ESCOLA PORTUGUESA DE MOÇAMBIQUE
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CENTRO DE ENSINO E LÍNGUA PORTUGUESA
10 contos ANO V
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NÚMEROS 35-36
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JUNHO / JULHO 2006
ENCERRAMENT O ENCERRAMENTO DO ANO LECTIV O LECTIVO
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JORNAL MENSAL
Semana da Criança
destaques Festas de Encerramento do Ano Lectivo
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Semana da Criança
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EDITORIAL Às vésperas de nos retemperarmos com umas férias merecidas, as expectativas estão já viradas para o próximo ano lectivo. É tempo de procedermos a balanços relativos ao ano que findou e sedimentarmos os planos para o próximo. A actividade escolar obriga a tomarmos continuamente o pulso aos resultados, pois a energia necessária ao funcionamento equilibrado da instituição, depende da economia com que soubermos dosear a tentativa e o erro, superando as nossas imperfeições. No ano que terminou mantivemos um nível alto de iniciativa e o plano pedagógico foi cumprido a contento. A nossa atenção centrou-se no que constitui a nossa vocação de formar cidadãos responsáveis, empreendedores, capazes de responder aos desafios que este mundo em constante mudança nos coloca. No mês de Junho, a par com as comemorações com que culminaram as actividades escolares, celebrámos os Dias de Portugal e de Moçambique, simbolizando a integração da nossa Escola no segmento de intersecção destas duas Nações soberanas, com um passado histórico comum. O profundo respeito pelo País onde nos encontramos esteve patente todo o ano nas actividades artísticas, culturais que integraram personalidades moçambicanas e portuguesas e que envolveram a nossa Escola num ambiente de festa e de criatividade. E, se em Junho a festa, a cor, foram a tónica, o mês de Julho fervilhou de actividades ligadas à preparação do novo ano. Por agora, resta-nos desejar a todos, umas boas férias! Aos que nos deixam, queremos agradecer o empenho e dedicação com que abraçaram o nosso projecto e desejar-lhes os maiores sucessos pessoais e profissionais. Àqueles que connosco continuam, um até breve!
A EPM-CELP EM FOCO notícias curtas
notícias curtas EPM-CELP pr omove convívio com as Crianças do Bairro da Polana Caniço “B”
Par ticipação do 1.º ano na festa do PréEscolar Os alunos do 1º ano de escolaridade participaram e animaram a festa do final do ano lectivo, com a apresentação de duas canções “As Vogais” e “As Letras” de José Barata Moura, de acordo com o projecto de parceria com o grupo dos 5 anos do Pré-escolar. Participaram ainda com uma dança de roda “Ora ponha aqui o seu pezinho” acompanhados pelo professor de música Pedro de Jesus, com o apoio dos professores Isac Maússe, Cláudia Costa e Francisco Ferreira. PJ
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Por ocasião da passagem do dia Internacional da Criança, que se comemorou em todo o mundo no passado 1 de Junho, perto de 500 crianças, estudantes da Escola Comunitária da Polana Caniço “B”, beneficiaram de um convívio com os nossos alunos, tendo com eles partilhado um lanche Acompanhados pelos respectivos professores, aquelas crianças receberam dos docentes da EPMCELP, bens alimentares, entre os quais kits constituídos de sumos, sandes, bolachas, biscoitos, doces e rebuçados, o que segundo os responsáveis daquele estabelecimento de ensino comunitário, permitiu o convívio entre os alunos naquela data, porquanto nada previa que isso fosse possível, dadas as precárias condições financeiras quer da própria escola, quer dos encarregados de educação dos alunos. Tanto os professores, como os alunos daquela escola, que lecciona do primeiro ao quinto ano, manifestaram-se satisfeitos com o gesto de solidariedade da EPM-CELP, que em momento oportuno como é o dia da Criança, conseguiu trazer a alegria que toda a pequenada necessita. Para além do lanche realizaram-se actividades de canto e dança, concursos de desenho, pintura e poesia, tendo as crianças cantado com alegria o “1 de Junho Dia da Criança”. Não é o primeiro apoio que esta Escola beneficia por parte da EPMCELP, sendo que em ocasiões anteriores, recebeu desta, ajudas em material escolar, didáctico, pedagógico e apoio no melhoramento e construção das instalações onde funciona a Direcção escolar. BA
A EPM-CELP EM FOCO notícias curtas Festa do Pré-Escolar No passado dia 22 de Junho, o grupo da educação pré-escolar celebrou o final de mais um ano lectivo. Para uns, foi o terminar de mais uma etapa escolar, para outros, foi o cumprir de mais uma tarefa com responsabilidade e dedicação. Como é costume, nesta altura do ano, convidámos os pais e encarregados de educação para verem ao vivo o resultado de um ano de trabalho à volta do projecto pedagógico desenvolvido ao longo do ano pelos alunos da Educação Pré –Escolar. Sob o título “Para termos um Planeta Diferente, Respeita o Meio Ambiente” apresentámos algumas histórias dramatizadas sobre a poluição do Ar, da Água e da Terra. Esta nossa festa ficou também marcada pela entrega de uma lembrança da Escola, aos alunos das turmas de 5 anos que vão para o 1º ciclo no próximo ano lectivo. Como não podia deixar de ser, convidámos os alunos do 1.º ano, para partilharem connosco este momento de festa, visto termos desenvolvido ao longo do ano o projecto de parceria pedagógica intitulado” No Mundo do Papelito”. Os alunos do 1º ano enriqueceram este momento ímpar e mágico, cantando duas canções à volta do mundo das Letras. Foi apresentado também um diaporama onde se demonstra que afinal a “brincar também se aprende”. Agora resta-nos despedir e desejar boas férias para todos. Vide fotoreportagem na página 9
notícias curtas
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“Fim do Ano com Uma Ar mas do conheci- Perna às Costas” O fim do 1ºciclo é uma etapa aguarmento dada com grande ansiedade por aluA EPM- CELP recebeu no passado dia 26 de Junho a visita do Tenente Coronel Peres de Almeida, de visita a Moçambique numa missão da Cooperação Técnico-Militar, e que, em nome da Direcção Geral de Pessoal e Recrutamento Militar do Ministério da Defesa Nacional, ofereceu à Biblioteca José Craveirinha uma colecção da obra poética de Sophia de Mello Breyner Andresen e os três volumes da História de Portugal dirigida pelo Professor Doutor Oliveira Marques. Desde já, aqui prestamos o nosso reconhecimento e agradecimento por esta visita que muito nos honrou e pela relevante oferta. Bem hajam! PBH
Cahora Bassa na EPMCELP O Engenheiro Joaquim Silva Correia, Presidente do Conselho de Administração de Cahora Bassa, visitou a nossa Escola, no passado dia 18 de Julho. Depois de uma breve visita guiada às instalações, teve a oportunidade de assinar o “Livro de Honra” da Escola, tendo aí deixado palavras de incentivo e simpatia. É de referir que o Engenheiro Joaquim Silva Correia, enquanto Presidente do Conselho de Administração de Cahora Bassa, é um dos cofinanciadores da “Árvore do Reconhecimento”, uma bonita peça de azulejaria, da autoria do Comendador Gilberto Leal, e que “dá vida” a uma das fachadas do nosso edifício. Aproveitamos a oportunidade da sua visita para publicamente lhe agradecermos a amizade que nos devota. VR
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nos, encarregados de educação e professores. Neste âmbito, para assinalar a data surgiu uma actividade denominada “Fim do ano, com uma perna às costas…” Foi um dia passado na Escola recheado de actividades diferentes e divertidas. A festa começou com uma cerimónia, em que os elementos da Direcção da Escola entregaram uma “Lembrança” aos alunos finalistas que, com um sorriso no rosto e um brilho nos olhos, a receberam. Este brilho foi sempre acompanhado por um grande sentido de responsabilidade, pois de facto, eles foram as “Estrelas” do dia. As canções que entoaram, espelharam a alegria e a emoção sentida no momento. A prática de jogos tradicionais foi a actividade que mais agradou aos alunos. À hora do almoço apareceram umas deliciosas “pizzas” que alegraram a pequenada. Ainda houve espaço para os mais “habilidosos” mostrarem a sua arte. No Pátio da Laranjeiras ocorreu um momento em que a espontaneidade e a criatividade foram as tónicas dominantes. Ainda houve tempo para vermos “Uma Aventura na Mina” no Auditório Carlos Paredes. Esta actividade foi muito interessante, certamente será recordada com saudade por todos os que nela participaram. Os professores desejam aos finalistas do 1ºCiclo muitos sucessos no futuro e que prossigam os seus estudos com empenho e deProfessores do 4.º ano dicação. Vide fotoreportagem na página 9
A EPM-CELP EM FOCO As Olimpíadas de Português no decurso do ano lectivo Ao longo do ano lectivo realizaram-se as Olimpíadas de Português que decorreram em três fases e que tiveram por objectivo motivar os alunos para o domínio do funcionamento da língua, ou seja, para o uso correcto das regras gramaticais. As duas eliminatórias decorreram em situação de sala de aula, tendo como participantes alunos do 1º ciclo (3º e 4º anos) e 2º e 3º ciclos e ensino secundário. Em cada eliminatória foram seleccionadas as três melhores provas de cada nível. A grande final realizou-se em Maio e nela participaram os dezoito finalistas relativos aos três ciclos do ensino básico e do ensino secundário. Nos casos em que se verificou empate, entraram em conta factores como a caligrafia, a apresentação e a correcção linguística, tendo em cada nível sido atribuído um prémio aos primeiros três classificados, assim como um certificado de participação. Os alunos premiados foram os seguintes: 1º Ciclo Iva Gonçalves ( 3º B), Michelle Mendes (4º C), Rita Gomes (4º C). 2º Ciclo - Nayara Afzal (6º B), Maria Guadalupe Gomes (6ºB), Sara Correia (6º A). 3º Ciclo - Jessica Vieira (9º C), Mónica Amorim (8º B), Sonali Himatlal (9º B). Secundário - Melissa Lam (10º C), Lília Valente (12º A), Joana Trindade (12º A). A Área Disciplinar de Português agradece a todos os alunos que participaram na actividade, estando convicta que no próximo ano lectivo mais uma vez a sua presença far-se-á sentir nas Olimpíadas de Português, pois só participando podemos ir à descoberta do desconhecido e do saber, desenvolvendo, desse modo, as nossas competências na língua portuguesa. AB
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Os loucos anos vinte No dia 7 de Junho foi levada à cena, no auditório Carlos Paredes, a peça de teatro “Os loucos anos 20” da autoria do professor de História, Francisco Martinez num trabalho colaborativo com os alunos do 9º Ano da Turma A. A ideia surgiu no contexto da abordagem do programa de História do 9º Ano. O objectivo foi, de forma lúdica, tratar a temática “Sociedade e Cultura num Mundo em Mudança” envolvendo os alunos na pesquisa sobre hábitos sócio-culturais da época e figuras marcantes no campo da ciência, literatura, artes plásticas, música e moda. Assistiram à apresentação alunos de vários anos que manifestaram grande interesse e entusiasmo em relação ao trabalho dos colegas e do professor. MS/LA
A A EPM-CELP EPM-CELP EM EM FOCO FOCO Exibição de Karaté dos alunos do 4.º ano de escolaridade No karaté, um golpe recebido durante a inspiração pode ser perigoso, sobre a expiração, não. O fito é captar uma oportunidade enquanto o adversário inspira, pois aí está apoiado numa falha, num vazio. E dou por mim atento ao modo como os miúdos respiram, no tapete, enquanto aguardam a sua vez de combater, quando alçam a perna acima da cintura, no momento de acolherem o veredicto dos árbitros. Distraio-me nessa verificação e esqueço-me do jogo da Argentina que, no écran pendurado nas minhas costas, ganha sem espinhas. Tão miúdos e com tanta vontade de ser maduros. A demonstração teve três provas: kata, sambo e bunkai (combate). O que mais gostei na sessão, orientada pelo professor Luís Sousa, foi desse algo que ali se suspendeu: os miúdos respiravam como se tivessem achado o seu lugar, algas apaziguadas pela leve nervoseira das
vagas. O mestre alternava o rigor nas orientações a um humor brando, carinhoso, enquanto os miúdos se empenhavam a fundo, num silêncio que aspirava menos ao espírito de competição que ao sincronismo, como peixes num cardume. Não sei se aprenderão, de facto, a lutar, com uma eficácia inescapável. Há uns mais destros que outros. Mas gosto que a disciplina esteja adquirida, sente-se que se soltam nessa contenção e que aceitam com desportivismo e amizade a derrota. A minha filha ficou em primeiro, segundo e terceiro, consoante as provas, o que é bom para se contrair a confiança sem o vírus da vaidade. Gostei pouco da ausência dos pais, alheios ao esforço dos filhos. Para o ano hei-de ver se me deixam participar nos combates, pelo menos em sombra chinesa. António Cabrita (Encarregado de Educação)
Grupo de Canto Coral do 3.º ano
A Música é uma das formas mais importantes da expressão humana. O Projecto «Coral Infantil do 3º Ano» teve como objectivo promover vivências musicais significativas para o desenvolvimento integrado das crianças, ampliandolhes o conhecimento do mundo e ensinando-as a respeitar a diversidade cultural do nosso planeta. Foi e é (porque vai continuar no próximo ano lectivo), um projecto de educação musical por meio da voz. A partir do canto em grupo, as crianças desenvolveram habilidades específicas na área da Música: aprenderam novas canções, desenvolveram a percepção auditiva, a sensibilidade à música, aspectos motores e sociais. Foram trabalhados e executados trechos de
músicas desconhecidas, valorizando-se assim a linguagem musical. No âmbito da semana da Criança, o Coral Infantil participou na sua abertura interpretando o tema «Os Meninos de Huambo»; no Dia da Criança participou nas comemorações realizadas no Hospital José Macamo, interpretando «Os Meninos de Huambo», «Sinto-me orgulhoso», «O Hino da Escola» e «Cinderela»; Participou na semana de África e no III Simposium de Língua Portuguesa. O Coral Infantil também participou nas actividades do 10 de Junho cantando os hinos de Moçambique e Portugal na Embaixada Portuguesa. Na festa de Encerramento do ano lectivo, «Gala dos Talentos», com as canções «My Bonnie», «Vida di Pove», «Elisa wé» e «Cantiga da rua». Não podemos deixar de frisar todo o apoio que tivemos neste projecto, da Direcção da Escola, da Coordenadora de Ciclo, do Professor Isac Maússe de Educação Musical; das Professoras de Inglês Raquel Bachita e Liliana Reis, da Professora Judite Santos, do Professor Pedro de Jesus, da Professora Cláudia Costa, do Educador Francisco Ferreira e da Auxiliar de Educação D. Fátima. A todos o nosso «OBRIGADO!» Nestas actividades as crianças aprenderam o verdadeiro significado da palavra respeito como sendo “uma forma de amor”.
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Professores do 3.º ano
A EPM-CELP EM FOCO O projecto “Tuninha Sol e Dó” A música e a dança são actividades que proporcionam bem-estar a quem as pratica, e também são elementos facilitadores na aquisição de regras, melhoramento do comportamento e desenvolvimento harmonioso da motricidade e coordenação. A Tuninha do Sol e Dó foi constituída no ano lectivo de 2004/2005. Congregou alunos do 1º Ano de Escolaridade, com idades compreendidas entre os 5 e os 6 anos. Após o término deste período de trabalho, as crianças envolvidas adquiriram gosto pela música e desenvolveram competências na área da música: maior facilidade em decorar as letras das músicas escolhidas, maior afinação e sensibilidade musical. Par além destes aspectos trabalhou-se com este grupo, algumas questões relacionadas com coesão e dinâmicas de grupo, relacionamento interpessoal e faculdades criadoras, sociais e pessoais. Face ao impacto positivo junto destas crianças, pais e comunidade em geral considerou-se importante dar continuidade a este projecto com novas estratégias e dinâmicas de trabalho, que viessem reforçar todo o trabalho até então realizado. No ano lectivo 2005/2006, deu-se continuidade ao projecto da “Tuninha do Sol e Dó”com os alunos das turmas A, B e C do 2º Ano de Escolaridade, tendo como principais objectivos a atingir, dentre outros, a vivência de novas experiências musicais através do contacto com novos instrumentos e novos desafios; a promoção de momentos e estimulação da atenção, da concentração, da percepção auditiva e da coordenação
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motora; e o desenvolvimento e aperfeiçoamento de competências musicais até então adquiridas. Dentro do objectivo de dar a conhecer aos pais, restantes alunos da escola e à comunidade em geral, de todo o trabalho desenvolvido pelo grupo de trabalho, a Tuninha do Sol e Dó participou nalguns eventos e datas comemorativas, nomeadamente: - Participação no” Simpósio de Literatura de Viagem”; - Participação nas comemorações do “Dia da Criança”, na Escola e no Hospital de Mavalane, - Participação na festa de fim de ano lectivo, mais propriamente na “Gala de talentos”. Durante o ano lectivo, a Tuninha do Sol e Dó trabalhou as seguintes canções: - “A cana verde”; “A moleirinha”; “Ó terrá, terrá, tá, tá”; “ Georgina”; “Chora videirinha”; “ No alto daquela serra”;” A pinguim vaidosa”; “ Ora bate, bate, bate”. Algumas das canções tiveram o acompanhamento de instrumentos musicais confeccionados na sala de aulas, com material de desperdício. Os ensaios realizaram-se às quintas-feiras, das 16h às 17h e 30min, com a coordenação da Professora Zubaida Rijal Ibraímo Ismael e o apoio do Professor de Música Isaac Maússe, na sala 9. Foi muito interessante a implementação deste projecto, pois acho que a música é primordial no desenvolvimento do indivíduo. Eu parto e a “Tuninha do Sol e Dó” está para ficar! ZI
OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA
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Como tu, como eu, Este jovem na Escola devia estar Para conhecer as letras, os números, A arte e as ciências, A história da sua terra e do mundo, Passear pelo mundo da geografia...
Na Escola devia estar Para aprender a proteger o ambiente que ama Saber alimentar-se e viver com saúde, Utilizar as novas tecnologias de informação e comunicação, Transmitir-nos as suas vivências... E connosco reflectir Sobre quem somos, donde vimos e para onde vamos... Na Escola devia estar Para saber as voltas que dá o algodão que ele, de Sol a Sol, serenamente apanha para vestir os ricos, os reis e as princesas, os presidentes e os sacerdotes... Sim! Porque ele... ele continua a não ter roupas que do Sol, do vento e do frio o protejam... Ele continua a trabalhar para tu e eu nos vestirmos...
Tu, ele e eu...NÓS! Nós queremos ser criativos, inovadores para este mundo tornar diferente Para que a saúde, a educação, as oportunidades para uma vida de qualidade, o AMOR deixem de fazer parte dos sonhos De uns ou dos slogans de outros... para serem o MUNDO EM QUE VIVEMOS!
poesia
Lília Valente (Foto de António Valente)
Exposição Fotográfica Ilha de Moçambique: Passeios por mar e por terra É o título de uma exposição fotográfica organizada pela Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa, põe ocasião de celebração do dia «10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas». Não foi por acaso que a Ilha de Moçambique veio lá de tão longe preencher os expositores do nosso átrio! Ela aqui chegou através da objectiva de dois fotógrafos amadores, que, como tantos outros, se encantaram com o seu esplendor, a mística e, acima de tudo, a riqueza histórico-cultural. O conjunto de fotografias seleccionado para a exposição foi tirado entre 2002 e 2003, por Sara de Sousa Teixeira, Professora da EPM-CELP e Rui Maia Costa, seu marido, na temporada em que residiram em Nampula. A mesma teve lugar entre os dias 8, 9 e 10 de Junho, sendo constituída por seis painéis dedicados aos temas: Mar e embarcações; Ruas, casa e lojas; Monumentos; Pessoas; Pormenores arquitectónicos e Vistas gerais.
De forma a complementar a exposição, acrescentando informação referente à importância histórica desta cidade outrora capital de Moçambique e desde o final de 1991 Património Mundial da Humanidade, foi preparada uma brochura que refere a presença de Vasco da Gama e de Luís Vaz de Camões, dois grandes exemplos de presença Portuguesa na Ilha de Moçambique. Esperamos que esta exposição tenha conseguido criar em todos os que apreciaram e que não conhecem a Ilha, uma boa expectativa e vontade de a conhecer, pois apesar de fisicamente degradada, conserva a sua singular cultura. ST
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FOTOREPORTAGEM Semana da Crianรงa
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FOTOREPORTAGEM Pré-Escolar
Festas de Encerramento do Ano Lectivo
1.º Ciclo do Ensino Básico
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ROSTOS DA ESCRITA Domingas Samy - A consciência feminina na literatura guineense Porque gosto da subversão, porque gosto de poetas que têm a outra visão da realidade, vêem o lado de dentro do mundo, tive curiosidade em conhecer algo mais sobre a obra literária de Domingas Samy, quando há quatro anos li um poema seu intitulado Arde Coração. O que me chamou a atenção neste poema foi a utilização de uma imagem que me remeteu para o nascimento de Vénus, a deusa clássica da beleza feminina e do amor. Neste poema, surge das ondas do mar um homem há muito esperado pelo sujeito poético e surge como se fosse um Deus. (Este poema integrase em Rostos de Escrita) Domingas Barbosa Mendes Samy nasceu em 1955, em Bula, na Guiné- Bissau. Estudou na antiga União Soviética, onde concluiu o curso de Filologia Românica. Além de ser autora de alguns poemas que se encontram integrados na Antologia Poética da Guiné-Bissau, é na ficção que ganha relevo. De salientar que a produção literária, neste país, por vários motivos, é,ainda, reduzida, sobretudo no domínio da prosa ficcional. Foi publicado em Setembro de 1993 e, segundo a opinião de Moema Parente Auger, o primeiro livro de ficção propriamente dita na Guiné-Bissau. É uma colectânea de três contos, com o título A Escola, Maimuna e O Destino. Nestes contos aborda-se os costumes da população guineense. No conto A Escola, a acção desenrola-se em Bissau e envolve o destino de várias mulheres, de idades, temperamentos e em situações diversas. A escritora aborda várias questões ligadas à condição feminina. Os costumes tradicionais e as novas modas provenientes das cidades são problematizados a partir da perspectiva da mulher: a gravidez precoce, a rejeição da criança por parte da mãe adolescente que está ansiosa, por gozar a vida (“Que se lixe, esse bebé. Por que veio? É só para me estragar a vida”). Há nesta situação a intenção de denunciar um comportamento oportunista e leviano da juventude urbana virada para o prazer e para o divertimento. Aborda-se também neste conto a situação de uma mulher madura, abandonada pelo marido, que vai constituir uma segunda família, em detrimento da primeira. A problematização do aborto, o trabalho feminino e a abordagem dos problemas ligados aos tabús, envolvendo, ainda, a SIDA, são outros dos temas abordados.
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A história de Maimuna passa-se no interior do país, onde é visível uma certa tensão existente no meio rural, onde os costumes tradicionais se chocam com uma mentalidade dita moderna, própria dos tempos actuais. Esta tensão é provocada com a tomada de consciência de algumas personagens femininas, que querem tomar o seu destino nas próprias mãos. A poligamia, o direito do pai decidir sobre o casamento das filhas, a obediência total das esposas e dos filhos ao patriarca da família são temas abordados em Maimuna, nome da protagonista, que entra em conflito com a família e com a sociedade em que está inserida. Este conflito deve-se ao facto da protagonista querer aprender a ler e a escrever e querer ter uma profissão que lhe possibilite a sua independência económica. Vencendo todas as dificuldades, rejeita seguir o destino de suas irmãs e de outras mulheres da sua comunidade. Maimuna consegue livrar-se do casamento que lhe foi imposto pelo pai e escolhe como marido o homem que ama. No conto O Destino, a acção desenrola-se no tempo colonial e relata a arrogância e o abuso do poder por parte da classe dirigente , onde prevalece a discriminação, sobretudo em relação à mulher negra. As personagens espelham a sociedade daquele tempo: temos o homem branco que seduz a criada negra e depois abandona-a, sem reconhecer o fruto daquela relação, . o filho bastardo,que, apesar das dificuldades vividas, consegue estudar e transforma-se num famoso advogado e outras, que alimentam a estória. São estes os temas abordados neste conto de acordo com uma perspectiva feminina e, que apesar do seu cariz pedagógico, não descura o lado literário. RAD
ESCOLHAS DA BIBLIOTECA A noite sagrada “A Noite Sagrada” (1987) é um dos grandes romances de Tahar Ben Jelloun, escritor de origem marroquina, radicado há 25 anos em França e autor de uma trintena de livros de géneros tão diversos como a poesia, o romance, o ensaio e o teatro, traduzidos em 43 línguas do mundo. É o segundo romance de uma obra composta por “A Criança de Areia” e “A Noite Sagrada”, que narram a história de uma troca de identidade sexual, de uma rapariga a isso obrigada pelo seu pai muçulmano, incapaz de conceber um varão e de assumir publicamente esta impotência. Enquanto na “Criança de Areia”, a história desta identidade roubada é narrada por terceiros, na Noite Sagrada, Zahara, depois de uma vida conturbada, toma voz para revelar o seu percurso em busca do rosto que lhe fora sonegado. Zahara – que significa a flor das flores, a filha da eternidade - descobre a sua identidade feminina na vigésima sétima noite do Ramadão, a noite sagrada, votada à confissão e ao perdão. O pai, às portas do Além, deseja partir livre do peso da mentira e confessa à filha ter trocado a sua sexualidade, travestindo-a em homem. “peço que o teu perdão me seja concedido… acabas de nascer, nesta noite, na vigésima sétima noite… és uma mulher”. Assim nasce Zahara para a sua condição de mulher. Ela irá atravessar espaços reais e imaginários num longo périplo que vai de um Jardim Perfumado - povoado por crianças e governado por um sultão de uma tribo nómada cuja condição de sobrevivência é a perda de memória - ao assassinato simbólico do pai, estrangulado com o corpete que lhe oprimia há oito anos o peito, à sua violação num bosque por um homem sem rosto, ao exílio voluntário na casa de uma dona de Hamman (banho público), irmã de um cego a quem entregará o seu desejo. Zahara escolhe o nomadismo, a solidão, a ruptura como o passado. Ironicamente ou por força de um destino o passado virá brutalmente ter com ela com todo o peso da mentira que fora a sua vida, acabando por expiar um pecado de que fora cúmplice e vítima, sendo presa e torturada a mando das irmãs que ordenam que lhe seja exciso clítoris. É um romance atemporal, onde as percepções reais e imaginárias – exterior e o interior - são indistintas. A narrativa desta mulher só, errante, violada, apaixona-
da, condenada, encarcerada, mutilada, beatificada, é de uma intimidade crua e cruel; é a narrativa de uma anciã que readquiriu a serenidade da vida, ao encontrar-se com a sua própria verdade num mundo dominado pelos homens: “o que importa é a verdade. Agora que estou velha, tenho toda a serenidade para viver. Não são os anos que pesam mais, mas tudo o que não foi dito, tudo o que calei e dissimulei. Não sabia que uma memória cheia de silêncios e de olhares parados podia transformar-se num saco de areia tornando o andar mais difícil… Lembrai-vos! Fui uma filha mascarada pela vontade de um pai que se sentia diminuído por não ter tido um filho. Como sabeis, fui esse filho com que ele sonhou. Contaram-vos histórias. Não são verdadeiramente as minhas. Como a minha vida não é um conto, fiz questão de restabelecer os factos e desvendar o segredo guardado sob uma pedra negra numa casa de muros altos, no fundo de um beco fechado por sete portas.” Os segredos da vida de uma mulher numa sociedade falocrática nem sempre são fáceis de escutar. TN
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CENTRO DE RECURSOS EDUCATIVOS Oficina Didáctica Chegou ao fim o ano lectivo, outro se avista no horizonte. É tempo de fazer balanços e de preparar o futuro próximo. No que se refere ao nosso trabalho, na Oficina Didáctica, mais do que contabilizar produtos, importa autoavaliar o nosso (des)empenho. Recordamos todos quantos nos lêem, que a Oficina Didáctica compreende os Sectores de Produção Gráfica e Publicações e de Fotografia e Vídeo, e que cabe a esta área do Centro de Recursos Educativos, o apoio técnico-pedagógico à Instituição, na concretização dos mais diversos produtos dos âmbitos gráfico e multimédia, de suporte a todas as actividades. Certos que o nosso trabalho foi empenhado e de qualidade, com as falhas e as dificuldades inerentes ao processo, também este, de aprendizagem, cumpre-nos reafirmar que cá estaremos para o próximo ano lectivo com o mesmo empenho e com a perspectiva de maior qualidade e mais profissionalismo. Até Setembro e boas férias! CRE Abertura dos diaporamas de apresentação das actividades do 4.º ano de escolaridade e do Pré-Escolar Cartazes alusivos aos dias de Portugal e de Moçambique
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PSICOLOGANDO Estágios na EPM-CELP
Uma forma de Cooperação Durante 3 meses estiveram connosco 5 estagiários do curso de Psicologia, vertente Psicologia Escolar e Orientação Profissional, da Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane. Os estagiários, cumprindo o objectivo principal do estágio num curso universitário, trabalharam em praticamente todas as áreas de intervenção do Serviço de Psicologia da nossa escola, nomeadamente no Pré-escolar, 1º, 2º e 3º ciclos. De uma maneira geral a sua prática andou à volta dos processos de avaliação para despiste de eventuais problemáticas associadas à aprendizagem e de planos de intervenção com vista à redução do insucesso escolar. No 3º ciclo, mais concretamente no 9º ano, a sua actividade centrou-se na orientação escolar e pro-
fissional. Os estagiários colaboraram na organização da semana de Orientação Escolar onde se promoveram actividades direccionadas para a informação dos alunos sobre profissões e cursos médios e universitários em Moçambique. De lembrar que a presença de estagiários na nossa escola integra-se nos Projectos de Formação desenvolvidos pela Centro de Formação da EPM-CELP. Aos estagiários, Manuel Simbine, Justina Augusto, Arlindo NhabindeAntónio Cossa e Eduardo Nacudime um muito obrigada pela sua colaboração, pois se vieram aprender com o que por cá fazemos, também nos vieram trazer as suas experiências! AM
A EPM-CELP EM FOCO notícias curtas
notícias curtas
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Semana da Criança
Exames
O Aniversário da Nossa Presidente
Este ano lectivo, o grupo da educação Pré– Escolar e o 1º Ciclo comemoraram a Semana da Criança, que decorreu entre o dia 29 de Maio e o dia 2 de Junho. A abertura da Semana foi feita pelo Coro Infantil, seguindo-se a inauguração de uma Exposição de trabalhos realizados pelos alunos, ao longo do ano. O Dia 1 de Junho, foi o mais
Decorreram, entre 19 de Junho e 25 de Julho (com uma semana de interregno) as 1.ª e 2.ª fases dos Exames Nacionais do Ensino Se-
A Dra. Albina fez anos no dia 13 de Junho!! Os meninos do Pré – Escolar e do
cundário. A par destes, decorreram
1º Ciclo não podiam deixar de felici-
igualmente os Exames Nacionais do
tar a Presidente, neste dia tão es-
9.º ano do Ensino Básico e os Exa-
pecial, e juntaram-se no átrio Prin-
mes de Equivalência à Frequência.
cipal da Escola para cantar “Para-
Do próximo número do PL, consta-
béns a você, nesta data querida…”
rá uma notícia desenvolvida sobre
Estavam todos preparados, quan-
este assunto.
do chamámos a aniversariante e, das escadas que dão acesso ao
especial…foi o Dia da Criança! Nes-
Átrio,… SURPRESA!!
te dia, os alunos viram um filme e
A nossa Presidente gostou, e
fez-se um lanche colectivo, para que todos convivessem.
retribuiu distribindo beijinhos aos
As actividades de encerramento da
alunos.
Semana decorreram no campo de
Foi uma “pequena , grande” FES-
futebol e ali realizou-se a Festa do
TA.
Alfabeto, cantou-se e dançou-se. AA Vide fotoreportagem na página 8
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PÁGINAS COM HISTÓRIA Damião de Góis, Um Humanista no Portugal de Quinhentos… Em 1941 realizou-se a transladação dos restos mortais de Damião de Góis da Igreja da Várzea para a de S. Pedro de Alenquer, na mesma vila, sua terra natal. Mário de Sampaio Ribeiro, estudioso musical (Damião de Góis foi compositor), viu-lhe o crânio. Notava-se uma violenta pancada arredondada, improvável que tivesse sido provocada por qualquer aresta ao cair sobre a lareira… Damião de Góis morre na sua casa de Alenquer a 30 de Janeiro de 1574. Foi encontrado morto, tombado sobre a lareira e parcialmente calcinado. Que teria realmente acontecido? Teria sido assassinado? Que interesses ou que vontades se moveriam para fazer desaparecer aquele que foi o maior humanista português do séc. XVI, que na altura já contava com mais de setenta anos? Tal como no romance de Fernando Campos - A Sala das Perguntas - não sabemos desvendar o mistério, contudo conseguimos desenhar a vida de um homem que foi a vários títulos excepcional no seu tempo. Filho do almoxarife Rui Dias de Góis e de Isabel de Limi, Damião, aos nove anos e já órfão de pai (1513), entra para a corte como pajem do Rei, ou seja, D. Manuel I , o Venturoso que morre em 1521. O seu companheiro de brincadeiras chama-se João. Ambos nascem em 1502, um na capital, Lisboa, outro em Alenquer. Nos paços reais onde também está como guarda-roupa o seu irmão Frutuoso de Góis, Damião é testemunha juvenil do período áureo de D. Manuel e da história portuguesa. Convive com os mais renomados fidalgos, homens de armas e marinheiros. Assiste ao nascimento, (dez anos mais novo), do que virá a ser o Cardeal-Inquisidor e rei, D. Henrique. Ouve e vê nos bastidores a preparação da fabulosa embaixada ao Papa Leão X, a Roma. Moço de câmara, está entre os que velam a agonia de D. Manuel I. Conhece, por certo, Gil Vicente e todos os poetas admitidos na corte, entre eles um, chamado Pedro Andrade Caminha, o feroz inimigo de Camões. Talvez não saiba, mas alguns ecos lhe terão soado, que Afonso de Albuquerque conquista Goa em 1510 e morre em 1515; que, pela Europa muito se fala de um frade agostinho rebelado contra Roma, de nome Martinho Lutero e da sua excomunhão em 1520; que outro grande vulto da época, Erasmo de Roterdão publica o Elogio da loucura; que Carlos V entra em Espanha; que Inácio de Loyola, ainda fidalgo-guerreiro, é ferido no cerco de Pamplona. Os anos passam, Damião cresce. O Rei D. Manuel morre e o seu amigo de infância é agora D. João III. Em 1523, o novo Rei manda-o para a Flandres como escrivão da Feitoria Portuguesa de Antuérpia, instituição que negoceia as mercadorias vindas do Oriente. Damião está num dos maiores centros cosmopolitas da Europa, onde, quem seja capaz, facilmente enriquece, material e culturalmente. O que Damião de Góis não enjeita, como homem ávido de saber, como homem atento aos problemas do seu tempo e como homem apreciador dos grandes prazeres da vida.
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Inicia-se assim a carreira daquele que foi uma figura ímpar do renascimento português, como historiador e humanista, viajante e epistológrafo, diplomata e funcionário régio. Fez da sua vida uma simbiose perfeita dos ideais do seu tempo, sendo um verdadeiro traço de união entre Portugal e a Europa culta do séc. XVI. Em Antuérpia, inicia os seus périplos europeus de mais de vinte anos e aí alicerça a sua fortuna pessoal. É agora um cidadão do mundo, fidalgo opulento, generoso, com boa mesa, amigo e admirado por alguns dos maiores vultos da intelectualidade sua contemporânea. Porque, dotado de grande inteligência e curiosidade espiritual, homem de trato cativante, facilmente faz amizades ou simples conhecimentos. Logo em 1523 visita Friburgo para conhecer Erasmo que lhe vai posteriormente demonstrar amizade e reconhecimento. Além das qualidades próprias, Damião de Góis representa D. João III, rei de um pequeno país que se tornara famoso e poderoso pelas suas recentes descobertas. É na função de enviado régio que o futuro cronista de D. Manuel I faz deslocações à Polónia, Dantzig, Lituânia, Cracóvia, Dinamarca, Alemanha para negociar o casamento do infante português D. Luis com Edviges, filha do rei da Polónia. Na última viagem a este país vai a Witemberg, a cidade da Reforma onde se encontra com Lutero e Melanchton. Ouve a pregação do primeiro na igreja local. Pouco terá entendido, além das citações latinas, visto não saber alemão. Mas é convidado pelos dois reformistas para jantar em suas casas, por várias vezes e com eles debater questões de ordem religiosa. Em 1532, Damião de Góis inicia uma nova fase da sua vida, a de escolar, desistindo do cargo de tesoureiro da Casa da Índia, para o qual D. João III o nomeara, e cessando também o oficio na feitoria de Anvers. Na primeira metade de 1534 vive em Basileia na companhia de Erasmo de Roterdão, e dali segue para Pádua, onde se mantém quatro anos estudando na Universidade. Durante as férias faz várias viagens pela Europa e relaciona-se com escritores e humanistas. Depois de Pádua, continua a sua escolaridade em Lovaina, cidade onde vem a casar e constituir família em 1539, com Joana van Hargen, filha de um conselheiro flamengo do Imperador Carlos V. Os três anos que medeiam entre 1539 e 1542 correspondem ao período de criação do humanista, que, com perfeito domínio da língua latina, faz publicar vários opúsculos: em 1539, os Commentarii rerum gestarum in Índia e, e no ano seguinte, Fides, religio moresque aethioporum sub império Preciosi Joanni. A guerra na Flandres vai alterar o seu percurso. Em 1542, as tropas de Francisco I de França invadem a cidade de Lovaina. Damião de Góis participa na defesa da cidade e é feito prisioneiro. O seu resgate será pago a peso de ouro por interferência de D. João III e do Imperador Carlos V. Este último confere-lhe o direito a brasão e armas que o rei português confirma. Este momento da sua vida é motivo continua na pág. seguinte
PÁGINAS COM HISTÓRIA Damião de Góis, Um Humanista no Portugal de Quinhentos… (continuação da pág. anterior)
para grandes elogios por parte de poetas e filósofos flamengos. Regressa definitivamente à pátria em 1545, depois de 22 anos fora de Portugal. Exerceu os mais altos cargos em nome do seu país, é estimado e admirado em várias cortes europeias, louvam-no cardeais, escritores, teólogos, políticos, reformistas e humanistas, constituiu uma família feliz com Joana de quem já tem filhos… Em Portugal, é nomeado a título interino, guarda-mor da Torre do Tombo, mas não cronista régio como geralmente se afirma. O historiador nasce então com a primeira obra publicada em 1566. Trata-se da Crónica do Felicíssimo rei D. Manuel. Esta obra vai sofrer duras criticas das classes dominantes, sobretudo por falhas que consideram desrespeitosas do seu estatuto e dos seus feitos que, dizem, Damião de Góis não considera. No ano seguinte a I parte da obra é reimpressa com bastantes alterações, o que confirma a vitória dos cortesãos. Dispondo das fontes documentais do arquivo régio, compôs ainda Góis, a Crónica do Príncipe Dom João o Segundo do Nome (1567). Deve-se-lhe também o opúsculo Damiani Gois Eqvitis Lusitani. Vrbis Lovaniensis Obsidio, publicado em Lisboa em 1546 e ainda uma bela descrição da Cidade de Lisboa, impressa por André de Burgos, em Évora, no ano de 1554. Desde o seu regresso a Portugal, manteve Damião de Góis contacto com os amigos que deixou por toda a Europa. A sua casa na Costa do Castelo, mantinha-se aberta aos estrangeiros que acorriam a Lisboa, que ali gozavam de um acolhimento principesco, a ponto de o definirem como «patronus incomparabilis», o brilho dessa festas serviria mais tarde de matéria de acusação no processo do Santo Ofício. Na variedade dos seus talentos, Góis cultivou também a música, deixando fragmentos de música religiosa e profana. Foi amador de pintura e coleccionador de arte,
possuindo entre outras, obras de Jerónimo Bosch e de Quentin Metsys, que fez vir da Flandres. Foi este homem de superior craveira, clássico de formação, de tendência cosmopolita que, acusado de heterodoxia, veio, em 1545, a ser denunciado à Inquisição, pelo padre Simão Rodrigues de Azevedo, antigo companheiro de estudos em Pádua. Conseguiu provar a sua inocência, com o apoio e a protecção dos seus amigos poderosos, entre os quais o infante Cardeal D. Henrique. Contudo, em 1571, de novo caiu nas garras do Santo Ofício, desta vez de maneira brutal, sendo preso, sujeito a processo e transferido para o Mosteiro da Batalha. Em 1571, grande parte dos amigos da sua geração já tinham desaparecido, outros mandavam agora no Paço e nos tribunais e Damião de Góis era visto por muitos com inveja e temor. Senhor de uma fortuna considerável, pouco dado a missas e com amigos de renome ligados ao luteranismo, não foi difícil aos seus inimigos conseguirem uma acusação. Apareceu morto, com suspeitas de assassinato, na sua casa de Alenquer, em 30 de Janeiro de 1574, sendo enterrado na igreja de Santa Maria da Várzea da mesma vila. Assim desapareceu o homem português que moldara a sua visão europeia do mundo, dentro da linha erasmiana de tolerância e dignificação dos valores humanos que o homem de Roterdão soubera traçar; mas para tristeza nossa, esse belo ideal de vida não encontrou no ambiente português as necessárias condições de existência, que poderia ter aberto espaço a um «humanismo nacional», e promovido novos domínios à nossa cultura quinhentista. PBH
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ÚLTIMA PÁGINA Países e Povos na Nossa Escola
Quem nos visita nosso amigo é… Neste número duplo do nosso “Pátio das Laranjeiras”, tal como aconteceu já em edições anteriores, temos a honra de dar notícia de algumas personalidades que, em visita a Moçambique, não quiseram deixar de nos honrar com a sua presença. (víde páginas 3 e 16)
Presidente do Tribunal de Contas de Portugal visita EPMCELP
Soares Ribeiro e ainda o Dr. José Tavares (Director Geral). O Senhor Embaixador de Portugal em Moçambique, o Dr. José de Freitas Ferraz , assim como o Dr. Nuno Mathias estiveram também presente na visita. A todos agradecemos as palavras amáveis que quiseram deixar gravadas no nosso “Livro de Honra”. VR
Todos sabemos que o nascimento da EPM-CELP resultou do sonho, trabalho, interesse e dedicação de muita gente. No passado dia 21 de Julho de 2006, a EPM-CELP foi visitada por um dos homens que esteve ligado, «desde o início», ao nascimento deste projecto. Referimo-nos ao Senhor Professor Doutor Guilherme de Oliveira Martins, actual Presidente do Tribunal de Contas de Portugal. Enquanto Secretário de Estado da Administração Educativa, e, logo depois, Ministro da Educação, pode acompanhar de perto o erguer deste edifício, que, como relembrou, na passagem do milénio, atravessou momentos difíceis, por altura das grandes cheias do ano 2000. «Mas um projecto não é feito apenas de “pedras mortas”, mas das “pedras vivas” que lhe dão alma, e, por isso, aqui estou, por isso vos quis conhecer melhor!». Acompanharam o Professor Doutor Oliveira Martins os conselheiros do Tribunal de Contas: Dr. Adelino Ribeiro Gonçalves, Dr. Arminho
Na continuidade dos números anteriores, dar-vos-emos a conhecer mais um dos países presentes na Escola, através das nacionalidades dos nossos alunos.
Bulgária Nome Oficial: República da Bulgária Superfície: 110.994 Km2 População: 7.517.973 hab (2004) 2 .Densidade populacional: 68 hab/Km (2004) Língua oficial: Búlgaro Dia nacional: 5 de Outubro (independência do Império Otomano no ano 1908) Regime político: República / Sistema Multipartidário Constituição em vigor: 12 de Julho de 1991 Capital: Sófia Principais cidades:Sófia, Plovdiv, Varna, Burgas, Ruse Moeda: Lev (BGL) Produto Interno Bruto (PIB): 15.486 milhões de USD (2002) PIB/Capita: 1940 USD (2002) Esperança de vida: 72 anos Taxa de crescimento da população: 0,92% Taxa de alfabetismo: 98,7% Taxa de mortalidade infantil: 2,2% População urbana: 67% População rural: 33% Exportações: Equipamento industrial, bens de consumo, produtos alimentares e agrícolas, combustíveis, minerais e metais. Importações: Combustíveis (petróleo e gás natural), matérias-primas, máquinas e equipamentos de tranportes e bens de consumo. Microsoft Encarta 2005 (traduzido e adaptado)
Pátio das Laranjeiras, n.º 35-36 Directora: Albina Santos Silva . Coordenação Editorial: Vítor Roque . Coordenação Executiva: Jorge Pereira, Núcleo de Apoio, Informação, Relações Públicas e Publicações . Redacção: Judite dos Santos, Rosa Alice Dixe, Teresa Noronha, Vítor Roque . Concepção Gráfica e Paginação: Judite dos Santos . Fotografia: Vítor Roque . Colaboração: Alexandra Melo, Ana Manuela Albasini, António Cabrita, Armindo Bernardo, Bernardo Álvaro, Lília Valente, Luísa Antunes, M.ª Manuel Seno, Pedro Bugarin Henriques, Pedro Jesus, Rosa Alice Dixe, Sara Teixeira, Teresa Noronha, Zubaida Ismael . Revisão: Teresa Noronha . Produção: Centro de Recursos Educativos, Julho de 2006 Propriedade: Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa Av. do Palmar, 562 . Caixa Postal 2940 . Maputo . Moçambique . Telefone: 00 258 21 481300 www.edu-port.ac.mz . E-mail: patiodaslaranjeiras@edu-port.ac.mz
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