A paixão de comunicar O livro digital “Na Ponta da Língua” arrisca-se a dar que falar cada vez mais. Esta segunda coletânea, correspondente ao ano letivo 2012/2013, manteve o número de autores que, porém, produziu maior número de textos em relação à primeira publicação. Não é que a estatística tenha um valor absoluto e supremo, mas os dados encorajam-nos a prosseguir a campanha de publicação dos textos escritos pelos nossos alunos. Incentivamos a escrita e a leitura entre os nossos alunos, apoiando a edição e a publicação de textos da livre criação. Desta forma, estimulamos o ato criativo que forja a individualidade e a realização pessoal do aluno. Simultaneamente, encorajamos a participação social dos nossos alunos nos vários ambientes em que se integram, particularmente na vida escolar, assumindo uma atitude interventiva e responsável perante a sociedade. Escrever criativa e responsavelmente é construir uma cidadania ativa e comprometida com o sucesso de todos os membros de uma comunidade.
António Lopes Editor
Autoretrato A vermelha rosa Os gostos no futebol Se eu fosse um burguês Declaração cantada Poema A revolução dos cravos Contos de fada Uma noite mágica A história do capuchinho vermelho O meu cão Monty Nova Iorque
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Miguel Padrão Raquel Ladeira Manuel Pessoa Manuel Pessoa Miguel Padrão Margarida Pinto Manuel Pessoa Lara Gonçalves Miguel Vieira Vicxita Mahendralal Iago Carvalho Vasco Sampaio
Uma viagem debaixo de água O 125º aniversário de Maputo Receita para fazer um bom vizinho Um presente igual ao passado Grande livro vermelho da poetisa desconhecida O zarolho e o cego O Grillo e a formiga Com outra estaleca Viver a vida por nós próprios ou pelos outros O privilégio de valorar A relação entre o saber e o pensar saber Quem é o responsável Revolução filosófica O importante é partir, não chegar Homem e deus
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Ana Sousa Alunos do 11ºC Catarina Antunes Sara Silva Sofia Brites Miguel Padrão Miguel Padrão Miguel Padrão Iva Gonçalves Iva Gonçalves Miguel Padrão Miguel Padrão Guilherme Pessoa Margarida Pinto Margarida Pinto
Com semblante carregado Assim se arrasta, se move, Olhos de um castanho mortiço, agastado de castanho que a vida comove. Alto, de nariz empinado No umbigo centra o Universo aplanado E triste, infeliz, rosto congestionado Cabelo castanho, futuro traçado
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Invulgar venerador da Ciência Mesmo pesando a sua indecência Tenta-se aproximar da luz, do caminho Mas da torre não chegará ao cimo. Dinâmica deveras intrincada Consciência um pouco pesada Olha em redor, seu olhar pesaroso Roupa descomposta, pensamento gravoso.
Miguel Padrão (10ºA1)
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Ela lança um encanto e atrai-te à sua beleza. No entanto, comporta-se como uma realeza. De dia é luminosa e elegante, De noite, traiçoeira e intrigante. Como acabará esta minha paixão? Será para sempre ou partir-me-á o coração? Será um bom sonho ou um pesadelo?
Raquel Ribeiro Ladeira (6.º C)
L Os Gostos no Futebol O futebol é um desporto Um desporto que eu não sei jogar Fico sentado em frente à TV Sempre a comer e a engordar. O futebol é um desporto Um desporto para cair Basta isso acontecer Começo-me logo a rir. O futebol é um desporto Um desporto de porcaria Se eu jogasse esse desporto Seria uma tortura que eu não aguentaria. O futebol é um desporto Um desporto para burros Basta sofrerem falta E começam logo aos urros. Isto é o que diz Uma pessoa que não gosta deste desporto Pois para estas pessoas O futebol é um desporto morto. E agora vamos ver O que diz uma pessoa que gosta de futebol O que é uma pessoa com gostos O que não é um caracol.
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Amor de mãe. Este amor é incondicional, não tem fim nem preço. O futebol é um desporto Um desporto que eu sei jogar Lá vou eu a correr com a bola Basta tê-la já estou a fintar. O futebol é um desporto Um desporto que se joga em equipa Só de levar com a bola O guarda-redes vomita.
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O futebol é um desporto Um desporto inspirador Eles vêm-me com a bola Ficam cheios de terror. O futebol é um desporto Um desporto emocionante Eu finto-os tanto Que até dizem que sou irritante. O futebol é um desporto Um desporto de homem honrado A minha equipa ganha o jogo E o adversário fica "nhongoado" ( zangado ; irritado ). O Barcelona é um clube Um clube que tenta marcar Mas chega o Real Madrid E impede-os de a defesa penetrar.
O futebol é um desporto Um desporto emocionante Eu finto-os tanto Que até dizem que sou irritante. O futebol é um desporto Um desporto de homem honrado A minha equipa ganha o jogo E o adversário fica "nhongoado" ( zangado ; irritado ). O Barcelona é um clube Um clube que tenta marcar Mas chega o Real Madrid E impede-os de a defesa penetrar. O Real Madrid é um clube Um clube que consegue marcar A bola chega ao Ronaldo Para o golo basta chutar. O Real Madrid é um clube Um clube com um bom guarda da rede Basta o Messi chutar duas vezes Desiste logo e fica com sede. Isto é oque dizem As pessoas que gostam do Real Madrid Mas a grande verdade É que no campo eles fazem chichi. E agora vamos ver O clube que faz magia O adversário que os enfrenta Meteu-se numa regalia.
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O Real Madrid é um clube Um clube de porcaria Tanto para avançados como para defesas Preferia a minha tia. O Barcelona é um clube Um clube esplendoroso Com a cabazada que leva O adversário fica ranhoso.
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O Barcelona é um clube Um clube que joga à volta da área Passam a bola ao Messi E ele penetra a defesa como uma águia. O Ronaldo é um jogador Um jogador excelente Os jogadores vão todos à bola Mas ele finta toda a gente. O Ronaldo é um jogador Um jogador com remate penetrante Quando tenta a sua sorte Leva sempre a avante. Ó Messi, o que estás a fazer A tentar encontrar o tesouro Mas o Ronaldo já o encontrou Eram duas bolas de ouro. Isto é oque dizem As pessoas que gostam do Cristiano Mas a verdade É que só duas bolas de ouro o acharam bacano.
Agora vamos ver O que acham as pessoas com gosto Quais as suas preferências E o que lhes está estampado no rosto. O Messi é um jogador Um jogador que mete um pãozinho (cuequinha) ao "Casillas" A bola rola tão rápido Que até parece uma ervilha. O Messi é um jogador Um jogador que me inspira Dá tantas voltas e tantas fintas Que o Ronaldo até gira. O Ronaldo fica a comer A comer pão, massa e louro E o Messi a receber As quatro bolas de ouro. A Nike é uma marca Uma marca de arrasar Aquelas sapatilhas São mesmo para usar. A Adidas é uma marca Uma marca que não me espanta Logo que vejo um par Começa-me a doer a garganta. A Nike é uma marca Uma marca muito bonita Que antes de jogar comigo O adversário até hesita.
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Isto é o que dizem As pessoas que gostam destas chuteiras Mas a realidade É que calçam chinelos e guardam as Nike na algibeira. Agora vamos ver O que diz uma pessoa que gosta de sapatilhas a sério Pois quem usa Nikes Está num grande mistério.
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As Adidas são sapatilhas Sapatilhas esplendorosas Pois quando é para jogar futebol As Nikes ficam babosas. As Nikes são chuteiras Não parecem mas, são chuteiras E eu encontrei muitas delas Ao lado da minha lixeira. As adidas então ganharam Com uma nota muito alta Pois no fim deste poema Usa-as toda a malta. E é isto que eu entendo O que eu entendo por futebol O Messsi, as Adidas e o Barcelona ganham E o Ronaldo, o Real Madrid e as Nikes ficam a secar ao Sol.
Ó futebol Ó futebol Que seria de mim sem ti Que seria de ti sem mim. Vou-me então despedir Depois deste poema ditar Desejem-me então sorte Para muitos golos marcar.
17 “Dedicado à professora Maria Manuel Seno pelos incentivos que me deu para escrever”
Manuel Pessoa (6.º A)
Se eu fosse um burguês, o meu quotidiano seria levantar-me e vestir-me: Eu sou um burguês E ando com cartola Tenho pena do povo Que para se vestir tem de pedir mola! Não seria só a cartola, também o colete, a casaca e a sobrecasaca até aos joelhos, umas calças pretas e uns sapatos engraxados.
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Depois iria de fora, olhar para a minha rica casa: Eu sou um burguês Tenho uma casa de verdade Tenho pena do povo Que só de ter casa já é uma felicidade.
A seguir, desfrutaria de um bom almoço, num restaurante rico e decorado, na minha mesa uma grande variedade de comida e as sobremesas "NHAMMM": Eu sou um burguês Como comida variada Tenho pena do povo, Que pede comida emprestada. Ia então para o trabalho, seria um ministro importante como Fontes Pereira de Melo: Trabalho pouco tempo Tenho um alto salário Eu sou o inverso De um operário De seguida, iria à ópera com a minha mulher e com os meus filhos, no entanto podia não ir a um teatro, a um clube ou a um baile, etc: Eu sou um burguês Teatros eu vou ver Tenho pena do povo Que fica na taberna a beber. Os burgueses eram assim, em quase todas as quadras tinham pena do povo, mas então porque não inventaram uma quadra que, finalmente, ajudasse o pobre grupo social?
“Dedicado à professora Maria Manuel Seno pelos incentivos que me deu para escrever”
Manuel Pessoa (6.º A)
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Declaro guerra à guerra Maldosa vontade de matar Destruir, ferir, pilhar Abrir feridas, esventrar a terra Declaro saudade e tristeza Tristeza de nunca ser De quase, mas nunca chegar De no sangue mágoa correr Declaro melancolia e temor Temor de partir sem chegar Dor de a meio cair Saudades daquele meu lugar Em que nunca cheguei a sorrir Ao qual não irei retornar Declaro, porém, esperança De um dia poder chegar De debaixo da canga sair De ninguém me subjugar É que o medo pode pesar O medo de cair sem tentar O medo de nada atingir O medo de não alcançar Assim só me resta esperar O fim da mágoa, do terror A alegria e a bondade a vingar E declarar, sem temor Ser possível sonhar Miguel Padrão (10.º A1 )
Era uma vez Numa terra distante Uma linda princesa Jovem e deslumbrante Cinderela era o seu nome Gata borralheira a chamavam Sua madrasta e meias irmãs Que tanto a odiavam Trabalhava dia e noite Sem nunca descansar Só com os seus amigos ratos Para a ajudar Uma noite um convite veio Para um baile as convidar Era no palácio real Que a festa se ia dar Madrasta e irmãs lá foram Deixando Cinderela a trabalhar Surgiu a fada madrinha Para o baile a levar
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Um vestido deslumbrante lhe deu Um coche apareceu para a levar Uma noite mágica lhe prometeu Mas à meia-noite teria de voltar No baile o príncipe conheceu E por ele se apaixonou Mas à meia-noite A sua casa voltou
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Deixou para trás um sapato Sapatinho de cristal O príncipe o encontrou E por ela procurou Encontrou-a como empregada Mas não se importou Tanto a amava Que com ela se casou.
Margarida Pinto (9.º E)
Havia muitos cravos Que eram disparados ao ar Estavam todos tão contentes Porque a P.I.D.E. estava a basar Cada um dos soldados Tinha uma espingarda E ganharam ao Caetano Que só tinha uma granada Até as mulheres Tinham armas ao peito Estavam todas felizes Pois iam ganhar um direito Não foi só um direito Foram até muitos mais Choravam de alegria Pois iam ser todos iguais Oh Salazarinho! Caíste da cadeira Pois não ouvias os outros De nenhuma maneira
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Chateaste o povo Ele ficou irritado Agora já entendeste Que tu é que estavas errado Irritaste os meus avós Os avós dos meus colegas Pois eles não queriam Essas tuas regras
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Tu e o Marcelo Levaram um açoite Por isso tocou Grândola Logo à meia-noite A revolução dos cravos No dia 25 de Abril Despachou o Marcelo A correr para o Brasil O povo venceu As colónias desapareceram Angola e Moçambique Logo se ergueram Vou-me então despedir Depois deste poema ditar Desejem-me então sorte Para muitos cravos atirar ao ar.
“Dedicado à professora Maria Manuel Seno pelos incentivos que me deu para escrever”
Manuel Pessoa (6.º A)
Pele branca como a neve Lábios vermelhos como uma rosa Nunca num reino tão grande Se viu uma donzela tão vistosa Memórias de princesas A minha infância enchiam E de roxo laranja e turquesa Os meus sonhos coloriam
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Com o tempo as Músicas são esquecidas Gestos são escondidos E a nostalgia permitida A perfeição da inocência E a inocência da perfeição Ali, numa história de crianças Que fica sempre no coração
Lara Gonçalves (9.º E)
Cum rapaz que vivia numa quinta Das vacas cuidava E as galinhas alimentava Do galo até à pinta
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Com os avós vivia Num humilde lar Já sabia até dez contar E já algumas palavras dizia Cereais ao pequeno almoço comia Ao almoço jamais faltava o feijão Sempre acompanhado por papa E para sobremesa melancia Quando batia as nove para seu quarto subia Onde uma história lhe era contada pela avó E quando ele adormecia, ela o deixava só E ele pacificamente dormia Mas certo dia, a noite passava E adormecer, bem ele queria Mas o vento tão fortemente rugia Que nem a coruja piava
Desceu as escadas Bem devagar Para não tropeçar E saiu pela calada Pisou a relva fria E caminhou em frente Em direcção ao horizonte E escutou o que o vento dizia
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Olhou para o céu E viu uma estrela Tão bela Coberta com um véu Véu esse Branco e leve Branco como a neve Como se o de uma noiva se tratasse E a estrela chamou-o Suavemente Como se fosse gente E ele foi...
Miguel Vieira (9.ºE)
Ó, minha netinha Uma história vou-te contar Era uma vez, uma linda Vermelhinha Que a sua avó foi visitar
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Mal de casa saiu Levando flores e bolinhos Um lobo viu Trocando-lhes os caminhos Lá foi o lobo Pelo mais curto andando Não, sendo lobo Mais cedo chegando Chegando a Vermelhinha Florzinhas cheirando, Para a casa da avozinha Ia chegando Batendo a porta, Surpreendida, pelos dentes Quase foi morta, Salva por uns valentes
Resgatando a avรณ, Feliz se sentiu. Desatando o nรณ, Alegre, tarde partiu. Espero que esta histรณria, Espalhada pelos ares, Fique na memรณria, Para mais tarde contares.
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Vicxita Mahendralal (9.ยบ E )
Eu adoro o meu cão Ele é branco e castanho Muito brincalhão E tem pouco tamanho.
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É ágil e inteligente Todos o acham um amor Por vezes age como gente e é Rápido como um beija-flor. É muito engraçado O meu Monty amigo, "impossível de ser duplicado" Está sempre comigo... como se fosse o meu umbigo. E mais não digo.
Iago Carvalho (6.º D )
A Nova Iorque, eu gostaria de ir, com os meus amigos, para me poder divertir. Times Square eu vou visitar, para o meu irmão, me poder invejar.
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Central Park, o parque mais famoso do planeta eu vou atravessar, mais rápido que um cometa. Muitos sítios novos, nesta cidade maravilhosa, há para descobrir... mas para o meu país vou ter de voltar, porque as férias, para sempre não vão durar.
Vasco Sampaio (6.º D )
Quando fui dormir comecei a sonhar que navegava num barco. Naquele sonho, eu estava aborrecida porque não acontecia nada, mas de repente o barco afundou-se e eu fui vestir um fato de mergulhadora e saltei para o Oceano das Letras. Fui até ao fundo do mar e vi uma cauda a passar, nadei mais um bocado e encontrei uma cidade cheia de peixinhos e sereias e também homens sereias. Cheguei lá, as pessoas eram muito simpáticas, mas disseram-me que era preciso usar um fato de sereia porque sem o fato, a rainha zangava-se e prendia a pessoa sem fato durante dez anos. Umas sereias muito simpáticas levaram-me às escondidas para uma loja e vestiram-me um fato de sereia e puseram-me uma coisa que me pôs a conseguir respirar debaixo de água. Depois levaram-me a conhecer várias pessoas, algumas até tinham filhos. De repente ouvimos um barulho, que parecia de um barco a apitar, mas não, era a rainha e o rei a chegarem. Eu senti-me desorientada porque não sabia se tínhamos de nos sentar, dizer bom dia, fazer uma dança…Por sorte, as minhas colegas repararam que eu estava muito perdida e disseram-me que só bastava estar de pé. A rainha já era velha e feia, mas lidava muito bem com aquilo. Passados alguns dias a rainha descobriu que eu era intrusa e mandou os seus guardas apanharem-me e eu e as minhas amigas fugimos, mas a rainha também tinha alforrecas venenosas e ficamos encurraladas. Tivemos que lutar e quando sobrava uma alforreca fugimos até muito longe e fomos parar a um sítio de golfinhos e peixes coloridos e conchas muito bonitas. De repente chegaram alforrecas gigantes que também eram guardas da rainha e rasgaram-me o fato na parte dos pés e viram uns pés com cinco dedos cada um. Lutamos muito e derrotamos os guardas até ao último. Depois apareceram mais e aquilo nunca mais acabava e… eu acordei do meu sonho! Ana Bouças (4.º E)
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Maputo comemora, amanhã (11 de novembro) 125 anos de existência, durante os quais a cidade foi-se transformando. Hoje temos uma cidade caracterizada, principalmente, pela sua cultura, onde se destaca a gastronomia, as danças, a música e o artesanato. A capital de Moçambique tem um clima tropical húmido, o aroma caraterístico de África e as paisagens da baía, onde podemos apreciar, juntamente com a praia, as palmeiras e os barcos dos pescadores, que trabalham arduamente para sustentar as suas famílias. Sem dúvida que, em Maputo, podemos apreciar um pôr-do-sol único! O ambiente social integra-se no caráter especial e interessante da cidade. Apesar das grandes qualidades apontadas, existem determinadas caraterísticas, como a constante presença de lixo e o consequente cheiro, a falta de interesse na preservação do património, a pouca disponibilidade dos transportes públicos – provoca fraca mobilidade -, o nível de corrupção em diversos setores e o grau de criminalidade na cidade, que fazem com que esta cidade maravilhosa nem sempre o seja. Como referido, Maputo apresenta alguns problemas relativamente às infraestruturas, ao saneamento básico e à recolha do lixo. Individualmente não é possível resolver estes problemas, contudo existe uma área onde é possível dar um contributo prático, que é o lixo. Se cada um de nós tiver uma atitude ativa, não deitando lixo para o chão, e, quando vir alguém deitar lixo em locais inadequados, ou seja, chamarmos a pessoa à atenção e indicarmos o local apropriado ou o procedimento correto, decerto a quantidade de lixo nas ruas irá diminuir. No entanto, para causar o efeito desejado é importante que o Conselho Municipal disponibilize os recipientes adequados, isto é, vulgares caixotes do lixo. Cada munícipe pode começar pelo seu local de trabalho ou de residência. E porque não começarmos com esta atitude proativa na nossa Escola?
Alunos do 11.º C
Ingredientes - 300g de amizade - 250g de respeito - 250g de solidariedade - 200g de bom humor - 200g de generosidade Preparação Mistura-se a porção de amizade com a solidariedade e a generosidade, mexendo muito bem. Acrescenta-se, pouco a pouco, o bom humor. Numa taça à parte bate-se o respeito em castelo ao qual se junta a restante massa, envolvendo-a com muito cuidado. Leva-se ao forno a cozer, observando, com cuidado, a sua cozedura.
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Serve-se quente, morno ou frio.
Catarina Antunes (8.º A)
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O "Sermão de Santo António aos Peixes" foi escrito pelo padre António Vieira, que expôs cruamente vários defeitos dos homens do seu tempo que, infelizmente, persistem nos nossos dias. António Vieira faz uma alusão a um pequeno peixe chamado Torpedo, cuja virtude é conseguir fazer tremer os braços dos pescadores. Contudo, afirma que existem mais pescadores na terra do que no mar e que a nenhum deles treme a mão ou o braço por pescar. Traduzindo esta metáfora, o que António Vieira queria dizer é que, no seu tempo, todos roubavam, dos mais insignificantes aos mais poderosos. Todos sem excepção. E o pior é que ninguém ficava com remorsos ou com a consciência pesada. Hoje em dia, tristemente, acontece o mesmo em todo o mundo, desde roubos a lojas e a pessoas, passando por casas e bancos, até empresas e países: políticos que metem dinheiro do Estado ao bolso; patrões e chefes que criam empresas fantasma e/ou desviam dinheiro. Mentem, roubam e extorquem sem piedade, sem um pingo de vergonha na cara ou de remorsos. Vangloriam-se perante todos os outros, achando-se superiores e clamando as suas boas índoles, que nada mais são que despautérios sem valor, como lobos que vestem a pele de cordeiros para que ninguém desconfie da sua pérfida natureza. No entanto, ainda não chega, pois a raça humana não pode, de modo algum, contentar-se com um só defeito. O padre conta que Deus ouviu a prece de David, pedindo que lhe virassem os olhos ou para cima, para que pudesse contemplar o Céu, ou para baixo, para que pudesse ver o Inferno; desde que os seus olhos não tivessem de observar a vaidade dos homens. No tempo de António Vieira a vaidade prosperava; hoje em dia, a vaidade prolifera, deturpa e corrói a mente da humanidade. As pessoas só pensam em comprar, ter e comprar mais. Dão mais valor aos bens
materiais do que a elas próprias, já que existem pessoas a preferirem viver no meio da rua, numa caixa de cartão e a usarem Versace, Dolce & Gabana e outras marcas caras a viver instaladas numa boa casa, não ligando tanto à roupa. Nós, seres humanos, autointitulamo-nos de seres desenvolvidos e em evolução, no entanto, passaram-se dezenas de anos sem que conseguíssemos corrigir os nossos defeitos. É, de facto, triste e desesperante. Contudo, talvez não estejamos perdidos de todo; afinal, nos dias que correm, podem já existir vários "padres Antónios" Vieiras e "Santos Antónios" que, neste momento, estejam a pregar aos peixes.
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Sara Silva (11.º A1)
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Entrei na sala escura e velha, de um lado estantes velhas cheias de livros cobertos de poeira, do outro uma mesa simples com duas cadeiras, uma de cada lado. Numa das cadeiras estava sentada Dona Isabel, vestida com uns panos estranhos e coloridos. Permanecia serena, como habitualmente. - Bem-vinda sejas - murmurou Dona Isabel - E o teu nome é? - Eu ... eu sou a Joana - respondi um pouco envergonhada e receosa. - Em que posso ajudar? - perguntou Dona Isabel com um sorriso - Senta-te aqui minha querida. Sentei-me e afirmei: - Bem, sabe, eu ando com uns problemas com a família, temos pouco dinheiro e e sou a mais velha de cinco irmãos. A vida está difícil, o meu pai está desempregado e a minha mãe é dona de casa e trabalha para José da Silva como cozinheira... - Para o teu problema tenho eu a solução - interrompeu-me ela procurando nas estantes um livro qualquer. Fiquei calada, observando apenas. Passados uns minutos, Dona Isabel voltou com um grande livro vermelho de uma poetisa que eu desconhecia. Leu-me uns quantos versos do poema e senti que já sabia a solução para o meu problema, senti-me feliz, aconselhada e agradeci. Dona Isabel despediu-se de mim com um beijo na testa de boa sorte.
Sofia Brites (9.º A)
Fomos acometidos, recentemente, por duas demonstrações da mais profunda irreflexão moral e fundamentalismo, provenientes não de uma qualquer ditadura despótica, não de um ditador inflexível, mas sim da mãe da Democracia Moderna: sim, falo dos autoproclamados paladinos da igualdade, guardiões da liberdade de expressão e do direito à inocência até prova em contrário. O mundo não é um local seguro. Não o será no futuro, nem o foi no passado; ainda menos o é hoje, devido à crescente globalização, não só do lucro fácil, da facilidade de acesso à informação ou do progresso científico, mas também do extremismo religioso, das afirmações irrefletidas, dos ódios de estimação. Daí a justificação da necessidade - por vezes paranóica - da segurança externa e interna dos responsáveis norte-americanos, cujo lugar preponderante no comando do auto e hetero proclamado "Ocidente" implica serem tidos como alvo preferencial de anarquistas, terroristas e outros indivíduos, cujo objetivo é apenas a continuação do ódio e do medo entre irmãos. Mas não nos enganemos. A 14 de abril, engenhos explosivos deflagraram em Boston, Massachusetts, durante uma maratona desportiva, ceifando a vida a três inocentes, num dos atos terroristas mais bárbaros - se é que os podemos assim classificar - dos últimos tempos, numa imperdoável demonstração de uma falta de consciência moral e da tentativa humana de atingir determinados fins sem olhar aos meios utilizados. Imperdoavelmente rancorosa e persecutória foi também a caça às bruxas subsequente, levada a cabo pelas autoridades norte-americanas e pelos media, que se pautou pela publicação de fotografias de suspeitos inocentes, comentários xenófobos e racistas por parte de um editor e comportamentos que trouxeram ao de cima o pior da sociedade norte-americana e fazem temer um recrudescimento da antipatia ianque face aos estrangeiros - em particular árabes -, terminando com a morte de um dos suspeitos e uma caça ao homem copiosamente seguida pela comunicação social, na qual Boston foi encerrada, enclausurada, isolada do mundo exterior para se conseguir proceder à captura do segundo suspeito, por sinal um rapaz de 19 anos.
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Esta atitude permite-nos constatar um facto, menos mediático, mas igualmente pertinente e controverso, que se refere à disparidade de tratamento por parte dos políticos norte-americanos entre as ameaças externas (e o bode expiatório que é o terrorismo) e o barril de pólvora interno, que ninguém ousa destapar e permite ser tratado com desleixo: a legislação de posse e venda de armas de fogo. Como se poderá permitir que se vendam armas livremente a indivíduos com cadastro? Como pode não existir registo obrigatório destes "paus de pólvora", que, subrepticiamente, vão tirando a vida a milhares de americanos? Mais: como é que a pressão popular pôde imperar face ao cumprimento da lei e à moderação kantiana na mente de procuradores, juízes e agentes policiais, que aceitaram e apoiaram uma autêntica farsa teatral, uma tentativa de eternizar o já podre poderio norte-americano, que crucificou publicamente dois SUSPEITOS, sem que as suas culpas tivessem sido inteiramente apuradas? Como se pode apontar o dedo à proveniência estrangeira dos suspeitos, se estes foram introduzidos desde jovens no país que hoje os toma por traidores, sendo, inclusive, o mais velho estudante de medicina numa afamada academia local? Como podem os norte-americanos aumentar o número de tranquitanas nos aeroportos, quando há armeiros à frente das universidades? Como pode Obama procurar problemas no estrangeiro, quando a sua maior luta é interna? Como podem os americanos diabolizar os estrangeiros, quando eles próprios o são? Como podem apontar o dedo a suspeitos, quando eles mesmos são incendiários em potência? Desenganemo-nos: este espírito está presente, chama-se NRA. E precisa-se, celeremente, de um exorcista.
Miguel Padrão (10.º A1)
O recentemente reempossado presidente italiano, Giorgio Napolitano, conseguiu que Enrico Letta, braço direito do demissionário Bersani, formasse um governo de coligação com a direita do omnipresente Berlusconi, terminando o impasse iniciado há dois meses com as eleições de fevereiro, que não permitiram a formação de um governo maioritário em ambas as casas do parlamento italiano (Câmara Baixa e Senado). Bastou este anúncio para o alívio progressivo nos mercados especulatórios e uma diminuição dos juros exigidos à maioria dos países afetados pela atual crise das dívidas soberanas. Infelizmente, a notícia não trouxe somente felicidade e alívio. Alguns Grillos, que, anteriormente, guiavam demagogicamente as formigas - que somos todos nós - e troçavam da nossa "paranoia" em pagar o que devemos, considerando como atitudes neoliberais ou mesmo "fascistas" o que o comum dos mortais entende como honra, justiça e hombridade, agitaram os seus acólitos fiéis, prometendo a instabilidade do novo Governo e a inevitabilidade de novas eleições, nas quais esperam mandato popular para governar... Itália sempre foi - e continua a ser - uma nação particularmente pitoresca, especialmente no quesito político: após o governo de um primeiro-ministro que organizava festas com as amantes nas suas mansões insulares, a crise económica e social e a necessidade de consenso político levaram à indigitação de um tecnocrata, Mario Monti, como chefe de governo, no qual fez um excelente trabalho, saneando a função (pouco) pública italiana, cortando despesas supérfluas do Estado e promovendo uma auditoria geral às suas contas - o que já deveria ter sido efectuado em Portugal -, que descobriu casos do mais rocambolesco e, diria mesmo, dantesco que se poderá imaginar. Como, por exemplo, uma comissão para pagar reformas aos inválidos da guerra de 1866, vulgo Guerra de Unificação Italiana, que incluía motorista e secretárias, não fosse o Conde Cavour ter-se esquecido de alguma compensação a Garibaldi. Mas, Monti tinha um grave senão: não era político, nem tinha personalidade para politiquices ou jogos partidários, o que levou a sua votação, nas passadas eleições, a não atingir sequer os 10 por cento, uma derrota esclarecedora da austeridade, segundo alguns, ou do bom senso do povo italiano, segundo outros. Ainda mais, quando aliado à subida
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vertiginosa da esquerda antieuropeísta. Felizmente essa esquerda fracassou no passado fim-de-semana, quando um dos seus, o comunista Napolitano, anunciou o novo governo de centro. Felizmente fracassou. Felizmente para Itália, Portugal e Europa. Felizmente para a própria esquerda, que demonstra que, dentro de si, ainda existe alguma decência democrática, da qual foi, aliás, paladino no passado recente. Não tenhamos dúvidas: o sul da Europa, no qual se inclui a Itália, encontra-se há muito endividado: de diversas formas e sob diversos programas, de diversos governos e diferentes ideologias, portugueses, espanhóis, gregos e italianos entregaram-se a uma política despesista, que os trouxe ao estado em que hoje estão: de mão estendida para os credores internacionais, obrigados a diminuir despesas e aumentar receitas com vista a tornarem-se excedentários e financeiramente viáveis. E é isto que escapa a Grillo: as medidas contra as quais se coloca vão ao encontro de diversos estudos e previsões de órgãos europeus e mundiais, tentando os seus aplicantes, mormente, agradar aos povos dos respetivos países, enquanto equilibram as contas públicas. A sua aplicação é obrigatória e necessária, assim como é necessário colocar os demagogos e hipócritas que pululam na Europa no devido lugar: é sabido que os momentos de crise são, também, os mais fáceis para apelos vagos a independências, extremismos, fanatismo e até mesmo fanatismo, pelo que não seria de todo mal pensado responsabilizar criminalmente os políticos – e todas as figuras com responsabilidades públicas - aquando dos seus apelos à violência, à segregação ou à dissidência. No momento em que a Europa mais precisa de união, não nos podemos dar a este luxo! Porque os Grillos deste mundo esquecem-se de uma coisa: em última instância, os credores têm a face e o queijo e a faca na mão, pelo que poderão sempre dizer a um aluno mais rebelde: "Ai cantavas? Pois agora dança.»
Miguel Padrão (10.º A1)
Muitos de nós ficaram surpreendidos quando a Islândia, um país riquíssimo em bancos de pesca, fontes hidrotermais, riquezas geológicas e com uma das melhores qualidades de vida e desenvolvimento humano do mundo, se declarou insolvente em 2008. No entanto, salvo alguns desenvolvimentos inusitados, imediatamente divulgados como "exemplares" pela comunicação social, a situação islandesa foi, rapidamente, esquecida: afinal, não passavam de um pequeno país de 500 mil habitantes, periférico e cuja responsabilidade cívica foi suficientemente elevada para o país retomar o crescimento (mais de dois por cento este ano, o que contrasta com o afundanço europeu). Contudo, o país do tubarão podre, dos vulcões espirrantes de lava e da língua imutável ao longo dos séculos foi, uma vez mais, destaque nesta semana, após as eleições, do passado fim-de-semana, expulsarem a esquerda do poder e reinstalarem no governo a direita, responsável pela crise recente. O porquê desta decisão é, pelo menos para mim, desconhecido. Talvez se deva à continuação de uma oligarquia à frente dos maiores bancos e empresas públicas do país; talvez seja uma resposta às promessas não cumpridas pelos sociais-democratas; talvez o aparente crescimento do país não beneficie realmente os seus cidadãos; talvez a desvalorização da coroa islandesa tenha dificultado a vida aos islandeses, cujas importações e deslocações ao estrangeiro tiveram de ser repensadas; talvez... Na mesma semana e apesar de algumas boas notícias, a situação generalizadamente descendente dos países europeus, em particular dos intervencionados, entre os quais Portugal, foi comprovada pela UE: além de um desemprego a roçar os 20 por cento na "Ocidental praia lusitana", a superar os 25 na pátria de Cervantes e no país de Homero, a recessão manter-se-á na Europa até, pelo menos, ao próximo ano. Desta forma, impõe-seme questionar: porquê? Sendo a Islândia um país tão similar a Portugal (pequenos, periféricos, isolados, com uma população que teve de recorrer à emigração para sobreviver), o que é que nos faz diferir tanto na visão da democracia, na assertividade da nossa ação democrática, na nossa
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educação proativa e na nossa responsabilidade cívica? O que é que permitiu à Islândia ter superado a crise e o desemprego em tão pouco tempo, enquanto Portugal e a Europa se mantêm no marasmo e no pântano? O que levou os islandeses a responsabilizar, criminalmente, os responsáveis políticos, a reescreverem a Constituição, a limparem o seu sistema político das sanguessugas partidárias e a reformularem toda o seu Estado em menos de cinco anos? Serão os islandeses de outra matéria que não a apatia europeia ou apenas tiveram a vida facilitada por fatores que não atuaram nas restantes situações de resgate? Teria sido melhor possuirmos uma moeda própria, cuja (des)valorização controlássemos? Teria sido preferível nunca ter-mos aderido à CEE? Deveríamos ter "batido com a porta" aos credores internacionais que participaram no nosso empréstimo, cujos juros usurários não permitem o relançamento da economia? Talvez sim, talvez não. Mas o tempo não volta para trás, é inútil chorar sobre o leite derramado. O resgate já foi assinado, a adesão acordada, a moeda atualizada e, apesar dos pesares, a atual geração é a mais preparada, a nível de formação académica pelo menos, para lidar com a situação. Por isso, apenas nos resta, como diria uma das pessoas a quem estimo mais (não só pessoalmente, mas também ao nível da opinião sobre estes, todos os assuntos), "apanhar as canas" após mais de 20 anos a "deitar foguetes". E esperar, esperançosamente, que as próximas gerações consigam revolucionar a nossa sociedade, a nossa maneira de olhar o mundo e a nossa relação com o Estado. Que tenham estaleca suficiente para expelir os políticos atuais e responsabilizar os autores dos erros do passado. Que, não deixando de ser portugueses, se tornem um pouco islandeses. O país agradeceria.
Miguel Padrão (10.º A1 )
Muitas vezes vivemos a vida passivamente, aceitando sempre tudo o que nos é dado e assumindo-o como óbvio e certo. Não nos importamos em saber porque é que é certo fazer uma coisa e errado fazer outra. Não nos importamos em perceber realmente o que são as coisas. Pois eu proponho que nos imaginemos todos a viver sem nunca termos aberto um livro. Dir-nos-iam que é muito interessante ler, que é divertido imaginar a forma física do que lá está escrito e explicar-nos-iam o que é dito no livro. E nós acreditaríamos de bom grado, pois isso seria a melhor informação que tínhamos. No entanto, se um dia resolvêssemos abrir um livro será que nos depararíamos com as mesmas sensações, as mesmas opiniões? Talvez, mas também era muito provável que discordássemos em alguns ou até em todos os aspetos. Não somos obrigados a ter as mesmas opiniões do que os outros, pelo contrário, é muito pouco provável que duas pessoas pensem exatamente o mesmo sobre tudo. Ora, se sabemos isto e se admitimos que é normal eu não gostar de livros da mesma forma que um amigo meu e que é normal vinte pessoas gostarem de vinte coisas diferentes, temos a obrigação de entender que, viver segundo os olhos dos outros, segundo as diretrizes dos outros, não é viver, mas, sim, ser um passageiro na vida alheia. Deste modo, sugiro que abramos um livro, que tentemos, quando falamos, distinguir a nossa opinião da opinião do mundo, já embutida no nosso cérebro. Sugiro que larguemos os preconceitos, os dogmas mundanos e tudo o que nos foi dito até agora e comecemos a pensar no que nós realmente queremos e acreditamos, no que nós próprios consideramos certo.
Iva Gonçalves (10.º A2 )
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A expressão "valorar" é, normalmente, associada apenas à ideia de atribuir uma qualidade ou um defeito a algo. Mas essa definição está imperfeita. Valorar é mais do que isso. Não é muito difícil perceber que a beleza de um quadro não está nele, mas no indivíduo que o aprecia, que a crueldade de um ato não se encontra propriamente lá, mas na avaliação que a sociedade faz dele, que a harmonia de uma canção está nos "ouvidos" de quem a escuta e não nela própria. O quadro pode ser feio para outra pessoa, assim como o ato, pode não ser tão cruel na perspetiva de outro alguém e a canção pode ser apenas ruidosa para um indivíduo. Depois de apresentadas estas ideias, penso que é possível concluir que os valores estão em nós, fazem parte do nosso ser. A cor de uma flor, que é uma caraterística própria, existiria mesmo que nenhum ser humano fizesse uma apreciação da mesma. No entanto, a beleza apenas existe devido a uma opinião humana, a uma mente, a um Homem. Esse mesmo Homem que tem o privilégio de ser o único animal na face da Terra capaz de valorar, de dar opiniões, de refletir sobre o certo e o errado, de decidir o que quer e o que não quer fazer, com base num motivo e numa intenção; o único animal que não está preso a programações biológicas e a reações extremamente impulsivas e reativas, próprias dos animais irracionais. Esse mesmo Homem que tem a opção de decidir o que quer ser, de se criar a si próprio. Nada nem ninguém o pode obrigar a valorizar algo que ele não gosta ou não considera louvável. Pode-se ensinar a uma criança o que é honesto e o que não é, o significado de ser leal e o que implica a mentira, no entanto, ela própria é que chegará à conclusão de aceitar ou não estas "definições", estas "normas". Todos estes valores são relativos, são abstratos. Eles não existem por si só, está tudo "dentro" da nossa mente. É por isso que, ao valorar, o ser humano progride, torna-se mais humano e menos animal, torna-se quem é. É baseando-se nos valores que são mais importantes para ele que um indivíduo faz as suas escolhas e vive a sua vida, defendendo aquilo que, para si, é essencial à vida. Iva Gonçalves (10.º A2 )
Certamente que sim, existe uma ligação entre o "saber" e o "pensar saber", uma vez que, tal como os prisioneiros que apenas observam sombras simbolizadoras e tradutoras da realidade, hoje em dia muitos de nós utilizam as Tecnologias de Informação e Comunicação de forma abusiva e desregrada. Faz-se do seu uso um meio de obtenção de informações instantâneas, um veículo de propagação de boatos e falácias, preconceitos e mentiras e um importante aliado da propaganda, não só política, mas também religiosa, social e económica, pelas facilidades acima referidas. Desta forma, muitas vezes grandes fatias da população são ludibriadas por pensadores, políticos e figuras públicas demagógicas, as quais se servem, regularmente, de redes sociais, dos blogues e de outros meios de transmissão de informação online para ampliar e hiperbolizar o seu discurso, aguçar a sua retórica e exporem os seus dotes oratórios, fazendo dos cidadãos mais crédulos – e, portanto, ignorantes e desprevenidos - os seus alvos e as suas primeiras e principais vítimas. Até mesmo os jogos nos transportam para a visualização de sombras de uma realidade, da qual facilmente ficamos prisioneiros, em virtude da sua veracidade e crescente realismo. Assim, é certo que se pode fazer uma analogia entre os prisioneiros da Alegoria da Caverna e o modo como, alguns de nós, utilizam estas ferramentas. A atual necessidade de consumo de informação leva a que a sociedade que inventou o "fast-food" crie, agora, a "fast-info", informação facilmente alterável e proveniente de fontes duvidosas, que preconiza um acesso instantâneo, porém virtual e facilmente maleável, à informação e ao conhecimento. Continuamos, no entanto, a acreditar piamente naquelas mesmas fontes uma vez que, como os prisioneiros, não nos questionamos sobre a veracidade de tudo o que vemos e continuamos na penumbra da ignorância, aceitando, passivamente, tudo o que ouvimos e vemos, ao invés de nos libertarmos das correntes que nos prendem a estigmas e preconceitos e não nos permitem atingir a luz do conhecimento, que o Mundo tanto precisa nos dias de hoje. Miguel Padrão (10.º A1 )
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Era uma vez um reino, amarelo, ensolarado e plantado à beira-mar, cuja população estava descontente, pois considerava estar a ser discriminada, mas também esquecida pelos seus governantes. Como em Democracia (e, neste caso particular, eu sou testemunha) são sempre os cidadãos a ter razão, esta coroa imaginária - ou nem tanto - foi por mim ou por eles imaginariamente julgada. Deveras difícil foi o trabalho de apurar a responsabilidade de um determinado crime, ato ou acontecimento. Além de ser influenciado por diversas variáveis externas, o próprio autor tinha de estar na posse da razão para poder ser responsabilizado. No entanto, um exercício de catarse não foi custoso de realizar, facilitando, em muito, toda a gestão do trono. E assim começa a sentença, sem réu, mas apenas com uma consciência, que espero responder por todos nós: "Como puderam deixar-nos, abandonados, enquanto uma pandilha maquiavélica nos assaltou e vexou, assobiando para o lado e nada mais fazendo senão incentivar campanhas patéticas de propaganda para lavagem cerebral? Como puderam ausentar-se num eterno jantar num palácio distante, nunca estando disponíveis nos seus postos quando necessário? Como puderam desfazer o país em momentos tão importantes, envergonhá-lo publicamente, obrigarem-no a ficar de calças na mão? Como podem não ser responsabilizados por tudo o que fazem, fizeram e, se não agirmos, farão? A incompetência deve ser responsabilizada, criminalmente se possível. Desta forma, todos quantos foram e são responsáveis pela situação atual (de políticos a gestores, de deputados a diretores, de funcionários a banqueiros) deverão ser sentados no banco dos réus: não foram eles que, de uma forma ou de outra, blindaram todos os contratos com os credores que agora renegam, de tal forma que, actualmente, ninguém sabe o segredo ou como desatar este nó Górdio, obrigando os atuais governantes a tentar arrombar a parede de ajustamento alternativo (que, apesar de pessoalmente considerar ter efeitos mais duradouros na estrutura do edifício do Estado, é quase, unanimemente, reprovada pela sociedade civil) num contrarrelógio desesperado que poderia ser evitado e que só aumenta a ansiedade e o sofrimento do povo português.
Infelizmente, desde sempre o discurso demagógico tem mais influência na sociedade, em particular em momentos de crise económica, social e pessoal – afinal, são ou não as sociedades, mais que tudo, formadas por indivíduos, que lhe dão todas as suas características e particularidades? - como o que atualmente vivemos. Se analisarmos o comum dos mortais (nos quais, aliás, me incluo), este preferirá um hipócrita que lhe consegue contar uma fábula e entretê-lo (Pão e Circo, um velho lema que continua atual) com uma mentira caridosa do que uma figura mais austera e séria, que o confronta com a verdade, administrando-lhe toda a medicação pós-ressaca, que, apesar de dolorosa e desconfortável, é estritamente necessária. O nosso declínio estava há muito traçado: no momento em que se iniciou uma tresloucada "corrida aos direitos adquiridos", escudados numa constituição de cariz marcadamente socialista e demasiado protetora da manutenção de quadros incompetentes, pagos pelas contribuições de todos, vivendo subsidiados pelo orçamento geral de um Estado para que parcamente contribuem, o destino do País foi vincado. Um país, uma empresa, uma escola, que da humildade, modéstia, honestidade, espírito de sacrifício e de luta que imperavam no passado, se transfere para o cinismo, a arrogância, a ganância de funcionários imprestáveis e mal preparados, diretores ausentes, incompetentes e altivos, e para a inconsciência e infantilidade de uma Esquerda órfã de ideologias e de líderes, está condenado ao fracasso e ao colapso. Nada nem ninguém o salvará, nem mesmo um génio. PS- Qualquer metáfora aqui citada é meramente... metafórica. Não há qualquer intenção por parte do autor em retratar factos ou nomes reais, sendo todas as personagens fictícias.
Miguel Padrão (10.º A2 )
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Era uma vez, num reino muito distante, uma pequena cidade, onde vivia o rei e a sua família real. No entanto, o rei estava velho e prestes a morrer. Apesar de ter um filho, estava envolto em preocupações, pois era ousado, egoísta e só se preocupava com ele mesmo. No primeiro de dezembro, aconteceu o que se temia, o rei faleceu e sucedeu-lhe o filho com 11 anos. Quando este completou um mês de governo, a sua casa estava caótica e o reino um caos: pessoas mal vestidas e a pedir aos turistas e a crise financeira aumentava pela importação de brinquedos para o jovem. Um dia, o povo, rispidamente, disse: "Vamos à revolta". Planeou, então, uma luta eficaz contra o príncipe. Na madrugada do dia seguinte, todo o povo se aproximou do castelo gritando. A rainha ficou impressionada e foi dizer ao príncipe que reagisse, recebendo a sua ignorância. A rainha ficou tão perturbada que a sua ira ressoou pelo castelo. Um guerreiro, muito destemido, eficaz e com muitas capacidades, subiu à janela e entrou pelas cortinas. O príncipe, obstinado e com maus pressentimentos, foi ver o que se passava. Encontrou o plebeu e travou-se uma batalha. O mais provável seria o príncipe vencer. A batalha foi renhida: o entoar da espada de ouro a bater num machado de madeira, a armadura de cobre e estanho com a roupa fraca e furada, o penteado e a pele limpa com o monte de cabelo e a pele suja e áspera. No fim da luta, o plebeu perdeu e foi morto, mas o príncipe mudara de atitude. Agora era um rei sincero, sábio e ponderado, que tratava todos de igual forma. Ele abriu escolas e hospitais e deu empregos às pessoas que passaram a viver bem e sem fome. Diminuíram os doentes e analfabetos e uma nova filosofia se espalhou pelo reino. “Dedicado à professora Maria Manuel Seno pelos incentivos que me deu para escrever”
Guilherme Pessoa (6.º A
Acho que quando gostamos de uma pessoa é bem mais difícil deixá-la partir, especialmente quando começamos a sentir algo especial por ela. Tenho um exemplo na minha vida. Vivia em Portugal e, quando tinha seis anos, custoume muito vir para Moçambique, pois achava que não ia gostar do país. Agora que vivo aqui há nove anos é muito difícil passar férias em Portugal, pois tenho aqui pessoas e coisas que me prendem afetivamente. Partir é bem mais doloroso do que chegar. Nós chegamos sempre onde queremos, basta lutarmos pelo que, realmente, desejamos e esforçarmo-nos para a ter. Agora, partir? Custa muito, pois deixamos pessoas, amigos e familiares de quem gostamos muito e de quem não nos queremos separar. Na nossa vida vamos passar por muitas partidas e chegadas. Cada um de nós deve estar preparado para isso. Basta ser forte e corajoso, seguir sempre em frente e não deixar que nada nem ninguém nos deite abaixo.
Margarida Pinto (9.º E )
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Concordo com Gaston Bachelard, porque também acho que partir é como se uma parte de nós morresse. Deixamos para trás coisas de que gostamos muito e, sobretudo, pessoas em relação às quais sentimos muito carinho. Quando partimos temos de ser muito fortes, senão não conseguimos ultrapassar a nossa dor e todos os obstáculos que nos podem passar pela frente. O autor também fala da morte como de uma viagem se tratasse. Na verdade, morrer é viajar definitivamente para um lugar desconhecido. Não acredito numa vida para além da morte, por isso encaro-a como uma consequência natural da vida. Penso, assim, que a morte determina o fim da nossa existência física e espiritual. Respeito, contudo, as crenças das outras pessoas, principalmente aquelas que defendem a existência do Paraíso e do Inferno, como lugares de recompensa ou castigo pela vida que levaram na Terra. Por outro lado, também não acredito numa força maior porque considero que Deus foi uma criação do Homem e não o Homem uma criação de Deus. Reconheço, no entanto, que as pessoas que acreditam numa Força Superior ultrapassam mais facilmente os seus problemas, porque encontram nela um conforto espiritual que ajuda a lidar com as dificuldades com mais firmeza. Para concluir, é necessário reforçar a ideia de que, relativamente a este assunto, devemos ser tolerantes, isto é, aceitar e respeitar as diferenças, quer sejam políticas, religiosas, sociais ou culturais.
Margarida Pinto (9.º E )
DIREÇÃO Dina Trigo de Mira COORDENAÇÃO EDITORIAL António Lopes REVISÃO Ana Paula Relvas LAYOUT E PAGINAÇÃO Diana Manhiça EDIÇÃO Núcleo de Informação e Comunicação IMPRESSÃO EPM-CELP/Oficina Didática 2014
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