23 minute read
S. Valentim
DIA DE S. VALENTIM NA EPM-CELP
Would You Be My Valentine?
Advertisement
O dia de S. Valentim, como algumas datas hoje em dia ainda festejadas, tem origem incerta, esbatida pelo tempo, disputada aos pagãos pela religião católica, destorcida e acrescentada. Quer remonte ao festival de Lupercalia, celebração pagã do amor e da juventude, quer seja na pele de um sacerdote de nome Valentim que celebrava o matrimónio entre jovens casais, proibidos de fazerem pelo Imperador Romano, Claudio II, que assim acreditava angariar jovens soldados para a frente de batalha, o certo é que, no dia 14 de Fevereiro, amor e amizade se celebram intensamente um pouco por toda a parte, e assim tem sido ao longo dos tempos.
Também a EPM – CELP não escapou à seta do Cupido que o grupo de Inglês se encarregou de lançar. A comunidade escolar foi presenteada com uma pequena peça de teatro musicada e em inglês baseada na obra “A Bela e o Monstro”, uma adaptação bem ao estilo moderno, levada a cabo pelos alunos da turma A do 11 º ano , e intitulada “The Cute and The Monster” (O Belo e a Monstra). Os alunos do 7º ano de escolaridade ajudaram na decoração do espaço, sob a responsabilidade da turma B do 11º ano, e quiseram, também, saudar todos os professores com pequenas frases célebres sobre o amor e a amizade, seleccionadas pelos próprios nas aulas de inglês. Ninguém ficou indiferente a tão carinhosa interpelação!
Cumpriu-se a tradição, que propiciou momentos ternos e divertidos com os votos de que, cada um à sua maneira, tenha tido um feliz “Valentine’s Day”.
Também se ama em Matemática
Comemorando o dia de São Valentim, a área disciplinar de Matemática organizou uma exposição intitulada “Também se ama a Matemática”.
Composta por diversos poemas sobre o amor e a Matemática, a exposição esteve patente durante alguns dias no Laboratório de Matemática e visou, assim, divulgar, junto da comunidade educativa da EPM-CELP, a faceta romântica desta disciplina, por vezes tão assustadora para Matemática deixou umas notinhas. Vejam! CA
os alunos. O amor está no ar e no Laboratório de
É sabido que a celebração do Dia de São Valentim (ou Dia dos Namorados) não é uma tradição de base “lusófona”. No entanto, esta festividade está hoje tão disseminada nas nossas culturas, que já não há escola secundária, ou do 3º Ciclo, que não a celebre e reverencie.
Esta aceitação tão generalizada poderá estar relacionada com um factor cultural e literário característico das nossas culturas lusófonas: é que o “Dia dos Namorados” aborda e valoriza um dos temas mais explorados, desde sempre, pelas nossas-literaturas-detodos-nós-falantes-do-português: referimo-nos ao tão intenso, frequente e global “Tema do Amor e da Paixão”.
De facto, cada um de nós, – portugueses, brasileiros, moçambicanos, angolanos, etc. –, faz parte de povos e comunidades que poderão ser apelidadas de “povos apaixonados, emotivos e sentimentais”…
Não querendo desperdiçar esta corrente de interesse e aceitação pela efeméride e pela temática, a Biblioteca Escolar da EPM-CELP, José Craveirinha, decidiu efectuar algumas acções que conduzissem à celebração da data e ao seu aproveitamento pedagógico.
As acções planificadas realizaram-se no Átrio de Entrada Fernando Pessoa e concretizaram-se em quatro acções distintas: o LER – o VOTAR – o ESCREVER e o VER.
Na secção do LER, foram expostos, em jeito de exposição gráfica, cerca de quatro dezenas de “quadros” com poemas de amor, oriundos de práticas de escrita diversas, mas todas elas de base lusófona: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Goa, Portugal e São Tomé e Príncipe.
Esta mostra de poemas de amor foi crismada com o título de “Poemas de Amor Cativantes”.
Com esta mostra poética, pedia-se aos alunos que lessem os poemas e se “deixassem” cativar pelo seu conteúdo emocional.
Após a leitura, seguia-se a segunda acção – o VOTAR. Nesta secção da exposição, os alunos eram convidados a exprimir a sua opinião sobre os poemas lidos, através de um VOTO, “livremente expresso”, de forma a descobrir e eleger o Poema mais Cativante do Dia de São Valentim de 2008…
Para a concretização desta acção, os alunos tinham ao seu dispor um pequeno “boletim de voto” e uma “caixa de votação”. Dos resultados da votação, resultou a
indicação de três vencedores, que se poderá ler/reler no final deste artigo.
No terceiro espaço do átrio “Fernando Pessoa”, surgia o convite à ESCRITA, na forma de missiva de amor…
No âmbito desta iniciativa, foram exibidos dois conjuntos de oito retratos de homens e mulheres supostamente “cativantes!” – oito para cada sexo, claro!
Dado a EPM-CELP ser uma escola multicultural, a escolha destes “belos” e “belas” obedeceu ao rigoroso critério da multi-etnicidade: de facto, nos dois conjuntos apresentados, reconheciam-se rostos africanos, asiáticos, europeus e indianos.
Depois de escolhido o “belo” ou a “bela” mais cativante, os alunos eram convidados a escrever uma “Carta de Amor” – mesmo que ridícula, como bem exemplificavam dois dos textos que se exibiam num dos expositores desta secção: o primeiro, era uma das cartas de Fernando Pessoa à sua Ofelinha e, o segundo, o conhecido poema de Álvaro de Campos “Todas as Cartas de Amor São Ridículas”.
Talvez porque escrever é mais demorado do que votar, a participação nesta secção, embora existente, foi mais reduzida.
Os poemas mais cativantes do Dia de S. Valentim de 2008
Na última secção da exposição – o VER – foi exibido, numa das paredes do pátio, o filme “Um Amor Em África” (In My Country, no título original), do realizador John Boorman e que tem como intérpretes principais a actriz Juliette Binoche e o actor Samuel L. Jackson.
O filme conta-nos uma história de amor intensa que se desenvolve, num curto espaço de tempo, entre dois jornalistas que cobrem, para os seus respectivos jornais, os eventos ocorridos na África do Sul do Pós-Apartheid, durante as designadas audições da Comissão para a Verdade e Reconciliação, que colocavam, frente a frente, numa espécie de acto de contrição e expiação colectivos, as vítimas e os carrascos deste sistema político de mámemória.
Ela é uma Sul Africana branca, casada, e descendente de uma família abastada próxima do antigo poder; ele é um jornalista americano, negro, e também casado.
Depois de um período inicial de antagonismo relacional intuitivo e primário, mais baseado na cor da pele do que na razão, e à medida que as emoções fortes vividas nas audições para a Verdade e Reconciliação fazem brotar o humano que existe no mais fundo de cada um deles, surge um entendimento emocional forte, sincero e intenso entre ambos, que acaba em paixão…
Contudo, as suas vidas, já montadas (ambos são casados e com filhos), não lhes permitirá desenvolver essa paixão momentânea.
Este filme, baseado no best seller de Antjie Krog, parece trazer-nos esta mensagem humanista: afinal, a esperança, a verdade, o perdão e o amor entre povos e etnias é ainda possível nas sociedades humanas, por mais vicissitudes por que elas passem…
Um bom filme para ver e rever. Aconselhamos a todos um novo visionamento, mais atento e demorado! VR
A EPM-CELP fez-se representar nas XV Jornadas Pedagógicas de Educação Ambiental da ASPEA, realizadas na Escola Superior Agrária de Santarém, através da Drª Ana Besteiro. Neste encontro, que contou com a presença de cerca de uma centena de participantes os trabalhos desenvolveram-se a partir de cinco conferências: O Ano Internacional do Planeta Terra – pela Doutora Maria Helena Paiva Henriques da Universidade de Coimbra; La Educación Ambiental como património común de la educación, el desarrollo y la sustentabilidad – pelo Doutor José António Caride Gómez da Universidade de Santiago de Compostela, em Espanha; À descoberta de zonas poluídas na Ria de Aveiro – pela Doutora Virgínia Martins da Universidade de Aveiro; La Carta de la Tierra. La revolución social del siglo XXI – pela Doutora María Pinar Merino da Fundación Valores, de Espanha. A partir destas criaram-se quatro grupos de trabalho onde se reflectiu em torno de temas como: recursos pedagógicos e sustentabilidade; competências para a participação e acção; consciência social e valores e redes e parcerias. Tiveram, ainda, lugar várias oficinas, onde foi possível aliar o saber teórico à prática. Ora vejamos o que foi possível aprender: na oficina 1 - Arte e Ambiente - pretendeu-se ensinar a fazer eco-trabalhos de expressão plástica; na oficina 2 - Ciência Lúdica - trabalhou-se em laboratório, desenvolvendo técnicas para a reciclagem de óleos alimentares usados em bio-díesel; na oficina 3- Recicloteca – trabalhou-se a reciclagem artesanal de papel com diferentes cores e texturas, a partir de diferentes tipos de resíduos de papel e de outros materiais um filme sobre questões de desenvolvimento e produção de alimento, do Ciclo de Filmes Terra de Todos (OIKOS); na oficina 5 - De flor em flor – realizaram-se actividades pedagógicas e lúdicas em torno da apicultura; na Oficina 6 - Energias renováveis construção de carrinhos solares- foi possível construir artesanalmente carrinhos movidos a energia fotovoltáica, reutilizando, entre outras coisas, – foi possível conhecer um pouco melhor o ambiente local da cidade de Santarém, através de percursos guiados a pé.
As jornadas de Educação Ambiental revelaram-se mais uma vez um momento de reflexão importantíssimo em torno deste conceito e de toda a problemática relacionada com a ecologia. Não se muda o mundo nestes encontros; todavia dão-se passos seguros no sentido de tornar a educação ambiental um instrumento cada vez mais eficaz para um
vegetais; na oficina 4 -Terra de todos – onde se assistiu à exibição de resíduos de embalagens; por fim, na oficina 7- Percursos em Santarém desenvolvimento sustentável.
FORMAÇÃO EM MONTAGEM E MANUTENÇÃO DE REDES E EQUIPAMENTO INFORMÁTICO SUOR DE QUEM ESTUDA
PROMESSAPROMESSA PROMESSA
No dia 29 de Fevereiro, terminou a acção de formação destinada ao pessoal técnico do Centro de Recursos Educativos da EPM-CELP, “Montagem e Manutenção de Redes e Equipamento Informático”, dinamizada pelo Eng.º Brás Duarte, cujo objectivo era o de formar um grupo de pessoas afectas à EPM-CELP, com competências para ficarem responsáveis pela manutenção do parque informático da EPM-CELP, em vez de se recorrer continuamente a serviços externos.
Por conseguinte, colocar o equipamento em funcionamento, proceder à sua configuração, instalar programas, reparar e/ou substituir componentes dos equipamentos e projectar redes, são tarefas que têm de ser asseguradas internamente.
Segundo palavras do próprio formador, no final da acção, os formandos adquiriram competências para montagem de equipamentos e seus periféricos, avaliação de avarias, execução e teste de cabos, instalação do sistema operativo, instalação de software e desenho e configuração de redes, tendo sido realizadas por estes, como trabalho final, as seguintes actividades:
Montagem e teste de cabos de rede (cruzados e directos);
Instalação de placas de rede sem fios (wireless);
Configuração de uma classe C em wireless;
Instalação de placas de rede 10/100;
Configuração de uma classe C 10/100;
Interligação de duas redes classe C com routing através de um PC de tripla interface;
Interligação das duas redes a rede da escola utilizando o PC como router;
Interligação das duas classes C a internet através da rede da escola;
Partilha de ficheiros nas diferentes redes.
Para finalizar, refira-se que os todos os formandos obtiveram aproveitamento, o que espelha bem o empenho dos mesmos.
Musa do meu corpo, íris do meu ser. Perfeita és, nas tuas imperfeições. Que fazem o tempo, passar em monções. Olhar belo e convincente. Sempre com a tua personalidade resplandecente. O teu calor, nada o pode deter. E o que tentar a mim terá de responder. Realidade é saber que nunca estarás sozinha. Nunca to disse, mas sempre to quis dizer. Amo-te e sempre quis que fosses minha .
Há anos que espero por uma oportunidade. E na hora odeio-me por não te dizer. -Que quando passas me levas a respiração; -Que só com um olhar; -Os meus desejos, fazes realizar; -Que embora tudo possa ter; -Nada te posso oferecer; -Nada, além do meu ser; E um dia juro que te vou dizer. Que sempre te amei e contigo quererei estar. Apesar de a resposta, já a saber.
Por : João Governo 12º A
Este foi um mês cheio de amor. A seta do cupido atingiu, também, a escrita. Aqui ficam vários exemplos da criatividade dos nossos alunos no reino da escrita...com amor, naturalmente.
Rebeca, 8ºB
O MUNDO DOS AFECTOS
Se tanto me dói que as coisas passem É porque cada instante em mim foi vivo Na busca de um bem definitivo Em que as coisas de Amor se eternizassem
Sophia de Mello Breyner Andresen
Afectividade pode definir-se como sendo a totalidade da vida emocional do Homem. O mundo dos afectos, recheado de sentimentos e emoções, é algo que nos acompanha desde o primeiro momento de vida. O primeiro choro requerendo protecção, o primeiro sorriso, os primeiros beijos e festinhas que trocamos com os pais, a primeira birra num momento de contrariedade, entre tantos outros, são momentos que preenchem a nossa vida desde bebés.
Desde pequenas, as crianças procuram conviver! Têm os seus amiguinhos na escola, visitam-se em casa uns dos outros, querem estar juntos no fim-de-semana. Quando vão a um aniversário, as crianças têm prazer em oferecer um presente ao amigo, dando-lhe algo que eles mesmos gostariam de ter! Os meninos, rapidamente aprendem a oferecer uma flor à primeira namorada, demonstrando o seu carinho e admiração!
E conseguiremos nós viver sem afectos? Parece que não! E não só não conseguimos, como não queremos!!! A vida emocional contribui para o bem-estar do Homem, pois ela permite estabelecer relações sociais, nas quais o ser humano vai construindo a sua própria maneira de ser e agir. A emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos. Ela permite a comunicação com o outro, o que constitui um meio de sobrevivência da própria espécie humana.
E na Escola? Como estará presente a afectividade? Ora, sendo a afectividade um forte meio de comunicação, e sendo a escola um espaço social, naturalmente se estabelecerão relações afectivas. Por outro lado, a aprendizagem decorre de interacções sociais. Professores e alunos estabelecem entre si relações afectivas nas pessoas que são, e nos papéis que representam. Poderemos pensar o processo ensino-aprendizagem isento de afectividade? Ou melhor, poderemos pensar um processo ensinoaprendizagem sem que reflicta sobre ele a qualidade da relação afectiva entre professor e aluno?
Depois do ambiente familiar onde a criança se desenvolve nos primeiros anos de vida, e onde são estabelecidos os primeiros vínculos afectivos, a escola, representando um plano social mais alargado, toma o seu lugar. Agora, também o professor representa para criança um elemento de segurança, sendo depositário das suas manifestações de carinho e afectos. Uma pesquisa desenvolvida por Elvira Tassoni (Universidade Estadual de Campinas – Brasil), dá-nos a conhecer alguns exemplos que ilustram a importância do professor afectivo para alunos de seis anos e meio.
“Quando a professora está perto de mim, eu não desisto.”
“Quando ela fica perto (…) eu faço o trabalho melhor.”
“Quando a gente está nervosa para fazer o trabalho, ela não fica brava (…), ela vem perto e aí eu não fico mais nervosa.
“Gosto quando ela fica perto, porque ela me ajuda. Acho que eu penso mais.”
«ATÉ AO FIM» DE VERGÍLIO FERREIRA
“Até ao fim” é um romance tecido com o fio invisível que o caudal do pensamento traz. Na esteira existencialista, Vergílio Ferreira, que nos primeiros livros se situa como neo-realista, assume, nos últimos romance, uma estrutura em que o presente é constantemente entrecortado pelo passado.
O curso das palavras é como a vida: aleatório.
Cláudio está diante de Miguel, o filho morto. Conversam. “ Não é que eu tivesse muita coisa a conversar com o meu filho, que dorme ali no caixão.” Dois adversários, num frente a frente. E nesse espaço-diálogo da mente à procura de respostas para a existência, a vida vai emergindo em pequenos retalhos ao sabor da memória, recriada por esta. Uma imagem, um cheiro despoletam um fluxo e reescrevem no presente uma história para o passado. Na tentativa de fazer sentido, de retomar um fio do tempo perdido, irrompe a narrativa.
Oriana - a sem par - reaparece vestida de azul, na morte prematura. “Pergunto por Oriana. Oriana da Luz? Morrera na véspera, tinham-na descido à câmara mortuária. Elevador ao fundo, para a cave. Mas eu não entendo, fico parado, fora de mim, o corpo arrepanhado e pânico no estômago, na garganta. “ A imagem de Oriana surge avulsa, fotografia retocada, nos espaços onde Cláudio a coloca. “Sei que o retrato surgiu num vazio de mim e ocupou logo todo o espaço disponível. Conheci-te no espaço do imaginário, sem realidade plausível para poderes ser real. Mas o imaginário é que é tudo e o real é uma procura para se encontrar com ele... Oriana, ficção mítica da minha fadiga”.
Emerge Flora, mãe do Miguel, diante do mar e da maternidade involuntária, bela, “mas de uma beleza desaproveitável, como dizer?, a beleza para um lado e ela para o outro”, comunicando: “Segunda feira parto para a Grécia”. E o mar sempre, o mar “que ressoa no vazio da manhã. “...olho o mar, o invisível dele, que é o que é maior e me fascina. Está todo no que vejo, mas não está. É imenso, mas a noite torna-o ainda maior, torna-me a mim mais pequeno. Ouço a toda a amplidão o rumor abstracto do seu medo. Entre a noite que é dele e a morte que está comigo, estou eu só.”
E neste fluxo e refluxo da vida, o diálogo de Cláudio e Miguel prossegue: “É horrível ouvir-te. Meu pobre Miguel. Meu arcanjo derrotado… Meu filho calou-se, agora vejo melhor o quadro. Há nele um silêncio intenso por baixo de uma insinuada retórica: “Queria dizer-te uma coisa, mas não fiques ofendido. Queria dizer-te que apesar de tudo sempre gostei mais de Flora do que de ti.”
De súbito, de novo, e sempre Oriana, “Tinha os cabelos loiros longos. E na face a alegria da vida. À porta do cemitério havia uma mulher com um grande cesto de flores. Comprei cravos amarelos. A mulher fez um ramo com eles. Não sei como pegar-lhe. Há à entrada um pequeno pavilhão, um homem atrás de um balcão, a face congestionada, sonolenta. Vagarosamente percorre com um dedo uma folha, diz-me que procure num terreno ao fundo. Vou entre as campas, não olho, um sol espesso tomba do alto, já um pouco oblíquo, ninguém. Descubro enfim um terreno vago, há uma sepultura recente, a terra escura. Em volta, ramos de flores, uma coroa. Olho em volta a solidão da tarde, a coroa tem uma inscrição. Vergome, leio. E uma comoção súbita, profunda. Tomo os cravos um a um e espalho-os devagar por cima. Então foi como se eu próprio me não visse, não existisse, dissipado no vazio de estar ali. Luto desesperadamente, os olhos ardem-me. O sol violento, a terra deserta. Eu só.”
Um a um os mortos vão aparecendo: o pai “algum tempo depois o meu pai estava no grupo sentado num banco, um colar de algodão em rama manchado de sangue em torno do pescoço. Olha-me quase indiferente, eu devo ter na cara um espanto raiado de piedade e de terror. Está do lado do destino, o meu pai, deve sentir-se muito acima de mim, com pena e desprezo pela minha inferioridade. E um dia no Instituto entenderam que deviam mandá-lo para casa. Ia para morrer, mas preparado para a vida até onde era possível. Quis acompanhá-lo à aldeia, recusou vigorosamente. Fechado sobre a sua condenação como sobre um bem privativo. Ser proprietário mesmo da
VERGÍLIO FERREIRA 1916 - 1996
desgraça, pensei. Telegrafei para o irem esperar, esperaram-no. Telegrafaram-me algum tempo depois para o ir enterrar, enterrei-o. Era Inverno, devia ser Inverno. Tenho frio na alma e na memória. Devia ser.”; a mãe, “Dorme. Sossega. Olho a sua face, há nela uma paz que dá para tudo o que a inquietou. Olho-a ainda na união profunda do destino do meu sangue. Mas vou ao meu quarto arranjar-me,.,, reparo agora que os sinos se calaram. Mas ouço-os ainda, ouço-os desde a infância que está cheia do seu ressoar…”
Lê-se com imenso agrado e apesar da narrativa não ser linear, é fácil seguir os personagens, a sua história. Apetece, quase diria, abandonar o corpo a essa maresia, ao leve ondular das palavras que subitamente se desfazem em marmoto sobre a terra. Seguir as histórias onde Vida, Amor e Morte se entrelaçam indissociáveis, nesse destino que é o de cada um. Este destino sem deus nem saída percorre cada página, cada instante, cada personagem. Vergílio Ferreira é, sem sombra de dúvida, um grande escritor do século XX, tendo-lhe sido atribuído, entre vários outros, o maior prémio literário português, o Prémio Camões, em 1992. Leiam-no sem oporem resistência, no sentido da corrente.
Indispensável! TN
Vergílio Ferreira nasceu em Melo (Gouveia), na encosta da Serra da Estrela, a 28/1/1916. Os pais emigraram para os Estados Unidos e deixaram-no aos cuidados de parentes maternos.
Concluída a instrução primária, foi internado no seminário do Fundão, opção muito frequente nos meios rurais até à década de setenta. No entanto, em 1932, abandonou o seminário e prosseguiu os estudos no Liceu da Guarda. Um dos seus romances mais conhecidos, Manhã Submersa, traduz literariamente essa experiência traumática.
Em 1936 matriculou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo concluído o curso de Filologia Clássica em 1940. Fez o estágio pedagógico no Liceu D. João III, em Coimbra, e leccionou em várias outras escolas (Faro, 1942; Bragança, 1944; Évora, 1945-1959; Lisboa, a partir de 1959) até 1981, data da sua aposentação.
Obras Publicadas:
Teria Camões lido Platão? (ensaio) - 1942 ;Sobre o Humorismo de Eça de Queirós (ensaio) – 1943; O Caminho Fica Longe (ficção) – 1943; Onde Tudo Foi Morrendo (ficção) – 1944; Vagão J (ficção) – 1946; Mudança (ficção) – 1949; A Face Sangrenta (ficção) – 1953; Manhã Submersa (ficção) – 1954; Mãe Genoveva (ficção) – 1957; Do Mundo original (ensaio) – 1957; Carta ao Futuro (ensaio) –1958; Aparição (ficção) – 1959; Cântico Final (ficção) – 1960; Estrela Polar (ficção) – 1962; Da Fenomenologia a Sartre (ensaio) – 1962; André Malraux: Interrogação ao Destino (ensaio) – 1963; Apelo da Noite (ficção) – 1963; Alegria Breve (ficção);Espaço do Invisível 1 (ensaio) – 1965; Invocação ao Meu Corpo (ensaio) -1969 Nítido Nulo (ficção) – 1971; Apenas Homens e outros contos (ficção) –1972; Rápida, a Sombra (ficção) – 1975; Contos (ficção) – 1976; Espaço do Invisível 2 (ensaio) - 1976; Espaço do Invisível 3 (ensaio) – 1977; Signo Sinal (ficção) – 1979; Do Mundo Original (ensaio) – 1979; Conta-Corrente I (diário) – 1980; Conta-Corrente II (diário) - 1981; Um Escritor Apresenta-se (ensaio) –1981; Para Sempre (ficção) – 1983; Conta-Corrente III (diário) – 1983; Uma Esplanada sobre o Mar (ficção) – 1986; Conta-Corrente IV (diário) – 1986; ContaCorrente V (diário) – 1987;Até ao Fim (ficção) – 1987; Espaço do Invisível 4 (ensaio) – 1987; Arte Tempo (ensaio) – 1988;Em Nome da Terra (ficção) – 1990; Pensar (diário) – 1992; Conta-Corrente Nova Série 1 (diário) – 1993; ContaCorrente Nova Série 2 (diário) – 1993; Na Tua Face (ficção) - 1993 Conta-Corrente Nova Série 3 (diário) – 1994; Conta-Corrente Nova Série 4 (diário) – 1994; Para Sempre (ficção) – 1996;Cartas a Sandra (ficção) - 1996
PAÍSES E POVOS NA NOSSA ESCOLA
Artur Simões é um dos alunos que a EPM-CELP recebeu no início deste ano lectivo. O Artur nasceu a 22 de Setembro de 1995 e chegou em Setembro de 2006 à nossa escola. Viveu até então no Brasil, mais concretamente em Maçaió.
BRASIL
PL- Artur, qual foi o motivo da tua vinda para Moçambique? AS- Bem, tudo se deveu à vinda do meu pai, em trabalho. Ele veio primeiro e depois viemos nós, toda a família. Eu, a minha mãe e o meu irmão mais novo. PL-Que recordações trouxeste do teu país? AS-Trouxe receitas (quando temos muitas saudades a minha mãe prepara uns pratos bem saborosos), trouxe filmes e livros de que eu sempre gostei. PL-De que mais sentes falta? AS-Das festas, do Carnaval, das saídas com a família ... e do São João que se celebra em Julho. PL- O que mais gostavas de fazer? AS- Ah! Quando não tinha nada para fazer eu lia, gosto muito de ler. Também passava muito tempo com os meus amigos, costumávamos juntar-nos para jogar futebol. PL-Como te sentiste num novo país ? AS- Senti-me como um clandestino, como se tivesse chegado a um mundo desconhecido e já não soubesse quem eu era, sem identidade...Depois, fui conhecendo pessoas fora e dentro da escola e tudo foi melhorando. PL-De que mais gostas, aqui? AS-Na escola eu gosto dos professores e da biblioteca. Há dias em que o meu irmão vem para a escola, mas a minha aula é mais tarde, então eu vou para a biblioteca e fico por lá lendo. PL-O que foi mais difícil para ti quando aqui chegaste? AS- A comida é muito diferente e a maneira de falar também! Às vezes até parecia que estava a ouvir outra língua. PL-Gostarias de deixar uma mensagem aos que poderão vir a passar pela mesma situação que tu? AS-Sim, que arranjem amigos porque , assim, quando precisarem de ajuda poderão sempre contar com alguém! PL-Vamos agora fazer um jogo. Indico uma palavra e tu dizes a primeira coisa de que te recordas. Brasil: Carnaval Maçaió: São João Praia: Ipanema Família: Simões Calor: Muito!!! MV LÍNGUA OFICIAL: Português
CAPITAL: Brasília
ÁREA TOTAL: 8.514.876,599 Km 2
POPULAÇÃO: 190.987,291 Millhões
DENSIDADE POPULACIONAL: 22 hab/km 2
MOEDA: Real
HORÁRIO: UTC -5
PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Lula da Silva
Pátio das Laranjeiras, n.º 54
Directora: Dina Trigo de Mira . Coordenação Editorial: Estela Pinheiro e Rodrigo Borges . Coordenação Executiva: Jeremias Correia,Judite dos Santos. Redacção: Á. D. de Ciências Naturais; Ana Besteiro; G. do Pré-Escolar e 1ºCiclo, Carla Amaral; Cláudia Costa; Eugénia Marques; Estela Pinheiro; Fulgêncio Samo; Jeremias Correia; Margarida Vasconcelos;Teresa Noronha e Vítor Roque. Concepção Gráfica e Paginação: Rodrigo Borges . Fotografia: Vítor Roque e Filipe Mabjaia . Colaboração: Alexandra Melo, Jeremias Correia. Revisão: Estela Pinheiro, Eugénia Marques, Judite dos Santos e Teresa Noronha e Francisco Mascarenha. Produção: Centro de Recursos Educativos, Fevereiro de 2008. Propriedade: Escola Portuguesa de Moçambique - Centro de Ensino e Língua Portuguesa, Av. do Palmar, 562 . Caixa Postal 2940 . Maputo . Moçambique . Telefone: 00 258 21 481300 . Telefax: 00 258 21 481343 , www.edu-port.ac.mz .epm-celp@edu-port.ac.mz . E-mail: patiodaslaranjeiras@edu-port.ac.mz