. Isso porque, normalmente, quando o produto não tem aditivo químico ele custa um pouquinho mais. A Horta & Arte é o maior produtor de hortaliças sem aditivos do Brasil. O engenheiro agrônomo Filipe Feliz Mesquita é quem está à frente dessa empresa, ou melhor, desse ideal. Questionei por que os orgânicos são mais caros. Ele me explicou que, enquanto em 1 hectare de hortaliça convencional são empregadas duas pessoas para serem feitos os tratos culturais, na mesma área de horticultura orgânica é preciso haver oito pessoas. Como na Europa o poder aquisitivo da população é maior, este também é um dos motivos pelos quais os orgânicos são mais consumidos por lá.

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Saúde

O MERCADO MUNDIAL DE ALIMENTOS ORGÂNICOS Apesar de as verduras, legumes e frutas serem os mais populares no mundo dos orgânicos, a lista de compras pode ser bem maior. Tem bala, geléia, arroz, açúcar, suco, cerveja, azeite de oliva, café, vinho e até ração de cachorro orgânica. Para serem vendidos em supermercados, eles precisam ter a certificação do Instituto Biodinâmico – IBD. Isto ajuda o consumidor a identificar os orgânicos, mas também gera uma taxa sobre o preço final do produto, o que encarece um pouco esses alimentos. Para poder exportar é necessário ter o certificado. O selo do IBD é um atestado de que a empresa se preocupa com a questão social, com a saúde do consumidor e com a preservação do meio ambiente. Na minha opinião, isso só reforça que trabalhar com orgânicos não é pra quem quer lucro rápido, e sim pra quem deseja um mundo melhor. Helio da Silva é diretor comercial da Native, empresa brasileira com sede em São Paulo e maior produtora e exportadora de açúcar orgânico

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do mundo. “A opção pelos orgânicos tem a ver com a vontade de preservar o meio ambiente e melhorar a saúde do ser humano. Eu me sinto um aliado da natureza”, diz Helio. Cooperativa ecológica Porto Alegre tem uma cooperativa ecológica que, há 27 anos, trabalha com a conscientização dos pequenos produtores gaúchos em relação à agricultura orgânica. O pessoal organiza feiras ecológicas, oferece um entreposto de produtos naturais e ainda tem o restaurante vegetariano, que funciona diariamente. Hoje, já são cerca de 600 famílias associadas, cultivando orgânicos em 32 municípios do estado. Conversei com Herta Karp Wiener, nutricionista e uma das fundadoras da cooperativa. Aos 82 anos, essa simpática polonesa radicada no Brasil oferece atendimento nutricional e me conta que muitos que a procuram chegam por orientação médica (de médicos alopatas). “Está


MOVIMENTA CERCA DE US$ 23,5 BILHÕES AO ANO provado que o agrotóxico ataca o nosso organismo. Ele é cumulativo e responsável por pedras na vesícula, gota, artrite, além de diminuir a imunidade”, ela diz. Segundo Dona Herta, as pessoas deveriam experimentar consumir mais orgânicos por um tempo para sentir a diferença no próprio organismo. Ok, ok, eu sei que é quase impossível a gente se alimentar só com produtos desse tipo. Não adianta pirar na batatinha orgânica. A questão é que a opção por diversos produtos está aí – nas feiras, no supermercado, na hortinha que você pode fazer no fundo do quintal. Eu, na medida do possível, estou tentando. O que acontece é que de vez em quando procuro e não encontro laranja. Daí percebo que não está na época da laranja. Ou vou atrás de tomate e descubro que não é tempo de tomate. Que saco, penso... Daí me dou conta da loucura: a gente acaba se acostumando com a falta de naturalidade do mundo.

AO ENTRAR NO MUNDO DOS ORGÂNICOS VOCÊ DESCOBRE: O VERDADEIRO GOSTO DOS ALIMENTOS, POIS ELES AMADURECEM NO TEMPO CERTO E NÃO CONTÊM NADA ALÉM DOS NUTRIENTES. QUE É ÓTIMO COMER A CASCA DE CERTAS FRUTAS, COMO A MAÇÃ, POR EXEMPLO. ELAS SÃO RICAS EM FIBRAS. QUE A MAIORIA DAS PESSOAS, QUANDO SE ACOSTUMA COM OS ORGÂNICOS, PASSA A NÃO COMER MAIS OS ALIMENTOS “ADITIVADOS”. QUE, NO BRASIL, ESTIMA-SE QUE A PRODUÇÃO ORGÂNICA MOVIMENTE ENTRE US$ 90 MILHÕES E US$ 150 MILHÕES POR ANO. MESMO ASSIM, NO BRASIL, MENOS DE 1% DAS TERRAS CULTIVADAS GERA ALIMENTOS LIVRES DE AGROTÓXICOS. QUE A MAIOR FEIRA DE PRODUTOS ORGÂNICOS DO MUNDO É A BIOFACH. TODOS OS ANOS, EM FEVEREIRO, EXPOSITORES VINDOS DE DIFERENTES CONTINENTES REÚNEM-SE EM NUREMBERG, NA ALEMANHA. EM 2005, O BRASIL FOI O PAÍS TEMA DO EVENTO.

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Bom conselho P O R

M A LU

C O E L H O

ESPAÇO DOS ORGÂNICOS Às vezes passamos por um pequeno dilema em frente à seção de produtos orgânicos do supermercado. É aquela dúvida: será que realmente são mais saudáveis? Pois a verdade é que, comprovadamente, são. É sabido que concentram mais vitaminas, açúcares e sais minerais que os outros alimentos produzidos com os métodos tradicionais da atualidade. É fácil encontrá-los nos supermercados Zaffari: os alimentos orgânicos são todos certificados, possuem etiqueta de identificação e espaço reservado, com fácil localização. Para ser orgânico não basta ter sido cultivado sem adubo químico ou agrotóxico. São necessários sérios procedimentos de produção, de projetos sociais e preservação do meio ambiente. O consumidor que prefere produtos orgânicos colabora com a natureza, com a melhoria da qualidade de vida de todos os envolvidos no processo de produção e, acima de tudo, leva para a mesa excelente qualidade. Mas não esqueça que o preparo e o armazenamento são muito importantes na preservação das características nutricionais dos produtos orgânicos. Fique atento, também, ao modo de preparo das verduras e legumes, para não perder nutrientes durante o processo de cozimento. Dê preferência para pratos que valorizem os alimentos consumidos ao natural. Saiba que você pode aproveitar até mesmo as cascas dos alimentos orgânicos, pois elas não oferecem nenhum tipo de risco para sua saúde. Aproveite, prepare com elas cremes, sucos, doces, sorvetes, sobremesas e todo tipo de receita que sua imaginação puder criar.

GUARDE ESSAS DICAS DEIXE OS VEGETAIS NA GELADEIRA POR PELO MENOS DUAS HORAS ANTES DE LAVAR. SE LAVÁ-LOS AO CHEGAR DO SUPERMERCADO, ESTARÁ FAZENDO COM QUE O ALIMENTO ABSORVA A ÁGUA. DEPOIS, DEIXE-OS DE MOLHO POR CINCO MINUTOS EM UMA SOLUÇÃO COM 50 ML DE VINAGRE PARA 1 LITRO DE ÁGUA. USE ÁGUA CORRENTE PARA A LIMPEZA. ESCOVE OS LEGUMES EM ÁGUA CORRENTE. NESTE CASO, A SOLUÇÃO DE VINAGRE NÃO É INDICADA, POIS PODE DEIXAR GOSTO. FRUTAS E VERDURAS TÊM BOA DURABILIDADE QUANDO GUARDADOS NOS LOCAIS INDICADOS NA SUA GELADEIRA, ACONDICIONADOS EM SACOS PLÁSTICOS TRANSPARENTES.

TENHA UMA BOA REFEIÇÃO SAUDÁVEL DE ORGÂNICOS AO NATURAL!

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O sabor e o saber F E R NA N D O

LO K S C H I N

VITELA MALGARIN O vinho filosofa, a cerveja ri Mesmo apreciando certas frutas silvestres, os chipanzés evitam comê-las enquanto maduras. Esperam até que se deteriorem e tenham o açúcar transformado em álcool para ingeri-las e usufruírem o seu efeito inebriante. Os chipanzés trocam o sabor da fruta pela intoxicação do álcool, sacrificam a gula pela bebida. Os gambás, o nome está a dizer, a maneira de capturálos é usando uma bebida alcoólica como chamariz. Há muitos exemplos de animais, até mesmo cavalos e jumentos, que sempre que possível recorrem ao álcool. É como se os seres vivos necessitassem da água para viver e do álcool para festejar. Mais do que os outros primatas, o homem é propenso a gostar de álcool. Parece um traço genético, pois é universal: não há cultura que, aproveitando os recursos de seu ambiente, não disponha de uma bebida para uso festivo ou religioso. Não há exceções e é assim desde a Pré-História. Os hominídeos, como os chipanzés, embebedavam-se com frutas, grãos e mel fermentados. Com o tempo, todo tipo de matéria orgânica foi utilizada, desde a banana até a casca de batata. O índio brasileiro produz cauim fazendo com que as mulheres mastiguem e regurgitem mandioca: as idosas e de piores dentes, por terem mais bactérias na boca. Uma substância rara, “guardada escondida pela natureza”, a produção de álcool por fermentação foi a primeira das indústrias. Além de bálsamo para o cotidiano, o álcool era questão de sobrevivência: no frio o álcool evita o congelamento e dá calorias, no calor é um desinfetante, impede a contaminação da água: os germes, como as moscas, não gostam de álcool. Tempos sem cloro e esgoto, as sociedades que prosperaram foram as que criaram maneiras de ingerir água ou fervida (mate, café, chá) ou mesclada a álcool (cerveja, vinho, saquê) como forma de evitar infecções. Tal a pólvora e o vírus, o álcool foi também uma arma: Manhattan é um termo iroquês que significa “local da grande bebedeira” – naquela ilha, os ingleses deram um porre nos índios a fim de subjugá-los.

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Alguns estudiosos sugerem que a agricultura surgiu para que se tivessem bastantes grãos primeiro para produzir álcool e só depois para alimento. A bebida teve precedência sobre a comida. A cevada foi a pioneira dos cereais e a cerveja, a pioneira das bebidas, nascida antes mesmo que o pão. O próprio pão fermentado surgiu no Egito como um acidente de cozinha: a contaminação da massa de pão pelo levedo da cerveja. Séculos depois, os gauleses e ibéricos faziam os pães crescerem derramando a espuma da cerveja que bebiam na massa que sovavam. O fato é que agricultura, pão e cerveja formam uma unidade em que se aplica a famosa questão de Henry Ford: qual o pé mais importante em um banco de três pés? A cerveja é longeva como a civilização. O primeiro texto conhecido, Gilgamesh, fala de uma arca, de muita chuva e cerveja. A mais antiga das receitas não é de comida, é de cerveja, e o Museu Metropolitano de NY exibe um inscrição sumeriana que lista 14 tipos diferentes. Na Babilônia, o código de Hamurabi fazia a defesa do consumidor prevendo ao adulterador da cerveja a pena de morte por afogamento (em água...). Dádivas do Nilo, o Egito abastecia o mundo antigo de trigo e cerveja. Localmente, o dia-a-dia se embebia de cerveja: os nomes são ingleses, mas o happy hour e as beerhouses são instituições egípcias. A cerveja, criação de Osíris, era o único presente digno para o faraó: os pretendentes às suas filhas ofereciam dotes em cerveja. Na Judéia conquistada, os rabinos bebiam vinho, mas os pobres, como eram Jesus e os seus seguidores, bebiam cerveja. Há quem sugira que nas bodas de Canaã o milagre da transformação da água em vinho surgiu de um erro de tradução: Jesus teria transformado água em cerveja... Embora César cruzando o Rubicão (49 A.C.) brindasse seus centuriões com cerveja, os romanos se mantiveram fiéis ao vinho. Mesmo assim, teriam sido suas legiões que levaram a cerveja (55 A.C.) até os povos germânicos, dos quais a bebida se tornou símbolo.


RETIRAR A GORDURA E CORTAR UMA PEÇA DE VITELA EM CUBOS. TEMPERAR COM SAL E PIMENTA E DOURAR. JUNTAR RODELAS DE CEBOLA E ALHO. ACRESCENTAR MOLHO INGLÊS E CERVEJA PRETA. IR REFOGANDO E ACRESCENTAR CERVEJA BRANCA. ADICIONAR TOMATES PELADOS PICADOS SEM SEMENTES. RETIRAR A CARNE E FERVER O MOLHO POR BOM TEMPO. ADICIONAR MANJERICÃO E EXTRATO DE TOMATE. FILTRAR E ENGROSSAR O MOLHO SE NECESSÁRIO. QUANDO HOUVER CONSISTÊNCIA, DEVOLVER A CARNE. ACRESCENTAR MEL E AMÊNDOAS PICADAS. FERVER UM POUCO MAIS E MISTURAR NATA.

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O sabor e o saber F E R N A N D O

LO K S C H I N

Os exércitos recebiam provisões em pão com cerveja ou vinagre para purificar a água. Por isto o legionário romano tinha vinagre para oferecer a Jesus e piorar seu tormento. À medida que o cristianismo se alastrava, foi incorporando, disseminando e aprimorando a cerveja. Não é à toa que Munique (Ger. München), a capital mundial da cerveja, quer dizer ‘monastério’. Todo o mosteiro sem a geografia ou o dinheiro para fazer vinho, fazia cerveja. Numa rotina de jejuns, a cerveja aplacava a fome; numa rotina de carne e peixe salgados, de rezas e cânticos intermináveis, a cerveja aplacava a sede. Para os cínicos, a cerveja seria responsável por muitas vocações religiosas... O clero foi precursor da indústria e comércio de bebidas. Os mosteiros espalhados pelo mundo, com a obrigação de dar abrigo aos peregrinos, criaram todas as bases do turismo moderno: hotel, taberna, agência de viagem e até a polícia rodoviária. Santa Hildegarda misturou o lúpulo do jardim do convento para clarificar e preservar a cerveja, e São Arnaldo usou o filtro do apiário do mosteiro para melhor refiná-la. Há dezenas de santos cervejeiros, mais ainda há milagres: transformação de água de banho em cerveja, multiplicação de barris e canecos, curas de leprosos, apagamentos de incêndios, controles de pragas, brindes conversores de multidões, etc. Santo Agostinho, que nas suas “Confissões” revelava um passado literalmente mergulhado no binômio mulheres&bebidas (“Dai-me a continência e a castidade. Mas não agora”), tornou-se um patrono da cerveja. Além dos santos havia demônios: muitas mulheres foram queimadas como “bruxas da cerveja” acusadas de enfeitiçar barris e evitar a fermentação. Uma descrição elogiosa, a palavra latina para ‘cerveja’ cervisia (Ceres, ‘deusa dos cereais’; vir, ‘força, virtude’) só deixou descendência no espanhol e português. Os outros idiomas latinos absorveram a raiz germânica: o It. birra e o F. biére são afins ao Ger. bier e do I. beer (do L. biber, ‘beber’, ou do H. bre, ‘cevada’).

A cerveja se mesclou de tal forma aos hábitos da Europa do Norte, que o desjejum da Rainha Elizabeth I (séc. XVI) era pura cerveja, o de boa parte de sua corte e súditos também. Não é de estranhar se pensarmos na cerveja de então como granola rala empapada em água e álcool. Os mestres cervejeiros alemães testavam a qualidade do produto com os fundilhos. Despejavam cerveja num estrado e sentavam em cima; ao levantar, a mancha formada informava a consistência da bebida. A cerveja chegou no Brasil de dois modos: era a bebida predileta dos holandeses que invadiram Pernambuco (séc. XVII) e do rei português D. João VI, que se refugiou de Napoleão no Rio de Janeiro (1808). A tradição pioneira da cerveja persiste. Boa parte do trabalho de Pasteur tinha a finalidade de melhorar a cerveja francesa em relação à alemã – a cerveja foi pasteurizada (1864) 22 anos antes do leite! Os compressores de refrigeração foram desenvolvidos para as cervejarias (1870) e só depois passaram aos frigoríficos. O bife de Kobe é feito de reses massageadas com saquê e alimentadas com cerveja, procedimentos que deixam a carne especialmente macia, saborosa e... “salgada”: o bife custa lá mais do que o boi aqui. Campeã do copo, a cerveja passou ao prato; bebida e comida se misturando antes da barriga, na panela. São centenas de pratos em que a cerveja tempera o alimento. Na Alsácia, Bélgica e Alemanha, a cerveja é a bebida e o molho. Realidade não se lava com água, mas se dilui no álcool. Nas veias da História corre cerveja, exemplo de como a grandeza pode ser simples e acessível. Dizia São Arnaldo, a cerveja nasce pelo suor do homem e do amor de Deus. Se o vinho tende à cerimônia, a cerveja é descontração; se o vinho pode ser pretensioso, a cerveja é humilde; se o vinho filosofa, a cerveja ri. Ao pé da letra, extrovertido (extra vertere) é o mesmo que derramado. Cerveja, bebida que deixa os problemas tão consistentes como sua espuma.

FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br



Lugar


Encontrando

Par s NUM ÔNIBUS DE LINHA, O MOTORISTA FALAVA ANIMADAMENTE NO MICROFONE SOBRE CADA LUGAR EM QUE PASSAVA, INTERCALANDO COMENTÁRIOS E BRINCADEIRAS. “AQUI O MUSEU, MAIS ATRÁS A SORBONNE E LOGO ADIANTE A PONTE ST. MICHEL, CRUZANDO O SENA. HOJE ESTÁ UM BELO DIA PARA UM PASSEIO DE BATEAU MOUCHE, NÃO?”. A DISCRIÇÃO FRANCESA DOS PASSAGEIROS — PARISIENSES EM SUA MAIORIA — NÃO ERA SUFICIENTE PARA CONTER OS SORRISOS. NAQUELE MOMENTO, TODOS ERAM TURISTAS NO ÔNIBUS 27, CIRCULANDO POR ESSA CIDADE QUE TEM UM POUCO DE TUDO: SEJAM OS MITOS E A HISTÓRIA QUE A ENVOLVE OU A REALIDADE COTIDIANA, QUE A TORNA IRRESISTÍVEL. T E X TO S

E

I LU S T R A Ç Õ E S

N I K


Lugar O BAIRRO SAINT-GERMAIN-DES-PRÉS É O MELHOR CENÁRIO PARA O ÓCIO, VELHO HÁBITO PARISIENSE


REFINADO E ELEGANTE, O BAIRRO SAINT-GERMAIN-DESPRÉS É HOJE UM LUGAR PARA QUEM ESTÁ EM BUSCA DO ÓCIO. OS PRÓPRIOS PARISIENSES TÊM ESSE SALUTAR HÁBITO E POR LÁ PASSEIAM NOS SÁBADOS À TARDE, EM BUSCA DOS NECESSÁRIOS CLICHÊS DA VELHA PARIS. O BAIRRO ESTÁ REPLETO DE ATRAÇÕES, COMO O MUSEU D´ORSAY, A ESCOLA DE BELAS ARTES, O RIO SENA, O BOULEVARD SAINT-GERMAIN, O JARDIM DE LUXEMBURGO, E É RECHEADO DE LIVRARIAS, ANTIQUÁRIOS, GALERIAS DE ARTE PARA TODOS OS GOSTOS. ALÉM DE HISTÓRIA, MUITA HISTÓRIA A SER DESCOBERTA ENTRE UM CAFÉ E OUTRO. EM FRENTE À IGREJA MAIS ANTIGA DE PARIS, QUE NOMEIA O BAIRRO, ESTÃO OS DOIS CAFÉS VIZI-

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Lugar

NHOS, O FLORE E O DEUX MAGOTS, QUE SERVIRAM DE PONTO DE

RIA REVOLUCIONÁRIA DA FRANÇA. NADA DESTOA, JÁ QUE ESTA-

ENCONTRO PARA POETAS, PINTORES E FILÓSOFOS. GENTE COMO

MOS QUASE AO LADO DO LE PROCOPE, BISTRÔ COM SEUS MAIS

SARTRE E SIMONE DE BEAUVOIR, QUE NAS DÉCADAS DE 40 E 50

DE TREZENTOS ANOS, OUTRORA FREQÜENTADO PELO ILUSTRE

TRANSFORMARAM SUAS MESAS EM UM ESPAÇO DE PENSAMEN-

PROVOCADOR VOLTAIRE. ALI A HISTÓRIA DEIXOU MARCAS, LEM-

TO E DISCUSSÃO. EM MAIO DE 1968, A ALGUMAS QUADRAS DALI,

BRANÇAS, MAS SEUS CENÁRIOS SEGUEM SENDO LUGARES RE-

UM GRUPO DE ESTUDANTES E OPERÁRIOS USOU COMO QG O

PLETOS DE VIDA. A HISTÓRIA CONTINUA SENDO ESCRITA. VISITAR

TEATRO ODEON, NUM DOS IMPORTANTES MOMENTOS DA HISTÓ-

AS LIVRARIAS DO BAIRRO PODE SER UMA MANEIRA DE RESGATAR

NOS CAFÉS, MESAS QUE SE TRANSFORMARAM EM ESPAÇOS DE PENSAMENTO, CULTURA E DISCUSSÃO 52

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ESSE LEGADO DEIXADO POR AQUELES QUE VIVERAM PARIS EM OUTRAS ÉPOCAS. OS LIVREIROS SILENCIOSOS REPRODUZEM A TRANQÜILIDADE DO PRÓPRIO BAIRRO, EM UM MISTO DE DISCRIÇÃO E CONVITE À LEITURA. COMO OS LIVREIROS, TAMBÉM OS DESENHISTAS PREFEREM AS RUAS SILENCIOSAS E VAZIAS, ONDE SE ESCONDEM DETALHES QUE PODEM REVELAR MUITO MAIS SOBRE A VIDA DE UM LUGAR. MAS PARIS NÃO É UMA CIDADE QUE SE REVELA FACILMENTE. FALAR SOBRE SAINT-GERMAIN-DES-PRÉS É APENAS TRAÇAR LIMITES PARA UMA CIDADE QUASE INDEFINÍVEL, TALVEZ POR SER TANTAS AO MESMO TEMPO. OLHAR ESSE BAIRRO, ANDAR POR ESSAS RUAS É EXPERIMENTAR UMA PARIS EM MINIATURA. MAS NÃO SE ILUDA: PARIS DEVE SER EXPERIMENTADA AOS POUCOS, EM SEUS MÍNIMOS DETALHES, EM SUAS NUANCES DE TONS PASTEL, SEUS CAFÉS, E NA DIVERSIDADE DE SEUS HABITANTES. AS RUAS DE SAINT-GERMAIN-DES-PRÉS, AO QUE TUDO INDICA, PODEM SER O LUGAR PERFEITO PARA INICIAR ESSAS DESCOBERTAS.

LER É OUTRO VÍCIO PARISIENSE, MUITO PRATICADO NAS LIVRARIAS E PRAÇAS DE SAINT-GERMAIN-DES-PRÉS


Roteiro

Sabores do


mar PERTINHO DE NÓS, UMA LINDA ILHA. A ILHA DE FLORIANÓPOLIS. REPLETA DE PRAIAS, LAGOAS, MATA NATIVA, GENTE BONITA. NESTA ILHA, A BOA MESA ENCANTA AQUELES QUE APRECIAM OS SABORES DO MAR. O AZUL DO OCEANO PRENDE O OLHAR, O BALANÇO DAS ONDAS EMBALA SONHOS E IDÉIAS, A BRISA MARINHA NOS ACARICIA. AH! FLORIANÓPOLIS, TERRA PRIVILEGIADA POR TANTAS BELEZAS NATURAIS. SORTE NOSSA QUE FICA AQUI AO LADO. GANHEI A DELICIOSA MISSÃO DE INVESTIGAR OS MELHORES RESTAURANTES DE PEIXES E FRUTOS DO MAR DA CAPITAL CATARINENSE. UMA RESPONSABILIDADE E TANTO. PEÇO PERDÃO ÀS BOAS OPÇÕES QUE FICARAM DE FORA. MAS GARANTO: AS QUE ESTÃO AQUI SÃO DE ENCHER A BOCA D’ÁGUA.

T E X TO S

E

F OTO S

C R I S

B E R G E R

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Roteiro

Ostradamus

OSTRAS SEMPRE FRESQUINHAS NA BEIRA DO MAR

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O paladar pede ostras? Então rume para Ribeirão da Ilha, no sul de Floripa. À beira das águas tranqüilas da baía está o Ostradamus. Um trapiche de madeira com passarela em arco e muitas mesas avança rumo ao oceano. O pôr-do-sol é maravilhoso. E depois que as estrelas chegam ao céu é hora de juntar os amigos, deixar o papo correr solto e saborear as ostras fresquinhas que são especialidades da casa. Além de agradar ao paladar, você vai poder admirar a arquitetura açoriana da região. Ribeirão da Ilha é patrimônio histórico de Florianópolis. O mentor do Ostradamus é o catarinense Jaime Barcelos. Ele começou vendendo cachorro-quente em 1997. Atento ao movimento de pescadores de ostras da região, achou que seria uma boa idéia mudar o menu. Assim, em 1998 as ostras tomaram conta do cardápio. O restaurante foi crescendo aos poucos e, hoje, tem capacidade para atender 120 pessoas. Os garçons são trajados de homens do mar. O serviço é de primeira. E as ostras? Uma delícia. Sempre fresquinhas.


Um Lugar

UM LUGAR CHEIO DE CHARME E ALTA GASTRONOMIA

Um Lugar. O nome não é uma graça? São dois ambientes, um deles ao ar livre. Espere para ver o espaço arejado, belo e moderno que a gourmet Tina Bauer preparou para receber e, por que não dizer, seduzir seus clientes. O melhor: tudo na medida certa, sem exageros. O endereço é a Lagoa da Conceição. Os pratos, elaborados com maestria, talento e intuição. A cada nova estação, um novo cardápio. A Tina pertence a uma família de grandes chefs. Ela cresceu ouvindo “Quando faremos o próximo jantar?”. Pegou gosto por receber, pela criação de receitas diferentes e por brincar com variados sabores e técnicas. Um Lugar é assim: as paredes branquinhas trazem leveza ao ambiente. As mesas são de madeira escura. Folhas de papel pardo se comportam como jogos americanos. Flores, muitas flores dão um toque primaveril ao ambiente. Por todo o restaurante, pinturas emprestam um ar artístico a este adorável Um Lugar. É tão difícil eleger um prato como o grande sucesso da casa... Vou arriscar um palpite: aposte no “Robalo grelhado com legumes aromatizados com ervas”.

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Roteiro

Box 32

JEITO DE BOTECO, BOA COMIDA E ALTO-ASTRAL

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O mercado público de Floripa não poderia ficar de fora. Afinal, são os mercados que revelam a alma de uma cidade. A pedida por lá é o Box 32. Clima de bar descontraído. Um grande balcão separa a cozinha das mesas. Pelas paredes e prateleiras, quadrinhos com fotos de pessoas ilustres que estiveram no Box. Inclusive nosso presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Quem dá o tom ao bar é o proprietário, Beto Barreiros. Além de montar o bar, ele ainda utilizou sua criatividade (que não é pouca) para desenvolver produtos que levam a marca Box 32: cachaça, vinho, copinhos, saca-rolhas. Não há como deixar de trazer um souvenir para casa. No cardápio você encontra desde o pastel de camarão até o nobre presunto patanegra. Sugiro, sem medo de errar, o “Camarão Chef Paulo Cordeiro” e as “Vieiras com manteiga e ervas finas”. Se você pedir algo que não estiver no cardápio, volte no dia seguinte. O Beto vai dar um jeito de realizar seu desejo. Como ele mesmo diz: no Box não há regras fixas. Bacana essa filosofia de vida...


Açor

BACALHAU E AMBIENTE IMPERDÍVEIS

Kukas Crespo é uma linda portuguesa que fisgou o coração do brasileiro Pedro Mesquita. Em 2000, eles resolveram abrir o restaurante Açor, no sul da ilha, no balneário de Açores. O pequeno restaurante tem apenas sete mesas na parte interna. No verão, ganha lugares extras ao ar livre. O Açor é freqüentado por quem mora em Florianópolis. Não é um ótimo sinal? O grande sucesso da casa fica por conta do Bacalhau do Porto, receita de família. Preparado com nata, batata palha feita à mão, cebolas e azeite, arrebata os paladares mais exigentes. Ligue com quatro horas de antecedência e reserve uma mesinha. Do que eu mais gostei no Açor – fora o delicioso bacalhau, é claro – foi a singela intimidade com que os clientes são recebidos. A sensação é de um jantar na casa de amigos. Enquanto o Pedro prepara os drinks, a Kukas comanda a cozinha. Não é um lugar para se chegar com pressa. Vá com calma, tranqüilidade e troque dois dedinhos de prosa com ela. Além de excelente cozinheira, a Kukas é uma simpatia.

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Roteiro

Serviço

ENDEREÇOS DOS RESTAURANTES CITADOS E DE OUTROS TAMBÉM DELICIOSOS

AÇOR

MAR MASSAS

RUA WALDEMAR DE MELLO DIAS, 93 – BALNEÁRIO DOS AÇORES – PÂNTANO DO SUL . FONE (48) 237.7357 DE QUARTA A SEXTA DAS 18 ÀS 24H. SÁBADO E FERIADOS DAS 13 ÀS 24H. DOM. DAS 13 ÀS 22H.

RUA LAURINDO JANUÁRIO DA SILVEIRA 3843 – CANTO DA LAGOA. FONE: (48) 232.6109 DE SEGUNDA À SEXTA DAS 18 ÀS 24H. SÁBADOS, DOMINGOS FERIADOS DAS 12 ÀS 24H

UM LUGAR BISTROT LE BON VIVANT RODOVIA DOS INGLESES, 591. KM 1. FONE: (48) 269.5256 DE SEGUNDA A DOMINGO DAS 20 ÀS 24H.

BOX 32 MERCADO PÚBLICO MUNICIPAL – PARTE INTERNA BOX 32 – CENTRO. FONE: (48) 224.5588 DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA, DAS 10 ÀS 21H30. AOS SÁBADOS, DAS 10 ÀS 15H.

CONFRARIA DAS ARTES RUA JOÃO PACHECO DA COSTA, 31 – LAGOA DA CONCEIÇÃO. FONE: (48) 232.8512 DE TERÇA A DOMINGO DAS 18 À 1H

D’CÂMPORA RODOVIA SC – 401 KM 10, 10.300 – SANTO ANTÔNIO DE LISBOA. FONE: (48)235. 1073 DE TERÇA A SÁBADO DAS 20 ÀS 23H30

RUA MANOEL SEVERINO OLIVEIRA, 371 – LAGOA DA CONCEIÇÃO. FONE: (48) 232.2451 DE SEGUNDA A SÁBADO DAS 20 ÀS 24H.

OSTRADAMUS RODOVIA BALDICERO FILOMENO, 7640 - RIBEIRÃO DA ILHA. FONE: (48) 337.5711 DE TERÇA A SÁBADO DAS 12 ÀS 23H, DOMINGOS DAS 12 ÀS 18H.

RESTAURANTE CABRAL COSTA DO LAGOA – ACESSO DE BARCO PARTINDO DO PARQUE FLORESTAL DO RIO VERMELHO – RUA GERAL GOALBERTO SOARES (ENTRADA EM FRENTE AO CAMPING DA BARRA). FONE: (48) 9982.9234 DE SEGUNDA A SÁBADO DAS 9 ÀS 17H.

TOCA DA GAROUPA RUA ALVES BRITO, 178 – CENTRO. FONE: (48) 223-1220 DE SEGUNDA A DOMINGO DAS 11H45 ÀS 15H E DAS 19 ÀS 24H. SÁBADO, DOMINGO E FERIADOS 11H45 ÀS 16H E DAS 19 ÀS 24H.

AGRADECIMENTO AO APOIO PRESTADO PELA SANTUR E FLORIANÓPOLIS CONVENTION & VISITORS BUREAU

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(con)vivências R U Z A

A M O N

SOB O CÉU DA FERRUGEM Axé music para todos, até para os que não querem ouvi-la Um dos inúmeros poderes esotéricos que as más línguas me atribuem é de levar chuva para Santa Catarina. Tá certo que eu realmente tenho no meu currículo alguns episódios de adivinhação, outros de previsão do futuro, outros tantos de coincidências perturbadoras, mas esta história da nuvenzinha particular sempre foi calúnia, que para meu alívio acaba de ser desmascarada. Neste fim de ano, levei a Santa Catarina uma das piores secas dos últimos tempos, e aqueles amigos que evitam o Estado vizinho quando tomam conhecimento dos meus planos desta vez se deram muito mal. Pois, justamente quando desfrutava de um céu sem nuvens na praia da Ferrugem, pensando em quanto amamos o litoral brasileiro (hoje menos por sua beleza e mais por sua confiabilidade), fui obrigada a deixar as férias de lado e ceder à reflexão antropológica que gerou esta coluna. Em resumo, interrompi o ócio para trabalhar para vocês. Tudo isso porque há menos de 20 metros daquele mar esmeraldino havia uma imensa camionete pick-up equipada com uma fileira de caixas de som na traseira da caçamba. De tamanho impressionante e perfiladas como se estivessem à venda, elas reproduziam em alto e bom som uma axé music de letra duvidosa. Os próprios donos do veículo estavam postados ao lado das caixas, confiantes e sorridentes, orgulhosos de sua generosidade em dividir com toda a praia sua música preferida. Posso estar enganada, mas me pareceu ter visto inclusive um

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boné bem próximo dos seus pés, onde estavam sendo recolhidas contribuições para (quem sabe?) serem compradas caixas maiores...(por que não?). Nada contra a axé music, pois para se dançar não há ritmo mais contagiante. Mas necessitam ser seus discípulos tão invasivos? Assaltada pelo pessimismo, eu me perguntei: haverá um momento em que os amantes da música erudita também queiram expor Mozart, Brahms ou Debussy a situações de tamanho mau gosto? Gostaria de saber como se intitula essa tribo que sadicamente abre seu porta-malas exibindo sua opulência acústica, para o escândalo dos passantes. Também me interessa saber que tipo de força contrária à natureza leva tais pessoas a preferir a poluição sonora no lugar do próprio marulho das ondas, estando a alguns passos do mar. E mais: o que leva a pensar que toda a população da praia queira compartilhar desse desvio de percepção. Tenho certeza de que se eu decidisse dividir com os banhistas da Ferrugem minha paixão pela área La Mamma morta cantada por Maria Callas, algum grupo da praia tomaria providências bem efetivas em relação às minhas caixas de som, e alguém se ocuparia de escrever uma coluna inteira sobre a minha impertinência e excentricidade. Em retribuição antecipada a esta iniciativa que me parece bem razoável, estou escrevendo agora, para vocês, sobre os donos da pick-up da Ferrugem. RUZA AMON É JORNALISTA



Lazer

CACHOEIRA DAS ANDORINHAS


A força das

águas É preciso ter uma certa coragem. Coragem

gem e ir. Mas ir sem medo de ser feliz. Porque

de enfrentar águas gélidas capazes de acordar

chegando lá você será invadido por sensações de

todas as suas células. Coragem de colocar seu

paz, liberdade e euforia. Terá certeza de que o

carro em trilhas que mais parecem um queijo suí-

paraíso existe e de que não é preciso ser um des-

ço. Coragem para deixar a natureza entrar com

bravador das matas ou um ser contemplativo fei-

toda força pelos seus poros. É preciso ter cora-

to eu para amar uma cachoeira.

P O R

P AU L A

TA I T E L B AU M

F OTO S

E D U A R D O

I G L E S I A S

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Lazer

PARQUE DAS CACHOEIRAS: CACHOEIRA DO QUATRILHO


CACHOEIRA PRA BRINCAR Se o seu filho nunca tomou um banho de chuveiro natural, então está mais do que na hora de você levá-lo a uma cachoeira. Minha sugestão é começar pelas Cachoeiras do Mato Fino. São duas quedas d’água que ficam relativamente perto de Porto Alegre. Aos sábados e domingos, o movimento é grande, aliás, grande demais pro meu gosto. Por isso, melhor é ir durante a semana. Na cachoeira maior, há um lago ótimo para nadar e em volta dele tem até areia pra criançada fazer castelinho (leve brinquedos). A água não é das mais frias e a profundidade também não assusta. Atravesse o lago, vá até onde a cachoeira deságua e fique embaixo do aguaceiro por pelo menos uns cinco minutos. É só se encostar no paredão, fechar os olhos e lavar a alma. Pra chegar em Mato Fino, pegue a estrada de Taquara, passe o Pampa Safári e quando chegar na parada 101 de Morungava há uma placa indicativa à esquerda. São uns três quilômetros de estrada de chão, sem muitos buracos e com direito a vaquinhas olhando você passar. Como é um parque, tem entrada. Cinco reais por pessoa, criança pequena não paga. CACHOEIRA PRA MEDITAR Lembra daquele seriado, O Elo Perdido? Pois a Cachoeira das Andorinhas fez com que eu me sentisse no período jurássico. Talvez essa impressão de túnel do tempo tenha sido porque a cachoeira fica no final de uma espécie de corredor de pedra, uma passagem secreta e mágica. Depois de andar por umas piscinas naturais, sobre pedras de todos os tamanhos, você enxerga a cachoeira lá no finalzinho desse corredor. As águas caem em um pequeno lago que fica incrivelmente verde ao receber os raios de sol. Por isso, o horário mais lindo é entre meio-dia e uma da tarde. Merece que você fique alguns minutos em silêncio, só olhando e meditando. E não se intimide com a água gelada, de doer os ossos. Eu só não tive coragem de nadar até a queda d’água porque ela me pareceu misteriosa demais, como se eu realmente fosse sair no... Elo Perdido. A Cachoeira das Andorinhas fica a uns 90 km de Porto Alegre, em Rolante. Vá até Taquara e dobre à direita, na indicação Rolante/Riozinho. Siga como se fosse para Riozinho até chegar em uma placa que indica a Cachoeira das Andorinhas à esquerda. Prepare-se para enfrentar alguns buracos, mas não desista. Na verdade, desista quando a passagem de carro ficar realmente impossível. Então estacione na sombra e siga a pé. Uma dica: o rio à beira do caminho é de águas calmas e ótimo para banho.

CACHOEIRA DA PEDRA BRANCA

TUDO FICA MAIS LEVE DEPOIS DE UM BANHO DE CACHOEIRA

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Lazer

CACHOEIRA DA PEDRA BRANCA

DEIXE O SOM DAS ÁGUAS ENTRAR EM VOCÊ

CACHOEIRA PRA NAMORAR O Parque das Cachoeiras fica em São Francisco de Paula. São oito cachoeiras e é impossível conhecer todas num dia só. Pra tomar banho (e tem que tomar banho!), escolha uma longe da entrada do parque, porque as próximas, apesar de lindas, estão com as águas poluídas. Eu recomendo a Cachoeira do Quatrilho. Só aviso que você precisa ter um pouco de fôlego reservado, já que vai enfrentar uma caminhada de uma hora e meia pra ir e mais uma hora e meia pra voltar. A trilha, no meio da mata, tem indicação e você sente que está chegando quando o barulho das águas fica mais intenso. A cachoeira não é muito alta e possui uma queda maior, uma menor e várias duchinhas. A água, pra variar, é geladérrima e o segredo é respirar fundo, meter a cabeça embaixo de uma ducha e dar um grito muito forte. Aliás, esse é o lugar ideal pra colocar tudo pra fora. E também é ótimo pra namorar, já que, na maioria das vezes, a única companhia mais atenta são as rãs que moram ali. Pra chegar no Parque das Cachoeiras é bem fácil, pois ele é superbem indicado na cidade. A estrada que dá acesso fica à esquerda do lago São Bernardo. CACHOEIRA PRA SONHAR A Cachoeira da Pedra Branca é o paraíso na Terra. Um lugar que me fez chorar de emoção. Sabe aquela sensação de gostar tanto que você não quer dividir? Pois é... Depois mudei de idéia e achei que seria muito egoísmo não colocar essa cachoeira na matéria. Só pra você ter uma noção: a queda tem noventa metros de altura e vem descendo como um enorme véu por cima de uma pedra gigantesca até desaguar em um imenso lago de água cristalina. Tudo é grandioso. Os morros verdes, as pedras, o céu. Só que chegar no paraíso não é fácil. É o próprio Rally da Colônia. E aquele seria o lugar perfeito. Saindo de Porto Alegre, pegue a BR-101 e, em Terra de Areia, entre na Rota do Sol em direção a Caxias do Sul. A cachoeira fica no Distrito de Boa União, no município de Itati, passando Terra de Areia. Como não tem muita indicação, a melhor coisa a fazer é ir perguntando para os moradores locais. A vantagem é que dá pra chegar de carro na beira da cachoeira. E é uma boa opção para quem está na praia, pois fica perto do litoral. TEM MAIS, MUITO MAIS As cachoeiras que eu apresentei aqui são uma gotinha no meio da cascata de maravilhas que é a nossa natureza. Tem muito mais pra você conhecer e descobrir. Cachoeira pra fazer rapel, pra se aventurar, pra se divertir. Tome coragem e vá em frente.

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PARQUE DAS CACHOEIRAS: CACHOEIRA DO REMANSO



Se existe uma pessoa que tem autoridade para falar sobre novas tecnologias e tendências no universo de tecidos para a decoração, essa pessoa é Tricia Guild. Designer londrina, Tricia desenvolve coleções de tecidos desde 1970, e os lançamentos exibidos em primeira mão nas vitrines de suas lojas – Designers Guild – sempre ditam moda. As novidades para 2005? Tricia garante que o momento é o das cores vibrantes como as “tonalida-

Vista sua

des das primaveras num jardim italiano”. Segundo ela, é hora de apostarmos nas combinações agradáveis e criativas, pois “viver com cores é uma experiência deliciosa e apaixonante”. Quer outro conse-

casa

lho desta personalidade? Ignore regras

POR IRENE MARCONDES F O T O S C L Á U D I O M E N E G H E T T I

antigas, deixe de lado as combinações óbvias de cores e texturas e experimente coordenar estampas e fibras que você jamais imaginou que dariam certo. Este é o ano da liberdade, da ousadia e, por que não, das novas descobertas. Inspirados nas palavras de Tricia, escolhemos três lindos trabalhos de arquitetos de Porto Alegre que foram desenvolvidos em sintonia com os desejos de seus clientes. Nas páginas a seguir, tramas, estampas e cores revelam combinações de sucesso para você tirar dali boas idéias. Estilo Zaffari

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Casa


Estampas e tons suaves O requinte e a delicadeza ganham formas reais e palpáveis neste salão coberto por mármore romano envelhecido e por tecidos de cores pálidas e suaves. O grande lustre de cristal garimpado num antiquário parece trazer consigo histórias de épocas em que longos vestidos rodopiavam pelos salões de baile. “A base de toda a decoração foi a escolha do mármore que reveste o piso e a lareira deste ambiente de 80 metros quadrados”, conta a arquiteta Susi Rocha Ribeiro, que assina o projeto desta casa recémconstruída em Porto Alegre. “A tendência era ficarmos com uma sala muito fria, por isso cobrimos todas as paredes com um tecido de puro algodão estampado com rosas carmim”, descreve. A sensação que as longas paredes forradas transmitem é de aconchego, e os benefícios não se limitam apenas à estética. “Antes de receber o tecido, as paredes foram cobertas com uma espuma que serve como isolante térmico e acústico”, diz Susi. Segundo a arquiteta, a espuma dá uma sensação de volume e ainda acaba com o problema dos cantos vivos. “A umidade do ar não danifica o tecido. O importante é que a parede esteja livre de infiltrações”, ressalta. Sempre em busca de materiais quentes, a arquiteta elegeu o linho cru para revestir os sofás. “Além de imprimir um ar mais descontraído, o linho tem um toque único que apenas as tramas naturais conseguem proporcionar.” No ambiente de jantar, a imponente mesa de madeira assinada pelo designer Hugo França divide as atenções com as cadeiras cobertas por capas de puro algodão. A trama de fios beges e vermelhos forma um discreto desenho listrado. Na cabeceira da mesa, poltronas recobrem-se com linho carmim, do mesmo tom das rosas que decoram as paredes. Deslizando pelo trilhão embutido na sanca, a longa cortina de puro algodão da sala de estar coordena com o tecido das cadeiras da mesa de jantar, integrando discretamente os dois ambientes. “Apesar de termos explorado tonalidades mais neutras, obtivemos um resultado impactante e que seduz o olhar”, resume Susi.

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Casa

Rústico porém sofisticado A arquitetura desta residência faz qualquer pessoa sentir-se numa charmosa casa de campo: muitas madeiras maciças, com um toque de rusticidade. Pelas largas janelas da sala pode-se observar o contorno verde do jardim da moradia, situada no condomínio Terra Ville, em Porto Alegre. Mas engana-se quem apostar que a decoração adota o estilo country. Os proprietários desejavam criar um ambiente de estar sofisticado, que fizesse um contraponto a tantos elementos naturais. “O piso de porcelanato e as paredes claras pediam uma combinação de cores sóbrias, como o preto, o branco e o cru. Usadas na medida certa, essas tonalidades deixam qualquer espaço chique”, garante a arquiteta Anne Baril. Na escolha dos tecidos o casal privilegiou as tramas lisas e estampadas de diferentes texturas, sempre com o toque agradável do puro algodão. Para não perder a ligação com a arquitetura da casa, Anne utilizou a sutil linguagem da estampa Toile de Jouy, que retrata a vida no campo da corte francesa do século XVIII. “Destaque da sala de estar, as largas poltronas com pufes foram revestidas com este tecido floral, que ficou ainda mais valorizado no preto e branco”, explica. Os sofás, recobertos com chenile cru, liso, não disputam atenção com as poltronas estampadas e ainda proporcionam uma sensação de amplitude ao espaço. “É quase como se eles não estivessem lá, tornando-se uma extensão do piso e da parede”, comenta Anne. Na sala de jantar, a mesa de madeira confirma que a nova decoração convive em harmonia com os objetos rústicos. Nas cabeceiras do móvel, poltronas de palha exibem o delicado padrão Toile de Jouy – agora tramado nas cores cruas do algodão. Ao redor, cadeiras estilo provençal cobrem-se com o delicado xadrez minimalista. No bar de granito escuro, banquetas desfilam linhas retas e um encorpado acabamento de algodão e de linho preto. “A luminosidade natural da sala favoreceu o uso desta paleta de cores, que não pesou no ambiente”, garante Anne.

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Combinação harmônica Uma doce fragrância romântica paira no ar desta moradia. Recém-casados, os jovens proprietários deste apartamento em Porto Alegre estão decorando o novo espaço nos mínimos detalhes. Entre os inúmeros desejos do casal, um já foi realizado: revestir o piso da sala com o clássico mármore branco Carrara. No entanto, eles buscavam uma decoração que não deixasse o ambiente austero demais. Preocupação que aumentou depois que a noiva herdou um imponente aparador e duas cadeiras de jacarandá maciço que pertenceram ao seu bisavô. “A escolha dos tecidos foi determinante para se conseguir uma atmosfera jovial e ao mesmo tempo sofisticada”, explica o arquiteto Zeca Amaral. “O floral foi eleito por imprimir uma boa gama de cores ao ambiente e por marcar uma forte presença na sala”, conta. Marcante também ficou o hall de entrada, com suas paredes cobertas pelo mesmo tecido adamascado. “Apesar de as rosas serem graúdas, elas contam com um forte aliado: o fundo branco e leve. A intenção também foi estabelecer um vínculo com a decoração do interior da sala”, revela o arquiteto. Em contraponto a tantas flores, elegeu-se o puro algodão com estampa xadrez para vestir o sofá. “Projetei luzes no teto que iluminam diretamente este móvel. Além de destacarem o tecido, facilitam a leitura e o uso dos controles remotos do home theater”, diz Amaral. Nas poltronas de fibra, seda pura de um vibrante vermelho reveste as almofadas e os pufes. Na sala de jantar, as cadeiras de jacarandá ganham novos estofados. Desta vez, o antigo tecido centenário foi substituído por um xadrez miúdo coordenado com almofadas florais. As demais cadeiras seguem uma proposta arrojada ao cobrirem-se com capas de sarja branca com as iniciais do casal bordadas em vermelho. “É apenas um detalhe, mas que personaliza o ambiente de jantar e quebra a rigidez dos móveis antigos”, diz Amaral. Segundo ele, este projeto é a prova de que é possível combinar variados tipos de tecidos e de estampas, alcançando um resultado harmônico e sofisticado.

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Dicas para não errar BONS TECIDOS PODEM FICAR AINDA MAIS BELOS QUANDO APLICADOS DA FORMA CORRETA E NOS AMBIENTES CERTOS. MUITAS VEZES O FIO É DELICADO DEMAIS PARA REVESTIR UM PUFE OU ENCORPADO DEMAIS PARA EMOLDURAR UMA JANELA. COMO SABER? PENSANDO NISSO, ELABORAMOS UMA TABELA COM A AJUDA DA CONSULTORA REGINA SCHNEIDER, DA FORMATEX DE PORTO ALEGRE, QUE REVELA O BÊ-Á-BÁ DESSAS TRAMAS TÃO DESEJADAS.

Parede CADA VEZ MAIS OS TECIDOS SUBSTITUEM A APLICAÇÃO DE PAPÉIS DE PAREDE. ALÉM DE IMPRIMIREM UM AR CHIQUE AO AMBIENTE, REVELAM-SE ÓTIMOS ISOLANTES TÉRMICOS E ACÚSTICOS. ELEJA O ALGODÃO PURO COMO SUA PRIMEIRA OPÇÃO NA HORA DE COBRIR UMA PAREDE. CASO VOCÊ PREFIRA UMA SEDA NATURAL, TERÁ QUE SOLICITAR PARA A LOJA UM PREPARO ESPECIAL, CONHECIDO COMO DUBLAGEM. UMA CAMADA DE ALGODÃO SERÁ APLICADA EM TODO O VERSO DA SEDA. A ESCOLHA DE UM BOM PROFISSIONAL PARA FAZER A APLICAÇÃO É ESSENCIAL PARA O RESULTADO.

Cortina PARA FAZER UM REPOSTEIRO APOSTE NA SEDA PURA, SE DESEJA UM ESTILO MAIS SOFISTICADO. MAS ATENÇÃO: COMO TODA FIBRA NATURAL, A SEDA PEDE CUIDADOS ESPECIAIS E SÓ PODE SER LAVADA A SECO. A AÇÃO DO SOL DANIFICA O FIO, POR ISSO, ENCOMENDE UM TECIDO DE ALGODÃO PARA COLOCAR NUM TRILHO ATRÁS DA SEDA. AS MESMAS DICAS SERVEM PARA O LINHO. PARA UMA MANUTENÇÃO MAIS PRÁTICA, VALE INVESTIR NO VOAL INDIANO, QUE PODE SER LAVADO EM CASA E NÃO AMASSA; NAS MICROSSEDAS, QUE TÊM O TOQUE DA SEDA E SÃO MAIS ECONÔMICAS; E NOS TECIDOS SINTÉTICOS COMO ACRÍLICO, NÁILON E POLIÉSTER, QUE NÃO DESBOTAM COM O SOL.

PARA UM ESPAÇO DE HOME THEATER

Almofada EM FORMA DE ROLINHO, DE QUADRADO, DE RETÂNGULO E ATÉ REDONDINHAS, AS ALMOFADAS VIRARAM ACESSÓRIOS INDISPENSÁVEIS. NESTE ITEM NÃO EXISTEM MUITAS REGRAS. VALE APOSTAR EM TODOS OS TIPOS DE TECIDOS, NAS ESTAMPAS COORDENADAS E ATÉ NOS BORDADOS, QUE ESTÃO EM ALTA.

SE VOCÊ ADORA ORGANIZAR SESSÕES DE CINEMA EM CASA, DEVE INVESTIR EM UM AVANÇADO TECIDO SINTÉTICO CONHECIDO COMO BLACK-OUT. FEITO DE ALGODÃO E POLIÉSTER, ELE PASSA POR UM TRATAMENTO QUÍMICO, PARA PROPORCIONAR ISOLAMENTO TÉRMICO, ACÚSTICO E VISUAL. AS VÁRIAS OPÇÕES DE CORES DISPENSAM O USO DE SOBREPOSIÇÃO DE TECIDOS. MAS SE A IDÉIA FOR SOFISTICAR O AMBIENTE, APOSTE NAS TRAMAS CITADAS ACIMA.

PARA DIFERENTES OCASIÕES

Sofá, pufe O CONFORTO DEVE SER SUA PRIMEIRA PREOCUPAÇÃO QUANDO FOR REVESTIR PEÇAS COMO ESSAS. SENDO ASSIM, PREFIRA AS CAMURÇAS SINTÉTICAS, CONHECIDAS PELA MACIEZ E RESISTÊNCIA; OS CHENILES E OS JACQUARDS, QUE OFERECEM UMA VARIEDADE INCRÍVEL DE ESTAMPAS; E AS SARJAS, QUE SE TRANSFORMAM EM PRÁTICAS E MODERNAS CAPAS PARA SOFÁS E CADEIRAS. RESERVE O COURO E OS TECIDOS SINTÉTICOS PARA OS PUFES, QUE PASSAM POR VERDADEIRAS PROVAS DE RESISTÊNCIA. SEDAS, APENAS EM POLTRONAS DE ÉPOCA QUE TERÃO POUCO USO. MESMO ASSIM, APOSTE NA DUBLAGEM DO TECIDO.

AMBIENTES MULTIFUNCIONAIS PEDEM CORTINAS VERSÁTEIS. POR EXEMPLO: UMA SALA QUE TENHA HOME THEATER, AMBIENTE DE ESTAR E DE JANTAR PRECISA DE UMA SOLUÇÃO INTELIGENTE. SE ESTE FOR O SEU CASO, OPTE POR UMA CORTINA COM TRÊS TRILHOS. NO PRIMEIRO VOCÊ PODE COLOCAR UM VOAL, QUE NÃO DESBOTA COM A AÇÃO DO SOL E DEIXA A LUZ NATURAL ENTRAR. NO SEGUNDO, INVISTA NO BLACK-OUT, QUE IRÁ GARANTIR O ESCURINHO NECESSÁRIO. POR ÚLTIMO, APOSTE NA SEDA NATURAL, QUE VAI PROPORCIONAR UM ACABAMENTO REQUINTADO.

COLABORARAM NESTA REPORTAGEM: ARTEPLANTAS (51) 3395 2950, CAIA (51) 3331 2711, FORMATEX (51) 3222 2588. ARQUITETOS: SUSI ROCHA RIBEIRO – 51 3330 0399, ANNE BARIL – 51 3330 2059 E ZECA AMARAL – 51 3333 2259.



Gula


Férias

peso pesado O nome da moeda deles é peso. E depois de uma temporada de férias em Punta del Este qualquer pessoa está apta a compreender o porquê Impossível passar o verão em Punta sem que os aprazíveis dias literalmente pesem no bolso (dólares, dólares) e na balança (quilos, quilos). Talvez por passar longe de ser um paraíso tropical, o programa de verão em Punta não se resuma basicamente em ir à praia. Não que as praias sejam horríveis. Elas têm seu charme e sua graça. Mas não são, definitivamente, a especialidade local. A praia deles é outra: gastronomia. Nesse quesito, Punta tem programas para todos os gostos. Ou melhor, para todos os paladares. Nós, brasileiros, nos preparamos para o verão sempre de olho nas dobras da barriga, certo? A preocupação clássica com a forma física, associada às temperaturas altas da estação, faz surgir uma gastronomia mais leve, baseada em frutas, peixes e saladas. Não é o caso do Uruguai. Como faz muito frio por lá a maior parte do ano, as calorias ficam

P O R

T E T Ê

PA C H E C O

congeladas no cardápio para sempre. Os ingredientes preferidos dos nativos locais são lights como uma bomba de nêutron: doce de leite, mel, farinhas de todos os calibres, carnes gordas, vinho tinto e por aí vai. Não se iluda com dietas e exercícios. Os caras são profissionais. Por mais que você se esforce, vai ganhar uns quilos, não tem jeito. Mas em compensação, e talvez porque a única solução é dar uma relaxadinha mesmo, vai ter férias leves como aquelas que você tinha quando era criança e não fazia a menor idéia de que picolés costumam se alojar ao redor da cintura. Punta é tão extrema na geografia quanto nos hábitos. Não é incomum que o dono de um restaurante lhe diga que só há reserva para depois da meia-noite. E não pense que você será o único cliente. O restaurante seguramente vai estar lotado até as 3. Da mesma forma que estarão lotados os bares, cafés, paradores e sorveterias – com fila!!! Dieta aqui saiu definitivamente de férias. E olha que não é em qualquer balneário que acontece isso.

F OTO S

L E T Í C I A

R E M I Ã O

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Gula


IR A PUNTA É MERGULHAR NUM MAR COR DE DOCE DE LEITE Dulce de Leche Wish List Meu amigo Ricardo Freire, turista mais do que profissional (http://viajenaviagem.zip.net/), diz que ir a Punta é mergulhar num mar cor de doce de leite. E ele tem razão. Não sei se existe outro lugar do planeta que leve um único ingrediente tão a sério. Eu correria até o risco de afirmar que se você não gosta de doce de leite certamente não vai gostar tanto quanto poderia de Punta del Este. O doce de leite está em todos os lados: dentro de panquecas, recheando alfajores, cobrindo docinhos, misturado a nozes ou granulados, quente em forma de calda, gelado na casquinha em forma de sorvete, na ponta do dedo das crianças, grudado no bigode dos distraídos. Sim, é um exagero. O doce de leite tem presença garantida no café da manhã, no lanchinho da praia, na sobremesa do almoço, no chá da tarde, depois do jantar, antes de dormir. Aqui, algumas calóricas sugestões:

1. CHURROS DO MANOLO 2. ROGEL DO KING SAO 3. DOCE DE LEITE TENTACION DO FREDDO 4. ROLITO DE DOCE DE LEITE DA FAZENDA LA PATAIA 5. DOCE DE LEITE LOS NIETITOS – O POTE GRANDE 6. WAFFLE DE DOCE DE LEITE DO L’ AUBERGE 7. FLAN DE DOCE DE LEITE DO LOS NEGROS 8. PANQUECAS DE DOCE DE LEITE DO GARZON 9. DOCE DE LEITE COM NOZES DO FREDDO 10. ARROJADO DE DOCE DE LEITE DO LES DELICES

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ALGUMAS IGUARIAS SÃO ESPECIAIS PARA DEGUSTAR AO PÔR-DO-SOL Gulodices ao pôr-do-sol Se você definitivamente não abrir mão da sua dieta, nunca vai encontrar tempo para experimentar algumas das coisas mais deliciosas de Punta. Usando apenas as refeições tradicionais – café da manhã, almoço e jantar –, não é possível incluir tudo. Foi pensando nisso que os punta esteños inventaram essa refeiçãozinha intermediária, não exatamente um lanche, uma coisa um pouco mais mal intencionada, ao entardecer. Não vá cometer a gafe de encarar a guloseima do entardecer como um jantar, hein? Cada coisa tem sua hora e seu lugar. Quando o sol se põe em Punta, todo mundo aplaude. E o sol capricha nessa tradição: desce linda e demoradamente, que é para dar tempo de todos chegarem pra ver. Deve ser porque sol lembra calor e calor nos remete imediatamente a calorias que este tenha sido o momento do dia escolhido para nos fazer engordar mais um pouquinho. Aqui vai uma pequena lista de sugestões para você aplaudir junto com a posta del sol.

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1. PANCHO COM MOSTARDA EM QQ PARADOR 2. CLERICOT EM QUALQUER PARADOR DE JOSE INACYO 3. PÃO COM NOZES DA PATISSERIE DO LA BOURGNONE 4. PROFITEROLES DE CHOCOLATE DO ANTIGO PAN ARABE 5. CHOCLO NA BEIRA DA PRAIA 6. QUADRADO DO LES DELICES 7. CROISSANT COM JAMON E QUESO DO LES DELICES 8. JUGO DE DURAZNO COM NARANJA DO LES DELICES 9. CORTADO NA GORLEIRO 10. CHÁ NO CUMBRES DE LA BALLENA



0 VOUYERISMO EXPLÍCITO DE PUNTA ACONTECE NOS RESTAURANTES Com vista para a noite Se você não curte essa coisa de ficar indo a restaurantes, escolha outro destino para sua férias. Como já disse antes, a praia deles é a gastronomia. Em Roma, faça como os romanos. Reza a tradição que sempre deve se fazer reserva. Não subestime jamais a capacidade que eles têm de lotar os restaurantes. Todos, dos excelentes passando pelos médios e até os bem mais ou menos, ficam lotados no verão. Isso também é parte do charme. Esperar, torcer para que alguém desista. Sabe aquela coisa bem brasileira de ficar olhando os outros na praia? Quem emagreceu, quem engordou, quais são os biquínes mais interessantes. Pois em Punta o vouyerismo explícito da vida ocorre nos restaurantes. É um prato cheio, as mulheres desfilam suas melhores roupas, os homens desfilam suas melhores mulheres... Todo ano Punta recebe turistas cheia de novidades no setor gastronômico. E um mês de férias talvez não seja suficiente para conhecer todos. Para quem não tem todo o tempo do mundo, recomendo ir no que já é tradicionalmente ótimo.

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1. LA BOURGOGNE – DO CHEF JEAN PAUL BOUNDOUX- FRANCÊS COMO NA FRANÇA 2. LOS NEGROS – NOVA COZINHA ARGENTINA DO FRANCIS MALLAN 3. FLOREAL – COZINHA TRADICIONAL BOA 4. EL PALENQUE – PARILLA 5. CICLISTA – POPULAR, ANTIGO E SEMPRE ÓTIMO 6. GARZON – NOVO RESTAURANTE DE FRANCIS MALMANN 7. ANDRÉS –TRADIÇÃO URUGUAIA DA MELHOR QUALIDADE 8. VIEJO MARINO – PEIXES NA PARILLA, CENOURAS DOCES. PRECISA MAIS? 9. LA POSTA DEL CANGREJO – ESPECIALMENTE OS PEIXES 10. MARIA Y EL LOBO – COZINHA MODERNA BOA



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DAS MUITAS COISAS QUE EU PENSO, ALGUMAS ME APAIXONAM E AÍ EU VOU ATRÁS DENTRO DE LYA LUFT, HÁ UM MAR CHEIO DE VIDA QUE CHEGA ATÉ NÓS POR MEIO DE SEUS LIVROS. EM 2004, ELA ALCANÇOU MARCAS DE VENDAS QUE SÃO O SONHO DE TODO ESCRITOR. MAS NÃO O DELA. O SONHO DE LYA É CONTINUAR FAZENDO O QUE GOSTA, É CURTIR A VIDA E SEUS AMORES, É SE AQUIETAR UM POUCO. AQUI, VOCÊ VAI ENTRAR NO SEU MUNDO PARTICULAR. MAS ANTES DE FAZER ISSO, PRESTE ATENÇÃO NAS FOTOS DE LYA COM ISABELA, A NETA QUE É TAMBÉM A PERSONAGEM PRINCIPAL DO SEU LIVRO INFANTIL HISTÓRIAS DE BRUXA BOA. VOCÊ VAI PERCEBER QUE OCEANOS AZUIS TAMBÉM BRILHAM.

POR

PAU L A

TA I T E L B AU M

FOTOS

A N G E L A

FA R I A S

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EU TENHO UM LADO MUITO PALHAÇO, COMEÇO A TER UNS ATAQUES DE RISO E NÃO PARO MAIS

QUAL A SENSAÇÃO DE SER BEST SELLER? Não significa absolutamente nada. Estou tentando manter um ritmo tranqüilo, que é do que eu preciso e gosto. E o legal é que eu não tenho mais que trabalhar tanto como eu trabalhei sempre pra pagar as contas de fim de mês. Agora, vender mais ou vender menos, isso não significa nada. A literatura pra mim é o exercício da arte.

MAS O SONHO DE TODO ESCRITOR NÃO É SER LIDO PELO MAIOR NÚMERO DE PESSOAS POSSÍVEL? Engraçado... Se dez pessoas leram e gostaram, é tão bom quanto quinhentas. E quando é muito, começa a despersonalizar. Claro que eu não vou ser cretina, cabotina de dizer que eu detesto ser lida, porque senão eu não publicaria. Mas não sei... eu sou quase desprovida desse tipo de vaidade, de vender muito e tal.

QUER DIZER QUE NÃO TENS VAIDADE LITERÁRIA? Não! Eu sou capaz de ter mais vaidade física, apesar do meu jeitão. O que eu tenho é um orgulho de saber que tudo o que eu publiquei foi o melhor que eu pude fazer naquele momento. Eu nunca publiquei um texto, nem numa crônica de jornal, de que eu tenha dito “ah, vou botar isso e dane-se”. Eu tenho muito respeito pelo que faço, primeiro, por mim mesma, pelo meu trabalho, minha arte, o que significa também pelo leitor.

a morte, sobre a fascinação que ela exerce. E o terceiro é um inesperado que tá surgindo também, o “Glórias e Frustrações”, que é um pouco um ensaio também sobre essa história “se não combinamos, por que nos procuramos tanto?”. Como eu não tenho aflição, essa coisa de tem que sair livro aqui ou lá, é possível que, como já aconteceu com outros, esses três acabem se fundindo e saia uma quarta coisa que eu não sei o que é.

TENS UM TEMA PREFERIDO? Eu acho que eu escrevo sobre a vida. Eu sempre tenho os meus mistérios: família, encontro e desencontro, vida e morte, fatalidade e responsabilidade.

TU ÉS UMA PESSOA DE MUITAS AMIZADES? Eu tenho amigos essenciais que estão comigo há muito tempo, não é um círculo muito grande. As pessoas normalmente gostam de mim, eu gosto de gente... Acho que eu tenho mais amigos do que penso.

O QUE TE FASCINA NUMA PESSOA? Eu acho que não existe um fator. Tem que ser inteligente, tem que ter uma vivacidade, tem que ter um certo mistério, tem que ser discreta. Eu gosto é de uma pessoa que seja verdadeira, relativamente tranqüila. Gente que pode até ser meio louca, mas que seja sincera.

POR QUE TU ESCREVES? Eu escrevo porque eu acho que eu nasci pra fazer isso. Eu acho que sempre foi uma maneira de me expressar. Os romances, aos quarenta anos, acho que foram uma tentativa de entender melhor o mundo, a vida humana, as coisas surpreendentes, os mistérios, o assombramento, eu acho que é um pouco por aí.

ISSO VALE PARA O AMOR? Ah, o que me atrai numa pessoa é uma coisa de pele, um olhar. Característica física não existe, isso é uma bobagem, mas eu acho que, de um modo geral, o olhar é muito importante. É sempre uma coisa muito inexplicável, mas clara: “É esse aí”.

QUAL A DIFERENÇA DO AMOR NA MATURIDADE? O QUE TU ESTÁS ESCREVENDO NO MOMENTO? Eu só escrevo quando tenho uma coisa pra escrever. Agora, eu estou trabalhando em três projetos. Um romance, “O Silêncio dos Amantes”, do qual eu escrevi o começo e o fim. Outro que é um livro de reflexões, um ensaio sobre

Nenhuma, a única coisa é que eu acho que a gente curte mais. Digamos que eu já sei melhor o que eu não quero, já quebrei a cara muitas vezes. Mas o resto tudo é igual, a paixão, a ternura, as implicâncias, briguinhas de ciúmes, a gente não muda. Graças a Deus, né?

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ACHO QUE MINHA GRANDE TRANSGRESSÃO É NÃO SEGUIR PADRÃO NENHUM DE BELEZA FÍSICA

FRIOZINHO NA BARRIGA...

TU GOSTAS DE SAIR EM PORTO ALEGRE?

Nunca perde a graça! Friozinho na barriga... Não telefonou, vai telefonar, que aconteceu, tal, olhou pra outra mulher, bobagens... vovô e vovó segurando a mãozinha... não, né?

Eu gosto muito de Porto Alegre. Em termos de restaurante eu sou muito tradicional, quando eu gosto de um, vou sempre naquele. Mas eu gosto de Porto Alegre porque dois dos meus três filhos moram aqui, eu tenho amigos de trinta, quarenta anos aqui. E eu acho que ela é uma cidade muito humana. Porto Alegre tem uma geografia bonita, o rio é maravilhoso. Eu não pretendo morar fora.

POR FALAR EM VOVÔ E VOVÓ, TU PENSAS "QUERO ENSINAR TAL COISA PROS MEUS NETOS"? Deus me livre! Eu tenho sete netos, o mais velho tem 16 e o mais novo vai fazer 2. Eu gostaria que eles fossem seres humanos, o máximo possível livres e decentes como são os meus três filhos. Que sejam alegres e curtam a vida. Mas nunca pensei em ensinar nada.

TRÊS DAS TUAS NETAS MORAM NA PARTE DE CIMA DA TUA CASA. TU BRINCAS COM ELAS? Eu não sou uma vó convencional, eu não lavo, não passo, não cozinho, não levo na pracinha, não levo no teatrinho. Eu brinco muito no computador, existem uns sites lindos para criança, pra bebê inclusive, com fadas, coelhos, ursinhos...

CONTAS MUITAS HISTÓRIAS? Pras pequenas, não. Já a “Bruxa Boa” veio de histórias que eu conto pra minha neta Isabela.

TU VAIS AO SUPERMERCADO? De vez em quando eu resolvo que tá na hora de dar uma caprichada, escolher coisas e vou ao supermercado. Às vezes, tem uma pessoa que chega e diz assim: “Ah, olha só, nunca pensei encontrar a senhora no supermercado”. Aí eu digo (rindo): “Ué, mas tu achas que a minha família não come?”. Eu já me acostumei, há muitos anos, com as pessoas ficarem olhando. “Olha ali a Lya Luft”...

ISSO ATRAPALHA? Existem coisas que eu quase não posso fazer. Claro que é simpático as pessoas virem falar, só que eu não consigo fazer nada. Eu me lembro que quando o Vicente começou a sair comigo, ele disse assim “as pessoas ficam olhando, tem alguma coisa errada?”. Eu disse “Ó, acostuma”.

TU FALASTE QUE NÃO COZINHAS. NÃO COZINHAS NADA? Gosto de comer, não gosto de cozinhar. Eu sei, se precisar eu faço. Já passei períodos da minha vida, com filho pequeno, sem empregada, mas na verdade esse é um dom que eu não tenho. Tentaram me treinar, mas eu não sou prendada, eu não tenho o menor apreço. As pessoas ficam trocando receitas... “então tu pega aquele creme, faz isso e vai na banca tal e compra aquilo”, eu acho de um desinteresse vergonhoso, eu até fico olhando, faço um ar meio inteligente, mas é a coisa mais fora do meu mundo. Eu acho que é uma falha...

COMO É QUE VOCÊS SE CONHECERAM? No Clube Inglês, eu estava almoçando com amigos e aí nos vimos e ficamos juntos pra sempre. Acho que é pra sempre. As minhas netinhas estão certas de que têm um papai-noel particular. A mais velha um dia disse pra uma amiguinha: “Minha avó tem namorado”. “Tu é louca”, disse a amiguinha. “Tem namorado, sim, tem uma baaarba branca!”.

QUAL É O TEU PRATO PREFERIDO?

QUAL A MAIOR TRANSGRESSÃO QUE TU ACREDITAS JÁ TERES COMETIDO?

Um filé mal passado, arroz, ovo frito, batata frita. Um horror, mas é uma maravilha. Um bife desse tamanho, dois ovos, arroz e batata frita, acho uma maravilha.

Eu não cometi grandes transgressões. Quando eu me separei do Celso... existe um mito de que eu o abandonei... Não, quando eu fui morar no Rio, a nossa separação já es-

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NÃO SOU UMA VÓ CONVENCIONAL, NÃO LAVO, NÃO PASSO, NÃO COZINHO, NÃO LEVO NA PRACINHA...

tava assinada. Então eu acho que a minha grande transgressão é não seguir nenhum padrão de beleza física, é o meu gostar de mim como eu sou e me divertir com isso, no sentido bem-humorado, não no sentido arrogante. Nem por isso eu acho que sou menos atraente.

O QUE TE FAZ RIR? Eu tenho um lado muito palhaço. Eu posso acordar às três da manhã, me lembro de alguma coisa e dou risada. O Vicente diz: “Que é isso? Tá louca...”. Então eu digo: “Ah, me lembrei de uma coisa que eu vi...”. Eu tenho o riso fácil.

e pronto. Eu acho que a gente levou bem isso. Deve ser pesado pra eles de certa forma. Tenho uma filha médica, um filho filósofo e um filho agrônomo. E eles chegam pra trocar um pneu e o borracheiro olha o cheque: “Luft... Ah, tu é parente da Lya Luft?”. Então eu acho que é um ônus. Mas nenhum deles ficou neurótico, então acho que eles levaram muito bem, sabe?

TU ACREDITAS EM DEUS?

As pessoas acham que eu sou uma dama sinistra. Uma vez, num jornal do Rio, há muitos anos, quando saiu um dos meus romances, a manchete bem grande era: “Lya, a dama soturna”. Eu posso ser qualquer coisa, menos soturna. Os meus personagens, muitos são, eu não sou.

Muito. Eu sou uma pessoa muito religiosa. Eu só não pratico nenhuma religião institucionalizada porque eu não quero que ninguém mexa com a minha cabeça. É o meu pensamento, a minha liberdade, ninguém vai me ensinar como eu tenho que me comportar, ou essa noção detestável de culpa e de pecado. Um Deus que fosse, no final da vida, medir os meus atos com fita métrica, com toda complicação que a vida já é... eu não quero um Deus assim. Eu acho que há uma força misteriosa e isso é muito positivo.

HÁ MUITA CONFUSÃO ENTRE AUTOR E OBRA?

FOSTE CRIADA DENTRO DE UMA MORAL RELIGIOSA?

Isso era uma coisa que, no começo, me chateava muito. Quando escrevi “As Parceiras”, o leitor ingênuo dizia: “Puxa, mas a Lya teve uma família tão legal, o pai, a mãe, como é que ela pode escrever sobre uma família tão horrorosa”. Isso nos primeiros três, quatro anos me chateava, mas nunca me inibiu, até que um dia eu pensei: “Bom, não adianta explicar”, as pessoas sempre vão achar que aquela é a minha família, então não adianta tentar e “dane-se”, é assim que é e pronto, acabou. E aí passei a não me importar mais.

Eu não fui criada com uma moral cristã, católica, protestante... Mas tem algo que eu aprendi com meu pai, em casa: o sagrado do outro, da natureza, de mim mesma. Do meu corpo ser uma coisa sagrada que eu só vou entregar para um momento muito especial. Essa era mais ou menos a minha idéia na adolescência, não tinha noção de pecado, tinha medo de engravidar porque esse era o grande medo naquela época.

QUAL O PRESENTE QUE TU GOSTARIAS DE GANHAR?

POR FALAR EM FAMÍLIA, COMO FOI ISSO PARA OS TEUS FILHOS? TER UMA MÃE ESCRITORA FAMOSA?

(Risos) Ah, eu queria acordar sendo a Gisele Bündchen. Mas poder comer bastante, tomar champanha, comer bombom...

MAS MUITA GENTE TE VÊ COMO UMA SENHORA SÉRIA...

Nos primeiros romances, eu me chateava também porque eu tinha três filhos pré-adolescentes e podiam dizer pra eles: “Tua mãe é assim, tua mãe é assado”, mas a gente conseguiu, juntos, nunca levar isso a sério. Pros meus filhos eu nunca fui assim escritora, tipo “vamos falar baixo que mamãe escreve”. Eu sempre fui perfeitamente esculhambada dentro de casa, eu sou meio bagunçada mesmo

PLANOS PARA 2005... As coisas naturais, saúde, paz... Eu tô com um projeto de passar uma temporada com o Vicente em Paris, em Londres, nós dois não conhecemos Praga. Tá saindo um monte de livro meu no exterior, mas, engraçado, isso não é um projeto meu, essas coisas acontecem.

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Assim, ó... L U Í S

A U G U S TO

F I S C H E R

OLHAR OS QUE NOS OLHAM Informação é a melhor vacina contra a doença de se sentir provinciano Um famoso poema de Fernando Pessoa, na pele de Alberto Caeiro, celebra as virtudes do rio que passa por uma pequena aldeia. E o faz contraditoriamente: O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O poema incomoda porque, além do paradoxo evidente, chama para a frente do palco o fantasma da condição provinciana, dilacerada entre o que está perto e o que está longe, entre o íntimo e o geral, entre o caseiro e o cosmopolita. Alberto Caeiro compara o rio de sua aldeia com o Tejo, a porta de entrada e de saída do país, mais ainda o magnífico caminho das Descobertas, que puseram Portugal no mapa do mundo – aliás, que puseram o mundo no mapa. Um arroiozinho aldeão, um riachuelo da grota, o rio desta aldeia aqui, pode então ser mais belo que o vasto Tejo? Porto Alegre e o Rio Grande, de modo geral, sentemse numa província e se ressentem da falta de algo indefinível, de um movimento claro, de uma agitação superior, de uma característica enfim que elevasse a aldeia à condição de nãoaldeia. Se bem feitas as contas, o que caracteriza o provinciano é o deixar-se enredar na armadilha de sentir-se provinciano. (Adotei como minha verdade sobre a condição provincial uma definição que li certa vez sobre o domingo de tarde. O que é um domingo de tarde? É aquele momento da semana em que a gente tem certeza que alguma coisa muito boa está acontecendo, porém não no lugar onde estamos.) Mas não tem jeito: enquanto a gente olha para a aldeia como província ela continua província. Isso não tem nada a ver com o fato banalmente verdadeiro de que a aldeia esteja numa periferia, como Porto Alegre em relação a São Paulo, Rio ou Buenos Aires, ou como o Brasil em relação à França ou aos EUA; a trivial verdade da condição periférica não é suficiente para o sujeito considerar a aldeia uma província.

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Voltemos ao mesmo Fernando Pessoa, que num curioso artigo intitulado “O provincianismo português” diagnosticou em três sintomas a síndrome: “o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia”. De fato, as três coisas juntas conferem ao indivíduo aquela lamentável condição do tolo, reconhecível à primeira vista, em geral pela falta de senso de medida na admiração pelo centro tido como superior, que de vez em quando é até um cenário como Miami. Se há vacina contra tal patetice, ela está na busca de informação e de crítica, que se obtêm pela leitura, mais que por outros caminhos. Por exemplo, a leitura do extraordinário trabalho de Valter Antônio Noal Filho e Sérgio da Costa Franco intitulado “Os viajantes olham Porto Alegre” (editora Anaterra, de Santa Maria – www.anaterralivros.com.br). Em dois volumes elegantes e bem editados, os historiadores colecionaram dezenas de depoimentos de viajantes que por aqui passaram entre os anos de 1754 e 1941, acrescentando a eles notas biográficas de extrema valia para localizar os pontos de referência dos depoentes. Gente como o clássico Auguste de Saint-Hilaire, que ridicularizou a falta de aquecimento das casas, numa terra regularmente batida por frios agudos, mas elogiou a urbanidade das mulheres gaúchas. Ou ainda como a notória Princesa Isabel, que anotou a seguinte curiosidade sobre hábitos de higiene locais, em seu diário de 7 de janeiro de 1885, após ser brindada com um churrasco assado à gaúcha por um capataz veterano da guerra do Paraguai: “A sua toalha para limpar as mãos ou a faca era a cauda do cavalo”. Gente imperdível para nos dizer o que viram da vida local, não porque tenham a palavra definitiva, mas porque nos ajudam a entender a complexa equação das semelhanças e diferenças que se esconde atrás do fantasma provincial. Com ironia. LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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