Revista Estilo Zaffari - Edição 57

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Ano 11 N 0 57 R$ 4,50

SABOR: NOVAS IDEIAS PARA O FINAL DE ANO VIAGEM: NORMANDIA, PAIXÃO À PRIMEIRA VISTA

festa!

encha sua casa de flores e sabores


O trivial combinado com Queensberry Classic. A prova de que pequenos prazeres também podem ser inesquecíveis.

Geleias Queensberry Classic. A inspiração veio de receitas europeias, os parabéns vão todos para você.

Para combinar com a sofisticação dos seus pratos, conte com um ingrediente tão premium quanto suas receitas, conte com a Linha de Geleias Queensberry Classic. Ingredientes 100% naturais, frutas escolhidas criteriosamente em diversas partes do mundo e nenhum conservante, tudo isso combinado com um processo de preparação exclusivo, feito em pequenos lotes para preservar ainda mais o sabor e o aroma originais das frutas. Com Queensberry, suas receitas ficam mais que deliciosas, ficam especiais.

Linha Queensberry Classic. O sabor real das geleias.

www.queensberry.ind.br


NOTA

DO

EDITOR

Mil maneiras de festejar

Zuuuummmmmmmm! Escutou esse barulho? Foi o ano de 2011 que passou voando... E lá vamos nós com aquele papinho de sempre: "Nossa, não acredito que já estamos no final do ano!"; "Gente, amanhã já é Natal!"... Pois conforme-se, 2011 está mesmo no finzinho. E já que é assim, que tal aproveitar o ensejo e comemorar, festejar, encontrar os amigos, reunir a família, fazer muitos brindes, dar muitos abraços, distribuir afeto e alegria? A Estilo Zaffari está aqui prontinha pra tornar mais divertidos os seus próximos dias. Ou todos os que vierem pela frente, quem sabe? Afinal, se dezembro é o mês das festas, janeiro é pleno verão, fevereiro tem carnaval, março é o mês do reencontro e assim por diante. Sempre tem motivo pra festejar! Na seção Sabor, conheça Elisa Prenna, uma cozinheira de mão e alma cheias, e Marcelo Schambeck, um jovem que merecia ser denominado chef de raiz (se essa nomenclatura existisse, por suposto). A gastronomia corre nas veias desse moço e faz bater forte o coração da Elisa. Pois desafiamos esses dois donos de bistrôs porto-alegrenses a sugerir ceias natalinas que fugissem do script tradicional – e eles cumpriram lindamente a sua tarefa. A mestra em organização de festas Fernanda Medeiros Azevedo criou três tipos de mesas festivas bem diferentes uma da outra, para inspirar as produções que você vai fazer em casa neste dezembro. Ideias maravilhosas! Zuca Feijó, que faz poesia em forma de arranjos florais, é a responsável pela beleza da pauta "Encha a sua casa de flores para a temporada de festas". Lindo de ver e de copiar. E já que celebração é o tema, Alexandra Aranovich viajou à terra da fantasia, onde todo dia é dia de festa, para nos trazer a matéria "Menu Kids em Orlando", com dicas preciosas para quem pretende viajar à Disney com crianças. Nossa edição se completa com uma longa, bela e emocionada repor tagem sobre a Normandia, França. É lá que mora o coração da Estilo Zaffari, desde maio de 2011, quando nossa equipe foi visitar a pequenina cidade de Barneville-Carteret. Leia, delicie-se, faça planos. Um excelente final de ano pra você! OS EDITORES


Correio MENSAGENS QUERIDAS QUE RECEBEMOS PELO FACEBOOK, NA FAN PAGE DA

Milene Leal

ESTILO ZAFFARI:

milene@contextomkt.com.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Alexandra Aranovich, Cris Berger, Irene Marcondes,

(REFERENTES À ESTILO ZAFFARI 56)

Milene Leal, Renata Maynart, Vera Moreira

REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade

luciane@contextomkt.com.br

ILUSTRAÇÕES Guilherme Dable FOTOGRAFIA Letícia Remião, Cris Berger, Dan Berger COLUNISTAS Carla Pernambuco, Cherrine CardosoFernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros, Malu Coelho, Roberta Gerhardt, Tetê Pacheco EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS)

Izabella Boaz izabella@contextomkt.com.br

DIRETORA DE ATENDIMENTO A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda., sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO Rua Cel. Bordini, 487/40 andar – Porto Alegre/RS – Brasil – 90440 000 (51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781 estilozaffari@contextomkt.com.br

Parece uma eternidade quando a gente acaba de ler uma edição da Estilo Zaffari e pensa que tem que esperar pela outra... Estou ansiosíssima pela próxima edição, que com certeza será tão maravilhosa quanto as anteriores! Por mim poderia ser semanal, pois é uma revista como poucas, de qualidade altíssima e de muito bom gosto. Sempre recomendo aos amigos, e digo “amigos” porque é uma revista para ambos os sexos! Eu não apenas leio como coleciono, pois são atemporais! Beijos a toda essa maravilhosa Equipe da Estilo!!! FRANCIELE FONSECA Bela publicação, Milene Kraemer Leal. Percebo o teu estilo em cada página. CARLOS SALAMONI Gurias: como sempre lindísssssssima!! Amei, amamos. Merci, Chicafundó ELISA PRENNA Adoro e tenho uma sugestão... Quem sabe um lançamento de um livro de culinária das melhores receitas Estilo Zaffari? BIA GOMES Amooooooooo, obrigada por existir! ALESSANDRA BECKER


Parabéns, meninas! Revista linda e inteligente. O fruto nunca cai longe do pé... Muito competentes, além de outras virtudes. CARLOS ROSITO A Estilo chegou com quilos de feijão preto do Zaffari que eu adoro! Começo a leitura hoje mesmo! Olhei rapidamente e fiquei arrepiada! Vocês são o máximo! beijos FLAVIA DE MELLO

Adoro a revista e a última está muito saborosa, principalmente a reportagem sobre os queijos. Curto sempre! ANA GASPARY Que foto linda! Como toda a revista, dá água na boca!!! PAULA LUISA CORREA A revista mais linda de ler e ver. Dá vontade de, sei lá, até comer, rsrsrs. Amo muito desde 1998, tenho quase todas. A propósito, quando sai a nova edição? Estou lisonjeada em fazer parte da rede de amigos dessa revista mara!!!! Isso para mim tem uma importância muito grande pois sou fã desta revista que muitas vezes encheu meus dias tristes de alegria, agora somo minhas alegrias com a Estilo.Tenham um ótimo dia!!!! DANIELA VICENTE DA COSTA Vou correndo comprar a minha!! ANA PAULA ELBLING Show de competência. Linda revista! HALIM RIHAN Sinônimo de competência, sempre!! Bjosss RODRIGO PIRES

ESTILO ZAFFARI Milene, minha querida: Acabo de ler tuas palavras sobre a Flavia, da França... emocionada! Nunca pensei transmitir toda esta energia e reconhecimento com este país que me adotou e me deu a oportunidade de vencer na vida. De tudo o que faço, além da dedicação a minha família, o que mais gosto é de receber pessoas queridas simpáticas e interessadas na minha região. Conseguiste entender tudo! Foi um privilégio mostrar a Normandia para vocês. Vem procurar teu cottage logo. Muito obrigada pela confiança e um grande e carinhoso abraço. FLAVIA DE MELLO


ENCHA SUA CASA DE FLORES!

VOU-ME EMBORA PARA A NORMANDIA...

Aproveite que chegou o final de ano e acrescente um toque de cor e vida à sua decoração

Viagem a um mundo encantado de castelos, jardins, história e sabores inesquecíveis

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JOVENS CHEFS E SUAS RECEITAS PARA AS FESTAS Elisa Prenna e Marcelo Schambeck apresentam ideias nada convencionais para a ceia

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MESAS FESTIVAS: TRÊS IDEIAS INSPIRADORAS Clássica, masculina ou bem descontraída, a mesa figura como atração principal da festa

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Cartas 4 Cesta Básica 8 Cotidiano 18 Gusto 32 Criaturas Humanas 34 Bom Conselho 46 Moda 70 Menu Kids Orlando 82 O Sabor e o Saber 96 Coluna Equilíbrio 100 Mulheres que Amamos 102 Palavra 106


Cesta básica

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, CINEMA, LUGARES, OBJETOS ESPECIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!

CONFORTO E TECNOLOGIA EM EXCELENTE LOCALIZAÇÃO

Com a inauguração do Hotel Pullman Ibirapuera, em junho, São Paulo ganhou um novo conceito em hotelaria. Primeiro representante da nova bandeira trazida pelo grupo Accor ao Brasil, o Pullman é de fato uma ótima novidade. Situado próximo ao Parque do Ibirapuera e com fácil acesso a todas as regiões da capital, oferece um estilo diferenciado de hospedagem na capital paulista. A contemporaneidade é o traço marcante da decoração, e o Pullman prima também por seus recursos tecnológicos inovadores, modernidade em serviços e a preocupação com o bem-estar dos hóspedes. A rede pretende proporcionar uma experiência única em hospedagem, seja para quem viaja a trabalho ou para aqueles que vão desfrutar de momentos de lazer em São Paulo. O hotel tem 350 unidades, todas somando conforto e recursos tecnológicos em iguais proporções. No lobby, o It restaurante tornou-se uma das referências em gastronomia da cidade. Sob o comando do chef Willian Carvalho, o It apresenta destaques da cozinha internacional mesclados às influências da culinária brasileira. Hotel Pullman Ibirapuera – Rua Joinville, 515 Vila Mariana – São P aulo – SP – 55 11 5088.4000


O MELHOR CAFÉ

Foi por um desses acasos da vida que Daniela Raymundo definiu sua profissão. Em 2002, a barista gaúcha, que estava em Sydney a passeio, resolver fixar residência na Austrália. Foi atrás de emprego e conseguiu vaga em uma cafeteria simples na praia de Manly. Completamente ine xperiente no ramo, aprendeu com as colegas a mexer nas máquinas e a fazer cafés. Em seguida, conseguiu trabalho em uma cafeteria mais movimentada. E então teve o click: ela queria mesmo ser barista. Dani estudou, pesquisou, leu, observou. Voltando ao Brasil, em 2005, assumiu a paixão pelo café e montou uma empresa que presta consultorias, dá cursos e treinamentos, para quem quer se profissionalizar , tornar-se um empresário desse ramo ou para aqueles que simplesmente apreciam a bebida. Faceira da vida, ela percebe que o hábito do brasileiro em relação ao café já mudou bastante: “O consumo de café vem aumentando significativamente e, com isso, a exigência dos consumidores também. Já não se aceita qualquer café, as pessoas buscam o melhor espresso, o cappuccino com o leite mais cremoso, o latte mais perfeito”, afirma a barista. Experiente em consultorias, Dani já foi peça-chave na montagem de diversas cafeterias no Rio Grande do Sul. Segundo ela, quem pensa em iniciar um negócio nesse ramo deve ter em mente a seguinte máxima: Já que uma bebida à base de café é feita basicamente de água e café, então não se contente em servir qualquer café, sirva o melhor! www.baristadanielaraymundo.com.br – 51 8166 .5756

CHICAFUNDÓ, AGORA NEM TÃO FUNDÓ E NEM TÃO TIQUITITO ASSIM!

Como todo o pimpolho de um ano, o ChicaFundó está crescendo rápido. O aconchegante e escondidinho bistrô deixa de ser apenas “Fundó” da Refúgio Urbano e passa a integrar a parte interna da loja. Dois novos ambientes foram acrescentados ao bistrô. Elisa Prenna, a proprietária, usou doses generosas de charme, alegria, criatividade e amor para decorar as novas salas. Receitas retiradas de livros de culinária da década de 50 se espalham pelas paredes e chegam em cima das mesas, trazendo boa leitura e distração a qualquer cliente curioso. A capacidade de atendimento do Chica dobra, mas o essencial não muda: comidinha com boas pitadas de tempero, carinho e bom gosto, literalmente. Rua Cel Bordini, 232, loja A, P orto Alegre – RS 51 3028.6091 – chicafundo@gmail.com


Cesta básica

BLOGS DO ALÉM

CRÔNICAS PÓSTUMAS BY VITOR KNIJNIK Desde 2008, uma espécie de “Chico Xavier virtual” encarna no publicitário Vitor Knijnik, que já “psicografou” mais de 170 personagens históricos – que vão dos ilustres Cervantes e Shakespeare até outros, digamos, mais controversos, como a ovelha Dolly. As crônicas póstumas baixaram na revista Carta Capital, fizeram sucesso na Internet e, agora, foram reunidas no livro “Blogs do Além”, lançado pela Editora Realejo. Veja o que alguns personagens psicografados disseram sobre a publicação. – NÃO SEI O QUE ME DEU NA CABEÇA PARTICIPAR DESSE LIVRO. (Newton) – ÀS VEZES UM POST É SÓ UM POST. (Freud) – ACHEI O MAIOR BARATO E NADA BUROCRÁTICO. (Kafka) – ÓTIMA LEITURA PARA O SUMMERTIME. (Janis) – LEIA E DEPOIS VÁ EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO. (Proust) – BOM PRA CACHORRO. (Pavlov) – BEBI UM POUCO DEMAIS QUANDO BAIXEI PRA CANTAR “SE TODOS REBOLATION IGUAIS A VOCÊ”. (Vinicius) – NÃO SEI O QUE ACONTECEU. MEU POST TINHA TUDO PARA DAR CERTO. (Murphy) – ESSA COISA DE PSICOGRAFAR GRANDES FALECIDOS É UM OVO MEU. (Colombo) – NÃO LEMBRO DE TER DITADO “QUEM AMA O FEIO TEM MAIS OPÇÕES”. (Lao)

Prefácio de Mino Carta Orelha do Van Gogh 234 páginas R$ 35,00 – À venda no www.livrariacultura.com.br

COMIDINHAS SAUDÁVEIS NO PARCÃO Para quem circula ou mora no entorno do Parque Moinhos de Vento (o famoso P arcão), a loja da rede gaúcha Vita Juice é um endereço imperdível. Inaugurada no início deste ano, a loja tem como proposta trazer charme, graça e sabor para o universo da alimentação saudável. O cardápio foi montado segundo a ideia de que as pessoas podem fazer suas refeições de forma gostosa, saudável, rápida, e para isso oferece uma grande variedade de sanduíches, cafés, saladas, wraps, sucos, smoothies, cremes quentes isentos de gordura, glúten e lactose. Ah, segundo a opinião de conhecedores, a V ita Juice faz também o melhor açaí da cidade. V ale conferir! Av. Goethe, 25 – loja 02 Porto Alegre – RS – 51 3084.1019 www.vitajuice.com.br


BODY ONE CLUB: CINCO ANOS BEM COMEMORADOS

INOVAÇÃO GASTRONÔMICA O Hashi Art Cuisine, considerado o melhor restaurante contemporâneo da capital, é referência em alta gastronomia e também em proporcionar novas experiências aos seus clientes. Em setembro, o chef Carlos Kristensen lançou a primeira e única carta de vinhos em iPad do Rio Grande do Sul e já está fazendo o maior sucesso. A nova plataforma, que também circula em renomados restaurantes do mundo, foi desenvolvida exclusivamente para o Hashi Art Cuisine e está integrada à rede social WineTag. O projeto ainda tem a parceria da Importadora P orto a Porto e da NET . Os frequ entadores do restaurante agora podem selecionar o vinho mais apropriado para o seu jantar de forma interativa e com informações que as cartas tradicionais não possuem. Descrição do produtor, avaliação de experts e, ainda, a opinião de outros consumidores espalhados pelo país são algumas delas. A nova carta do Hashi Art Cuisine, que possui cerca de 400 rótulos em sua adega, pode ser ordenada de formas diferenciadas, de acordo com a necessidade do cliente: tipo de uva, preço, país, região, e ainda oferece a opção de menu harmonizado, em cada prato do restaurante já traz sugestões de bebidas para acompanhá-lo. Desembargador Augusto Loureiro Lima, 151 Porto Alegre – RS – 51 8114.8932

Desde 2006, a Body One Club é sinônimo de inovação. Primeiro wellness club do Rio Grande do Sul, a empresa trouxe para o segmento de academias um referencial superior em termos de infraestrutura, conveniência e serviços. Para comemorar seus 5 anos de operação, completados em setembro, a academia promoveu uma variada programação de atividades. Foram quatro dias de muita movimentação, entre aulas especiais, intervenções cênicas, apresentações de dança, demonstrações de modalidades, palestra e até um show musical. Na segunda-feira, 26 de setembro, a programação de aniversário tomou conta de toda a academia. Durante três dias, os alunos tiveram à disposição a já tradicional mesa de alimentação com snacks saudáveis, além de música para todos os gostos. Segunda e terça-feira, cedo pela manhã, os alunos foram recebidos ao som de violino e violoncelo. Nos três dias, DJs também se revezaram nas pick-ups da academia, dando aos treinos uma trilha sonora cheia de energia. Já na quarta-feira, 28 de setembro, o ritmo da bossa nova invadiu a manhã da Body One Club, com a performance do projeto “50tona T oda Bossa”. E, à noite, para fechar em grande estilo o aniversário de 5 anos da academia, cerca de 500 pessoas prestigiaram o show da banda Papas da Língua, que desfilou seus hits e novas canções. Rua Silva Jardim, 375 – P orto Alegre – RS 51 3061. 5021


Cesta básica RECENTES DESCOBERTAS NO MUNDO DAS REVISTAS

IAIÁ BISTRÔ FESTEJA 2 ANOS DE COZINHA BRASILEIRA Porto Alegre tem um bistrô de comida brasileira que em dois anos conquistou o paladar dos gaúchos com moquecas, bobó de camarão, tapioca, acarajé e releituras do famoso pato ao tucupi da região amazônica e da galinhada com pequi do Cerrado. Os doces e os sucos são igualmente uma celebração brasileira no Iaiá. Sobremesas como bom-bocado de cupuaçu com crocante de amêndoas e sorvetes de sabores inusitados, como o de gengibre com calda de frutas vermelhas ou de queijo com calda caseira de goiaba, e ainda de melão e coco. Sucos deliciosos de umbu, caju, cajá, graviola e cupuaçu fazem a gente ter certeza, mesmo aqui neste nosso Sul tão europeu, de que pertencemos a um país tropical. Merece destaque também a seleção de cervejas especiais, desde long necks até garrafas de 1 litro. Nos almoços do fim de semana tem sempre uma sugestão de prato fora do cardápio. O estilo da bela e arejada casa no bairro V ila Assunção – tem um deck perfeito para os dias de clima ameno – é rústico chique, que se observa na decoração de bom gosto, com mesas antigas, cadeiras de diversos modelos, toalhas com alegre estampa de flores, quadros e objetos lúdicos. O serviço simples e atencioso, as porções bem- servidas e o preço justo. T udo funciona sob a batuta rigorosa da simpática proprietária, Daniela Craidy, que foi também fundadora do saudoso Sanduíche Voador, com sua tia Doris Grossman. Rua Chavantes, 636 – Zona Sul P orto Alegre – RS 51 3222.0098 – www .iaiabistro.com.br

VERA MOREIRA, JORNALISTA

Quem ainda defende que uma boa revista deve ser impressa num papel de categoria, com lindas fotos e os melhores nomes da fotografia, precisa conhecer a recém-lançada revista Zum. Quem ainda quer lamber os dedos e folhear uma revista de ensaios, artes visuais, ideias e literatura, precisa abrir um espaço especial na cabeceira para a revista Serrote. Nos últimos meses o NASC APAS teve o prazer de conhecer as duas revistas semestrais publicadas sob a charmosa assinatura do Instituto Moreira Salles – http:// ims.uol.com.br. Saiba mais acompanhando o nosso blog – http://nascapas.blogspot.com –, um eterno caçador de revistas por esse mundo afora. Ou entre no site da revista Serrote: http://www.revistaserrote.com.br

CLAUDIO FRANCO, PUBLICITÁRIO


EMOÇÕES BORDADAS A MÃO A chegada de um irmãozinho na casa muda tudo na vida de uma criança. A alegria, o medo, o amor , o ciúme e a ansiedade se misturam e se fundem. E é nesse emaranhado de emoções que vai crescer a maior de todas as amizades: a amizade entre duas crianças criadas juntas, cuja infância, dividida, será a base das suas existências. Com leveza e poesia – e com muitos bordados e cores –, Leticia Wierzchowski e Alessandra Lago se debruçam sobre essa relação diária e cotidiana: a união entre dois irmãos, suas mútuas aventuras e alegrias na descoberta do mundo. “O menino e seu irmão” , sexto livro infantil de Leticia, foi um trabalho feito com palavras, agulha e linha. Um livro quase feito a mão, a quatro mãos. Durante mais de um ano, Leticia e Alessandra Lago, publicitária, designer e artesã, bordaram cada ilustração do livro. O resultado vale conferir na livraria mais próxima.

O MENINO E SEU IRMÃO Editora Galera Record 59 páginas R$ 42,90 – À venda no www.livrariacultura.com.br

VINHO, UM EXCELENTE MOTIVO Uma vinheria. E também um bistrô. Uma enoteca, uma loja de vinhos, um wine bar. Segundo o seu próprio site, a Vinum é um lugar “criado para oportunizar a todos desfrutar os segredos, prazeres e a tradição do vinho ”. Essa frase resume bem a vocação do lugar. O vinho é sem dúvida a estrela da casa, mas você é quem decide de que maneira vai apreciá-lo: degustando pequenas doses de diferentes garrafas, harmonizando sua escolha com um saboroso almoço ou jantar, levando para casa os seus rótulos prediletos. Não que se possa falar em democratização, mas a Vinum se esforça para tornar mais acessível aos simples mortais o desejo de degustar diferentes vinhos e fazer disso uma deliciosa diversão. Para isso, vale- se da tecnologia Enomatic, ou Wine Serving Systems. Com esse equipamento é possível abrir uma garrafa de vinho para ser servida em taças e preservar a bebida com suas características intactas por mais de 30 dias. Para o cliente, a diversão fica garantida. Já que há três opções de doses (25 ml, 75 ml e 150 ml), você pode, sem culpa, tomar um vinhozinho durante o almoço. Por falar em almoço, o bistrô da V inum oferece diariamente três tipos de menus, todos compostos de entrada, prato principal e sobremesa. À noite, o serviço é à la carte . Enquanto espera a sua refeição, uma boa ideia é percorrer o espaço da loja e conferir o acervo de mais de 800 rótulos da casa, que inclui um ótimo plantel de vinhos nacionais. Rua Marquês do Herval, 52 – P orto Alegre – RS 51 3395.4597 – vinum@vinum.com.br


SAÚDE É O QUE INTERESSA Na PerfilFit, exercitar-se é muito mais do que cuidar do corpo, é um estilo de vida. Para oferecer o que há de melhor e mais avançado em treinamento físico, a PerfilFit trabalha de forma individualizada com seus clientes, buscando atingir os objetivos específicos de cada um. O atendimento é levado a sério, e a academia conta com profissionais focados nos resultados. Outro atrativo são as modalidades diferenciadas, como alongamento e pilates, corridas e caminhadas indoor e outdoor, exercícios funcionais e musculação. A sede, localizada no bairro Bela V ista, diferencia-se pelas características arquitetônicas dos chalés germânicos: lareira na sala de musculação, presença da natureza por todos os lados, além de um aspecto rústico e acolhedor , que torna ainda mais prazerosa a prática de atividades físicas. Com dez anos de experiência no mercado, a P erfilFit prioriza a saúde e o bem-estar de seus clientes, propiciando um ambiente tranquilo para desestressar o corpo e a mente. Vale conhecer! Rua Engenheiro Antônio Rebouças, 47 Porto Alegre – RS – 51 3028.9840 e 9914.6056 perfil@perfil.pro.com.br

CRISTINA RÍSPOLI D'AZEVEDO, JORNALISTA

MEDIALUNAS COM SOTAQUE URUGUAIO Para comer medialunas legítimas, daquelas que vê m com calda de baunilha por cima, você viaja até a Argentina ou o Uruguai? P ois deixe a mala guardada, nem pense no cartão de milhagem. Em outubro, P orto Alegre ganhou um lugar onde as primas sul-americanas do croissant reinam quase absolutas, com receita original – Raul Copetti, o dono, assim como a confeiteira chefe, nasceram em Montevidéu. Na concorrência pelo melhor sabor , a Sabor de Luna também apresenta palmitas (que o b rasileiros chamam de Orelhas de Macaco), empanad as e outras receitas do Prata. Vá até lá, peça pra ser servido numa das duas mesas da calçada e decida qual é a sua preferida. Rua Freire Alemão, 328 Porto Alegre – RS 51 3392.4244

CLÁUDIA ARAGON, JORNALISTA


OS VINHOS DA PROVENCE Autor: François Millo Editora Boccato 128 páginas – R$ 79,90

OS VINHOS E A GASTRONOMIA DA PROVENCE A Editora Boccato lançou em setembro o livro “Os Vinhos da Provence”, assinado pelo escritor e fotógrafo François Millo. Nascido na Provence, o francês Millo é um apaixonado pela gastronomia e já publicou na França três obras sobre os vinhos dessa região. O livro editado no Brasil é dividido em duas seções distintas. Na primeira parte, Millo discorre sobre as características que fazem da Provence – região no sudoeste da França, banhada pelo Mediterrâneo – uma área especial para a produção de vinhos, e quais são as uvas e rótulos produzidos por lá, em especial os vinhos rosés que fazem a fama do local. Na segunda parte, o autor traz receitas de pratos que se harmonizam com os vinhos da Provence, em menus com sugestões de entradas, pratos principais e sobremesas. Há um cardápio com sugestões inspiradas na região, um menu para receber os amigos e outro com ingredientes brasileiros, entre outros.

BOUTIQUE DE SORVETES Se você, assim como a imensa maioria dos seres humanos, é um adorador da iguaria chamada sorvete, com certeza vai amar essa dica. P orto Alegre já tem uma sorveteria boutique, chamada Arte Freddo, onde você encontra muito, mas muito mais do que os tradicionais sabores de sorvetes... Ana Gaspary , a chef que criou a Arte Freddo, combina técnicas de pâtisserie e de gelateria, acrescentando toques de uma poderosa criatividade. O resultado? Sabores que encantam e surpre endem o paladar . Os sorvetes da Arte Freddo são exclusivos, diferentes, alguns até exóticos. É o caso do sorvete salgado desenvolvido pela chef, perfeito para acompanhar saladas ou fazer o papel da entrada em uma refeição. Ana elabora seus sorvetes com ingredientes naturais, frutas da estação e produtos de alta qualidade. Quer conhecer alguns deles? Aqui vai uma listinha de dar água na boca: queijo com goiabada, manga com gengibre, tapioca com maracujá, tiramisú de frutas vermelhas, tiramisú com figo e nozes, coco com caramelo de coco, manjericão com morango. Ah, a Arte Freddo também faz bombons e tortas de sorvete (a almendrada é de comer de joelhos). E oferece porções individuais em copinhos, superpráticas para a sobremesa, que você pode encomendar e receber em casa. Rua Giordano Bruno, 13 – P orto Alegre – RS 51 3028.6013 – www .artefreddo.com.br


Cesta básica

GUIA JARDINS NOVO HIGIENÓPOLIS BY DESTEMPERADINHOS

PAPINHAS ORGÂNICAS PARA BEBÊS GOURMET Polentinha com molho à bolonhesa, purê de beterraba, moranga com couve e gema de ovo, risoto de quinua, hummm... a OrganicBaby está fazendo a diferença em P orto Alegre quando o assunto é alimentação infantil. As papinhas são deliciosas e saudáveis, pois são 100% orgânicas e livres de conservantes, de açúcar , de lactose e de gorduras trans. E, ainda por cima, são preparadas pelo chef Cesar Sperotto. Para preservar os nutrientes, as cores e os sabores originais dos ingredientes, o chef trabalha com o Thermomix, equipamento alemão que possibilita o controle científico da temperatura de cozimento dos produtos. T udo para que bebês e crianças possam receber em casa comidinhas prontas e nutritivas e possam saborear o verdadeiro gosto de cada alimento. Novidades estão por vir no cardápio de verão! Informações: www.organicbaby.com.br

Seguindo os passos do Destemperados, o blog Destemperadinhos – que sugere programas e restaurantes legais para ir em família – lança seu primeiro guia pocket , a convite da construtora Goldsztein Cyrela. O guia traz dicas legais de três bairros de P orto Alegre: Boa V ista, Higienópolis e Passo d’Areia. É nessa área que a construtora está lançando o empreendimento residencial “Jardins Novo Higienópolis”. O desafio era selecionar experiências gastronômicas inspiradoras da região. O guia também apresenta praças, alguns serviços e até escapadas que merecem um dia longe de casa em outras cidades e jardins afora. Para quem quiser conferir as dicas, o Guia Jardins Novo Higienópolis está sendo distribuído gratuitamente no plantão de vendas do empreendimento (Rua Jari , 359) e em diversos pontos gastronômicos de Porto Alegre.

ALEXANDRA ARANOVICH, PUBLICITÁRIA



Cotidiano MAR THA MEDEIR OS

O CARINHO QUE DÓI “Tenho muito carinho por ti.” Como é que é? Ela, ainda totalmente apaixonada por ele, releu o bilhete de despedida, desde o início: “Infelizmente, nossa relação acabou. Te cuida. Tenho muito carinho por ti.” Carinho? Depois de três anos de namoro, depois de 19 finais de semana na praia, depois de algumas dezenas de jantares românticos, depois de ter dado a ele um notebook de Natal, depois de tê-lo apresentado a sua família, depois de ter perdoado aquele torpedo de uma tal de Samanta, depois de ter tosado o cabelo só porque ele adorava sua nuca, depois de ter esperado acordada até ele sair de todos os seus plantões, depois de ter feito uma tatuagem a pedido dele, depois de sonharem juntos com uma viagem à Indonésia, depois de terem colocado um anel de compromisso, depois de todos os “eu te amo” que nunca foram economizados, ele vem agora dizer que sente muito carinho por ela? Pois que embrulhe esse carinho e mande por sedex para os desabrigados do Haiti, que ponha esse carinho numa mala e despache para onde haja uma guerra civil. Quem precisa do carinho desse traste? E então ela triturou o bilhete até virar farelo de papel e jogou tudo pra cima, e eles caíram sobre sua própria cabeça, uma cena deprimente de se ver. Tudo porque algumas mulheres são assim mesmo, não querem saber de nenhum tipo de consolação. 18

Estilo Zaffari

Ai de quem lhes oferece carinho depois de já ter declarado que elas eram o amor da sua vida. Escute: se ela ainda for louca por você, não fale em carinho, é o pior dos insultos. Se não sente mais amor por ela, então sinta raiva, ódio, deseje matá-la, esganá-la, qualquer coisa que a faça sentir o gostinho de ainda perturbá-lo, de ainda lhe dar trabalho, só não venha com conversa de samaritano. Se não sente mais paixão, então suma e dê a ela o benefício da dúvida: será que ele sente saudade, será que ele ainda pensa em mim? Dizer que sente carinho é colocar uma pá de cal no passado, é como dizer que ela, hoje, tem a mesma importância que o hamster da sua avó, que lembra dela tanto quanto você lembra de um moleque que estagiou no escritório oito anos atrás, que o carinho que sente por ela é mais ou menos como o carinho que sente por um blusão que ganhou no aniversário de 16 anos. Seja homem. Fale mal dela para seus amigos, torça para que ela engorde, reze para que ninguém a procure no Facebook nem a siga no twitter, mas não venha dizer que sente muito carinho depois de todos aqueles amassos e juras de amor. Não seja tão cruel sendo assim tão bonzinho.

MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA



Sabor


Jovens chefs e suas receitas para as festas de dezembro

P O R

V E R A

M O R E I R A

F O T O S

L E T Ă? C I A

R E M I Ăƒ O

Estilo Zaffari

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Sabor ELISA PRENNA E MARCELO SCHAMBECK CRIARAM DUAS CEIAS DE NATAL EM RELEITURA DAS TRADIÇÕES E EM SINTONIA COM A PROFUNDA ESPIRITUALIDADE DA COMIDA

ceias ELISA PRENNA Couvert: Pasta de Salmão + Limão Siciliano em Chapinhas Folhadas e Pacotinho de Filó com Brie e Geleia Ácida Salada de Papaya Verde e Camarões Linguado com Couscous Marroquino Pudim de Nozes com Sorvete de Canela MARCELO SCHAMBECK Salada de Bacalhau e Lentilha Germinada com Vinagrete de Limão Bergamota Peito de Peru Grelhado com Redução de Merlot Guarnecido de Purê de Queijo Colonial e Farofa de Passas de Caqui Mil-Folhas de Figos com Farelo de Nozes e Sorvete de Cardamomo

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Estilo Zaffari

Eles não concebem o desperdício, querem construir, ajudar, fazer o trabalho verdadeiro, olhando de perto, sentindo, cheirando o alimento, colocando na mesa uma comida de origem confiável, fresca, viva. Elisa Prenna e Marcelo Schambeck praticam a mais antiga e, ao mesmo tempo, moderna e revolucionária das cozinhas, que prioriza e enaltece os produtos locais, o ingrediente mais próximo possível da terra. A prática chegou ao Brasil com os grandes chefs europeus, nas décadas de 70/80, que valorizaram tantas frutas tropicais e vegetais desdenhados por nós, como o maracujá, o quiabo e a mandioquinha. Hoje, no mundo globalizado de fronteiras tão intrincadas, se revela o definitivo diferencial da cozinha comprometida com a qualidade. Esse ideal nasceu como movimento nos anos 60 nos EUA – bebeu na fonte de pensadores ingleses do século XIX que criticavam os efeitos da Revolução Industrial –, com as mesmas raízes que fizeram florescer o ambientalismo e o feminismo. De lá pra cá, o exemplo mais vistoso do movimento, a agricultura orgânica, cresceu a ponto de virar um agronegócio poderoso e passou a ser reavaliada. Um novo ciclo de proximidade com a terra começou a pipocar mundo afora, por engajamento ou intuição de quem se casou com a comida. Pois aqui em Porto Alegre, Elisa e Marcelo estão na linha de frente desse esforço pela vida. Madrugam, todo santo sábado, para buscar na Feira Ecológica da Redenção os ingredientes de produtores locais, que conhecem pelo nome. Fazem compras também nos seus bairros – Moinhos de Vento e Centro, com os quais cresceram junto e que tanto valorizam – , vão pessoalmente ao supermercado e ao Mercado Público e recebem pouquíssimos fornecedores. Nas suas cozinhas, quase nada é armazenado ou congelado. Eles operam com os ingredientes do dia, em espaços minúsculos e organizados, atrás de vidraças decoradas. Ali, o ver e ser visto é entre comensais, cozinheiros e os garçons amigos e a família, nada mais importa além do prazer da boa mesa, comer em comunhão. Assim conquistaram a projeção dos seus bistrôs, evidenciando que o valor espiritual da gastronomia tem seguidores. As reservas por um lugar nos igualmente pequenos salões do ChicaFundó e Del Barbieri são constantes e disputadas. Todos querem provar as deliciosas criações da reustauratrice e do chef, que servem menus exclusivos a cada almoço da semana e em quantidade limitada de refeições. Por isso, a Estilo Zaffari escolheu Elisa e Marcelo para sugerir a ceia de Natal para os seus leitores. Ceias que eles criaram em uma releitura das tradições, das lembranças de infância rondando as cozinhas maternas, mescladas com o conhecimento adquirido nos estudos gastronômicos e no dia a dia do fogão. Duas ceias para degustar sem pressa nem desperdício, em comunhão com o alimento que nos é dado por Deus, seja qual for o Deus da sua crença.



Sabor ELISA PRENNA TUDO É DETALHE E CORAÇÃO NO CHICAFUNDÓ. JÁ NO AVARANDADO DE ENTRADA, AO LADO DA DESCOLADA LOJA REFÚGIO URBANO, A PAREDE CONVERTIDA EM HORTA DÁ O TOM DO LUGAR. CADA VASO DE ARGILA SUSPENSO TEM NOME PRÓPRIO ESCRITO, DOS AMIGOS DE ELISA PRENNA QUE LEVARAM MANJERICÃO, ALECRIM, HORTELÃ E OUTRAS ERVAS DE PRESENTE PARA A RESTAURATRICE NA INAUGURAÇÃO DO BISTRÔ. ERA ASSIM QUE ESSA MOÇA MIÚDA NO FÍSICO E GIGANTE NA ENERGIA IDEALIZAVA O SEU ESPAÇO, CHEIO DE AMIGOS, DESCONTRAÍDO, PERSONALIZADO. “RIGIDEZ ZERO. A GENTE ATUA JUNTO COM O CLIENTE. JÁ FIZEMOS ATÉ JANTAR CABALA”, DIZ ELA. CADA CANTINHO DO CHICAFUNDÓ REVELA O ESTILO DA DONA, DA DECORAÇÃO LÚDICA E DIVERTIDA AO MINIMALISMO DE DUAS BOCAS DE FOGÃO NA COZINHA. NOS BASTIDORES, ELISA É METÓDICA E ORGANIZADA, FRUTO DA SUA FORMAÇÃO ACADÊMICA EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS, QUE LHE RENDEU UMA BAGAGEM PRECIOSA NOS 12 ANOS DE ATUAÇÃO EM COMÉRCIO EXTERIOR. BAGAGEM ELA ADQUIRIU TAMBÉM NAS VIAGENS PELO MUNDO COM O PAI. “ELE SEMPRE ME DIZIA QUE VIAGENS E LÍNGUAS NOS ABREM PORTAS. EU TIVE ACESSO A COISAS MUITO DIFERENCIADAS, PROVEI COMIDAS DE TODO O TIPO E HOJE FALO INGLÊS, ITALIANO, ESPANHOL E TENHO NOÇÕES DE FRANCÊS. ISSO FOI DEFINITIVO PRA MIM”, AFIRMA ELISA, QUE SE TORNOU EXTREMAMENTE CURIOSA E INTUITIVA. DEPOIS DE VÁRIOS CURSOS COM CHEFS RENOMADOS, A FORMAÇÃO NUM PROJETO ITALIANO DE GESTÃO EM GASTRONOMIA E HOTELARIA, COM ESTÁGIO EM QUATRO RESTAURANTES NA SICÍLIA E UMA OPERAÇÃO PRÉ-ESTRÉIA DE COZINHA – RECEBIA ATÉ 12 CLIENTES POR NOITE NA SUA PRÓPRIA CASA –, ELISA SE CONSIDEROU PRONTA. E SE LANÇOU DE CORPO E ALMA, NO FINAL DO ANO PASSADO, AO CHICAFUNDÓ.

SALADA DE PAPAYA VERDE COM CAMARÕES 5 COLHERES DE AMENDOIM TORRADO SEM PELE E SEM SAL 2 DENTES DE ALHO PICADÍSSIMOS 2 PIMENTAS DEDO DE MOÇA SEM SEMENTE PICADÍSSIMAS 2 COLHERES DE AÇÚCAR DE PALMEIRA OU AÇÚCAR MASCAVO 180 G DE TOMATES-CEREJA OU PERINHA CORTADOS EM 4 SUCO DE 2 LIMÕES 5 COLHERES DE MOLHO DE PEIXE (COMPRADO EM CASAS DE PRODUTOS ORIENTAIS) 18 CAMARÕES GRAUDOS 1/2 COLHER DE PIMENTA CALABRESA FRESCA 3 COLHERES DE ÓLEO DE ARROZ 3 COLHERES DE SUCO DE TAMARINDO SAL A GOSTO

PACOTINHO DE MASSA FILLO COM BRIE E GELEIA ÁCIDA Modo de fazer: abra a massa fillo, 2 folhas empilhadas por vez e corte em quadradinhos que deem para se juntar as pontas com folga. Coloque no centro um cubinho de queijo brie e uma ponta de colher de geleia de damascos ou laranja. Podem ser usadas também amoras ou framboesa. Junte as pontinhas das massa e passe com cuidado um palito. Leve ao forno préaquecido e asse até que dourem. Sirva quentinhas.

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Modo de fazer os camarões: deixe-os marinando na mistura de óleo de arroz com a pimenta calabresa, o suco de tamarindo e o sal por cerca de1 hora na geladeira. Escorra e grelhe-os no óleo rapidamente. Modo de fazer a salada: descasque o mamão e sem abri-lo passe o descascador de legumes, tirando fitas do mamão e depois cortando estas em tirinhas bem fininhas ou caso tenha um mandolin, passe com cuidado por este aparelho. Amasse o alho em um pilão e junte o açúcar o molho de peixe e por fim o suco de limão. Misture este molho ao papaia, junte os tomatinhos e o amendoim misture tudo e sirva imeditamente. Sugestão: sirva a salada em folhas de coração de alface americana na base e os camarões por cima. Rendimento: 6 porções



Sabor

LINGUADO COM COUSCOUS MARROQUINO 6 FILÉS DE LINGUADO

PUDIM DE NOZES DA MAMÃE SERVIDO COM SORVETE DE CANELA

SAL E PIMENTA A GOSTO

12 OVOS (SENDO 3 INTEIROS E 9 GEMAS)

1/2 CAIXA DE COUSCOUS MARROQUINO

200 G DE NOZES

6 DAMASCOS

400 G DE AÇÚCAR

6 AMÊNDOAS INTEIRAS TOSTADAS

Modo de fazer: faça uma calda média (cubra o açúcar com água e deixe ferver até o ponto de calda média), acrescente as nozes moídas, ferva por 2minutos e desligue. Deixe esfriar em uma vasilha, coloque 12 gemas passadas pela peneira + 3 claras. Caramele forma a forma com açúcar e leve ao forno em banho-maria por aproximadamente 60 min (dependerá do forno o tempo de cocção). Deixe esfriar antes de desenformar e sirva com sorvete de canela da Bergalli. Rendimento: 12 fatias, utilize forma padrão de pudim.

6 TÂMARAS SEM CAROÇO UM PUNHADO DE UVA PASSA BRANCA 1/2 XÍCARA DE FOLHAS DE COENTRO PICADAS 1/2 XÍCARA DE FOLHAS DE HORTELÃ PICADAS SUCO DE 2 LIMÕES SICILIANOS 6 CEBOULETES SAL E PIMENTA A GOSTO 300 ML DE CALDO DE PEIXE (DE PREFERÊNCIA FEITO EM CASA COM CARCAÇA DE PEIXE E LEGUMES) Modo de fazer: tempere o peixe com sal e pimenta, grelhe rapidamente numa frigideira. Ferva o caldo de peixe, retire do fogo, coloque 1 colher de manteiga e acrescente1/2 pacote de couscous. Deixe abafar por alguns minutos (aprox. 10 min). Abra a panela e mexa vigorosamente com um garfo. Pique todos os ingredientes acima listados e misture ao couscous. Sirva frio ou aquecido com o peixe. Rendimento: 6 porções.

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PASTA DE SALMÃO EM CHAPINHA DE MASSA FOLHADA Modo de fazer: bata no food processor 1 envelope de salmão defumado junto com 200 gramas de cream cheese + suco de 1 limão siciliano. Abra a massa folhada Arosa. Corte em quadradinhos e asse conforme instruções da caixa. Sirva as chapinhas com a pasta de salmão. Decore com um pedacinho de salmão e folhinhas de erva doce ou sementinhs de endro.



Sabor

MARCELO SCHAMBECK PASSAR PELA PORTA DO DEL BARBIERI É COMO ENTRAR EM UM DELICIOSO TÚNEL DO TEMPO. SEJA PELA ATMOSFERA NOSTÁLGICA DO LUGAR, QUE DIVIDE ESPAÇO COM UMA CINQUENTENÁRIA BARBEARIA E NOS REMETE AOS TRADICIONAIS BISTRÔS PARISIENSES. SEJA PELA CONVERSA COM O CHEF, TÃO JOVEM, MAS QUE SOMA 23 ANOS DE REMINISCÊNCIAS E ENVOLVIMENTO ÍMPAR COM A COZINHA. DESDE PIMPOLHO MARCELO SCHAMBECK OBSERVAVA, MUITO ATENTO, A MÃE NO FOGÃO E NA HORTA, A TIA ESTICANDO DOCES CARAMELADOS E, AOS 10 ANOS, COLOCOU LITERALMENTE A MÃO NA MASSA. “COMECEI A FAZER MINHAS EXPERIÊNCIAS COM PASTA ARTESANAL. E EU GOSTAVA TANTO DA FUNÇÃO, QUE ATÉ NOS VERANEIOS EU SAÍA ANTES DA PRAIA PARA AJUDAR NO PREPARO DO ALMOÇO”, LEMBRA. COM 13 ANOS, TEVE UMA EPIFANIA COM POLVO E PEIXES CRUS NO SEU PRIMEIRO SUSHI. “AQUILO ME REVELOU EXISTIR UM MUNDO ALÉM DA COMIDA CASEIRA QUE EU CONHECIA”, DIZ O CHEF. QUANDO FOI HORA DE OPTAR PELA FORMAÇÃO PROFISSIONAL, NÃO TEVE DÚVIDA. INGRESSOU, COM 17 ANOS, NA GASTRONOMIA DA UNISINOS E O SEU TCC FOI O PLANO DE NEGÓCIOS QUE DEU ORIGEM A UM CAFÉ CONJUGADO À ANTIGA BARBEARIA DO PAI. UM ANO DEPOIS, MARCELO CHEGOU A IR PARA SÃO PAULO A CONVITE DA BANQUETEIRA NEKA MENNA BARRETO, MAS LÁ TEVE A SEGUNDA EPIFANIA. PODIA FAZER SUA HISTÓRIA EM PORTO ALEGRE, VALORIZANDO O CENTRO DA CIDADE, DEDICANDO-SE MAIS PROFUNDAMENTE À SUA VOCAÇÃO PARA A COZINHA. ERA A HORA DE COLOCAR EM PRÁTICA O CONHECIMENTO ADQUIRIDO TAMBÉM COM OS CHEFS JORGE NASCIMENTO, FLÁVIA QUARESMA, HELENA RIZZO E A PRÓPRIA NEKA, QUE FOI A PRIMEIRA A APOIÁ-LO. EMPREENDEU UMA REFORMA NO CAFÉ E VESTIU DEFINITIVAMENTE O JALECO DE CHEF DO SEU BISTRÔ, O QUE JÁ LHE RENDEU INDICAÇÕES DE CHEF REVELAÇÃO E CHEF DO ANO PELA REVISTA VEJA PORTO ALEGRE.

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SALADA DE BACALHAU E LENTILHA GERMINADA COM VINAGRETE DE LIMÃO BERGAMOTA 400 G DE LOMBO DE BACALHAU 300 G DE GRÃO DE BICO 150 G DE LENTILHA 50 ML DE SUCO DE LIMÃO BERGAMOTA 150 ML DE AZEITE DE OLIVA EXTRA-VIRGEM 3 FOLHAS DE LOURO 10 G DE PIMENTA-DO-REINO EM GRÃO 2 DENTES DE ALHO 3 CEBOLAS MÉDIAS Modo de fazer: inicie dessalgando o bacalhau três dias antes do preparo, deixe de molho trocando a água em 12 em 12 horas. E também aproveite para germinar três dias antes a lentilha, deixe de molho de um dia para o outro, escorra a água e disponha em uma vasilha ou forma larga. Coloque um local arejado e com luz, se necessário umedeça aos poucos os grãos, no segundo dia ela começa a brotar. Em uma panela de água fervente coloque o grão de bico com uma colher de sal para cozinhar. Cozinhe até as grãos estarem macios, cerca de 1h. Para cozinhar o bacalhau, ferva a água em uma panela com as folhas de louco, os grãos de pimenta, o dentes de alho e a cebola cortada ao meio. Cozinhe por 5 minutos, retire e desfie. Corte as outras duas cebolas e refogue até dourar, acrescente o bacalhau desfiado e desligue o fogo. Para a vinagrete, emulsifique o azeite com o suco e corrija o sabor com uma pitada de açúcar e sal. Para finalizar misture todos os ingredientes já frios e sirva com a lentilha germinada salpicada por cima. Rendimento: 6 porções.



Sabor

PEITO DE PERU GRELHADO COM REDUÇÃO DE MERLOT GUARNECIDO DE PURÊ DE QUEIJO COLONIAL E FAROFA DE PASSAS DE CAQUI 1,5 KG DE PEITO DE PERU 1 GARRAFA DE VINHO MERLOT GAÚCHO 1 KG DE BATATA BRANCA 300 G DE QUEIJO COLONIAL DA SERRA GAÚCHA 500 G DE FARINHA DE MILHO FLOCADA 200 G DE PASSAS DE CAQUI 1 CEBOLA

MIL-FOLHAS DE FIGOS COM FARELO DE NOZES E SORVETE DE CARDAMOMO 2 FOLHAS DE MASSA HARUMAKI (MASSA DO ROLINHO PRIMAVERA) 30 G DE MANTEIGA PARA PINCELAR 50 G DE AÇÚCAR DE CONFEITEIRO 10 G DE CANELA EM PÓ 6 FIGOS MADUROS 300 G DE AÇÚCAR 300 G DE NOZES 600 ML DE SORVETE DE CARDAMOMO DA SORVETIA BERGALLI

1 DENTE DE ALHO 200 G DE MANTEIGA 1 MOLHO DE TOMILHO Modo de fazer: coloque o vinho em uma panela de boca larga, disponha o tomilho e deixe reduzir o líquido a 1/3 do volume inicial. Para a farofa derreta as 100 g de manteiga e refogue a cebola e logo o alho. Disponha a farinha e deixe dourar, no final acrescente as passas de caqui cortada em cubinhos. Cozinhe as batatas com casca em água fervente, quando estiverem macias, retire do fogo e descasque, com a ajuda de um processador faça o purê, batendo as batatas com 100 g de manteiga e o queijo colonial. Regule o sabor com sal, pimenta-do-reino e noz- moscada. Por fim, grelhe o peito temperado com sal e pimenta do reino. Rendimento: 6 porções.

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Modo de fazer: corte os figos em cubos. Em uma panela coloque os figos junto com os 200 g de açúcar, deixe cozinha e caramelar até o figo ficar translúcido e brilhoso. Corte a harumaki em quadrados de 5 cm, e asse em forno baixo, 100°C, pincelada com manteiga derretida e polvilhada com canela, até dourar. Cuidado, elas assam super rápido, não descuide. As nozes são trituradas em um liquidificar até formar um farelo, logo em uma frigideira misture o farelo com 100 g de açúcar, deixe caramelar e retire da frigideira para não queimar. Monte a mil-folhas intercalando a massinha crocante com o figo, do lado faça uma cama com as nozes e por cima o sorvete. Rendimento: 6 porções.



Gusto

CARLA PERNAMB UCO

w w w. c a r l o t a . c o m . b r

Descobertas que um voo ao reino de Elizabeth II pode provocar Quantas mudanças acontecem no mundo? Qual vai ser a cara do futuro? Talvez nenhuma outra cidade ocidental responda melhor a essas questões do que Londres. A era digital reposiciona a capital britânica novamente como o centro financeiro e cultural do planeta. Ou seja, hoje tudo começa ou passa por Londres. A cidade que me conquistou aos 14 anos se mantém como um destino irresistível para quem gosta de multiculturalismos, novidades e experimentações. Por tudo isso e mais mil motivos, decidi voar com minha filhota Júlia, que faria 15 anos, direto ao aeroporto de Heathrow. (E esquecer que os brasileiros agora só falam em Paris, Paris, Paris...) Pois eu prefiro repetir London, London, London. Em tempos de intransigências culturais, é maravilhoso perceber que os ingleses ainda convivem com milhões de imigrantes, numa mistura de energias e nacionalidades que só existe por lá. Onde mais é possível ver mulheres de burka caminhando ao lado de um casal gay? Ou senhoras impecáveis de chapéu dividindo o mesmo parque com dançarinos rappers? Nos metrôs, turbantes indianos convivem com paletós de tweed, num turbilhão de estilos. God save the Queen.

A cidade que tem a maior área metropolitana da Europa surpreende a cada esquina. Nem vamos citar as atrações culturais, porque isso é um dado espantoso. Claro que bati muita perna por museus e galerias, mas meu faro apontava sempre para as intermináveis possibilidades gastronômicas. Observei, por exemplo, que se Nova York é um epicentro de tradições judaicas, Londres traduz reviravoltas islâmicas, hinduístas e orientais. Quantos restaurantes indianos, bengalis ou paquistaneses existem na cidade? Nem Shiva saberia dizer. O que comentar da seção de chás do Harrod’s, com centenas de opções de um único produto, ao lado de 2.458 geleias de todos os sabores e cores? Tudo isso sem gerar um ritmo ansioso, pois o comércio londrino não é “gritante” como o norte-americano. Existe um capitalismo elegante nas coisas.

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Difícil é fazer um roteiro com poucas indicações. Entre tantas descobertas e reencontros, comento abaixo cinco das minhas sugestões para quem viaja a Londres. O meu atual top-five. Mas não se esqueça de cumprir os roteiros essenciais e que farão você sentir por que aquela cidade é tão especial. Encare uma cerveja num pub, ataque um fish n’ chips, deite-se nos gramados do Hide Park, aproveite as barganhas da Oxford Street, circule pela noite de Shoreditch e tome um chá cercado por senhoras de cabelos azuis. (Não vejo a hora de voltar...)


ANDANÇAS

POR

LONDRES HAKKASAN www.hakkasan.com 8 Hanway Place. Tel. (020) 7927 7000 Com dois endereços (Mayfair e Hanway Street), um chinês ultrassofisticado: design interno de Christian Liaigre, bar com balcão de 16 metros, décor-décadence do período Ling Ling e menu com os melhores dim sum do planeta. THE QUILON www.quilon.co.uk 41 Buckingham Gate. Tel. (020) 7821 1899 O melhor da cozinha tâmil do sudoeste da Índia, em receitas aromáticas, inesperadas e distantes do clichê “indian style”. Pratos como o Mini Masala Dosa (panqueca de arroz e lentilha, recheio de batatas) ou Crab Cakes (bolinhos de caranguejo no vapor) combinam tradição e inovação.

BOB BOB RICARD

www.bobbobricard.com 1 Upper James Street. Tel. (020) 3145 1000. Como unir receitas inglesas, especialidades russas, vinhos e vodkas? Aqui está a prova. Cozinha dirigida pelo chef James Walker, traz ingredientes de pequenos produtores rurais, blinis de caviar, eglantines, salmões e carnes escocesas. Luxo!

MORO www.moro.co.uk

34/36, Exmouth Street. Tel. (020) 7833 8336 Um clássico da cozinha fusion. Ambiente clean, assoalho de madeira, mesas de pub… e iguarias mouras, espanholadas e inexplicáveis. O menu muda a cada mês, mas quem sabe você tem sorte de encontrar o salmão selvagem na brasa, com alcachofras e presunto?

THE MOUNT STREET DELI

www.themountstreetdeli.co.uk/ 100, Mount Street. Tel. (020) 7499-6843 Despretensioso, menu inteligente e atendimento perfeito. Pratos saudáveis, com novidades diárias (prezam produtos da estação, alimentos frescos e orgânicos, saladas, sopas, opções vegetarianas, peixes e carnes).

THE RIVER CAFÉ www.rivercafe.co.uk Thames Wharf, Rainville Road Tel. (020) 7386 4200 Será o meu favorito? Pode ser. Com 24 anos de idade, um ponto contemporâneo e criativo: cozinha de ingrediente, forno a lenha no salão, espaços claros e a vista do rio Tâmisa. Existe uma salada de caranguejo, tomates e ervas que nos leva ao céu. FOTOS: JULIA PERNAMBUCO

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Humanas criaturas TETÊ PACHECO

CRER OU NÃO CRER. NÃO É SÓ ESTA A QUESTÃO Depois de sobreviver com relativo sucesso ao período de perguntas e questionamentos a respeito de como nascem os bebês e pra onde vamos depois de morrer, chegou a hora de Deus. Claro, eu poderia aproveitar e dizer que é tudo mais ou menos a mesma pergunta: nascer, procriar, morrer. E ainda poderia terceirizar a questão dizendo que eu não tenho nada com isso, quem sabe é Deus. Mas com meus filhos esse formato enrolation não funciona. Eles querem saber. Falar a verdade, sem rodeios é uma alternativa, mas algumas ideias não são simples pra eles. Nem pra mim. No avião, um dia, meu filho menor pediu pra sentar na janelinha, afirmando que seria uma boa oportunidade para ver de perto onde Deus mora. Não tirou os olhos das nuvens. Achou um pouco entediante mas gostou que pelo menos na casa Dele o céu é sempre azul. Esse mesmo filho outro dia antes de dormir perguntou por que eu cantava. Eu disse que era pra chamar os anjinhos, força de expressão. Ele ficou um pouco em silêncio e depois perguntou quem eram, afinal, esses anjinhos que viriam dormir com ele. Meu outro filho, de 11, tem nome de santo: Bento. E já disse em uma ocasião que era judeu. Eu tentei explicar que não, pois para ser judeu era necessário que a mãe fosse. Ele se chateou bastante, na época. E olha que eu nem falei em circuncisão. Venho de uma família com viés católico. Meus pais não eram frequentadores da igreja, mas meus avós eram. Fui, como quase todas as pessoas que conheço, batizada. Fiz a primeira comunhão e tudo mais. Da Bíblia, só conheço passagens, o que considero uma falha, pois cada vez mais reconheço o seu valor literário e histórico. Frequentei aulas de budismo, admiro a transcendência dos vedas, frequentei centros de cabala, tenho o maior respeito por todas as culturas que comemoram anos-novos muitos anos antes dos nossos. Na nossa casa, meu marido vem de uma família protestestante. Tenho imagens de santos e também de Buda, Krishna, Ganesha. Cantarolo mantras e ensino o pai nosso, com a mesma naturalidade que os convido para assistir à missa de domingo no Mosteiro de São

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Bento. Está claro que não sou uma católica clássica, nem uma budista de ocasião. O que posso então ensinar aos meus filhos? Primeiro, que conheçam. Que não se fechem para nada. Que tenham curiosidade pelo mundo sem respostas rápidas. Que aprendam a falar com eles mesmos. Duvidar um pouco do caminho pronto, mas ser humilde o suficiente para saber andar por ele. E, para além dos simbolismos, que entendam que espiritualidade é tão importante quanto tudo que leem, estudam e conseguem apreender do mundo concreto. Acredito que terei feito um bom papel se conseguir que eles sejam interessados na fé. Não por meio de dogmas, ou práticas que não falam com o coração, mas respeitando e cultuando a força imensa que vem do lugar onde moram todas as coisas boas que sentimos e dedicamos uns aos outros. Por coisa boa, entenda-se, amor. Amor. Amor. E tudo que vem junto ou logo a seguir disso. Outro dia, meu filho, Bento, perguntou por que eu havia dado esse nome a ele. E eu disse que adorava essa pessoa. O São Bento. E contei como ele renunciou às riquezas de sua família romana, esteve mais perto do Oriente do que se costuma comentar e é provável que tenha encontrado sentido em coisas que ainda hoje estão além de nossas práticas. Nos mosteiros beneditinos, cultua-se o conhecimento, o trabalho, a música. Tudo que fortalece e liberta o espírito. A questão de educar crianças para o mundo de hoje é complicadíssima. Estamos mergulhados no concreto, no consumo do que é material, na satisfação imediata dos desejos. Como transcender para além dos jogos de videogame? Como ver graça e ser grato por uma boa companhia, um dia cheio de sol, um muito obrigado sincero? Só consigo pensar em dizer: sendo simples. Amando. E tendo fé de que tudo vai dar certo. Não porque alguém está cuidando disso, mas porque nós acreditamos. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA



Decor Casa

Arranjos


perfeitos Temos um bom motivo para fazer essa afirmação! É que estas espécies lindas e exóticas são super-resistentes e dispensam cuidados especiais – segredinho fundamental para quem deseja manter a casa sempre verde nos encontros de final de ano. Não estranhe se ao acaso esbarrar com um arranjo semelhante nos sofisticados hotéis de Paris... Plantas e flores assim nunca estiveram tão em alta. P O R

I R E N E

M A R C O N D E S

F O T O S

L E T I C I A

R E M I Ã O


Decor

DA TERRA AO MUSGO. A INSPIRAÇÃO BOTÂNICA PREDOMINA NESTA AMBIENTAÇÃO O VERDE IMPERA ABSOLUTO Praticamente todo mundo sabe que as plantas permanecem mais tempo bonitas e viçosas se comparadas com as flores. Essa verdade é ainda maior quando, no lugar de água, se coloca terra. Mas poucos arriscariam deixá-la à mostra em delicados cristais. A florista Zuca Feijó, com 20 de experiência e milhares de arranjos pelo caminho, não só o fez como ainda explorou a beleza das raízes. “Nesta ambientação predominam ares de botânica, bem natural, explorando espécies tão singelas como o musgo claro e o escuro”, conta. No centro da mesa desta sala de jantar repousam as cremeirinhas de cristal do acervo da casa onde as espécies foram plantadas. Mini-maçãzinhas colhidas ainda verdes do pé finalizam a composição idealizada pela florista. Ao fundo, sobre o aparador, um moderníssimo arranjo combina o amaranthus e as asclépsias, também plantadas na terra. “Estas folhagens verdes e rústicas seguem uma tendência monocromática, muito usada na Europa”, revela Zuca.

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Decor


ARRANJOS ARQUITETADOS COM FLORES AMARELAS PONTUAM A DECORAÇÃO MINIMALISTA A VEZ DA COR DO OURO E DA PROSPERIDADE O projeto deste apartamento, assinado pelo decorador gaúcho Ari Lyra, joga com a clássica combinação do preto e branco, sofisticadamente marcada pelo uso dos mármores. “Sempre achei que o amarelo entraria bem nesta proposta contemporânea e por isso lancei mão da flor callas, que tem uma tonalidade vibrante e remete à prosperidade – um bom simbolismo nos finais de ano”, revela Zuca. Na composição do arranjo, que se destaca sobre o aparador de mármore, a florista também usou a espécie cavalinha – muito parecida com uma haste de bambu. “O efeito é escultural e, acredite, este é o único vegetal remanescente da era dos dinossauros”, conta. Ela dá outra dica: pegue um ou mais cabinhos da flor escolhida e faça um novo arranjo explorando um estilo totalmente diferente. O resultado é sofisticado e complementa a ambientação. Aqui, a mesa de centro listrada ganhou um arranjo baixo que se fez valer da beleza desta flor amarela. “Quando a callas murchar, a dona da casa poderá fazer a troca por lírios ou astromélias, que também possuem cabo longo e são duráveis”, indica a florista.

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Decor


JARDIM GANHA TONS RUBIS COMBINADOS COM HASTES DE CANA-DE-AÇÚCAR O VERMELHO ANUNCIA A CHEGADA DAS FESTIVIDADES A tradicional feira de alimentos orgânicos da Redenção, em Porto Alegre, começa bem cedinho e oferece não apenas frutos como belíssimas flores e plantas. De lá vieram estes moranguinhos que arrematam a escultura balinesa. Entre uma barraca e outra, a florista Zuca Feijó também garimpou as hastes de cana-de-açúcar que enriquecem o repertório de arranjos dispostos no jardim. Do grande garrafão de vidro surgem os longilíneos amaranthus vermelhos. Desta vez, a transparência é propositadamente revelada para dar leveza à peça. “Imaginei uma ambientação voltada para recepções informais nos finais de tarde. Inspirei-me no ir e vir de amigos que nos visitam para desejar boas festas”, explica a florista. As velas belgas imprimem uma atmosfera ainda mais festiva. Protegidas por redomas de vidro, não correm o risco de se apagarem com o vento. “Uma ideia simples, mas que valoriza este momento do ano tão especial”, diz Zuca.

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RAMALHETES E PEQUENINOS VASOS TRANSFORMAM O ESPAÇO DA CHURRASQUEIRA AS DELICADEZAS ESTÃO POR TODA A PARTE Na cestinha de vime que adorna a mesa do jardim brota uma orquídea vermelha semelhante a um coral do fundo do mar. “Ela traz os prenúncios do verão”, destaca Zuca. Para que o contraste seja ainda maior, a florista escolheu uma muda de musgo verde-claro que divide espaço com a vela belga em tom rubi. No lugar, pode-se optar por trevinhos de quatro folhas ou o tostão – plantinhas muito usadas nos finais de ano. As escolhas sempre levam em conta o uso de espécies resistentes e que exijam poucos cuidados. Bons exemplos são os vasinhos de cerâmica com astromélias vermelhas e hastes de cana-de-açúcar. “O interessante é que a cana-de-açúcar envelhece com muita beleza – quanto mais seca, mais bela”, explica a florista. O mesmo se pode dizer do delicado ramalhete de pimentinhas que pende no frontão da churrasqueira. Uma boa sugestão é amarrar outros tipos de ervas aromáticas, como o alecrim, manjericão e tomilho. A profusão de aromas ficará no ar – notas bem convidativas para quem deseja promover deliciosos encontros de final de ano. 44

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Bom conselho POR

MALU

COELHO

O SABOR DO AMOR-PERFEITO

Minha primeira experiência com flores aconteceu quando eu tinha apenas 9 anos, em um momento inesquecível! Eu cursava as séries iniciais quando a professora trouxe um vaso de cerâmica marrom para a sala de aula e distribuiu a cada um de nós, seus alunos, sementes de amor-perfeito. Ficamos eletrizados com a história contada por ela, sobre esta florzinha: “O mito do amor para sempre”; uma poção que os bruxos ingleses faziam para ser colocada sobre os olhos de quem dormia. Quando essa pessoa acordava apaixonava-se pela primeira criatura que enxergava pela frente. Era conhecido como o elixir do amor perfeito. Todos nós com uma consciência ecológica infantil e, motivados pela bela história do amor perfeito, cultivamos nossas plantinhas, construindo na alma a ideia do amor à primeira vista, puro, sincero e romântico. Quando a minha flor desabrochou nas cores amarelo e roxo, a poção do amor tomou conta de mim naquele instante, desenhando o caminho para a profissão de bióloga. Mas meu amor pelas flores não parou por aí, foi disciplinado por estudos, pesquisas e cursos. Também, em um documentário sobre o uso de flores na alimentação, despertou meu interesse pela degustação. E assim experimentei em uma taça: sorvete de creme com mamão papaia, decorados com um lindo amor-perfeito. E, é claro, nas cores roxa e amarela. Nunca mais deixei de usar flores coloridas na culinária e na vida. E você? Já experimentou usar flores para enfeitar as delícias de sua culinária? Sim, porque as flores, além de servirem para alegrar seu jardim, vasos e arranjos da casa, podem muito bem se transformar no principal atrativo de uma receita. Mas, cuidado, as flores usadas como ingredientes devem ser comestíveis e cultivadas com adubo orgânico ou caseiro. A dica é usar o amor-perfeito para decorar sobremesas, já a flor capuchinha é apreciada em saladas, as rosas combinam com deliciosas geleias e a flor de abobrinhas pode ser frita acompanhada com uma massa igual à de panqueca. Esses detalhes de beleza e elegância que as flores nos passam provocam boas emoções e transmitem energias positivas para o olhar humano. A orquídea, por exemplo, constitui uma família de plantas superiores em luxo e exuberância de formas, decoram ambientes, são belas para presentear pessoas queridas e ainda possuem uma forte conotação sexual. Então, o que está esperando? O ritmo da recém-chegada primavera é o momento ideal de experimentar a renovação das cores na casa e na vida. Que tal provar novos sabores, usando flores em suas receitas, e trazer um pouco do amor e beleza da natureza para dentro da sua casa?

A PRIMAVERA É A ESTAÇÃO DO AMOR E DAS FLORES! MAS O PODER DE DEIXAR TUDO PERFEITO É TODO SEU! APROVEITE E ENAMORE-SE DESTA ESTAÇÃO TÃO FLORIDA E CHEIA DE ROMANTISMO.



Viagem

Vou-me embora para a

Normandia

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Estilo Zaffari


DESEMBARQUEI NA NORMANDIA SABENDO QUE ESTAVA CHEGANDO A UM LUGAR ESPECIAL, COM SUAS PAISAGENS BELÍSSIMAS, UMA HISTÓRIA VIBRANTE, UM TANTO DE MISTÉRIO, CHARME DE SOBRA, MILHARES DE SABORES E PESSOAS INTERESSANTÍSSIMAS. O QUE EU NÃO SABIA ERA QUE SERIA TÃO DIFÍCIL IR EMBORA DE LÁ E QUE, A PARTIR DAQUELA VIAGEM, A NORMANDIA SERIA A MINHA PASÁRGADA. P O R

M I L E N E

L E A L

F O T O S

C R I S

B E R G E R


Viagem

DE UM LADO E DE OUTRO DO PORTO, A TRANQUILIDADE DE BARNEVILLE-CARTERET


VÁRIOS E BELOS ÂNGULOS DO HÔTEL DES ISLES, NA BEIRA DA PRAIA DE BARNEVILLE-CARTERET

MAS VAMOS COMEÇAR DO COMEÇO...

Ao contrário das tropas aliadas na Segunda Guerra, o desembarque da nossa tropa de elite na Normandia foi tranquilo e absolutamente pacífico. A van que nos transportou de Paris até Barneville-Carteret chegou ao seu destino no início da madrugada, cercada de silêncio e iluminada por uma espetacular lua cheia. O mar estava ali diante de nós, mas sequer escutávamos os seus ruídos. Naquele período do ano (maio), os movimentos da maré fazem com que as águas se recolham metros e metros durante a noite. Entramos no hotel como quem adentra a casa da própria família durante a madrugada. Pé ante pé, carregando as malas com cuidado, cientes de que não podíamos perturbar a paz daquele lugar e o sono dos nossos colegas hóspedes. Éramos 5 mulheres e estávamos chegando em Barneville-Carteret para uma estada de apenas 5 dias. A missão? Apresentar aos leitores da Estilo Zaffari a região da Normandia e, em especial, esse pequeno vilarejo de nome duplo, um dos balneários mais procurados pelos

parisienses no período de verão. É, esses franceses definitivamente têm muito bom gosto. Nosso endereço em Barneville-Carteret foi o Hôtel des Isles, instalado em um encantador casarão de madeira à beira-mar, de frente para uma paisagem impecavelmente linda, bucólica, quase etérea, charmosa como só as praias francesas sabem ser. Pela manhã, além do assombro causado pelo cenário, ainda tivemos a alegria de encontrar Flavia de Mello, nossa amiga brasileira que, junto com o marido português José de Mello, “descobriu” há alguns anos esse pedaço incrível da Normandia e resolveu fixar residência por lá. Experientes no ramo de hotelaria, Flavia e José escolheram Barneville-Carteret para iniciar seus negócios no ramo, e então criaram dois empreendimentos que hoje são referência na região, o Hôtel des Isles e o Hôtel des Ormes. Flavia, que já foi personagem da seção Mulheres que Amamos aqui na Estilo Zaffari, é uma pessoa espetacular. Muito mais do que dona dos hotéis, ela é a grande dama da cidade, conhecida e querida por todos, cheia de ideias e de

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PREPARE-SE PARA ESQUECER A DIETA. COMER NA NORMANDIA É UM PROGRAMA IMPERDÍVEL O BISTRO LA SATROUILLE, EM CHERBOURG, É UM PEQUENO TEMPLO DE ALTA GASTRONOMIA. NA PÁGINA AO LADO, DETALHES DA IMPERDÍVEL MAISON DU BISCUIT

energia, incansável porta-voz das belezas do lugar que escolheu para morar. Foi ela que apresentou a Normandia à equipe da Estilo Zaffari, foi nossa guia, guru, abre-alas, hostess, mãe, motorista, embaixadora, tradutora... Não sei como teria sido essa viagem sem a Flavia, mas sei que conheci uma Normandia ainda mais incrível e inesquecível graças a presença dessa gaúcha.

PRIMEIRO DIA: COMER, COMER...

No primeiro dia, depois de um café da manhã delicioso no hotel, Flavia nos levou a uma cidade próxima a Barneville-Carteret, chamada Cherbourg, que funciona como uma espécie de capital desse pedaço da Normandia. Cherbourg é “cidade grande”, tem bons restaurantes, vida noturna, museus, grandes lojas, empresas. E é lá, em um pequenino ambiente junto ao porto, que fica o La Satrouille, bistrô escolhido por Flavia para o nosso primeiro almoço na Normandia. Nem é necessário dizer que tivemos uma refeição digna de rainhas. Sim, éramos então 6 mulheres, todas brasileiras, falantes, agitadas e encantadas com as iguarias servidas pelo chef Michel Bri-

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ens e sua equipe. E eles, acostumados a receber franceses de bom gosto, espertos, refinados, mas sempre contidos, ficaram um tanto surpresos com o nosso entusiasmo. Gastronomia francesa de altíssima qualidade foi o que comemos no La Satrouille, lugar que todo viajante da Normandia deve conhecer. No final, o chef Michel posou para fotos, mostrou detalhes do bistrô, abraçou a cada uma de nós, conheceu a revista Estilo Zaffari e demonstrou ter gostado muito da visita daquele grupo de mulheres hipercinéticas. Nosso dia prosseguiu com uma visita à Maison du Biscuit, loja de biscoitos, chás, especiarias, chocolates, objetos decorativos e mil maravilhas da culinária que fazem a perdição de qualquer viajante. Como transportar para casa tudo o que a gente tem vontade de comprar na Maison du Biscuit? Impossível. Então, nos contentamos com uma caixa de biscoitos cada uma, mais alguns itens de pequeno porte (potinhos de patê de foie gras, latinhas de chás especiais, vidrinhos de sais do himalaia...) e finalizamos a visita tomando chás deliciosos no salão da Maison. Flavia ainda nos brindou com uma passadinha no



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CENTENAS DE VARIEDADES DE QUEIJOS, FRAMBOESAS DOCINHAS E UM CESTO REPLETO DE LAGOSTAS AZUIS DA NORMANDIA, RECÉM-CAPTURADAS

MUITO SABOR: QUEIJOS FRANCESES, FRUTOS DO MAR FRESQUINHOS, FRUTAS LINDAS E DELICIOSAS Metro, hipermercado que os donos de restaurantes e hotéis da região usam para se abastecer de víveres e objetos do dia a dia. Nossa turma, acostumada a conviver com o universo da gastronomia, obviamente en-lou-que-ceu no supermercado. A seção de queijos e laticínios, instalada em um amplo ambiente refrigerado, foi a preferida. Agasalhadas com capotes amarelos que ficam à disposição dos clientes, passamos vários minutos admirando aquelas enormes prateleiras repletas de uma interminável variedade de queijos franceses. Nossa, eles realmente são os mestres da queijaria... O primeiro dia terminou com uma visita ao porto de Barneville-Carteret, com direito até a passeio em um barco de pesca. Conhecemos pessoalmente o Omar, espécie de lagosta azul típica da região, preparada com maestria nos restaurantes normandos. E assistimos de per-

to ao fenômeno da baixa e da alta da maré, que transforma diariamente a paisagem do balneário.

SEGUNDO DIA: MUNDO FANTÁSTICO

O dia 2 foi lindo. Saímos de manhã em direção ao Mont Saint Michel, segundo ponto turístico/monumento mais visitado da França (só perde para a Torre Eiffel). A jornalista aqui não sabia desse dado, mas depois de conhecer o Mont Saint Michel achei plenamente justificada a sua colocação no ranking. De queixo caído, foi assim que ficamos diante dessa abadia e cidadela medieval encravada no alto de um monte, cercada de água. Um cenário surpreendente, único, quase irreal. Ao longe, ainda dentro do carro, tivemos o primeiro vislumbre do Mont Saint Michel. Incrível. De perto, mais surpresa ainda. Santuário de peregrinação cristã desde o século X,

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SOB TODOS OS ÂNGULOS, O MONT SAINT MICHEL É MÁGICO E ENCANTADOR. AO LONGE, ELE TEM UM QUÊ DE SURREALISMO

MONT SAINT MICHEL, CENÁRIO TÍPICO DE FILME FANTÁSTICO, À LA “SENHOR DOS ANÉIS” 56

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o local tem uma atmosfera envolvente, que nem as hordas de turistas barulhentos conseguem dispersar. Me senti adentrando um mundo fantástico, como um personagem de O Senhor do Anéis, das Crônicas de Nárnia ou das Brumas de Avalon. Que viagem! Se o prezado leitor aceita um conselho, sugiro dedicar várias horas do dia a essa visita. A abadia em si merece bons momentos de contemplação, sem correria. Vá direto até lá e deixe pra percorrer mais tarde as ruelas do vilarejo. Na passagem, dê uma olhada nos restaurantes, bares, cafés e já escolha um deles para o almoço ou lanche da tarde. Chegando à abadia, que fica lá no alto, olhe bem para todos os lados. Explore os ambientes, entre nos salões, escute os sons do lugar, observe o vai e vem das freirinhas, repare nos bordados que a luz do sol produz nessas paredes milenares, seguindo os contornos das colunas, janelas e portas da edificação. A arquitetura do lugar é magnífica. A abadia é grande, há diversos ambientes a visitar. Bem lá em cima, no terraço, a vista é um



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É UMA DELÍCIA PERCORRER AS ESTREITAS RUAZINHAS E OBSERVAR A ARQUITETURA MEDIEVAL. NO MUSEU DIOR, OS JARDINS SÃO A MAIOR ATRAÇÃO

sublime espetáculo. Ao redor do Mont Saint Michel, devido ao efeito das marés, o terreno é pantanoso, às vezes bem alagado, às vezes nem tanto, tem porções de areia movediça aqui e ali, outras ilhazinhas próximas. Enfim, o perfeito cenário de O Senhor dos Anéis... No caminho para o Mont Saint Michel nós conhecemos a bela cidade de Granville, outra relíquia medieval da Normandia. Ver os barcos “atolados” na lama dentro do porto de Granville e algumas horas depois boiando graciosamente na água, sem que tenham mudado de lugar, é uma diversão. As marés, sempre elas, transformando a paisagem. É em Granville que fica o Museu Dior, instalado em uma mansão histórica à beira-mar. O museu vale a visita. Há belos trajes do estilista em exposição, e os jardins da casa são uma atração à parte. Lá fizemos um lanche bem francês, sentados de frente para o oceano: baguetes, queijos e vinho. Uma delícia.

CASARIO E RUELAS MEDIEVAIS, VISÃO RECORRENTE NA NORMANDIA Estilo Zaffari

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Viagem NA PEQUENA E BELA PRAIA DE CARTERET, AS SIMPÁTICAS CASINHAS-VESTIÁRIOS


O HÔTEL DES ORMES É PURO CHARME, EXCLUSIVIDADE, CONFORTO. E SEU RESTAURANTE LE RIVAGE É UM DOS MAIS PRESTIGIADOS DA REGIÃO. NA IMAGEM DO CANTO, O MILENAR MOINHO DE FARINHA, QUE ATÉ HOJE FUNCIONA COM PERFEIÇÃO

TERCEIRO DIA: PAZ E ROMANCE

Uma pausa nas pequenas viagens pelos arredores, agora é hora de conhecer Barneville-Carteret. Oba! A primeira parada foi na pequena praia de Carteret, com sua fileira de casinhas de madeira encarapitadas sobre as rochas. Pintadas de branco, com aberturas azuis, as simpáticas casinhas servem como vestiários particulares e depósitos de apetrechos de praia. Como estávamos fora de temporada, não havia banhistas na praia e as casinhas estavam todas fechadas. O mar era de um azul brilhante e, com a maré alta, batia nas rochas. O silêncio, a brisa marinha, um cão labrador dando pinotes na areia, o verde da vegetação que envolve a praia, o sol batendo forte... que lugar fantástico! Segundo Flavia, durante o verão essa é uma das praias mais badaladas do balneário, e tem até um bar bem famoso, instalado ali mesmo, na areia. Na volta, fizemos uma paradinha na marina, outro local absolutamente charmoso, e passeamos um pouco pelo centrinho de Carteret. Almoçamos no deck externo de uma creperia que costuma ser frequentada apenas pelos moradores da cidade, especialmente fora da temporada de praia. De certa forma, fomos a atração do almoço... cinco

estrangeiras, todas querendo explicações sobre o cardápio, não pedimos vinho para acompanhar a refeição (afinal, não se pode beber em serviço, e muito menos sob o olho inclemente do sol!), falávamos sem parar e ainda tiramos milhares de fotos. É, conseguimos chamar a atenção... Aproveitando que estávamos pelos arredores, fomos conhecer o Hôtel des Ormes, a “menina dos olhos” da nossa amiga Flavia de Mello. Pequeno e aconchegante, o Des Ormes tem apenas 14 quartos, cada um decorado de forma diferente. Com atmosfera de cottage e instalado bem diante da marina, o Des Ormes é mesmo uma belezinha. Desde os jardins até os detalhes que compõem cada um dos ambientes, tudo foi escolhido pela Flavia, cuja fama como decoradora já correu a Normandia afora. Bem ali perto fica a Maison des Ormes, loja que ela abriu não apenas para satisfazer o desejo de trabalhar com decoração de interiores, mas para atender aos inúmeros pedidos de franceses que querem repetir em casa o estilo dos hotéis da Madame de Mello. No Hôtel des Ormes, as cores suaves, os tecidos exclusivos, os lindos objetos, as louças especiais, tudo concorre para proporcionar aos hóspedes uma experiência única. É, sem dúvida, um hotel perfeito para o romance.

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Viagem

O BELO MONUMENTO INSTALADO NA BEIRA DA PRAIA DE OMAHA E VÁRIOS AMBIENTES DO CEMITÉRIO AMERICANO. O VISUAL DAS ALAMEDAS DE CRUZES BRANCAS É DE ARREPIAR

À noite, depois de outros passeios, retornamos ao Des Ormes para um jantar no Le Rivage, o prestigiado restaurante do hotel. Entre vinhos especialíssimos, pratos espetaculares e muitas risadas, tivemos uma noite memorável. Foi, sem dúvida, a melhor refeição da nossa viagem. Mais um ponto para a Flavia!

QUARTO DIA: EMOÇÃO

A ESTRANHA E EMOCIONANTE PAISAGEM DO CEMITÉRIO AMERICANO 62

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Depois dos idílicos passeios do dia anterior, esta manhã nos reservava uma surpresa bem diferente. A conselho da Madame de Mello, fomos conhecer Omaha Beach, uma das mais importantes praias do desembarque das tropas aliadas na Segunda Guerra. É lá que estão o Museu do Desembarque e o Cemitério Americano, onde foram enterrados os soldados mortos em combate. Devo registrar que visitar cemitérios não é muito o meu tipo de programa... Até hoje, por exemplo, não conheço o famoso Père Lachaise, de Paris. Mas ok, topei a missão. E tive uma das maiores surpresas da viagem. Instalado à beira-mar, em uma enorme área arborizada, o Cemitério Americano é de arrepiar até o mais duro dos mortais. Eu, pacifista de carteirinha e nada americanófila, desatei no choro percorrendo as alamedas compostas de cruzes e mais cruzes e mais cruzes bran-



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FESTIVAL DE GASTRONOMIA BRASILEIRA FLAVIA E JOSÉ DE MELLO PROMOVERAM, DURANTE O MÊS DE MAIO DE 2011, O 1º FESTIVAL DE GASTRONOMIA BRASILEIRA DE BARNEVILLE-CARTERET. O EVENTO FOI UM SUCESSO, E ATRAIU UM ENORME PÚBLICO DE FRANCESES PARA O HÔTEL DES ISLES, MESMO FORA DA TEMPORADA DE PRAIA. DIVERSOS CHEFS DO BRASIL FORAM CONVIDADOS A MOSTRAR SUAS ESPECIALIDADES: CARLA PERNAMBUAROMAS, SABORES, CORES,

CO (DO CARLOTA, DE SÃO PAULO),

ESPECIALIDADES, SURPRESAS. A

CACO ZANCHI (BRASILEIRO QUE ATUA

FEIRINHA DA CIDADE É PURA ALEGRIA!

NA BÉLGICA), FERNANDA MEDEIROS AZEVEDO (BANQUETEIRA DE PORTO

cas plantadas na grama. Preciso dizer: o lugar é muito bonito. Ponto para os americanos, que construíram um verdadeira memorial aos soldados mortos e, ao mesmo tempo, um espaço de reflexão. Impossível não se emocionar. Vi gente de todas as idades e todas as nacionalidades andando entre aquela série interminável de cruzes sem conseguir conter o pranto. Naquela manhã nós visitamos também o Museu – que vale pelo filme com cenas do desembarque e o relato do que aconteceu naqueles dias – e o belo monumento instalado na beira da praia de Omaha, cujas hastes metálicas homenageiam os mortos em combate e remetem a três ideais: esperança, liberdade, fraternidade. No retorno a Barneville-Carteret, nada melhor para aliviar a cabeça do que uma visita à aconchegante feirinha de rua da cidade. Colorida, cheirosa, movimentada, a feirinha é ponto de encontro dos habitantes e atração turística irresistível para os estrangeiros. Vende-se de tudo: carnes, queijos, bebidas, temperos, especiarias, hortaliças, frutas, comidas prontas, brinquedos, objetos decorativos, roupas, bolsas, flores. As ruelas do centro ficam tomadas de barracas, trailers e mesas instaladas pelos ambulantes, formando uma bagunça deliciosa que vai até o começo da tarde. Almoçamos por ali mesmo, no bar restaurante Le Noroit, que pertence a amigos da Flavia e do José. Mas não pense que foi um almocinho comum... Um gigantesco prato de ostras frescas, iguaria que os normandos preparam com ex-

ALEGRE), O BARMAM SOUZA (DO BAR VELOSO, DE SÃO PAULO) GUSTAVO CORRÊA PINTO (PROFESSOR DE GASTRONOMIA DE PORTO ALEGRE), O BARMAN PAULINHO BERTI (DA PIZZARIA SOL, DE GAROPABA), DENTRE OUTROS. A CADA SEMANA DO MÊS, UM MENU DIFERENTE PARA O JANTAR DO DES ISLES, QUE MANTEVE O SALÃO LOTADO DURANTE TODAS AS NOITES DO FESTIVAL. A TRADICIONAL FEIJOADA BRASILEIRA E AS CAIPIRINHAS ESPECIAIS PREPARADAS POR SOUZA E PAULINHO FORAM AS GRANDES VEDETES, MAS PRATOS MENOS AFAMADOS TAMBÉM TIVERAM A PLENA APROVAÇÃO DO PÚBLICO, COMPOSTO POR MORADORES DA CIDADE E DOS ARREDORES, ALÉM DE DIVERSOS PARISIENSES. FLAVIA E JOSÉ TÊM PLANOS DE TORNAR O FESTIVAL UM EVENTO FIXO DO CALENDÁRIO DE BARNEVILLE-CARTERET.


ACIMA, A TROPICALIDADE DE UM DOS AMBIENTES DO JARDIM CRIADO PELO PAISAGISTA GUILLAUME. O PÔR DO SOL VISTO DE CIMA DO FORTE E A FACHADA DO LE RIVAGE, NO HÔTEL DES ORMES

celência, foi o menu da refeição, oferecida pelos nossos queridos anfitriões. Com vinho branco francês geladinho para acompanhar. Almoçamos calmamente e dando muitas risadas, sentados na rua, sob um sol gostoso, observando o movimento do centrinho da linda Barneville-Carteret. À tarde, saímos de carro com a Flavia rumo ao Jardim Botânico do Castelo de Vauville. Lá chegando, mais uma surpresinha by Madame de Mello: nosso guia foi ninguém menos do que o criador do jardim, Guillaume Pellerin, uma espécie de Burle Max francês, paisagista, arquiteto e visionário. O jardim é um assombro. Combinando de forma inventiva plantas das mais diversas regiões do mundo, Guillaume criou inúmeros ambientes. Há espaços com atmosfera absolutamente tropical, outros que remetem às florestas europeias, há flores, árvores, folhagens de todos os tipos, delicadas e exuberantes, áreas superiluminadas e áreas sombrias, verdes claros, verdes densos, milhares de cores. Para coroar esse dia fabuloso, terminamos a visita tomando mais um delicioso vinho branco, na mesa do jardim privado do castelo de Guillaume e de sua esposa Cléophée de Turckheim, uma respeitada autora de livros de decoração, culinária e costumes normandos. E depois, como se

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tudo isso já não fosse demais, Guillaume ainda nos levou para conhecer um forte plantado pelos militares na beira da praia de Vauville, que hoje foi transformado em casa de aluguel para veraneio. No telhado do forte, assistimos ao pôr do sol.

QUINTO DIA: UM ROLÉ DE DESPEDIDA

O quinto dia foi um bônus. Não estava em nossos planos, e por isso mesmo aproveitamos cada segundo. Após um café da manhã majestoso e alegre no restaurante Le Rivage, do Hôtel des Ormes, saímos para percorrer mais um trecho do Cotentin. A primeira parada foi em Saint-Vaast-la-Hougue, cidadezinha portuária linda, famosa por seus criatórios de ostras e pela ilha Tatihou, sede de várias atrações como o forte Vauban, um museu marítimo e uma reserva natural de pássaros. Em Saint-Vaast fizemos uma incursão à Maison Gosselin, uma fantástica loja de especialidades culinárias, bebidas, papelaria e objetos especiais, fundada em 1889. Nos perdemos nos corredores da Gosselin. Mais uma vez, bateu a vontade de levar pra casa um pouco de tudo, uma amostrinha daquelas maravilhas.


NA DESPEDIDA, UM ALMOÇO PERFEITO NA LINDA CIDADE DE BARFLEUR. INESQUECÍVEL!


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O PORTO DE SAINT-VAAST-LA-HOUGUE E UM FLAGRANTE DELICIOSO DOS VENDEDORES AMBULANTES DE CARNES ASSADAS. O CHEIRINHO ERA TENTADOR...

NO ÚLTIMO DIA, PERCORREMOS VÁRIAS CIDADES PRÓXIMAS, COMO SAINT-VAAST-LA-HOUGUE Saímos de lá em direção a Barfleur, principal porto da Normandia na Idade Média. No caminho, diversas paradas para fotos, pois o lugar é bonito demais! Flavia havia reservado uma mesa para almoço no restaurante Café de France, que fica bem em frente ao porto. Nossa última refeição na Normandia foi maravilhosa. À mesa, a turminha de brasileiros e alguns amigos franceses, enormes pratos de mexilhões frescos, vinho, cerveja gelada e altíssimo astral. A sobremesa foi outro regalo: o legítimo crème brûllée, no ponto, perfeito, bem francesinho. Infelizmente, nossa estada no paraíso tinha hora pra terminar. De Barfleur fomos até Cherbourg, onde pegaríamos o trem que nos levaria a Paris. Passamos por diversos outros vilarejos e cidades lindas, por trechos de praia quase inexplorados, colinas verdejantes, paisagens únicas e belíssimas. A despedida foi uma tristeza. Mesmo com a perspectiva de passear alguns dias em Paris, dizer adeus à Normandia, à Flavia e aos intensos momentos vividos por lá não foi nada fácil. Quando subi os degraus do trem, fiz a mim mesma uma promessa: um dia vou fazer como a Flavia. Vou-me embora pra Normandia!

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NOSSAS DICAS PARA QUEM VAI À NORMANDIA: CIA. AÉREA SWISS. NOSSA EQUIPE VOOU NA NOVA CLASSE EXECUTIVA DA SWISS, UM VERDADEIRO CÉU PARA OS VIAJANTES. SERVIÇO IMPECÁVEL, CONFORTO ABSOLUTO E VÁRIAS OPÇÕES DE ENTRETENIMENTO. NOTA 10.

HOSPEDAGEM HÔTEL DES ISLES E HÔTEL DES ORMES, EM BARNEVILLE-CARTERET. FLAVIA E JOSÉ DE MELLO TRABALHAM COM HOTELARIA BOUTIQUE, OU SEJA, ATENÇÃO AOS MÍNIMOS DETALHES, EXCLUSIVIDADE, PERSONALIZAÇÃO DO ATENDIMENTO.

MELHOR ÉPOCA PARA QUEM GOSTA DE AGITO E DE CURTIR A PRAIA, VALE IR NO VERÃO (JULHO E AGOSTO). NÓS FOMOS EM MAIO E PEGAMOS UM CLIMA GOSTOSO, AMENO, COM LINDOS DIAS DE SOL. O INVERNO É BEM RIGOROSO.



Ser & Vestir ROBER TA GERHARDT

TIRE PROVEITO DAS CORES A vida é feita também de cores! Isso mesmo. Verão chegando e o guardaroupa pede um up grade. Então, viva a cor! Nesta temporada a moda clama por coloridos bem pontuais. Nada de timidez. O charme da vez é ousar mesmo e misturar tons fortes e vibrantes, sem medo de ser feliz, ok? Mas alto lá: a cor pode arruinar a melhor das intenções. Então, você precisa saber tirar o correto proveito delas. Como? Bem, primeiro de tudo: antes de sair vestindo qualquer peça colorida, pare um tantinho em frente ao espelho e avalie com honestidade o seu tipo físico. Todos nós temos sempre algo que merece ser ressaltado e algo que pode e deve ser disfarçado, certo? E as cores são excelentes neste servicinho. Então, depois que você identificou seu tipo físico, preste bem atenção na dica geral: as cores claras, iluminadas e quentes destacam; já as cores escuras, opacas e frias tendem à discrição. Assim, por exemplo: se você tem a indesejada barriguinha, nada de usar tons vermelho vivo nesta região, opte por um tom de azul escuro e num tecido sem brilho. Em compensação, se você tem o tronco magro, abuse de cores quentes como laranja e amarelo. A moda atual pede combinações inusitadas e corajosas. Siga-a abusando de até três tons de cores bem fortes no mesmo look. Então, você pode, por exemplo, vestir marinho com verde e roxo; optando pelo marinho sempre na região do corpo que merece ficar discreto. Mas se você quer arrojar deixando o look com uma personalidade mais forte, combine as cores fortes vibrantes das roupas com acessórios bem coloridos. Sim, isso mesmo, no estilo “tudo aqui e agora”! Elegância vibrante garantida!

dicas NESTA TEMPORADA AS BERMUDAS MASCULINAS ESTÃO NO COMPRIMENTO IDEAL, OU SEJA, ABAIXO DO JOELHO. E O CHARME FICA POR CONTA DA BARRA DOBRADA. AS DE ALFAIATARIA EM TECIDOS LEVES, COM OU SEM BOLSOS UTILITÁRIOS, SÃO UM TOQUE MODERNO PARA OS DIAS QUENTES, ACOMPANHANDO UMA BELA CAMISA; E NOS PÉS, VISTA TÊNIS, ESPADRILHAS OU SANDÁLIAS. SAPATOS DE CADARÇO ESTILO OXFORD OU BROGUE SÃO PERFEITOS PARA LOOKS COM MUITA COR. PARA MOMENTOS RELAX, A NOVIDADE (NEM TÃO NOVA ASSIM) É A FRIULANA. DA ITÁLIA, É UM SAPATO-CHINELO ECOLOGICAMENTE CORRETO: DE VELUDO, SOLA DE PNEU E A PARTE INTERNA DE JUTA.

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QUER ACOMPANHAR A MODA VIBRANTE SEM PERDER O SEU ESTILO CONSERVADOR? ENTÃO QUE TAL MANTER O DESIGN CLÁSSICO E ARROJAR NOS TONS FORTES NOS ACESSÓRIOS? QUANTO MAIS ARROJADA FOR A COR ESCOLHIDA, MENOR É A NECESSIDADE DE COMBINAR ENTRE SI. OK?


MÉLANGE DE TONS Você já sabe que o Brasil anda na moda há algum tempo e que as últimas temporadas internacionais apostaram forte em tudo o que lembra o chamado tropicalismo, certo? Mas a Europa, que é um importante e tradicional polo de tendências, acaba de sinalizar uma série de mudanças nas últimas fashions weeks para o seu verão 2012. Inspiração para a moda inverno aqui do Brasil? Certamente. Mas quem sabe você já adota algumas tendências ainda neste verão? No geral, o que se viu nas passarelas foram propostas bem comerciais, ou seja, nada muito exuberante ou de difícil adaptação. É uma moda bem alegre, pois a mélange de tons fortes permanece em tudo, principalmente nos acessórios. Cores? Saem os atuais amarelo e azul e entram com tudo o laranja e o roxo em sapatos, carteiras e bolsas – estas bem estruturadas e de tamanho médio. Para a noite, ao contrário da exuberância do dia, a sugestão é ser discreta em uma profusão de cores bem neutras – isto mesmo, o nude continua – em vestidos longos de rendas ou plissados e muita transparência – nada novo. A novidade mesmo fica por conta do decote do momento, que é o ombro só. Adorei! Porque essa assimetria valoriza a maioria dos tipos físicos. Há também novidades nas estampas. Saem o tropicalismo e seus animaizinhos e entram as estampas foulard. Isto mesmo: a grande tendência são as chamadas estampas-lenços. Camisas, blusas, saias, vestidos, tudo parecendo um grande lenço de seda adaptado. Para acompanhá-los? Acessórios de cores bem vibrantes para deixar o look bem alegre e sofisticado, como a moda pede. ROBERTA GERHARDT É CONSULTORA DE MODA E ESTILO E COMPORTAMENTO

dicas

AS PLUMAS E AS PENAS VÊM COM TUDO NESTA PRÓXIMA ESTAÇÃO, PRINCIPALMENTE NOS BORDADOS E NOS ACESSÓRIOS DOS TRAJE DE FESTA. APOSTE EM CLUTCHS DE PÍTON COM DETALHES DE PLUMAS. O CAP TOE É O SAPATO-TENDÊNCIA DO MOMENTO. CRIADO POR CHANEL NOS ANOS 50, ELE É UM ESCARPIN COM A PONTINHA DE OUTRA COR OU EM MATERIAL DIFERENTE DO RESTO DO CALÇADO, PARA CHAMAR A ATENÇÃO DA PONTA FECHADA, DIFERENTE DO PEEP TOE. É UM CLÁSSICO QUE VOLTA COM ARES RENOVADOS. OS ESCARPINS ESTÃO REALMENTE COM TUDO NESTA TEMPORADA E TUDO INDICA QUE PERMANECERÃO POR UM BOM TEMPO. O BRANCO É A COR PREFERIDA PARA ACOMPANHAR OS LOOKS DE CORES BEM EXUBERANTES QUE A MODA TANTO SUGERE.

rober tagerhardt@terra.com.br

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Casa

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ideias para

festejar

muito!

Quem gosta de festa, de reunir amigos e de chamar a família para jantares especiais simplesmente ADORA o final de ano. Afinal, essa é a época em que ninguém precisa inventar desculpas para promover eventos: já é praxe lotear o mês de dezembro com encontros, almoços, jantares, cafés da manhã, bailes, saraus, chás, cervejadas, degustações disso e daquilo... Vale qualquer tipo de comemoração, não importa o horário, o lugar ou o estilo. Pensando nisso, a Estilo Zaffari convidou uma especialista em festas, Fernanda Medeiros Azevedo, para criar três tipos bem diferentes de mesas, que os anfitriões de dezembro podem usar como inspiração para montar seus eventos caseiros. Nossa sugestão? Dê uma olhadinha, copie as ideias, pense nas melhores maneiras de usar os utensílios e objetos que você tem em casa e... BOAS FESTAS! P O R

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Jantar gourmet só para homens

O melhor acervo para compor uma festa pode estar dentro do armário de casa. Ainda mais quando os anfitriões desejam que o encontro tenha “a sua cara”. Fernanda Medeiros de Azevedo comprova a teoria em cada detalhe desta proposta masculina, criada como um encontro de confrades, para comemorar o final do ano com os melhores vinhos e charutos. O dono deste apartamento pode tirar partido de soluções caseiras, como o lindo tampo de madeira da mesa. “O que é bonito tem que ficar exposto. Além das madeiras com texturas, que agregam ao visual, as mesas em estilo Provence favorecem o uso de jogos americanos e sousplasts”ensina. A prática louça de cerâmica preta sobre o neutro jogo americano de linho ganha graça com as caçarolas francesas que, além de pontuar o visual com o moderno laranja do verão 2012, apresentam um imaginário escondidinho de carne seca – rápido e marcante, como os menus favoritos da ala masculina. Já os guardanapos em poá e xadrez são brincadeiras que Fernanda costuma fazer para não deixar o visual tão certinho. Para dar um toque floral, copos de cobre fazem o papel de vasos, em composição de Angélica Martins, do Ateliê das Flores. “Mesmo em casa eu não deixo de usar um verdinho sobre mesa. Mostra cuidado em receber”, afirma a mestra.

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Mesa repleta de preciosidades

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Sobre esta toalha rendada com mais de 60 anos, trazida de Veneza, Fernanda criou uma produção tradicional e romântica, mas temperada com tendências observadas por ela em feiras internacionais, como a Maison&Objet, de Paris. A mais interessante é a descoberta de novos usos para objetos comuns: pequenas taças de cristal com a boca virada para baixo viraram castiçais. “Tenho visto muito em minhas pesquisas o uso desses pontos de luz sobre a mesa. Ficam um charme”, destaca. Assim como nas joias, dourado e prateado também convivem em harmonia. “As pessoas quebraram essa resistência. Até porque grande parte dos acervos é de prata, e teríamos que deixar de lado peças lindas, como estes talheres banhados a ouro, por ter medo de não combinar”. As cores são reveladas de forma discreta, ora nos filetes verdes e desenhos dos pratos da louça inglesa, ora nas taças de cristal Baccarat, em tons de vermelho e rosa. Em prol da praticidade, a dona da casa já deixou definidos os lugares, devidamente anunciados pelos marcadores de lugar, feitos de madeira com pintura dourada.



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Festinha íntima: descontração e carinho

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O calor de dezembro inspirou o cardápio deste jantar, que tem como cenário o apartamento de um jovem casal. O menu de frutos do mar e saladas é anunciado de uma forma bem criativa: os nomes dos quitutes foram pintados pela artista plástica Clarissa Motta Nunes diretamente na louça branca. As cores do artista russo Kandinsky, com direito a livro no centro da mesa, inspiraram os matizes da decoração, como os lúdicos insetos de madeira, além da natural escolha pela panela francesa azul, um dos xodós da casa. A toalha de linho acinzentado pertence ao acervo de Fernanda de Azevedo, que pretende em breve lançar uma marca de roupa de mesa denominada Fio de Linha. A toalha ganhou o complemento dos guardanapos no mesmo tom, que foram arrumados com anéis de couro (retalhos cedidos pela dona da casa, que trabalha com essa matéria-prima). E para a alegria de Fernanda, o casal tem apego às louças de família. “Um dos pontos-chave dessa produção são as tulipas de cerveja, da avó dele, ao lado das Bicos de Jaca, da avó dela. Esse carinho por peças de família me encanta!”.

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Louca por mesas! Conversar com Fernanda Medeiros de Azevedo é como ouvir uma declaração de amor ao ato de receber e ao simples ritual diário de sentar-se à mesa. Os muitos anos de trabalho em eventos apenas sedimentaram uma lição caseira, saborosa como cafés da manhã em família. Foi do pai, Joaquim Azevedo, fundador da Confraria Bom Gourmet, que ela ouviu, há 30 anos, uma frase que hoje nos soa muito atual: “Daqui a alguns anos, a vida voltará para dentro da cozinha”. Que o digam os pilotos das gourmeterias que invadiram casas e apartamentos contemporâneos. “Lá em casa, era sagrado: podia ser feijão e arroz, mas sentávamos em torno da mesa com toda a cerimônia”, relembra. E é para este dia a dia que Fernanda tem voltado suas atenções. O recém-lançado blog Loucas por Mesas resume uma necessidade que ela própria tinha percebido em suas pesquisas: dispor de um espaço organizado, com o máximo de informações concentradas sobre o tema. As visitas a feiras internacionais, como o Salão Internacional do Móvel de Milão ou a Maison&Objet, de Paris, com certeza não sairão de sua rotina, mas o blog é inegavelmente o atual xodó, que deverá ocupar boa parte de seu tempo. Com este novo projeto, também se abre um novo conceito de trabalho. Fernanda quer ajudar as pessoas a descobrirem verdadeiras joias dentro das próprias casas, em objetos incríveis, que os anos parecem ter deixado tão comuns (ou empoeirados...). Mais do que isso, a guria nascida em Porto Alegre, mas que ainda lembra do sítio da família – e do fogão lenha, óbvio – com tanto carinho, quer passar a seus clientes a leveza descompromissada ao ato de ser um anfitrião.

FESTAS E MESAS DE TODOS OS TIPOS, CONCEITOS, JEITOS. PARA ELA, CELEBRAR É FUNDAMENTAL! 80

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Menu kids Orlando UM TOUR PELA GASTRONOMIA NO MUNDO ENCANTADO DA DIVERSÃO

Montanhas-russas, simuladores, castelos, filmes em 3D, shows de fogos, personagens ao vivo e a cores... sim, a fantasia na terra da magia é de enlouquecer. Em Orlando somos todos crianças com fome de entretenimento. O sonho parece real. A emoção está em todos os cantos para ser vivida intensamente. E põe intensamente nisso. São inúmeras atrações, shows e programações especiais. Enfim, a diversão é contagiante. Aliás, não estranhe se você começar a sorrir (ou chorar de emoção) com os detalhes mais simples do parque. Ok, mas e como fica a alimentação no país do P O R F O T O S

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hambúrguer e dos nuggets? E se a viagem incluir crianças pequenas a bordo? E se o seu filho só come o brasileirinho arroz com feijão? E se todos os molhos de tomate forem apimentados? Bem, para começo de conversa, férias são férias, ou seja, é preciso relaxar. Impossível ser 100% saudável em Orlando. Contudo, é possível comer se divertindo para valer. Entregue-se à batata frita e sorria para as câmeras. A família pode ter refeições memoráveis durante sua maratona Disney e até boas escapadas com feijão e arroz. Procure o seu “menu” favorito nesta matéria e bom apetite!

A L E X A N D R A

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Crianรงas


“CELEBRATE A DREAM COME TRUE” – PERSONAGENS PRINCIPAIS NO DESFILE DO MAGIC KINGDOM

ANTES DE MAIS NADA... ONDE SE HOSPEDAR?

A localização do seu hotel ou casa em Orlando pode influenciar, e muito, na alimentação da família. Quem se hospeda num hotel dentro da Disney estende a magia até o último instante da noite. Ganha também em comodidade, extra magic hours nos parques e transporte gratuito. Contudo, fica longe de bons supermercados e de restaurantes que normalmente agradam ao paladar dos brasileiros, limitando-se às comidas dos parques e dos hotéis do complexo, que inclusive são mais caras. Em contrapartida, hotéis ou condomínios fora da região dos parques não têm todo o encanto que o mundo Disney proporciona, mas contam com a liberdade de passar no supermercado e levar algo para preparar ou esquentar em casa (sim, muitos hotéis oferecem cozinha!). Trocando em miúdos, quer economizar e preparar a comida da família? Então siga em frente reservando um dos hotéis fora dos parques. Quer fantasia do início ao fim da sua estada a qualquer preço? Hospede-se dentro dos parques.

É POSSÍVEL COMER SE DIVERTINDO PARA VALER Estilo Zaffari

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Crianças Menu Kids1: REFEIÇÕES COM PERSONAGENS DA DISNEY CHEF MICKEY'S COM PATETA, MINNIE, DONALD E MICKEY Café da manhã e jantar Local: Contemporary Resort (próximo ao Magic Kingdom) CAPE MAY CAFÉ COM MICKEY, MINNIE, PATETA E CIA. Café da manhã e jantar Local: Beach Club Resort (BoardWalk Area) AKERSHUS ROYAL BANQUET COM PRINCESAS DISNEY Café da manhã, almoço e jantar Local: pavilhão Noruega no Epcot Center CINDERELLA'S ROYAL TABLE COM PRINCESAS DISNEY Café da manhã, almoço e jantar Local: castelo do Magic Kingdom CRYSTAL PALACE COM URSINHO PUFF E SUA TURMA Café da manhã, almoço e jantar Local: Magic Kingdom/Main Street MICKEY BACKYARD BARBECUE COM MICKEY E SEUS AMIGOS Piquenique americano com show (17h) Local: Fort Wilderness Resort 1900 PARK FARE COM ALICE, CINDERELA E OUTROS PERSONAGENS Café da manhã e jantar Local: Grand Floridian Resort (próximo ao Magic Kingdom) OHANA COM MICKEY, LILO, STITCH E PLUTO Café da manhã Local: Polynesian Resort (próximo ao Magic Kingdom)

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REFEIÇÕES COM PERSONAGENS

CELEBRATE! A palavra de ordem nos parques da Disney é celebre, comemore, de preferência hoje, agora. A motivação para celebrar tudo que se vive por lá é constante: está nos botons, nas letras das músicas, no espírito da equipe de colaboradores, nos shows de fogos e, claro, nas refeições com personagens. As Characters Meals – como são chamadas no site da Disney – são a cereja do bolo no quesito “menu kids Orlando”. Além de garantirem belas fotos e abraços nos protagonistas preferidos dos seus filhos, evitam filas de até 60 minutos dentro dos parques. Como certas refeições são concorridíssimas, o ideal é reservar alguns restaurantes com antecedência pela internet no site disneyworld.disney.go.com/reservations/dining. Entre as refeições mais populares estão: turma do Mickey no extraordinário Chef Mickey’s, princesas no Cinderella’s Royal Table ou no Akershus Royal Banquet e a turma do ursinho Puff no Crystal Palace. Para quem está interessado também no cardápio, o Crystal Palace tem um buffet self-service que agrada a toda a família: carnes, arroz branco, massas, verduras, frango e boas sobremesas. Ah, a dica certeira nas reservas pela internet é indicar uma data comemorativa, real ou fictícia. Você é agraciado com um tratamento especial, sem pagar um níquel a mais por isso. Pode estar certo, esse menu é um prato cheio de emoção.

OS PERSONAGENS PASSAM DE MESA EM MESA PARA ABRAÇOS E AUTÓGRAFOS



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CORAL REEF NO EPCOT CENTER. ABAIXO, CRYSTAL PALACE NO MAGIC KINGDOM

ADICIONE UMA CELEBRAÇÃO


Menu Kids 2: nos parques e hotéis do Disney World Resort Embora ainda impere o fast-food, o leque de opções gastronômicas cresceu muito em Orlando. A própria Disney, atenta às exigências de seus frequentadores, andou ampliando e qualificando consideravelmente os restaurantes inseridos no complexo Disney World Resort. Chefs americanos consagrados já assinam pratos na terra do Mickey. E mais: alguns restaurantes temáticos são tão fascinantes que divertem mais do que os próprios brinquedos dos parques. É o caso do T-REX e seu mundo de dinossauros no Downtown Disney, e do aquário gigante do Coral Reef no Epcot Center. A seguir, confira alguns destaques de comidinhas por parques e áreas. Ah, e prepare-se para colecionar giz de cera, pois em todos os restaurantes as crianças serão contempladas com um kit de pinturas e atividades.

MAGIC KINGDOM

Além das refeições com personagens no castelo da Cinderela e no buffet do Crystal Palace, o Magic Kingdom tem

inúmeras áreas de fast-food (ou quick service). A mais famosa entre os pitocos é a Pinocchio Village Haus, na infantil Fantasyland area. Outra boa pedida para quem tem pressa é o frango assado com batatas do Comics Ray’s Starlight Café, no Tomorrowland area. Quando a fome bater no meio da tarde, procure pelos pretzels quentinhos (pão com sal grosso) ou por um refrescante picolé no formato de Mickey, é claro. Em torno das 21 horas, ocorre o grande momento no Magic Kingdom. É o Wishes, aquele show de fogos em que a Sininho voa e muita gente se derrama em lágrimas. Nessa hora, uma multidão sem igual se reúne em frente ao castelo da Cinderela. Por conta disso, existem locais para fugir do tumulto em pontos gastronômicos estratégicos com vista para o espetáculo. São eles: Fireworks Dessert Party, no Tomorrowland Terrace (um terraço com buffet de sobremesas), o concorrido restaurante Ohana (no Polynesian Resort, hotel ao redor do Magic Kingdom) e o restaurante Califórnia Grill (no Contemporary Resort em frente Magic K.).

NAS SUAS RESERVAS NA INTERNET


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CANTINA MAMA MELROSE DO HOLLYWOOD STUDIOS. AO LADO, TENDA DA FAMOSA “TURKEY LEG” NO ANIMAL KINGDOM

CUIDADO COM O MOLHO DE TOMATE, ATÉ O SPAGHETTI DO MENU INFANTIL LEVA PIMENTA

EPCOT CENTER

O World Showcase contempla 11 países, cada um deles com a culinária “local”. É na Noruega que a Cinderela e sua trupe dão autógrafos no concorrido buffet do Akershus Royal Banquet. A qualidade dos pratos divide opiniões, mas a emoção é garantida. Para agradar a crianças famintas, a Itália é sempre um prato cheio com massas, pizzas e belos sorvetes. Tacos, nachos e margaritas podem ser encontrados na simpática praça ao ar livre do México. Um quiosque de vinhos em taças na França é um convite para um brinde no meio da tarde. Para comidinhas de pubs ingleses, procure o Rose & Crown Pub and Dining Room ou a pequena tenda ao lado que serve cerveja e um bom fish & chips (peixe com batatas fritas). Na Inglaterra você ainda pode acompanhar um bom cover dos Beatles à noite e contemplar o esplêndido show de luzes e fogos do parque, o IllumiNations. Por último, o ideal mesmo para os mais pitocos é o Coral Reef Restaurant, na área do Nemo (The Seas – fora dos pavilhões dos países). O ambiente é cercado por um espetacular e gigantesco aquário.

ANIMAL KINGDOM

O Animal Kingdom é o espaço temático dos animais, safáris, entre outras aventuras populares como It’s Thought to be a Bug e o belíssimo musical do Nemo. Na entrada você pode iniciar a experiência gastronômica entre as feras do Rainforest Café. Quem tem pressa pode devorar um quitute

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DICAS PARA OS BONS DE GARFO Para garantir a mesa em qualquer restaurante do complexo Disney (exceto os que servem apenas opções de fast-food), é imprescindível fazer reserva. Informe-se pelo tel.: (407) 9393463 ou pelo site disneyworld.disney.go.com/ reservations/dining Adicione uma celebração nas suas reservas na internet (add a celebration – aniversário, primeira visita, alguma conquista, etc.). O tratamento é ainda mais encantador. A opção add a celebration aparecerá na sua tela de computador somente após a confirmação da reserva online, que poderá ser cancelada até alguns dias antes. Embora seja proibido fazer piquenique nos parques, é permitido levar lanchinhos e guloseimas na bolsa. Mas atenção: nada de coolers e facas. Nas refeições com personagens, leve caderno de autógrafos e câmera fotográfica. Evite a hora do rush nos restaurantes dos parques: das 11 às 14h e das 17 às 19h. Praticamente todos os restaurantes em Orlando oferecem menu infantil.

da Idade da Pedra na zona do Dinoland: a imensa turkey leg, ou perna de peru defumada. O aroma e a fila dessas barraquinhas de peru estão espalhados por todos os parques da Disney. Quem procura algo mais elaborado pode seguir na direção do templo asiático do restaurante Yak & Yeti.

HOLLYWOOD STUDIOS

Luzes, câmera, ação! Afora a temática cinematográfica, o Hollywood Studios tem uma profusão de personagens da Pixar e um desfile à tarde com todos eles. É um dos parques mais tranquilos e agradáveis, com atrações imperdíveis como o Toystory Mania, Voyage of Little Mermaid, o teatro da Bela e a Fera e a montanha-russa do Aerosmith. Na hora da fome, as preferências entre a garotada acima dos 7 anos são os lanches americanos do Pizza Planet (inspirado no filme Toy Story) e do drive-in Sci-Fi Dine-In Theater – onde se come dentro dos carros vendo filmes. No Sunset Ranch Market, uma simpática praça de alimentação ao ar livre, é possível encontrar até frutas. Um dos melhores menus para os pimpolhos é o de uma cantina próxima à atração do Muppet Vison 3D, a Mama Melrose’s. Mas cuidado com o molho de tomate, até o spaghetti do menu infantil leva uma boa dose de pimenta.

DOWNTOWN DISNEY

Para quem se hospeda no hotéis do Walt Disney Resort, é possível fazer um pacote de alimentação – o Dining Plan –, espécie de plano que reduz em até 30% os gastos com comida dentro do complexo Disney. No Hollywood Studios aproveite o Fantasmatic Dinner Package. Funciona assim: você almoça ou janta no Hollywood & Wine, Brown Derby ou no italiano Mama Melrose's. Na saída, solicita assentos especiais – num setor reservado – para assistir ao show noturno do Hollywood Studios, o Fantasmatic. Sempre que possível, peça o molho de tomate separado da massa das crianças. Mesmo no menu infantil, o molho leva pimenta. As principais experiências gastronômicas da Disney são divididas em três categorias: signature restaurants (que levam assinatura de chefs), dinner shows (jantares com espetáculos inclusos) e character dining (refeições com personagens). Uma vez por ano (de setembro a novembro) acontece o Epcot International Food & Wine Festival – festival gastronômico no Epcot Center.

Se ainda sobrar fôlego para o final do dia, a Disney oferece uma área de lazer noturna com comidinhas e en-

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CENÁRIO JURÁSSICO DO T-REX E, AO LADO, CENÁRIO CINEMATOGRÁFICO DO BOARDWALK

tretenimento, o Downtown Disney. Programe-se, pois é por lá que estão o Circo de Soleil e lojas como Lego Store, World of Disney (a maior loja de artigos Disney do planeta) e a Bibbidi Bobbidi Boutique (um salão de beleza que transforma as lindas picorruchas em princesas). Embora conte com Fulton's Crab House, Rainforest Café (com filial também no Animal Kingdom) e Planet Hollywood, os locais de alimentação imperdíveis mesmo com crianças a bordo são os chocolates e sorvetes da Ghirardelli (não deixe de levar para casa as famosas barrinhas de chocolate ao leite recheadas com caramelo), e o cenário jurássico do T-Rex no Marketplace. Nesse restaurante, a comida não é necessariamente o carro-chefe, sim a diversão. Afinal, além da bicharada, você tem direto a playground contendo um sítio arqueológico. Enjoy it!

BOARDWALK

O BoardWalk é uma área espetacular de lazer, cercada por cinco bons hotéis que fazem parte do complexo Disney Resort. Todos os hotéis são excelentes, porém dois merecem destaque para quem viaja com os filhos e não dispensa uma pequena cozinha no quarto: o Beach Club Villas e o BoardWak Villas. A paisagem é um sonho. O

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local, que simula uma praia, com direito a calçadão de madeira, farol e espreguiçadeiras na areia, está localizado aos fundos do Epcot Center, com uma saída especial. Para completar o visual paradisíaco, tem algumas atrações gourmets imperdíveis: a BoardWalk Bakery – com pães e bolos fresquinhos todas as manhãs –, a cozinha mediterrânea e family-friendly do Kouzzina – da chef celebridade Cat Kora – e uma fogueira com marshmallows e recreacionistas em frente ao Beach Club Resort. Não deixe de provar o cinamonn cake (bolo de canela) e os muffins no formato de Mickey da tentadora BoardWalk Bakery.

Menu Kids 3:

O CITYWALK E OS PARQUES DA UNIVERSAL

Os dois parques da Universal são com certeza muito mais “adultos” dos que os da Disney. Na entrada para o Universal Studios e Island of Adventure os visitantes são obrigados a cruzar a pé pelo CityWalk e suas opções gastronômicas (é a versão Downtown Disney da Universal). Famosos entre o time masculino, os restaurantes esportivos NASCAR Sports Grille NBA City trazem decoração à parte no CityWalk. Contudo, em termos de boa


T-REX, O RESTAURANTE DOS DINOSSAUROS E A ÁREA PARADISÍACA DO BOARDWALK


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ENDEREÇOS SUPERMERCADO PUBLIX: 2925 International Dr SUPERMERCADO WHOLE FOODS: 8003 Turkey Lake Road OLIVE GARDEN: 8984 International Dr SWEET TOMATOES: 6877 South Kirkman Road IHOP: 6005, 7661 e 9990 International Dr TONY ROMA'S: 8560 International Dr BAHAMA BREEZE: 8849 International Drive RED LOBSTER: 3552, East Colonial Drive|5936 e 9892 International Dr CAMILA'S (brasileiro): 5458, International Dr VITTORIO'S (brasileiro): 5159 International Dr PÃO GOSTOSO: 5472, International Dr MIMI'S CAFÉ: 4175 Millenia Blvd. Mall at Millenia THE CHEESECAKE FACTORY: #148 - 4200 Conroy RD - Mall at Millenia MAGIC KINGDOM: 1180 Seven Seas Dr, Lake Buena Vista OHANA NO POLYNESIAN RESORT: 1600 Seven Seas Dr CALIFÓRNIA GRILL E CHEF'S MICKEY NO CONTEMPORARY RESORT: 4600 North World Dr

FORA DOS PARQUES TEM ATÉ FEIJÃO COM ARROZ

EPCOT CENTER: 200 Epcot Center Drive, Lake Buena Vista ANIMAL KINGDOM: North World Drive, Lake Buena Vista HOLLYWOOD STUDIOS: 351 South Studio Drive, Lake Buena Vista DOWNTOWN DISNEY: 1780 East Buena Vista Drive, Lake Buena Vista BEACH CLUB VILLAS DISNEY'S RESORT: 1800 Epcot Resorts Blvd, Lake Buena Vista BOARDWAK VILLAS DISNEY'S RESORT: 2101 N. Epcot Resorts Blvd, Lake Buena Vista BOARDWALK BAKERY E KOUZZINA: 2101 N Epcot Resorts Blvd, Disney's Boardwalk Inn, Lake Buena Vista. CITYWALK E PARQUES DA UNIVERSAL: Universal Boulevard


À ESQUERDA: WHOLE FOODS, PADARIA BRASILEIRA E RECANTO INFANTIL NA UNIVERSAL ISLAND. À DIREITA: LOJA DE DOCES NA ÁREA DO HARRY POTTER E MUFFIN DA BOARDWALK BAKERY

comida, ganha o Bubba Gump (inspirado no filme ganhador do Oscar, Forrest Gump) e seus pratos variados com frutos do mar. Atualmente, o Island of Adventure é o parque que faz mais sucesso da Universal. Tudo por conta das atrações do bruxinho Harry Potter na Vila de Hogsmead. As filas costumam ser homéricas, inclusive para entrar em lojas de souvenires como a de doces ou travessuras, a Honeydukes Sweetshop, ou, traduzindo, Dedos de Mel. Saindo do mundo encantado de Harry Potter, o Mythos no Lost Continent do Island of Adventure, com excelente custo-benefício, é frequentemente nomeado como um dos melhores restaurantes de parques de Orlando. Uma opção rápida e gostosa é o Thunder Falls Terrace (na zona do Jurassic Park do Island of Adventure), que oferece costelinhas de porco e frango assado na brasa e um bom milho doce na espiga. Por fim, a área que mais encanta os olhos dos pequenos turistas no Island of Adventure é a colorida e lúdica Seuss Landing com seus brinquedos infantis e os lanches do Circus Mc Gurkus Café. Leve as crianças até lá nem que seja para tomar um sorvete. É cinematográfico.

Menu Kids 4:

BOAS OPÇÕES DO LADO DE FORA DOS PARQUES

É fato: a alimentação é mais em conta e variada fora dos parques. Sem contar que você ainda conta com

supermercados como o Publix e o Whole Foods (com produtos e ilhas de comidas orgânicas). No que se refere a restaurantes e lanchinhos, uma das principais avenidas de Orlando, a International Drive tem fartas alternativas: Bahama Breeze, Olive Garden, Sweet Tomatoes, Tony Roma’s, Red Lobster, IHOP, entre outras tantas. É também nessas imediações que estão localizados dois restaurantes brasileiros: o Camila’s e o Vittorio’s. Ambos possuem decoração extremamente simples e telas de TV ligadas na Rede Globo. E mais: a garantia de um bom feijão com arroz, bife na chapa e tudo mais que faz a alegria dos famintos turistas brasileiros, inclusive o refrigerante guaraná. Ao lado do Camila’s há um supermercado com produtos brasileiros. Existe também uma padaria – a Pão Gostoso – que serve brigadeiro, pão de queijo, empada e, no café da manhã, um bom pão francês com presunto e queijo acompanhado de leite com Nescau. Como ninguém é de ferro, umas comprinhas sempre vêm bem. Nesse assunto, o Mall of Milenia não é o shopping mais completo ou barato da cidade, mas é, com certeza, o mais tranquilo e agradável. De quebra, oferece boas opções para as refeições, como o Mimi’s (que serve café da manhã até tarde da noite, entre outras delícias caseiras) e o queridinho entre os brasileiros, The Cheesecake Factory. Não vá embora sem degustar uma fatia do indescritível cheesecake sabor Godiva. É de comer ajoelhado, ou sorrindo e pulando, já que se trata da terra da diversão.

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O sabor e o saber FERNANDO LOKSCHIN

O MATE. NÃO HÁ SENHOR Um exemplo de identidade cultural permeando fronteiras é o gaúcho. As nacionalidades se repartem em argentina, uruguaia e brasileira e os idiomas em espanhol e português, mas o gaúcho compartilha a bombacha, o cavalo, o gado, o churrasco e o chimarrão. Curiosamente, para um personagem tão enraizado na terra, seu universo é bem estrangeiro: a bombacha é turca, a boina é basca, a vaca, a ovelha, o cavalo e o ‘cusco’ vieram da Europa. Até o verde na paisagem é forasteiro, o pasto importado substituiu o capim. No emblemático pago gaúcho, nativos só o ponche inca, a boleadeira índia, o churrasco, cujo sapecar da carne na brasa é charrua, e por fim e mais importante, o chimarrão. Os inventores do mate foram os guaranis, tribo que ao fugir da escravidão inca se espalhou do Amazonas até o Prata. Na zona entre Paraguai e Brasil encontram uma planta que chamaram de ca’á, ‘arbusto’, e descobriram seus segredos. O mate exige processamento, e todos os fundamentos de produção e consumo – cultivo, poda, colheita, secagem, pilagem e moenda – foram obra guarani. Quíchuas, caingangues, charruas, pampas e araucanos aprenderam com eles. A infusão da erva era sorvida por um osso ou taquara, às vezes filtrada na boca entre os dentes. Folhas também eram mascadas por horas para que os princípios ativos fossem liberados a temperatura da saliva. A palavra mate (quichua matty) definia antes a cuia onde é bebido. Já chimarrão vem do Esp. cimarrón, ‘xucro’, o gado desgarrado, tornado bravio em ‘cima’ dos montes. Um passado de proibição e uso clandestino da erva cunhou o termo. Para os caingangues, erva-mate era cangoin, ‘o que se engole’, base da palavra congonha, que descreve o gênero da planta e deu nome à cidade e ao aeroporto paulista.

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A América pré-colombiana tinha mais trocas comerciais do que imaginamos. Têxteis, animais, conchas e produtos agrícolas circulavam entre povos e regiões. Suplantando o cacau, a coca e o tabaco, a erva-mate foi a principal commodity da região, havendo registros de uso desde a Terra do Fogo até o México. Os conquistadores perceberam que folhas secas e pulverizadas de ca'á eram os pertences mais valorizados pelos índios. Sepp (1691) observou “selvages de la ribera del rio Uruguay” propondo negociar cavalos por “un poquito se yerba paraguaya, que no es outra cosa que las hojas secas de árbol molidas em polvo”. Logo os europeus valorizavam e consumiam a ca'á tanto quanto os índios. Nas lendas de origem, o mate é dádiva para alguém recuperar forças após um sacrifício meritório. Os guaranis diziam também que Caraí Zumé, um bem feitor mítico, tinha lhes legado o mate como presente de despedida. Para os jesuítas, Zumé seria ninguém menos que São Tomé, o apóstolo, um evangelizador pré-colombiano. A atribuição de paternidade a Tomé justificaria mudança dos religiosos, antes a ‘erva do diabo’ foi perseguida e depois cultivada nas missões guaranis – sua maior fonte de renda... Já que para germinar as sementes passam pelo intestino de pássaros, os jesuítas imitaram o processo merendando as crianças índias com sementes recobertas de mel para serem garimpadas nas fezes para plantio posterior. Saint-Hilaire fez o estudo botânico da erva-mate, que chamou de Ilex paraguariensis, durante estada numa fazenda vizinha a Curitiba em 1820. A erva-mate não é uma herbácea, é uma árvore – e frondosa, em estado natural (sem poda) cresce por 25 anos e chega a 15m altura. Se o quero-quero é a ave, a erva-mate é a árvore oficial do Rio Grande do Sul. O ramo de erva (junto ao de fumo!) do estandarte das tropas farroupilhas passou para


E CRIADO o brasão do estado. Durante sua estada na Argentina, Darwin (1832) registrou que “cansado e com caimbras... pela dura cavalgada e uma escalada mais dura ainda” relaxou ao “tomar vários mates” enfatizando “nunca dormi mais profundamente”. O que nos atrai no mate são seus alcaloides (‘mateína’) gêmeos aos do café, do chá e da coca, que excitam o corpo, ativam a mente, matam a sede e aplacam a fome. O mate melhora o gosto da água salobra e aumenta a potabilidade pelo aquecimento. Os cronistas do séc. XVI diziam que um efeito antirressaca – tão própria dos vinhos do local e época – contribuiu para que o mate conquistasse os conquistadores. Baget descrevia o pampa gaúcho em 1865: “A primeira bebida que lhe oferecem é o mate, o chá da região. Eis como é preparado: enche-se uma cuia na qual se põe água fervente e às vezes açúcar, sendo esta bebida muito amarga; você a aspira por meio de um tubo de prata, em cuja extremidade há uma cavidade com furos. É poderoso tônico e não menos poderoso nutriente...”. Registrou também “nada mais cômico” que “um noviço tomar o chá do Paraguai... se o líquido for aspirado com precipitação, vai devolvê-lo com mais precipitação junto de caretas e contorções”. O alemão Lallemant percebeu a transcendência do rito (1858): “... tem-se na boca o símbolo da paz, da concórdia, do entendimento – o mate! Todos os presentes tomaram o mate. Não se creia que cada um tivesse sua bomba e sua cuia própria; nada disso! Assim perderia o mate toda a sua mística significação. Acontece com a cuia de mate como à tabaqueira. Esta anda de nariz em nariz e aquela de boca em boca. Primeiro sorveu um pouco um velho capitão. Depois um jovem, um pardo decente – o nome de mulato não se deve escrever –, depois

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O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N

eu, depois o ‘spahi’, depois um mestiço de índio e afinal um português, todos pela ordem.” O forasteiro se espantava que a roda do mate integrasse diferentes classes sociais e obedecesse à ordem de posição, não de hierarquia. “Não há senhor e criado” e sim “fraternidade verdadeiramente nobre e espiritualizada”. Símbolo da hospitalidade, de ‘aquerenciamento’, diz o verso de Glaucus Saraiva: “E a cuia seio moreno / que passa de mão em mão / traduz no meu chimarrão / em sua simplicidade / a velha hospitalidade / da gente do meu rincão”. Conquista pacífica, há relatos de italianos, alemães e judeus tomando mate antes de falar o idioma. Espécie de rito batismal criolo, oferecer o mate é acolher, aceitar é tornar-se par, recusar é excluir-se. Há uma liturgia de uso. O primeiro mate é bebido em frente ao grupo por quem o prepara – antiga prevenção contra envenenamentos. Entregue e recebido com a mão direita, a roda se inicia com o mais velho ou o visitante e corre tal o ponteiro do relógio, sempre sorvido até o roncar da bomba. Só o cevador manipula a bomba. Nunca se pede um mate; quem chega à roda, se posta à direita de quem tem a cuia na mão, espera sua vez, e é o último a recebê-la. Ato que culminou na maior guerra do continente, o fechamento das fronteiras pelo Paraguai, em 1840, fez com que o cultivo do mate se iniciasse na vizinhança brasileira, então a quinta comarca de São Paulo, desenvolvendo a região que acabou por se transformar no estado do Paraná (1853), onde a erva mate chegou a representar 85% da economia. Na casa argentina a erva-mate aparece tanto como a carne, o leite e o pão. No Uruguai, principal consumidor mundial – 10kg de erva por pessoa ano –, 85% dos adultos tomam chimarrão diariamente. As rações militares uruguaias e argentinas, inclusive a dos navios de guerra, preveem cotas diárias de erva. Na seleção uruguaia de futebol, campeã da Copa América de 2011, o mate estava tão presente como a bola. Houve até a insinuação de ‘doping lícito’, mas para o médico da equipe, o efeito

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energético desaparece com o uso, o efeito agregador é que seria o importante. Há diferenças regionais no hábito. Nos países do prata as cuias tendem a ser menores, a erva mas amarga e, com frequência, o beber é individual. No Paraguai e Mato Grosso, o mate é servido frio, inclusive com gelo e limão, e chamado de tereré. O costume teria nascido na guerra do Chaco entre o Paraguai e Bolívia (1932) – os soldados eram proibidos de acender fogueiras para não trair suas posições. Reflexo das idas e vindas de árabes na Argentina e Brasil, o mate chegou ao Oriente Médio. A Síria só perde para o Uruguai como o maior importador de erva mate do Brasil. No Líbano, o mate é sério rival do chá e café, forma usual de acolher um visitante. Na região sul o mate tornou-se linguagem. Gardel cantou em tango o máximo do infortúnio “quando não tens nem fé / nem a erva de ontem secando ao sol”. ‘Erva’ é sinônimo de dinheiro, legado do tempo em que ‘o ouro verde’ tinha grande valor de troca. ‘Toma mais um mate’ é fica mais um pouco e ‘mate para o estribo’ precede a saída. O ‘mate de preso’ tem pouca erva e o ‘de velório’ é volumoso, a roda é grande. ‘Mate do João Cardoso’, conto de Simões Lopes, é o que nunca chega e ‘mate lavado’ descreve o amuado. O pialador (laçador) de mate, grande ofensa, é o oportunista que quebra a ordem da roda. Servir o mate frio ou com a bomba para trás diz o desprezo. ‘Soprar a bomba’ define o tolo que faz o oposto do que deve, e é divertida (e trágica...) a expressão ‘aquecer a água para que o outro tome o mate’, como na quadrinha: o amor da mulher / é vermelho como o tomate / se um aquece a água / o outro é que toma o mate. O texto para agora já está longo como mate de velório, fraco como o de preso e suas versões vêm se sucedendo tal mate lavado, a seguinte sempre pior do que a anterior... FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br



Equilíbrio CHERRINE

CARDOSO

VOCÊ É AQUILO QUE VOCÊ COME! 100

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Descobri recentemente que essa frase, usada no título desta coluna, virou até nome de programa de televisão. Acredito que isso seja o reflexo de uma preocupação muito maior da humanidade em relação à saúde. Tanto que mais e mais programas alertam para o cuidado que se deve ter com aquilo que se come e como o alimento é um reflexo de inúmeras coisas em nosso corpo e organismo. Nós somos aquilo que comemos, mas também somos aquilo que sentimos, aquilo que pensamos, em outras palavras, nosso corpo físico é um reflexo de como cuidamos e alimentamos esses corpos mais sutis que possuímos. Cuidar do alimento que fornecemos a cada um deles representará não só um aumento de saúde como também um prolongamento de vida ao seu corpo. Algo que certamente só será possível se nos auto-observarmos com cuidado e consciência. Não é só nos EUA que há um alerta iminente sobre a obesidade mórbida, que tem afetado boa parte da população, e pior, as crianças. O estar fora do peso é apenas um dos inúmeros problemas causados por uma má alimentação.


Boa parte das patologias clínicas de que se tem notícia na medicina é fruto da falta de conhecimento acerca do que se coloca no prato. Na maior parte das vezes não sabemos nada sobre o alimento que estamos comendo. Não temos ciência das informações nutricionais, procedência, real validade. Acreditamos naquilo que nos vendem. Optei por uma alimentação biológica há mais de sete anos. No início me perguntavam muito o que é que eu comia, uma vez que no meu prato não havia mais espaço para alimentos nocivos e tóxicos, como a carne, por exemplo. Minha resposta sempre foi a mesma: eu como de tudo! E eu como mesmo. Na verdade, eu não comia antes, pois vivia da praticidade que era ter como mistura algum tipo de carne com o arroz e o feijão. Quando optei por mudar minha dieta alimentar redescobri um novo paladar. Descobri novos gostos, novas opções, novas cores, novos sabores. É realmente fascinante o que se pode inventar com a quantidade de alimentos naturais que existem à nossa volta. Recentemente participei de uma palestra, dada pelo Prof. Rogério Brant*, de Curitiba, na qual ele nos apresentou uma planilha que usava para saber se seu prato diário estaria balanceado com tudo aquilo que de nosso corpo necessita de nutrientes, proteínas e aminoácidos. Mesmo eu nunca tendo me preocupado com isso, se teria ou não a quantidade necessária, foi bom saber que tudo aquilo que de nosso corpo necessita para se manter saudável e ativo existe em todos os alimentos que vêm da terra. Ele dizia que se no nosso prato houver o componente completo de uma árvore, estaremos bem saciados e nutridos. Por exemplo, um prato com grãos, com raiz, com caule, com folhas, com frutos, e bem colorido. Parece difícil de imaginar? Mas pense assim: o que seria uma raiz? Gengibre é raiz? Cenoura, beterraba são raízes? Legal. E se você combinar esses ingredientes com palmito? Palmito pode ser parte de um caule, certo? Se junto a ele você também incluir couve? Ou espinafre, rúcula? Teremos então as folhas! E se acrescentarmos brócolis ou couve-flor, alcaparras, aspargos, podem ser as flores? Os grãos podem ser o arroz, a lentilha, o grão de bico, o milho, a ervilha? Enfim, e nessa mistura toda, é necessário que esses alimentos estejam crus e sem tempero? Ou sem molho, ou sem gratinar, ou sem cozinhar?

É claro que não! Você pode preparar cada um deles de uma forma diferente, surpreender-se a si mesmo com as inúmeras possibilidades de combinações e maneiras de enriquecer seu prato. Uma outra curiosidade (que atualmente já nem é tanta surpresa devido aos inúmeros estudos dos quais já estamos mais cientes) é que o alimento que você ingere também representa a possibilidade de cuidado na cura ou até mesmo na prevenção de doenças como o câncer. Recentemente o médico estadunidense David Servan Schreiber apresentou um estudo sobre a cura do câncer por meio da mudança alimentar. Após ter descoberto em si mesmo um câncer no cérebro, resolveu mudar totalmente sua postura e comportamento no dia a dia, começando pela alimentação. Segundo ele, com tudo o que comemos, normalmente três vezes por dia, podemos modificar nossa fisiologia. Podemos incluir alimentos que através de sua própria química combatem o câncer. E ele enfatiza ainda a importância da redução da carne ou até mesmo o ato de eliminá-la do prato. Que além de tornar o menu mais econômico, o tornará muito mais eficaz no combate contra as células cancerígenas. E diz que a luta contra o câncer começa na cozinha. Ao se preocupar com aquilo que você come, uma vez que você será o reflexo disso, você se preocupa também em como manter a saúde de todo o seu organismo. E esse reflexo se torna ainda mais efetivo quando você vê nitidamente as mudanças no seu cheiro, na sua pele, no seu cabelo, no seu brilho, na sua digestão, na sua excreção, na sua sensibilidade, nos seus dentes, na sua disposição e na sua energia. Se deseja ser uma pessoa ainda mais saudável, cuide agora de como você monta seu prato. A mudança de paradigma às vezes é lenta, mas sem dúvida se tornará muito efetiva em seu corpo e ele durará por muito mais tempo, saudável e com você feliz.

NASCIDA EM SÃO PAULO, CHERRINE CARDOSO É FORMADA EM JORNALISMO PELA UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI. FEZ ESPECIALIZAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA E EM MARKETING. HOJE É DIRETORA DE UMA DAS ESCOLAS DA REDE DEROSE EM PORTO ALEGRE. NA UNIDADE MONT'SERRAT ELA DIFUNDE, POR MEIO DE UMA PROPOSTA DE LIFE STYLE COACHING, UM JEITO DIFERENTE DE SE CUIDAR E DE VIVER. WWW.DEROSEPORTOALEGRE.COM.BR

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mulheres que amamos

O NOME MULHERES QUE AMAMOS NÓS ROUBAMOS DA REVISTA PLAYBOY. NESTA EDIÇÃO APRESENTAMOS 3 MULHERES QUE TRABALHAM COM CRIAÇÃO, 3 TALENTOSAS ESTILISTAS QUE, AINDA POR CIMA, SÃO LINDAS! CONHEÇA GREICE ANTES, PETULA SIVEIRA E AMANDA PY, NOSSAS AMADAS DE NOVEMBRO! E REPARE: PETULA E AMANDA, AS PP, ESCREVERAM SOBRE GREICE ANTES; GREICE ESCREVEU SOBRE AS PP. ELAS SABEM TUDO DE MODA, MAS TAMBÉM TRABALHAM DIVINAMENTE COM AS PALAVRAS.

PP DE IMENSO TALENTO É difícil escrever quando não se tem o dom da escrita. Então eu não vou pensar na escrita. Vou escrever o afeto. Assim tudo flui melhor . Afeto começa com empatia. Eu conheci a Petula quando resolvi fazer sapatos na minha primeira coleção. No primeiro encontro já tomamos chá como comadres que se visitam sem avisar (o que, vamos combinar , está cada vez mais raro nesses nossos tempos). O encontro dura até hoje e a amizade só aumentou. É que a Petula, além de profissional talentosa, tem nos olhos o sorriso daqueles que têm o dom de cativar, distribuindo lindezas de alma. E como afeição é sentimento generoso, que divide multiplicando, a Petula me apresentou a Amanda, pessoa doce feito macaron, de jeitos suaves, recheada de afagos e saber. A Amanda tem fala mansa de mel e, assim como a Petula, talento de sobra. Da mistura de criatividade e amor pelo que se faz nasceu a PP, marca de acessórios. Dizem que o nome vem das iniciais Petula e Py e porque elas são pequeninas. Pra mim, de tamanho P elas pouco têm. O sorriso é largo, o abraço é grande, o talento é imenso. E a PP tem um importante diferencial: além de irresistíveis, os acessórios são produzidos com o couro que sobra da indústria calçadista. Elas trabalham com o couro cru, na sua forma mais pura. Pra mim é puro afeto. Que elas demonstram uma pela outra, nas peças sedutoras que criam, no carinho pelo mundo reciclando materiais, e em cada mulher que se sente bela com um acessório-desejo da PP. Eu admiro a Amanda e a Petula: com inventividade e aptidão, fazem tudo tão lindo que parecem trabalhar com margaridas na ponta das mãos. Eu continuo visitando sem avisar. E me faz um bem danado, daqueles que aquecem o coração mesmo no verão, encontrar chá, PP e afeto ao entrar. POR GREICE ANTES, ESTILISTA

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mulheres que amamos

GREICE, A MULHER QUE A GENTE AMA Quando ficamos sabendo que iríamos escrever sobre a Greice, deu um frio na barriga. A Greice é daquelas mulheres no primeiro olhar já admiramos, de uma perfeição daquelas que descrever é limitar. A gente vai tentar... Elegantíssima, voz suave, linda, loira, alta e magra. Engraçada, perspicaz, rápida nos pensamentos e nas conclusões. Do alto dos nossos um metro e cinquenta e poucos de altura, essa imagem é impressionante. Quanto mais se conhece a Greice, mais cresce o encantamento. Também, como não admirar essa delicadeza em forma de mulher, mulher sem limites... É uma dinda megadedicada, amiga fiel, estilista de essência, empresária incansável. Esposa cuidadosa. Greice é aquela mulher que a gente tenta e quer ser. Greice Antes é marca, e sua marca carrega todos os elogios aqui rasgados. Sua elegância é notável em forma de modelagem em cada peça. Cada coleção conta uma linda história com voz em tom baixo e cheia de suspiros. Cada novidade enche olhos e corações de cultura e curiosidade. É a alma da Greice que está estampada em vestidos e camisetas. A Greice é dessas mulheres que a gente quer ter por perto. É espelho, modelo e referência. Decidida e delicada. Linda até desmontada. Tem como não amar? POR PETULA SILVEIRA E AMANDA PY, ESTILISTAS

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Palavra

LUÍS AUGUSTO FISCHER

A CANÇÃO ENQUANTO FOFOCA Neste ano completaram-se cem anos do nascimento de José de Assis Valente, baiano, de profissão regular um competente protético, mas de alma um notável cancionista. Assinando Assis Valente, deu ao mundo pérolas que todo mundo canta até hoje. Duvida? Então me diz quem é que, no Brasil, ignora aquela marchinha natalina que diz assim: “Anoiteceu, / o sino gemeu, / a gente ficou / feliz a rezar. / Papai Noel, / vê se você tem / a felicidade / pra você me dar”. A segunda parte é musicalmente alegre, mas terrivelmente melancólica nos versos: “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel...” Os mais chegados ao legado do samba vão lembrar pelo menos mais dois casos: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí / Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati. / Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão / e sorria quando o povo dizia, Sossega, leão, sossega, leão”. E o outro: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”. Lembrou? Eu logo vi: o prezado leitor é como eu, gosta dessa impressionante riqueza artística que veio sendo constituída ao longo de várias gerações e que conta com casos maiúsculos como o de Assis Valente. Poderíamos parar por aqui e ir, imediatamente, em busca de gravações dessas maravilhas. Mas vale a pena adensar um pouco mais essa evocação do grande compositor, lembrando, por exemplo, que são dele alguns dos hits que consagraram ninguém menos que Carmen Miranda, para quem, aliás, ele compôs diretamente, concebendo os versos e melodias já na suposição de que a voz e o corpo de Carmen dariam vida eterna a sua obra. Camisa listrada foi um dos casos, assim como E o mundo não se acabou. Esta, aliás, é uma das canções em que aparece um traço forte dos sambas de Assis Valente: a fofoca. Pode olhar o começo: “Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar”, diz a personagem da canção, que explica com esse anúncio sua decisão de aproveitar a vida,

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de meter o pé na jaca, namorar quem aparecesse, deixarse fotografar em trajes informais, etc. Em outro samba, Uva de caminhão, também sucesso na voz de Carmen Miranda, ouvimos a seguinte abertura: “Já me disseram que você andou pintando o sete” – outra fofoca. Aliás, em Camisa listrada já se ouvia uma previsão com alma de fofoca: “Se ele pega minhas coisas vai dar o que falar”. Em Recenseamento, tema bem estranho para uma canção, uma personagem feminina relata que “o agente recenseador” esmiuçou a sua vida, “que foi um horror”: quis saber de tudo, se ela era casada ou apenas ajuntada, se a criança era legítima, se o companheiro “era do batente ou era da folia”. Em Deixa isso pra lá, os versos aconselham Guiomar a esquercer as intrigas: “essa gente só gosta de falar, / essa gente não tem coração”. Conhecendo a vida do autor, fica-se tentado a pensar nessas letras como autobiográficas: Assis Valente padeceu sofrimentos consideráveis, que o levaram a tentar o suicídio três vezes, primeiro jogando-se do alto do Corcovado (seu corpo enroscou na vegetação e ele foi salvo), depois cortando os pulsos (foi socorrido) e finalmente bebendo guaraná com formicida, em 1958, ponto final de sua vida. Por quê? Mistério. Há quem diga que, apesar de casado e pai de uma filha, o grande cancionista era um insatisfeito com sua identidade sexual; concretamente, sabe-se que tinha dívidas. O misto de alegria e tristeza de suas composições expressa algo dessa tensão, algo que vivia na sombra, sujeito à falação. Motivo suficiente para seu triste desfecho? Seja como tiver sido, cá estamos nós na excelente condição de seus ouvintes. Diz aí, Assis!

LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR




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