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APLAUSOS – José Eduardo Martins
José Eduardo Severo Martins
Mais do que um gestor de negócios, um incentivador de pessoas!
Para os conhecidos, o Martins. E há muitos conhecidos! Afinal, seu legado, principalmente no segmento editorial, é admirado por muitos profissionais.
O executivo que trilhou pelos mercados de trator, salgadinhos e publicações deixou a presidência da Panini Brasil após 28 anos dedicados à companhia e tornou-se consultor do grupo. “Parado não vou ficar!”, afirmou durante a entrevista em que contou detalhes de sua brilhante história profissional.
Vamos do início? Você se formou pela Getúlio Vargas em 1974…
Exato. Naquela época eu trabalhava no Banco Itaú de Investimentos como analista financeiro, e por aqui, depois de me formar em Administração de Empresas pela FGV, não havia grandes possibilidades de especialização na área. Eu queria muito estudar fora do Brasil. Essa oportunidade surgiu em 1974, quando consegui um emprego na Massey-Ferguson no Canadá. Era uma excelente oportunidade para trabalhar e estudar também. Além das possibilidades de desenvolvimento, me vi diante de uma decisão pessoal, pois era noivo da Graça na época. Não tivemos dúvida; casamo-nos e fomos para o Canadá.
E como foi essa experiência? Um brasileiro vivendo no exterior na década de 1970?
Foi ótima, tanto que em 1975 fui transferido para o escritório central da empresa em Toronto e nasceu minha primeira filha. E aí minha esposa quis voltar para o Brasil. Meus chefes não queriam me liberar, mas expliquei que se tratava da minha família. Então, para que eu não saísse do grupo, me transferiram para uma filial do Grupo Massey-Ferguson, em São Bernardo do Campo.
Então, em 1976 você retorna ao Brasil?
Isso. Para trabalhar na Motores Perkins, uma fábrica de motores que fazia parte do grupo. Fiquei lá por 3 anos e minha esposa se arrependeu de termos retornado ao Brasil. Sabendo da minha intenção de voltar a trabalhar fora do País novamente, me ofereceram transferência para a Massey-Ferguson, na Inglaterra, em 1979. Aceitei. Então, aos 30 anos de idade, eu era executivo financeiro da companhia para a Europa. Uma experiência sensacional.
Após anos na Inglaterra, fui transferido para a Itália, onde fiquei até 1986 e, então, voltei com minha família para o Brasil.
Essa foi uma decisão profissional?
Uma combinação de profissional e pessoal. Recebi uma proposta para assumir uma posição na filial do grupo no Brasil e meus filhos estavam crescendo longe dos avós, dos primos… e minha infância foi tão especial junto de meus familiares que não queria privá-los dessa experiência. Fiquei na Massey-Ferguson por mais alguns anos e depois assumi uma posição de diretor na empresa Ford New Holland. Posteriormente, a empresa foi comprada pela Fiat e mudou-se de São Bernardo do Campo para Curitiba.
Não quis mudar de cidade e comecei a trabalhar na empresa Elma Chips.
Então você saiu do segmento de tratores para trabalhar no mercado de salgadinhos?
Foi uma experiência fantástica. Lembro-me que nos primeiros dias na Elma Chips fui de kombi, com o vendedor, fazer entregas nos pontos de venda. Todo mundo que trabalha lá tem de saber como facilitar a jornada do vendedor e do entregador. Fiquei lá por quase 3 anos. E, então, comecei minha história com o Grupo Panini.
Um “casamento” de quase três décadas. Como surgiu essa oportunidade?
Quando estava na Itália, eu trabalhei com o atual CEO do Grupo Panini e mantivemos contato após meu retorno ao Brasil. Em dezembro de 1992, ele telefonou-me e disse-me que havia assumido a posição de CEO no Grupo Panini. Eu, no momento, não me atentei ao nome da empresa. Depois me lembrei de quanto dinheiro havia gastado com figurinhas Panini para meus filhos quando morávamos na Inglaterra (risos).
Ele me explicou sobre uma joint venture da empresa no Brasil com o Grupo Abril e disse-me que poderiam inserir alguém no conselho de administração. E que só conhecia a mim no Brasil, confiava em mim e gostaria que eu participasse. Confirmei a permissão com meu chefe na Elma Chips e fiquei um ano como conselheiro da empresa Abril Panini. Após esse período, fui convidado para trabalhar na Panini, na Itália, como diretor financeiro do grupo. Na época, dois dos meus filhos estavam estudando em universidades na Inglaterra e seria uma oportunidade de ficar mais próximos a eles. Então, em janeiro de 1994, saí da Elma Chips e iniciei minha carreira no Grupo Panini.
E embarcou para a Itália?
Mudança completa para Modena. Em junho de 1994, a empresa Marvel Entertainment comprou o Grupo Panini e pude participar de todo o processo de transferência acionária. Uma experiência gratificante!
Quando e como a Panini começou a operação dos negócios no Brasil?
O Sr. Victor Civita, fundador do Grupo Abril, era muito amigo dos irmãos Panini, fundadores do Grupo Panini, que detinha toda a tecnologia da produção e envelopamento das figurinhas. No Brasil havia algumas
editoras que produziam este tipo de produto, como a Manchete, a Abril e a Globo. Mas era um processo manual e, portanto, não era possível garantir a quantidade e a qualidade do que vinha dentro dos pacotinhos. E o Sr. Civita entendeu que a única maneira de competir e revolucionar o segmento no Brasil era fazer uma parceria com a Panini.
É daí que surgiu a joint venture Abril/Panini?
Exato. Foi finalizada em 1989. Todo o aporte de capital da Panini abarcava os equipamentos e a tecnologia e, assim, a partir de 1990, a fábrica criada no bairro de Vila dos Remédios, na cidade de Osasco, estava funcionando. Logo depois, todas as empresas que atuavam com figurinhas produzidas manualmente saíram do mercado. Não tinham como competir.
A operação no Brasil abriu caminho para os países vizinhos?
Quando os distribuidores das figurinhas Panini da América do Sul souberam da criação da operação no Brasil, quiseram começar a comprar daqui e não mais da Itália, claro, para não pagarem imposto de importação. Só que a demanda era imensa e a operação aqui no Brasil não era da Panini; 51% eram da Abril e, então, eles seguiram a contragosto comprando da Itália. A pressão foi sendo intensificada e, em 1995, concluímos que para vender para o Mercosul seria necessário ter o controle da operação no Brasil.
E o Grupo Abril topou a venda?
Vim ao Brasil para uma reunião com o Sr. Roberto Civita – que sempre foi muito atencioso e simpático- para falar sobre nosso interesse em comprar a operação no País. Ele não queria vender de jeito nenhum. Iniciamos uma negociação intensa que resultou num contrato de exclusividade entre a Abril e a Marvel por 5 anos. Adquirimos a Abril/Panini no final de 1995.
E quem veio cuidar da operação no Brasil?
José Martins. Risos! Não teve jeito. Voltei toda a mudança para o Brasil em junho de 1996. Os 5 anos se passaram e a Abril decidiu entrar no segmento de colecionáveis. Nós, por outro lado, já que não houve renovação da exclusividade, começamos em janeiro de 2002 a publicar os comics da Marvel; entrando, portanto, no setor editorial brasileiro.
E fizeram uma revolução no segmento, hein?
Ah, o mercado cresceu e se fortaleceu com nossa participação. Outro ganho foi o direito de uso dos personagens da DC Comics, uma vez que a Abril não renovou com a companhia. Estávamos muito bem servidos em comic books, mas ainda queríamos os mangás.
E as conversas com os japoneses eram mesmo difíceis?
Muito. Foram inúmeras conversas e tivemos que provar nossa capacidade comercial vendendo títulos menos relevantes – não Naruto… risos, antes de conseguirmos os títulos mais procurados por aqui. Conseguimos, crescemos e quebramos paradigmas ao introduzir nas livrarias os graphics novels – que antes eram compreendidos como revistas em quadrinhos e, portanto, as livrarias não os disponibilizavam.
Hoje os títulos geeks estão por todo o lado e temos uma parcela de trabalho importante neste movimento de evolução e transformação do mercado para este público.
Depois dos mangás, conseguiram o contrato com a Mauricio de Sousa. Outra conquista estratégica, né?
Encontrava o Mauricio de Sousa todos os anos na feira de livros em Bologna, na Itália, e conversávamos. Foi um “namoro” longo. As negociações foram finalizadas em 2006 e, a partir de janeiro de 2007, começamos a publicar também os quadrinhos da MSP com exclusividade.
Quando assumimos a publicação dos quadrinhos, recebemos 45 mil assinantes da editora anterior e rapidamente chegamos a 230 mil. Um crescimento bem relevante.
Uma curiosidade, Martins… O maquinário atual da Panini Brasil envelopa quantas unidades por dia?
Hoje são três linhas de envelopadoras com a capacidade de envelopar 9 milhões de unidades por dia. Somos a maior editora infantojuvenil da América Latina – resultado do trabalho de um grupo de pessoas fantásticas e muito dedicadas.
Nas conversas oficiais e pessoais você sempre valida a questão da importância do time, das pessoas… Essa é a principal característica de um líder de sucesso, concorda?
Sabe se você me pedir para resumir a Panini em uma palavra, “família” define.
Durante esse período todo, fizemos três viagens para a Itália com todos os funcionários do grupo. As viagens realizadas de navio aconteceram em 2010, 2014 e 2018. Não tem preço levar as pessoas para conhecerem lugares que talvez nunca tivessem condições de conhecer. Presenciei muitos rostos emocionados em visitas ao Vaticano, Veneza, Nápoles, Ilha de Capri, entre outros.
É isso. São as relações pessoais que fazem tudo ter sentido e, felizmente, tive a oportunidade de conhecer muita gente bacana tanto no mercado de publicações como no licenciamento, na Abral, na Aner… Tive muita sorte!
E em que momento você decidiu que era hora de parar?
Parado não vou ficar, mas chega um momento que devemos passar o bastão, né? Então, deixei a presidência da Panini Brasil e me tornei consultor para o Grupo. Quem assumiu a cadeira foi o Ivam Faria, com quem trabalhei durante anos e é um profissional e uma pessoa exemplar. A dinâmica dos últimos anos tornou esse contexto natural, afinal, precisamos dar espaço aos mais jovens. Seguirei contribuindo como consultor.
Qual foi o seu mindset para conquistar a prosperidade por onde passou?
Vinte e oito anos se passaram muito rápido porque o tempo todo estávamos nos divertindo, fazendo a empresa crescer. Sempre me baseei no princípio de que devemos manter a mentalidade dos fundadores da empresa. Temos que colocar o chapéu do dono na cabeça. É preciso ter esse olhar para que possamos realizar e crescer.
E agora? Quais os seus planos?
Vivo um sentimento duplo. Penso que está na hora de aproveitar a vida; meus três filhos, seis netos e a Graça, mas é difícil deixar o ritmo do dia a dia da empresa, os colegas, o clima reconfortante de estarmos juntos vestindo a camisa da empresa. Sinto que fiz o meu dever diariamente, sabe? Gosto muito do que faço. Tenho muita experiência adquirida nas áreas financeira, de importação e exportação, e de marketing e distribuição. Quem sabe dar aulas, palestras… enfim, compartilhar meu conhecimento. Sou um homem que buscou oportunidades e que fez valer cada uma delas.
Faria tudo de novo, do mesmo jeito!