SUMÁRIO
& destaques
2 - EDITORIAL 3 - DISTINÇÃO “Suplemento de Oringa” soma e segue nos concursos científicos 4 - CIDADANIA | Alunos da EPM-CELP discutiram problemas mundiais segundo o Modelo das Nações Unidas
6 - REPORTAGEM | Alunos da EPM-CELP campeões de natação revelam os segredos do sucesso no desporto e nos estudos
9 - ENTREVISTA | Presidente da Associação de Estudantes da EPM-CELP, Aliyah Bhikha, defende que a confiança depositada nos alunos gera autonomia e responsabilidade
12 - REPORTAGEM | Alunos das turmas A e B do pré-escolar da EPM-CELP redescobrem natureza com machamba pedagógica
14 - DESTAQUE | Azulejo português e capulana moçambicana geram ”capulejo”
16 - COOPERAÇÃO | “Mabuko Ya Hina” sustenta magia dos livros
17 - FORMAÇÃO | Ariana Cosme desafiou autonomia e flexibilidade dos professores da EPM-
9 | Entrevista Aliyah Bhikha, presidente da Associação de Estudantes da EPM-CELP, defende que a confiança depositada neles pode gerar mais responsabilidades na tomada de decisões
CELP
18 - MÃOS NA CIÊNCIA | Experimentação melhora aprendizagens dos alunos
19 - ENCONTROS COM ARTE | Rogério Manjate partilhou paixões artísticas e filme “Aniki Bóbó” desafiou valores de São Valentim
20 - SOLIDARIEDADE | Centro de Apoio à Velhice de Lhanguene ganhou roupa doada pela EPM-CELP
21 - SÃO VALENTIM | Alunos, professores e encarregados de educação da EPM-CELP revelaram segredos dos afetos
22 - DESPORTO | EPM-CELP continua a somar vitórias
23 - EFEMÉRIDE | Educação contorna ameaças cibernéticas
24 - INOVAÇÃO | Moçambique aboliu dispensas a exames escolares para melhorar qualidade de ensino
14 | DESTAQUE ”Capulejo” é criação genuína da EPM-CELP que une no azulejo traços identitários de Moçambique e Portugal
26 - PSICOLOGANDO | Ops! O meu filho adolesceu! 27 - OPINIÃO | Do respeito...
24 | INOVAÇÂO
Moçambique aboliu as dispensas a exames para melhorar a qualidade do ensino
28 - CRONICONTO | Ananjo
1
Edição n.º 108
EDITORIAL
Visão integrada de saberes
A
EPM-CELP no seu projeto educativo define-se como “um lugar de aprendizagem, solidamente alicerçado numa pedagogia humanista, baseada na tolerância, no respeito pela diferença e pela diversidade cultural, que ministra um conhecimento científico atualizado, fundamentado no pensamento crítico, incentivando a curiosidade e a experimentação”. Desta forma, o Projeto de Flexibilidade Curricular foi assumido de forma natural na nossa Escola, dando um cariz mais formal àquilo que já vinha sendo a nossa prática educativa. Todos os projetos curriculares e de complemento curricular e transversais desenvolvidos na Escola sustentam a ideia de que todas as disciplinas complementam e configuram uma visão integrada dos conhecimentos e dos saberes. Também as práticas de cidania e da solidariedade social pretendem dar voz, autonomia e capacidade de intervenção aos estudantes, numa filosofia de ação que quebre a rigidez institucional e torne os estudantes parceiros ativos da vida da escola. Obedecendo a este mesmo princípio de inclusão nas nossas atividades, procuramos sempre integrar as culturas de Moçambique e de Portugal num mosaico harmonioso. A atividade de artes plásticas que juntou a técnica do azulejo com os padrões de capulana são um perfeito exemplo, entre muitos, desta conjungação feliz de saberes culturais. Espelhando o rigor científico e a filosofia humanista, o “Projeto Oringa” pretende melhorar as condições de saúde de uma população específica do Parque Nacional da Gorongosa, colocando “a ciência ao serviço do desenvolvimento e da humanização, ganhou , por isso, um prémio especial do
quinto escalão da 15.ª mostra de ciência do prémio Fundação Ilídio Pinho “Ciência na Escola”. Também no âmbito da flexibilidade curricular , o Projeto “Mãos na Ciência” desenvolveu e desenvolve várias atividades experimentais, integrando conteúdos cruzados e fomentando a interdisciplinaridade, sob o chapéu “Formação e constituição do sistema solar”, mas também “A cor e a teoria da cor e do pigmento”, “A degradação dos monumentos no âmbito da comemoração do dia da Cidade de Maputo” ou “ A digestão e higienização das mãos e dos alimentos”. Para que esta filosofia de implementação da Autonomia e Flexibilidade Curricular, emanada pelo Ministério de Educação, se torne mais efetiva na nossa Escola, o nosso Centro de Formação convidou Ariana Cosme, consultora do projeto de Autonomia e Flexibilidade curricular do ME, a realizar uma ação de formação sobre esta temática. A mesma defende a inclusão, a comunicação, a autonomia, a individualização, a colaboração, a inovação e a criatividade nas práticas de aprendizagem em sala de aula, para que os níveis de motivação se mantenham ao longo da escolaridade e desenvolvam as potencialidades individuais de cada um, em pedagogias ativas e dinâmicas. As diversas vitórias da EPM-CELP no âmbito do desporto escolar demonstram a eficácia do empenho dos alunos em atividades do seu interesse, traduzindo-se na obtenção de excelentes resultados. É fundamental e necessário que a escola se continue a adaptar às novas exigências, tanto na forma de ensinar, como de avaliar, respeitando o capital cultural e as potencialidades dos estudantes. A DIrEçãO
O PÁTIO | Revista da EPM-CELP | Ano XVI - N.º 108 | Edição janeiro/fevereiro de 2019 Diretora Dina Trigo de Mira | Editor Geral António Faria Lopes | Editor-Executivo Fulgêncio Samo | Redação António Faria Lopes, Fulgêncio Samo e Reinaldo Luís | Editores Ana Albasini (Cooperação), Alexandra Melo (Psicologando) e Rogério Manjate (Croniconto) | Editor Gráfico Núcleo de Informação e Comunicação | Colaboradores redatoriais nesta edição Ana Albasini, Isabel Mota, Sónia Pereira, Mónica Oliveira, Luísa Antunes, Ana Isabel Carvalho, Sandra Cosme, Teresa Barata, Sara Teixeira, Sandra Macedo, Associação de Pais e Encarregados de Educação da EPM-CELP e Teresa Noronha | Grafismo e Pré-Impressão Núcleo de Informação e Comunicação | Capa António Faria Lopes e Ilton Ngoca | Fotografia Filipe Mabjaia, Firmino Mahumane e Ilton Ngoca | Revisão Núcleo de Informação e Comunicação | Impressão Imagem One | Distribuição Fulgêncio Samo (Coordenador) PROPRIEDADE Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa, Av.ª do Palmar, 562 - Caixa Postal 2940 - Maputo - Moçambique. Telefone + 258 21 481 300 - Fax + 258 21 481 343 Sítio oficial na Internet: www.epmcelp.edu.mz | E-mail: info@epmcelp.edu.mz
O Pátio
2
distinçãO
PRÉMIO ESPECIAL
”Suplemento de Oringa” soma e segue
O
projeto "Suplemento de Oringa - Packs nutritivos no Programa de Educação da Rapariga no Parque Nacional da Gorongosa”, dos já ex-alunos da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP), Olívia Rocha, Keval Ramniclal e Aaminah Rassid, ganhou o Prémio Especial do quinto escalão da 15.ª Mostra de Ciência do Prémio Fundação Ilídio Pinho “Ciência na Escola” 2017/2018, atribuído no passado mês de janeiro. A distinção valeu três mil euros. O “Suplemento de Oringa” foi um dos 39 projetos selecionados entre os 246 apresentados a concurso no quinto escalão (ensino secundário) que passaram à fase de desenvolvimento do concurso. Foi também, assim, um dos 100 melhores projetos escolhidos para a Mostra Nacional de entre os 1269 concorrentes à fase de “concurso de ideias” do Prémio “Ciência na Escola” do ano letivo passado. Foi o terceiro prémio, em menos de um ano, arrecadado pelo projeto em certames científicos realizados em Portugal. A 2 de maio de 2018 conquistou uma menção honrosa na 12.ª Mostra Nacional de Ciência do 26.º Concurso de Jovens Cientistas e Investigadores
organizado pela Fundação da Juventude e, em junho, foi selecionado para a 15.ª Mostra de Ciência do Prémio Fundação Ilídio Pinho “Ciência na Escola”, no qual foi distinguido com o Prémio Especial. Coordenado pela professora de Química, Margarida Duarte, o projeto tem como objetivo melhorar as condições de saúde de uma população específica do Parque Nacional de Gorongosa (PNG), fazendo jus ao tema “A ciência na escola ao serviço do desenvolvimento e da humanização”, que inspirou a 15.ª edição do Prémio “Ciência na Escola” da Fundação Ilídio Pinho. Através da desidratação de ovo e de moringa, ricos em iodo e vitamina A, os ex-alunos da EPM-CELP criaram um suplemento alimentar que pretende amenizar deficiências nutricionais que existem em Moçambique, nomeadamente nas comunidades rurais da Gorongosa. Aproveitando a parceria existente entre a EPM-CELP e o PNG, os alunos realizaram, ainda a frequentarem a EPM-CELP, na fase de desenvolvimento do seu projeto, uma visita à Gorongosa para testar a recetividade dos responsáveis daquela reserva natural e, sobretudo, das comunidades da zona tampão da mesma.
3
Edição n.º 108
cidadania
Alunos da EPM-CELP tomam posições sobre atualidades nacionais e internacionais O envolvimento nos eventos ”Maputo Model United Nations” e Parlamento dos Jovens suscitaram respostas cívicas e políticas de alunos da EPM-CELP para grandes questões da atualidade nacional (Portugal) e internacional, ligadas, sobretudo, às crises ambiental e humanitária. A diplomacia e abertura ao diálogo foram as grandes exigências.
M
ais de 40 estudantes do ensino secundário da EPM-CELP participaram na terceira edição do MAMUN (Maputo Model United Nations), este ano consagrada ao tema “Controvérsia”.Trata-se de uma iniciativa, à qual a nossa Escola volta a aderir, que procura fomentar e desenvolver nos alunos competências de cidadania participativa, seguindo o modelo oficial da ONU (Organização das Nações Unidas). O evento, que decorreu entre 15 e 17 de fevereiro, foi organizado pela Escola Americana Internacional de Maputo (AISM), onde a nossa escola foi representada por alunos de todos os anos de escolaridade do ensino secundário, cumprindo um programa de atividades que ocupou a tarde do primeiro dia e integralmente os dias subsequentes. Agrupados em comissões e delegações representativas de distintas nações, conforme o modelo da ONU, os alunos apresentaram-se munidos de resultados de pesquisas previamente realizadas para alimentar o debate sobre diversas temáticas relacionadas com a imigração ilegal, os direitos humanos, a desnuclearização e a le-
O Pátio
galização de armamento, entre outros assuntos da atualidade. Em ambiente democrático, a favor do pensamento crítico, diálogo, divergência e convergência de ideias genuínas e autónomas, decorreram as reuniões de simulação orientadas para a capacitação dos futuros cidadãos, preparados para a negociação e argumentação sobre assuntos que fazem a diplomacia internacional. A primeira sessão foi exclusivamente dedicada à concertação de ideias dentro das comissões. Os segundo e o terceiro dias acomodaram, em cada um, três sessões de hora e meia de duração cada, dedicadas a temas específicos tratados previamente nas diferentes comissões pelas delegações representativas das nações.
Desenvolver habilidades de expressão oral em debates públicos, com recurso a conceitos básicos de diplomacia, de política externa e de história são, entre outros, alguns objetivos do projeto ”Model United Nations”, que confere aos jovens, pré-universitários e universitários, a oportunidade de exercerem direitos de cidadania ativa e participativa através da problematização e procura de soluções para diversas problemáticas das sociedades globalizadas. A adoção do Inglês, como idioma oficial do evento, não foi obstáculo à participação dos alunos da EPM-CELP mercê da parceria curricular estabelecida entre as disciplinas de inglês e de filosofia. Esta articulação permitiu a implementação de atividades estratégicas de preparação dos alunos realizadas
Modelo das Nações Unidas fomentou diálogo e prática da língua Inglesa
N
o trabalho preparatório para a participação no MAMUN 2019, os alunos das turmas A1, A2, B e C do 12.º ano da EPM-CELP converteram as respetivas aulas da disciplina de inglês em assembleias de debates subordinados ao tema “Imigração e uso da burca,” abdicando da língua materna do ensino na nossa Escola para refletir, nas sessões dos dias 4 e 7 de fevereiro, sobre este tópico que faz a atualidade em vastas áreas do nosso planeta. Incluindo a adoção de indumentária formal pelos participantes, os debates anteciparam a prática do ”Model United Nations” (MUN) com o objetivo de exercitar a língua inglesa, simular e experimentar sessões de reflexão estratégica e diplomacia antes da “macroconferência” a nível da cidade de Maputo (MAMUN). Como frisou o professor da disciplina, Abubacar Ibraimo, para além de promover o pensamento crítico e potenciar a expressão oral em língua inglesa, as atividades preliminares também serviram para treinar o diálogo e a interação pessoal, bem como para ensaiarem discussões e negociações sobre problemáticas da atualidade, tendo em conta a diversidade de opiniões e culturas.
4
cidadania
EPM-CELP elegeu deputados para a Sessão Nacional
A
em ambiente de sala de aula e na conferência que antecipou o MAMUM, promovida no Auditório Carlos Paredes. As comissões e delegações representativas da nossa Escola integraram os órgãos da Assembleia Geral e dos conselhos de Segurança e dos Direitos Humanos. Pelo menos nove alunos finalistas da EPM-CELP assumiram as lideranças das sessões de trabalho, baseando-se na experiência dos anos anteriores para cumprirem o protocolo regulador do funcionamento do MAMUN. Entre outros aspetos, a atmosfera entre os diplomatas ou juízes participantes do MAMUN é regulada por códigos de conduta que envolvem a norma culta da língua, o protocolo do vestuário, o cumprimento de horários, estabelecimento de quórum, formas de
pronunciação dos discursos e a tipologia das questões. Sandra Macedo, coordenadora do MUN na nossa Escola, no balanço da edição do MAMUN destacou a forte adesão dos alunos da EPM-CELP e a colaboração e acompanhamento da coordenadora pedagógica do ensino secundário, Ana Besteiro, bem como de Abubacar Ibraimo, professor de Inglês. Para a presidente da Associação de Estudantes da EPM-CELP, Aliyah Bhikha, a experiência foi muito boa porque revelou o interesse e entusiasmo dos alunos dos 10.º e 11.º anos, realçando a oportunidade para desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos no sentido de tentarem contribuir para a resolução dos grandes problemas com que se debate o mundo globalizado.
”Microconferência” peparou delegações e mobilizou competências para o MAMUN
A
“miniconferência” da “Model United Nations”, realizada a 12 de fevereiro último no Auditório Carlos Paredes, estimulou debates entre delegações representativas de diversos países, num ambiente simulado da ONU para preparar o MAMUN. Com criatividade e engenho, os mandatários demonstraram competências de investigação, seleção, tratamento e interpretação de informação, bem como de argumentação, fundamentação de ideias e construção de discurso confiante em público, ao lado da contra-argumentação e identificação de oportunidades de diálogo. O primeiro tema da sessão - “Globalização - o mundo em crise: imigração ilegal” , debatido por alunos do 11.º ano, problematizou o fenómeno da imigração ilegal nos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e noutros como a Finlândia, Suécia, Japão e EUA. A análise incidiu nos aspetos económico e sociocultural, sobretudo no que diz respeito à segurança. Os alunos do 10.º ano, por sua vez, debruçaram-se sobre o tema “Tecnologia: interrupção da vida humana - o aborto - problemas associados”, em representação de países como EUA, Espanha, Brasil, Irlanda, Suécia, Botswana, Argentina e Angola.
5
Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) foi selecionada, pelo círculo Fora da Europa, para a Sessão Nacional do Parlamento dos Jovens, em Lisboa, agendada para 6 e 7 de maio próximo, onde será representada pelos alunos-deputados Larissa Gil (8.ºA) e Luca Ambrosi (8.ºE), eleitos na Sessão Escolar realizada no passado dia 31 de janeiro. Na Assembleia da República de Portugal os dois deputados irão defender o Projeto de Recomendação da EPM-CELP, nascido do debate e negociação de ideias apresentadas a escrutínio e que contém as seguintes três medidas relacionadas com o tema “Salvar os Oceanos”, escolhido para a edição 2019 do Parlamento dos Jovens: “Colocação de redes ou grades nas valas de águas pluviais”, “Criação de um serviço público de limpeza de praias em parceria com o programa de acolhimento de refugiados” e “Celebridades ao Serviço da Limpeza dos Oceanos”. Nos debates internos, realizados em contexto de sala de aula no âmbito da Educação para Cidadania, os alunos discutiram e propuseram, ao nível das respetivas turmas, medidas para “Salvar os Oceanos”, seguindo-se debates informais que envolveram 108 alunos e 50 deputados eleitos à Sessão Escolar, dos quais foram escolhidos os representantes para a Sessão Nacional. Refira-se que o Parlamento dos Jovens é uma iniciativa da Assembleia da República de Portugal que leva a cabo debates à escala universal onde quer que se fale a língua portuguesa. Participam desta iniciativa as escolas portuguesas sediadas em Portugal, no círculo da Europa e no círculo Fora da Europa.
Edição n.º 108
rePOrtagem
Os segredos dos nossos c As vidas de três alunos da EPMCELP - Ana Beatriz Domingues, Melyssa Rocha e Hugo Dias - são receitas completas para quem se propuser ser versátil no mundo do sucesso, conciliando duas paixões: os estudos e o desporto. Com exigências distintas, eles obtêm bons resultados académicos e, simultâneamente, dão cartas ao mais alto nível no desporto. Em fevereiro, todos eles se sagraram campeões nacionais de Moçambique na natação, em representação do Clube Naval de Maputo. Qual o segredo do sucesso? O Pátio
REINALDO LUíS
A
na Beatriz Domingues, Melyssa Rocha e Hugo Dias mostram-se firmes nas suas escolhas e constroem as suas carreiras académica e desportiva com êxitos. Para eles, o segredo do duplo sucesso é a paixão, a competência e a constância. Mesmo que, para os mais céticos, este argumento não seja convincente, os factos confirmam que o trio é produto de uma relação afetuosa com os livros e a natação, misturada com dedicação e persistência. O envolvimento com a natação começa, em todos eles, na idade ainda tenra, ou seja, nos escalões iniciais de formação. Ana Beatriz Domingues, de 11 anos, a frequentar o quinto ano do ensino básico na EPM-CELP, começou a nadar aos sete
6
anos e só entrou para os ”federados” do Clube Naval de Maputo aos nove, em 2017, quando, segundo narrou, “já sentia que estava em condições de mostrar as minhas habilidades”. Para seu gáudio, logo em 2017, a atleta conquistou, para além de uma centena de medalhas e lugares destacáveis nos vários certames nacionais e internacionais, dois títulos de campeã nacional, de inverno e verão, em representação dos “navalistas”. Foi quando descobriu que, afinal de contas, o segredo está, também, na organização, trabalho árduo e confiança própria, que já lhe valeram três títulos de campeã nacional. Melyssa Rocha, aluna do sétimo ano do ensino básico, sagrou-se, igualmente, campeã nacional de infantis também pelo Clube Naval de Maputo. Aos 12 anos, a sua carreira é uma narrativa que recua ao ano de 2009, quando tinha apenas dois e começou a dar as primeiras braçadas numa pis-
rePOrtagem
ampeões cina residencial, com auxílio da sua treinadora. O seu intuito não era ser federada, mas o tempo deu-lhe ambições e a treinadora competências técnicas para superar todos os desafios e concorrentes: “ela ajudou-me bastante na evolução até me tornar na nadadora que sou hoje”, contou a aluna, orgulhosa das suas conquistas. Em 2013, ainda com a mesma treinadora, Melyssa entrou para o Clube Naval de Maputo, onde só se tornou federada um ano depois, aos sete de idade. Porém, nem sempre a sua relação com a natação foi saudável. No ano passado, a atleta pensou em desistir, tudo porque, segundo contou, “já estava cansada de acordar cedo, ter múltiplas atividades diárias e ter que ser bem-sucedida em todas. Mas a minha treinadora falou comigo e convenceu-me a continuar, sob a promessa de ajudar a ser a melhor”, revelou, explicando que já está convecida de que nasceu para nadar.
Conciliar a vida académica com a natação é para Melyssa Rocha um atestado de amor, organização e persistência. “É complicado. Por exemplo, tenho tido treinos diários todas as manhãs. À tarde vou à escola e regresso de novo à água para treinar”, disse, revelando que para assimilar as matérias da escola aproveita os intervalos dos treinos para estudar. Quando viaja para competir, durante os períodos letivos, pede os apontamentos aos colegas da turma para, posteriormente, os estudar em tempo recorde, com a ajuda de uma explicadora contratada para o efeito. Recentemente, Melyssa Rocha acaba de amealhar mais um troféu ao vencer o campeonato nacional, deixando para trás atletas do Clube Desportos Tubarões de Maputo e do Clube de Natação Golfinhos de Maputo. Hugo Dias é único rapaz deste trio de campeões, mas a sua vida não difere das suas colegas “epmianas” campeãs. É finalista do ensino secundário, frequentando o 12.º ano, e a sua relação com a natação começou de forma tímida, impulsionado pelos amigos e familiares. “Sempre tive aquele dom, tanto é que insistentemente as pessoas me aconselhavam a nadar. Mas o problema é que eu não queria. Aos nove anos
7
de idade, decidi, então, ouvir a minha mãe e treinar no Clube Golfinhos de Maputo, onde aprendi a nadar em duas semanas. Gostei e nunca mais parei, mesmo sem saber no que daria”, contou o aluno. A partir daí, a vida de Hugo Dias experimentou outros sentidos: sacrifícios e vitórias, que o motivaram a trabalhar até se tornar, na época 2017/2018, num nadador completo. No rol das conquistas, consta a sua primeira medalha, de bronze, aos 10 anos; aos 13 e 14 as primeiras internacionais, de bronze e ouro, respetivamente, na África do Sul. Como campeão nacional estreou-se aos 14 anos, seguido pelos dois títulos nacionais consecutivos aos 17 e aos 18 anos, este último em fevereiro passado. Embora tenha começado a sua carreira nos “golfinhos”, Hugo acredita que, uma vez preparado, o atleta é quem decide o percurso da sua história. Hoje é campeão nacional pelo Clube Naval de Maputo, onde treina desde 2018, mas o futuro é incerto: até setembro próximo estará a estudar e a residir em Portugal, onde iniciará uma nova etapa na sua vida. NA PRóxIMA PÁGINA, REVELAÇõES DOS CAMPEõES SOBRE OS SEGREDOS DO SUCESSO
»»»»
Edição n.º 108
rePOrtagem
> Vozes de campeões desenham caminhos do sucesso
Ana Beatriz Domingues
Melyssa Rocha
Hugo Dias
11 anos
12 anos
18 anos
”P
”A
”N
ara mim, o segredo está na organização e no trabalho árduo. É a terceira vez que me tornei campeã nacional de natação no escalão de iniciados femininos, o significa que me esforcei bastante para tal. Não brinco nos treinos nem na escola. Tenho tido tempo para estudar e para treinar, tanto é que me dedico às duas coisas com a mesma prioridade e paixão. Hoje não vejo como me separar nem da natação nem tão pouco enfraquecer o meu aproveitamento escolar, pois o sucesso dos dois depende muito da minha capacidade de organização e trabalho. A natação tem-me ajudado em diversos momentos na escola. Por exemplo, quando há desafios na sala de aulas, uso a técnica da natação para me concentrar e enfrentá-los sem medo. Aliada às aprendizagens, a natação ajuda a relaxar. Quero continuar a praticá-la, mas também gostaria de seguir outros desafios. Quando terminar o ensino secundário, quero fazer Economia ou Contabilidade. A razão é a matemática. Gosto tanto da disciplina que acho que posso conciliá-la muito bem com a minha carreira de nadadora.”
Nuno Domingues (pai)
”C
ortar no que o miúdo mais gosta quando há uma recaída de notas escolares é a coisa mais fácil que um encarregado de educação pode fazer. Sou contra essa atitude. A natação, mais do que atividades de complemento curricular, ajuda na definição de metas. O que deve haver é alguma disciplina. É preciso saber que há escola e, no fim, há natação. Saber que uma vez ou outra não vai poder ir a uma festa porque tem compromissos. A Ana Beatriz começou a nadar aos sete anos de idade e sempre manteve a responsabilidade nas escolhas que fez, mesmo quando passou a ser federada, focando-se nos seus objetivos, sem nada prejudicar. Comparticipamos na defesa do que ela mais ama. Nunca foi preciso afastá-la da natação pois percebemos que, a graças a essa atividade, ela encara os desafios escolares de outra forma. É um orgulho.”
O Pátio
natação é tudo para mim. Sou uma atleta preguiçosa, mas a verdade é que não consigo ficar muito tempo sem treinar. Quando, em fevereiro deste ano, me lesionei no braço, o que mais me preocupava era o meu rendimento desportivo. Fiquei sem treinar durante um período, uma situação que me deixou muito embaraçada. Aconteceu num período proibitivo: nas vésperas do Campeonato Nacional de Natação. Mas, mesmo sem ter treinado, consegui superar os desafios. Acho, por isso, que devemos sempre dar o nosso máximo para a nossa própria superação. O mesmo se passa para compatibilizar a escola e a natação. Não devemos abandonar os treinos por causa da escola e nem sacrificar a escola por causa dos treinos. O segredo é o amor, a organização e a persistência. Certamente que tanto a escola como a natação vão exigir, a cada ano, um pouco mais de mim, mas tanbém aumentam as competências e a responsabilidade. Sonho e pretendo nadar até o meu último suspiro. Almejo estar nos Jogos Olímpicos e, talvez, vencer. Na academia, ainda estou dividida entre o Direito e as Ciências Naturais.”
Paula Duarte rocha (mãe)
”A
Melyssa tem um aproveitamento escolar excelente. Não podia estar mais satisfeita. Nem sempre é fácil conciliar a natação e a Escola e deixo sempre ao critério dela decidir o que é prioritário. A Escola é a prioridade para a Melyssa, mas, ao mesmo tempo, tem um sentido de pertença a uma equipa desportiva. Ela tem objetivos definidos e sabe que precisa de treinar para atingir melhores resultados na natação. Para nós, pais, é impressionante como a Melyssa, sozinha, define os próprios objetivos de treino e de estudo. Mas também adora dançar, pratica ginástica acrobática e badminton na escola e, ao fim de semana, faz equitação. A minha ajuda é no transporte, pois ela decide tudo o resto. A receita é: amor incondicional e deixá-la experimentar tudo aquilo que está ao seu alcance.”
8
ão vou dizer que é fácil ser atleta e estudante. É muito difícil. Acordar às cinco horas, ir à escola, voltar a treinar e mesmo assim ter tempo para estudar, não é para muitos. Desde os nove anos tive de me adaptar, arranjar tempo e ser muito organizado. O primeiro segredo é nunca procrastinar. Saber dividir as tarefas é importante: se é hora de estudar é hora de estudar, se é hora de nadar é hora de nadar. Outro mistério é a dedicação. Eu sempre fui aquele que durante o treino diz: se ele é melhor, eu tenho que ser melhor que ele. O objetivo máximo da minha carreira, na natação, são os Jogos Olímpicos de 2024, a serem realizados na cidade de Paris. Acho que sou capaz, vou conseguir. Academicamente, ainda estou indeciso no curso, mas estou a pensar na Gestão Informática e Gestão Financeira, em duas universidades em Portugal.”
Feliciano Dias (pai)
O
Hugo é um menino muito responsável e ele sabe quais são as suas prioridades. Eu sou apologista de que toda a criança deve fazer desporto para além da escola. O desempenho do Hugo é bom, com tendência a melhorar e ele tem grande capacidade. Noto, no Hugo, a entrega e dedicação que ele tem nas suas atividades diárias. É um menino muito determinado e sempre quer o melhor em cada desafio. Ele sabe que se alguma coisa não corre bem, estão os pais para apoiar a recomeçar de novo. Felizmente ainda não foi necessário tirar-lhe algum objeto. A sua dedicação no desporto exige muitos sacrifícios, tais como não perder noites em festas, deitar-se cedo e ter os fins de semana dedicados à competição. Acho, por isso, que ele é feliz porque faz tudo sempre com muita dedicação e espírito de sacrifício. Fica triste quando não consegue alcançar os objetivos que traçou, mas tem sempre o apoio dos pais, da treinadora e dos professores.”
entrevista
ALIyAH BHIkHA
Presidente da Associação de Estudantes da EPM-CELP
“Só se nos deixarem cometer erros é que vamos progredir” No último dos 12 anos de permanência na EPM-CELP, Aliyah Bhikha foi eleita presidente da Associação de Estudantes para um mandato que termina no final deste ano letivo. A partir da sua longa experiência como aluna, defende maior protagonismo e autonomia dos estudantes nas decisões que afetam a comunidade educativa e o direito ao erro para a efetivação de um contribuição estudantil mais eficaz no desenho das dinâmicas escolares.
Entrevista conduzida por FULGÊNCIO SAMO e REINALDO LUíS
Por que razão te candidataste a ser presidente da associação dos estudantes? Candidatei-me porque pensei que podia fazer a diferença na escola. Gosto sempre de tentar contribuir, organizar e participar nas atividades escolares. Considerei que podia mudar alguma coisa. Que aspetos consideras importantes para uma associação estudantil numa escola como a ePm-ceLP?
Para a Associação funcionar de maneira eficiente é preciso que os estudantes tenham autonomia e consciência de que eles têm uma voz através de nós. Podem sempre recorrer à Associação e esta, por sua vez, pode recorrer à Direção e, assim juntos, podemos tentar resolver os problemas ou fazer algo diferente para inovar a escola. como percebes a postura da escola neste movimento de consciencialização relativamente à visão e aspirações dos estudantes? A escola ajuda-nos, mas é necessário que os estudantes sejam líderes, como acontece nas escolas ao nosso redor, nas quais várias iniciativas são totalmente coordena-
9
das por estudantes, com alguma supervisão dos professores. É preciso nós começarmos a liderar os nossos colegas sem necessidade de ter alguém a ver todos os passos que damos numa perspetiva minuciosa. Precisamos apenas de alguém que verifique no plano geral e não no particular. como associação de estudantes, qual o vosso grau de envolvimento nas decisões da ePm-ceLP? É nulo, sinto que ainda não temos muito voto no que está a acontecer na EPMCELP. Os professores deviam recorrer a nós para ajudarmos nas atividades. Trata»»»»
Edição n.º 108
entrevista
»»»» se de nos entregarem algo para sermos nós a trabalhar autonomamente e tomar as decisões necessárias sobre a forma de dirigir algo. Embora sejamos alunos, a maior parte de nós está na Associação porque quer aprender. Só se nos deixarem cometer erros é que vamos progredir e ganhar experiência, tanto na liderança como nos projetos da comunidade. como organismo oficialmente constituído, de que modo contam ser mais interventivos? Passa por um trabalho não só da Associação, mas de todos os estudantes. Para percebermos que é importante o que realmente queremos precisamos de conversar sobre o que está a acontecer e que está mal para nós. É assim que a mudança começa, tomando consciência do que conseguimos fazer. Precisamos de ter ajuda no sentido de aprendermos a pensar criticamente e a tomar as nossas próprias decisões e não no sentido de nos dizerem o que fazer.
“É assim que a mudança começa, tomando consciência do que conseguimos fazer. Precisamos de ter ajuda no sentido de aprendermos a pensar criticamente e a tomar as nossas próprias decisões e não no sentido de nos dizerem o que fazer.”
Quais as vantagens e desvantagens da duração de um ano de mandato dos órgãos sociais da associação de estudantes? O facto de ser apenas um ano é muito bom porque mais estudantes conseguem fazer parte da AE, havendo mais gente a passar pela experiência e também a perceber melhor como é que funciona uma associação de estudantes e como podemos ajudar todos os alunos. em termos de projecto e de cumprimento de objetivos é tempo suficiente? Os objetivos para este ano de mandato não foram estabelecidos a longo prazo, mas sim com metas específicas e de fácil implementação. Conseguimos cumprir mais de metade do que planeámos fazer, portanto, está a correr bem com o tempo que dispomos. Que valor tem para o teu futuro a experiência de dirigir a associação de estudantes? Estou a gostar imenso e está a ser uma ótima experiência para mim. Nunca tinha pensado no que poderia beneficiar no futuro. Participei porque vi um desafio e uma nova oportunidade que me pareceu muito importante. Qual a marca da vossa gestão? e porquê? Durante a campanha, o nosso lema foi a inclusão, a participação e a cooperação. São os três pilares da nossa intervenção na AE: queremos que toda a gente se sinta incluída e que participe e ainda, acima de tudo, queremos a cooperação entre os alunos e o corpo administrativo da escola. Portanto, a
O Pátio
nossa gestão é feita para conciliar as vontades de todos, tentando chegar a um meiotermo e encontrar um ponto comum para satisfazer as necessidades tanto dos estudantes como dos professores e da própria Direção. estreitaram, logo no início do vosso mandato, uma parceria de trabalho com a associação de Pais e encarregados de educação. Que resultados alcançaram nesta relação? A relação entre as duas associações é bastante boa. A Associação de Pais mostrouse sempre muito pronta para ajudar e isso foi muito bom no início do nosso mandato, porque deixa-nos mais tranquilos quanto a conseguirmos alcançar todos os nossos objetivos para este ano. Disseram-nos desde o início que nos iriam ajudar e apoiar. Temos uma boa ligação e tem sido bom trabalhar com os pais. Que desafios maiores a ePm-ceLP coloca aos seus estudantes? Estar aqui durante 12 anos, que é o meu caso. Foi bom, se voltasse atrás escolhia 10
outra vez esta escola e não mudava nada na minha experiência até agora. Os desafios que me foram apresentados até agora fizeram-me crescer. Sempre tive professores que me desafiassem e fizessem pensar de maneira diferente nos problemas ou questões do mundo. Incentivaram a tornar-me alguém melhor e a fazer mais pela minha comunidade. Acho que a EPM-CELP tem um bom espírito de comunidade e é uma escola acolhedora, na sua imensa diversidade. como caracterizas o ambiente da escola na relação entre alunos e professores? Há uma boa relação entre professores e alunos. Como a maior parte dos professores e dos alunos está na escola há muito tempo, acabamos por ter uma relação não só profissional, mas também de amizade, o que torna melhor e mais fácil o ambiente de estudo e faz da escola um sítio onde queremos estar. como presidente da associação de estudantes, que mudarias nos programas e currículos? O nosso currículo devia ser um pouco mais aberto e não tão centrado nas aulas e nas
entrevista
do ano letivo, cumprir tudo o que planeámos. No início do ano começámos com os clubes e já temos o jornal “O Pavão”. O Clube de Debate funcionou de maneira diferente, concretamente através do MUN que foi, indiretamente, um clube de debate. Tivemos um dia temático que foi o do combate ao cancro da mama, com palestras e toda a gente a vir para a escola vestida de rosa. Também tivemos a recolha de donativos para a Escolinha Solidária, bem como uma parceria com a MozMbilo, fundada por um antigo aluno da nossa Escola, com quem planeámos uma horta solidária que levaria os nossos estudantes a um orfanato onde ajudariam a plantar vegetais e flores. Também organizámos o dia de São Valentim, que foi um grande êxito pois os alunos participaram ativamente. Que dificuldades enfrentaram no cumprimento do vosso programa? A AE tem de pensar nas necessidades dos alunos de todas as idades da nossa Escola. São dinâmicas diversas e muito diferentes de acordo com a idade. Lidar com motivações e frustrações de todos é, por vezes, complicado. Mas, acho que tem corrido bem e convencemos os estudantes de que nós somos a voz deles e podem sempre contar connosco.
matérias. Sinto que o currículo português prioriza muito o estudo. O estudo é importante, mas o desenvolvimento pessoal e interpessoal também é. Queremos fazer atividades diferentes, mas quando chegamos ao ensino secundário sentimos um peso enorme da carga horária e do estudo. Então, tem de ser feito um trabalho conjunto entre os órgãos responsáveis para não termos um ensino tão denso como o de agora. Defendo um ensino através do qual consigamos trabalhar os pontos principais do programa obrigatório, mas também que nos apercebamos que não são só os estudos que nos levarão mais longe pois há um conjunto de outras atividades que nos permitem vir a ser bons profissionais no futuro. estamos já, praticamente, no fim do ano letivo. Qual é autoavaliação que fazem deste mandato? É uma avaliação positiva. Já cumprimos mais de 75 por cento das atividades planeadas. E ainda dispomos da parte final deste segundo período e o próximo e último. A este ritmo conseguiremos, até final
como é vivida a multiculturalidade entre os aluno no espaço social da escola? A multiculturalidade é bem encarada na escola. Não nos faz confusão estarmos sentados ao lado de um aluno que é diferente de nós. É uma convivência que nos permite ganhar mais tolerância para com outras culturas e percebermos, no final, que somos todos alunos que queremos estar uns com os outros e divertirmo-nos. Não há muito que nos separe, portanto, conviver num ambiente multicultural como o nosso é algo que nos ajuda no futuro, porque nos deixa com um sentimento de respeito por todos. Que experiências se vivem numa escola integrada, com alunos dos três aos 18 anos? As crianças é que dão alegria à vida. Então, entrar na escola e ouvir o barulho das crianças a rirem e a correrem, embora por vezes possa incomodar, sobretudo quando estamos a ter aulas, é bom, transmite vibração positiva e constrói um ambiente mais feliz. como um jovem gere a sua privacidade num espaço público como é o nosso ambuente escolar? Havendo crianças na nossa Escola temos de ser responsáveis, porque elas olham para nós como os mais velhos, como modelos para o seu futuro. Temos 11
Aliyah Bhikha IDADE 17 NATURALIDADE Moçambique INTERESSES Livros e política GÉNERO LITERÁRIO Biografias
a responsabilidade de ser bons estudantes e boas pessoas para mostrar o certo às crianças. Que legado vai esta ae deixar aos próximos dirigentes? Gerimos a Associação de Estudantes inspirados nas ideias de inclusão, cooperação e participação, tentando sempre o entendimento e a união entre todos. É sempre muito bom trabalhar com os meus colegas da Associação de Estudantes. Queremos que os nossos colegas olhem para o lema que definimos para este ano e continuem a trabalhar para um ambiente de comunidade e de interajuda. Qual foi a experiência mais marcante do mandato desta ae? Acho que foi quando fizemos a campanha de recolha de donativos. Nessa altura a escola mostrou que está disposta a ajudar toda a gente pois tivemos imensos apoios. Houve turmas que foram para além do esperado e foi bonito ver a escola toda unida pela mesma causa. Há alguma mensagem importante que queiras deixar? Como AE é importante fazermos um trabalho de grupo orientado para os mesmos objetivos. Cada um de nós traz algo de diferente, traz uma ideia nova, e a união que temos este ano é algo que nos permite trabalhar bem e fazer mais atividades durante o ano letivo. Edição n.º 108
Iniciativa que e
horta que al As turmas A e B do pré-escolar da EPM-CELP abraçaram, no início do corrente ano letivo, novos meios de aprendizagem: revirar a terra, plantar, irrigar e proteger o pedaço da “gula” das tartarugas. Desde outubro de 2018, a “machamba pedagógica”, criada por 40 petizes, é parte da rotina escolar e motivo de esperança, ânimo e aprendizagens múltiplas na pequena comunidade ”agrícola”. O Pátio
REINALDO LUíS
E
m cinco metros quadrados de dimensão do espaço, a variedade de produtos e a organização impressiona. Há estacas que protegem a área das tartarugas, umas espigas de milho no interior, quatro ou cinco mandioqueiras, alface, abóbora, amendoim, tomate e cenoura. Na sala de aulas a esperança é grande: todos esperam pela colheita, para, segundo confessam, saborearem os frutos do seu trabalho no campo. A horta visa, sobretudo, fomentar nas crianças o interesse pela natureza e seus produtos, dotando-os de experiências práticas sobre o processo de crescimento das plantas, tal como teoricamente aprendem
12
na sala de aula. De acordo com as professoras responsáveis pela iniciativa, Ana Isabel Carvalho e Teresa Barata, o projeto surgiu também para que os petizes “tivessem a consciência de que é preciso cuidar, dar tempo para crescer. É preciso ter paciência, saber esperar e depois colher o fruto. E essa aprendizagem aplica-se igualmente às nossas vidas. Nem tudo dá frutos imediatos”, explicaram. A seleção das hortícolas obedeceu aos resultados da investigação e estudo de viabilidade, desenvolvidos em contexto de sala de aula a partir de histórias que falam de machambas, hortas, canções sobre alimentos e visita de reconhecimento a uma quinta hortense pertencente a avó de uma aluna do grupo. “Quando fomos à quinta, percebemos melhor o processo de plantação, trouxemos couve e abóbora que usámos para fazer uma sopa e, depois, ainda aproveitámos as sementes para a nossa ma-
educa,
rePOrtagem
A inspiração do coelho machambeiro Na senda da produção desta reportagem, o “O Pátio” manifestou junto da coordenação do pré-escolar o interesse em contactar dois representantes – um de cada turma – para falarem da iniciativa e do seu envolvimento na criação da horta. Gentilmente, o pedido foi aceite. A grande novidade foi os representantes terem sido escolhidos democraticamente na sala de aula por todos os alunos envolvidos. Das eleições saíram Mariana Miranda Silva, do “Pré A”, e Chanel Tatiana Gomes da Silva, do “Pré B”, que, a seguir, explicam o processo. Extrovertida e cheia de coisas para contar, Chanel Tatiana Gomes da Silva contou que “nós primeiro ouvimos a história de um coelho que tinha uma horta. E depois todos pensamos que tínhamos que ter uma horta. Então, decidimos plantar uma horta. Fizemos milho, abóbora, amendoim, mandioca, tomate, alface e cenoura, tudo o que o coelho tinha na machamba dele”. Em todo o trabalho, a petiz revelou que gostou mais de plantar cenouras, que tanto espera para colher. Mariana Miranda Silva, por sua vez, admitiu ter-se divertido na criação da horta, sublinhando que “gostei mais de plantar o milho”. Para a petiz, o processo de criação da horta começou na sala de aulas com a seleção e plantação de viveiros. “Primeiro preparámos na sala de aulas os potes que depois foram transportados para terra, onde as plantas já estão a acrescer. E regamos continuamente”, disse Mariana, para quem, depois da colheita, o milho servirá de banquete para todos os alunos da sua turma.
limenta! chamba”, explicaram Ana Isabel Carvalho e Teresa Barata sobre a origem motivacional da horta pedagógica. Embora o projeto hortícola tenha sido pensado e executado pelos pequenos alunos, teve também o envolvimento dos respetivos pais e encarregados de educação, que ajudaram, por exemplo, na montagem da vedação do espaço selecionado para a machamba. Assim, desafiados a mostrarem engenho e criatividade, os “ajudantes” transformaram uma árvore de natal antiga, de anos anteriores, em cancelas de proteção da plantação das tartarugas que coabitam naquela zona da Escola. "É emocionante ver no que uma iniciativa de crianças se tornou. Tudo começou com a história de um coelho que tinha uma machamba e hoje, volvidos cinco meses, os personagens da história somos nós. Temos tudo o que, teoricamente, só existia na machamba daquele coelho. Temos es-
pigas de milho no interior, mandioqueiras, alface, abóbora, amendoim, tomate e cenoura”, referiram as educadoras das turmas A e B. Desde o plano à prática do projeto pedagógico, os petizes mostraram, desde o princípio, o seu comprometimento afetivo e emocional com a ideia e, ávidos, hoje esperam pelos resultados da iniciativa em curso. O milho cresceu; o amendoim, condicionado pelos efeitos nefastos do ar quente expelido pelos aparelhos de ar condicionado instalados nas imediações, resiste e regenera-se a cada dia; as cenouras, a alface e o tomate mantêm, igualmente, um ritmo de crescimento sustentável. A rotina de cuidar da machamba está criada e as tarefas divididas por todos os protagonistas envolvidos. Todos os dias, no período da manhã, são escalados os alunos para os afazeres diários na horta: a sondagem do espaço é feita de manhã e a necessária ir-
13
rigação distribui-se pelos períodos da manhã e da tarde. De acordo com as professoras animadoras do projeto, a escolha do milho, mandioca, alface, abóbora, amendoim, tomate e cenoura teve em mente valorizar a dieta alimentar moçambicana. E sustentam: “decidimos que tínhamos de fazer uma machamba africana, para que os nossos pequenos agricultores percebessem como, por exemplo, surgem na rua o que por lá compramos. Neste conjunto de produtos, o amendoim é a grande novidade para os nossos alunos”. Vencidos quase todos os problemas associados à plantação, irrigação e proteção dos produtos na pequena machamba, o grupo de alunos enfrenta outro desafio, que se vai estender até à altura da colheita: o combate às ervas daninhas. Porém, os machambeiros estão cientes dos perigos e a envidar esforços para colmatar o problema.
Edição n.º 108
Capulejo Ao apelo da ”Ação Escola SOS Azulejo 2019” a EPM-CELP respondeu, pela primeira vez em Moçambique, com a criação genuína do capulejo, que junta o azulejo português e a capulana moçambicana. O capulejo é resultado de uma aventura de descoberta, exploração, estudo, liberdade e criatividade em torno do azulejo feita por alunos do sexto ano do ensino básico que os levou da observação ao vivo e registada do património azulejar em Maputo e Gaza até à pintura dos seus próprios azulejos, aliás capulejos, passando pelo estudo intermédio do padrão na sala de aula e exposição de trabalhos. Agora, o próximo passo é a montagem do painel de capulejos no Camões - Centro Cultural Português em Maputo.
A
oportunidade fez o inventor do capulejo, uma criação genuína da EPMCELP. Era necessário salvar o azulejo português, ou seja, a sua cultura e património peculiares à escala internacional. O apelo lançado pelo projeto ”Ação Escola SOS Azulejo” foi oportunidade agarrada pela nossa Escola que, pioneira em Moçambique, inventou o capulejo. Sara Teixeira, professora de Educação Visual, foi a impulsionadora da aventura. O capulejo mais não é do que o resultado do exercício da liberdade e criatividade proposto aos alunos, que foi para além do estudo e da preservação da cultura azulejar portuguesa. Num exercício simples, bastou juntar a base, ou seja, o azulejo português, ao desenho inspirado na capulana moçambicana. Desta forma, se aprende e reinventa o mundo através da mistura e fusão de elementos de duas culturas vocacionadas para a convivência mútua por via de um passado comum secular. É longo o percurso da história do nascimento do capulejo, após a adesão ao projeto ”Ação Escola SOS Azulejo”. Começou na festa de aniversário do 19.º aniversário da EPM-CELP, durante a qual estamparamse ”t-shirts” com imagens de azulejos que decoram as paredes da nossa Escola. Depois, no âmbito das aulas de Educação Visual, algumas turmas do sexto ano do ensino básico dedicaram-se à observação e levantamento anotado do património azulejar das províncias de Maputo e de Gaza, incluindo menções ao seu estado de conservação. Uma iniciativa que juntou as disciplinas de Educação Visual e de História e Geografia de Portugal, os encarregados de educação dos alunos envolvidos, e resultou numa exposição dos resultados da pesquisa, em formato
texto e imagem, para dar a conhecer à comunidade escolar. Cumprida a etapa fundamental do projeto ”Ação Escola SOS Azulejo”, Sara Teixeira quis ir mais longe, ensaiando a fusão do azulejo português e da capulana moçambicana em exercício de convivência cultural livre e criativa. Foi assim que algumas aulas de Educação Visual foram dedicadas à criação de módulos-padrão decorativos, um por aluno, tendo como inspiração a capulana moçambicana e como recursos a liberdade e criatividade individuais. Também estes resultados foram expostos no átrio central da nossa Escola para fruição coletiva. Munidos dos seus módulos-padrão decorativos os alunos envolveram-se, de seguida, numa oficina de construção dos capulejos, orientada pela ceramista portuguesa Teresa Rodrigues, também restauradora dos painéis de azulejos da EPM-CELP numa intervenção ocorrida no final de 2017. Foi, assim, nesta oficina que se deu corpo e alma ao capulejo, uma criação genuína coletiva e individual que decorre da atividade curricular contextualizada e articulada com saberes e competências de distintas e várias origens. Para fixar os resultados do trabalho criativo dos alunos, os capulejos foram, posteriormente, submetidos aos processos de cozedura e vitrificação cerâmica para consolidação e conservação dos desenhos decorativos, ficando, assim, prontos para uma utilização já desenhada ou que venha a ser definida. A coleção de capulejos já atraiu a atenção do Camões - Centro Cultural Português em Maputo que, em maio próximo, acolherá um painel expositivo que ali se manterá até às comemorações do Dia de Portugal, após o que será montado na nossa Escola.
14
criação da epm-celp
O CAPULEJO MOÇAMBICANÊS
Eu sou um capulejo E sou moçambicanês Filho de mãe moçambicana E de pai português Tenho pele branca E alma colorida Nascido em Moçambique Foi aqui que ganhei vida Em argila fui moldado E de vidro revestido Fico bem em todo o lado De capulana vestido
Impressão manual do desenho no capulejo após estudo e criação do tema em sala de aula
Sozinho chamam-me módulo E em conjunto, padrão Formamos um painel de capulejos E vivemos em união Fui criado por crianças De grande imaginação Desenhado com carinho E pintado com o coração Estou feliz por existir E viajar é o meu desejo E a todos devo dizer Que surgi do azulejo Sara Teixeira
A ”mãe” do capulejo em plena ação com os alunos criadores
cOOPeraçãO
“Mabuko Ya Hina” sustenta magia dos livros Dinamização de um banco de livros e manuais escolares, formação de professores e técnicos bibliotecários, reorganização de bibliotecas escolares e mobilização de apoios sustentadores da abertura de novas unidades foram os principais esforços desenvolvidos pelo projeto ”Mabuko ya Hina” nos dois primeiros meses de 2019 junto de escolas moçambicanas. Iniciativas que elevam o livro e a leitura à condição de promotores sonhos de professores e alunos. Banco do Livro para todos
D
ecorrida uma semana após o início do ano letivo em Moçambique, no início de fevereiro, o ”Mabuko Ya Hina” abriu o Banco do Livro para promover a reutilização de livros e manuais escolares nos estabelecimentos de ensino integrados no projeto. A iniciativa teve como objetivo apoiar alunos e professores de escolas moçambicanas de forma a reduzir os encargos financeiros das famílias com a aquisição de livros e manuais escolares para os seus educandos. De acordo com a coordenadora do projeto “Mabuko Ya Hina”, Ana Albasini, as publicações escolares disponíveis no “Banco do Livro” não se destinaram às bibliotecas pois “elas já recebem de outras fontes. O que se pretende com esta ação é que os livros de literatura infantojuvenil, as enciclopédias e atlas, entre outros, sejam de consulta e de leitura sugestiva entre os diretos beneficiários”, explicou. Formação em “gestão e dinamização de bibliotecas escolares”
E
m fevereiro, professores e técnicos bibliotecários de escolas moçambicanas com bibliotecas que integram o projeto “Mabuko Ya Hina” beneficiaram de uma formação em matéria de “Gestão e Dinamização de Bibliotecas Escolares”. Em 14 horas de formação, os participantes foram dotados de conhecimentos estratégicos e técnicos sobre o funcionamento de uma biblioteca escolar, catalogação do acervo bibliográfico
O Pátio
e dinamização de atividades diversas internas, entre outros pontos que permitem maior autonomia, criatividade e flexibilidade na representação e gestão da informação e do conhecimento nas bibliotecas. As quatro sessões, com a duração de três horas cada, proporcionaram, para além de saberes diversos, momentos de troca de experiência e a respetiva contextualização da realidade que se vive no terreno. Os formandos avaliaram positivamente o módulo de formação e apresentaram propostas desafiadoras, sublinhando que a formação permitiu a atualização e aperfeiçoamento de competências dos bibliotecários. Ana Albasini, coordenadora do ”Mabuko Ya Hina”, avançou que os objetivos da formação foram atingidos, traduzidos pela demonstração de interesse pelos conteúdos por parte dos formandos que participaram com empenho nas tarefas. reorganização de bibliotecas escolares
N
a sequência do plano de reorganização de bibliotecas escolares, o projeto "Mabuko Ya Hina" terminou, em fevereiro, a sua intervenção nas Escolas Primárias Completas Polana Caniço A e Maguiguana e na Escola Secundária Estrela Vermelha, cujas obras tiveram intervenção a nível estrutural, designadamente, a reabilitação do espaço físico, pinturas de paredes e estantes. Na senda, a EPM-CELP confecionou e ofertou cortinas para as bibliotecas da EPC Polana Caniço A e da ES Estrela Vermelha, de modo a ofercer mais conforto a todos os
16
seus utentes, bem como procedeu à revisão do acervo bibliográfico e à catalogação de novos livros. A biblioteca da ES Estrela Vermelha beneficiou, igualmente, de dois computadores oferecidos pelo BCI, estando em curso a remodelação a remodelação da biblioteca da EPC/ES do Triunfo. visita à Fundação José craveirinha
C
om o objetivo de envolver e preparar a família Craveirinha na inauguração, agendada para 13 de março, da Biblioteca Escolar Poeta José Craveirinha da Escola Secundária Estrela Vermelha (ESEV), as docentes da EPM-CELP, Ana Albasini e Isabel Mota, e o diretor da ESEV, Gilberto Reis, acompanhado por um grupo de professores da sua própria escola, visitaram a Fundação José Craveirinha, onde foram recebidos por Zeca Craveirinha, filho do poeta. No âmbito da cooperação portuguesa, a EPM-CELP, através do projeto "Mabuko Ya Hina" e do Programa de Educação para o Voluntariado, tem vindo a intervir na biblioteca da ESEV, reabilitando o espaço e catalogando todo o acervo bibliográfico. “Zeca” Craveirinha recebeu os visitantes de forma calorosa, apresentando todos os compartimentos da casa onde viveu José Craveirinha entre 1976 e 2003. Oportunidade, ainda, para a equipa do ”Mabuko Ya Hina” conhecer os locais da casa onde o poeta costumava escrever e o magnífico espólio de livros e de peças de arte do património da Fundação José Craveirinha.
FOrmaçãO
Superar a discalculia na sala de aula
A
ação de formação “Estratégias de superação de dificuldades em alunos com discalculia”, ministrada pela psicóloga Lília Marcelino, diretora do Núcleo da Discalculia e investigadora no Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento da Universidade Lusófona (Portugal), entre 21 e 26 de janeiro, atraiu educadores de infância, docentes do primeiro ciclo do ensino básico e de Matemática e de Ciências da Natureza do segundo ciclo, técnicos do Serviço de Psicologia e Orientação e professores do Departamento de Educação Especial da nossa Escola para a exploração de soluções para enfrentar problemas discalculia em contexto de sala de aulas. Em seis dias de formação, para além de explicações sobre a discalculia – causas, características, sintomas, tipos e consequências –, aos formandos foram transmitidos conhecimentos práticos e fornecidas ferramentas de trabalho, como as cartas numéricas, o jogo das imagens, o ábaco e as cartas abstratas, entre outras, que visam melhorar a prestação dos alunos nos cálculos mentais. A formadora Lília Marcelino esclareceu que as sessões da ação de formação consistiram, basicamente, em aprender a trabalhar o cálculo mental com crianças com discalculia, especialmente, sublinhando que “há um método, desenvolvido por uma professora alemã, que permite trabalhar essas dificuldades no cálculo. E porquê o cálculo? É que ele acaba por condicionar todas as aprendizagens dos alunos, uma vez que tudo parte do cálculo, da aritmética”, afirmou à nossa reportagem a formadora. Um dos sinais evidentes nas crianças discalcúlicas manifesta-se nas operações visuais, ou seja, não conseguem, mentalmente, criar números dentro de outros, por isso “precisamos recorrer a algo concreto para trabalhar e é através de imagens”, precisando que “para ajudar uma criança que não consegue distinguir o 13 do 31 pode usar-se o ábaco, uma vez que o número das dezenas e das unidades pode ser facilmente diferenciado”, concluiu Lília Marcelino.
Ariana Cosme desafiou professores para o Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular
I
nclusão, comunicação, pensamento crítico, individualização, autonomia, colaboração, inovação e criatividade são, entre outros, conceitos inspiradores de práticas de aprendizagens em contexto de sala de aula que colocam aluno e professor na rota da descoberta de saberes e competências. Estiveram presentes na ação de formação “Autonomia e Flexibilidade Curricular como oportunidade de construção de uma Escola mais inclusiva”, realizada entre 5 e 9 de fevereiro, juntando dirigentes, professores e encarregados de educação da EPM-CELP, dinamizada pela professora e investigadora portuguesa Ariana Cosme, da Universidade do Porto (UP), de Portugal. Na sessão reservada aos diretores de turma dos segundo e terceiro ciclos do ensino básico e do ensino secundário, Ariana Cosme afirmou que é preciso uma readaptação às novas exigências da escola, passando pela modificação de formas de ensinar, da organização enfileirada de alunos na sala de aula, das “aulas palestras” que visam simplesmente fornecer informação aos estudantes, do individualismo e da falta de diálogo crítico durante as lições de estudo. Na área da avaliação das aprendizagens, Ariana Cosme defendeu, entre outras medidas, a simplificação dos métodos de ensino, a fusão de disciplinas, o fim ou a racionalização dos testes escritos e a estimulação do pensamento crítico e da atitude colaborativa e de partilha entre os estudantes. A investigadora, citando o matemático português Sebastião e Silva (1914-1972), disse ser necessário desvirtuar “um sistema educacional que não ensina a observar, nem a experimentar, nem a refletir, nem a raciocinar, nem a escrever, nem a falar: ensina apenas a repetir mecanicamente”. Ariana Cosme, que é consultora do projeto em curso nas escolas portuguesas de Autonomia e Flexibilidade Curricular a convite do Ministério da Educação de Por-
17
tugal, assegurou que “as avaliações de aprendizagens não chegam, em geral, a conclusões definitivas” e que os resultados dos alunos no fim de cada período ou ano, fixados em pauta, refletem o trabalho do professor, ilustrando que “uma pauta com 15 reprovações revela a fraca capacidade do professor em lidar com as adversidades e diferenças na sala de aula”, pois, justificou, a natureza e objetivo da avaliação “é, para além de verificar e medir, melhorar a prestação dos alunos”. “como se de máquinas se tratassem” A professora da UP alertou para a necessidade de a escola respeitar o capital cultural dos estudantes, rejeitando a ideia de todos os alunos receberem o mesmo tratamento ou matérias idênticas para estudo na sala de aula comum “como se de máquinas se tratassem”, ilustrando: “imaginem o caos que seria se o médico diagnosticasse a mesma doença a todos!” Na análise de Ariana Cosme, o interesse dos alunos pela escola manifesta-se à imagem de uma pirâmide, diminuindo em direção ao vértice, ou seja, aos últimos anos da escolaridade básica. Este comportamento deve-se parcialmente, tal como explicou a formadora, à exclusão e normalização dos talentos no meio escolar, que também tende a ignorar o capital cultural de muitos alunos, situação que as maiores taxas de abandono escolar no ensino secundário parecem refletir. Genericamente, para Ariana Cosme, de entre os maiores desafios da mudança da educação atual perfilam-se o questionamento das práticas vigentes, a disponibilização de ferramentas pedagógicas ativas e dinâmicas, a avaliação do papel dos testes escritos na vida dos alunos, a fusão de disciplinas e o envolvimento dos alunos nos processos de decisão.
Edição n.º 108
”mãOs na ciência”
Experimentar
para melhor aprender No primeiro período deste ano letivo, o projeto “Mãos na Ciências” da EPM-CELP realizou atividades experimentais dirigidas a alunos do ensino básico, que envolveram as disciplinas de História/Geografia, Educação Visual, Ciências Físico-Químicas e Estudo do Meio. Sob o chapéu temático “Sistema solar/planeta terra: terra e a sua representação, elementos geométricos da esfera terrestre”, o programa incluiu as atividades “A ciência do Amor”, “Formação e constituição do sis-
tema solar: movimentos, constelações e orientação”, “A cor e teoria da cor e do Pigmento”, “Processo químico da digestão e a importância da higienização das mãos e alimentos” e “Degradação de monumentos no âmbito da comemoração do dia da Cidade de Maputo” que corporizaram a interdisciplinaridade curricular e o experimentalismo nas aprendizagens como meios de transmissão, apropriação e integração de conteúdos cruzados e saberes científicos.
encontros com arte
ESCrITA
CINEMA
rogério Manjate partilhou paixões
“Aniki Bóbó” exibido na festa de São Valentim
N
U
a primeira edição do “Encontro com Escritor”, realizada a 20 de fevereiro último no Auditório Carlos Paredes, alunos do oitavo ano do ensino básico da EPM-CELP receberam a visita de Rogério Manjate que desvendou as suas paixões literárias e agruras na arte da escrita. O propósito foi dar a conhecer aos alunos a condição de escritor e debater o livro “Wazi”, da autoria de Rogério Manjate, publicado pela nossa Escola. A conversa seguiu, quase, a ordem cronológica das paixões do escritor: a agronomia, o teatro, a docência, a literatura e o cinema, que fazem de si, segundo disse, “um homem completo”. Sobre o livro infantojuvenil “Wazi”, lido e interpretado previamente em contexto de sala de aula, Rogério Manjate particularizou a figura de “Xitukulumukhumba”, que dá azo à trama: “É um bicho de não sei quantos olhos, quantas cabeças, quantos braços, que é capaz de engolir uma aldeia inteira. Porém, essa figura é mítica”, explicou o também professor de teatro na EPMCELP, para quem é difícil explicar o surgimento da sua paixão pela dramatização teatral. Questionado por um dos estudantes se estaria arrependido por ter escolhido seguir teatro profissionalmente, Rogério Manjate respondeu que não, garantindo que a sua vida faz sentido na e pela quinta arte. Rogério Manjate confessou que “foi através de teatro que comecei a escrever e, hoje, estou aqui convosco a tratar de literatura”. Para o autor de “O coelho que fugiu da história” e “Cicatriz encarnada”, entre outras obras, a sua escrita foi sempre inspirada pelas peripécias que marcam os seus dias. Ou seja, para Rogério Manjate a escrita pode nascer de episódios isolados, “mas é preciso que se seja criativo para transformar aquele episódio banal em algo interessante”, confessou, adiantando que “a vantagem da escrita é ser autobiográfica pois usamos, muitas vezes, as nossas histórias para problematizar a vida, porque essa é uma das formas do conhecimento do mundo”, concluiu. Faira Semá, professora da disciplina de Português, referiu que o “Encontro com escritor” foi realizado no âmbito da atividade de leitura do livro “Wazi” de Rogério Manjate. A iniciativa “Encontro com escritor” foi organizada por os seus promotores considerarem importante que o aluno conheça a história do escritor, quais os processos de escrita e criação pelos quais o livro passou e, principalmente, quais as referências e experiências de vida que o autor incorpora nas suas obras.
ma trama dos anos 40, três personagens ligados por uma relação amorosa triangular e uma realidade violenta da ditadura “salazarista”, como também ficou conhecido o Estado Novo, levaram, na manhã do passada dia 22 de fevereiro, no Auditório Carlos Paredes da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP), alunos do quarto ano do ensino básico a confrontarem o Estado Novo com o atual regime democrático vigente em Portugal. O objeto de análise foi o filme “Aniki Bóbó”, do realizador português Manoel de Oliveira, exibido no âmbito das atividades do Plano Nacional de Cinema (PNC) da nossa Escola e do Dia de São Valentim, assinalado no passado dia 14. De acordo com a coordenadora do PNC na EPM-CELP, Sandra Cosme, a atividade foi ao encontro da disciplina Estudos do Meio, concretamente da História Contemporânea, do Fascismo e do Estado Novo. “Os alunos tiverem a oportunidade de perceber grandes diferenças em relação à atualidade. Por exemplo, que nos tempos do fascismo nem todos os meninos iam à escola e a sociedade vivia sob o medo do regime, que havia grandes desigualdades sociais, que as pessoas não viviam livres e que os direitos e a liberdade não serviam da mesma forma todas as pessoas”, explicou a docente. Tal como retrata o filme, o sistema de ensino do Estado Novo, sobretudo na década de 40, auge do regime autoritário, atendia às diferenças sociais com recurso à exclusão das camadas desfavorecidas da população. A narrativa de “Aniki Bóbó” está associada ao amor com um enredo desenhado pelos três personagens principais - Carlitos, Eduardo e Terezinha, esta última pretendida pelos primeiros -, que criam um “triangulo amoroso” quase terminado em tragédia. Produzido a preto e branco em 1942, o filme vive muito mais da imagem do que da palavra, deixando espaço ao espetador para construir os diálogos sugeridos pelas ações, medos, olhares, silêncios e gritos dos personagens. Outros valores, como a resolução de conflitos, o respeito, a amizade, a paz e o altruísmo sobressaem na narrativa fílmica. Numa avaliação do envolvimento dos alunos na sessão de cinema, Sandra Cosme confessou que “as crianças estão sempre a surpreender”, explicando que no início da sessão os alunos já conheciam a temática do filme, “que era sobre o tempo de Salazar e o fascismo pois já tinham sido contextualizados sobre a história, tal como aprenderam na disciplina Estudo do Meio”.
19
Edição n.º 108
sOLidariedade
Centro de Apoio à Velhice de Lhanguene recebeu roupa doada pela EPM-CELP
A
CAVL é o candidato estar numa situação de desamparo social e familiar. Da população de idosos que partilham refeições, afinidades e histórias de vida, destacam-se os casos de abandonos nos hospitais e nas
PUBLICIDADE
EPM-CELP ofereceu, a 9 de janeiro último, um conjunto de roupas de cama, composto por 48 mantas, 28 lençóis e 20 almofadas, ao Centro de Apoio à Velhice de Lhanguene (CAVL), na cidade de Maputo. A oferta, conduzida pela responsável dos Serviços de Ação Social Escolar e Bolsas, Ana Castanheira, enquadrou-se no âmbito da responsabilidade social da nossa instituição. Numa pequena intervenção protocolar, Ana Castanheira referiu que a doação renova o espírito de solidariedade que inspira a EPM-CELP. Num outro momento, inteirou-se das condições do CAVL, visitando a ala das mulheres. Francisco Machava, diretor-adjunto do CAVL, por seu turno, não escondeu a sua satisfação, afirmando que o apoio prestado surge numa altura pertinente pela escassez daquele material. Atualmente, o CAVL alberga 26 mulheres e 17 idosos e crianças desfavorecidos, tendo sido construído pelas Irmãs Franciscanas, em 1922. A condição de acesso ao
O Pátio
21
grandes avenidas da capital moçambicana, as expulsões da família por alegada prática de feitiçaria e o fracasso nas tentativas de procura de melhores condições de vida na cidade de Maputo como principais causas.
Segredos de São Valentim S
entimentos e afetos foram colocados à prova, na manhã de 14 de fevereiro, dia de São Valentim, na Biblioteca Escolar José Craveirinha da EPM-CELP. Em conjunto, alunos dos terceiro e quarto anos do ensino básico, encarregados de educação, professores e convidados discutiram o “Amor e Amizade na busca da felicidade”, uma iniciativa do projeto Filosofia para Crianças para desafiar a exteriorização de sensibilidades humanas. Em duas horas de discussão filosófica, a sessão fez emergir valores como a liberdade, o respeito, a igualdade e a dignidade, numa declaração clara de que o afeto é a base de tudo. “É sinónimo do amor. É respeito, é torcer para o bem de outrem, é querer estar perto de quem gostamos”, disse um aluno na sequência de declarações de outros pequenos oradores. Na senda da contra-argumentação, para outros a solidariedade é o auge do amor e da amizade pois “é importante ajudarmos o próximo e partilhar momentos, dores, alegrias e todas as emoções porque é a forma mais bonita de demonstrarmos o nosso amor”, replicou
um petiz, para quem o afeto e a amizade são o carinho que temos por quem amamos. De acordo com o mentor da iniciativa e professor de Filosofia para Crianças, Fulgêncio Samo, os objetivos do debate, sobretudo no Dia dos Namorados, traduzem-se em “aproximar as famílias à escola para discutir os valores relacionados com esta data comemorativa. Serviu, assim, para ampliar os conceitos de amor e de amizade como marcas de afeto que transcendem a conotação reducionista associada apenas à expressão específica do namoro”, declarou. O encontro recorreu ao diálogo aberto com protagonismo reservado aos petizes para que, livremente, pudessem colocar questões e equacionar hipóteses de resposta, num ambiente de livre descoberta, com o professor a assumir apenas o papel de facilitador de aprendizagem e promotor de pensamentos divergentes, autónomos e fundamentados. Segundo relatou Fulgêncio Samo, a participação conjunta das crianças e dos encarregados de educação suscitou curiosidades em ambos sobre o tema, pro-
21
piciando um “diálogo intergeracional através do qual os adultos também podem aprender com as crianças e ultrapassar os limites ou padrões do próprio pensamento, desafiado pela ingenuidade infantil de perspetivar e abordar os problemas”, explicou o docente. O desafio do projeto Filosofia para Crianças continur a ser potenciar a fecundidade e espontaneidade de pensamento manifestado pelos pequenos pensadores, revelou Fulgêncio Samo, afirmando que “consiste igualmente em reforçar a coerência com que se desenvolve o próprio debate, aprofundar as questões a partir dos pontos de vistas de uns e de outros, diminuindo o efeito ”zapping” de questão em questão”. Para dinamizar o debate, o professor-facilitador contou com a ajuda de quatro alunas, das quais duas fizeram a introdução e contextualização do debate e as outras a atribuição da palavra aos intervenientes durante a sessão. O projeto Filosofia para Crianças existe há mais de 10 anos na EPM-CELP e dirigese aos alunos dos terceiro e quarto anos do primeiro ciclo do ensino básico.
Edição n.º 108
desPOrtO
EPM-CELP continua a somar vitórias
No segundo período deste ano letivo 2018/2019, equipas do Desporto Escolar da EPM-CELP somaram vitórias que, nalguns casos, ofereceu lugar cimeiro no pódio das competições. Na natação os nossos alunos venceram quase todas as 46 provas dos diversos escalões etários e diferentes estilos; no voleibol conquistaram o primeiro lugar no quadro feminino; no futsal ganharam o torneio da Escola Americana Internacional de Moçambique e, no badminton, as provas disputadas definiram os nossos representantes ao futuro torneio da Comunidade Hindu. FUtsaL EPM-CELP venceu o torneio quadrangular de futebol de 7 organizado pela Escola Americana Internacional de Maputo (AISM) após derrotar, sucessivamente, a Escola Francesa de Maputo (2-0), a equipa anfitriã (8-2) e a Trichardt School for Christian Education (7-0), no passado dia 16 de fevereiro.
A
BasQUeteBOL iscussão minuciosa dos resultados marcou a prestação desportiva da equipa sub18 de basquetebol da EPM-CELP no torneio organizado pela nossa escola no passado dia 23 de fevereiro. Logo no jogo de abertura da competição quadrangular, a EPM-CELP cedeu a vitória por escassos dois pontos (25-27) à Escola Secundária Josina Machel, que viria a sagrar-se vencedora da competição. Nos jogos seguintes, a nossa Escola discutiu detalhadamente a vitória perante a Escola Secundária de Noroeste, vencedora por um apertado 24-19, e, no último encontro, triunfou sobre a CAM (Christian Academy in Mozambique) por 36-15, obtendo o terceiro lugar final do torneio.
medindo forças com a Escola Trichard num convívio competitivo que envolveu cerca de meia centena de atletas de ambas as escolas sob um sol brilhante, que inspirou boa disposição, alegria e muito desportivismo. Antes, a 26 de janeiro, a EPM-CLP terminou no segundo lugar do torneio interescolar no qual
D
nataçãO a natação, a EPM-CELP venceu, no dia 23 de fevereiro, quase todas as 46 provas dos diversos escalões etários e dos diferentes estilos,
N
O Pátio
a Escola Americana Internacional de Maputo foi a grande vencedora. A nossa Escola fez-se representar por 27 alunos de vários escalões etários de ambos os sexos. Entre estes, destaque para Tiago Silva, vencedor da prova de 50 metros bruços. vOLeiBOL itórias, respeito pelo adversário e paixão pelo desporto marcaram, no dia 16 de fevereiro, a participação de diversas equipas de voleibol do Núcleo de Desporto Escolar da EPM-CELP nas competições frente à Escola Secundária Francisco Manyanga (ESFM) e Escola Secundária Josina Machel (ESJM). Na competição feminina destinada ao escalão sub18, a vitória da EPM-CELP sobre a
V
22
ESJM, por 2-1, foi decisiva para as “epmianas” conquistarem o primeiro lugar no quadro feminino. Após este triunfo, a EPM-CELP perdeu frente à ESFM por 2-1, mas esta derrota não a afastou da posição cimeira final pois, no desempate por confronto direto com a ESJM, que venceu, por sua vez, a ESFM (por 2-1), a vantagem pendeu para as “epmianas”. No quadro masculino, a EPM-CELP cedeu vitórias, por 2-1, à ESJM e à ESFM. BadmintOn Na competição de apuramento das equipas dos escalões de sub12 e sub14 para participarem no futuro torneio da Comunidade Hindu de Maputo, os alunos da nossa Escola mediram forças com a AISM e a Trichardt School for Christian Education. Dos 26 atletas inscritos para o torneio participaram apenas 20, com destaque para o vencedor da competição de sub14, António Santos (7.ºA), e Abdul Tembe (7.ºA), segundo classificado. Yirival Zefanias e Rodrigo Garrido, ambos do 7.ºE, também estiveram em evidência ao atingirem as meias-finais. No quadro de consolação, para os terceiro e quarto lugares da fase de grupos, Afonso Pousinho (7.ºE) levou a melhor, seguido de Manuel Antunes (7.ºA). No escalão de sub12, o destaque vai para os alunos Iane Mosca (5.ºA), como vencedor da competição, cabendo o segundo lugar às alunas Luna Veiga (6.ºA) e Sofia Ferreira (6.ºC).
Educação contorna ameaças N
o âmbito das comemorações do Dia da Internet Mais Segura 2019, assinalado a 5 de fevereiro sob o lema ”Online pelos Direitos Humanos”, os alunos dos quinto, sétimo e oitavo anos do ensino básico da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM-CELP) expuseram, no átrio central, os seus trabalhos sobre o tema, como um vídeo e uma série de cartazes com advertências sobre a segurança no uso da internet, que oferece várias ameaças. O vídeo, em forma de tutorial, fornece conselhos sobre a divulgação de informações pessoais, colocação de fotografias, as relações interpessoais via internet, a necessidade de manter atualizada a aplicação antivírus e a atenção aos e-mails e “links”
duvidosos, entre outros alertas sobre o mundo da internet, sem ignorar as vantagens e desvantagens deste meio. Por sua vez, os cartazes ilustraram as várias aplicações web, casos de Google, You Tube, Facebook, Twitter, Messenger, Skype, Gmail, WhatsApp, Hotmail e muitas outras. O Dia da Internet Mais Segura tornou-se evento marcante no calendário da Cidadania Digital, sendo hoje comemorado em mais de 100 países distribuídos por todos os continentes. Foi criado com o objetivo de unir empresas, organizações não governamentais e órgãos públicos para incentivar os usuários da web à prática de um uso mais seguro, responsável e ético das suas conexões de internet.
momentos epm-celp
23
Edição n.º 108
mOçamBiQUe
Abolida dispensa de exa “Não pode ser o professor a decidir quem deve concluir cada ciclo de ensino” ARMINDO NGUNGA, vice-ministro da Educação e Desenvolvimento Humano
REINALDO LUíS
M
oçambique terminou o ano de 2018 com reformas robustas na educação que, sustentadas pelo vice-ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, Armindo Ngunga, visam avaliar de forma imparcial a comunidade educativa para melhorar a qualidade do ensino no país. Para além do fim das dispensas a exames nas quinta, sétima, décima e 12.ª classes, o novo Regulamento de Avaliação da Educação, que entrou em vigor este ano letivo, altera os tipos de avaliações, os cálculos para a obtenção da nota final e aumenta o número de disciplinas a serem examinadas nas décima e 12.ª classes. Moçambique deixou de ser o único país da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) com o sistema de despensas a exame na educação. Por conta da entrada em vigor do novo Regulamento de Avaliação do Ensino Primário, Ensino Secundário e da Alfabetização e Educação de Adultos, é travado o automatismo na progressão académica e a posição do professor como único avaliador das competências dos alunos. O novo modelo reitera que a função do docente é preparar os estudantes e dotá-los de conhecimentos e competências técnicas para que, no fim de cada ciclo de escolaridade, sejam avaliados por uma entidade externa, no caso o Instituto Nacional de Exames, Certificação e Equivalências. O plano visa, para além da des-
O Pátio
centralização do poder do professor, controlar as passagens de ciclo de escolaridade, combater a corrupção e travar as progressões automáticas. As estatísticas da educação indicam que, apesar do investimento feito desde a independência de Moçambique, em 1975, e da redução de 93 para 44,9 por cento do nível de analfabetismo, o país também deve combater o abandono escolar e o índice de reprovações. Os números mostram que o efetivo da população estudantil cresceu, mas o território continua com oito milhões de pessoas que não sabem ler, escrever e fazer cálculos, dos quais cinco milhões são adolescentes e jovens dos 15 aos 19 anos de idade. Mais do que a expressão estatística do desenvolvimento da educação ao longo do tempo, constacta-se novo paradigma no setor. Na primeira república o objetivo da educação foi a formação do Homem Novo, com plena consciência do poder de sua inteligência e força transformadora do seu trabalho na sociedade e na natureza, mas hoje os propósitos estão focados na construção de cidadãos com sólida prepararão científica, técnica e cultural e uma elevada educação patriótica e cívica. A metodologia atual difere da anterior. Hoje o ensino procura centrar-se no aluno, na diferenciação pedagógica e na autonomia das aprendizagens, afastando os métodos expositivos. Os conteúdos curriculares são, por sua vez, mais profissionalizantes e diversificados. O vice-ministro Armindo Ngunga afirmou a “O Pátio” que a avaliação é um instrumento indissociável do processo de ensino e aprendizagem e que “a abolição da dispensa no ensino geral não é ne-
24
nhuma sanção”, tal como advogam algumas correntes de opinião no país. E passou a explicar que a medida “faz parte, no geral, de uma decisão para a melhoria da educação”, pois, o modelo ”é inclusivo e permite que os estudantes, os professores, as escolas, os distritos, o ministério e todos nós sejamos avaliados, como um sistema uno”, adiantou Armindo Ngunga. E o vice-ministro considera que ”o elemento objetivo e claro
reações à adoção do re
v
olvidos cerca de dois meses após a entrada em vigor do regulamento de avaliação do ensino Primário, ensino secundário e da alfabetização e educação de adultos, são vários os sentidos das opiniões de alunos e professores de escolas públicas das cidades de maputo e matola.
inOvaçãO
ames
que existe hoje é o exame, que é uma avaliação externa que o sistema prepara para avaliar o que acontece nas escolas e nos alunos”. Limitar as avaliações simplistas Contrariando, em grande medida, o senso comum, Armindo Ngunga defende que “não pode ser o professor a decidir
quem deve concluir cada ciclo de ensino” porque para o ministro ”o trabalho do docente termina dentro da sala, no desenvolvimento das aprendizagens nos anos intermédios e nas avaliações internas”, concluindo que ”no geral, quem deve avaliar é alguém externo, neste caso o Instituto Nacional de Exames, Certificação e Equivalências, uma entidade distante dos trabalhos em sala de aulas”, afirmou. Para além da abolição das dispensas a exames, o novo Regulamento Geral de Avaliação introduz muitas outras alterações, que começam pelos tipos previstos de avaliações. A Avaliação Contínua e a Avaliação Sistemática foram unidas numa Avaliação Contínua e Sistemática. Foi igualmente introduzida uma Avaliação Contínua Parcial a ser realizada “no fim de uma ou mais unidades temáticas para avaliar o grau da sua assimilação (...)”, podendo ser ”escrita ou prática”, tal como prescreve o regulamento. As antigas avaliações periódicas, trimestrais e semestrais, foram renomeadas em Avaliação Trimestral e Avaliação Semestral, enquanto a avaliação final e os exames permanecem inalterados. No processo de avaliação do primeiro ciclo do ensino secundário geral, os alunos realizam exames em oito disciplinas, a saber: Língua Portuguesa, Língua Inglesa, História, Geografia, Matemática, Física, Química e Biologia, ficando isentas de exames as disciplinas de Língua Francesa, Línguas Moçambicanas, Artes Cénicas, Educação
g ulamento Cecília António Maluana, da Escola Secundária Josina Machel, de Maputo, mostrou-se a favor da medida e, sustentando, disse que a lei “vai incentivar muitos alunos a abraçarem os estudos de forma mais vincada e responsável”. A aluna da 12.ª classe relatou episódios de “troca de favores” entre professores e alunos para que estes últimos tenham tratamento especial e não sejam avaliados em contexto de sala de aula. “Os esquemas das dispensas estão fora das competências dos alunos. Às vezes colocam um aluno dedicado a fazer exames e dispensam pessoas burras a troco de benefícios”, revelou Cecília Maluana, acrescentando que o terceiro trimestre, o último do ano letivo, tem sido de negociatas e burlas nas escolas moçambicanas. O favoritismo afigura-se ponto preocupante também para Helena Mateus. Finalista na mesma escola, a estudante acredita que a eliminação das dispensas no ensino geral vai colocar em causa a competência dos professores. “Todos iremos a exame. Mesmo os favoritos serão examinados na mesma medida. Aí, sim, saberão quem, de facto, tem conhecimento”, ressaltou. O novo modelo de avaliação não reúne consenso entre os intervenientes contactados. Um professor da Escola Secundária da Zona Verde, no Município da Matola, escusa-se a aplaudir a eliminação das dispensas a exames porque “é preciso respeitar o esforço dos alunos. É preciso dar mérito a quem merece. É uma questão de respeito, de incentivo e de reconhecimento”, declarou. Para este docente, a limitação dos esforços e do poder do professor enquanto protagonista do processo de ensino e aprendizagem, em contexto de sala de aulas, vai degradar mais a qualidade da educação. “É um facto que existem professores que usam o seu poder para ganhar vantagens e dispensar pessoas sem competências, mas também é verdade que o professor conhece os seus alunos, os esforços de cada um e o respetivo merecimento. Colocar esses estudantes – bons e maus – na mesma posição é demarcar as forças dos inteligentes e perpetuar a preguiça dos outros, pois não adianta o esforço se não houver prémio pelo sucesso”, concluiu.
25
Visual, Educação Física, Tecnologias de Informação e Comunicação, Noções de Empreendedorismo e Agropecuária. No segundo ciclo do ensino secundário cada aluno realiza exames da sua específica área curricular, nas disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Língua Francesa, Introdução à Filosofia, Matemática, Geografia, História, Biologia, Química, Física e Desenho e Geometria Descritiva, de acordo com o novo regulamento, deixando para trás exames nas disciplinas anteriormente indicadas para o primeiro ciclo deste nível de ensino. Uniformizar o sistema na sadc Sobre as metas previstas para o alcance de uma melhor educação em Moçambique, sobretudo através da adoção do novo regulamento, Armindo Ngunga afirmou que um dos objetivos do diploma é uniformizar o sistema dentro da SADC e emparelhá-lo com alguns países do mundo, pois muitos alunos moçambicanos, que beneficiam de bolsas de estudos para o estrangeiro, têm enfrentado dificuldades devido, em parte, à cultura das dispensas a exames inexistente na maioria dos países de destino, esclareceu o viceministro. O processo de transformação do Sistema Nacional de Ensino é já antigo em Moçambique e para Armindo Ngunga é possível alcançar resultados satisfatórios, encorajadores e exemplares desde que haja responsabilidade. Explicou que a alteração da Lei do Sistema Nacional de Ensino visa modernizar o sistema para que produza os resultados desejados de modo a inverter a situação da existência de cerca de sete milhões de alunos dos quais menos de um terço frequenta o ensino secundário: “isto não é normal, esse sistema não está bom”, problematizou o vice-ministro. A par da grande responsabilidade que o sistema de educação tem na efetivação de planos para combater o analfabetismo, as desistências escolares, a corrupção, as passagens automáticas e a baixa qualidade de ensino, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano enfrenta outro desafio: o financeiro. O país debate-se com sérios problemas financeiros que condicionam o setor da educação, traduzindo-se pela falta de salas de aula, carteiras e professores qualificados. Com este Regulamento, os valores da avaliação dos alunos irão duplicam, mas para o vice-ministro Armindo Ngunga a resposta teria de ser encontrada na confluência dos esforços entre mobilizar recursos financeiros para formar pessoas com qualidade ou manter as avaliações simplistas.
Edição n.º 108
PsicOLOgandO
Ops! O meu filho adolesceu!
J
ulgo haver consenso se afirmar que a adolescência é dos períodos mais conturbados do desenvolvimento humano. Mas, diria também, e por isso mesmo, que é um período bastante rico em transformações, a nível físico, mental, individual e social, sendo ao nível do domínio socioafetivo, com as interações sociais mais diversificadas, que as mudanças se sentem de forma mais acentuada. A crise na adolescência de que Erikson nos fala aponta para a fase em que o adolescente tem a integrar as suas transformações que evidenciam as dimensões biológica, individual e social (Erikson, 1998), sendo este um momento decisivo e necessário em que o desenvolvimento deve seguir uma ou outra direção (Erikson, 1987). Fisicamente os nossos filhos crescem, ultrapassando frequentemente a altura dos pais, o que nos leva a exigir deles quase que um comportamento adulto; mentalmente, as suas capacidades vão-lhes permitindo melhor argumentar, um melhor raciocínio abstrato, melhor elaboração de hipóteses e melhor capacidade para fazer deduções, razão pela qual os adolescentes discutem tão facilmente com os pais. No
www.amigopai.wordpress.com
ALExANDRA MELO *
entanto, emocionalmente vive-se o caos do não entendimento do que está a acontecer, já que a maturidade das emoções surge mais tardiamente. Com a puberdade nos bastidores, impregnando o ser adolescente de hormonas a interligarem-se no pacote emocional, este é um período decididamente difícil para os pais enquanto educadores e orientadores. John Townsend, no seu livro Limites para Adolescentes,
O Pátio
26
compara os sentimentos vividos na adolescência com uma ida ao médico onde se apresenta um problema de estômago e o médico diz: Você tem uma irritação gastrointestinal, sinusite, uma vida stressante, problemas emocionais e os seus amigos estão piorando o seu problema. E ainda acrescenta que, perante este panorama, o resultado seria deixá-lo arrasado, inseguro, sem saber bem o que fazer. O adolescente sai do espaço controlado pelos pais, onde o “menino da infância” se encaixa, vive protegido, e aceita essa proteção, e passa como que por um túnel para a vida adulta, onde vai enfrentar o domínio da sua própria vida. Durante a adolescência os pais representam o controlo, a autoridade, a segurança de que os filhos, apesar de a contestarem, e mesmo para a contestarem, dela precisam incondicionalmente. Nesta fase assiste-se ao olhar para o outro de uma forma mais consciente servindo de modelo, de espelho para a formação da sua identidade (quando o outro é seu par), e de contestação quando o outro é representado pelos pais, “esse mundo a abater”. O adolescente é ao mesmo tempo independente e dependente dos pais, questiona valores, princípios da família e da sociedade e desafia a autoridade, sente-se mais seguro para contestar do que para concordar, sente emoções intensas e extremas, investe mais no presente do que no futuro. Em termos sociais, a família passa a ser pequena e mais desinteressante; na adolescência, o mundo exterior, com os amigos no topo das relações, passa a ocupar o lugar número um dos seus interesses. Nele o adolescente encontra os mesmos prazeres e as mesmas dores. Esta viragem no olhar e na vivência dos filhos adolescentes vai permitir-lhes um futuro com maiores realizações a nível da sua vida profissional, de amizades e de namoro/casamento. Este afastamento necessário, não significa, no entanto, que ele tenha deixado de precisar dos pais. Pelo contrário, nesta caminhada que o adolescente precisa aprender a fazer pelos seus próprios pés, ele conta que os seus pais estejam na sua retaguarda como se de uma rede se tratasse no amparo de exercícios no trapézio. John Townsend entende que os adolescentes quase sempre não sabem o que estão pensando ou sentindo, porque, quase diariamente, eles estão se transformando numa pessoa diferente. E, em tom de alerta aos pais, diz ainda que a adolescência pode, às vezes, deixar você e o seu filho malucos, mas isso é necessário para o bem-estar do seu adolescente. Quando os pais dão aos filhos o que estes precisam nessa fase da vida, esses anos até podem ser gostosos. Apenas aguente – pode ser uma viagem turbulenta! * Psicóloga do SPO da EPM-CELP
OPiniãO
Do respeito...
T
odos gostamos de ser respeitados.Todos nós independentemente do nosso atual nível de consciência, do nosso atual nível de Inteligência (QI, QE, etc), da nossa atual capacidade económica, do nosso atual estatuto social, da nossa cor de pele, da nossa atual opção sexual, ou qualquer outra possível classificação ou hierarquia que queiramos imaginar, todos nós adoramos ser respeitados. Outra premissa universalmente aceite é que todos detestamos que nos faltem ao respeito. Para entrarmos a fundo neste tema do respeito, gostaríamos de desafiar o leitor a identificar aquela situação em quem perdeu a paciência a última vez. Talvez tenha sido com aquele vizinho barulhento, com aquele polícia corrupto, com aquele mecânico incompetente, com aquele chefe arrogante, com aquele colega trapaceiro, com aquele empregado irresponsável, com aquela sogra intrometida ou até mesmo com aquele “chapeiro” esbaforido que se meteu á sua frente. Qual foi a sua reação? Talvez tenha proferido algumas palavras menos educadas ou lhe tenha dito algumas boas verdades num tom de voz mais elevado. Provavelmente essas boas verdades até foram ouvidas por uma audiência mais ou menos alargada sendo que quanto maior terá sido a audiência maior terá sido o prazer tirado da discussão e o alívio alcançado. Por vezes por uma questão de hierarquia essas verdades até tiveram de ser engolidas sendo de seguida despejadas no primeiro colega encontrado no corredor. Um aspeto interessante nesta questão do respeito é que quando fazemos parte da tal audiência que está a ouvir a discussão, nos sentimos incomodados e mesmo que a pessoa esteja coberta de razão, consideramos a agressão uma falta de respeito. O agressor muitas vezes coberto de razão não é digno do nosso respeito. Fica uma pergunta. Porque será que mesmo cobertos de razão continuamos a reagir ao que nos incomoda de forma agressiva e descontrolada? Porque nos toleramos fazer essa triste figura de faltar ao respeito aos outros? Onde fica o respeito que deveríamos ter com nós próprios? A chave da questão está na forma de (re)agir. Claro que temos de intervir quando consideramos que os comportamentos dos outros chocam de frente com os nossos princípios e valores, claro que temos de expressar a nossa opinião quando discordamos de alguém, mas
27
vale a pena fazê-lo da forma certa, com um tom de voz neutro e asséptico, com maturidade, com respeito pelo outro e principalmente por nós próprios. É certo que nenhum de nós é perfeito e que todos, mais ou menos conscientes, travamos duras batalhas internas tentando superar os nossos próprios desafios. Acreditamos que todos nós somos genuinamente bons na nossa essência.Talvez por isso todos temos um carinho especial pelas crianças pequenas pois conseguimos perceber e sentir a sua pureza. Essa é a génese, a semente de TODOS nós… incluindo o vizinho, o polícia, o mecânico, o chefe, o colega, o empregado e até mesmo a sogra e o chapeiro. Aqui fica um apelo à empatia e à tolerância. Aqui fica um apelo ao respeito pelo outro e por nós próprios. Aqui fica uma apelo À COMPAIXÃO.
/www.historyonthenet.com
LUíS PINTO *
A criança da imagem é Adolf Hitler. Quando cresceu tornou-se num homem vegetariano que não fumava, que não bebia e que era abstémio. Foi admirado por milhões de pessoas. No entanto é considerado por muitos o Ser Humano mais maléfico do Sec XX. A prática do respeito e da compaixão poderá ser um exercício mais ou menos desafiador. Para o praticarmos não precisamos de o fazer com as pessoas mais maléficas que conseguirmos encontrar. Se praticarmos o respeito e a compaixão com a nossa própria família, com os nossos empregados, com a nossa comunidade e com aqueles que cruzam o nosso caminho já estaremos a dar um contributo gigante para criarmos um mundo melhor. É que as nossas atitudes reforçam não apenas o nosso caracter, mas o nosso exemplo reforça também o caracter daqueles que connosco convivem. * Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da EPM-CELP
Edição n.º 108
crOnicOntO
Ananjo
A
na é o nome da menina desta história de anjos. Os seus dedos mindinhos dos pés não tocavam o chão. Todas as crianças da escola gozavam com ela. Por isso, ela nunca queria calçar sandálias, muito menos chinelos: porque os pés sujavam-se com a poeira, ora que tinha frio nos pés. Só sapatos fechados. Mas isso não resolvia nada. Um dia decidiu não mais ir à escola, já que todo mundo gozava com ela, apesar de ter os dedos escondidos nos sapatos fechados. Foi numa manhã de quarta-feira, ela já tinha tomado banho e vestidos a saia azul marinho e a blusa branca com dois coraçõezinhos vermelhos gravados no peito. Enquanto matabichava continha o choro. Mas os seus gemidos iam crescendo com o bater do relógio que não se compadecia com ela. O relógio batia, no seu ritmo de relógio que só sabe de bater segundos, que perfazem minutos que depois de algum tempo as horas. — Ana, já são sete e dez, vamos embora! — disse o pai. Pegou nas chaves em cima da geleira, chamou pela mulher e dirigiu-se à garagem para tirar o carro. A Ana desatou a soluçar e daí mais um pouco começou a chorar copiosamente. — Queimaste com o chá, Ana? — Perguntou-lhe a mãe preocupada. — Não. Mas era um “não” torto, porque saía misturado com um soluço também torto porque vinha acompanhado por um “não”. — Não gostas do lanche que preparei para ti? — Gosto. Mas era um “gosto” com gosto amargo e salgado porque estava molhado pelas lágrimas e pelo ranho que
ILUSTRAçãO: ZOE (PRÉ G)
rogério manjate
lhe escorriam pela face e entrecortado por um soluço. O pai cansou-se de esperar no carro, entrou apressado e deu com a Ana naquele estado. Pai e mãe fizeram todas as perguntas possíveis. Não conseguiam imaginar o que se passava com ela. Depois de tanta insistência: — Todos os meus colegas e todos os outros meninos da escola se riem dos meus dedinhos dos pés, porque não tocam o chão. O pai deu uma gargalhada. A Ana ficou espantada e
ficou a olhar para ele a gargalhar. Ela começou a chorar outra vez. — É só por isso minha filha? A Ana olhou para ele enervada, como quem diz achas pouco? O pai acalmou-a e explicou-lhe, porquê ela tinha os dedos assim levantados: — Há muito tempo, todos os anjos só andavam no ar, no céu, sem tocarem o chão. Até que um dia, um anjo viu uma rapariga num campo de girassóis a cantar.
ILUSTRAçãO: DIANAH (PRÉ G)
Cantava lindo, muito lindo, parecia que os girassóis também cantavam, que o sol no alto se inclinava para a ouvir cantar. O anjo ficou encantado e apaixonou-se por ela. Fez muito esforço e conseguiu poisar com um só dedo no meio da flor de girassol que a menina ia colher. E ela colheu a flor e o anjo, e levou-os juntos. Eles casaramse e tiveram filhos. Mas os seus filhos só tocavam o chão com o dedo grande do pé, porque os anjos não vivem na terra, no chão. Essa menina, era a minha bisavó. Um dos filhos da minha bisavó com o anjo, foi a minha avó que pisava o chão com o dedo grande apenas. E o filho da minha avó, o meu pai, só pisava com dois dedos. O meu pai casou-se, e o seu filho, que sou eu, teu pai, só pisa o chão com três dedos. Ele descalçou os sapatos e mostrou-lhe os seus dedos. A Ana sorriu. — Eu me casei com a tua mãe e nasceste tu, Ana. Por isso, tu és a última geração de anjos, ficas a pisar o chão só com quatro dedos, ficando esse dedinho no ar. Quando chegou à escola, tirou as sandálias e segurou-as na mão, para que todo o mundo visse os seus dedos que não tocavam o chão. Ela ignorava todos os meninos que tentavam gozá-la. Ela sorria para todo o mundo. Os outros meninos achavam estranho que ela tivesse mudado assim de repente, que não mais se chateasse com as suas piadas. Então perguntaram-lhe porque já não se importava de ter os dedinhos levantados. A Ana contou-lhes que ela era a última descendente dos anjos na terra. E passou a ter muito orgulho dos seus dedos mindinhos que não tocavam o chão. Nenhum menino, vizinho ou colega de escola, gozou com ela por ter os dedos que não tocavam o chão. E passaram a tratá-la por Ananjo.
O conto ”Ananjo” foi narrado aos alunos do ”Pré G” da EPM-CELP que, posteriormente, o interpretaram através de desenho em ambiente de sala de aula
O Pátio
28