O Pátio - Edição 34

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ESCOLA PORTUGUESA DE MOÇAMBIQUE

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CENTRO DE ENSINO E LÍNGUA PORTUGUESA

10 contos ANO V

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NÚMERO 34

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MAIO 2006

III SIMPOSIUM INTERNACIONAL LÍNGUA PORTUGUESA: DIÁLOGO ENTRE CULTURAS

A Viagem na Literatura

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JORNAL MENSAL

Gripe das Aves

Semanas das Línguas, da Geografia, das Ciências e das Artes

destaques Simposium Internacional

13-19

Gripe das Aves

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Semanas das Áreas Disciplinares

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EDITORIAL Hoje em dia, quem não dominar as Novas Tecnologias de Informação, incluindo a Internet, está a colocar-se à margem de uma imensidade de ideias, sugestões, informações, conhecimentos e saberes! Numa das minhas últimas viagens virtuais, deparei-me com uma página que continha informações sobre o Calendário Gregoriano, que é o calendário que todo o mundo ocidental hoje utiliza para classificar e ordenar o tempo. Promulgado pelo Papa Gregório XIII, a 24 de Fevereiro de 1582, veio substituir o velho Calendário Juliano, e divide os 365/6 dias do ano em 12 meses, cada qual com um número irregular de dias, que vão desde os 28/29 de Fevereiro aos 30/31 dos restantes meses. Num outro site, diz-se que o nome deste mês, o de Maio, ao qual se refere a presente edição do nosso “Pátio das Laranjeiras”, pode derivar, segundo alguns autores, da deusa romana da fertilidade e da terra, Bona Dea, filha do Deus Faunus e também conhecida por Fauna1 , sendo, por isso mesmo, considerado um mês de acentuada fertilidade e produtividade. E foi, aqui, ao analisar o trabalho deste mês da equipa do nosso Jornal, que eu fiz a ligação e o cruzamento com todas estas ideias sobre o Calendário Gregoriano – esta é a edição do mês de Maio, o tal mês da fertilidade, e ela, de facto, revela bem a fertilidade das actividades da nossa Comunidade Educativa. Em primeiro lugar, a presente edição dá destaque a um tipo específico de viagem, não já a viagem virtual, a das novas tecnologias, mas a velha, a velha Viagem na Literatura e na escrita – tema este que ocupa as páginas centrais do nosso jornal e que ocupou os conferencistas do III Simposium de Língua Portuguesa da EPM-CELP, que tanto nos surpreendeu pela quantidade e qualidade de muitas das comunicações apresentadas, tão férteis, tal como a Deusa, de ideias e visões novas do mundo. Depois, surgem-nos, nesta edição, muitas outras actividades e temas: as duas palestras sobre Orientação Escolar e Profissional, realizados pelos Serviços de Psicologia e Orientação, as Semanas das Línguas, da Geografia, Economia e Sociologia, das Ciências e das Artes, promovidas pelos respectivos grupos disciplinares, a palestra de esclarecimento sobre a Gripe das Aves, etc, etc. De facto, o que é importante é mesmo viajar… no saber e na cultura. E é por isso mesmo que hoje termino com um conselho: jovens, viajem pela Net, mas não se esqueçam de viajar também na literatura. Até ao próximo mês…

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Maio

A EPM-CELP EM FOCO notícias curtas 25 de Maio Dia de África Surpresa…Desta vez quem espantou a Comunidade Educativa, foram os Auxiliares de Acção Educativa do Ensino Pré-Escolar! Para comemorarem o dia de África, no dia 25 de Maio, os auxiliares de educação das salas do Pré-Escolar, fizeram uma dramatização sobre a importância de preservar o meio ambiente. Para isso, docentes e não docentes deste ciclo inventaram um texto dramático intitulado A Viagem do Paíto, onde se abordava a problemática das queimadas e da poluição das águas. Esta peça incluía dois números de marrabenta. Nesta confraternização, convidou-se as professores que estavam a assistir para participarem nas danças. Foi muito divertido! Até os alunos de forma espontânea subiram ao palco para também bailarem, ou não fosse a dança fonte inspiradora da alegria de viver. Esta festa ecológica culminou com a intervenção dos nossos alunos do 3º ano que cantaram o Hino da Escola e Sinto-me orgulhoso de ser africano. RA e VA

notícias curtas Campanha de doação de sangue na EPM-CELP Nos dias 17 e 18 de Maio, e na sequência do que se vem tornando já um feliz hábito, esteve na nossa escola uma brigada do Banco de sangue a recolher este líquido vital. A comunidade educativa tem dado resposta satisfatória ao apelo à dádiva, e estamos certos que com um esforço de mobilização os resultados serão ainda mais satisfatórios. Sabemos que as necessidades de sangue são enormes e a doação nem sempre é suficiente para colmatar as faltas. As unidades móveis têm a função de ir em busca daquilo que não pode faltar quando se pretende salvar vidas: o sangue. Todos os dias surgem doentes acidentados, anémicos, mal nutridos, sofrendo de malária ou doenças hepáticas a precisar de transfusões. Apelamos uma vez à solidariedade… um dia poderemos ser nós ou alguém que nos seja querido a precisar!

Participação do Pré-Escolar e do 1.º Ciclo no III Simposium Internacional Os alunos do Pré – Escolar e do 1º Ciclo não podiam deixar de Viajar na Literatura, participando no III Simposium Internacional. Os navegadores do 3º ano de escolaridade, cheios de coragem, embarcaram nesta “Nau Cultural” e iniciaram a viagem, participando na sessão de abertura. Os Pequenos Violinos tocaram e

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encantaram quem os via “partir” e quem com eles “partia”. Depois, ainda a “Nau” estava ancorada, ouviuse um poema de Álvaro de Magalhães, recitado pelos Pequenos Navegadores ; mais tarde, já em alto mar, O Coro Infantil, estabelecendo um verdadeiro Diálogo entre Culturas, cantou “Uma casa Portuguesa” e “Sinto-me Orgulhoso de ser Africano”.


VISITAS A EPM-CELP é já um nome de referência fora de Moçambique. Muitas são as personalidade políticas ou simples visitantes de Maputo que insistem em visitá-la, facto que muito nos honra e registamos com agrado. No mês de Maio, registamos a visita de três individualidades:

Historiadora visita EPM-CELP A Drª Celina Veiga de Oliveira, é historiadora e foi professora do Liceu de Macau, no tempo em que este território era administrado por Portugal. Para além disso, chegou a desempenhar funções nos Serviços de Educação e Juventude e no Instituto Cultural do mesmo território. De passagem por Maputo, depois de ter visitado a Ilha de Moçambique, integrada numa missão internacional, não resistiu a visitar a nossa escola e a Drª Albina Santos Silva, actual Presidente do Conselho Directivo da EPM-CELP, e que desempenhou também a função de Subdirectora dos Serviços de Educação e Juventude nesse mesmo território.

tivessem sido queimadas ou seriamente danificadas. De entre elas, destacamos as estruturas educativas, tendo muitas escolas sido vandalizadas ou totalmente destruídas. A ajuda exterior é, assim, uma necessidade imperiosa, bem aceite pelas novas autoridades. Portugal, antiga colónia, cumpre, na medida das suas possibilidades económicas, a sua quota-parte nesse esforço, tendo já contribuindo com forças militares e policiais, ao lado de países como, por exemplo, a Austrália ou a nova Zelândia. Mas é na Educação que esse esforço é mais visível, tendo em conta o número de professores que aí se encontram actualmente a leccionar a língua de Camões, que acabou por ser honrosamente distinguida com o estatuto de Língua Oficial. De todos os projectos, apraz-nos distinguir a instalação, em Díli, de uma escola similar à nossa: a Escola Portuguesa de Díli. O Eng. José Revez, quadro superior do ministério da Educação de Portugal, é, hoje, o Presidente do seu Conselho Directivo. De passagem por Maputo, não deixou de nos fazer uma visita de cortesia, no passado dia 24 de Maio, que muito nos honrou. Na ocasião, teve a oportunidade de visitar as instalações da EPM-CELP e de conhecer as linhas gerais do nosso Projecto Educativo. Apraz-nos registar o agrado com que recebeu o nosso projecto e o facto de “também gostar de ter uma escola destas em Timor”.

Arquitecta da Escola na Escola Escola Portuguesa de Timor Lorosae Timor Lorosae, apesar de ser uma terra distante, é hoje um país bem conhecido no mundo inteiro, tendo em conta o processo doloroso que levou à sua independência. A destruição generalizada a que foi sujeito durante esse processo, levou a que muitas das suas infra-estruturas

A EPM-CELP foi também visitada pela Arquitecta Júlia Magos, autora do projecto que deu corpo à nossa escola. O objectivo principal da sua visita foi inspeccionar o andamento das obras relacionadas com a construção do pavilhão gimnodesportivo, tendo também aproveitado para se inteirar do estado geral do edifício, bem como a possibilidade de ampliação e melhoramento das instalações da nosso bar.


A EPM-CELP EM FOCO Gripe das Aves

Alerta e Informação Com vista a esclarecer e a transmitir as recomendações das autoridades sanitárias no que respeita à pandemia da gripe das aves, a Direcção da Escola enviou um ofício para todos os elementos da comunidade escolar. Neste comunicado identificavam-se as principais características da doença, o seu agente etiológico, o historial da mesma, os meios de transmissão e as medidas de controlo, a sintomatologia, o tratamento e o risco para os seres humanos que passamos a resumir: A gripe das aves é uma zoonose provocada por uma estirpe virulenta da gripe, o vírus H5N1. O agente etiológico é o Myxovírus influenza. O risco de contrair o vírus por via alimentar é pouco provável mas convém que os alimentos de origem avícola sejam confeccionados a temperaturas superiores a 75º. O vírus H5N1 pode sofrer mutações que o tornam transmissível entre humanos. Este vírus foi identificado pela primeira vez em 1993, nos EUA numa epidemia que dizimou cerca de 17 milhões de aves. As epidemias mais significativas ocorreram em HongKong, Tailândia, Vietname, Turquia, Roménia, Arzebeijão e Albânia. Tudo indica que a transmissão da doença se deva ao transporte e comércio de aves domésticas, mas não é de desprezar o papel que as aves migradores podem ter entre países e regiões, embora esta última forma de transmissão tenha uma importância muito menor relativamente à primeira. Embora o actual surto de H5N1 oareça estar ligado às rotas migratórias das aves, o abate das aves migratórias não é de forma alguma uma solução para controlar a doença. As técnicas de controlo mais eficazes envolvem uma maior segurança biológica da indústria aviaria, complementadas com abates completos e rápidos das aves domésticas infectadas. A situação poderá exigir medidas adicionais ligadas ao mercado de aves bem como ao transporte das mesmas deverão ser implementados. As medidas de controlo e prevenção a tomar vão desde evitar o contacto com aves suspeitas, a uma higiene durante e após o manuseamento das aves, evitar a promiscuidade entre alimentos crus e cozinhados, e ao consumo de alimentos quentes e devidamente cozinhados. Também constituem medidas preventivas a higiene individual e colectiva, a variação da dieta alimentar, o exercício físico, o repouso, de forma a refor-

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Palestra sobre o tema, inserida no ciclo de palestras organizadas na Semana das Ciências

çar as defesas do organismo. Deve evitar-se espaços fechados, águas contaminadas por fezes ou carcaças de aves infectadas. O contágio dá-se geralmente aquando de viagens por áreas afectadas, no contacto com aves contaminadas vivas ou mortas bem como as suas fezes e secreções, o contacto com superfícies contaminadas. Embora o contágio seja percentualmente baixo nos humanos a mortalidade é elevada. Caso apresente dos seguintes sintomas deve dirigir-se de imediato ao médico: febre elevada, dores de cabeça, arrepios, dores musculares e nas articulações, tosse e prostração. Pode ainda provocar dificuldades respiratórias e diarreia. O tratamento consiste numa terapêutica de suporte e anti-virais. Em caso de suspeita de aves doentes deverá contactar o Departamento de Sanidade Animal (DNAP), tel 21 460494, 21 460050 ou 21 460080. Para informações mais completas pode consultar os seguintes sites: www.gripe_das_aves.pt ; www.min-agricultura.pt ; www.min-saúde.pt ; www.cdc-gov; www.who.int; www.dgs.pt Recomenda-se que este assunto seja aprofundado nas várias disciplinas para que o conhecimento permita a tomada de medidas preventivas e não de pânico, bem como a difusão pelas famílias e pela comunidade em geral. TN Resumo feito a partir do Ofício Interno


A EPM-CELP EM FOCO Gripes das Aves

Palestra: A Gripe das Aves em análise No seguimento do Ofício Interno, referido na página anterior, e conducente ao esclarecimento de dúvidas do pessoal docente e não docente da EPM-CELP sobre a Gripe das Aves, a Direcção da Escola decidiu apadrinhar a realização de uma palestra, com o mesmo objectivo, incluída na Semana das Ciências, mas agora dirigida aos alunos dos diferentes níveis de ensino. Nesse sentido, o Dr. Lopes Pereira, da Autoridade Veterinária do Ministério da Agricultura de Moçambique, realizou, no dia 3 de Maio de 2006, a referida palestra, tendo, através de diversas imagens de um diaporama, explicitado as características desta doença, formas de contágio, medidas de protecção, formas de tratamento actualmente disponíveis e estado da evolução da doença no mundo. Fez também uma breve comparação com a conhecida Gripe Espanhola, de 1917-18, que matou centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. Embora mais virulenta de a Gripe Espanhola, esperase que Gripe das Aves possa apresentar uma evolução positiva, até porque os meios actuais de prevenção e isolamento são, hoje, muito mais evoluídos do que os existentes na época, pelo que as instituições internacionais de saúde pública, recomendando, no entanto, cuidado e precaução, continuam a referir que, no actual estado de evolução da doença, julgam ser incompreensíveis quaisquer reacções de pânico. No entanto, o alerta deve ser mantido. No que diz respeito a Moçambique, segundo referiu o Dr. Lopes Pereira, ainda não foi registado qualquer caso comprovado da doença. No entanto, as autoridades sanitárias mantêm-se em alerta. Este alerta é particularmente necessário neste país, dado que o modo tradicional de criação destes animais revela-se como bastante problemático, uma vez que as aves são mantidas junto das zonas habitadas pelas pessoas e em contacto com os outros animais de criação (patos, cabras, etc.). Caso se venha a registar uma ocorrência desta doença, segundo referiu, também, as autoridades moçambicanas possuem já vários tipos de planos de actuação, um dos quais prevê o isolamento da área

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circundante à afectada (num raio de três quilómetros), bem como a eliminação imediata das aves aí existentes. O plano prevê ainda a criação de uma área exterior circundante, de vigilância máxima, no sentido de detectar outros possíveis casos. No entanto, a prevenção não é sinónimo absoluto de protecção, pelo que recomenda, apesar de tudo, que se evite todo e qualquer tipo de contacto com aves que apresentem sinais visíveis de estar doentes, como inactividade, sonolência ou que apresentem inchaços ao nível dos olhos. No final, o Dr. Lopes Pereira respondeu a um conjunto de questões apresentadas pelos alunos, que, na circunstância, se mostraram particularmente activos. A terminar, a Dr. Albina Santos Silva, Presidente do Conselho Directivo da EPM-CELP, proferiu algumas palavras de agradecimento, louvando a iniciativa do Grupo de Ciências. Informou também que, tendo em conta que a escola possui, no seu interior, um conjunto de aves (pavões e galinhas do mato), que procuram estimular a afectividades e respeito pela natureza por parte dos alunos e cumprir directrizes do seu Plano Educativo, se matem atenta à presente problemática, sendo apoiada, tecnicamente, por um conjunto de veterinários que zelam pela saúde dos animais. VR


A EPM-CELP EM FOCO Semana das Línguas A Língua que Falo, Penso e Sinto; The Language I Speak, I Think and I Feel With; La Langue que Je Parle, Je Pense et Je Sens foi o mote utilizado para a Semana das Línguas, que ocorreu nos dias 3, 4 e 5 de Maio. Nestes dias, houve a preocupação de divulgar fora das salas de aula, aspectos relativos à língua, cultura e tradições dos países que falam a língua portuguesa, francesa e inglesa. Assim, foram várias as actividades realizadas pelas respectivas áreas disciplinares, desde as exposições de trabalhos dos alunos e dos produtos gráficos realizados pelo Centro de Recursos Educativos dos eventos dinamizados pela área disciplinar de português. Houve também a declamação de poemas em francês e a construção dos monumentos na disciplina de Educação Visual e a sua posterior exposição. Os alunos também se deliciaram com o visionamento do filme “Harry Potter and the goblet of fire”; e a realização de palestras sobre a língua e a cultura dos Reino Unido e o Estados Unidos da América. Assim, foram convida-

das duas professoras voluntárias, Simone Doctor’s, inglesa, e Naomi Johnson, estado-unidense para falarem sobre as tradições, a história, a diversidade cultural e a distribuição populacional dos seus países, que culminou com um lanche tipicamente inglês que foi preparado por alguns alunos e pelas palestrantes. RA

Semana da Geografia, Economia e Sociologia Decorreu de 11 a 17 de Junho de 2006 a semana dedicada à Geografia, Economia e Sociologia, com a realização de uma exposição no Átrio Principal da Escola. Para além de se expor diversos trabalhos realizados pelos alunos ao longo do ano a semana da Geografia Economia e Sociologia teve como finalidade a comemoração do Dia da Europa (9 de Maio), tendo sido o corolário de todas as actividades realizadas pelo Grupo Disciplinar. Foram expostos trabalhos desenvolvidos pelos alunos do dos quais destacamos: - Trabalhos sobre a União Europeia; - Trabalhos sobre Consumo e Consumismo; - Trabalhos sobre pesquisas Sociológicas; - Trabalhos sobre Acidentes e Catástrofes Naturais; - Trabalhos sobre Urbanismo; - Trabalhos sobre Turismo; - Dossiers Temáticos; - Trabalhos sobre o Dia do Trabalhador (1 de Maio). Estes trabalhos foram elaborados em forma de cartazes, maquetas, prospectos encadernações e slides em PowerPoint, tendo sido esta última exibida de forma continuada durante a exposição. MG

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A EPM-CELP EM FOCO Semana das Ciências No âmbito do Projecto “Ciência na Escola” das áreas disciplinares de Ciências Naturais e Ciências FísicoQuímicas, realizou-se a SEMANA DAS CIÊNCIAS na EPM, que decorreu entre 2 e 5 de Maio de 2006. Nesta semana as áreas disciplinares de Ciências Naturais e Ciências Físico-químicas uniram esforços, no sentido de mostrar todo o seu trabalho desenvolvido com os alunos ao longo do ano lectivo, misturando um pouco de acção, cor, surpresa e admiração através da realização de experiências. Nestes dias os laboratórios de Biologia/Geologia e de Química abriram as suas portas à comunidade escolar, que calorosamente o visitaram tendo oportunidade de assistir e de praticar inúmeras actividades experimentais: as explosões furiosas de vulcões, as reacções das rochas ao ácido clorídrico, o ovo que estica e encolhe passando por pequenos orifícios, o sabor amargo, doce, ácido e salgado nos diferentes cantos da língua, o corpo humano, o som e a electricidade….foram muitos os temas focados que abriram as bocas dos que nos visitaram! Ao mesmo tempo que os laboratórios tinham as suas portas abertas, outros alunos assistiram a palestras

no auditório Carlos Paredes, proferidas por convidados ilustres, tais como: Palestra sobre “Cura e Tratamentos em Investigação”, proferida pelo Dr. Betuel do Instituto de Investigação na Manhiça; Palestra “Gripe das Aves” proferida pelo Dr. Lopes Pereira da Direcção da Autoridade Veterinária do Ministério da Agricultura; Palestra “Alterações Climáticas” proferida pelo Dr. Hélder Suheia do Instituto de Meteorologia de Maputo; Palestra “Sismos em Moçambique” proferida pelo Dr. Daúde Jamal do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade Eduardo Mondlane, que se fez representar pelos seus alunos. Outros trabalhos desenvolvidos pelos alunos foram apresentados nesta semana, como é o exemplo do “Teatro dos Alimentos” que os alunos da turma C do 6º ano realizaram, produziram e encenaram para alunos do 1º ano, ou a distribuição da brochura sobre IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) produzida pelos alunos da turma B do 9º ano. Desta forma inundou-se a Escola com Ciência, mostrando a presença da Ciência no dia-a-dia de todos nós. ACC vide foto de uma das actividades na página 2

Semana das Artes A Semana das Artes iniciou a 29 de Maio e foi organizada pelas Áreas Disciplinares de Educação Visual e Tecnológica e de Educação Musical., tendo tido, ainda, a participação da disciplina de História da Arte. Neste âmbito, foi realizada uma pequena exposição dos trabalhos realizados nas disciplinas de Educação Visual e Tecnológica , Educação Visual, Educação Tecnológica, Desenho A , Geometria Descritiva A e História da Arte. Durante a semana, os alunos de Educação Musical actuaram em alguns dos intervalos, tendo interpretado temas exercitados durante o ano lectivo. No que se refere à exposição dos trabalhos realizados neste ano, que agora finda, muito ficou por mostrar à comunidade educativa, na medida em que a sobreposição de actividades planificadas, não permitiu a utilização de um espaço suficiente à exposição do conjunto de trabalhos previamente seleccionado. Ainda assim, a amostra é representativa das capacidades criativas e expressivas dos nossos alunos, nas áreas do desenho e da pintura, sobretudo. JS

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O SUOR DE QUEM ESTUDA Ensino Secundário

Português - 10.º ano No âmbito da disciplina de Português, com o objectivo de melhorar o desempenho ao nível da expessão escrita da turma A, do 10.º ano, os discentes tinham que apresentar, quinzenalmente, um texto escrito, cujo tema era negociado entre a professora e os alunos. Eis alguns desses textos.

FELICIDADE

FELICIDADE

FELICIDADE

Ando há muito tempo à procura da

Ando há muito tempo à procura da

Procuro-te, felicidade, todavia já

felicidade,

felicidade,

não te encontro!

Ando há muito tempo à procura da-

Foram muito os corações onde pa-

A felicidade que uma vez já tive e

quilo que foi saudade!

rei,

que foi desaparecendo à medida

Ando à procura daquela imensa

Porém nenhum deles me deu a ver-

que o tempo foi passando.

vontade… Da eterna claridade!

dade!

A felicidade que tive, quando crian-

Ando à procura do mar em mim,

Só um grupo de palavras, sem sig-

ça, sempre foi uma mera ilusão.

Ando à procura do silêncio de ti,

nificado encontrei,

Uma ilusão criada pelos pais, para

Ando, vagueando por montanhas

Palavras com objectivos banais,

que os seus filhos vivessem uma

verdes e íngremes,

Sem alma, nem cor,

infância sem problemas, sem pre-

Ando-me deliciando com a brisa

Movidas por instintos carnais,

ocupações...

dos sons suaves e sublimes,

Que me enchem de dor!

É a saudade desse modo de estar

Ando à procura de algo que jamais

Todavia, talvez, ao ouvir uma voz

na vida, que estimula a vontade de

fui!

amada, serei feliz,

redescobrir a felicidade.

Procuro no Céu o sentimento que

Ou serei iludida, mais uma vez, por

Contudo, mais cedo ou mais tar-

nunca pende!

alguém,

de, vamos todos descobrir que a

Ando no pino e de lá vejo o rio.

Que nunca me quis...

verdadeira felicidade está no fim

Ando nas nuvens e é de lá que sor-

Será que a felicidade é possível?

do túnel, onde nunca nos preocu-

rio.

Ou será uma ilusão, tema apenas

pamos em procurar, talvez algo

Mas onde andas tu?

de poesia?

que nunca existiu...

Alegria mexida,

Transformando-a em destinos pas-

Possivelmente será uma das mui-

Coisa perdida,

síveis e possíveis,

tas invenções do Homem!

Mas jamais esquecida?

Mas que na verdade é inalcançável!

Ando à tua procura felicidade, Dá-me pelo menos uma oportunidade!

Malitsa Francisco 10º Ano, Turma A Maio de 2006

Raquel Carrilho 10º Ano, Turma A Maio de 2006

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Ruben Fernandes 10º Ano, Turma A Maio de 2006


OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA Para comemorar os 250 anos de vida de Mozart, os alunos que frequentam a Oficina da Escrita Criativa, investigaram a vida e obra deste genial compositor, ouviram algumas das suas composições e escreveram o que sentiram na audição.

Sentir e pensar as composições musicais de M OZAR MOZAR OZARTT

Allegro Esta música de Mozart faz-me sentir nervosa e com vontade de andar de um lado para o outro. Dá-me também vontade de chorar e, de dormir e ter belos sonhos, onde estou a dançar e a cantar. Agora estou1 num baile e danço, danço, danço sem parar. Estou agitada e com uma vontade louca de me rir. Que música maravilhosa! Magnífica! Fantástica! É tão alegre e cheia de vida, bem… tem algumas partes tristes mas que são bonitas. Sinto o calor desta música dentro de mim! As melodias das flautas e de todos os outros instrumentos tocam em mim! Como são bons estes calores musicais! É uma experiência magnífica conhecer as músicas de Mozart, elas não me dão vontade de falar, mas de escutar.

Ana Cabrita, 4.º ano

Ouvindo esta música lembro-me do tempo em que faziam bailes no palácio do rei, onde o príncipe escolheria entre as jovens que dançavam, a sua noiva. Ouvindo esta música de olhos fechados, vejo uma moça a dançar ballet com um vestido tão lindo que até apetece estar no lugar dela e a bailar num palco de madeira fina e leve. A plateia está vazia, mas soava esta música tão suave! Mexo-me de repente e… a menina desapareceu e ficou tudo branco…

Kaila Soares,5.º ano

Esta música faz-me sentir que estou na guerra! Estou com vontade de atirar o aparelho para o chão. Estou cheio de raiva e também triste e esta tristeza dá-me um soninho… Estou com vontade de dormir e de sonhar com um sítio bonito, onde danço com os meus amigos. A minha família também está presente. Penso que esta música é romântica e que eu amo a felicidade. Penso que ela se situa ao pé de Deus, numa festa com pessoas boas e amigáveis. Eu queria ouvir outra vez esta música porque me dá paz, tristeza e sossego.

Edson, 3.º ano

Não gosto desta música, dá-me vontade de dormir e de me morder! Eu já não aguento esta música! Não a quero ouvir mais! Irrita-me e acho-a horrível. Professora, por favor desligue o aparelho.

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Mário, 4.º ano


ROSTOS DA ESCRITA Luandino Vieira, “o prisioneiro desgradeado” Luandino Vieira, escritor angolano, foi este ano galardoado com o Prémio Camões, a maior distinção das letras em Língua Portuguesa. O júri, composto por Agustina Bessa-Luís e Paula Morão (Portugal), Evanildo Bechara e Ivan Junqueira (Brasil), Francisco Noa (Moçambique), José Eduardo Agualusa (Angola), justificou a sua escolha com a “enorme qualidade literária que se distingue pelo trabalho de recriação da língua portuguesa” feito por aquele autor. Foi o 18º escritor / poeta e o terceiro africano (juntamente com Pepetela e Craveirinha) a ser distinguido com este Prémio, criado em 1989 pelos governos de Portugal e do Brasil para distinguir anualmente um escritor que contribua para “enriquecer o património literário” da Língua Portuguesa. Mas, para espanto de todos, recusou este galardão, evocando para isso “razões pessoais, íntimas”. Para os seus fãs, esse gesto é próprio daquele que sempre se recusou a sentir-se prisioneiro, quer por motivos “mundanos”, quer por motivos políticos. Foi e é um ser livre, mesmo quando esteve prisioneiro em diversas prisões, libertando-se através dos textos literários que produziu nessa altura. Luandino Vieira, semi-pseudónimo de José Vieira Mateus da Graça, escolheu o seu nome literário em homenagem a Luanda. Nasceu a 4 de Maio de 1935, na Lagoa do Furadouro, Portugal. Foi para Angola com três anos de idade. É cidadão angolano, porque participou no Movimento Popular de Libertação de Angola e contribuiu para o nascimento da República Popular de Angola. Passou toda a sua infância e juventude em Luanda onde frequentou e terminou o ensino secundário. Trabalhou em diversas profissões até ser preso, em 1959. É depois libertado e, em 1961, foi novamente preso e condenado a 14 anos de prisão. Passou 8 anos no Campo de Concentração do Tarrafal, onde conheceu Manuel Alegre:” Estive seis meses completamente isolado, não tinha ninguém nem na cela do lado esquerdo nem na do lado direito. A ajuda que eu tive foi um bilhete que me foi entregue numa caixa de fósforos… onde estava gravado “tu não estás só.” …Era do Luandino” (in Arte de Marear, Manuel Alegre) A sua obra, distingue-se pela criatividade do seu discurso literário, onde é evidente a sua originalidade, quer a nível lexical, quer a nível da sintaxe, como nos testemunham os seguintes textos: “A barba é branca, camuezo de algodão e a cabeça também, descoberta sem quijinda.à volta, a mata silenciosa depois da rajada dos tiros. E lá longe, lá em baixo a honga, os jindombe, mitangas verdes, a sanzala onde que as mulheres estão caladas com olhos cheios de morte, morte nos ouvidos, nos ventres,..”; O amor nasce como então? No olho d’água é que está o rio, numa pluma de caxexe no ar que um andorinho voo falha e ela na mão aberta, pesada de vida, é assim?” (in Nós, os do Makulusu); “Dos

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ultimúnicos quadrantes do sol que vinham as naves novas, esvoaçar de cores ferruginosas, céu de Tetembuatubia rugindo fraternos inimigos nossos, corsários de cassumbular tesouros das alegrias. Vinham dos lúdricos planetas outros, saíam nas nuvens baixas, lá no trás da sózita estrela, nosso ex-planeta abandonado. Lhes conhecíamos bem: fero ferozes nos inícios, na ranhosa gota do primeiro sangue avoavam, não esperavam berridas.”; “ Estremeci. Estava perdido nos meus caminhos? Castigo de desobediência, alguém que cubava? E o pírulas piando no pau-de-mufuma, longe perdido no cacimbo de um sonho, parecia era. “Mãezinha…” e virei, olhei meus camaradas irmãos quinaxixes: capins fechados, xaxualho de acácias todas,…” (in No Antigamente, na Vida) Luandino é um peregrino-poeta de si próprio e é nesta peregrinação de alguém que sabe ver e ouvir na exterioridade e na interioridade, que nasce uma parte da literatura angolana, com uma força fluvial tão poética e torrencial, que não há na sua obra nada que seja superficial. Tudo é dito de forma sentida, profunda e enigmática. Não é por acaso que as suas personagens tecem, como tantas outras, seguintes afirmações: “A vida é um rio de complexas águas”, “Como é então o nascer de amor? O olho d’ água é que se explica o rio, mas o amor tem um certo olho de água aonde que se chega, subindo a corrente?” (in Nós, os do Makulusu). Eis o percurso literário de Luandino Vieira, com uma obra rica em várias edições: A Cidade e a Infância (contos) A Vida Verdadeira de Domingos Xavier (romance) Luuanda (estórias) Vidas Novas (contos) Velhas Estórias (estórias) No Antigamente, na Vida ( estórias) Nós, os do Makulusu) (romance Macamdumba (estórias) João Vêncio: Os Seus Amores (romance) Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neta E Eu (estórias) Nosso Musseque (romance)


ESCOLHAS DA BIBLIOTECA As Albas de um poeta vagabundo Conheci um grande senhor que vivia com as mãos nas algibeiras, sem casa, sem bagagem, sem amarras. Morreu como nasceu : sem nada. Era um poeta, o homem da palavra dada. (in A Noite Sagrada, Tahar Bem Jelloun)

Sentou-se pela última vez a tomar um copo na estação da CP de Braga, com um amigo de partida. O comboio dobrou o grito estridente e prolongado. O vagabundo permaneceu por breves instantes no apeadeiro olhando no horizonte um ponto em fuga. Saiu da estação, em passos balbuciados, e, na rua, um “selvagem motorizado” (expressão com que descrevia o fervilhar do trânsito nas cidades), embateu mortalmente com o seu destino. Desta vez era definitiva a ruptura de Alba com um mundo que fizera dele um “indesejável”. Como ele mesmo diria numa carta às suas filhas “Serei sempre um indesejável. Pela simples razão que um dia vos dará vontade de rir: por dizer às pessoas que uma árvore é uma árvore. Elas sabem-no, mas não querem que lho lembre, e eu não posso deixar de repeti-lo até à saciedade. E notem quando quero transformar a árvore noutra coisa, faço-o melhor do que elas”(p.28) Era assim o poeta Sebastião Alba, o vagabundo Dinis Carneiro Gonçalves. Poucos souberam do seu trágico desaparecimento. Como poucos conhecem a sua obra. É um dos grandes poetas de Moçambique cuja palavra ainda está por revelar. Estas Albas, obra que reúne os fragmentos dos últimos anos da sua vida de “sem-abrigo”, chegam-nos agora, seis anos depois da sua morte. O despojamento de quem nunca cedeu a famas e frivolidades persiste no seu quase anonimato. Mas creio que a literatura se encarregará de resgatar aquilo que a História pelas mais diversas razões, mantém ainda oculto. Sebastião Alba, aliás, Dinis Carneiro Gonçalves, nasceu em Braga a 11 de Março de 1940. No entanto, da infância, transmontana e minhota, não faz alusão na sua obra. Dizia que de facto, nascera em Tete, em 1950. Ali frequentou a escola pública onde o pai, Albano Moaz Gonçalves, era professor. Este pai severo, dificilmente perdoou ao seu primogénito Dinis a sua incapacidade de se concentrar, a sua evasão para um mundo só dele, que o tornavam um aluno dado a reprovações. Isto poderá ter marcado a imagem que Alba tinha de si próprio: “há muitos anos um oficial do exército de ocupação de Moçambique disse-me na parada, enquanto eu, perfilado, tremia de medo: “você, nessa cabeça tem só merda”. Eu acreditei! Quando poetas me dizem “o teu lugar é aqui, entre nós, acredito logo. Porque não sei o que pensar de mim, se vocês me desprezarem, sentir-me-ei desprezível, se me estimarem, estimável. Sou quem os que

amo (ou detesto) pensam de mim. Pouco mais!”(p.40) Vive na juventude os anos de contestação ao regime salazarista, à luz de Jorge Amado, Stendhal, Marx, Dostoiewski, Antero, Cesário Verde e Álvaro de Campos e tocando para os amigos na sua harmónica, de ouvido, música clássica e canções de toada rebelde do mundo inteiro. A guerra colonial apanhou-o desprevenido. Deserta e para não ser preso é recolhido num hospício por “psicopatologia constitucional”(?) segundo o diagnóstico do médico. O horror pela clausura que lhe vai sendo imposta ao longo da vida marcará o seu desfecho “Passei quase toda a vida por universos concentracionários: o internato Luís de Camões, na Beira, em Moçambique, a casa de reclusão que significa “o prisão militar”, hospícios, o de S. João de Deus em Barcelos, o de Miguel Bombarda em Lisboa”. (p.74). Ainda em Moçambique publica “Ritmo de Presságio” (1974. Em 1981 e 1982 são publicados respectivamente “Ritmo de Presságio”(1981) e “A Noite Dividida” (1982), pelas Edições 70, em Lisboa. No início da década de 80, desiludido com a situação política em Moçambique e impelido pela vontade de manter a família, abandona Moçambique. Viveu com a mulher e as duas filhas em Lisboa, por breve período, refugiando-se em Braga, na sua solidão até a morte o acolher. Opta (?) pela condição de sem-abrigo, recusando a “coleira” da família e da assistência social. Os amigos batem-se para que obtenha um subsídio do Ministério da Cultura, como escritor. No entanto, viverá sem tecto

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ESCOLHAS DA BIBLIOTECA quase vinte anos. Os direitos de autor das suas obras, entrega-os, religiosamente, às filhas. Assim como o prémio ITF que lhe é concedido depois da publicação de A Noite Dividida. Mesmo assim, é com escrúpulos que aceita o Prémio. Numa carta a Herberto Hélder comenta “Herberto: sei que recusaria o Prémio Nobel. É de uma coerência total. Perdoe-me por ter aceitado um pequeno prémio: as minhas filhas precisavam de dinheiro. Só posso agradecer-lhe o que faz por mim escrevendo um dia, melhor. Andei um ano ausente de tão bêbado. Os amigos, que são poucos, abriram-me, no entanto a porta, por onde eu entrava sempre com uma garrafa no saco plástico. Sem que o mérito fosse meu (se é que há algum nisso), parei… este orgulho, esta cabeça baixa reerguem-se porque você recusa um prémio, porque você não aparece na RTP, porque você desaparece. Aí têm onde alguns de nós (..) encontram ânimo para continuar”(p.229) Há vinte anos que tomara a noite por companheira “uma fome de mulher quase patética começa a devorar-me… mas se o preço é a integração numa sociedade que me parece um certame, prefiro morrer à míngua” (p. 124) - e a alba vinha tantas vezes encontrá-lo num refúgio que tomara por abrigo. “estou a escrever com as mãos enregelados e no escuro. Na meninice, eu gostava de trepar às árvores e ver os pássaros que nasciam. O último a sair do ninho era o que (sei-o hoje) tinha razão. Isto, cá fora, é uma merda” (p.125). Por vezes ao cair de uma noite mais fria, batia à porta de um amigo. Quando lhe abriam a porta – “porque voltas sempre, Alba, quando às vezes, não abrimos a porta, ou a fechamos na tua cara?”/ deixa-me pensar/ vê se arranjas depressa, um fundamento para isto.”/ “Vou pedir ajuda a Nietzche: “O meu melhor amigo é o que me dá a cama mais dura!”/ Alba, Nietzche não morreu doido?”/ “Morreu, mas quando escreveu aquilo estava mais lúcido do que tu e eu jamais estaremos.” – ele sentava-se, ouvia música, bebia uma garrafa como quem esvazia mais uma noite inóspita. Depois, antes do amanhecer, antes que o dono da casa se levantasse, saía de novo, deixando um bilhete como dádiva. Um pedaço de si, que partilhava… Estes bilhetes reunidos entre os amigos, e escolhidos por uma amiga de infância Maria de Santa-Cruz que prefacia o livro, são publicados em 2003, pela editora Quasi. Relatam a condição ambígua de quem recusa a caridade e que oferece tudo o que tem, não tendo quase nada para si. Como diz Maria de Santa Cruz no prefácio: “Sem querer nem parecer, era um pedagogo da limpidez e do despojamento, da revolta, em raiva surda ou jubilosa; um guru ocidental que preten-

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dia por vezes, iniciar a lição com um pontapé na porta, uma blasfémia, um grito. Ou uma linha de ternura desmentida.” Por vezes o seu orgulho revoltava-se com aquilo que considerava a mesquinhez dos amigos: “durante anos, em que não tinha nada, cumulei a tua família de prendas, nunca te lembraste de oferecer qualquer coisa, por meu intermédio, a minhas filhas que são pobres. Rasgo uma folha de um livro que não lês, e ficas indignado. O que te põe fora de ti não é isso, mas o meu despojamento que não entendes. Foi de pessoas a quem jamais contemplei fosse com que o fosse, que tinha apoios, graças aos quais sobrevivo. Chego a tua casa e a minha solidão nem se mexe. Lês-me textos teus. Mas ainda não reparaste que os grandes textos da literatura mundial me são indiferentes quando a angústia com que escrevem é pretexto para que gajos como tu, (os que principiam pela técnica) só porque tiveram o privilégio de abordá-los, se digam e forcem os amigos a dizêlos escritores! Quanto mais os teus! Parvos, ambos, eu na vida, e tu na literatura, cá nos arranjaremos.”(p.116) Ele sabia que diante da palavra como perante a morte estaremos sempre despojados: “os que te aplaudirem depois, esses, não estavam ao pé de ti, quando quase entorpecido, mal sabendo o que fazias, estavas a vencer as tuas dificuldades.” E tudo isto para quê? Em nome da posteridade? Até isso se revela inútil: “na minha aldeia – conta Dinis – há um homem que anda habitualmente com a mesma camisa rasgada nas costas (eu sei que ele tem outra, mas essa é para os Domingos de “Ver-aDeus”. /“Ó António já viste como trazes a camisa?/ “Dinisinho, o rasgão é atrás, Quando o virem já passei./ E andamos nós às voltas com a literatura. (…) Ora aí está a posteridade, (sempre me intrigou, talvez seja a mais enganosa das ficções) já passamos, o que importa que digam de nós.” (p.72) Para quê? Para quem? Apesar destas Albas terem sempre um destinatário, seria a estes que, definitivamente, se dirigia Sebastião Alba? “Alguém disse a Goethe que depois da publicação de uma obra sua “Werther”, tinha havido uma vaga de suicídios por toda a Europa. Sabes o que que ele respondeu? “Meu Deus! Eu não queria isso. Escrevi-o para não me suicidar” (p. 51) Que toca em ti Alba, quando da harmónica soam as palavras “em alguns de nós, o olhar/ Queda-se paralelo/ ao do mocho/ Que há muito do ombro/ nos voou/ estas palavras humedecem os olhos/ como ninguém a uma fronte./ em seu retiro, velam/ separando a luz das trevas?” (p. 45) TN


A EPM-CELP EM FOCO III SIMPOSIUM INTERNACIONAL LÍNGUA PORTUGUESA: DIÁLOGO ENTRE CULTURAS

A VIAGEM NA LITERATURA A Viagem na Literatura, foi o tema do III Simposium Internacional da Língua Portuguesa – Diálogo entre Culturas, que decorreu de 8 a 10 de Maio, na Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa (EPM), reunindo académicos, professores, jornalistas, escritores provenientes de Portugal e Moçambique e, alunos desta instituição de ensino. Personalidades como o Dr. José Freitas Ferraz, Embaixador de Portugal em Moçambique, o inspector do Ministério moçambicano da Educação e Cultura e outros convidados presenciaram a sessão de abertura que começou com a apresentação de “Os Pequenos Violinos” da nossa escola, seguidos do poema “Limpa-Palavras” de Álvaro Magalhães, interpretado e dramatizado por alunos do 3º ano. Falando na sessão inaugural, a Presidente do Conselho Directivo da EPM-CELP, a Sr.ª Dr.ª Albina Santos Silva, deu as boas-vindas aos participantes, tendo, por outro lado, destacado a necessidade da conservação e manutenção da língua portuguesa, como património daqueles que a utilizam para se comunicarem entre si e com os outros povos: “A presença da língua portuguesa é um facto. A língua portuguesa precisa de conservação e manutenção e para isso todos temos essa responsabilidade para com a língua que falamos”, disse a nossa responsável escolar. Para além da presidente do Conselho Directivo da EPMCELP, usaram também da palavra, durante a sessão de abertura, o Sr. Dr. José Correia Tavares, em representação da Associação Portuguesa de Escritores, e o Sr. Dr. Juvenal Bucuane, em nome da Associação de Escritores de Moçambique. As alocuções terminaram com o discurso de Sua Excelência o Embaixador de Portugal, Dr. José Freitas Ferraz. Após a abertura do evento, o Professor Doutor Fernando Cristóvão, conferenciou sobre “Alguns Aspectos Eufóricos das Narrativas de Viagens: as Flores, os Frutos, as Plantas Curativas”. Ainda na manhã do primeiro dia do Simposium, os participantes assistiram a actuação do Coro Infantil da Escola, a sessão de apresentação do “Dicionário Temático da Lusofonia” da autoria do Professor Fernando Cristóvão, bem como a inauguração da Feira do Artesanato e Capulana. Já na parte da tarde, no painel de oradores constituído por quatro pessoas, sob a presidência de Ernesto Rodrigues, a Prof.ª Maria Manuel Seno apresentou o tema “Ilha do Ibo: uma Viagem pela História”, seguido do Dr. Fernando Capão, do Fórum Português da Africa do Sul, que falou de “Viajar em Português no Extremo Sul de África”, tendo o último orador deste grupo, Marcos Abílio Nhapulo, dissertado sobre “Viagens na Literatura Italiana”, tomando como exemplo o caso

PROGRAMA

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A EPM-CELP EM FOCO III SIMPOSIUM INTERNACIONAL

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de “La Trégua de Primo Levi”. Outros oradores da tarde do primeiro dia, foram a aluna Ana Machado, do 7º ano da EPM-CELP, que apresentou “Viagens no Tempo: O Conceito de Viagem”, o Dr. Juvenal Bucuane, com “Viagens em Manuel Bandeira ou Os Ciclos das Viagens Bandeirianas”. Seguidamente, o jovem Ilídio Matsinhe, falou da ligação “Do Imaginário ao Histórico”. Por último, António Cabrita dissertou sobre a importância do alargamento do léxico na percepção do mundo. No segundo dia do Simposium, as actividades iniciaram-se com a intervenção musical da Orquestra de Orff da EPM-CELP, tendo-se seguido o painel de conferencistas, presidido pelo Dr. Fernando Cristóvão, que apresentou os temas “Viajar com a Poesia”, por José Correia Tavares, “As Viagens Espirituais”, por Ana Cristina Alves, e “Viagem ao Redor da Língua, entre o Chamanculo e a Polana”, por Luís Carlos Patraquim. Aos alunos do 12º Ano D, coube-lhes o “Recital de Poesias dedicadas às Viagens”. Do grupo de oradores moderado pela Dr.ª Teresa Martins Marques (parte da tarde), o tema “Sob o olhar de Hermes: da Viagem à Vertigem” foi apresentado pelo escritor Ernesto Rodrigues, ao qual se seguiram as comunicações do Dr. Calane da Silva, “Uma viagem por um País à Beira do Abismo”, onde “espreita” o Último Voo do Flamingo, da autoria de Mia Couto, seguindo-se a comunicação do Dr. Fernando António de Almeida”, cujo tema foi “António Faria: Contributo para a Ressurreição de um Corsário”. Por fim, o jornalista Francisco Belard, falou sobre a “A Viagem na Literatura”. Na tarde do dia 9 de Maio, como forma de conhecer os meandros da produção cultural de Moçambique, os participantes visitaram o Centro Cultural de Matalana. Naquele centro, situado a cerca de 45 quilometros da cidade de Maputo, os “viajantes” tiveram a oportunidade de conhecer o local de construção da futura “Biblioteca Museu Tobyasi Ti Lika”, cuja primeira pedra foi lançada em 30 de Abril de 1997, pelo então Presidente da República Portuguesa, Dr. Jorge Sampaio, aquando da sua visita a Moçambique. Seguidamente, os visitantes dirigiram-se ao Centro Cultural deMatalana, tendo, no caminho, visitado a Capela “Presbítero de Umbluzi Norte, cuja restauração contou com o apoio do Centro Cultural de Matalana. Chegados ao centro Cultural, os participantes assistiram a alguns números musicais, executados por membros da escola de música “Sabina Ngomane”, como, por exemplo, “Buya Murandziwa, Ndzi na Usiwana”, que significa, “Vem, Amado, Acompanhar-me, porque Sozinho sou Pobre.”. A parte final desta visita a Matalane, serviu para homenagear o mestre Malangatana, pelos seus 70 anos de


A EPM-CELP EM FOCO III SIMPOSIUM INTERNACIONAL vida. Este artista, na ocasião, quis deixar a seguinte mensagem : “Todos nós, portugueses ou moçambicanos, temos a responsabilidade de criar condições para o desenvolvimento sócio-cultural de Matalana”. Reiterou, também: “Matalana jamais deixará de falar a língua de Camões”. Entre outras acções de homenagem, foi tornada pública uma colecção de postais e retratos, bem como de t-shirts com desenhos de Malangatana. Ao terceiro e último dia das actividades do III Simposium de Língua Portuguesa da EPM-CELP, o sol brilhou no auditório Carlos Paredes, quando a Tuninha Sol e Dó actuou, assinalando o reinício do programa. Seguiramse as apresentações seguintes: Teresa Martins, “A Viagem em David Mourão-Ferreira e José Rodrigues Miguéis: Os Caminhos da Libertação”, Júlio Conrado, a “Historia de uma Não Viagem (Sobre um Conto de Maria Judite de Carvalho” e Rogério Manjate, “Uma viagem na Asa Poética de Manoel de Barros”. O moderador deste painel de oradores foi o Dr. José Correia Tavares. A Dr.ª Ana Cristina Alves, presidiu o grupo constituído por Judite Santos, Rosa Alice Dixe, Sara DE sOUSA Texeira, António Aresta e Victor Roque, que na ordem de sequência que se segue, apresentaram respectivamente, “A Viagem como factor de multiculturalidade na formação e desenvolvimento das cidades capitais de Moçambique: Uma Abordagem Urbanística, Arquitectónica e Paisagística”, “Uma descida Órfica aos Infernos, na Obra de Eduardo White”, “A Primeira Viagem de Vasco da Gama por mares de Moçambique: um conto infantil”, “Uma Educação Real: A Viagem de Aires de Ornelas e do Príncipe D. Luíz Filipe de Bragança a Moçambique em 1907 e “Caminhando por África”. Concluídas as apresentações, houve a sessão de encerramento e as apresentações das conclusões do Simposium. Na tarde deste dia, 10 de Maio, foi a vez da presença da música: os alunos do 1º ano executaram a “Canção das Letras”. Segui-se, depois, uma Mesa-Redonda sobordinada ao tema “Lusofonia e Língua Portuguesa”, reunindo vários participantes, sob a moderação dos Doutores Fernando Cristóvão e Calane da Silva. No final das actividades, foram lançadas as Actas do II Simposium e a reedição do livro “A Instrução Pública em Moçambique, Sua Evolução”, de Luís Moreira de Almeida. Enfim, estes três dias de encontro foram muito frutuosos no “Diálogo entre culturas”. BA

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FOTOREPORTAGEM III Simposium Internacional Língua Portuguesa: Diálogo entre Culturas

A VIAGEM NA LITERATURA

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FOTOREPORTAGEM III Simposium Internacional

Língua Portuguesa: Diálogo entre Culturas

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A EPM-CELP EM FOCO Edições da EPM-CELP lançadas durante o simpósio No terceiro e último dia do Simpósio, após a mesa redonda subordinada ao tema Lusofonia, foram oficialmente lançados dois livros produzidos e editados pela EPM-CELP. Trata-se do IV volume da colecção “Aprender Juntos”, compilação das actas do II Simposium de Língua Portuguesa – Diálogo entre Culturas, que ocorreu no ano de 2005 e esteve subordinado ao tema: A Literatura Infanto Juvenil – Mitos, Heróis e Educação para a Cidadania. O volume reúne os discursos oficiais e as comunicações dos vários participantes neste Simposium e a edição do livro contou com o apoio do Dr. Ernesto Rodrigues, que acompanhou a impressão em Portugal. Foi ainda reeditado do livro de Luís Moreira de Almeida, de 1956, que retrata a evolução da instrução pública em Moçambique, a partir da primeira década do século XX até meados dos anos 50, à luz da ideologia do Estado Novo. Trata-se de um livro que contém alguns dados que podem interessar os estudiosos de História e de Educação e que agora se encontra à disposição do público em geral. Na mesma altura foram ainda lançadas quatro colecções de postais e uma colecção de T-shirts com quadros do Mestre Malagatana. TN

Lançamento do Dicionário da Lusofonia

No dia 8 de Maio, pelas 11:00 no Átrio da Escola, e na presença de S. Excelência o Embaixador de Portugal, da Direcção da Escola e da Comunidade Escolar, dos participantes do III Simposium e outras personalidades, foi lançado o Dicionário Temático da Lusofonia, da Texto Editores. A apresentação do livro esteve a cargo do Dr. Fernando

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Cristóvão, que falou da sua génese, das ideias que nortearam o processo, e da diversidade de ideias, por vezes até divergentes, que estão presentes neste livro, e do professor Dr. Lourenço do Rosário, director do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, que participou na concepção do livro e na coordenação dos artigos de autores moçambicanos, para o mesmo Dicionário. Este dicionário de tipo enciclopédico compõe-se de várias entradas temáticas, organizadas por ordem alfabética, da autoria de especialistas dos diferentes assuntos e dos diferentes países, que compõem o mosaico lusófono: Angola, Brasil, Cabo-Verde, GuinéBissau, Macau, Moçambique, Portugal, São-Tomé e Princípe e Timor. Os artigos veiculam apenas as ideias dos vários autores e é na diversidade dos pontos de vista que se abrem as possíveis polémicas sobre os assuntos tratados. Os temas propostos vão da antropologia, ao desporto, economia, comunicação social, direito, gastronomia, artes do espectáculo, geografia e história, língua e à literatura, movimentos sociais e migratórios, cultura, política, património, religiões, saúde, turismo, e outros.TN


A EPM-CELP EM FOCO Cultura Moçambicana no III Simposium Nos dias 8, 9 e 10 de Maio, decorreu a “Feira de Artesanato e Capulana”, no Pátio das Oliveiras da EPM-CELP. Esta feira fez parte integrante do Programa do III Simpósio Internacional de Língua Portuguesa Diálogo entre culturas e foi uma oportunidade singular para os convidados deste encontro, que não residem em Maputo, conhecerem e adquirirem peças variadas de artesanato local e de outras regiões de África, sem terem de o procurar pelas ruas da cidade. Foi sobre a calçada portuguesa da nossa escola que desta vez os artesãos expuseram peças de grande beleza e encanto, tais como as coloridas capulanas, esculturas makonde, em pau-preto e em marfim, batiques, espanta-espíritos feitos com cascas de bananeira, brinquedos de arame, objectos de arame enfeitados de missangas, velas, objectos feitos de papel reciclado, roupas de tecido de capulana, cestaria tradicional, etc. Pela segunda vez expuseram na nossa escola as suas belas peças de cerâmica, Titos Langa e Octam, assim como a jovem “Madoricane” que anteriormente nos tinha mostrado as suas obras de expressão plástica e destas vez revelou os seus dotes na produção de bijuteria. E como em boa festa africana não pode faltar a música, estiveram a animar a inauguração os músicos moçambicanos………….., que também actuaram na Biblioteca José Craveirinha no último dia do simpósio, após a mesa redonda sobre a Lusofonia. Até quem vive em Maputo e está habituado a encontrado artesanato ao virar de cada esquina, estendido em esteiras na rua ou na mão de vendedores ambulantes, não pôde resistir a fazer umas compritas aqui mesmo pois o ambiente dói de verdadeiro “dumba- nengue” (mercado informal) ST

Participação de músicos/grupos no III Simpósium Os Encontros com a Arte também tornou o III simpósio mais rico ao organizar actuações com a feira do artesanato, 7 de Maio, e na mesa redonda que houve no dia 8 de Maio e onde se discutiu a lusofonia. As duas actuações foram prestadas pelo grupo de música tradicional moçambicana “Beto e Companhia”, cujos instrumentos musicais foram: a Timbila e o batuque, instrumentos tradicionais de Moçambique, e a mbira, originária do Zimbabwe. A música vocal e instrumental eram de influência do norte de Moçambique e zimbabueana. RAD

Nos bastidores do III SIMPOSIUM Quantas horas de ensaio foram necessárias para que a exibição dos Pequenos Violinos decorressem sem falhas? Quantas vezes foram repetidas as poesias recitadas pelos alunos? Quantas horas levou a conceber e a executar o cenário maravilhoso alusivo ao evento? Quanto trabalho, angústia e insegurança envolveram a concepção das comunicações dos professores que decidiram participar no evento? O trabalho que rodeou o III Simposium, começou vários meses antes da sua inauguração. Nos bastidores trabalharam várias “formigas”, contactando os participantes, recolhendo as comunicações, elaborando o programa, garantindo a logística , fazendo os cartazes, os prospectos, ensaiando os alunos, contactando os artesãos e artistas que abrilhantaram estes dias de convívio cultural, embelezando os espaços… À medida que o momento se aproximava, a azáfama era redobrada e os dias de trabalho prolongavam-se pela noite adentro. Valeu a pena! Muita coisa boa aconteceu. Muitos aspectos poderão ainda ser melhorados. Há a vontade. Há a riqueza do esforço conjugado por uma boa causa – a do diálogo cimentando a cultura. TN

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A EPM-CELP EM FOCO Malangatana Malangatana Valente Ngwenya faz setenta anos em 6 de Junho. É o artista moçambicano por excelência, multímodo, de trato fácil, amigo de Portugal e dos portugueses. Conheci-o pessoalmente em 2004, no I Simposium Internacional de Língua Portuguesa, organizado pela Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa, onde é sempre recebido como um príncipe – isto é, sem formalidades – e em cujos actos é presença regular. Pelos corredores, a par de cartazes do Instituto Camões, algumas pinturas tiveram a sua colaboração, em parceria com alunos. No 10 de Junho, nos jardins da Embaixada de Portugal, vio dançar sobre a piscina. Em 2005, antes de começarem os trabalhos do II Simposium, tomámos café no simpático bar da Escola. A saúde não ia bem. Agora, estava em forma, justificando, como se nada fosse com ele, a homenagem que, no âmbito do III Simposium, lhe prestou a EPM_CELP. De tudo dei síntese no Expresso-Actual de 27 de Maio. Desta festa, quero pôr tónica na figura de Malangatana. Após as comunicações do segundo dia, em 9 de Maio, retiradas as gravatas, vestimos camisa estampando pintura do Mestre. Em autocarro, fomos a Matalana, Marracuene, para vivência inesquecível. Desde 8 de Dezembro, um opúsculo biográfico e separata do jornal da EPM-CELP, Pátio das Laranjeiras, celebravam, entre os seus muitos dotes, o também poeta e, sobretudo, escultor e artista plástico, que expusera pela primeira vez numa colectiva em Lourenço Marques, na Casa da Metrópole, em 1959. Juntava-se, desta vez, uma dupla colecção de postais, cuidados em Lisboa, na Textype, que já nos anos 90 dele havia feito catálogo sob responsabilidade do Instituto Camões. Perfeitos 40 quilómetros, em que a vida pobre e ainda insegura de Maputo nos foi passando pela retina, deixou-nos o autocarro a uma centena de metros arenosos do que será a futura biblioteca de Matalana, para que já existem trinta mil volumes e, ali, primeira pedra lançada pelo Presidente Jorge Sampaio, em 30 de Abril de 1997. Feita uma pausa ma igreja, estávamos, entre mafurreiras e massaleiras, a meio caminho do dormitório para artistas – de facto, o Centro Cultural, financiado pela administração macaense quando ainda portuguesa, e que o arquitecto José Forjaz fez circular por poderoso cajueiro. A toda a volta, temos uma espécie de galerias de breves quartos e pinturas assentes no chão, assinadas por jovens oficiais que têm Malangatana por mestre, a exemplo de uma tradição tardo-medieval e renascente. Desta feita, a EPM-CELP preparou longa e lauta mesa, a que voltaremos no final do dia (anoitecendo cedo), com outros senhores da terra, em sua fala ronga.

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O passo seguinte é demonstração, dançada de guerreiros infantes, em atenção aos visitantes; alunas da Escola, que vieram em segundo autocarro sentam-se por ali no chão, desenhando, já contraponto sensível comas meninas pretas, curiosas, expectantes. Numa sombra, vende-se caju, estas mulheres foram outrora, essas meninas, também dignas e mais sofredoras. Está guardado o momento alto. A Casa da Música de Matalana é um espaço sucinto de telhados oblíquos onde cabem dois pianos (num deles, uma vela), dúzia de crianças que calçam mal – embora entreluzam uns ténis –, maestro flexível, boas teclas, num deles. Tinham-se preparado. Vestem simples, mas elegante; cantam excelsamente, seja em português ou em ronga, e meneiam-se (se é caso disso) de forma soberba. Mas, ali, o que comove é aquele olhar, a atitude na fila compacta e segura, de um povo que, se for dirigido de modo simples, longe da corrupção que enxameia (dizem-me), justificará o futuro que esta delicadeza de ser já merece. Maria João Pires apoia. Albina Santos Silva, presidente da EPM-CELP, e nossa comprovinciana de Vidago – mas a sua paixão e labora pediriam outra crónica –, promete novas ajudas. Saio, para o anfiteatro ao ar livre, contíguo, com um nó na garganta. A pequenada cerca Teresa Martins Marques, que, discretamente, distribui (não dei por nada, apesar de uma devoção pressentida, naquela colmeia de corpos) notas de colar. Regressamos à mesa posta sob o cajueiro Assim, ao falar dos seus, falei de Malangatana, que pontifica no lugar e nestas iniciativas. Disperso por murais e esculturas, poeta e músico, relevo, para uso pessoal, duas batalhas suas: o empenho com que sempre, em reuniões comunistas internacionais e ao longo da guerra contra as tropas portuguesas, defendeu o uso da língua português, como expressão de unidade nacional moçambicana; e a qualidade do seu discurso verbalizado no idioma de todos nós … Que por muitos e bom anos! ER


A EPM-CELP EM FOCO Conclusões do III Simposium Internacional

Organizou a Escola Portuguesa de Moçambique o seu III Simposium Internacional de Língua Portuguesa e Diálogo entre Culturas, desta vez subordinado ao tema: A Viagem na Literatura. Mais de vinte especialistas da literatura, portugueses e moçambicanos, protagonizaram esta jornada que cimentou o lastro das iniciativas anteriores e, cremos, tornou mais evidente a vocação da escola, que é a de proporcionar pontes entre criadores e utentes da lingua, entre alunos, professores e escritores, num diálogo vivo que impulsione a cultura na pluralidade que lhe é constituinte. De realçar que a diversidade e a heterogeneidade dos participantes tornou mais colorido este simpósio, inervando-o de viagens múltiplas, que focaram desde aspectos históricos, aos itinerários da alma, ou ao acontecer da língua no fulcro que a recria, demonstrando-se assim de que a linguagem portuguesa é um tecido vivo que, no fito de renovar-se, não teme a agramaticalidade, o hibridismo, ousar. Fernando Cristovão abriu o painel das comunicações com “Alguns aspectos eufóricos das narrativas de viagens:as flores, os frutos, as plantas curativas”; Fernando Capão dissertou sobre a situação do Português na África do Sul, Marcos

Hhapulo sobre a literatura italiana, Juvenal Bucunae e Ilídio Matsinhe bem como José Correia Tavares teorizaram sobre a viagem na literatura. Ernesto Rodrigues perspassou a história da literatura portuguesa e as marcas da viagem ao longo desta, Luís Carlos Patraquim falou-nos das suas referências de infância e das marcas da história na criação de um léxico próprio de um lugar, Calane da Silva referiu-se a uma obra de Mia Couto”O último voo do flamingo”. António Cabrita dissertou sobre a importância do alargamento do léxico semântico na percepção do mundo. Os professores da escola marcaram a sua presença com comunicações de vários âmbitos – dos aspectos arquitectónicos (a formação das cidades da Ilha de Moçambique e de Lourenço Marques, pela Arquitecta Judite Santos), aos aspectos históricos (a viagem de Aires de Ornelas a Moçambique em 1907, um conto à volta da viagem de Vasco da Gama pela Professora Sara Teixeira, a descoberta da Ilha do Ibo pela Prof. Maria Manuel Seno, a literatura de viagem de Serpa Pinto pelo Prof. Vítor Roque), à literatura como viagem iniciática (A literatura como Descida Órfica aos Infernos na obra

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de Eduardo White pela prof. Rosa Alice Dixe) Destaque tambem para a participação da aluna Ana Machado que apresentou um texto falando da sua experiência como leitora. Os alunos foram uma presença efectiva ao longo do simposium, recitanto poesia, apresentanto números musicais, o que se harmoniza com as intenções da escola e a sua aspiração a potenciar agentes de cultura e cidadãos plenos e cônscios de que, como dizia Picasso, “leva muito tempo a chegar à juventude” e que este trabalho de descondicionamento exige rigor e persistência. O simposium foi também ocasião para a reflexão sobre a lusofonia concretizada numa mesa redonda e no lançamento do Dicionário de Lusofonia e para o lançamento de algumas publicações editadas pela nossa escola. Estamos confiantes de que os alunos foram instigados a pensar, a interrogar, a problematizar e que no seu íntimo as veredas da curiosidade foram ampliadas. Que desenvolvam agora, por si, próprios a consciêcia de que a sabedoria, como a pauta da percepção, é uma longa escadaria com muitos degraus, mas que ao cimo nos espera, para além de um olhar novo, a generosidade e a partilha. TN


CENTRO DE FORMAÇÃO Mestrado em Ciências da Educação Desenvolvimento Pessoal e Social No âmbito da qualificação profissional dos docentes, o Professor Doutor João Pedro da Ponte orientou o mòdulo “Metodologias de Investigação II, de 9 a 24 de Maio.

Seminário destinado às Escolas Profissionais de Moçambique Está previsto o início do “Curso de Didácticas Gerais”, na primeira semana de Junho para Professores das Escolas Profissionais de Moçambique. As disicplinas abrangidas são as seguintes: Língua Portuguesa; Inglês; Mundo Actual; Matemática; Ciências FísicoQuímicas; Biologia e Informática. O Governo de Moçambique e o Governo de Portugal patrocinam a iniciativa.

CENTRO DE RECURSOS EDUCATIVOS Oficina Didáctica e Sector de Requisições de Equipamento Maio é, por norma, um mês de trabalho mais intenso. É o fim do ano lectivo que se aproxima e, portanto, muitas actividades acontecem em simultâneo. Maio foi o mês do Simposium Internacional, das Semanas das Áreas Disciplinares, de muitas visitas, de Exposições, de eventos realizados no exterior em que a Instituição esteve envolvida,… O Centro de Recursos Educativos, nas várias vertentes, tem como função apoiar todas essas actividades do ponto de vista logístico. Esse apoio técnico-pedagógico consubstancia-se na cedência e no acompanhamento técnico de espaços e equipamentos e na concepção e acabamento de produtos gráficos e multimédia. Durante este período, conceberam-se 7 cartazes, 2 convites, 2 desdobráveis, 1 brochura, 1 diaporama, 2 filmes em vídeo, os “Pátios das Laranjeiras” 33 e parte do 34, para além de certificados, cartões, crachats e outros produtos gráficos. Do trabalho realizado, formam impressos e encadernados muitos exemplares dos documentos oficiais da Escola (Plano de Actividades, Relatório de Actividades e Regulamento Interno), para além de decorados os espaços do átrio e do Auditório Carlos Paredes, organizadas 3 exposições e efectuados cerca de 2500 registos fotográficos. No que toca aos equipamentos, foram efectuadas 628 requisições de equipamento audiovisual móvel , reflectindo-se em 1744 horas de utilização, e o Auditório Carlos Paredes teve uma taxa de ocupação muito elevada (cerca de 70 horas). CRE


PÁGINAS COM HISTÓRIA Pedro Nunes, matemática, crepúsculos e navegações…

«Os portugueses ousaram cometer o grande mar oceano», escrevia Pedro Nunes, «descobriram novas ilhas, novas terras, novos mares, novos povos: e o que mais é: novo céu, novas estrelas». Em 1542 era publicado em Lisboa, por um matemático praticamente desconhecido do público europeu, um livro intitulado De crepusculis liber unus. O autor desta obra era Pedro Nunes e este trabalho representou a sua primeira incursão em problemas de astronomia teórica, assunto a que voltaria em ocasiões posteriores. O De crepusculis já foi considerado a obra-prima de Pedro Nunes, e, de facto, quer o próprio autor quer os seus contemporâneos, tiveram o livro na mais alta consideração. No De crepusculis, o matemático português ataca um problema conhecido - o da duração dos crepúsculos - com um rigor e uma generalidade até então nunca empregues no estudo desta questão. Nunes resolve a maior parte dos problemas relativos à duração dos crepúsculos - especialmente a sua variação com a latitude e com o dia do ano, e ainda os seus extremos - num conjunto de proposições matemáticas rigorosamente demonstradas. O De crepusculis é assinalável a vários títulos. Para além dos resultados propriamente de astronomia teórica, contém ainda uma importante discussão de questões de óptica aplicada à astronomia, e também a invenção perpetuada com o nome de nónio. Inventou também as linhas de rumo, posteriormente designadas loxodromias. Mas as contribuições de Pedro Nunes para a astronomia teórica não se limitaram a este livro. Em 1566, nas suas Opera, publicadas em Basileia, inclui alguns trabalhos onde se abordam directamente outros proble-

mas de astronomia. De entre estes trabalhos merece especial referência o seu extenso comentário às Theoricae novae planetarum de Georg Peurbach, que os historiadores consideram um dos mais importantes comentários ao texto de Peurbach. É também nas Opera que Nunes publica pela primeira vez as suas observações sobre o De revolutionibus (1543) de Copérnico - um conjunto de comentários de grande interesse que, pela sua data, fazem de Nunes um dos primeiros matemáticos europeus de alto nível a pronunciar-se sobre o novo sistema heliocêntrico. Nascido em Alcácer do Sal em 1502, seguiu os cursos de Filosofia e de Matemática na Universidade de Lisboa, onde em 1529 tinha alcançado o grau de Bacharel e estava encarregado da regência da cadeira de Filosofia Moral. Leccionou seguidamente Lógica e depois Metafísica. Ainda novo o seu génio foi reconhecido na corte. Por decisão do rei D. João III, foi preceptor dos infantes D. Luís e D. Henrique (futuro cardeal-Rei) ensinando-lhes Lógica, Filosofia, Matemática e Geometria. Aos 27 anos e por alvará de 1529, o Rei nomeia-o cosmógrafo com a pensão de 20$000 réis em cada ano, cargo que foi confirmado em 1541 com a renda duplicada, para passar em 1547 a cosmógrafo-mor, passando então a receber 50$000 anualmente. Entre a primeira e a última destas nomeações, Pedro Nunes esteve algum tempo nas Universidades de Salamanca e, ao que parece, também em Alcalá de Henares como “ouvinte”, a fim de aperfeiçoar os seus conhecimentos. Foi aí que conheceu Guiomar de Aires, uma cristã castelhana com quem viria a casar e de quem teve (continua na pág. seguinte)


PÁGINAS COM HISTÓRIA (continuação da pág. anterior)

seis filhos. Estabelece-se em Coimbra, onde a partir de 1544 é nomeado professor da Universidade, e ensinou até 1562, ano da sua jubilação, contudo, os seus cursos eram muitas vezes cortados por ausências demoradas, em virtude de o Rei o chamar a Lisboa na sua qualidade de cosmógrafo. De 1562 a 1572, Pedro Nunes afasta-se da corte e viveu em Coimbra, mas D. Sebastião voltou a chamá-lo ao serviço como cosmógrafo. Parece ter sido a partir de então que se encarregou de uma “Aula da Esfera”, destinada aos pilotos dos navios. Pedro Nunes publicou uma obra importante e referenciada, quer ao nível da matemática, quer ao nível da astronomia. De entre as suas obras mais importantes, para além do De crepusculis publicado em 1542, destacam-se o Tratado da Esfera (1537), uma tradução do tratado de João de Sacrobosco ; o livro contém ainda as versões da Teórica do Sol e da Lua, de Jorge Purbáquio e do Livro I da Geografia de Cláudio Ptolomeu, além de dois pequenos tratados originais sobre problemas de navegação: Tratado de Certas Dúvidas da Navegação e Tratado em Defemsão da Carta de Marear. Pouco após a nomeação como professor em Coimbra, escreveu «De erratis Orontii Finaei», a obra mais polémica que alguma vez assinou. Tratava-se de uma refutação das pretensões do matemático do Colégio Real de Paris, Oronce Fine (1494-1555), que afirmava ter resolvido os três problemas geométricos clássicos da Geometria grega: a trissecção de qualquer ângulo, a duplicação do cubo e a quadratura do círculo, com recurso apenas a regra não graduada e compasso. Pedro Nunes não provou a impossibilidade de resolução desses problemas, pois os instrumentos mate-

máticos da época não permitiam fazer tal demonstração, só conseguida no século XIX. Contudo, a refutação das «provas» apresentadas pelo matemático francês foi de um rigor impecável. É significativo que o recém-chegado matemático de Coimbra tivesse sido o primeiro na Europa a defrontar o professor francês, mostrando assim a superioridade do seu domínio da Geometria. Nunes, publicou ainda uma obra que se ocupa essencialmente dos problemas da navegação –De Arte atque navigandi libro duo, onde acrescenta anotações à mecânica de Aristóteles e também à obra de Purbáquio atrás citada. Para além de outras obras de Pedro Nunes a que existem referências mas que ficaram inéditas, uma única chegou aos nossos dias: conservou-se num códice da Biblioteca Nacional de Florença, publicada sob o titulo de Defensão do Tratado da Rumação do Globo para a Arte de Navegar. Pouco se sabe das origens de Pedro Nunes, da sua relação com os cientistas e humanistas da época, ainda que tenha sido contemporâneo dos grandes vultos portugueses do séc. XVI como sejam Garcia de Orta ou Damião de Góis. Praticamente no leito de morte, Pedro Nunes foi instado pelos enviados do Papa Gregório para dar um parecer sobre a reforma do calendário, pedido a que já não pôde corresponder. Brahe, o maior astrónomo da era pré-telescópica, experimentou uma das suas invenções a que chamou, “subtil processo”. E Clávio, a maior figura do Colégio Romano, o grande centro do saber católico da época, classificou-o como «génio matemático supremo». Pedro Nunes morre em Coimbra a 11 de Agosto de 1578, no mesmo ano da Batalha de Alcácer Quibir em que morreu o Rei D. Sebastião.


A EPM-CELP EM FOCO Alunos Timorenses: Rumo à Língua! As aulas com os nossos alunos timorenses continuam… Aqui não se aprende apenas o feminino/masculino, singular/plural… Também nos debruçamos sobre a janela desta língua cujo horizonte, sempre promissor, toca cada vez mais estes corações que procuram a língua que ecoe o seu sentir, a saudade da sua terra…a alegria do novo saber! Já fizeram uma pequena avaliação e não se saíram mal! Resta agora conjugar a música destes jovens com a música da nossa língua! E neste compasso de espera continuamos a remar…até à língua portuguesa! ME

Flora da Escola Bougainvillea spp. Buganvília Familia: Nyctaginaceae Planta originária do Brasil, deve o seu nome ao navegador francês Louis de Bouganville. Que a descobriu por volta de 1790 e a levou para a Europa, a partir de onde se difundiu para todo o mundo. Por ser um género que foi sujeita a hibridação, existem muitas espécie de buganvílias, de variadas cores. É um arbusto trepador, espinhoso e de folhas perenes. Os seus ramos podem alcançar os 8 metros. Apoia-se sobre as estacas a partir das quais fixa os ramos com espinhos. As folhas têm forma eplíptica de cerca de 13 cm de comprimento. Floresce na Primavera e Verão e permanece florida até inícios do Outono nos climas temperados. Nos climas tropicais a floração dura quase todo o ano. As belas e coloridas “flores” de facto não são flores, mas brácteas que envolvem as verdadeiras flores – cada bráctea contem várias flores. Estas podem ser de muitas cores: brancas, rosa, roxas, amarelas, beijes e azuis. Pode crescer em vasos, mas são plantas de raízes sensíveis, intolerantes ao transplante se já têm vários anos de idade. Não é muito exigente. Requer luz directa e necessita de muito sol para florescer intensamente. Não é resistente a geadas e sofrerá danos abaixo dos -4º. Nas regiões de clima ameno, mesmo assim deve-se

protegê-la com um muro, orientado de forma a resguardá-la do vento. Adapta-se a qualquer tipo de solo, desde que não seja argiloso, preferindo os leves e bem drenados, não suportando o encharcamento. A rega deve ser abundante no verão e mais reduzida durante o período invernal. No verão, basta regá-la de 3 em 3 dias. É no entanto resistente à seca. A adubação deve ser orgânica nos meses mais frescos e mineral nos meses de início do calor. É recomendável ir retirando alguns ramos à medida que crescem para que continue pegada ao local que a suporta. A poda deve ser feita de forma a retirar os gomos laterais e eliminar os ramos velhos. Multiplica-se por estacas, postas a enraizar em areia ou areia e turfa em partes iguais. As pragas mais frequentes são as pulgas, ácaros, mosca branca, vespas e cochonilhas. Diz-se da buganvília que quanto mais sofrida, mais florida. De facto, é habitual ver casas com jardins abandonados, cheios de ervas e secos, com uma buganvília florescendo resplandecente. TN


PSICOLOGANDO Orientação Vocacional Escolar

Orientando escolhas para o futuro profissional dos nossos alunos A Orientação Vocacional e Escolar é uma das tarefas do Serviço de Psicologia, e, orientar os nossos alunos do 9º ano na escolha do curso a seguir no 10º ano, leva-nos a um longo processo de informação e de avaliação em diversas áreas para proporcionar uma melhor orientação, nomeadamente: * Interesses – São aplicados 3 questionários sobre profissões e actividades profissionais para avaliação dos interesses, de forma a podermos perceber quais as actividades onde o aluno parece poder vir a mostrar maior prazer em trabalhar; * Aptidões - Avaliar as aptidões intelectuais torna-se importante para perceber a maior ou menor facilidade evidenciada pelo aluno, no desempenho de determinada actividade profissional. Os factores avaliados dentro das aptidões são os seguintes: dois factores ligados à linguagem - compreensão e fluência verbal - avaliando estas áreas pode perceber-se como o aluno se comporta na compreensão e na expressão da comunicação escrita e oral, através do domínio do seu vocabulário; o factor espacial, importante para avaliar a facilidade de visualização no espaço, para a concepção de estruturas espaciais - este factor é importante para cursos como engenharia e arquitectura; o factor numérico que avalia a facilidade no cálculo mental e que está normalmente associado a profissões como economia, contabilidade, técnico de estatística; e por último o raciocínio lógico, factor directamente associado à capacidade de relacionar ideias, de seguir um processo discursivo e descobrir a relação causal entre factos e ideias – normalmente associado a profissões como o direito, gestão, medicina, trabalho científico, entre outras. * Personalidade – Saber o quadro de personalidade do aluno torna-se de grande importância, pois permite perceber como o ele pode lidar com as mais diversas situações de relacionamento intra e inter-pessoal. No campo da informação foram desenvolvidas actividades que permitiram aos alunos ampliar o seu conhecimento sobre a realidade profissional. Assim, os nossos alunos do 9º ano tiveram oportunidade de fazer entrevistas a profissionais da sua área de interesses, onde puderam pôr questões relacionadas com aspectos práticos da profissão, como: tarefas mais frequentes, importância do conhecimento académico para o melhor desempenho da profissão, nível de relações interpessoais, grau de responsabilidade, grau de satisfação profissional e pessoal, integração da actividade no mercado de trabalho, a importância das qualidades pessoais, entre outros. Este projecto finalizou com duas palestras informativas. A primeira, dirigida aos alunos do 8º e 9º anos,

teve como convidados 3 profissionais que gentilmente acederam ao nosso convite dando-nos muito do seu precioso tempo: Dra. Alexandra Monjardim, advogada, o Arquitecto Pedro Martins, e João Cardoso, publicitário. Nesta palestra os alunos, para além de terem ouvido falar sobre o que se faz em cada uma destas profissões, tiveram oportunidade de colocar as suas questões, às quais foram simpaticamente respondidos. A segunda palestra dirigida a alunos do 9º ano e secundário, teve como objectivo divulgar instituições de ensino superior e médio superior em funcionamento em Moçambique. Contou esta palestra com a presença de 3 instituições – Ispu, representado pelas Dras. Teresa Ferreira e Paula Schwalbach, Universidade São Tomás de Moçambique, representada pela Irmã Ester e pelo Dr. Alberto Ferreira e a UEM na pessoa da Dra. Balbina. Estiveram ainda presentes nesta palestra 5 alunos do ISPU que fazem parte da Tuna desta instituição. Foi com música, alegria e grande animação que estes estudantes nos presentearam neste espaço. Houve ainda diversas universidades e institutos superiores e médios que nos deram informações sobre os seus cursos e que tivemos oportunidade de projectar durante 3 dias no átrio da nossa escola. Foram muito úteis todas as informações prestadas pelos tantos estabelecimentos de ensino que colaboraram connosco aos quais desde já apresentamos os nossos maiores agradecimentos. Um agradecimento especial aos estagiários de Psicologia na área da orientação escolar, António, Arlindo e Eduardo, que muito contribuíram para a recolha e tratamento da informação obtida. Um obrigado também ao nosso Centro de Recursos e a toda a equipa que permitiu que estas duas actividades decorressem com sucesso. AM


A EPM-CELP EM FOCO A Nossa Gente

Está lá... Estou sim, “Escola Portuguesa - Boa Tarde”... Leopoldina da Conceição Amiel Machado nasceu em 3 de Maio de 1944, em Xai-Xai. Fez a antiga 4ª classe na sua terra natal onde trabalhou nos Caminhosde-Ferro. Em 1973 veio para a antiga Lourenço Marques, com o seu marido. Ingressou na Escola Portuguesa de

SLB! Uma escola de diferenças A Escola Portuguesa de Moçambique Centro Centro de Ensino e Língua Portuguesa é uma instituição de ensino pluralista, multicultural e aberta a todas as tendências e expressões culturais, filosóficas e artísticas!... Nela, todos têm o direito de defender as suas ideias e visões do mundo, prevalecendo sempre, como valor máximo, a tolerância e a aceitação democrática da diferença do outro. Este modo de ser resulta de uma opção consciente, considerada como a mais correcta, humanista e típica do povo português, encontrando-se intencionalmente plasmada no Projecto Educativo desta Escola. Para além desta opção consciente, este modo de ser resulta também de uma praxis, que decorre do facto de aqui estudarem e conviverem 24 nacionalidades diferentes. Portugueses e chineses, angolanos e moçambicanos, ruandeses, argelinos, brasileiros, gregos, são tomenses, guineenses e tantos outros, aqui estudam, na língua de Camões, e nela trocam experiências, vivências, histórias de vida e visões do mundo. Esta multiplicidade de nações, como não podia deixar de ser, leva também a uma multiplicidade de credos e religiões: aqui convivem, de forma sã, por exemplo, cristãos, hindús e muçulmanos... Da diversidade cultural à diversidade clubística Em matéria de desporto, em Moçambique, e apesar de Maria de Lurdes Mutola, atleta especialista de 800 metros, ser um nome internacional, o futebol é, de facto, o desporto-Rei.O amor pelo “chuto na bola” é grande, tão grande como em muitos outros lugares

SLB!

Maputo – Cooperativa de Ensino, no ano de 1994. Exerceu funções como auxiliar no Pré-Escolar. Transitou para os quadros da EPMCELP, onde tem exercido as funções de telefonista - recepcionista. É sempre com um sorriso e boadisposição que acolhe quem nos visita. TN

SLB!

do mundo. E não se julgue que este é um fenómeno estranho ou anti-natural! Pelo contrário, o amor pela bola, em Moçambique, é algo que vem já de longe, pois, como se sabe, este espaço do sul de África deu origem a excelentes jogadores, como, por exemplo, Eusébio (com uma estatura desportiva idêntica à do brasileiro Pelé), Mário Coluna, Hilário, ou, em tempos mais recentes, Chiquinho Conde, ex-jogador do Sporting Clube de Portugal. São vários os clubes de futebol que actuam no ”Moçambola”, nome por que é conhecido o Campeonato Moçambicano de Futebol. Nele actuam clubes como o Ferroviário de Maputo, o Maxaquene, o Desportivo de Maputo, o Chingale de Téte, o Ferroviário da Beira ou o Costa do Sol de Maputo, que acaba de fazer cinquenta anos de vida. Foi para colaborar nas celebrações deste último clube (o Costa do Sol), que o SLB (Sport Lisboa e Benfica) veio a Moçambique e... À ESCOLA PORTUGUESAAAAAA! Da ansiedade da espera à loucura da presença O dia 11 de Maio de 2006 é uma dia memorável para a escola. “Com tantas placas que a escola tem, acho que se devia colocar uma para assinalar esta visita do Benfica”, defendia um dos alunos mais velhos (do 12º ano), que, nervoso-adepto-ferrenho, aguardava, na entrada principal, pelos seus jagadores preferidos. “Será que vem aí o Nuno Gomes?”, questionava-se, entusiasmada, ao nosso lado, uma

aluna, revelando, assim, o jogador da sua paixão. Preparando uma recepção condigna, a Direcção da Escola, a Drª Albina Santos Silva, a Engª. Manuela Jacinto e o Dr. José Fernandes, desdobravam-se em esforços suplementares de organização, distribuindo os alunos pelos espaços e ordenando da melhor forma as claques de apoiantes: “Deste lado! Os alunos com equipamento do clube deste lado!”. O Canto Coral Infantil da EPM-CELP, vestido a rigor, perfilara-se já na entrada, e estava pronto para dar mais cor à festa, com os seus cânticos. Os mais pequenos, munidos de balões vermelhos, esperavam sentados, já cansados da espera: “Bolas! Nunca mais vêm! Já estou a ficar chateado!”, exclamava um deles... De facto, o Benfica demorava-se, porque tinha iniciado a sua presença em Maputo, com a visita à escola moçambicana Josina Machel. Quando o autocarro chegou, todo o desânimo se transformou em algazarra e gritos de alegria: “SLB! SLB! SLB!”. Um a um, os jogadores saíram e percorreram o corredor humano que se formara. Uns davam autógrafos, outros saudavam e outros, ainda, cumprimentavam as mãos que se lhes estendiam, na ânsia do contacto. Já no interior átrio da escola, depois da actuação acertada do Canto Coral Infantil, a Drª Albina Santos Silva, proferiu umas breves palavras de boas-vindas. Depois do Dr. José Veiga, dirigente do clube, ter feito o mesmo, toda a equipa assinou o “Livro de Honra” da escola. Enquanto alguns jogadores continuavam com as assinaturas do “Livro de Honra”, e a RTP-África efectuava entrevistas,


ÚLTIMA PÁGINA SLB! SLB! SLB!

continuação da pág. anterior

alguns jogadores do Benfica começaram a distribuir canetas, porta-chaves e galhardetes do clube!... E aí, sim, foi a loucura total! Todos queriam “pegar” (como dizia um dos nossos alunos brasileiros! ) uma recordação do Benfica. Todos saltavam, empurravam, pediam, imploravam uma recordação... E todos aproveitavam para pedir um autógrafo no cartão especialmente preparado pela escola para o efeito!... Não era propriamente um caos, o que se vivia no átrio, mas era uma confusão alegre, atrevida, energética... E foi no meio deste caos juvenil, deste corre-corre generalizado, que registámos um pequeno episódio, singelo e cómico, até, que mostra bem o que nós somos... Um dos jogadores, não querendo esquecer os mais pequenitos, os alunos da pré, cujos professores não permitiam que se metessem na confusão descrita, dirigiu-se às escadas onde se encontravam sentados e começou a distribuir, de forma quase personalizada, as lembranças do clube vermelho. Curvava-se todo, para os ouvir e perguntar, a um ou a outro, o “Como te chamas?” da circunstância!... Uns, mais espeditos, levantavam-se, outros aplaudiam, outros, ainda, pediam qualquer coisa do clube, receando ficar sem nada!... E o Marcelo lá ia dizendo: “Calma, calma, que há para todos!” E foi, aqui, nestra altura, quando estendia um galhardete a um dos alunos da pré, que o insólito aconteceu. Um dos pequenitos recusou a oferta: “Não... Eu já sou do Sporting!” A mão do jogador ficou suspensa no ar, os lábios abriramse num sorriso largo e passou o galhardete ao seguinte. No final, passoulhe a mão pela cabeça, despenteandoo. E é isso mesmo: para além de multicultural, somos também uma escola de multiplas convicções! VR

Países e Povos na Nossa Escola Ao longo dos próximos números darvos-emos a conhecer os países presentes na Escola, através das nacionalidades dos nossos alunos.

Brasil

Nome Oficial: República Federativa do Brasil Superfície: 8 547 404 km² População: 184 101 110 (2004) Densidade populacional: 22 hab/ Km2 Língua oficial: Português Dia nacional: 7 de Setembro (1822 – Independência de Portugal) .Regime político: República Federativa, Sistema Multipartidário Constituição em vigor: 5 de Outubro de 1988 Capital: Brasília Principais cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza e Brasília Moeda: Real Produto Interno Bruto (PIB): 452 387 milhões de USD (2002) PIB/Capita: 2 590 USD (2002) Esperança de vida: 71 anos Taxa de crescimento da população: 1,11 % Taxa de alfabetismo: 87% Taxa de mortalidade infantil: 3,1% População urbana: 82% População rural: 18% Exportações: Ferro, produtos alimentares, vestuário, têxteis, papel, peças sobressalentes para automóveis e componentes eléctricos. Importações: Combustíveis, equipamento de transportes, produtos químicos, carvão e bens alimentares.

Microsoft Encarta 2005 (traduzido e adaptado)

Pátio das Laranjeiras, n.º 31 Directora: Albina Santos Silva . Coordenação Editorial: Vítor Roque . Coordenação Executiva: Jorge Pereira, Núcleo de Apoio, Informação, Relações Públicas e Publicações . Redacção: Judite dos Santos, Rosa Alice Dixe, Vítor Roque . Concepção Gráfica e Paginação: Judite dos Santos . Fotografia: Jorge Pereira, Vítor Roque . Colaboração: Alexandra Melo, Ana Manuela Albasini, Maria de Lurdes do Vale, Pedro Bugarin Henriques, Rosa Alice Dixe, Teresa Noronha . Revisão: Rosa Alice Dixe . Produção: Centro de Recursos Educativos, Fevereiro de 2006 Propriedade: Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa Av. do Palmar, 562 . Caixa Postal 2940 . Maputo . Moçambique . Telefone: 00 258 21 481300 www.edu-port.ac.mz . E-mail: epm-celp@edu-port.ac.mz

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Telefax: 00 258 21 481343


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