10 PRÊMIO GAÚCHO DE EXCELÊNCIA GRÁFICA ABIGRAF 2005
Ano 7 N 0 34 R$ 3,50
AIKIDO, RAKU, SUSHI, ORIGAMI: O JAPÃO É AQUI
O Japão no Brasil
Milene Leal milene@contextomkt.com.br
EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Angela Farias, Cris Berger, Irene Marcondes, Magali Moraes, Paula Taitelbaum
REVISÃO Flávio Dotti Cesa PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade luciane@contextomkt.com.br ILUSTRAÇÕES Nik FOTOGRAFIA Angela Farias, Cris Berger, Cristiano Sant’Anna, Letícia Remião PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Jorge Nascimento e Restaurante Sakura COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Ruza Amon, Tetê Pacheco EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COLABORADORES Associação Nipo-Brasileira, Cézar Van Der Sand, Erika Lie Hinohara Aso, Leandro Lopez da Silva, Livraria Cultura, Nádya Pesce da Silveira, Parque Esportivo da PUC RS
Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br
DIRETORA DE ATENDIMENTO DEPTO. DE ATENÇÃO AO LEITOR Renata Xavier Soares renata@contextomkt.com.br A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.
TIRAGEM 25.000 exemplares PRÉ-IMPRESSÃO Maredi IMPRESSÃO Pallotti
ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br
CAPA: NINA HINOHARA ASO FOTOGRAFADA POR LETÍCIA REMIÃO
NOTA
DO
EDITOR
Brasil e Japão entrelaçados Se você é daqueles que ficam com água na boca ao pensar em um sashimi de salmão, vai adorar esta edição da Estilo Zaffari. Se, ao contrário, tem engulhos só de pensar em comer peixe cru, mas acha fascinante a cultura japonesa e suas peculiaridades, também vai adorar a revista. Os adeptos das artes marciais do Oriente vão se encontrar nesta edição da Estilo. Quem sonha em conhecer o Japão vai delirar com a nossa matéria de viagem. E os apreciadores das artes milenares hão de encher os olhos com a reportagem sobre o Raku, uma cerâmica japonesa que só se revela por inteiro depois de passar pelo fogo. Esta edição da Estilo Zaffari tem Japão para todos os gostos, sob várias perspectivas, em diferentes interpretações. Começamos pela capa. Impossível não se encantar com a Nina, uma menininha de dois anos e meio, filha de japoneses nascidos no Brasil, que enfrentou heroicamente uma longa sessão de fotos, mesmo gripada. A Nina resume o espírito desta revista: mostrar que Japão e Brasil estão superentrelaçados. Ela é uma pequenina e linda porção de Oriente aqui nos trópicos. Abrindo a edição, Paula Taitelbaum apresenta o perfil de dois sushimans que fazem parte da história da culinária japonesa em Porto Alegre. Pai e filho, eles comandam o Sakura, um verdadeiro templo da gastronomia oriental. E são autênticos mestres zen: concentrados, detalhistas, inspirados, habilidosos, tranqüilos, poderosos. Melhor ainda: eles contam aqui os segredos de algumas das mais incríveis receitas do restaurante, pra que você possa reproduzi-las em casa. A publicitária Magali Moraes, que não freqüenta o Sakura por uma questão de foro íntimo – ela não pode nem pensar em comer peixe cru, passou mal na última vez em que tentou –, redigiu uma matéria deliciosa sobre a interação das culturas brasileira e japonesa. Magali faz um panorama da presença do Japão no Brasil e, vice-versa, do Brasil no Japão. Mostra que estamos absolutamente misturados, integrados, miscigenados e altamente influenciados uns pelos outros. Repare: tendo ou não olhos puxados, todos nós, brasileiros, já somos um pouquinho orientais. Sério! Basta olhar em volta e você vai perceber como a cultura japonesa está presente em nosso dia-a-dia: são os desenhos animados, os gadgets eletrônicos, a comida, o karaokê, a moda, a decoração, os carros, as plantas... Em quase tudo a gente encontra um pouquinho de Japão. E se, como diz Luis Augusto Fischer, o Japão parece longe demais, geograficamente falando, os milhares de encantos dessa cultura estão ao nosso alcance. É só, por exemplo, abrir a sua Estilo Zaffari! OS EDITORES
Correio CARDAMOMO NAS RECEITAS
MICO PELA ESTILO Milene e Renata: Semana passada, sábado, paguei um mico, um micão no Bourbon Assis Brasil. Vejam bem que situação. Ninguém merece (eu mereço, porque sou louca e faço qualquer coisa pela Estilo)! Estava nas compras diárias, encontrei minha amiga Osmarina, seguimos pelos corredores procurando produtos. Tchau, tchau, nos despedimos. Aí, próximo a um caixa, bati o olho na Estilo n° 33. Como se fosse a única, peguei. Na mesma hora revi minha amiga, levantei a revista e gritei bem alto: aqui, vê aqui, saiu, peguei! Olhei para os lados, tudo parou, todos me olhavam. Os gerentes de caixa sorriam discretamente sem entender nada. Que educação. Passei as compras, o cartão e me agarrei na Estilo. Fui! Claro que saí rapidinho sem olhar para lado nenhum. Até minha amiga sumiu. A agonia de ler era maior. Li e devorei. É, gente da Estilo, meu vício é esta revista. Agradeço a toda editoria e redação por estarem próximos a nós com competência, qualidade e credibilidade. Até as próximas, com saúde e paz. Sejam sempre profissionais e amigos. Valeu.
Oi, tudo bem? Trabalho com uma linha de temperos e conservas para culinária. Sou fã da revista Estilo Zaffari e entendo que novidades devem ser comunicadas em canais afins. O produto semente de Cardamomo é superespecial, como a revista Estilo Zaffari, para pessoas de bom gosto e que procuram diferenciais. Gostaria muito que o departamento de Produção de Alimentos analisasse a oportunidade de comunicação desse produto especial em alguma receita. Um abraço. Atenciosamente, CINTIA BRANDENBURGER – PORTO ALEGRE
Cintia, adoramos receber os seus elogios e estamos sempre abertos a sugestões de pautas provenientes dos nossos leitores. Na edição nº 30, de dezembro de 2004, foi publicada uma receita com o cardamomo. Trata-se de um drink chamado Margarita de Manga com Cardamomo. Fez o maior sucesso. Se você não viu essa edição, podemos enviar a receita por e-mail. Por favor, sempre que você tiver sugestões de receitas elaboradas com especiarias, sinta-se à vontade para nos escrever. Estamos sempre buscando fontes diferentes. Agradecemos pelo contato, abraço.
MARIA JOSÉ RÜCKHEM PESSOA – PORTO ALEGRE
Maria José, a sua carta é hilária! Ficamos aqui imaginando a cena e nos divertimos horrores. Só nos resta agradecer por seu entusiasmo e sua alegria. Que coisa maravilhosa ter leitores assim!!! A Estilo Zaffari pode até ser um vício, mas é um vício do bem! Até a próxima e um abração.
E MAIS PARABÉNS
NÃO PODE FALTAR Oi, pessoal da redação! Como vão? Espero que os encontre com saúde, numa nice e em paz! Eu sempre que vou fazer minhas compras no Zaffari e tem a Estilo já ponho no carrinho! Com certeza! É a melhor revista! Superbonita, bem escrita, lindas fotografias! Nota 10! Parabéns e sucesso da amiga de vocês. VERÔNICA BRAMBILLA – PORTO ALEGRE
Economizando um tempinho para coisas agradáveis, abrimos o exemplar de inverno da revista Estilo Zaffari. Que maravilha! O multifacetado cenário gaúcho, o inverno (que nós não temos), o chimarrão, as sopas, o vinho, os queijos, a roupa pesada, enfim... A revista é sempre uma festa multicolorida, bem apresentada, bem redigida, inovadora, surpreendente a cada novo exemplar. Por tudo isto, nós queremos enviar aquilo que já virou rotina: os nossos parabéns à equipe da Estilo. É realmente uma REVISTA! Abraços carinhosos. ALICE E RONALD – FORTALEZA
MÚSICA COM ESTILO Olá, Izabella!!! Em primeiro lugar, queremos parabenizá-la pela excelente qualidade da revista Estilo, desde a fotografia, as crônicas e entrevistas até as receitas deliciosas (já testei várias e foram muito elogiadas), roteiros turísticos, enfim... tudo de muito bom gosto! Nós somos irmãos, moramos em Canoas e formamos uma dupla de cantores em violão e voz de música pop internacional romântica. Nosso repertório inclui Bee Gees, Beatles, The Coors, Eric Clapton, Dire Straits, Tears for Fears, Bryan Adams e outros.
ESTILO ZAFFARI RECEBE PRÊMIO DE EXCELÊNCIA GRÁFICA NO DIA 29 DE JULHO, A REVISTA ESTILO ZAFFARI FOI DESTACADA PELA ABIGRAF-RS (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA GRÁFICA) COM O 1º PRÊMIO GAÚCHO DE EXCELÊNCIA GRÁFICA. A PUBLICAÇÃO CONCORREU COM MAIS DE 270 PEÇAS, INSCRITAS EM SEIS CATEGORIAS, E FOI VENCEDORA NO SEGMENTO PERIÓDICOS – REVISTAS DE
UM ABRAÇO DA DUPLA MANFRED & ANNE!!
CARÁTER VARIADO. EM SUA PRIMEIRA EDIÇÃO, O PRÊMIO Queridos leitores, sucesso pra vocês nessa carreira musical! Nós, da Estilo, amamos música e vamos querer conhecer o trabalho da dupla, ok? Abraços!
AVALIOU O TRABALHO REALIZADO PELAS INDÚSTRIAS GRÁFICAS DO RIO GRANDE DO SUL. O CORPO DE JURADOS FOI COMPOSTO POR PROFISSIONAIS DE INDISCUTÍVEL CONHECIMENTO TÉCNICO GRÁFICO E DE CRIAÇÃO, PUBLICITÁRIOS E PERSONALIDADES, INCLUSIVE DE FORA DO ESTADO. A REVISTA ESTILO ZAFFARI SERÁ UMA DAS REPRESENTANTES REGIONAIS NO PRÊMIO FERNANDO PINI, MAIS DESTACADA PREMIAÇÃO DA INDÚSTRIA GRÁFICA NACIONAL, QUE SERÁ REALIZADO NO FINAL DO ANO, EM SÃO PAULO.
AFAGOS NO EGO Olá. Não vou perder tempo tecendo elogios para a revista. Vocês devem estar bem seguros da qualidade dela. Mas, ego é ego. Então lá vai: morei um bom tempo em Porto Alegre e por motivos profissionais estou agora em Florianópolis. Quando vou a Porto Alegre, dou aquela passadinha básica pelo Zaffari (Menino Deus) e trago para cá o exemplar da Estilo Zaffari da hora. Sou fotógrafo e vou aproveitar para elogiar o nível das fotos apresentadas nas matérias. Tem muita revistinha de circulação nacional mostrando belas porcarias, com uma visibilidade questionável. É triste. Vocês poderiam estar com a Estilo em bancas. Curiosidade: quando chego com um novo exemplar aqui no estúdio, minha sócia sai correndo para pegar a revista e vai para a seção de culinária... Ela é apaixonada por cozinha, eu também, e literalmente babamos sobre as páginas. Em tempo: todas as colunas são boas, mas as do Fernando Lokschin... estupendas. Parabéns. Agradeço a atenção. LUIS VENTURA – FLORIANÓPOLIS
Luis, para quem não ia elogiar, você até passou da conta! Que coisa boa receber estes seus não-elogios! Quanto ao nosso ego, que ego? Nós somos tão modestos que nem sabemos o que é isso... Um superabraço e fique sempre por perto, por favor!
PARABÉNS 1 É com grande alegria que comunicamos que a revista Estilo Zaffari, na categoria “Revistas de Caráter Variado”, venceu o 1º Prêmio Gaúcho de Excelência Gráfica. Na avaliação, além dos quesitos de excelência gráfica, foram avaliados também a criatividade e a funcionalidade do projeto. Portanto, parabéns a todos os envolvidos neste belíssimo projeto. Que a nossa parceria seja longa e que a revista Estilo Zaffari continue a vencer em todos os quesitos, do projeto à satisfação dos seus leitores e anunciantes. Abraços! COM CARINHO DA DIREÇÃO, GERÊNCIAS, DEPTO. COMERCIAL E PRODUTIVO DA GRÁFICA PALLOTTI
PARABÉNS 2 Milene, Bella e toda a equipe, parabéns pela conquista no 1º Prêmio Gaúcho de EXCELÊNCIA Gráfica. É muito mais do que merecido, pois o trabalho de vocês é maravilhoso. Um grande abraço. ROSA MARIA MAGGIONI – HRM MULTIMÍDIA
PARABÉNS 3 Milene, parabéns a você e toda sua equipe pelo prêmio com a Estilo! Vocês merecem!!! Beijos. MARCO PERRONE – DIR. DE NEGÓCIOS – AG2
Dois
sushiman e seus segredos Rideu e Jonnhy Fujimoto revelam receitas de vida e de culinária
20 Í N D I C E 11 Cesta Básica 36 Viagem: Mundo às Avessas 52 O Sabor e o Saber 64 O Japão no Brasil 72 Aikido, dança da defesa 82 Lugar: Unique Garden
A magia da cerâmica japonesa 56
As palavras de
Arnaldo Antunes O multiartista falou com exclusividade para Paula Taitelbaum. NĂŁo perca.
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Cotidiano MARTHA MEDEIR OS
JAPAS A cultura japonesa está por tudo. É uma invasão consentida. Alguns anos atrás, a rede de farmácias Panvel fez uma promoção: na compra de X reais em determinados produtos, o cliente ganhava um vídeo infantil. Foi assim que surgiu na minha casa um filme chamado Meu Amigo Totoro, que contava a história de duas garotinhas, Satsuki e Mei, que vão morar com o pai no campo enquanto esperam a mãe se curar de uma doença no hospital. É nos arredores deste novo lar que elas descobrem os “totoros”, criaturas mágicas que não são animais, nem monstros, nem gente. Aqui em casa todo mundo ficou fascinado por este desenho. As meninas do filme eram lindas, a música era delicada, e os cenários, os diálogos, a cultura, tudo era diferente e cativante. Descobri que o mundo da animação não se resumia aos estúdios de Walt Disney. Meu Amigo Totoro foi o primeiro anime do qual tomei conhecimento – sem saber ainda o que era um anime –, e sem imaginar que um dia eu me familiarizaria com termos como mangá, otaku, inuyasha, cosplay. Se você não sabe do que estou falando, é questão de tempo. Anime é desenho animado japonês. Lá do outro lado do mundo passa o dia inteiro na televisão, mas aqui, excetuando-se os Pokemón – estes você conhece –, passa muito raramente, obrigando seus aficionados – os otakus – a baixarem os desenhos pelo computador, ao som de Orange Range, Do As Infinity, BoA, que são grupos de rock que fazem o maior sucesso entre os japas. Além dos
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Estilo Zaffari
desenhos animados, as histórias em quadrinho japonesas podem ser lidas nos mangás, que são vendidos em qualquer banca de jornal aqui no Brasil. Os mangás são gibis, cuja diferença é que devem ser lidos de trás para frente. Se tudo isso parece muito estranho pra você, acredite: já foi estranho pra mim também, até que descobri que tinha em casa uma especialista em anime e mangá, e ela não faz parte de uma entidade secreta. Minha filha mais velha é apenas uma entre vários adolescentes que são fascinados pela estética e pela cultura pop japonesa. E abriu os horizontes aqui de casa, onde a imagem do Japão ainda estava reduzida a sushis, origamis e arigatôs. O Japão é pequeno, os japoneses são menores ainda, mas a contribuição deles ao mundo contemporâneo tem sido gigantesca. Na Europa inteira a cultura japonesa se faz presente em exposições de arte, moda, design, música – sem falar, claro, em tecnologia. Atualmente, um dos mais badalados restaurantes de Paris é o Kong, que fica na cobertura da loja Kenzo. O ambiente é o que há de mais moderno e high tech. Tóquio puro. É uma invasão consentida. Oriente e Ocidente trocando informações e convivendo em paz. O Japão já não está longe. Está em todo lugar.
MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA
Cesta básica FOTO: CRISTIANO SANT’ANNA
AULAS PRÁTICAS DE SUSHI E SASHIMI Quem deseja se iniciar nas artes da gastronomia japonesa já tem ponto de partida: o Riverside’s promove periodicamente cursos de sushi e sashimi para novatos, curiosos ou mesmo para quem já conhece algumas manhas dessa escola culinária. O professor é Línio Cardoso, sushiman há mais de nove anos, que aprendeu a técnica com mestres japoneses no próprio Riverside’s e depois aperfeiçoou-se em São Paulo e Curitiba. No curso, Línio ensina não só os segredos do preparo de sushis e sashimis como também a arte da decoração dos pratos japoneses. Depois dessas aulas, seus quitutes vão arrasar em dois aspectos: sabor e visual. As inscrições podem ser feitas em qualquer casa Riverside’s ou pelo fone 3231.4032. Informe-se sobre as próximas datas e já vá afiando as facas...
MILENE LEAL, JORNALISTA
NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA-A-DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, CINEMA, LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!
Cesta básica
Quebrando o gelo
BISCOITO FINÍSSIMO!
O frio parece unir cada vez mais este casal de gaúchos. Desde 1997, Zelfa Silva e Gunnar Hagelberg passam boa parte de seus dias percorrendo as paisagens geladas da Antártida, a bordo de barcos de diferentes tamanhos. Para eles, quebrar gelo é uma rotina. Tanto que se associaram a uma empresa especializada em roteiros pela Antártida e passaram a viajar no papel de guias, levando ao extremo sul do continente pessoas de diversos perfis: jovens, idosos, aventureiros, sedentários, etc. Quem olha as fotos dessas expedições tem vontade de sair correndo para arrumar a mala. Os cenários são lindos, impactantes. E o viajante ainda tem o privilégio de ver de perto pingüins, baleias, leões-marinhos e várias outras espécies da região. Para saber mais sobre as viagens, faça contato pelo e-mail info@antarcticacruises.com.ar ou visite o site www.antarcticacruises.com.ar. O casal reside em Buenos Aires, Argentina, e de lá recruta seus passageiros. Quem sabe você não embarca na próxima expedição?
Quanto mais eu me interesso por música, mais perto chego do entendimento da obra. Tom Jobim, por exemplo: um mestre, uma obra jamais acabada e por isso infinita... No CD Tom Jobim Inédito, gravado em 1987, em meio à parafernália do estúdio montado na sala de piano da casa do artista, no Jardim Botânico, começa mais um espetáculo. Foram 4 meses intensos de gravações, na intimidade da casa de Tom, resultando no que ele considerou um dos melhores registros musicais da sua vida. Lançado pela gravadora Biscoito Fino, reúne músicas maravilhosas como Wave, Chega de Saudade, Águas de Março, Canção do Amor Demais. Confira!!! O CD está disponível na Livraria Cultura do Bourbon Shopping, fone 3028.4033.
MILENE LEAL, JORNALISTA
IZABELLA BOAZ, EMPRESÁRIA
De acordo com o dicionário, GARBO significa elegância, galhardia, primor. E é com estes substantivos que Patrícia Lorensini e Marcelo Duarte Varnieri pretendem distinguir os clientes do Garbo Hair Designers, salão que funciona em meio ao burburinho e glamour do Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Glamour, aliás, é outra das fontes de inspiração da dupla: o nome do salão também faz referência a Greta Garbo, uma das mais charmosas atrizes do cinema hollywoodiano. Pois Marcelo e Patrícia formularam uma receita de trabalho que rima com o nome escolhido. Para deixar seus clientes elegantes, garbosos, glamourosos, eles estão sempre em dia com as tendências, preocupam-se com a atualização dos profissionais e dedicam-se a entender de estilo de uma forma abrangente, não restrita aos tratamentos estéticos. De formação, Patrícia é colorista e maquiadora; Marcelo é cabeleireiro. Mas os dois têm no DNA os genes da inquietação e da criatividade. O Garbo já conquistou seu espaço em uma região altamente disputada: Hilário Ribeiro, 208, fone 3022.4111.
MILENE LEAL, JORNALISTA
FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA
Glamour e estilo no Garbo Hair
CHOCÓLATRAS, TREMEI! Viciados em chocolate, preparem-se! Porto Alegre já tem uma filial da carioca Chocólatras, uma loja que explora aberta e despudoradamente o descontrole de pessoas como eu, incapazes de resistir a uma trufa de chocolate. O nome já é uma provocação, mas o cardápio da Chocólatras é puro deboche. Confira os ingredientes de uma das opções de tortas, a Tricolor: camadas geladas de trufa de chocolate branco, trufa de chocolate ao leite e musse de chocolate meioamargo. E o pior é que tem muito mais. Aí ao lado, você pode avistar algumas miniaturas que eles produzem para fazer os chocodependentes caírem em tentação. É mesmo irresistível. Fone: (51) 3337.7118.
MILENE LEAL, JORNALISTA
FOTO: CRISTIANO SANT’ANNA
O CHEF MILANÊS QUE CONQUISTOU OS GAÚCHOS Ele veio de Milão para Porto Alegre, mas no caminho fez várias escalas. Mário Grandella aperfeiçoou seu talento para a gastronomia em cidades tão diversas como Londres, Cabo Verde, Moscou e Paris. Então conheceu uma gaúcha, e o resto da história você pode imaginar. Mas o que importa é que desde o início deste ano ele está expondo seus dotes culinários no restaurante que batizou de Locanda del Mario, um local onde a Itália se faz presente em receitas deliciosas, requintadas, inovadoras, com autêntico sotaque milanês. Além de pastas saborosíssimas e risotos deliciosos, Mario prepara com maestria peixes e frutos do mar, no ponto exato de cozimento e tempero. Mas o melhor, a meu ver, está reservado para o final da refeição: peça o Tiramisu e coma ajoelhado, rezando para não ter que dividir com ninguém. O Tiramisu do Locanda del Mario é preparado com autêntico queijo mascarpone, biscoitos perfeitos e toda a sabedoria de um chef que se profissionalizou aos 14 anos de idade. O Locanda del Mario, com apenas alguns meses de vida, já desponta no cenário gastronômico gaúcho. Foi escolhido o melhor restaurante italiano de Porto Alegre pela revista Veja. Vá conferir: Rua Pedro Ivo, 492, Mont’Serrat, fone (51) 3028.8422.
Românticas e femininas Quando começou a trabalhar com argila branca, há cinco anos, a artista plástica Simone Vieira descobriu os encantos das rosas modeladas à mão e decidiu que elas seriam sua marca registrada. Desde então, peças decorativas, como centros de mesa, painéis, cúpulas e candelabros, recebem delicadas aplicações de flores de cerâmica. Simone garante que trabalhar em torno de um único tema é um desafio para a imaginação. “Desenvolvo peças com formas e cores exclusivas. As pessoas se surpreendem com a versatilidade das rosas de argila”, conta. No seu charmoso ateliê em Caxias do Sul, na serra gaúcha, ela oferece uma linha pronta e também cria modelos personalizados para seus clientes. Telefone: (54) 9122-2755.
IRENE MARCONDES, JORNALISTA
MILENE LEAL, JORNALISTA
FOTO: LETÍCIA REMIÃO
Armazém de sabores
CREME RÚSTICO COBERTO COM MASSA FOLHADA
O Armazém Ventura reúne delícias gastronômicas, uma excelente carta de vinhos e um ambiente agradável para encontrar os amigos, namorar ou simplesmente bater papo. Os proprietários partiram do conceito dos velhos armazéns e mercearias e criaram um ambiente aconchegante, que reúne nostalgia e modernidade. O casarão que abriga o Armazém Ventura data do início do século. O cardápio é cuidadosamente elaborado pela consultora gastronômica Andréa Kasprzak, que supervisiona a produção diariamente. As especialidades vão desde receitas da mãe de um dos proprietários, como bolinho de aipim e carne moída, até um charmoso peixe com molho de champanhe e lascas de amêndoas. O Armazém Ventura está localizado na Av. Nilópolis, número 5, funciona de domingo a quinta das 10h30 à meia-noite e sextas e sábados das 10h30 à 1h. Fone para reservas: (51) 3388-5956. Aqui ao lado, confira uma receita ideal para as noites frias, em frente à lareira, acompanhada de um bom vinho e de um grande amor...
INGREDIENTES: 30 G DE COGUMELOS SECOS, 100 G DE COGUMELOS PARIS, 200 G DE NATA, 250 ML DE LEITE, 50 G DE FARINHA DE TRIGO, 50 G DE MANTEIGA, 80 G DE MASSA FOLHADA, 50 ML DE VINHO TINTO, SAL, PIMENTA-DO-REINO, 1 GEMA. MODO DE FAZER: HIDRATAR O COGUMELO SECO NA ÁGUA E NO VINHO POR CERCA DE 45 MINUTOS. FAZER UM MOLHO BECHAMEL COM A FARINHA, A MANTEIGA E
LIZE JUNG, JORNALISTA
O LEITE. ACRESCENTAR O COGUMELO HIDRATADO E A NATA POR ALGUNS MINUTOS (UTILIZAR A ÁGUA EM QUE O COGUMELO FOI HIDRATADO). DISPOR O CREME QUENTE EM CUMBUCAS QUE POSSAM IR AO FORNO. COBRIR COM A MASSA FOLHADA PINCELADA COM A GEMA. AS-
FOTO: CRISTIANO SANT’ANNA
SAR ATÉ QUE A MASSA ESTEJA DOURADA.
Consumo T E T Ê
PAC H E C O
O JAPÃO E O OUTRO LADO A tendência no Ocidente é se orientalizar. E vice-versa. Ouvi do estilista Walter Rodrigues, apaixonado pelo Japão: “Eles são tão parecidos fisicamente (pelo menos a partir do olhar ocidental) que adoram se diferenciar. E uma das possibilidades de exercitar isso é através da roupa”. De fato. As japonesas são alucinadas por moda. Ao ponto de lojas como Prada e Armani venderem mais lá do que em qualquer outra cidade do mundo. Mas o gosto pela moda no Japão não é só expressado através desse mundo de grifes globalizadas. Outro fenômeno interessante é a forma original como eles montam seus figurinos, buscando uma identidade exclusiva, uma expressão da personalidade a qualquer custo, sem medo de, eventualmente, esbarrar até no bizarro. A busca frenética pela diferenciação é um vale-tudo. Os jovens, meninos e meninas, saem de casa com seu uniformes escolares. E já na estação de metrô começam a desmontar a imagem de estudantes certinhos, partindo para uma verdadeira farra-do-boi fashion. As ruas em torno do bairro Harajuku são diariamente tomadas por centenas de adolescentes modernérrimos e esquisitos cuja vitória máxima é figurar nas páginas da revista Fruits (www.fruits-mg.com) – uma publicação que edita os melhores looks, fotografados ali na rua mesmo. Calcule: em Tóquio são 27 milhões de habitantes. Não existe meca maior do consumo no planeta. Tudo é comprado e vendido 24 horas por dia.
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Estilo Zaffari
Os modismos e tendências já nascem com data para acabar. Bares lançados no final do ano passado já são considerados ultrapassados. A ansiedade talvez venha na contramão da paciência, da contemplação, do respeito ao tempo das coisas, princípios fundamentais da milenar cultura japonesa. Já no outro lado do mundo, onde antigüidade significa ter pouco mais do que 500 anos, a modernidade se aplica a valores muito menos ancestrais. A coisa por aqui, nas américas, ficou tão despudoradamente dispersa e esvaziada de conteúdo e valor que nunca se falou tanto em meditação, contemplação, ioga. Nunca se desejou tanto uma vida menos ansiosa, menos consumista, mais interior. Ironia. A moda do lado de cá é ser o que o lado de lá considera ultrapassado: ser zen. Se a tendência no Ocidente é se orientalizar e a tendência no Oriente é se ocidentalizar, quem é mais moderno? Os adolescentes que fazem de tudo pra se diferenciar ou os que têm orgulho de se vestir uns iguais aos outros? Resposta de cabeça pra baixo. méugniN: atsopser
TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA
Sabor
J O N N H Y
F U J I M O T O
Sushi
zen T E X TO S P AU L A TA I T E L B AU M F OTO S L E T Í C I A R E M I Ã O
Estilo Zaffari
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Sabor
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S U S H I M A N
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S E N S Í V E L
S A M U R A I
D O S
Eles devem manter as mãos frias e, de preferência, o coração quente. É bom que tenham paciência, concentração e habilidade. E que possuam com sua faca uma relação de cumplicidade e confiança, como se o instrumento fosse uma extensão do próprio corpo. Mais do que ser um profissional, o sushiman é um artista. Cada sushi ou sashimi preparado é uma efêmera escultura, um pequeno bibelô, uma flor que desabrocha por entre os dedos ágeis desse artesão. Seu atelier é o outro lado do balcão e seus muitos admiradores possuem as mais variadas idades e profissões. Ou seja, a obra do sushiman caiu no gosto popular. É pop arte. Muito diferente de vinte e cinco anos atrás, quando os Fujimoto tinham um pequeno ponto na Ceasa e comer de pauzinhos era uma excentricidade. Um quarto de século depois, a família cresceu, a decoração mudou, o endereço virou dois: na Cristóvão e no Bourbon Country. O patriarca, Rideu Fujimoto, já não está mais do lado de lá do balcão. Assim como aquele que foi seu primeiro assistente, o filho Jonnhy, que agora é um moderno empresário do ramo zen gastronômico. Um sushizen. Entro no restaurante Sakura e pergunto por Seu Rideu. “O Gitian está aqui”, diz alguém apontando para um senhor que lê seu jornal, sentado em frente ao balcão. Do outro lado, três jovens sushimans preparam os apetrechos para dar início a mais uma noite no Sakura. Todos respeitam o Gitian. E penso que a expressão japonesa talvez signifique algo como “mestre”. Só depois de alguns minu-
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Estilo Zaffari
S A B O R E S
R I D E U
F U J I M O T O
Sabor
T R A D I Ç Ã O
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P R I N C I PA L
T E M P E R O
DA
C O Z I N H A
JA P O N E S A
tos de conversa tomo coragem para perguntar o que quer dizer. “Vovozinho”, responde Seu Rideu, com um forte sotaque oriental. Faz quase cinqüenta anos que ele chegou ao Brasil e o idioma japonês ainda vive com todo vigor em sua fala. É a força de quem se apega intensamente às suas origens para assim não perder a sua essência. Gitian me conta que está aposentado. Só muito de vez em quando veste suas roupas típicas, empunha suas facas e, como um samurai renascido, inicia o ritual de cortar os peixes e moldar o arroz. Quando faz isso, todos que estão por perto ficam fascinados com sua destreza. “Meu pai faz tudo naturalmente, sem pensar”, diz Jonnhy. Jonnhy Fujimoto é o principal discípulo do pai. Começou na cozinha, lavando louça e arroz. Em 1988 foi para o Japão e lá ficou por quase cinco anos. “Foi assistente de algum sushiman?”, pergunto eu. “Não, não, lá fiz outras coisas. No Japão, se você diz que vai ficar menos de dez anos, o sushiman não pega você para assistente, tem que ficar muito tempo...” Jonnhy me explica que um verdadeiro sushiman leva anos para dominar a sua técnica, pois é preciso paciência e persistência para deixar o ofício penetrar na alma. O aprendiz precisa observar muito, já que o mestre normalmente dá poucas explicações. “O assistente tem que ter sensibilidade, pode perguntar, pode até errar, mas deve ter iniciativa”, diz Jonnhy. Continuo querendo saber mais sobre como as coisas são no Japão e ele me conta que lá existem restaurantes só com
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Sabor
C O M I DA
F E I TA
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C O N T E M P L A R
A N T E S
mulheres, as sushiwomans. Aproveito para tirar uma dúvida: se é verdade que as mãos femininas não são tão boas para preparar sushi e sashimi por serem mais quentes. Seu Rideu parece não ter certeza sobre isso, mas fala que as mulheres normalmente usam mais perfume, o que é desaconselhável, já que o peixe cru absorve qualquer odor que passa por perto. Já Jonnhy concorda que a temperatura corporal feminina é mais sujeita a mudanças, mas diz que isso não chega a ser um problema. “Conheci um sushiman que colocava as mãos no gelo”, conta. O objetivo da culinária japonesa é aproximar a comida de como ela é na natureza. Não se mói, não se cozinha muito, não se pica nada. O que é frio deve ser degustado bem frio. E o que é quente, bem quente. Não há excesso de ingredientes, e ao olhar o prato a pessoa deve identificar todas as iguarias. O bom é que conseguir o que você precisa para preparar uma nipodelícia está muito mais fácil do que quando Seu Rideu abriu o restaurante. Nos primórdios do Sakura, encontrar atum ou salmão fresco era coisa rara, enquanto hoje a oferta é grande e há fornecedores especializados. Você tem praticamente tudo do que precisa nos supermercados Zaffari. Tudo para preparar as receitas que seguem e que foram gentilmente cedidas pela família Fujimoto. Caso você fique com água na boca, mas chegue à conclusão de que não tem habilidade suficiente para o preparo, não se aflija. O Sakura está aí para isso.
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Estilo Zaffari
D E
D E G U S TA R
Sabor
Sashimi
Kombu Dashi
Fatias de Peixes Crus
Caldo Básico
PEIXES FRESCOS COMO: ATUM, SALMÃO, NAMORADO, LINGUADO, OLHETE, PARGO, ETC.
1 KOMBU (ALGA MARINHA) COM CERCA DE 20 CM
NABO COMPRIDO
1,5 LITRO DE ÁGUA
SHOYU – MOLHO DE SOJA
30 G DE KATSUOBUSHI (RASPAS DE PEIXE BONITO SECO) OU 2 COLHERES (CHÁ) DE HONDASHI (EXTRATO DE PÓ DE PEIXE BONITO)
RAIZ FORTE (WASABI) PEPINO JAPONÊS Modo de fazer: Corte o nabo em tiras bem fininhas e deixe em água corrente por, no mínimo, 10 minutos. Preparando a raiz forte: se for em pó, faça uma pasta acrescentando água aos poucos e mexendo sempre rapidamente, até ficar homogênea. Tampe por alguns instantes. Existem pastas prontas em lojas especializadas ou mercados. Depois de lavado, o pepino deverá ser cortado com a casca em fatias delicadas para decorar, entre o nabo e os peixes. Separe os filés de peixe e corte-os com 3 cm a 4 cm de largura. Certifique-se de que não há espinhas. Após, fatie os filés na diagonal das fibras, utilizando toda a extensão da faca, com mais ou menos 1 cm cada fatia. Disponha as fatias num prato adequado para sashimi, apoiando as fatias dos peixes nas porções de nabo ralado, como se fosse um leque. É importante montar o prato com cores contrastantes. A forma correta de comer um sashimi começa com o preparo do tempero: coloque uma pequena quantidade de shoyu e wasabi (aquela preparada anteriormente) num pequeno recipiente (kozara), misturando bem e completando com mais shoyu a seu gosto. Passe delicadamente as fatias no molho, uma de cada vez, sem soltá-las dos palitinhos (hashis). O nabo ralado, além de decorar, é importante para a digestão do peixe cru. Para o consumo de peixe cru, devem ser usados os 5 sentidos: visão, tato, paladar, olfato e audição (este serve para escutar o que o vendedor lhe fala). Se houver desconfiança em algum desses, não adquira o pescado. Caso não saiba comprar e limpar um peixe, peça para o peixeiro de sua confiança fazer isto por você, observando onde e como limpa. A faca deve ser extremamente afiada e especial para este tipo de corte. Cuidados e precisão são elementares. Se não tiver faca especial, use uma fina e reta. O sashimi deve ser consumido o quanto antes, para que os peixes não percam a temperatura e o sabor ideais.
Modo de fazer: Lave o Kombu em água corrente. Coloque em uma panela junto com a água e deixe ferver. Retire o Kombu, diminua o fogo e acrescente o Katsuobushi ou Hondashi. Deixe por um ou dois minutos e desligue. Filtre e guarde. O Kombu Dashi é um dos caldos básicos mais utilizados na cozinha japonesa. Utilizado como base para sopas, molhos e cozimento.
Misoshiro Sopa de Misô 2 XÍCARAS DE DASHI (CALDO BÁSICO) 2 COLHERES (SOPA) DE MISÔ (PASTA DE SOJA) 50 G DE TOFU (QUEIJO DE SOJA) ½ XÍCARA DE MOYASHI (BROTO DE FEIJÃO) Modo de fazer: Lave o Tofu e corte em cubinhos. Coloque para cozinhar junto com o Moyashi em uma panela com o Dashi. Desligue antes de ferver. Dissolva o Misô com um coador no Dashi. Sirva em tigelas.
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Sabor
Sunomono
Ika no Bata
Salada de Pepino com Kani
Lula na Manteiga Recheada com Shimeji
3 PEPINOS JAPONESES
1 LULA MÉDIA (SÓ O “TUBO”) LIMPA E FRESCA
½ COLHER (SOPA) DE SAL
80 G DE COGUMELOS SHIMEJI FRESCOS
1 COLHER (SOPA) DE AÇÚCAR
2 COLHERES (SOPA) DE SHOYU
2 COLHERES (SOPA) DE VINAGRE BRANCO
2 COLHERES DE MANTEIGA
2 TABLETES DE KANI DESFIADO
1 COLHER (SOPA) DE MIRIN (SAKÊ DE COZINHA)
Modo de preparo: Lave os pepinos. Retire um pouco da casca, corte ao meio no sentido do comprimento e remova as sementes. Corte em fatias finas. Coloque em uma tigela e salpique com sal. Deixe descansar por meia hora. Esprema e retire o excesso de líquido. Acrescente os outros ingredientes e misture.
Modo de preparo: Pré-aqueça uma frigideira e coloque 1 colher (sopa) de manteiga e refogue os cogumelos ligeiramente. Acrescente o shoyu e o mirin e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de 5 minutos. Desligue. Preencha a lula com este recheio e feche-a com um palito. Em seguida, em outra frigideira, coloque 1 colher (sopa) de manteiga ou azeite e doure a lula em fogo médio por 2 minutos de cada lado. Retire a lula da frigideira e com uma faca afiada corte a lula em anéis e disponha no prato. Decore ao seu gosto.
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Sabor
Yakisoba
Shoga-Yaki
Massa Frita com Camarões e Legumes
Lombo Temperado com Gengibre
200 G DE MASSA PARA YAKISOBA (PODE SER NISSIN)
2 LOMBOS DE PORCO (180 G CADA) 4 FOLHAS DE REPOLHO FINAMENTE FATIADO
50 G DE CAMARÕES MÉDIOS 1 COLHER (SOPA) DE ÓLEO 160 G DE LEGUMES VARIADOS À SUA ESCOLHA (ACELGA, REPOLHO, CENOURA, BRÓCOLIS, COUVE-FLOR, VAGEM TORTA). PODE-SE USAR BROTO DE BAMBU (TAKENOKO) E DE FEIJÃO (MOYASHI).
MOLHO DE GENGIBRE 4 COLHERES (SOPA) DE SHOYU (MOLHO DE SOJA)
ÓLEOS DE GIRASSOL E GERGELIM
4 COLHERES (SOPA) DE SAKÊ
CEBOLINHA PICADA
2 COLHERES (SOPA) DE MIRIN (SAKÊ DE COZINHA)
1 XÍCARA DE CALDO BÁSICO DE FRANGO 1 COLHER (SOPA) DE GENGIBRE RALADO AMIDO DE MILHO 2 COLHERES DE AÇÚCAR AJI-NO-MOTO 2 COLHERES (SOPA) DE SHOYU Modo de preparo: Cozinhe a massa al dente e escorra na água fria e reserve. Numa panela wok ou, se não tiver, frigideira grande antiaderente, aqueça o óleo de girassol suficiente para cobrir a metade da massa e frite-a levemente. Retire e deixe escorrer o excesso de óleo. Limpe e unte a panela para refogar primeiro os camarões picados e depois os legumes. Não cozinhe demais. Acrescente o shoyu, uma pitada de aji-no-moto e misture rapidamente; depois, o caldo de frango. Deixe ferver e coloque um pouquinho de amido de milho para encorpar. Desligue e acrescente a cebolinha picada e o óleo de gergelim. Numa travessa coloque a massa e cubra-a com o molho de legumes. Obs.: o fogo deve ser sempre o mais alto possível, para que os ingredientes não cozinhem demais, apenas fiquem refogados.
Modo de preparo: Combine os ingredientes do molho de gengibre numa bacia, e deixe os lombos de porco marinando por 10 a 15 minutos. Aqueça uma frigideira com o óleo. Retire os lombos do molho e frite em fogo alto por 2 a 3 minutos, até dourar de um lado. Vire, diminua o fogo e frite tampando a frigideira por mais 4 minutos. Retire da frigideira. Coloque o molho de gengibre para aquecer na frigideira num fogo médio e cozinhe em fogo baixo por 2 minutos. Sirva num prato decorando com o repolho. Derrame o molho da frigideira sobre os lombos.
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Bom conselho P O R M A L U C O E L H O
SABEDORIA JAPONESA Um país com costumes tão diferentes, conhecido pela forma peculiar de ver a natureza, a religião, as artes, o trabalho, a família e por sua sabedoria milenar. Ao falar no Japão acabamos nos transportando a um mundo muito especial, de real beleza. Além disso, tudo que se conhece das atitudes dos japoneses nos faz realmente admirá-los e imaginar que temos muito a aprender. A graciosidade dos origamis O apreço aos detalhes popularizou o origami, que é muito mais do que simplesmente dobradura em papel – é delicadeza, perfeição, fé, esperança, oração, saúde, fortuna, distração e paz. O origami mais popular do Japão é o tsuru, “garça da sorte”. Considerada uma das dobraduras mais perfeitas, pois a sua forma serve de base para compor outras dobraduras, desde animais até plantas. Que tal uma Garça da Sorte? Além da função decorativa, a garça passou a ser oferecida em altares e templos, e ao dobrar a figura as pessoas depositam nela toda fé e esperança. Antigamente se costumava pendurar essas aves de papel no teto para distrair as crianças, especialmente bebês – dizia-se que ela trazia longevidade. Nos dias atuais a garça de papel é utilizada na decoração de presentes, em casamentos, ano-novo, nascimentos e todo tipo de comemoração festiva, simbolizando saúde e fortuna. Crendices ou não, o certo é que as pessoas se unem no Japão todos os anos, para confeccionar milhares de garças e depositar no Monumento da Paz em Hiroshima, onde caiu a bomba atômica, formando uma corrente de pensamento positivo pela paz mundial. Se você está com vontade de fazer algum tipo de arte, o origami não representa nenhum custo. Só leva papel, paciência, habilidade manual e dedicação. E acima de tudo pode lhe trazer muita sorte e vida longa. Os japoneses que o digam!
SÃO OU NÃO SÃO CHEIOS DE MISTÉRIOS?
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O MÓBILE DE ORIGAMI QUE ENFEITA ESTA PÁGINA É UM TSURU E FOI CONFECCIONADO PELA DESIGNER MARIANA REIS, ESPECIALMENTE PARA A ESTILO ZAFFARI. FONE: 9955.3098.
Viagem
MAIOR TORII DO JAPÃO, NO MAR SETO (VISTO DO SANTUÁRIO DE ITSUKUSHIMA)
Mundo às avessas T E X TO S E F OTO S A N G E L A FA R I A S
MERCADO DE PEIXES E MAIOR TORII DO JAPÃO, NO MAR SETO
AO CHEGAR, A SENSAÇÃO É DE QUE O MUNDO VIROU ÀS AVESSAS: TROCAMOS O DIA PELA NOITE, O VERÃO PELO INVERNO
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Formado por um arquipélago de cerca de 4 mil ilhas, o Japão é um lugar fascinante. Da agitada Tóquio à ilha sagrada de Miyajima, aqui há muito o que aprender. O povo é gentil, reservado, religioso, trabalhador e em plena era da globalização faz questão de manter intactos sua cultura e seus costumes. Terra de aparentes contradições... Bem-vindos ao Nippon, ou “terra do sol nascente”! A primeira sensação que se tem ao chegar no Japão é de que o mundo virou às avessas: trocamos o dia pela noite, o verão pelo inverno e o trânsito tem mão inglesa. Tarefa complicada até para os próprios japoneses, encontrar endereços em Tóquio é uma aventura: fora as grandes avenidas, a maioria das ruas não têm nome e a numeração dos prédios não é por ordem seqüencial, mas em ordem de construção. Para driblar este caos, consiga sempre um mapa detalhado com explicações do tipo: descer na estação de metrô “X”, saída “Y”, andar 50 m até a loja de bicicletas, virar à direita, andar até o café e atravessar a rua... Não se preocupe, esta é uma prática absolutamente corriqueira para eles.
Encontro meu prédio e digito a senha para entrar. Isto é Japão! Uma sucessão de duas ou três portas automáticas me faz lembrar a abertura do “Agente 86”. O apartamento não é tão pequeno como a maioria de nós imagina. Aqui há milhares de “JKs” bem menores... O que chama a atenção é o pé-direito, muito mais baixo do que o nosso. Basta levantar o braço e encosto a mão no teto! E eu só tenho 1,63 m! Está escuro lá fora e um cansaço terrível me abate. Eu, que não sou de dormir cedo, vou ter que me entregar a Morfeu. Devem ser 10h da noite. Os efeitos do jet lag são avassaladores – só de Guarulhos a Narita são 24 horas de vôo, somadas ao trecho Porto Alegre–São Paulo, mais esperas no aeroporto, uma hora e meia de ônibus de Narita até Tóquio e doze horas de diferença de fuso horário. Mas não é hora para matemática, e o sono é grande. Só por curiosidade, dou uma olhadinha no relógio: 5 da tarde! Não pode ser! Azar, vou ter que dormir. Totalmente renovada, desperto às 3h com todo o gás e ansiosa por conhecer de perto esta terra tão dife-
Viagem
rente da nossa. A vontade de sair é tanta que não consigo esperar o sol raiar e me aventuro pelas calçadas de Tóquio. A fama de que esta é uma das cidades mais seguras do mundo é suficiente para me arrancar de casa. Saio a pé para conhecer o bairro, Akasaka, de madrugada, o que em qualquer outro canto do mundo seria no mínimo uma imprudência. Em Tóquio decididamente não é! Há várias pessoas na rua passeando com seus cachorros. Em quase todos os quarteirões há quitandas e lojinhas de conveniências abertas 24 horas. E pessoas comprando! Finalmente amanhece. A cidade é linda, a limpeza impecável. Mesmo que se procure não há sequer baganas de cigarro pelo chão – e como eles fumam! A elegância das japonesas chama a atenção tanto quanto o equilíbrio que desenvolvem sobre sapatos de plataformas gigantes. Mas confesso que vi algumas torcendo o pé... Começa a se formar um formigueiro humano – Tóquio tem cerca de 12,5 milhões de habitantes. Enquanto alguns vão de carro, a pé ou de bicicleta, milhões de japoneses e eu nos dirigimos ao metrô. A rede é muito eficien-
ADOLESCENTE EM HARAJUKU E TALISMÃS PARA SAÚDE, VITÓRIA, PROTEÇÃO CONTRA TERREMOTOS...
te e abrange praticamente toda a cidade. É fácil entender as placas de sinalização das estações. Os japoneses em Tóquio andam com uma rapidez impressionante. O ritmo é frenético e me dou conta de que este movimento é apenas uma outra face da rapidez com que o Japão se desenvolveu após a guerra e da velocidade com que inventam tecnologias de ponta. Não é à toa que projetaram o shinkansen, trem-bala que alcança até 275 km/h, e os maglev, que em vez de rodas usam ímãs e atingem mais de 500 km/h. Vou para Akihabara, o bairro dos eletrônicos. E é preciso preparar o espírito: lá tem tanta novidade tecnológica que você sai com a sensação de, no Brasil, viver na era das cavernas. Mas este não é um bom lugar de compras para nós, pobres dinossauros. Além dos preços muito altos, grande parte da tecnologia não está disponível no Brasil e você pode ter problemas para encontrar assistência técnica especializada. Um dos bairros mais bacanas de Tóquio é Harajuku. E domingo pela manhã é o dia certo para visitá-lo. É bom
HARAJUKU É O BAIRRO MAIS DESCOLADO DE TÓQUIO. OS JOVENS SE FANTASIAM PARA SEREM FOTOGRAFADOS
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TEMPLO KINKAKUJI (OU TEMPLO DE OURO), EM QUIOTO
chegar antes das 10h, quando o movimento ainda é pequeno. Depois, tem tanta gente que mal se consegue andar. Imagine a multidão da Rua da Praia na hora do almoço e multiplique por cem! Mas se você não conseguir acordar cedo, não desista: encare o formigueiro, porque o passeio vale a pena! É para lá que se dirigem centenas de jovens com cabeças e sacolas cheias de fantasias. Encontram a sua “tribo” e começam a superprodução: maquiagem caprichada e roupas extravagantes, eles normalmente copiam o estilo das bandas de rock japonesas e se divertem posando para os curiosos fotografarem. Tudo muito colorido, eles pontuam a sua popularidade de acordo com o número de pessoas que pedem para fotografá-los. Aqui, quantidade é sinônimo de qualidade. Se você tiver sorte também pode assistir a algum show de dança ou de rock japonês. Os novos artistas se apresentam na praça, na esperança de que algum produtor esteja assistindo e lhes ofereça um contrato. Algumas bandas de sucesso surgiram assim. Harajuku também é cheio de brechós, butiques ultramodernas e cafés com mesas nas calçadas. Aqui é um ótimo lugar para comprar artigos regionais. O Oriental Bazaar é conhecido como a melhor loja para encontrar quimonos, xilogravuras, cerâmicas, artesanatos em madeira, papel e até mesmo móveis. À noite, dê um passeio pela Av. Ginza. Cheia de painéis eletrônicos e vitrines sonorizadas, lembra um pouco Nova Iorque, só que é muito mais legal. A comida Não gostar de comida japonesa ou falta de habilidade com os hashi – pauzinhos – não são desculpas para evitar o Japão. Inúmeras são as opções gastronômicas disponíveis: da sofisticada cozinha francesa ao fast food, passando por churrascarias, restaurantes italianos, mexicanos, chineses, tailandeses ou indianos. Em qualquer um deles você será muito bem servido e atendido, mas atenção: nem pense em dar gorjeta! Este hábito é considerado uma indelicadeza, e além de não aceitarem de jeito nenhum os japoneses se sentem muito ofendidos. Muitos restaurantes têm uma vitrine com cópias perfeitas dos pratos feitas em plástico ou resina. Se você não entender o cardápio é só mostrar o prato que deseja. Para os amantes da culinária japonesa, o óbvio: você está no paraíso! Mas o detalhe que conta e que faz toda a diferença é que todos os pratos são elaborados com ingredientes extremamente frescos. Os peixes para o preparo dos sashimis saem praticamente do mar para a mesa, o que lhes confere um sabor especial. No mercado atacadista de peixes Tsukiji, os barcos abarrotados de frutos do mar e peixes chegam por volta das 3h da manhã e lá pelas 6h começam os leilões. Dali saem quase todos os peixes que
A IMAGEM DO TEMPLO FOLHEADO A OURO REFLETIDA NO LAGO DE QUIOTO É INESQUECÍVEL
vão ser consumidos durante o dia em Tóquio. Nos arredores do mercado há inúmeras bancas que vendem peixes e frutos do mar direto para o consumidor. Muitos japoneses comem sushi no café da manhã! A comunicação Apesar do confuso sistema de endereços, não é difícil andar sozinho pelo Japão. Pelo menos nas grandes cidades as informações principais estão disponíveis também em inglês. Mas prepare-se para, em determinadas circunstâncias, sentir-se um analfabeto: até hoje eu não sei se não comprei ração para cachorro pensando ser uma caixa de Sucrilhos... Pior que isso, além de não ler ou escrever, você ainda não entende o que eles falam. Em geral, esta situação não é assim tão desesperadora porque a maioria dos japoneses, principalmente os mais jovens, entende o inglês. Você pode “fisgar” o japonês com um sumimasen – com licença – e pedir as informações em inglês. O povo é muito gentil e atencioso, e se você pedir uma informação para um japonês que não fale inglês, te-
SANTUÁRIO DE ITSUKUSHIMA EM MIYAJIMA - PALCO E LANTERNA DE PEDRA
nha certeza de que ele ficará muito mais desesperado do que você e sairá, ele mesmo, à procura de alguém que possa ajudar. É comum que alguns deles entendam bem o inglês escrito, então tenha sempre papel e caneta à mão. No entanto, mesmo para os que têm o inglês fluente, é necessário fazer algumas “adaptações” para entender o sotaque carregado dos japoneses. Eles não conseguem pronunciar o “l”, então o substituem por “r”. O “v” é trocado por “b”. Quando há duas consoantes juntas ou uma consoante muda no fim da palavra, acrescenta-se um “a”, “o” ou “u”, conforme o caso. Complicou? Aqui vão alguns exemplos: Milk, leite, vira miroko, hot dog passa a ser hoto dogo, Yakult é yakuruto, Mc’Donalds, macu donaruto, Varig Brazilian Airlines fica muito engraçado: Barigu Burazirianu Airurines... Não tem jeito, é preciso acostumar o ouvido, e se você conseguir imitá-los fica mais fácil de se fazer entender.
AO ENTRAR NOS TEMPLOS E NAS CASAS VOCÊ DEVE TIRAR OS SAPATOS. FICAR CALÇADO É GAFE!
Aqui tira sapato! A maior e pior gafe que você pode cometer no Japão é,
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CERVOS EM MIYAJIMA E LANTERNAS JAPONESAS
OS CERVOS SÃO CONSIDERADOS MENSAGEIROS DOS DEUSES. ESTES EU FOTOGRAFEI NA ILHA DE MIYAJIMA
ao entrar em uma residência, não trocar os sapatos pelos chinelinhos que ficam na entrada. Para os japoneses, as impurezas vindas do exterior não devem ser levadas para dentro de um lar. Você também deve tirar os sapatos ao entrar em templos, restaurantes tradicionais, provadores de lojas e ryokans – hospedarias em estilo japonês. E se em qualquer outro lugar você vir os chinelinhos na porta, não hesite. Caso você tenha que pisar em um tatame, tire os chinelos e fique descalço ou de meias. Um detalhe importante: quando for ao banheiro, você precisará trocar os chinelos por outros de borracha ou de plástico. Não esqueça de destrocá-los ao sair. Quando isto acontece – com um ocidental, é claro! –, eles acham constrangedor e engraçado. Peça desculpas e vá correndo trocar. Evitando micos Alguns detalhes são imprescindíveis para enfrentar com elegância as enormes diferenças culturais entre nós, brasileiros, e os japoneses. Ao cumprimentá-los, em hipótese alguma os beije ou abrace, e evite o aperto de mão.
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Estilo Zaffari
Qualquer contato físico é considerado extremamente íntimo para um cumprimento. Os japoneses deixam os braços estendidos ao longo do corpo e o curvam para a frente a partir da altura do quadril. Mas há uma série de regras a serem seguidas neste gesto aparentemente simples. O grau de curvatura do corpo e quem levanta antes é algo determinado pela idade e pela hierarquia das pessoas envolvidas no cumprimento. Para não fazer feio, não tente imitálos. O mais adequado é um simples sorriso. Assim você não cometerá nenhuma indelicadeza e eles entenderão que você não conhece as regras por ser um estrangeiro. Olhar para um japonês diretamente nos olhos é, praticamente, o mesmo que xingá-lo. A menos que você queira partir para a briga, ao conversar com um japonês olhe na altura dos seus ombros. Ao receber um cartão de visitas – e você receberá muitos – segure-o com as duas mãos e olhe-o com muita atenção, mesmo que você não entenda nada, por alguns segundos antes de guardá-lo. E, finalmente, se for brindar com alguém, diga “kanpai”. Lembre-se: nunca, jamais, nem que o mundo
MERCADO DE PEIXES
OS PEIXES SAEM PRATICAMENTE DO MAR PARA A MESA. OS MERCADOS SÃO UMA ATRAÇÃO À PARTE
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acabe, diga “tintim”! O que significa? Uma maneira pouco polida de se referir ao órgão sexual masculino. Chato, né? Viajando pela Ilha de Honshu É hora de pegar o shinkansen e ir para o sudoeste. Até Quioto, parada obrigatória, são 512 km e somente 2h40min de viagem. No caminho, a apenas meia hora de Tóquio, você pode ver pela janela o monte Fuji, carinhosamente chamado de Fuji-san pelos japoneses. Quioto foi, por mais de mil anos, a capital do Japão. Observe que o caractere “quio”, que significa “capital”, aparece tanto em Quioto como em Tóquio, que se chamava Edo antes de a capital ser transferida para lá. Das principais cidades japonesas, Quioto foi a única que escapou dos bombardeios da segunda guerra, transformando-se em símbolo da história do Japão. A cidade é um charme e algumas casas têm bonsais na entrada. Dentre inúmeras opções, resolvi visitar o Templo Ryoanji, a fim de conhecer o mais famoso jardim de pedras, ícone do zenbudismo japonês. De uma porção de seixos brancos cui-
dadosamente alinhados emergem quinze pedras que representam ilhas ou montanhas no mar. Recomenda-se que a pessoa sente em frente a ele em estado contemplativo. Juro, tentei obedecer. Mas em menos de cinco minutos fui invadida por uma terrível sensação de culpa: eu tinha pouco tempo para ficar na cidade e me atormentava a idéia de não estar me dirigindo a pelo menos mais um dos 1.599 templos budistas restantes ou um dos cerca de 300 santuários xintoístas existentes em Quioto. Saí de fininho tentando me esconder da minha própria falta de paz de espírito e sucumbi ao meu desejo de turista-correndo-tentando-ver-tudo-o-que-dá! Visitei, ainda, alguns jardins japoneses maravilhosos e fui para o Kinkakuji, réplica do pavilhão de ouro construído por um xogum em 1390 e destruído por um incêndio. A imagem do tempo folheado a ouro refletida no lago é mais uma das agradáveis lembranças que trago do Japão. Nara, conhecida como Heijo-ko – cidadela da paz –, foi a primeira capital do Japão e fica bem pertinho, cerca de 40 km de Quioto. Vale a pena conhecer o Templo To-
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CASTELO SHIRASAGI-JO OU CASTELO DA GARÇA BRANCA, EM HIMEJI
daiji, construído em meados dos anos 700, e o Daibutsu, que é uma imagem de Buda de 15m de altura feita em Bronze. Passear no Parque de Nara é uma delícia, e você pode ver centenas de cervos andando livremente. Himeji localiza-se a 130 km de Quioto e é a cidade que abriga um dos castelos – ex-fortaleza militar – mais lindos do Japão. O castelo, que hoje é patrimônio da humanidade, aparece no filme Ran, de Akira Kurosawa, e é conhecido como Shirasagi-jo, ou “castelo da garça branca”. Dizem os japoneses – que imaginação fértil! – que o formato das paredes brancas do castelo lembra a ave voando na planície... Mais do que um legado atômico, Hiroshima é uma cidade bonita e moderna. Não fosse pelo Parque, pelo Museu Memorial da Paz e pelo Domo da Bomba-A – ruína do único prédio que sobrou após a explosão –, seria difícil imaginar que já foi o palco de uma das maiores tragédias da humanidade. O mais bonito de Hiroshima é, sem dúvida, a postura dos japoneses em relação ao seu passado: eles não lamentam o horror, simplesmente lutam e promovem a paz mundial. O museu está ali apenas como um exemplo a não ser seguido. Ainda assim, a visita ao Memorial da Paz foi um golpe forte. Saí de lá completamente calada, sem pensamentos, vazia de tudo... Sensação de flutuar Por sorte, ali, quase ao lado, a apenas 13 km de Hiroshima, fica a ilha de Miyajima. Para chegar a ela é preciso pegar um trem e uma balsa que leva mais ou menos 10 minutos para cruzar o mar Seto. Do mar se ergue o maior torii – pórtico, este com mais de 16 m de altura – do Japão, indicando que a partir dali o território é sagrado. Tão sagrado que antigamente era proibido nascer ou morrer em Miyajima. As mulheres grávidas e os doentes eram imediatamente afastados de lá, para evitar que cenas demasiado humanas acontecessem na ilha. Até hoje não há cemitérios ou maternidades no local. Coberta por florestas virgens, Miyajima tem cerca de 31 km de circunferência. A mais ou menos 10 minutos a pé partindo do píer está a principal atração da ilha: o Santuário de Itsukushima, construído em 592 em homenagem a três deusas. Nesta pequena caminhada, dezenas de cervos extremamente mansos vieram ao meu encontro. Não deve ser por acaso que esses simpáticos animais são considerados “os mensageiros dos deuses”. A companhia deles foi muito divertida e deixei para trás o “efeito Hiroshima”. Ao chegar no santuário, procurei um monge para saber a que horas a maré estaria cheia. Ele puxou um livrinho com uma tabela e falou um horário preciso, algo como 11h38min. Tão pontual como os japoneses – que são mais pontuais que os ingleses –, o mar parou de subir na hora exata. O templo pareceu flutuar sobre as águas tanto quanto, algumas horas depois, eu deixei a ilha... Flutuando...
CURIOSIDADES OS CÃES E OS GATOS SÃO MUITO GORDOS NO JAPÃO. OS JAPONESES ADORAM LER NO METRÔ, MAS ELES SEMPRE ENCAPAM OS LIVROS PARA QUE NINGUÉM SAIBA O QUE ESTÃO LENDO. POR CERCA DE CEM DÓLARES, ELES PODEM ALUGAR UM CACHORRO PARA PASSEAR COM O BICHO PELAS RUAS DE TÓQUIO. OS JAPONESES SE SENTEM TÃO CONSTRANGIDOS AO FREQÜENTAR BANHEIROS PÚBLICOS QUE ALGUNS TÊM ALTO-FALANTES EMITINDO O SOM DA DESCARGA PARA QUE QUEM ESTEJA DO LADO DE FORA NÃO PRECISE OUVIR “OUTRO TIPO DE BARULHO”. POR CAUSA DA COMPLICAÇÃO EM ACHAR ENDEREÇOS, OS TAXISTAS SÓ PARAM PARA OCIDENTAIS SE ELES TIVEREM NA MÃO O CARTÃO DE VISITAS DO HOTEL OU DO LUGAR ONDE QUEREM IR. AS PORTAS DOS TÁXIS ABREM E FECHAM AUTOMATICAMENTE, E OS MOTORISTAS SEMPRE USAM LUVAS BRANCAS. NOS RESTAURANTES, UMA HORA ANTES DE FECHAR ELES ANUNCIAM O HORÁRIO, PARA QUE OS COMENSAIS POSSAM FAZER O ÚLTIMO PEDIDO. QUANDO VOCÊ ENTRA EM UMA LOJA OU RESTAURANTE, ELES SEMPRE FALAM “IRASHAIMASE” – BEM-VINDO! ALGUNS TURISTAS DESAVISADOS DÃO MEIA-VOLTA, ACHANDO QUE ESTÃO SENDO EXPULSOS! SE VOCÊ ESTÁ EM UM SHOPPING QUASE NA HORA DE FECHAR, TODOS OS FUNCIONÁRIOS FAZEM UMA FILEIRA FORMANDO UM CORREDOR NA PORTA. QUANDO VOCÊ PASSA, ELES SE CURVAM PARA CUMPRIMENTÁ-LO. A VARIEDADE DOS CARACTERES JAPONESES É TÃO GRANDE QUE MESMO UM JAPONÊS CONSIDERADO EXTREMAMENTE CULTO NÃO É CAPAZ DE IDENTIFICÁ-LOS TODOS.
O sabor e o saber F E R NA N D O
LO K S C H I N
RISO DI CARRETIÈRE Para quem sorri o arroz com infinitos dentes brancos? A história foi contada por Walpole, ele mesmo um bispo anglicano. Um rei francês, ao relatar suas fantasias sexuais extraconjugais, foi severamente recriminado pelo padre confessor. Após a penitência, o rei quis saber do padre qual era seu prato predileto. “Perdiz!”, foi a resposta entusiasmada. O rei ordenou então ao cozinheiro da corte que sempre e somente perdiz fosse servida ao padre. Meses depois, quando o rei perguntou ao padre como ia sua vida no palácio, teria recebido como resposta um lamento desesperado que se tornou proverbial: “Perdiz, sempre perdiz”... Diferente da perdiz do padre e da esposa do rei, o arroz tem a rara qualidade de nunca se tornar enfadonho. Mais de 3 bilhões de pessoas comem arroz 2 ou 3 vezes todos os dias de suas vidas sem nunca perderem o prazer e o apetite. O arroz não causa monotonia de cardápio, quanto mais é comido, mais é gostado. O arroz brilha pela singeleza: a discrição de tamanho, forma, consistência, cor, odor e sabor é sua maior qualidade. É o acompanhante ideal para outros alimentos, seu grão absorve o caldo em que cozinha e, assim, incorpora o gosto que se queira dar. Natural da Índia, o arroz é uma planta do seco que por mutação se adaptou bem à água. Emigrou para China, levado não pelo homem mas pelos ventos, águas e aves. Aclimatou-se por toda a Ásia, onde moldou a demografia, governo, cultura e caráter da região. Na verdade não é possível definir a Ásia pela geografia, clima, linguagem, etnia, história ou religião, seu verdadeiro denominador comum é o arroz! Lá ocorrem 90% do cultivo e consumo do arroz, numa associação entre homem e alimento sem equivalentes. A plantação do arroz na Ásia tende a ser coletiva, requerer uma força de trabalho volumosa, coordenada, paciente como são aquelas comunidades. Os povos são, ou melhor, tornam-se aquilo que comem. Na agricultura tradicional, o arroz é o mais eficiente dos cereais; os asiáticos, nutridos pelo grão, foram por séculos mais numerosos, poderosos e sadios do que os europeus, africanos e americanos. Sem a máquina e a química, o arrozal cria um ecossistema paralelo de piscicultura que fornece as proteínas que complementam suas
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calorias. Apesar da menor produtividade, há mais emprego e conservação do solo. A tradição chinesa ensina que dos cinco grãos sagrados – arroz, trigo, soja, cevada e milhete – o arroz é rei. Grande onívoro, o chinês come cães, gatos e macacos, mas, para ele, alimento mesmo é arroz, todo o resto é mero acompanhamento. Sua palavra para ‘arroz’, pán, é a mesma que para ‘refeição’, e como um equivalente ao nosso “Como vai?” o chinês pergunta: “Já comeu arroz hoje?”. Lá, o arroz pode ser totalmente reciclado. Junto a muita gente e pouco bicho, o chinês não faz qualquer restrição ao uso de dejetos humanos como adubo, pelo contrário: agricultores podem disputar o conteúdo de latrinas e já foi praxe o consumidor pagar parte do arroz com suas próprias fezes. E o Japão, apesar da recente ocidentalização, ainda é visto pelo clichê do arroz cozido e peixe cru. A bebida japonesa é o saquê, aguardente de arroz oferecida aos hóspedes, antepassados e divindades; o ano novo é celebrado com muki, bolo de arroz; e nos sushi e sashimi o que faz diferença não é o peixe, é o arroz, este sim, a verdadeira comida japonesa. Como na China, a palavra japonesa para ‘arroz’ é a mesma que para ‘comida’, goham, que ainda recebe o sentido adicional de ‘homenageado’. Assim como dizemos café da manhã mesmo se bebemos leite ou chá, o japonês diz sempre asagohan, ‘arroz da manhã’. Para o japonês, só o imperador seria mais sagrado do que o arroz, e para o budista – e Buda era filho de Sudodana, ‘arroz puro’ em sânscrito –, só Buda seria mais perfeito que o arroz. O Japão recebeu o arroz da China junto com a escrita, o kanji. Cinco mil anos de intimidade se revelam em centenas de ideogramas com o desenho do arroz. Palavras para ‘estação’, ‘outono’, ‘semente’, ‘colheita’, ‘imposto’ e ‘pagamento’ trazem em seus símbolos testemunhos literalmente escritos da importância do arroz: ‘dúvida’ se expressa como incerteza sobre a produção e preço do arroz, e ‘vizinhança’ como proximidade a um arrozal. Até a palavra ‘dente’ contém o símbolo do arroz, uma comparação de cor e forma, curiosamente a mesma metáfora usada por Neruda no ver-
REFOGAR CEBOLA PICADA E UM MÍNIMO DE TOMATE. DOURAR ALI O GUISADO E RETIRAR DO FOGO. DERRAMAR 2 XÍCARAS DE ÁGUA MINERAL QUENTE. DEIXAR DESCANSAR. FRITAR 2 DENTES DE ALHO. RETIRAR O ALHO E FRITAR O ARROZ. COAR A CARNE E DESPEJAR O CALDO NO ARROZ. COZINHAR MEXENDO EM FOGO BAIXO. ADICIONAR 1 CÁLICE DE VINHO BRANCO SECO. PÔR MAIS ÁGUA MINERAL FERVENTE, SE PRECISO. QUANDO QUASE AL DENTE COLOCAR A CARNE. ADICIONAR ERVILHAS OU BRÓCOLIS. ACRESCENTAR PARMESÃO, TEMPERO VERDE, CUBOS DE TOMATES SEM PELE E SEMENTES. BORRIFAR OVO DURO PICADO E SERVIR.
O sabor e o saber F E R N A N D O
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so: “Para quem sorri o arroz com infinitos dentes brancos?”. Uma evidência biológica do longo convívio humano com o arroz é a facilidade de sua digestão. Diferentemente da maioria dos alimentos, trigo e leite inclusive, não existe qualquer alergia ou intolerância ao arroz. Sem glúten, o grão tem absorção fácil, completa e universal, por isto é o cereal base das farinhas infantis e suplementos dietéticos. O arroz é bem recebido pelas barrigas do bebê, do idoso e do doente. Ainda usamos a água de arroz, cujas virtudes intestinais foram descritas há dois mil anos, e a receita de arroz de leite remonta ao milenar bálsamo estomacal dos médicos romanos. Além de alimento e medicamento, o arroz purificava o rosto da gueixa e camuflava as marcas da varíola nas cortes européias: se o rouge tem o rubor do sangue, o pó de arroz é imaculadamente branco. Quando atiramos punhados de arroz aos noivos, borrifamos prosperidade e fertilidade. Este é um costume indiano que passou ao Ocidente, antes se jogavam trigo, figos, confete e até ovos! Para os indianos, os grãos de arroz devem ser como bons irmãos, unidos mas não colados, e para o tailandês o arroz é o sucedâneo natural do leite materno: a mais branca e acolhedora nutrição. Como a batata para os incas, é o arroz que dá a referência de tempo e espaço em Madagascar: o ‘tempo que leva para cozinhar arroz’ significa um período de meia hora e uma distância de três quilômetros. A palavra arroz, como a planta, é de origem oriental, sua origem está no sânscrito wrihri, que se disseminou via o grego oryza e árabe ar-ruzz. Conta a tradição que carne de camelo com o arroz amanteigado era o prato preferido de Maomé. Seus seguidores, os sarracenos, levaram o arroz até a Espanha e Sicília, e seus opositores, os cruzados, trouxeram o arroz para a França e Itália. O cultivo do arroz nos banhados do rio Pó nos legou o risoto e o italianismo das palavras malária (‘mal ar’), paludismo (‘pântano’) e insalubre. Mas se o poeta associa o arroz com o sorriso, o italiano o faz com o riso: como o som das suas palavras para ‘arroz’ e
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‘riso’ é o mesmo, quem ri muito ouve a frase: mangiato la minestra di riso (tomou a sopa de arroz/riso). O arroz fez com que Jefferson acumulasse funções de embaixador na França e contrabandista. Ao visitar a Itália, sabedor de que a exportação de arroz era proibida e o contrabando um crime capital, ele subornou um muleteiro para levar uns sacos até o porto de Genova. Temeroso de que o homem não cumprisse o acordo, Jefferson cruzou a fronteira com bolsos cheios de arroz que enviou para a Carolina do Sul. (1787) Sem a paella, Portugal nunca deu ao arroz o mesmo destaque que a Espanha. Com a descendência foi o inverso: o Brasil foi pioneiro no cultivo de arroz no Novo Mundo, onde é o maior consumidor. Mesmo no sul, los hermanos compartilham conosco o churrasco e chimarrão, mas não o Arroz de Carreteiro. Primeiro país europeu a comercializar com a Ásia, Portugal cedo trouxe o arroz para o Brasil: em 1587 já se cultivava na Bahia, em 1650 em São Paulo, e aos poucos o arroz foi assumindo o lugar da farinha de mandioca como o acompanhante de toda e qualquer refeição. O brasileiro trata o arroz da mesma forma que a água, o ar ou o afeto: quase indiferença à sua presença diária e desespero na falta. O prato nacional é o Feijão com Arroz, ‘par sem par’, ícone nacional tal o carnaval, a bunda e o Redentor. A convivência é tanta que o ‘Feijão com Arroz’ adquiriu o sentido de ‘rotineiro’, de ‘dia a dia’. Se na Ásia o arroz é o alimento, no Brasil o arroz é o acompanhamento; sem ele, qualquer comida parece nua e solitária. O Ocidente tende a guarnecer com batatas, ervilhas ou outros vegetais, mas no Brasil é ‘arroz, sempre arroz’, o grão ganha atenção secundária mas permanente. E com infinitos dentes brancos o arroz nos sorri, modestamente.
FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br
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Raku:
A magia da cerâmica
japonesa
T E X TO S I R E N E M A R C O N D E S F OTO S L E T Í C I A R E M I Ã O
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REPLETA DE SÍMBOLOS, A CERÂMICA RAKU OCUPA ESPAÇO DE HONRA NA CULTURA ORIENTAL DESDE O SÉC. XVI É IMPOSSÍVEL PERCORRER OS CAMINHOS DA ARTE SECULAR DO RAKU SEM RESGATAR A HISTÓRIA DA TRADICIONAL CERIMÔNIA DO CHÁ – UM RITUAL JAPONÊS INSPIRADO NOS IDEAIS BUDISTAS QUE CULTUA A TRANQÜILIDADE, O AUTOCONHECIMENTO, A AUSTERIDADE E O EQUILÍBRIO. OS MESTRES DO CHA-NO-YU, COMO ESTA CERIMÔNIA É CHAMADA, BUSCAM UM FORTE RESPALDO FILOSÓFICO NAS PEÇAS DE CERÂMICA USADAS NO RITUAL DO CHÁ. FIRMEZA, EQUILÍBRIO E UMA AGRADÁVEL TEXTURA NA BORDA DAS CUMBUCAS CARACTERIZAM ALGUNS ASPECTOS DO RAKU MUITO VALORIZADOS PELOS MESTRES. A MÍSTICA DESTAS DUAS TRADIÇÕES ORIENTAIS COMEÇA NA QUEIMA DAS PEÇAS DE CERÂMICA. AINDA INCANDESCENTES, ELAS SÃO PINÇADAS DOS FORNOS A UMA TEMPERATURA DE 980ºC E IMEDIATAMENTE MERGULHADAS NUM TONEL COM SERRAGEM. AS TÉCNICAS DESTE PROCESSO REVELAM UM PRIMEIRO APRENDIZADO: MESMO DE APARÊNCIA FRÁGIL, A CERÂMICA RESISTE AO CHOQUE TÉRMICO SEM RACHAR E O EFEITO DO SEU ESMALTE É ÚNICO E IRREPRODUZÍVEL, ASSIM COMO A NOSSA ALMA. A CERAMISTA ADMA CORÁ ABRIU AS PORTAS DO SEU ATELIÊ EM PORTO ALEGRE E NOS REVELOU DETALHES DA ARTE DO RAKU – UMA TÉCNICA QUE COMEÇOU EM 1550 NO JAPÃO E CONTINUA ATÉ HOJE REPLETA DE SIMBOLISMOS.
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AS LENDAS DO RAKU Duas histórias distintas narram o início desta arte em cerâmica de alta temperatura. Estudiosos japoneses, porém, têm uma certeza: o imigrante coreano Chojiro foi quem iniciou esta técnica no século XVI, no Japão. Antigos registros contam que nesse período ocorreu um desastre natural no país e ceramistas coreanos foram convidados a ajudar na reconstrução das casas. Chojiro e seu pai Ameyra estavam entre eles. Como a demanda por telhas era enorme, o jovem artesão começou a retirar as peças ainda quentes dos fornos, e, para surpresa de todos, elas resistiram ao choque térmico graças à enorme quantidade de areia na massa. A outra versão que relata o início do Raku é menos romântica. Conta a lenda que este ceramista coreano, que vivia em Kioto, produzia cumbucas para a Cerimônia do Chá. Com as encomendas cada vez maiores, ele se viu obrigado a retirar as peças ainda incandescentes dos fornos. “Não importa qual é a versão real. O que importa é que a queima das peças de Raku é um ritual mágico. Aqui no ateliê eu espero para abrir o forno à noite. Assim, é maior a intensidade do fogo e da cor alaranjada das peças, com quase mil graus. Convido amigos e familiares para participarem deste ritual. Degustamos vinhos e aproveitamos para meditar e conversar ao redor das cerâmicas”, conta a artista plástica Adma, que há 15 anos estuda Raku. A ESTÉTICA DESTA ARTE Tanto para os ceramistas quanto para os mestres era importante respeitar critérios estéticos relacionados às formas e às cores das cumbucas. Preto e vermelho predominavam no acabamento das peças. Adma conta que as cores eleitas tinham uma importante função: ressaltar a tonalidade verde do chá que era servido nas cerimônias. Uma pedra do rio Kamo que continha altas porcentagens de silício, magnésio e ferro dava origem ao esmalte negro. Já o pigmento vermelho era proveniente da soma de uma substância rica em ferro com chumbo. “Hoje em dia não passamos nenhum esmalte com chumbo nas peças utilitárias. Apenas objetos decorativos, como vasos e centros de mesa, recebem acabamento com este minério. Também temos a liberdade de explorar a vasta paleta de cores para dar novos acabamentos ao Raku”, revela a artesã. Se hoje as tonalidades podem variar de acordo com o desejo dos ceramistas, o mesmo não se pode dizer das formas das cumbucas. Estas devem seguir alguns critérios básicos: são redondas, simbolizando a harmonia e o círculo virtuoso, e não possuem asas, já que as pessoas devem segurá-las com as duas mãos. As únicas variações permitidas estão relacionadas ao clima. As cumbucas baixas com boca larga são perfeitas para os dias de verão, e as mais altas com bordas fechadas conservam a bebida quente no inverno. “Quando queremos ousar nas formas do Raku moldamos vasos, pratos e bules. As cumbucas são sagradas e mantêm há séculos a mesma modelagem”, explica.
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O RITUAL DO CHA-NO-YU Uma frase proferida pelos mestres da Cerimônia do Chá resume a essência deste ritual japonês: “O cha-no-yu é uma estética de austera simplicidade e refinada pobreza”. As rígidas normas de etiqueta, que parecem complicadas e difíceis à primeira vista, foram criadas com o propósito de reduzir ao máximo os movimentos do corpo durante a cerimônia. Só assim é possível entrar numa atmosfera de meditação cujo objetivo maior é alcançar a harmonia num mundo cheio de tensões. Quatro palavras-chave definem simbolicamente o cha-no-yu. A primeira é wa, que significa paz e harmonia entre os homens e todas as coisas. A segunda é kei, ou seja, o respeito mútuo e o equilíbrio entre os seres humanos e a natureza. A terceira palavra é sei, que representa a pureza espiritual e corporal. A quarta e última palavra, djaku, busca a tranqüilidade e a calma em qualquer instante de nossas vidas. “Eu nunca participei de um ritual do chá. Isso porque é preciso estar na presença de um mestre que nos oriente e ensine esta arte secular”, revela Adma. “No entanto, eu vivencio estes quatro símbolos nos momentos em que estou absorvida na criação das cerâmicas de Raku”, afirma. Adma nos conta que certa vez leu num livro o seguinte relato: “Um ocidental perguntou ao grande mestre Sen-no-Rikyu qual era o segredo da arte do chá. Rikyu respondeu que primeiro era preciso esquentar a água, preparar a infusão verde e em seguida bebê-la da forma adequada. Decepcionada, a pessoa disse que já sabia de tudo isso. O mestre encerrou a conversa dizendo: se for assim, com muito gosto serei seu aluno e você será meu mestre”. OS LEGADOS DO RAKU E DO CHA-NO-YU A palavra Raku nasceu do ideograma kanji, que significa alegria, prazer, satisfação e glória do dia. O mestre Sen Soshitsu costumava dizer que a paz no mundo deve perpetuarse a partir da compreensão humana e de uma taça de chá. Tanto o Raku quanto o cha-noyu buscam preservar os valores espirituais, a arte, o trabalho, a habilidade com as mãos e, especialmente, a cortesia entre as pessoas. Por isso, quando você tiver a oportunidade de participar de uma queima de Raku ou de um ritual do chá, lembre-se: você estará diante de uma das cerimônias mais importantes da cultura oriental. Conhecer seus ensinamentos e colocá-los em prática significa abrir uma porta que o levará para um mundo melhor.
LIVRO PESQUISADO – RAKU: SUA HISTÓRIA, DE ALEJANDRA RAMOS DE JONES E ANA M. GOLDENBERG DE DIVITO. ATELIÊ ADMA CORÁ – TEL.: (51) 3331.3257
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Um olho no
Sushi outro no
Manekineko T E X TO S M A G A L I M O R A E S I LU S T R A Ç Õ E S N I K
Estilo SE FEIJÃO COM ARROZ PARECE BRASILEIRO DEMAIS, MELHOR DESCONGELAR UM YAKISSOBA Atenção: este é um texto cheio de palavras japonesas. Mas fique zen, porque você não vai precisar de tradução simultânea. A idéia é justamente mostrar quantos japonismos já foram incorporados ao samba nosso de cada dia. E vice-versa. Vamos começar com um passinho para cá, dois para lá: a palavra sushi dispensa apresentações e foi deliciosamente explicada na matéria de capa. Agora, cá entre nós, Manekineko pareceu grego para mim. Eu conhecia os simpáticos gatinhos mas não sabia que eles tinham esse nome. Amuleto típico do Japão, o Manekineko é um primo sortudo da Hello Kitty e possui diversas cores e significados: o gatinho manchado é o desejo de sucesso profissional, o preto atrai saúde e o dourado (adivinhe!) é riqueza na certa. Se o gato estiver com a patinha direita levantada, você vai encontrar um grande amor. Se for a patinha esquerda, prepare-se para receber bens materiais. Sim, os japoneses também são supersticiosos como nós. Siga adiante e descubra que as semelhanças não param por aí. O Japão aqui Enquanto os japoneses dormem no outro lado do mundo e sonham com celulares miniatura implantados no tímpano, o Ocidente vive um dia-a-dia cheio de referências nipônicas e nem se dá conta. Se a palavra Ocidente parece distante demais para você, esqueça a Europa e os Estados Unidos. Feche seus olhos e pense no Brasil. Pedro Álvares Cabral ia achar uma piada se voltasse ao Brasil em 2005 e descobrisse o nosso japa way-oflife. Nas praias, garotas com os cabelos presos com hashis revelam suas nucas tatuadas com ideogramas japoneses (eles continuam em alta nas melhores casas de tatoo do ramo). Nas baladas, essas mesmas mulheres surgem de
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cabelos exageradamente lisos por horas de escova, chapinha japonesa e progressiva – quem sabe tentando ser gueixas à procura de samurais nas pistas de dança. No centro das cidades, lojas de departamento vendem filmadoras Sony, máquinas digitais Panasonic e DVDs que vêm com tudo – inclusive karaokê, o passatempo preferido dos japoneses. As empresas de locação para festas que o digam: o karaokê e suas pastas cheias de opções musicais animam desde aniversário de sete anos a jantar de gente grande. Apesar de eu não achar graça em ver a imagem congelada do Monte Fuji e a letra da música pulando na parte de baixo do vídeo, o povo se diverte e canta aos berros para então ganhar uma nota. Silêncio, alguém lá dentro da TV está pensando... seis e meio!! Parabéns, você é um excelente cantor de chuveiro! Na hora do almoço, o feijão com arroz parece brasileiro demais. Melhor chamar um telesushi, passar por um sushi-drive ou descongelar um Yakissoba comprado no supermercado. Se a fome for pouca, um Miojo Nissin ou uma saladinha de cogumelos Shitake temperada com molho Shoyo resolve o problema. De tarde, adultos estressados fazem shiatsu no trabalho e idealizam um banho de ofurô no fim do dia. Já as crianças tomam Yakult com lactobacilos vivos e se divertem com a infinita quantidade de desenhos japoneses. Cavaleiros do Zodíaco, Yu-Gi-Oh, Pokémon, Samurai Jack e Power Rangers agitam ainda mais os meninos. E para as meninas que amam a gatinha Hello Kitty, tem o novo desenho Ami e Yumi do Cartoon Network – inspirado nas roqueiras japonesas mais pop da terra do sol nascente –, que mistura animação com cenas verdadeiras dos seus shows. Se tudo isso parecer coisa de criança, as adolescentes podem ligar a TV no seriado Malhação da Rede Globo e copiar o modelito que a atriz japa-fashion Daniela Suzuki está usando. Os garotos vão preferir fazer origami com o cérebro de quem inventou essas novelinhas teen e certamente irão escolher um videogame de lutas marciais. Ou ler Mangás – as histórias em quadrinhos japonesas que cada vez mais conquistam os brasileiros. A moda ocidental há tempos reverencia estilistas japoneses, como Kenzo, Issey Miyake, Yoji Yamamoto e Rei Kawakubo, da Commes des Garçons. Quimonos e Obis vão e voltam nas passarelas, orientalizando os guarda-roupas de tempos em tempos. A indústria da beleza também pede a bênção aos lançamentos da Shiseido. E que brasileira seria kamikaze a ponto de ignorar as japo-
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DÁ ATÉ PRA IMAGINAR OS BOIS CAPRICHOSO E GARANTIDO, DE PARINTINS, DIZENDO ARIGATÔ nesas com sua pele alva e macia, a boca vermelha e pequena como uma cereja, o cabelo impecavelmente liso, os gestos delicados e o corpo esguio? Apertando os olhos e forçando o foco no Rio Grande do Sul, descobrimos que o Japão também é aqui. Pegue seu Toyota ou Honda e vá até a Praça Japão, no coração de Porto Alegre. Ou o recanto oriental da Redenção num belo domingo de sol. Você vai ver muito gaúcho da gema tomando chimarrão misturado com chá verde. Faz bem para a saúde, sem dúvida. Mas virou moda. Quem preferir tomar mate no aconchego de casa pode escolher a poltrona perto da luminária japonesa e apoiar os pés num futon de seda. Ou então ir para a tranqüilidade da sacada decorada com pedrinhas brancas e muro de bambus onde corre um fio de água da fonte presa na parede – opa, alguém andou vendo revistas zen e buscou inspiração nos jardins japoneses. Só falta um Bonsai no centro da mesa e carpas no aquário do banheiro. Se antes eu achava exótico ter bala de algas para vender no supermercado, imagine agora que fazem no interior do Estado até campeonato de Sumô, a tradicional arte que surgiu no Japão há milênios. Por isso, minha amiga, pegue um saquê e faça um brinde a tudo de bom que vem do Japão. Desde, é claro, que os gafanhotos caramelizados permaneçam bem longe daqui. O Brasil lá Enquanto os brasileiros dormem e sonham com o final das CPIs, no lado de lá o Japão acorda e se prepara para outro dia de trabalho árduo – especialmente se forem os mais de 250 mil dekasseguis, descendentes de japoneses que largaram o Brasil para voltar à terra dos antepassados. Mas não pense que eles só enxergam as linhas de montagem na sua frente. Depois de um dia puxado dentro das fábricas, nada como pegar a bicicleta e ir até o bar mais próximo tomar uma cerveja com os amigos. Se o
assunto for futebol, a pedida é uma Brahma ou Antarctica (que atravessaram o mundo e continuam geladíssimas) e ficar conversando sobre a atuação do Zico, técnico da seleção japonesa de futebol. Quando o assunto terminar, os brazucas podem fazer como os nativos e apreciar as árvores de Cerejeira que florescem e formam túneis corde-rosa. A beleza é tanta que o garçom vai entender se você levantar o dedo e pedir “Salta um Haicai na mesa 3!”. Em caso de fome, que venham o pastel e um churrasquinho de saideira. Se mesmo bebendo for difícil entender o que eles falam, nada de pânico. Onde tem brasileiro, tem jeitinho para tudo. Um bom exemplo é o jornal semanal Tudo Bem, editado pela JBC – Japan Brazil Communication, que também faz a ponte aérea de mangás e livros. O jornal é escrito em português e vendido em mais de 400 locais, além da versão atualizada diariamente na internet (www.tudobem.co.jp). É um verdadeiro guia de sobrevivência para os conterrâneos que vivem no Japão e também o elo com o Brasil. Outra ajuda providencial é o Jornal Nippo-Brasil e seus sites www.nippobrasil.com.br e www.nippojovem.com.br, esse feito exclusivamente para salvar a garotada. Site lembra internet, que lembra cybercafé, que dá uma vontade louca de tomar um cafezinho. Se você é como eu, movida a expressos e cappuccinos, fique tranqüila, porque os japoneses já descobriram o kohi (do inglês coffee) e tomam o pretinho quente ou frio. É, aos poucos nós estamos invadindo a ilha. Já exportamos até manifestações culturais típicas como a festa de São João e, claro, o carnaval, que no Japão se chama Matsuri e também enche as ruas de alegria. Quem sabe o próximo a cruzar o oceano é o Festival de Parintins – consigo imaginar os bois Caprichoso e Garantido dizendo arigatô no final. Samba, música sertaneja, show do Supla e gente pulando com a Sandy e o Júnior pedem licença ao J Pop (como
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Estilo VOCÊ VAI SE SENTIR NUMA DISNEYLÂNDIA FASHION OU DENTRO DE UM MANGÁ-RAVE eles chamam o som pop nipônico) e arrancam bis da galera. E mesmo que os japoneses fabriquem ídolos na mesma velocidade com que produzem eletrônicos, sempre tem palco sobrando para o astral dos brasileiros. Até a Turma da Mônica enfrentou o jet lag para mostrar os planos infalíveis do Cascão e Cebolinha, o pêlo azul do Bidu e a gula da minha xará – aposto que a Magali deve ter adorado as melancias sem sementes que eles inventaram. Nova Iorque ficaria com ciúmes se visse a quantidade de lojas que vendem produtos brasileiros nas ruas do Japão. Em algumas cidades, há placas em português e o brazuca way-of-life bomba nas vitrines. Falando em consumismo, nós parecemos o Tio Patinhas perto dos orientais. Pegue sua máquina digital e vá para os bairros de Shibuya e Harajuku. Você vai se sentir numa Disneylândia fashion – ou dentro de um Mangá-Rave, quem sabe numa festa a fantasia de dragqueens. Imagi-
nou algo excêntrico e bizarro? E é mesmo. Foi o jeito que a molecada encontrou para acabar com esse papo de que japonês é tudo igual. Quando a semana termina e eles tiram os sisudos uniformes do colégio, o negócio é se vestir de Anjo de Luto, Sailormoon da Sapucaí, BarbiePikachu, Gueixa Psicopata, Marilyn Shoyo Manson e curtir o domingo, cada um na sua tribo. O Japão é assim, muita informação para assimilar. Ouvi dizer que tem japonesa colocando silicone no bumbum para imitar o nosso padrão estético. E não vou estranhar se a Ana Maria Braga ensinar a fazer cuscuz de sashimi no seu programa. O fato é que as culturas oriental e ocidental nunca se misturaram tanto. Viva a globalização que transformou o globo numa bolinha de pingue-pongue que a gente joga de lá para cá. Sophia Coppola que me perdoe, mas existem muito mais encontros do que desencontros com os japoneses.
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Dança defesa da
EU ACHAVA QUE ERA LUTA E APRENDI QUE É FILOSOFIA. EU PENSAVA QUE ERA ATAQUE, MAS COMPREENDI QUE É PURAMENTE DEFESA. EU TINHA CERTEZA DE QUE JAMAIS ME INTERESSARIA POR AIKIDO, ATÉ PERCEBER TODA A BELEZA QUE ORBITA EM TORNO DESSA ARTE MARCIAL. UMA BELEZA QUE COMEÇA NAS ROUPAS DE SAMURAI, ESTENDE-SE PELOS GESTOS CIRCULARES E VAI ATÉ A ELEVAÇÃO ESPIRITUAL. AINDA NÃO CHEGUEI A FAZER UMA AULA SEQUER. MAS JÁ COMECEI A ABSORVER OS ENSINAMENTOS DO MESTRE: DEIXEI A RESISTÊNCIA DE LADO. POR
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AIKIDO É UMA ARTE MARCIAL VOLTADA PARA A HARMONIA
AI SIGNIFICA HARMONIA, QUE SURGE POR MOVIMENTOS CIRCULARES E PELA SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES E LIMITAÇÕES DO CORPO
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A arte da não-resistência Ao sermos atacados, nossa tendência natural é fugir ou resistir. Já para os praticantes do Aikido é diferente. Eles utilizam a própria energia do atacante para controlá-lo e neutralizá-lo, sem que para isso precisem usar a força física. Para entender melhor, é preciso conhecer um pouco dos valores dessa filosofia criada no Japão por Morihei Ueshiba, um filho de samurai nascido em 1883. Ao procurar um sentido mais profundo para a vida, Ueshiba combinou técnica e espiritualidade, criando uma arte marcial voltada para a reconciliação, a harmonia e a cooperação. Segundo ele – e todos os seus seguidores –, os princípios do Aikido poderiam ser aplicados nos desafios diários da vida, nos relacionamentos pessoais e na interação com a sociedade e a natureza. No fundo, Ueshiba queria criar guerreiros da paz. E foi por isso que, em 1969, o governo japonês declarou que o mestre criador do Aikido era um tesouro nacional sagrado. Hoje, o líder mundial é seu neto, Moriteru Ueshiba, que dirige e leciona no Hombu Dojo, o mais importante centro de treinamento do mundo e o local onde Vargas Sensei já realizou diversos treinamentos intensivos. Vargas Sensei é Roque Cruz Vargas Filho, a autoridade máxima do Aikido no Rio Grande do Sul. Ser um Sensei significa ser “aquele que vem primeiro no caminho”, e a caminhada de Vargas teve início no judô, quando ele tinha 12 anos. Depois de ser um judoca campeão, de praticar Kempo, Karatê e Kung-Fu, ele encontrou-se no Aikido. E é por isso que agora, dezenove anos depois, Vargas é capaz de responder com tanta certeza quando pergunto qual a diferença entre o Aikido e as outras artes marciais: “O Aikido preserva antigos valores de disciplina, hierarquia, gratidão e respeito aos mais velhos, enquanto as outras artes marciais, por terem se tornado esporte, perderam isso”. Ele explica ainda que praticantes de Karatê, por exemplo, podem ter dificuldade com o Aikido, porque os comandos são diferentes.
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RESPEITO, DISCIPLINA E COOPERAÇÃO SÃO OS VALORES DO AIKIDO Além disso, artes marciais que usam mais a força do que a técnica também acabam prejudicando, já que, no Aikido, a busca é pela solução e não pela vitória. “Em vez de sentir raiva e desenvolver a agressão, nós procuramos uma via alternativa” completa o Sensei. Movimentos que imitam a natureza No Dojo Central, assisti a uma das aulas semanais de faixas pretas. Todos eram professores da escola de Vargas. Todos usando uma calça-saia negra que faria o maior sucesso nas passarelas do São Paulo Fashion Week. Em certos momentos, parecia que eu estava vendo uma apresentação de dança, pois os movimentos imitam as evoluções da natureza, como a rotação dos planetas, o ciclone e um chorão balançado pelo vento. Não pense, no entanto, que é só de delicadeza que vive o Aikido. Observando os faixas pretas divididos em duplas, eu vi do que eles são capazes com a sua “não-resistência”. Lá pelas tantas, depois de um passinho suave aqui e outro ali, plaft, lá se foi um deles para o chão. Imobilizado, ele foi ficando vermelho até que bateu com os dedos no chão, o que significa que chegou no limite de sua dor. Sim, caros leitores, Aikido dói e muito. A força que a pessoa faz para se livrar da imobilização é usada contra ela mesma. Nada fácil. Por falar em dor, ela é uma das responsáveis pela desistência imediata de alguns principiantes no Aikido. Mas não é a única. Alguns executivos, por exemplo, acostumados mais a mandar do que a obedecer, não ficam muito confortáveis ao ter que baixar a cabeça para o professor, receber comandos em japonês e permanecer imobilizados. E quando percebem que adolescentes são capazes de fazer coisas que eles não conseguem, então, aí mesmo é que saem correndo. Talvez lhes falte um pouco de humildade e paciência, pois, como diz Vargas Sensei, “a pessoa só tem uma pálida idéia do que é o Aikido depois de três meses de prática”. Para diminuir a desistência, o Dojo Central agora oferece aulas dirigidas, onde o aluno
KI SIGNIFICA A ENERGIA DA VIDA QUE FLUI COM VIGOR, MAS DENTRO DA ÓTICA DA NÃO-RESISTÊNCIA, SEM O USO DA FORÇA BRUTA
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O AIKIDO UTILIZA AS ARMAS DO ADVERSÁRIO CONTRA ELE MESMO
DO SIGNIFICA CAMINHO DE VIDA, UMA VIA FILOSÓFICA ORIENTAL PARA O CRESCIMENTO DO HOMEM. DEMONSTRA A IMPORTÂNCIA DA EXPERIÊNCIA E DA PERSISTÊNCIA
AS FOTOS FORAM REALIZADAS NO PARQUE ESPORTIVO DA PUC RS COM OS FAIXAS PRETAS LEANDRO LOPEZ E NÁDYA PESCE DA SILVEIRA
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começa com noções de etiqueta, disciplina e movimentos básicos. A partir daí, é uma caminhada rumo à faixa preta. Para chegar lá, o tempo normalmente varia entre 4 e 8 anos, dependendo da capacidade de aprender e da dedicação de cada um. Alongamento e flexibilidade também ajudam bastante. Fabrício Meirelles, professor da escola, chegou à faixa preta depois de 3 anos e 8 meses e hoje, depois de conquistar o 4º grau dentro desse nível, é também considerado um Sensei. Vale lembrar que, segundo a filosofia oriental, o objetivo jamais deve ser a chegada, mas sim a caminhada. Para praticar, basta carregar um quilo de arroz O Aikido não está ligado a nenhuma prática religiosa ou de alimentação. Naturalmente, acontece de as pessoas procurarem uma vida mais equilibrada e saudável, pois, com o tempo, adquirem uma consciência maior em relação ao seu corpo. Pessoas muito agressivas ou antiecológicas não permanecem. Elas mudam, ou vão embora. O criador, Ueshiba, dizia que para praticar basta conseguir carregar um quilo de arroz. Ou seja, é uma prática bastante democrática e procurada por crianças e mulheres. “O Aikido é a arte marcial do terceiro milênio, a mais feminina de todas elas”, diz Vargas Sensei. Mesmo assim, a maior parte dos alunos ainda são homens, 80% profissionais liberais com curso superior e acima de 25 anos. “O Aikido não é um modo de lutar ou de derrotar os inimigos; é uma maneira de reconciliar o mundo e fazer de todos os seres humanos uma família”; ou ainda, “O Aikido é primeiramente uma forma de conseguir a própria maestria física e psicológica”. São frases que estão no site www.aikido.com.br. Se você achar que vale a pena experimentar essas sensações, vá lá. Só não se esqueça de baixar a cabeça em reverência ao seu mestre. Mesmo que ele seja mais novo do que você, é mais experiente.
Bem Viver C É ZAR VAN DER SAND
ATLETAS DE FIM DE SEMANA A atividade física regular é que melhora a qualidade de vida Nos sábados e domingos os parques costumam ficar cheios dos famosos "Atletas de Fim de Semana", pessoas caminhando, jogando, correndo ... atitudes saudáveis, mas que deveriam ser mantidas pelo menos quatro vezes por semana. Muitas vezes essas atividades físicas vigorosas e esporádicas, como jogar bola com os amigos de vez em quando ou desafiar seu adversário para aquele jogo de tênis no sábado à tarde, são consideradas por muitos como uma forma prazerosa de lazer, enquanto outras pessoas cultivam este hábito com o objetivo de interagir com os amigos e, acima de tudo, procurando espantar o famoso estresse. Saiba que essas atitudes aparentemente saudáveis podem ser responsáveis por algumas surpresas desagradáveis. Entretanto, as atividades físicas, mesmo que esporádicas, jamais devem ser desencorajadas, porém os praticantes devem ter uma avaliação médica e orientação física adequada para poderem executá-las com segurança. Antes de iniciar alguma atividade é necessária a realização de uma avaliação médica para afastar alguma patologia importante. Essa avaliação deve ser realizada por todo o praticante de atividade física, independentemente da idade. Já em pessoas com mais de 40 anos ou que apresentam diabetes, hipertensão arterial, colesterol elevado, obesidade ou são fumantes, o acompanhamento deve ser no mínimo anual. SAIBA QUE... É fundamental manter o condicionamento físico adequado praticando alguma atividade física regularmente (no mínimo 4 vezes por semana). O bom condicionamento físico reduz drasticamente o risco de lesões osteomusculares. Se você tem o hábito de jogar futebol apenas no final
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de semana, é importante realizar uma caminhada de 45 minutos em três dias da semana. Além de você reduzir o risco de lesões, terá uma resistência física bem mais adequada. Exigir a manutenção física apenas com o futebol, tênis ou vôlei – todas atividades de impacto – é uma agressão ao corpo. É como tirar um veículo do zero e exigir que em segundos ele chegue a 200 km/h e mantenha esse desempenho. Antes e após cada atividade física, principalmente as de maior impacto, é imperativa a realização de alongamentos por aproximadamente 10 minutos. Esse simples exercício reduzirá o risco de lesão muscular e as dores musculares do dia seguinte. Desenvolver atividades de forma desordenada e sem uma avaliação e orientação médica adequada aumenta o risco de desenvolver lesões osteomusculares, crises hipertensivas e até infarto agudo do miocárdio. Prevenção! Essa é a resposta para você poder praticar o seu esporte preferido tranqüilamente. Se você realiza seu checkup periodicamente e mantém seu condicionamento físico, além do futebol, vôlei ou tênis do final de semana, você colherá bons frutos em sua saúde e boas vitórias no seu esporte. Alerta! No entanto, se você não faz nada disso e durante a prática esportiva vem sentindo algo diferente, pare e procure um médico. Esse pode ser um sinal de que algo não está bem em seu corpo. Por fim, manter uma atividade física regular, além de ser prazeroso e manter a integridade física, certamente estará proporcionando um grande incremento na sua qualidade de vida.
CÉZAR VAN DER SAND É CARDIOLOGISTA, MEMBRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA E DA SOCIEDADE GAÚCHA DE CARDIOLOGIA
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Serúnico NO INTERIOR PAULISTA, UMA ÁREA DE 300 MIL METROS QUADRADOS DE VERDE, MUITO VERDE, FOI TRANSFORMADA EM UM HOTEL SPA. QUEM CONCEITUOU O EMPREENDIMENTO FOI VICTOR SIAULYS, EMPRESÁRIO QUE JÁ HAVIA COLOCADO SUA ASSINATURA NO CÉLEBRE HOTEL UNIQUE DA CAPITAL PAULISTA. NO UNIQUE GARDEN, A ADEQUADA COMBINAÇÃO DE REQUINTE E BOM GOSTO SE FAZ PRESENTE, TENDO A NATUREZA E A TRANQÜILIDADE COMO BÔNUS. ELE FICA A 60 QUILÔMETROS DA CAPITAL, NO PARQUE ESTADUAL DA CANTANEIRA, PERTO DA CIDADE DE ATIBAIA. T E X TO S
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F OTO S
C R I S
B E R G E R
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A SOFISTICAÇÃO É A MARCA DOMINANTE NA ARQUITETURA E NA GASTRONOMIA DO HOTEL Esta versão garden do padrão Unique de hotelaria quer transmitir paz e tranqüilidade. A proposta é ser único e tratar o hóspede de forma ímpar. São apenas 25 chalés que vêm acompanhados de deliciosas mordomias: massagens terapêuticas, vinhoterapia, banhos de ervas, acupuntura e ofurô. Mimos que podem ser usufruídos em meio a jardins e trilhas. Grandes nomes assinam arquitetura e gastronomia. Cheguei no Unique imaginando encontrar um pedacinho do paraíso na Terra, e foi exatamente com isso que me deparei. Posso dizer que o Unique Garden cabe perfeitamente nos sonhos de quem deseja viver uma lua-de-mel no melhor estilo ou simplesmente se desconectar da frenética vida urbana. Conforto e gastronomia especial Ruy Othake projetou os dez chalés da Vila Contemporânea. Com seu tradicional traço, criou dois es-
tilos distintos: frio e quente. Mármore e pedra decoram os frios; madeira, os quentes. Em cada chalé, atrações sem fim: varanda, sala de estar, televisor de plasma, lençóis de algodão egípcio, móveis de design, dois chuveiros e ofurô. Os chalés da Vila Mediterrânea têm o teto lilás. Ficam em volta de um jardim de flores e da fonte da amizade, outra criação de Othake. O Chalé das Flores oferece alguns diferenciais: banheira de hidromassagem, sala de massagem, jardim de inverno e ofurô ao ar livre. Sofisticação é o principal ingrediente utilizado pelo chef francês Michel Darque na elaboração dos pratos. Apesar de ser considerado um spa, o Unique Garden não adota a linha de restrições alimentares e o hóspede tem a opção de montar seu próprio cardápio dentro do conceito de gastronomia personalizada do hotel, além de contar com uma carta de vinhos com 150 rótulos.
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MORDOMIAS, MIMOS, BONS TRATOS E PRODUTOS EXCLUSIVOS. ASSIM É O SPA PANDORA Mimos no Spa Pandora O Unique Garden foi projetado para agradar às mulheres. Estas são palavras de Victor Siaulys, absolutamente comprovadas quando observamos tantos mimos e detalhes. O Spa Pandora é a prova mais fiel das boas intenções deste conhecedor da alma feminina. Eu posso contar que este centro de tratamento terapêutico e estético tem 15 salas, saunas secas e úmidas, masculinas e femininas, mais um salão de beleza – e você vai ficar impressionado como eu fiquei. Mas o que realmente me conquistou foi a personalidade expressa em seus 2.500 metros quadrados. É fascinante admirar as peças de decoração que Victor trouxe de suas viagens, ao redor do mundo, e que hoje emprestam charme ao Pandora. O fisiologista Roberto Nogueira é quem comanda a equipe de profissionais que são orientados a sugerir, dentro do menu de tratamentos do Pandora, a terapia
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que mais se encaixa com o gosto do cliente. Neste cardápio de prazeres está o Rasul (aplicação de argila amazônica seguida de sauna), banhos em ofurôs com ervas retiradas do ervanário do hotel, banhos cromáticos e para casais e massagem a seis mãos. Dentro do conceito de exclusividade, todos os cremes e óleos do Unique são preparados na farmácia de manipulação do hotel, de acordo com a preferência de cada hóspede. Afinal, lembre-se: aqui a ordem é fazer você sentir-se único.
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A M O N
A BÍBLIA SOBRE O ÓBVIO Quem se atreve a dar conselhos às mulheres? Deveria ser óbvio, mas não é. Ao menos para as mulheres da atualidade, não parece ser tão óbvio que um homem deva ser descartado só porque ele não telefona ou porque não respondeu a um torpedo. Afinal, ele pode estar muito ocupado, ser traumatizado ou avoado, andar complicado ou querer se sentir abandonado... Ninguém é perfeito. Muitas mulheres costumam compreender com generosidade namorados que somem, não respeitam horários, não se interessam pelos assuntos delas, não as desejam na cama, não as acompanham em visita a parentes, não as presenteiam ou não lhes dizem a verdade. Mesmo assim, o livro “Ele simplesmente não está a fim de você” chegou recentemente às livrarias se achando a cartilha da libertação feminina. Dos autores Greg Behrent e Liz Tuccillo, a publicação diagnostica e cataloga as mais variadas formas masculinas de descaso, manipulação, indiferença, menosprezo e negligência. “Ele telefona durante a semana, mas desaparece no sábado? Abra o olho que é casado. Vai todas as noites na sua casa mas não assume o namoro? Dispense! Ele está só ‘passando uma chuva.’ Chegou de viagem, virou pro lado e dormiu? Caia fora, ele está pensando em outra.” Ufa! Que seria de nós, mulheres, se não tivesse aparecido em tempo essa verdadeira bíblia sobre o óbvio! Compre vários exemplares! Use um na bolsa, um na mesa de cabeceira, um na cintura e outro junto da lista telefônica! Esteja prevenida!... Depois do mico de ficar na fila do caixa agarrada num livro com esse título, fui comentá-lo com outras
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mulheres e ouvi uma delas dizer: “Não deve existir nenhuma mulher que não tenha cometido, em algum momento de sua vida, pelo menos um dos mil pecados que o livro descreve”. Concordo. Mas alguém já pensou por que razão uma mulher moderna necessitaria da ajuda de um manual de bolso para se dar conta dessas aparentes obviedades? Pois se até hoje não foram escritos livros suficientes sobre o que não é legal no amor, convenhamos que não faltam clássicos sobre a ousadia da homarada em chegar junto quando o negócio é paixão forte. De Adão a Rodrigo Cambará – passando por Julio César, Romeu e Tristão (só para citar os que me vêm à mente neste momento) –, eles pulam muros, fazem serenatas, se batem em duelos, abrem mão do paraíso, tomam porres, tomam veneno, tomam atitudes, mas parados é que não ficam. Sim, todas nós sabemos muito bem identificar um homem realmente motivado. O que talvez Greg Behrent tenha esquecido é que grande parte da beleza do amor vem justamente dos casos mal-resolvidos. Nelson Rodrigues, que atacava de conselheiro sentimental nos anos 50, sob o pseudônimo de “Mirna”, poderia muito bem explicar a questão dizendo: “Meu filho, qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado... É a soma de todos os amores falhados que torna o ser humano capaz de amar e de ser amado”. É, Greg, não é assim tão simples dar conselhos a uma mulher...
RUZA AMON É JORNALISTA
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Ar da pa lavra POR PAU L A TA I T E L B AU M FOTOS L E T Í C I A R E M I Ã O
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“A PALAVRA POÉTICA NÃO É BEM A PALAVRA, É QUASE COMO SE ELA FOSSE UMA CENA” PROCURO UMA ÚNICA PALAVRA: POETA... MÚSICO... CRIADOR... CRIATURA... TITÃ... NÃO ENCONTRO. E NÃO ENCONTRO PORQUE É REALMENTE IMPOSSÍVEL DEFINIR ARNALDO ANTUNES COM UMA SÓ EXPRESSÃO VERBAL. ELE NÃO É RÓTULO. É PURO CONTEÚDO. ARNALDO DAS MUITAS PALAVRAS: PALAVRA POÉTICA, PALAVRA VISUAL, PALAVRA MUSICAL, PALAVRA MOVIMENTO. NASCIDO ARNALDO AUGUSTO
UMA IMAGEM VALE POR MIL PALAVRAS? Isso é uma máxima que funciona para uma determinada circunstância. Claro que você ver uma cena pode ser muito mais revelador do que um monte de gente te contar o que tinha naquela cena. Agora, a palavra poética não é bem a palavra, é quase como se ela fosse uma cena. Mesmo quando ela está desprovida do tratamento visual que eu dou, que também é pensado junto, estruturalmente, ela apresenta o mundo muito mais do que diz ele. Então eu diria que sim, uma imagem vale por mil palavras. Mas a palavra poética não seria uma dessas mil aí.
NORA ANTUNES FILHO, ESSE PAULISTA TALVEZ POSSA SER
COMO É O SEU PROCESSO DE CRIAÇÃO? DEFINIDO MAIS COMO PERFORMER DO QUE COMO PERSONAGEM. SE BEM QUE QUANDO NÃO ESTÁ NO PALCO OU NA FRENTE DAS CÂMERAS, ARNALDO TEM UMA EXPRESSÃO CALMA, QUASE CÂNDIDA. CONVERSEI COM ELE NA GALE-
Depende... Ou o poema já vem impregnado de pensamento visual ou vem o texto primeiro e eu descubro uma forma gráfica. Agora, nesse trabalho de monotipia, quase que o visual vem antes, tem um pré-texto na cabeça, mas o fazer é muito obsessivo, muito físico, muita tinta, acaba sendo um exercício da poesia vindo da coisa caligráfica.
RIA BOLSA DE ARTE, UM POUCO ANTES DA ABERTURA DA EXPOSIÇÃO PALAVRA IMAGEM, ONDE O DESTAQUE ERA
VOCÊ FICA O TEMPO INTEIRO PENSANDO NAS PALAVRAS, NA SONORIDADE DELAS?
SIMPÁTICO COM TODOS. O QUE ME FEZ PENSAR QUE TAL-
Eu fico. Na verdade, eu não distingo trabalho de lazer, o meu trabalho é o tempo todo. Hoje, por exemplo, eu acordei com uma idéia, aí fui anotar... Pode ser durante a noite, pode ser andando na rua, essa coisa de as idéias virem... é claro que a palavra em si tem uma dimensão visual, uma dimensão sonora... Os poemas têm uma carga fonética importante...
VEZ EXISTA UMA PALAVRA, SIM, UMA MICROPALAVRA CON-
COMO VOCÊ DEFINIRIA A SUA RELAÇÃO COM AS PALAVRAS?
TIDA NO SEU PRÓPRIO NOME: AR. ARNALDO ANTUNES É
O código verbal é como se fosse um porto seguro de onde eu parto pra visitar outros códigos. Eu faço música, faço canções, uso a palavra cantada. Faço trabalhos visuais,
UMA SÉRIE CALIGRÁFICA DE MONOTIPIAS QUE ME LEMBROU MIRÓ. NOS BASTIDORES DA CONVERSA, ARNALDO DEU ATENÇÃO PARA UMA FÃ, RECEBEU PRESENTES, FOI
AR. ETÉREO E FUNDAMENTAL...
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“TEM UMA MÚSICA EM QUE EU DIGO: SOMOS O QUE SOMOS, INCLASSIFICÁVEIS”
palavras para serem lidas e vistas ao mesmo tempo. Faço vídeo, a palavra falada em movimento... Eu nunca me senti, por exemplo, artista plástico, o que eu faço é poesia visual. Também nunca me senti músico, no sentido de querer fazer música instrumental. Eu faço canções que têm o uso da palavra associada a todo um universo musical.
COMO VOCÊ SE DEFINIRIA? Eu faço várias coisas, mas não acho que tenho nenhum mérito por isso. Acho que é apenas uma adequação à época em que a gente vive, onde está se tornando cada vez mais comum esse trânsito por várias linguagens. A tecnologia está resgatando um aspecto meio da comunidade primitiva, onde não havia diferença entre arte e vida, onde a dança era associada à música que era associada ao canto religioso que era associado à prática de guerra e à relação com a natureza... era tudo junto. A civilização foi dividindo os sentidos do homem, e de certa forma a tecnologia foi contribuindo pra gente resgatar um pouco desses laços.
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OK, MAS COMO VOCÊ SE DEFINIRIA, ENTÃO? Não sei... Eu acho que não precisa. Tem uma música em que eu digo: somos o que somos, inclassificáveis. Na verdade, eu estou falando da questão racial no Brasil, mas isso poderia servir para a minha condição estética pessoal, entende? Eu prefiro assim. A necessidade de nomear é sempre redutora, então não precisa disso.
VOCÊ TEM FILHOS?
por exemplo. Criança fala “beija eu” em vez de “me beija”.
QUAL A PALAVRA QUE VOCÊ MAIS USA? Em português acho que a palavra que a gente mais usa é “é”. Essa maçã “é” vermelha. Isso “é” bonito... Pro chinês e pro tupi não existe o verbo ser como verbo de ligação. Tanto que a gente vê nos filmes americanos índio falando: “maçã vermelha”, “índio bonito”... O ser não tá deslocado da palavra.
Tenho quatro.
SE VOCÊ PUDESSE, TIRARIA O VERBO “SER” DA NOSSA LÍNGUA? E COMO É A RELAÇÃO ARTÍSTICA ENTRE VOCÊS? ELES INSPIRAM? VOCÊ APRENDE COM ELES?
Acho que a gente já tira um pouquinho fazendo poesia...
Eu sou muito influenciado pelo olhar deles. Eu aprendo tanto com eles quanto eles devem aprender comigo. Espero que eles aprendam alguma coisa comigo... Muito do meu olhar poético vem desse convívio com criança. O olhar da criança é muito virgem, essa coisa de fazer associações com o que vê... Eu já usei literalmente frases dos meus filhos. A própria construção gramatical,
EXISTE ALGUMA IMAGEM QUE VENHA COM FREQÜÊNCIA À SUA CABEÇA? (Silêncio) Não...
E UMA IMAGEM INESQUECÍVEL... O parto dos meus filhos. Assisti a todos e foi uma coisa maravilhosa...
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“A COISA MAIS IMEDIATA QUE EU QUERO FAZER É RESPIRAR. A CONSCIÊNCIA DISSO É IMPORTANTE” ISSO QUER DIZER QUE O QUE TORNA UMA IMAGEM INESQUECÍVEL É A EMOÇÃO QUE ESTÁ CONTIDA NELA? Pode ser, mas eu acho que a memória não obedece tanto à emoção. Às vezes a gente lembra muito bem de coisas irrelevantes emocionalmente, e existem outras coisas que podem ser importantíssimas e que você esquece. Então eu acho que a coisa seletiva da memória não obedece tanto assim à emoção. Mas claro que algumas imagens são marcantes por serem muito intensas.
O QUE VOCÊ GOSTARIA DE FAZER E NUNCA FEZ? Gostaria de saltar de pára-quedas. Tenho vontade e ainda vou fazer.
QUAL A SUA COR PREFERIDA? Quando eu era criança, verde. E eu me apeguei a isso e acho que continua sendo, mais por um apego com essa coisa da infância.
VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? Ah, de um monte de coisas...
VOCÊ COZINHA? Adoro cozinhar, mas tenho muito pouco tempo. Então raramente eu consigo ter a serenidade pra fazer alguma coisa e tal, mas quando dá pra fazer é muito bom.
TEM ALGUMA ESPECIALIDADE? Ah, adoro fazer massas... tem muita coisa... Fazer farofa... Eu sou um bom fazedor de farofa.
VOCÊ É UM APAIXONADO PELAS LETRAS NO SENTIDO LITERAL DA PALAVRA? Eu gosto de caligrafia, sou apaixonado por essa coisa da caligrafia desde muitos anos atrás. O meu primeiro livro era todo caligráfico, eu fiz uma exposição de caligrafia no começo dos anos 80... Aí sempre fui fascinado pela escrita antiga oriental, essa tradição milenar, árabe, chinesa, que é maravilhosa. Acabei sempre pensando essa coisa caligráfica como uma forma de entonação gráfica que sugere sentidos para além do que o discurso verbal está dizendo, você teria uma expressividade através da maneira como escreve, curvatura do traço, do tremor da mão...
ALGUMA FOME MAIS IMEDIATA? Não, o que eu quero fazer eu estou fazendo... A coisa mais imediata que eu quero fazer é respirar. A consciência disso é importante.
PRA CONQUISTAR VOCÊ, QUE PRATO UMA PESSOA DEVERIA PREPARAR? Cuscuz de camarão.
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VOCÊ SE INTERESSA POR GRAFOLOGIA? Já me interessei, mas é uma coisa mais mística. Mas eu acho interessante porque tem toda uma ciência, e eu já comprei alguns livros de grafologia muito inspirado nisso... Uma época eu também me interessei por taquigrafia, que é uma forma resumida de escrever, escrita rupestre. Esse interesse por caligrafia se desdobra em outros...
Assim, ó... L U Í S
A U G U S TO
F I S C H E R
JAPÃO TÃO LONGE Mesmo sem ir até lá, a leitura pode nos aproximar do Japão Meu repertório de viagens é restrito à América do Sul e à Europa, com uma brevíssima escapada a Tânger, no Marrocos, e isso só porque, estando no sul da Espanha, amigos fizeram toda a força para cruzar o estreito de Gibraltar, só pra depois poder dizer “Cruzamos Gibraltar” ou “Fomos à África”. Conto isso para dizer que países de magnífica história e cultura, como a Índia e o Japão, nunca passaram pelas minhas hipóteses de direção de passeio. Nem vão, acho eu. A densidade histórica desses países velhos talvez seja insuportável para um ocidental, que é um homem recente. Ouvi não faz muito uma historinha real ocorrida com uma conterrânea nossa que dá aulas na Coréia. Perguntada sobre o que se estudava no curso de Letras no Brasil, ela disse que, entre outras, se estudava a literatura brasileira e a portuguesa. O coreano que fez a pergunta, também letrado, fez cara de espanto: como assim, a literatura brasileira e a portuguesa? Ele queria saber, em seu desolamento, se a gente tinha a pecha, ou o descaramento, ou a loucura, de estudar toda a literatura brasileira e toda a portuguesa. Sim, respondeu nossa representante na conversa. E então ela começou a entender um pouco aquele país: para um coreano, é impossível estudar a literatura coreana, que tem, sei lá, uns 5 mil anos de vida e seus milhares de autores, ao longo de séculos. Só em mais de uma encarnação seria possível freqüentar tamanho patrimônio. Que dizer então da Índia e do Japão? Eu pouco digo; conheço os limites da minha ignorância. Tenho pedaços de leitura do magnífico Mahabharata, conjunto de lendas indianas talvez mais vasto que a obra de Homero, e mais umas dentadas nos Upanishades; do Japão, conheço uns poemas, mais o recente romancista Kenzaburo Oe. Fico imaginando a quantidade e a potencial maravilha da experiência humana transformada em arte, lá naquela Terra do Sol Nascente, onde jamais porei os pés. Terra do Sol Nascente: este é um dos cognomes do Japão, cujo nome é já um mistério para nós, ocidentais. Segundo uma fonte de grande interesse (El origen de los nombres de los países del mundo – y de mucha de las islas que éstos poseen, de Edgardo Otero, publicado
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pela Editorial De Los Cuatro Vientos, Buenos Aires, 2003), os chineses, mais velhos ainda que os japoneses, usavam para designar o Japão uns signos que significam “sol” e “origem” ou “fonte”, de maneira que para eles, chineses, o nome do arquipélago japonês era uma composição que acabava significando “origem do sol”. Isso porque também para os chins, assim como para nós, é de lá que vem o sol. Os japoneses teriam passado a chamar-se com uma palavra que seria “Ni-Hom” ou “Ni-Pon”, resultado da pronúncia deles para os signos chineses. Quando o valente italiano Marco Polo andou por lá, ouviu esta palavra, à qual se acrescentava uma partícula “guo”, que significa “terra”, “país”. Mas o que ouviu, com seus ouvidos ocidentais, não era “Niponguo”, isto é, “Terra do Sol Nascente”, mas “Cipango”, e foi esta a forma que ficou consagrada aqui no nosso lado do planeta. Já o nosso Houaiss, o melhor dicionário da língua portuguesa disponível, diz que a palavra Japão tem origem malaia (pronuncia-se|djapã|). De forma que “Cipango” era “Nipon” mas acabou se transformando em “Japão”, forma portuguesa. Ainda esses dias foram lembrados os 60 anos de uma atrocidade que o Ocidente, especificamente os Estados Unidos (um país sem nome, conforme disse Caetano Veloso), cometeu contra duas cidades japoneses, Hiroshima e Nagasaki. Bombas atômicas jogadas contra população civil é qualquer coisa de demencial. Não sei se há como corrigir; mas para amenizar, sempre há leituras: Crônicas japonesas, do francês Nicolas Bouvier (L&PM); Viagem ao Japão, uma edição ilustrada concebida por Renata Cordeiro (Landy editora), com dados da cultura e da história, além de uma excelente coletânea de poemas e gravuras japonesas; e Luis Fernando Verissimo, com a parceria do Joaquim da Fonseca, em seu Traçando o Japão (Artes e Ofícios). Aliviam o peso de nossa ignorância e nos aproximam da sensacional cultura japonesa.
LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR