ÍNDICE A construção de um percurso metodológico Quem somos nós? Quem é o cacau? Como nasceu essa parceria? O que é o projeto?
4 6 6 7 7
MÓDULO 1 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO ESPORTE
10
Objetivos A prática esportiva Esporte como direito social. O esporte na escola Como o esporte pode alavancar os odm
12 14 15 17 23
Módulo 2 - ESPORTE E CIDADANIA Objetivos Princípios do esporte enquanto transformador social Princípios e competências da educação pelo esporte Espaço de vivências Participantes ativos e conscientes
26 28 32 39 44
Módulo 3 - PRÁTICAS ESPORTIVAS Objetivos Resultados esperados Métodos e procedimentos Passo a passo Procedimentos avalativos Anexos Créditos Referências
48 52 54 59 64 72 93 95
A CONSTRUÇÃO
DE UM PERCURSO METODOLÓGICO
Investir no desenvolvimento infantil de maneira consciente e socialmente responsável é uma das marcas da Visão Mundial, por isso, encontrar no esporte ferramentas que potencializem esse caminho de construções e ressignificações é legitimar a formação de cidadãos sabedores e críticos de seus papéis em sociedade. A metodologia BBCC surge de inquietações que estimulam o favorecimento de uma comunidade nomeada Conjunto Jefferson, na periferia de Mogi das Cruzes – São Paulo, em parceria com o jogador de futebol brasileiro, naturalizado alemão, Cacau. Dessa forma, a metodologia BBCC foi desenvolvida para aproximar crianças e adolescentes do esporte de uma maneira diferente das abordagens tradicionais, que o tratam pelo viés do treinamento de alto rendimento no qual prevalecem relações mais mecanizadas e menos afetivas. Essa forma de tratar o esporte a partir de seus vieses educacional e de lazer traz consigo elementos formadores de outras capacidades e competências que estão para além dos benefícios físicos. Claro que consideramos a importância do desenvolvimento motor de cada participante, mas entendemos que práticas esportivas devem oferecer outros elementos que contribuam com a formação das pessoas de maneira holística.
4
Sendo assim, essa metodologia está dividida em três módulos, que são compostos desta maneira: FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO ESPORTE: Compreensão dos princípios basilares do esporte e sua relação como direito social. ESPORTE E CIDADANIA: Princípios do esporte articulados a determinadas diretrizes que estimulam as pessoas a gostar de esporte e a praticá-lo regularmente. PRÁTICAS ESPORTIVAS: Procedimentos de como elaborar, ministrar e avaliar as aulas. Apesar de cada módulo tratar de temas específicos e conterem seus próprios objetivos, a metodologia BBCC é norteada pelos princípios: Esporte como Direito Social: solidariedade, cooperação, respeito mútuo, inclusão e cidadania. Educacionais: aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a conviver com os outros. Formação Humana: enfrentamento da vulnerabilidade social, combate ao trabalho infantil e às injustiças sociais através do esporte.
Esperamos que esses cadernos, além de inspirarem os educadores a concretizarem seus objetivos, possam, de fato, ajudar na construção de ricas possibilidades de vivências esportivas, sociais e humanas a partir da ressignificação do esporte. Reforçamos que todo o material didático para auxílio à elaboração dos encontros, como vídeos, textos e aulas prontas, está em anexo. Desejamos aos educadores e educadoras uma boa leitura!
5
Quem somos nós?
A Visão Mundial é uma organização não governamental humanitária e cristã que trabalha no Brasil desde 1975 para transformar a realidade da infância nas comunidades mais pobres do país e mudar estruturas de injustiça e desigualdade. A Visão Mundial Brasil faz parte da parceria World Vision International, que está presente em 98 países e consolidada como organização comprometida com a erradicação da pobreza e da exclusão social.
Quem é cacau? Claudemir Jerônimo Barreto, mais conhecido como “Cacau”, é um jogador de futebol brasileiro naturalizado alemão. Nasceu em Santo André, mas cresceu em Mogi das Cruzes, onde iniciou sua trajetória como jogador de futebol. Cacau já defendeu a seleção alemã e atualmente joga no time Stuttgart.
6
COMO NASCE A PARCERIA?
A parceria entre Visão Mundial e Cacau nasceu em 2013 e é fruto de um sonho compartilhado. Um sonho no qual todos os adolescentes e jovens possam se tornar cidadãos plenos, participativos e com oportunidades para a vida. Em 2013, demos o primeiro passo para esse sonho se tornar realidade: inauguramos o projeto Esportes para a Vida, acreditando que todos os adolescentes e jovens do Conjunto Jefferson PODEM e DEVEM acreditar em um futuro melhor.
O QUE É O PROJETO? O projeto Esportes para a Vida contribuirá para reduzir as vulnerabilidades, fortalecer as competências esportivas, habilidades sociais e aumentar o bem-estar de 120 adolescentes e jovens que vivem no Conjunto Vereador Jefferson. Acreditamos que, por meio do esporte, podemos contribuir não somente para o fortalecimento de uma geração mais saudável, mas também, para uma geração mais conhecedora de seus direitos e que possa colocar em prática sua cidadania plena.
O meu sonho se realizou. Sabe por quê? Porque teve alguém que acreditou em mim! Por isso, hoje quero te convidar a fazer parte do Projeto Esportes para a Vida e realizar o sonho de crianças que vivem na pobreza e talvez não saibam, ou nem acreditem, que, um dia, o seu sonho possa se tornar realidade! (Claudemir Jerônimo Barreto, o Cacau)
7
MÓDULO 1
8
Prezado Educador, neste primeiro módulo da metodologia BBCC (Bate-bola com Cacau), você terá à mão os princípios e fundamentos do esporte. Você poderá refletir sobre como as práticas esportivas seguras têm seu amparo legal e inclusivo e como elas podem inspirar crianças e adolescentes a escolherem estilos de vida saudáveis.
Recomenda-se atenção aos objetivos iniciais de cada módulo, para o estabelecimento de relações com as atividades propostas nos encontros com os participantes.
9
OBJETIVO GERAL Compreender os princípios basilares do esporte e sua relação como direito social.
OBJETIVOS ESPECíFICOS Compreender os princípios e competências do Esporte Educacional; Reconhecer como e pelo que o esporte está legalmente amparado; Compreender e relacionar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) às práticas esportivas; Reconhecer como o esporte deve ser vivenciado na escola; Compreender os elementos norteadores do processo de ensinoaprendizagem; Compreender como o esporte pode contribuir com os índices dos ODMs.
10
A prática esportiva, em geral, apresenta-se como canal e ferramenta de desenvolvimento social e facilitadora na construção de valores que transcendem os benefícios físicos. Nesse sentido, materializar essas caracterísiticas positivas do esporte em vivências práticas e em ambientes seguros potencializa o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. O carácter inclusivo de práticas esportivas saudáveis, bem como seu poder de agregação e popularidade, transforma-o em um instrumento fundamental para a obtenção dos objetivos de desenvolvimento holístico, por meio da promoção de práticas que complementam a educação integral e possibilitam a abordagem de temas como prevenção de doenças, igualdade de gênero e sustentabilidade ambiental. Além disso, os valores inerentes do esporte podem unir comunidades, motivar e inspirar crianças e adolescentes a escolherem o caminho esportivo como estilo de vida.
Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069, de 13 de Julho de 1990. É um conjunto de normas do ordenamento jurídico brasileiro que tem como objetivo a proteção integral da criança e do adolescente, aplicando medidas e expedindo encaminhamentos para o juiz. Capítulo IV, do direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer. Art. 53. Em 2000, a ONU – Organização das Nações Unidas, ao analisar os maiores problemas mundiais, estabeleceu 8 Objetivos do Milênio – ODM, que no Brasil são chamados de 8 Jeitos de Mudar o Mundo – que devem ser atingidos por todos os países até 2015.
11
A PRÁTICA ESPORTIVA Especialistas em bem-estar infantil reconhecem o esporte e a brincadeira como aspectos fundamentais para o desenvolvimento saudável das crianças: eles ajudam a fortalecer o organismo de maneira geral, melhorando aspectos psicológicos e físicos, ensinam a trabalhar em equipe e a conviver com as diferenças étnicas e de classe social. No Brasil, a Lei Pelé – Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 – elaborada e promulgada a partir da Constituição, é o marco legislativo que rege o funcionamento do esporte no país. Segundo essa lei, existem três formas básicas de práticas esportivas: o esporte de rendimento, o esporte de participação e o esporte educacional. Sejam elas opções profissionais ou recreativas, o certo é que as práticas esportivas exijam condições apropriadas e favoráveis aos esportistas. O acompanhamento de um especialista para diminuir os riscos da atividade é um exemplo. Contudo, quando se fala em direito ao esporte, considerar a segurança é importante, mas não suficiente. A prática esportiva educacional caracteriza-se como práticas que contribuem para o desenvolvimento, formação e educação de crianças e adolescentes livres, bem como a formação de seu bem-estar. Contribuintes para o desenvolvimento individual e comunitário, cada vez mais, as práticas dos desportos auxiliam no desenvolvimento econômico por meio do fornecimento de oportunidades de emprego e renda. Em todos os aspectos do desenvolvimento, a sustentabilidade de iniciativas esportivas auxilia na obtenção de benefícios em longo prazo para a comunidade local.
12
ESPORTE COMO DIREITO SOCIAL Existe outro lado igualmente necessário: a inclusão. Todos os cidadãos, e, mais concretamente, as crianças e os adolescentes, possuem a garantia de usufruir do esporte como um direito, por se encontrarem em uma fase crucial para o seu desenvolvimento, constituindo o esporte como um veículo educativo excepcional. Segundo o ECA, o esporte é parte constituinte dos Direitos da Criança e do Adolescente. Assim, no esporte, as dimensões dos direitos humanos devem estar na vanguarda das preocupações, primando por questões e debates referentes a crianças que, por ventura, se encontram em situação de risco e vulnerabilidade social. Nesse sentido, a metodologia BBCC, utilizando-se da popularidade e universalidade do esporte como pressuposto de abordagem, trabalha temáticas como solidariedade, cooperação, respeito mútuo, possibilitando a construção crítica e consciente de questões que, além de estimular o debate sobre o caráter inclusivo do desporto, trabalha a convivência sadia entre diferentes gêneros.
13
As práticas esportivas tornam-se vetores para se alcançar a igualdade dos gêneros integrando meninos e meninas, aumentando seu acesso e auxiliando na construção de confiança e superação dos desafios estereotipados de gênero. Assim, como também para as pessoas com deficiência, o esporte pode oferecer muitos benefícios positivos de natureza social, psicológica e fisiológica, corroborando para um jogo no qual todos são titulares. O jogo, nessas circunstâncias, conferidos por um ambiente seguro e favorável ao desenvolvimento dos jovens, propicia a ruptura de preconceitos e barreiras que, com muita frequência, são construídos entre os próprios pares, desestimulando as pessoas do convívio em grupo, vedando a construção de relacionamentos saudáveis. Esse caráter integrativo pode e deve ser usado no combate contra o racismo, segregação econômica, intolerância religiosa e exploração do trabalho infantil. Tais discussões provocadas, principalmente entre os jovens, propiciam melhores benefícios, uma vez que a promoção de equidade que o desporto concatena promove a melhoria da saúde, da educação e da cidadania. Esses objetivos são mais fáceis de serem materializados a partir da efetivação de uma metodologia aplicada segundo bases e princípios fundamentados em aspectos biopsico-sociais que tragam benefícios diretos para a vida de cada participante e que, contextualizem a realidade e as vivências dos sujeitos envolvidos.
14
O ESPORTE NA ESCOLA Assim, propor uma metodologia que procura construir ambientes favoráveis para práticas esportivas e que auxilie o desenvolvimento integral de adolescentes críticos e conscientes de seu papel social é fundamental. O trabalho é realizado de maneira integrada com a mobilização e participação das escolas locais, uma vez que essa instituição é historicamente reconhecida como fecundo lócus de formação de sujeitos. Atuar de maneira diferente, inovadora e que proponha algo que realmente provoque mudanças nas vidas dos praticantes, não é possível sem o auxílio da escola. Essa parceria é firmada não apenas pela cessão do espaço físico da escola, mas principalmente pela concepção filosófica do esporte educacional realizado pela escola, relacionados a quatro princípios fundamentados em estratégias para promover a educação como desenvolvimento humano. Esperamos que a leitura e materialização dessa metodologia possam produzir frutos que gerem transformção social em qualquer contexto no qual ela seja inserida. Essa concepção de esporte dialoga com o conceito de educação como desenvolvimento humano, cujo objetivo é a construção de competências, estimulação e valorização das potencialidades do indivíduo de maneira integral. O foco da aprendizagem é a aquisição de instrumentos de compreensão, raciocínio e execução. Assim, esses quatro princípios educacionais são peças fundamentais e necessárias para construir conhecimentos e produzir mudanças, fortalecendo todo o processo de ensino-aprendizagem. 3
(UNESCO, MEC, Editora Cortez, São Paulo, 1997 – 2ª. Edição 1999).
15
1. Aprender a Conhecer: valorizando a aquisição dos instrumentos de conhecimento, pelos quais o raciocínio lógico, a compreensão e a memória caracterizam a essência dos processos cognitivos dos indivíduos, despertando a vontade de aprender e, acima de tudo, incentivando não apenas o pensamento dedutivo como também o indutivo. A palavra de ordem ao aprender a conhecer é promover a iniciativa nos alunos fazendo com que cheguem às suas próprias conclusões, explorando com autonomia os domínios do saber e do desconhecido. 2. Aprender a Fazer: aplicando na prática os conhecimentos teóricos, reconhecendo as qualidades, os méritos e os valores que uma boa comunicação tem diante dos fatos reais, tornando o indivíduo um ser capaz de interpretar as demandas de informações e de construir conceitos, aprendendo a beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a sua vida. 3. Aprender a Viver com os Outros: efetivando por meio da aprendizagem a vivência e a convivência com as pessoas diante dos hábitos e das atitudes em prol da paz, da tolerância e da compreensão entre a vida pessoal e social, respeitando o desconhecido e aceitando o semelhante. 4. Aprender a Ser: essa aprendizagem em especial depende diretamente dos outros três princípios e faz com que os indivíduos tornem-se seres autônomos, intelectualmente ativos e independentes. Estimular aprendizados faz da educação um instrumento que estabelece relações e que busca, na comunicação, a participação proativa de todo indivíduo na vida em sociedade. (UNESCO, MEC, 1999)
16
17
Sendo assim, vale a pena reforçarmos alguns conceitos para melhor compreensão
Conceito
Esporte / Rendimento
Esporte / Educacional
Recreação
18
É o esporte de resultado, praticado segundo regras formais, nacionais e internacionais. Tem como figura de destaque a presença do atleta ou do atleta em formação. Pode ser praticado dentro do sistema oficial de administração do desporto ou não.
Praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer.
Atividades lúdicas, sistematizadas a partir de temas que têm como base a cultura local.
Quem ensina
Profissional de Educação Física
Profissional de Educação Física
Educador
de diferenças entre distintas concepções do Esporte e do Lazer.
Características
Local
Materiais
Competitividade, Resultados, Performance, Superação, Treinamentos, Fim em si mesmo, Regras fixas.
Específico para o treino/jogo
Específicos para o treinamento
Desenvolvimento holístico, Vivência de diferentes modalidades, Cooperação, Solidariedade, Inclusão, Construção coletiva. Regras flexíveis.
Escola /espaços adaptados
Materiais adaptados/ Próprios para os jogos
Livre adesão, Ludicidade, Cooperação, Inclusão, Regras flexíveis.
Ar livre/espaços adaptados
Adaptados, reciclados, construídos pelos participantes.
19
Vale ressaltar que essa relação é materializada na metodologia BBCC com todos os participantes que vivenciam no mesmo dia, a prática esportiva e os conteúdos educativossociais. Essa organização esquemática das vivências permite aos adolescentes experimentarem um “mix” de sentimentos e discussões que conferem o caráter indissociável da educação-esporte. Legitimando a proposta inovadora da metodologia ao proporcionar no mesmo ambiente e dia, a aplicação prática dos conteúdos apreendidos. É preciso que o aluno se aproprie do processo de construção de conhecimentos relativos ao corpo e ao movimento e construa uma possibilidade autônoma de utilização de seu potencial gestual. O processo de ensino e aprendizagem de práticas esportivas, portanto, não se restringe ao simples exercício de certas habilidades e destrezas, mas sim de capacitar o indivíduo a refletir sobre suas possibilidades corporais e, com autonomia, exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada.
Dentro de uma mesma linguagem corporal em um jogo desportivo, por exemplo, é necessário saber discernir o caráter mais competitivo ou recreativo de cada situação, conhecer o seu histórico, compreender minimamente regras e estratégias e saber adaptá-las. Por isso, é fundamental a participação em atividades de caráter recreativo, cooperativo, competitivo, entre outros, para aprender a diferenciá-las. (BRASIL, 1997)
20
COMO O ESPORTE PODE ALAVANCAR OS ODM. Uma perspectiva interessante para a aplicação do esporte pode e deve ser a de ajudar o Brasil a cumprir, até 2015, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Os ODM são metas mundiais definidas em 2000 e assinadas pelos governos de 191 países-membros da ONU, incluindo o Brasil. Tratase de um conjunto de oito grandes objetivos, que devem ser cumpridos até 2015, para melhorar a qualidade de vida em todo o planeta. Atingir essas metas é tarefa de todos. Governos e sociedade devem agir juntos por um mundo melhor. A seguir, estão listados os oito ODM e, ao lado de cada um, há dicas de como o esporte pode contribuir para que essas proposições sejam realizadas.
21
Objetivos do milênio
22
Como o esporte pode contribuir?
Erradicar a extrema pobreza e a fome
• Participantes, voluntários e educadores podem aprender novas técnicas e aumentar sua empregabilidade. • Programas esportivos podem ajudar a aumentar a autoestima e a confiança, reduzindo-se, assim, o estigma sobre populações marginalizadas. • O poder mobilizador do esporte pode sensibilizar a população ou fazer parte de campanhas de solidariedade.
Atingir o ensino básico universal
• Programas esportivos na escola podem aumentar a motivação dos alunos, reduzindo-se o número de faltas e o abandono escolar. • Práticas esportivas que envolvem todos também podem diminuir o preconceito contra crianças com deficiência na escola.
Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres
• Meninos e meninas brincando e jogando juntos podem melhorar a qualidade da interação entre os gêneros. • Participação em jogos podem permitir que meninas tenham experiência de liderança, aumentando a sua autoestima.
Reduzir a mortalidade na infância
• Campanhas de vacinação e de prevenção de doenças podem contar com o poder mobilizador do esporte para ajudar a atrair a participação das famílias.
Objetivos do milênio
Melhorar a saúde maternal
Como o esporte pode contribuir? • Programas de esporte para a saúde voltados para meninas podem aumentar a informação sobre saúde reprodutiva. • A boa forma física que a prática do esporte oferece pode ajudar na recuperação pós-parto de mulheres.
Combater o HIV/ AIDS, a malária e outras doenças
• Programas de esporte inclusivo podem reduzir o preconceito contra pessoas que vivem com o HIV. • Iniciativas de prevenção e educação sobre HIV podem ser feitas junto com os eventos esportivos e, dessa forma, ampliar a mobilização de combate à doença.
Garantir a sustentabilidade ambiental
• Ações de mobilização pelo esporte podem aumentar a conscientização sobre respeito ao meio ambiente e cuidado com o planeta. • Eventos esportivos podem ser realizados na mesma data e local que ações comunitárias de preservação do meio ambiente.
Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento
• Eventos esportivos podem aumentar o número de parcerias pelo desenvolvimento entre ONGs, governos, instituições de cooperação internacional, federações esportivas etc. • Programas esportivos educacionais de atendimento regular de crianças e de adolescentes ajudam em seu desenvolvimento integral. Fortalecidos, essas crianças e adolescentes poderão se autodesenvolver mais.
23
MÓDULO 2
24
Prezado Educador, tendo visto os fundamentos e princípios do esporte no primeiro módulo, é hora de rever os fundamentos educacionais que embasam pedagogicamente a metodologia e orientam a prática pedagógica dos educadores no sentido de discutir assuntos baseados nos quatro pilares da Educação, com o desenvolvimento de competências para a vida. Neste segundo módulo daremos especial atenção aos princípios do esporte enquanto instrumento transformador como a Coeducação, o Regionalismo, a Participação e a Emancipação. Veremos também os princípios que estimulam as pessoas a gostar de esporte e a praticá-lo regularmente, com a inclusão de todos, a construção coletiva, o respeito à diversidade, a autonomia garantida e a educação integral. É esse norte que orienta as discussões trabalhadas neste módulo. E atenção para os objetivos do módulo 2.
25
OBJETIVOS GERAIS Compreender quais os princípios do esporte que o torna poderosa ferramenta de transformação social; Analisar os cinco princípios que estimulam as pessoas a gostar de esporte e a praticá-lo regularmente; Refletir sobre os elementos que norteiam a seleção e organização dos conteúdos que serão vivenciados. Compreender como o esporte deve ser problematizado dentro do ambiente escolar.
OBJETIVOS ESPECíFICOS Articular os princípios do Esporte Educacional na sua materialização de atividades planejadas; Debater com os participantes elementos como inclusão, respeito à diversidade, autonomia e construção coletiva a partir do esporte; Compreender como a prática esportiva pode transformar vidas de crianças e adolescentes; Estimular a prática saudável e contínua de atividades esportivas;
26
PRINCÍPIOS DO ESPORTE ENQUANTO
TRANSFORMADOR SOCIAL Sendo assim, a ação da Metodologia BBCC está focada no desenvolvimento humano, tendo como referência teórica os quatro pilares da educação, proposta formulada pela UNESCO, com destaque para as competências pessoais, sociais, cognitivas e produtivas, proporcionando aos participantes o desenvolvimento de potencialidades e a expansão dos limites, a inclusão social, compreendendo o esporte como eixo estruturador.
Aprender a fazer
Aprender a conviver
Aprender a conhecer
Aprender a ser
27
Neste módulo, os educadores irão encontrar os princípios do esporte que o torna poderosa ferramenta de transformação social, que, quando na materialização das ações, devem estar articulados a determinadas diretrizes que estimulam as pessoas a gostar de esporte e a praticá-lo regularmente. Nessa proposta, a educação é entendida como um processo capaz de desenvolver plenamente os potenciais das pessoas, transformando-os em capacidades para a vida, ou seja, em competências para viver, conviver, conhecer e produzir no mundo, e está referenciada no paradigma do Desenvolvimento Humano, para quem todas as pessoas têm potenciais e têm o direito de desenvolvê-los. Para isso, precisam de oportunidades. Precisam, também, preparar-se para fazer escolhas, para si mesmas e para suas comunidades. A metodologia insere-se na perspectiva do esporte educacional e participação, cujo público beneficiário deve ser de alunos regularmente matriculados em instituição de ensino da rede municipal, evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer. Deve-se destacar, ainda, a promoção da inclusão social por meio do esporte, como um componente fundamental da metodologia BBCC.
28
É fato incontestável, também, a importância do esporte na formação de crianças e jovens, de maneira muito especial, naqueles oriundos de comunidades carentes, cotidianamente expostos aos mais diversos riscos sociais e físicos. Nessa perspectiva, a Visão Mundial desenvolve ações para o enfrentamento à vulnerabilidade social a partir de atividades esportivas, culturais, sociais, dentre outras. Justifica-se a referida metodologia pela convicção da contribuição que o esporte oferece para o desenvolvimento pleno de crianças e adolescentes como seres críticos, voltada para uma organização social mais justa e humana em uma sociedade na qual o homem seja sujeito de sua própria história. Outro elemento que merece igualmente destaque são as dificuldades do Estado brasileiro em seus diversos níveis, em oferecer à maioria da população a oportunidade de práticas esportivas sistematizadas, em qualquer das manifestações definidas em lei, algo característico de um país em desenvolvimento, cujas prioridades são sempre maiores que os recursos orçamentários disponíveis.
29
PRINCÍPIOS E COMPETÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PELO ESPORTE
O direito ao esporte está consagrado na Carta Magna, apesar de, na realidade, parte expressiva da população ainda encontrar-se à margem desse direito. O problema se agrava substancialmente no caso da periferia das grandes cidades, tradicionalmente conhecida por seus problemas infraestruturais. Nesse sentido, os princípios que regem essa metodologia estão baseados nos quatro pilares da Educação, com o desenvolvimento de competências para a vida. Para tanto, compreendemos os princípios do esporte enquanto instrumento transformador, a saber: Coeducação: Concepção da Educação que, como um processo unitário de integração e modificação recíproca, considerando a heterogeneidade (sexo, idade, nível sócioeconômico, condição física etc.) dos atores sociais envolvidos e, fundamentando-se nas experiências vividas de cada um dos participantes e estruturando a atuação pedagógica apoiada na ação e reflexão, tem na relação mestre-aprendiz, como o encontro entre dois educadores, o seu alicerce. Regionalismo: Respeito, proteção e valorização das raízes e heranças culturais como sinergias constitutivas do todo, considerando a singularidade inerente aos diversos mundos culturais surgidos da relação intrínseca entre seus elementos, de forma a resgatar e preservar a sua identidade cultural no processo de construção do coletivo. Participação: Valorização do processo de interferência do homem na realidade na qual está inserido, fundamentado nos princípios de cogestão, corresponsabilidade e integração, e favorecendo seu comprometimento como ator-construtor dessa mesma realidade, propiciando o gerenciamento das questões de seu interesse, tendo em vista o processo de organização social decorrente do exercício de seus direitos e responsabilidades;
30
Emancipação: Busca da independência, autonomia e liberdade do homem, fundamentandose nos princípios da educação transpessoal, pelo qual o aprendiz “é encorajado a despertar, a se tornar autônomo, a indagar, a explorar todos os cantos e frestas da experiência consciente, a procurar o significado, a testar os limites exteriores, a verificar as fronteiras e as profundidades do próprio eu”, oportunizando, assim, o desenvolvimento por intermédio da criatividade e da autenticidade, da capacidade de discernir criticamente e elaborar genuinamente as suas próprias razões de Existir.
RE
CA ÇÃ O
GI
ON
AL
CO
-E
DU
IS
M
O
CI
AN
EM O ÇÃ
PA
PA RT IC IP AÇ ÃO
TOTALIDADE
Figura 1 - Princípios do Esporte Enquanto Transformador Social
31
Com isso, acreditamos no desenvolvimento pleno das competências das crianças e jovens articuladas com os princípios da Educação pelo Esporte, ou seja, fundamentadas nos quatro pilares da educação em conjunto com as competências sociais, pessoais, cognitivas e produtivas. Na materialização das ações é necessário observar cinco princípios que estimulam as pessoas a gostar de esporte e a praticá-lo regularmente.
Inclusão de todos
Cada criança e cada adolescente deve ter a oportunidade de participar. O tipo de esporte deve permitir que meninos e meninas possam jogar, brincar e se divertir.
Construção coletiva
Se todos têm o direito de participar, todos devem ser convidados a discutir como, quando e por que praticar esporte. Assim, as regras das partidas, do campeonato e do plano que será construído dentro da proposta do Selo devem ser definidas de forma coletiva. Fazer em grupo é dar voz e saber ouvir antes de avançar nas decisões.
Respeito à diversidade
Todas as crianças e adolescentes são diferentes: meninos ou meninas; mais altos e mais baixos; brancos, indígenas, negros; com mais ou menos habilidades; com ou sem deficiências. A união está em terem todos os mesmos direitos. Por isso mesmo, precisam aprender a conviver com as diferenças. Para que todos se sintam incluídos e possam construir ações de forma coletiva, o ponto de partida é o respeito. E ele está presente quando meninos e meninas brincam juntos; um amigo joga com o outro que é menos habilidoso; um colega aceite que existem diferentes opiniões sobre o mesmo assunto; os jogos são adaptados para que a criança com algum tipo de deficiência possa participar em pé de igualdade.
32
Autonomia garantida
O esporte pode ajudar a proporcionar autonomia, que deve ser entendida aqui como o aprendizado de fazer escolhas, de resolver questões que a vida traz, de decidir pelo melhor caminho a seguir.
Educação integral
Crianças e adolescentes nunca podem ser divididos em corpo e mente, já que, a todo instante, eles articulam suas habilidades motoras com seu pensamento e suas emoções, formando um todo. Essa é a base da educação integral: aprender que o desenvolvimento se dá por inteiro, e não em partes que se juntam aos poucos em diferentes tempos e espaços. Para que a educação integral aconteça de fato, todos os princípios expostos anteriormente precisam acontecer ao mesmo tempo. Ou seja: todos os meninos e meninas jogando juntos, conversando para construir, respeitando as opiniões dos diferentes colegas e ganhando autonomia durante a prática do esporte. Essa metodologia destina-se à prática pedagógica do esporte e justifica-se na intenção de proporcionar vivências que oportunizem, no extrapolar das questões técnicas de uma modalidade esportiva coletiva (MEC), o pleno exercício dos valores formativos e educativos que podem compor o esporte e, é claro, o exercício de cidadania. Para tanto, é preciso considerar a relevância da utilização de abordagens metodológicas que favoreçam a emergência dos valores acima citados.
33
VE NVI O C
R COM A DIFERE
NÇ A
SOCIAIS
O T R AB A L HO
PESSOAIS
UIR STR
aprender a fazer
N CO
Aprender a conhecer
COGNITIVAS
AP RO
PR I AR-SE
D O CO NH
O NT E ECIM
Figura 2 - Princípios e Competências da Educação pelo Esporte
34
NO MUNDO D ÇÃO
Aprender a ser
PRODUTIVAS
UM PROJETO
ER
DE VID A
S IN
Aprender a conviver
Assim, ao adotar os critérios de seleção e organização dos conteúdos, faz-se necessário que sejam considerados os seguintes pontos:
Relevância social
Seleção de práticas da cultura corporal que têm presença marcante na comunidade, cuja aprendizagem favorece a ampliação das capacidades de interação sociocultural, o usufruto das possibilidades de lazer, a promoção e a manutenção da saúde pessoal e coletiva. Assim como também é de fundamental importância que os conteúdos selecionados contemplem as demandas sociais apresentadas pelos Temas Transversais.
Características dos alunos
A definição dos conteúdos deve garantir uma amplitude que possibilite a consideração das diferenças físicas e cognitivas de todos os participantes. Além disso, deve-se tomar como referencial o crescimento e as possibilidades de aprendizagem dos alunos em cada etapa da escolaridade.
Características da própria modalidade
Os conteúdos são um recorte possível da enorme gama de conhecimentos que vêm sendo produzidos sobre a cultura corporal e estão incorporados pela prática esportiva, sendo capaz de flexibilizar, adaptar e transformar, quando necessário, para um maior aproveitamento dos alunos. (BRASIL, 1997. Adaptado) O estabelecimento desses critérios está baseado na ideia de que os alunos dessa faixa etária já devem ter consolidado um repertório de brincadeiras e jogos que deverá ser transformado e ampliado. A possibilidade de compreensão das regras do jogo é maior, o que permite que percebam as funções que elas têm, de modo a sugerir alterações para tornar os jogos e brincadeiras mais desafiantes.
35
A compreensão das regras e a autonomia para a organização das atividades permitem ainda que os aspectos estratégicos dos jogos passem a fazer parte dos problemas a serem resolvidos pelo grupo e, nesse sentido, o professor pode interromper os jogos em determinados momentos, solicitando uma reflexão e uma conversa sobre qual estratégia é mais adequada para cada situação, auxiliando assim para que novos aspectos tornem-se observáveis. (BRASIL, 1997) A estratégia deve ir no sentido onde o grau de dificuldade e complexidade dos movimentos pode e deve aumentar — movimentos um pouco mais específicos, com desafios que visem um desempenho mais próximo daquele requerido nas atividades corporais socialmente construídas e contextualizadas. Referente à utilização do espaço e à organização das atividades, deve-se compor divisões em pequenos grupos (por habilidade, afinidade pessoal, conhecimentos específicos, idades), alternando-as com situações coletivas de todos os participantes. Isso possibilita que os alunos tenham tempo de experimentar determinados movimentos, treiná-los, perceber seus avanços e dificuldades, criar novos desafios para si mesmos, estimulando o conhecimento e o controle do
36
próprio corpo, permitindo que esses adolescentes comecem a monitorar seu desempenho, adequando o grau de exigência e de dificuldade de algumas tarefas. Podem também, pela percepção do próprio corpo, começar a compreender as relações entre a prática de atividades corporais, o desenvolvimento das capacidades físicas e os benefícios que trazem à saúde.
ESPAÇO DE VIVÊNCIAS O desafio em promover um diálogo produtivo entre esporte e escola, mais do que uma simples excitação no discurso, implica em visualizar a complexidade dessas duas instituições. De fato, como teias complexas que conformam totalidades sociais em ações e significados, escola e esporte, raras às vezes, têm “jogado no mesmo time”. Dentro de ambas, as engrenagens educativas residem de um lado, contraditórios incompatíveis, de outro, possibilidades de mudança. A proposta dessa metodologia, atrelada à pedagogia do esporte, é tornar o “time” mais coeso. Isso significa incrementar as ações coletivas, a perspectiva de unidade e as possibilidades de motivação/superação. Assim, o esporte e a escola no mesmo time seria uma formulação de projeto exitosa, isto é, um ideal a ser buscado. Como subárea em desenvolvimento, a pedagogia do esporte no interior da escola é responsável pelas inovações e alternativas viáveis, ou seja, aquela que deve seguir os trilhos do esporte institucionalizado visando quebrar sua lógica de rendimento máximo e de prática excludente. É também aquela responsável por adaptar e construir práticas alternativas e inteligentes, transformando o jogo e o esporte em ‘jogo esportivo’. Em outras palavras, entre as vertentes críticas e propositivas, presentes em muitos debates na recente história brasileira da área, a pedagogia do esporte hoje vem firmando uma intensa parceria com a Educação Física.
37
Consideramos que o principal elemento de ligação entre escola e esporte pode ser constituído pela construção de uma proposta de Jogos Pedagógicos (evento de competições e festivais) que, por sua vez, constitui um complicado quebra-cabeça do esporte no interior da Educação Básica. Talvez seja possível criar uma perspectiva concreta para as mudanças e adaptações necessárias à pedagogia do esporte – algo que seja não apenas discutido (e discursivo), mas também testado e experimentado no cotidiano das escolas. A tentativa de modificar estruturas e conceitos constitui preocupação para a pedagogia do esporte na formulação de questões sobre competição. As dinâmicas e os objetos dos jogos são questões cruciais para o desenvolvimento do esporte para crianças e adolescentes. As seguintes modificações pedagógicas e variáveis de tempo e espaço devem ser alteradas ou adaptadas: duração da competição, número de interrupções, dimensões dos espaços, aumento ou diminuição dos obstáculos, aumento ou diminuição do número de jogadores, pontuação e premiação. Tais alterações caminham na direção de uma pedagogia significativa e cheia de sentido, pois dentro da concretude do fazer esportivo, engendra-se uma formação intersubjetiva, ampla, sensível e humana, possível aos diferentes processos de escolarização. Para Reverdito et. al. (2008), deve-se conhecer os pressupostos e princípios pedagógicos para a organização de eventos esportivos com alunos da educação básica. Tal processo depende de questões didático-metodológicas e da participação pró-ativa dos sujeitos. O sistema de competição precisa promover um maior número de encontros e atividades, combinando jogos esportivos com jogos modificados e festivais. As tarefas para os diferentes tipos de organização, bem como a atuação dentro dos jogos, devem primar pela busca de autossuperação como mecanismo de avaliação. Uma maior aproximação entre a Educação Física e a Pedagogia é necessária, pois implica em conhecer alunos e suas necessidades educativas, o que também sugere uma formação docente ampla, rigorosa e profunda.
38
Uma das questões que dificultam a pedagogia do esporte na escola é abstrair da competição esportiva os seus diversos sentidos educativos. Talvez isso ocorra pelo fato de conhecermos o fenômeno esportivo de maneira panorâmica e difusa, faltando elementos do como intervir e mediar as infinitas situações concretas que emergem da prática coletiva do jogo. De qualquer maneira, existe uma desconfiança sobre a validade educativa do esporte quando adotado como prática na escola. As expressões competitivas nos grandes eventos esportivos transmitidos pela mídia apresentam um universo de relações pouco humanizadoras nas quais o vencer a qualquer custo se estabelece como referencial ético. Nesse sentido, a competição aparece como um elemento perverso, exacerbando atitudes e comportamentos de elevada concorrência, individualismo e certa dose de violência, em detrimento da construção de posturas como a solidariedade e a igualdade (Marques, 2004). Ao caminhar na direção contrária, no intuito de garantir coerência e significância pedagógica no esporte, destacamos os seguintes conceitos: compreensão, criatividade, competitividade, cooperação e corresponsabilidade, elementos contextualizados com a realidade local. Bento (2004) traz uma possibilidade de análise instigante de como as situações de competição podem se transformar em elementos educativos no sentido humano do termo.
39
O autor desenvolve um conjunto de reflexões para situar a temática do jogo e da competição. Questiona, em primeiro lugar, os posicionamentos críticos da competição afirmando que a competição é a base para a cooperação. Precisaríamos de uma sólida aprendizagem da competição para desenvolver uma ética do jogo e do jogador. Conclui que o jogo esportivo é uma rara oportunidade de o homem assumir sua humanidade, pois, dentro desse reencontro, ele se defronta com as dificuldades da sua inabilidade e incapacidade, experimenta ações diferentes das ações sérias, reproduz tensões e contradições da vida, tornandoas suportáveis e resolúveis, como, por exemplo, a tensão entre o sucesso e o insucesso do esporte. Alguns pontos para ordenar e direcionar as experiências do alunado devem ser elencados: quando a criança participa de uma competição esportiva escolar, mergulha em uma infinidade de possibilidades simbólicas, desde uma identificação lúdica e existencial até mesmo uma profunda insegurança e ansiedade. O sujeito que joga pode estabelecer uma ação humanizadora e de cumplicidade. Solidariedade, valorização humana e aproximação não significam “ser bonzinho” dentro de um jogo, mas estabelecer uma necessária coerência nos processos de cooperação do esporte bem como nas relações de humildade para aprendizagem.
40
Como patrimônio da humanidade, o esporte é uma prática com profundo enraizamento cultural que transita sobre as mais distintas classes sociais e os mais diferentes elementos de estruturação da personalidade e da própria condição humana. Para uma pedagogia avançada, a tarefa seria desenvolver a apreciação estética e a arte de viver e aprender os ensinamentos sobre o universo do jogo e da competição bem como o cultivo de princípios e valores humanos que se coadunam com aquilo que temos de mais sensível. Diante do exposto, temos que ter alguns cuidados quando propomos o fortalecimento das práticas pedagógicas esportivas. Reafirmamos que a presença da Educação Física como componente curricular amplo (e não como mero retorno à atividade esportivizada mecanizada) deve contemplar, na estrutura curricular, o complemento ‘aulas de esporte’ integrando o projeto pedagógico da escola. A constituição de uma maior exigência e uma melhor organização da competição esportiva na escola passa pelas estruturas físicas, equipamentos, materiais, condições de salário e carreira docente, incluída, nesta lógica, a compreensão da amplitude curricular, composta por aulas de Educação Física e aulas de Esporte como unidade dialética do projeto pedagógico. Assim, outras possibilidades de competição devem ser experimentadas e almejadas.
41
PARTICIPANTES
ATIVOS E CONSCIENTES Como nem toda competição esportiva é própria para crianças e adolescentes, há que se construir jogos pedagógicos mais próximos e coerentes, de um lado, adaptando e refletindo questões do esporte, de outro, não o descaracterizando. Nesse sentido, o esporte precisa ser decodificado para uma aplicação pedagógica de competições no interior da escola. Isso implica em organizar eventos compatíveis com as condições e possibilidades dos alunos da educação básica. Machado (2006) adverte que os esportistas em fase formativa não devem ser submetidos à lógica e ao espaço competitivo do adulto. Tais espaços apresentam cargas intensas e exaustivas de competição que não convergem com as características fisiológicas, psicológicas e emocionais das crianças e adolescentes. Muitas vezes, são esses excessos os responsáveis pelo abandono da prática esportiva. Dentre as causas do abandono está o impacto negativo que os rituais da hipercompetição provocam na constituição psicológica dos competidores precoces. Comportamentos emocionais negativos são experimentados variando da extrema agressividade até a baixa autoestima. Para as concepções progressistas da Psicologia do Esporte, os eventos competitivos podem destruir relacionamentos pessoais quando as crianças enxergam os demais competidores como obstáculos a serem transpostos a qualquer preço para não atrapalhar seu desempenho e sucesso. Sentimentos como inveja dos vencedores e desprezo aos perdedores são automaticamente internalizados e transformados em comportamentos negativos e pouco produtivos.
42
Carga excessiva de estrasse e pressão exigida pelos adutos
Objetivos com alta dificuldade de serem atingidos
Ansiedade excessiva
Nervosismo
Nível de expectativa exagerado em relação ao desempenho
Distúrbio do sono
Distúrbio de apetite
Medo de cometer erros
Preocupação com os resultados
Medo de decepcionar as pessoas
43
Tal preocupação tem alguma pertinência, pois os jogos de hoje em dia estão muito sérios e rígidos, quando deveria ser o contrário, isto é, a realização de encontros esportivos para crianças e adolescentes deveria se pautar por relações entre competidores, pais e técnicos, tendo como base o universo da compreensão, da competitividade controlada, da ludicidade, da criatividade e da alegria situados em um clima de confraternização e de objetivos pedagógicos orientados na direção da ampliação do desenvolvimento das habilidades e do convívio social. Nesse sentido, dentro da tematização da competição e dos jogos esportivos para o público alvo selecionado pela metodologia BBCC (adolescentes entre 11 e 17 anos), cabe aos professores contextualizar as emoções negativas (frustração, decepção, medo, amargura, tristeza) e positivas (alegria, conquistas, méritos, elevação de autoestima, coragem) visando ressignificar o universo de relações e possibilidades pedagógicas. Cabe, portanto, operar com a contradição como ferramenta de ensino, pensada dentro de um processo complexo de totalidade social. referências.
44
45
MÓDULO 3
46
No último caderno da metodologia BBCC, centraremos nossas discussões nas formas de como materializar tudo aquilo que já vimos anteriormente. Nesse terceiro módulo, partiremos do mais amplo, ou seja, o passo a passo de como implementar a metodologia em qualquer lugar que tenha as mínimas condições relacionadas, passaremos pela equipe que deve ser composta para materialização da metodologia e iremos até o específico, que são princípios e sugestões de como planejar, implementar e avaliar os encontros diários. Veremos como deve ser a dinâmica semanal de encontros bem como os conteúdos e ações que devem ser desenvolvidas em cada dia. Sendo assim, atenção para os objetivos do módulo 3.
47
OBJETIVOs GERAis
Oportunizar prática esportiva de qualidade a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, contribuindo para o desenvolvimento pleno dos participantes; Adotar, desenvolver e difundir o paradigma do Esporte como metodologia de educação integral para crianças e adolescentes; Construir conhecimentos, debater valores e significados das práticas esportivas na perspectiva da integração dos participantes. Vivenciar práticas esportivas seguras, refletindo sobre questões de gênero, raça, credo e inclusão no sentido de assegurar as experiências de todos os participantes.
48
OBJETIVOS ESPECíFICOS Desenvolver atividades focadas na inclusão social dos participantes; Propiciar, aos educadores envolvidos na execução da metodologia, condições que permitam o entendimento pleno, a adesão pessoal e a prática coerente do esporte; Apoiar e valorizar a escola exercitando nas crianças e adolescentes o interesse pela aprendizagem; Desenvolver um trabalho educativo vinculado às regras para manutenção da saúde e bem-estar físico e mental, de si próprio e da comunidade; Utilizar a prática esportiva como elemento facilitador da educação de crianças e adolescentes; Estimular crianças e adolescentes a manter uma interação efetiva que contribua para seu desenvolvimento integral. Contribuir para o desenvolvimento de competências pessoais, sociais, produtivas e cognitivas nas crianças e adolescentes atendidos, na perspectiva de proteção integral dos direitos humanos e valorização da aprendizagem na escola;
49
RESULTADOS ESPERADOS Os resultados esperados estão diretamente ligados aos objetivos propostos. Nesse sentido, extrapolam a questão do esporte, mesmo sendo este o foco fundamental de nossa ação. São eles:
Contribuir com a formação de uma comunidade consciente de seus direitos e responsabilidades, onde o respeito a si e ao outro seja preocupação de cada um; Desenvolvimento de metodologia de trabalho e de avaliação de projetos em comunidades carentes; Produção de trabalhos científicos para apresentação em encontros científicos; Despertar o gosto pela prática esportiva enquanto elemento de qualidade de vida; Sensibilizar as famílias e as escolas, as quais as crianças e adolescentes estão vinculados, sobre a importância da prática esportiva; Descobrir e incentivar novos talentos esportivos e encaminhar para projetos que trabalhem esse enfoque, quando do desejo dos beneficiários e de suas famílias.
50
51
MÉTODOS E PROCEDIMENTOS Essa metodologia, inicialmente, contemplará intervenções articuladas e alternadas de modalidades esportivas e arte-educação através de parcerias entre a VISÃO MUNDIAL, a comunidade local e o poder público. O público a ser atendido será formado de crianças e adolescentes escolares, com trinta participantes por turma, de 11 a 17 anos, de ambos os sexos, que estejam, preferencialmente, na escola. Afirmamos a importância de ser na escola, pois o apoio dessa referida instituição amplia as possibilidades de manutenção prolongada do processo. O apoio de uma escola na região onde se pretende implantar o Esporte para a Vida é fundamental e parte das condições mínimas necessárias para implantação da metodologia.
52
Sendo assim, os componentes que se configuram imprescindíveis para sua implementação são:
Parceria com escola local
Equipe pedagógica
Carga horária
O QUE NÃO PODE FALTAR PARA APLICAR O BBCC?
Apoio de uma escola local (municipal ou estadual), que tenha um espaço destinado à realização de práticas esportivas (quadra, campo, etc.)
Equipe de trabalho que deve, preferencialmente, ser composta de, pelo menos, um educador físico, um arte-educador e mais duas pessoas que tenham algum envolvimento com práticas esportivas e/ou de lazer. Aqui podem ser contemplados alunos do curso de Educação Física que podem ser estagiários dos processo.
A carga horária deve ser distribuida conforme quadro abaixo, com dois encontros semanais por turma e um dia de planejamento e avaliações da equipe. É neste dia que os educadores organizam suas aulas, reveem planos e planejam a semana seguinte.
53
Deve-se ter em mente que é necessária uma articulação primeiramente com a escola, mas que essa parceria deve ser oficializada junto à Secretaria de Educação do Estado ou Município ou de algum órgão regulador. O espaço físico da escola, assim como seus materiais para as aulas, é fundamental para o êxito do processo. Como a proposta sugere uma articulação dos conteúdos vivenciados na prática, com um debate teórico sobre os mesmos, é importante que se tenha o auxílio de um equipamento de data-show, uma vez que a metodologia também contempla, em sua carga horária, a articulação com outros conteúdos para além de práticas esportivas.
Planeja-se, de acordo com o quantitativo de alunos da escola, por faixa etária, que sejam divididas duas turmas, sendo uma delas com adolescentes entre 11 e 14 anos e, a outra, entre 15 e 17 anos. Essa divisão corresponderia às turmas A e B respectivamente. A ideia, e um dos diferenciais da metodologia, é que sejam contemplados todos os alunos da escola e que cada um deles participe, pelo menos duas vezes por semana, das atividades esportivas e também culturais.
54
DIA/HORA
ME
CID
ME
CID
2ª feira (14h00/15h30;15h30/17h00
TA
TB
TB
TA
3ª feira (14h00/15h30;15h30/17h00)
TC
TD
TD
TC
4ª feira (14h00/15h30;15h30/17h00)
TA
TB
TB
TA
5ª feira (14h00/15h30;15h30/17h00)
TC
TD
TD
TC
6ª feira (14h00/17h00)
FORM
PROF e EST
(ME: modalidade esportiva; CID: cidadania; FORM: formação pedagógica; PROF: professores; EST: estagiários).
55
Dessa forma, todos os alunos serão contemplados nos dias da semana e, sempre às sextas-feiras, a equipe esportiva e sociocultural se encontrará para avaliar a semana que passou e planejar a subsequente. Esses encontros serão uma espécie de reunião pedagógica, na qual cada participante poderá relatar e debater não apenas sobre as principais dificuldades encontradas e as experiências exitosas, mas também propor novas formas de potencializar as ações desenvolvidas.
Pretende-se também que semestralmente a metodologia tenha uma culminância. Esse período seria compreendido por um grande festival de cultura e/ou esporte proporcionando aos alunos a aplicação dos conteúdos aprendidos, ampliando o modelo de socialização entre as turmas, agregando valor à metodologia e, principalmente, contaria com a presença dos pais dos alunos neste dia.
56
A proposta de festival é aqui compreendida por um dia inteiro de atividades, preferencialmente num sábado para que favoreça a presença maciça dos pais e tutores legais dos alunos.
PASSO A PASSO A estrutura de aula, referenciada por orientações da pedagogia do esporte, constrói-se numa sequência que favoreça a articulação dos conteúdos e conhecimentos correlatos ao jogo e à aula específica, além, é claro, de adequar-se às características e possibilidades dos alunos de cada faixa etária contemplada pela metodologia, segundo propostas de estrutura temporal, definida, de acordo com Greco, Benda e Ribas (1998, p. 32), como “a sequência de fases e momentos que caracterizam e compõem os diferentes níveis de rendimento esportivo, conforme as diferentes faixas etárias e acervo de experiências”. As orientações a serem seguidas vêm de Krebs (1996, p. 59), com a divisão do processo de iniciação e formação esportiva em quatro etapas, porém, em função da faixa etária eleita pela metodologia, nos deteremos nas duas últimas, a saber:
57
INICIAÇÃO E FORMAÇÃO ESPORTIVA
PRÁTICA MOTORA (10 a 13 anos) – fase especializada – refinamento de movimentos especializados de modalidades esportivas; Atividades: Fundamentos em movimento. Mudanças de direções. Variações de distâncias na execução dos movimentos. Contextualização dos movimentos em situações reais de jogo. Utilização de obstáculos fixos. ESPECIALIZAÇÃO MOTORA (a partir dos 13 anos) – fase personalizada – personalização de movimentos e especialização de modalidades esportivas. Atividades: Noções sobre as ações de ataque e defesa de maneira coordenada. Refinamento da técnica e tática (criação de jogadas) Utilização de obstáculos móveis – adversários. Variações de estímulos (trabalhar com intensidades variadas)
Já na proposta de Greco, Benda e Ribas (1998, p.74) onde há a divisão em sete fases que também devido à faixa etária escolhida dos participantes, nos deteremos nas três últimas, vão da iniciação à etapa do esporte de excelência. Neste momento, faz-se alusão àquelas que contemplam até a finalização da formação escolar básica:
58
INICIAÇÃO E FORMAÇÃO ESPORTIVA
FASE DE ORIENTAÇÃO (11/12 a 13/14 anos): buscar o aperfeiçoamento do movimento, a fim de melhorar sua resposta motora. Esta é a fase da prática motora, com variações de técnicas e capacidades táticas gerais: tabelas, cruzamentos, bloqueios, corta-luz, triangulações, apoios etc; CONTEÚDOS DE ORDEM TÉCNICA: passes e finalizações (distâncias, seguimentos corporais e trajetórias diversas), recepções (relacionadas às trajetórias de bola), deslocamentos (mudanças de direção, sentido e ritmo), dribles e fintas; CONTEÚDOS DE ORDEM TÁTICA: tabelas, cruzamentos, bloqueios, corta-luz, triangulações, apoios etc; Atividades: Utilização de repetições na busca pela excelência do movimento. Adaptações e criações de movimentos de acordo com a capacidade individual Decodificar melhores estratégias para superar os adversários. Aperfeiçoamento de jogadas; FASE DE DIREÇÃO (13/14 a 15/16 anos): Aperfeiçoamento e especialização técnica em uma modalidade esportiva, continuidade no desenvolvimento da “inteligência de jogo”. “O conhecimento teórico, como base para os processos cognitivos, dirigem a ação tática” finalização da iniciação esportiva; CONTEÚDOS DE ORDEM TÉCNICA: passes e finalizações (distâncias, seguimentos corporais e trajetórias diversas), recepções (relacionadas às trajetórias de bola), deslocamentos (mudanças de direção, sentido e ritmo), dribles e fintas, porém, com níveis de combinação entre as ações técnicas mais complexas;
59
INICIAÇÃO E FORMAÇÃO ESPORTIVA
CONTEÚDOS DE ORDEM TÁTICA: além dos conteúdos da fase anterior, tratar de dois sistemas táticos, do ponto de vista de posições e funções, nas manifestações de ataque, defesa e transição. Atividades: Compreensão de como a regra pode auxiliar o desempenho. Formulação de tática em função das potencialidades e fraquezas do adversário. Variação de formação na equipe. FASE DE ESPECIALIZAÇÃO (15/16 a 17/18 anos): Aperfeiçoamento e otimização dos potenciais táticos e técnicos, fase de direcionamento para o esporte de alto nível. “Diminuir o tempo para a recepção, descoberta e elaboração das informações” (KONZAG, 1981). CONTEÚDOS DE ORDEM TÉCNICA: passes e finalizações (distâncias, seguimentos corporais e trajetórias diversas), recepções (relacionadas às trajetórias de bola), deslocamentos (mudanças de direção, sentido e ritmo), dribles e fintas, associados às manobras de ataque, defesa e transição dos sistemas e posições e funções específicas; CONTEÚDOS DE ORDEM TÁTICA: tabelas, cruzamentos, bloqueios, corta-luz, triangulações, apoios etc. – mantêmse estes elementos assim como nas orientações sobre os elementos técnicos, associados às manobras de ataque, defesa e transição dos sistemas e posições e funções específicas.
É imprescindível que seu início conte com uma roda de conversa explicativa, na qual são apresentados objetivos e procedimentos metodológicos.
60
Em seguida, no desenvolvimento da intervenção, acontecem vivências a partir de jogos de diversas formas e dimensões, de modo que a última dessas formas seja uma prática de jogo modificado, isto é, resgate da estrutura básica do jogo formal com modificações que aumentem a propensão de acontecimentos de situações de um determinado conhecimento, funcionando como momento aplicativo dos conteúdos. A finalização configura-se noutra roda de conversa, desta vez avaliativa e de encaminhamentos às sessões seguintes (SANTANA, 2004). Em seguida, no desenvolvimento da intervenção, acontecem vivências a partir de jogos de diversas formas e dimensões: 1. O primeiro destes jogos – FORMA JOGADA – seria um jogo reduzido, baseado numa brincadeira popular, associada ao conteúdo da aula; 2. O segundo – JOGO ADAPTADO – configura-se em jogos em campo reduzido, com quantidades adaptadas de participantes, enfatizando tarefas de ordem técnica; 3. Por último – JOGOS MODIFICADOS OU FORMAIS – resgate da estrutura básica do jogo formal, com modificações que aumentem a propensão de acontecimentos de situações de um determinado conhecimento, funcionando como momento aplicativo dos conteúdos ou o próprio exercício coletivo. Encerrando a prática com uma roda de conversa, a fim de avaliar a atividade e seu desenvolvimento de maneira informal e subjetiva, seguida de uma avaliação sistematizada registrando o constatado. JOGO FORMAL OU MODIFICADO FORMA JOGADA
RODA AVALIATIVA
JOGO REDUZIDO OU MODIFICADO RODA EXPLICATIVA
61
PROCEDIMENTOS AVALIATIVOS Sobre avaliação, compreendemos que esta deve acontecer em duas perspectivas, a primeira processual e, a segunda, ao final de cada etapa ou unidade. Enquanto “processual”, sugerimos uma ficha de acompanhamento (em anexo) que contemple as três dimensões de manifestações de ações, compreensões e comportamentos, a partir de dois critérios relacionados às mesmas que, segundo Sanches Neto (2007), seriam contemplados levando em conta tais procedimentos e atitudes como se segue. A sugestão é que a ficha seja preenchida diariamente com a frequência e semanalmente com os demais itens que irão, de fato, formatar o desempenho de cada participante. Para a avaliação é recomendado que siga o calendário escolar, pois facilita o planejamento desde seu início até o fechamento das atividades, ou seja, bimestral e uma ao final de cada semestre que deve ser composta pela participação efetiva dos alunos.
62
Em relação à “avaliação final de unidade”, a proposta é de realizações de pequenos torneios, internos – apenas com nossos alunos - ou com participação de crianças de outras iniciativas similares que contemplem ações tático-técnicas relativas à faixa etária em questão (vide estrutura temporal citada no passo a passo metodológico), através de grandes e pequenos jogos adaptados e modificados. As ações táticotécnicas e os conhecimentos e execuções relativos às faixas etárias constituem-se nos elementos a serem observados e avaliados e os jogos adaptados e modificados nos procedimentos avaliativos, a partir dos quais os conhecimentos referidos acima serão analisados. O processo avaliativo segue a trilha de possibilitar não apenas ao professor avaliar os alunos, mas também, garantir aos participantes o direito de elaborar ideias, sentidos e significados do esporte, além de possibilitar aos jogadores observar seus gestos técnicos com vistas a oferecer respostas específicas às diferentes exigências motoras impostas pelas modalidades e/ou atividades esportivas. Para essa avaliação semestral, podem ser realizados festivais, torneios, intercâmbios etc. Mas, lembre-se, o mais importante é que a construção seja feita pelos alunos, contando sempre com as orientações dos educadores. Aqui, segue uma explicação de cada item presente na ficha avaliativa, para facilitar a sua compreensão e também ajuda-lo a preencher a mesma. Existe uma série de siglas que estão todas bem descritas abaixo. O que o educador deve fazer é relacionar cada item com o rendimento dos participantes, preenchendo o campo da FREQUÊNCIA (F) todos os dias em que tiver encontros e, os demais, ao final de cada semana, com a classificação: Muito Bom (A) – Bom (B) – Regular (C) e Insuficiente (D), sendo atribuídos para cada item avaliativo.
63
PROPOSTA DE PLANILHA PARA AVALIAÇÃO Unidade/ Período
Domínios e critérios Alunos Atitudinal F
PO ES
Procedimental AE
CT
AIVD
PE
Conceitual CD
AIVD
Total CE
Legendas F: frequência PO: participação objetiva
ES: envolvimento subjetivo
CT: conhecimento tácito AIVD: aproveitamento de informações visuais e demonstrativas PE: procedimentos específicos
CD: conhecimento declarativo AIVB: aproveitamento de informações verbais CE: conceitos específicos
AE: atitudes específicas Legendas e escala de pontuação: Muito bom: A (9 – 10) Bom: B (7 – 8) Regular: C (5 – 6) Insuficiente: D (0 – 4)
64
Observações/encaminhamentos:
PROCEDIMENTOS AVALIATIVOS: Sobre avaliação, compreendemos que esta deve acontecer em duas perspectivas, a primeira processual e, a segunda, ao final de cada etapa ou unidade.
PROCESSUAL
FICHA DE ACOMPANHAMENTO - AÇÕES, COMPREENSÕES E COMPORTAMENTOS
AVALIAÇÃO SOMATIVA (OCORRE AO FINAL DE CADA UNIDADE)
AVALIAÇÃO FINAL DE UNIDADEREALIZAÇÃO DE TORNEIOS ESPORTIVOS INTERNOS
65
O que o educador deve fazer é relacionar cada item com o rendimento dos participantes, preenchendo o campo da FREQUÊNCIA (F) todos os dias em que tiver encontros e, os demais, ao final de cada semana, com a classificação: Frequência A Muito Bom
B
C
Bom
Regular
D Insuficiente
Atitudinal ou sócio-afetiva: Assiduidade
Presença do aluno na aula como um dos componentes de demonstração de interesse e aproveitamento.
66
Participação objetiva
Interpretar a participação do aluno para além da simples presença na aula, mas, de maneira efetiva, verificar sua contribuição para a aula.
Envolvimento subjetivo
Atitudes específicas
Observar o envolvimento do aluno com o que foi proposto e suas atitudes em relação a estes aspectos, ou seja, como o aluno incorpora o aprendizado ao seu dia a dia.
Aprendizado efetivo da dimensão atitudinal do conteúdo, como a cooperação e competição ética e respeitosa.
Procedimental ou psicomotora:
Conhecimento Tácito
Identificar se o aluno sabe fazer, sem a intervenção do professor, o que se pretende ensinar, com isso podendo significar a condição do aluno de colocar estes conhecimentos em prática na própria comunidade em que vive.
Procedimentos Específicos
Aproveitamento De Informações Visuais E/ Ou Demonstrativas
Aproveitamento efetivo da dimensão procedimental do conteúdo, isto é, verificar nos alunos se a realização dos movimentos experimentados e requisitados nas atividades e jogos foram, de fato, aprendidos.
Observar como está a transposição das informações visuais e/ou demonstrativas em ações nos jogos e atividades. Verificar se o que foi ensinado é reproduzido/adaptado e/ou transformado no momento das práticas.
Conceitual ou cognitiva: Conhecimento declarativo
Identificar se o aluno declara, caracteriza, define e/ou classifica as atividades e jogos que foram explicados.
Aproveitamento de informações verbais ou gráficas
Utilização de pistas e informações verbais e/ou gráficas para transformálas em ações.
Conceitos específicos
Aprendizado efetivo da dimensão conceitual do conteúdo estudado, relativo aos jogos e atividades.
Fonte: (SANCHES NETO, 2007, p. 138).
67
Em relação à “avaliação final de cada etapa ou unidade”, a proposta é de aferição da assiduidade e comprometimento com as atividades sendo registrada assim a presença do aluno, sua atuação e conhecimentos referentes a conceitos atitudinais, procedimentais e conceituais e, em caso de indisciplina, também é feito um registro. Assim é registrada em forma de pontuação, sendo 0 a ausência de ocorrência tanto de participação quanto de indisciplina, 1 ocorrência leve, 2 ocorrência média e 3 ocorrência grave. Conhecimentos pertinentes ao envolvimento subjetivo do aluno, atitudes específicas, conhecimentos tácitos, procedimentos específicos, conhecimento declarativo, aproveitamento de informações verbais e conceitos específicos, critérios que contemplam ações tático-técnicas relativas à faixa etária em questão (vide estrutura temporal citada no passo a passo metodológico), através de grandes e pequenos jogos adaptados e modificados, são contemplados no processo avaliativo de forma subjetiva.
68
As ações tático-técnicas e os conhecimentos e execuções relativos às faixas etárias constituem-se nos elementos a serem observados e avaliados, e os jogos adaptados e modificados, nos procedimentos avaliativos, a partir dos quais os conhecimentos referidos acima serão analisados (SCARPATO et al., 2009, p. 27). O processo avaliativo segue a trilha de possibilitar não apenas ao professor avaliar os alunos, mas também, garantir aos participantes o direito de elaborar ideias, sentidos e significados do esporte, além de possibilitar aos jogadores observar seus gestos técnicos com vistas a oferecer respostas específicas às diferentes exigências motoras impostas pelas modalidades e/ou atividades esportivas. O preenchimento, a partir dos critérios constantes na ficha proposta, deverá ter o acompanhamento diário de frequência e semanal dos demais indicadores de desempenho, uma vez que as unidades/etapas/ciclos assumem a duração das unidades letivas da escola em questão, ou seja, aproximadamente dois meses e meio. A ficha avaliativa é composta por dez (10) campos a serem preenchidos, apenas relembrando, o campo da frequência deve ser preenchido em todos os dias que tiver encontros e os outros nove campos serão preenchidos ao final de cada semana. Cada aluno pode chegar aos cem (100) pontos sempre ao final de cada semana. Ao final de cada unidade, deve ser feito um somatório de todos os totais – semanais – e dividido pela quantidade de encontros que houver na unidade. Dessa maneira, o educador terá a média de cada aluno durante aquele período. Note que, dessa forma, você também deixa registrado as avaliações de cada aluno durante todo o ano, assim, você poderá verificar a regularidade de todos os alunos envolvidos.
69
70
PROPOSTA DE PLANOS DE AULA AULA Nº
PLANO DE AULA - Data
Conteúdo Passe. Diferentes tipos de passe do futebol.
Objetivos Estimular o desenvolvimento de habilidades motoras finas, a partir da vivência de diferentes tipos de passes do futebol.
Procedimentos 1. Iniciar com uma roda de diálogo em forma de avaliação diagnóstica a fim de resgatar o conhecimento prévio dos participantes acerca do fundamento passe, quais os tipos, funções e características. (RODA EXPLICATIVA) 2. Em duplas, pedir para que os alunos realizem diferentes tipos de passe de maneira livre. (FORMA JOGADA) 3. Implementar diferentes distâncias e direções nos passes. (JOGO REDUZIDO OU MODIFICADO)
Recursos Bolas de Futsal e outras bolas de diferentes tamanhos e pesos. Quadra.
TEMA: Futebol Avaliação Roda de diálogo resgatando os conteúdos vivenciados durante a aula, problematizando com os alunos o que foi aprendido durante o encontro. (RODA AVALIATIVA)
4. Reunir a turma novamente e problematizar os tipos de passes que realizaram e em que momentos devem ser mais utilizados. 5. Em grupos de cinco ou mais participantes, realizar passes entre si, agora com uma pessoa no centro do círculo tentando interceptar a trajetória da bola. (JOGO REDUZIDO OU MODIFICADO) 6. Criar situações de jogo em que seja necessária a utilização dos diferentes tipos de passe vivenciados. (JOGO FORMAL OU MODIFICADO)
Observações:
Encaminhamentos:
71
PLANO DE AULA - Data Conteúdo Violência no futebol
Objetivos Debater sobre a violência no futebol e quais suas consequências
AULA Nº Procedimentos 1.Iniciar com uma roda de diálogo em forma de avaliação diagnóstica a fim de resgatar o conhecimento prévio dos participantes acerca da violência no futebol. (RODA EXPLICATIVA) 2. Ver o vídeo sobre violência no futebol. Maurício Murad. 3. Ler o texto sobre violência no futebol. 4. Destacar quais os pontos relevantes no texto. 5. Construir juntamente com os alunos uma série de cartazes contra a violência nos estádios de futebol.
Observações:
Encaminhamentos:
72
Recursos Data-show. Texto sobre violência no futebol. Cartolinas e pilotos.
TEMA: Futebol Avaliação Roda de diálogo resgatando os conteúdos vivenciados durante a aula, problematizando com os alunos o que foi aprendido durante o encontro. (RODA AVALIATIVA)
ROTEIRO DE ATIVIDADES
RECREATIVAS E ESPORTIVAS
JOGOS COOPERADOS Os Jogos cooperados são estratégias educativas que apoiam o fortalecimento da integração, cooperação e sinergia entre os participantes, para além de estimular o condicionamento físico e as noções de espaço, lateralidade e tempo. É a partir dos jogos cooperados que exploramos temas como convivência, respeito, diversidade.
73
PEBOLIM humANO Faixa etária: acima de 7 anos. Local: Quadra de esportes. Material: Barbante, canos em cubos. Estimular: Cooperação, lateralidade, noção de espaço e passe. Número de participantes: 10 participantes, 5 participantes em cada time, sendo: 4 na linha, 1 em cada gol (esse número pode ser adaptado ao tamanho do espaço disponível). COMO BRINCAR Dividir a turma em duas equipes, seis cordões dispostos lateralmente pela quadra, na altura da cintura, acrescido de dois cordões fixos lateralmente nas traves do gol; Em cada cordão, dois, três ou mais canos (tubos) que possam ser segurados pelas mãos dos alunos, os mesmos devem passar a bola para seus companheiros sem soltar a corda e se movimentar apenas lateralmente. O objetivo do jogo é marcar o gol na equipe adversária, passando a bola sem soltar o cano.
74
nÓ-humANO Faixa etária: acima de 7 anos. Local: espaço amplo. Estimular: Locomoção, espaço temporal e socialização. Número de participantes: 10 participantes (esse número pode ser adaptado ao tamanho do espaço disponível).
COMO BRINCAR Formar um círculo com todos os participantes de mãos dadas, o professor solta uma das mãos e a brincadeira começa, o grupo deve trafegar todo de mãos dadas passando por baixo dos braços dos próprios participantes. O grupo deve, conversando entre si, determinar quem passa por baixo de que braços e por cima de outros braços, até que o círculo fique completo. O objetivo é, sem soltar as mãos, voltar a ter um círculo no centro da sala.
75
BRIGA DE GALO Faixa etária: acima de 7 anos. Local: Quadra, pátio, sala de aula. Material: Alfinete e retalhos de tecido. Estimular: Cooperação, percepção espacial. Número de participantes: Não tem número mínimo de participantes, o ideal é que seja acima de 4 duplas. Garantir número par de participantes.
COMO BRINCAR Duas pessoas se colocam frente a frente e fecham os olhos. Enquanto isso, os demais participantes pregam com um alfinete um retalho de tecido colorido nas costas de cada um. Os competidores abrem os olhos e o jogo começa. Sem usar as mãos, uma criança deve descobrir a cor do pano colocado nas costas da outra. Ganha quem acertar primeiro.
76
Queimada Faixa etária: acima de 6 anos. Local: Praia, pátio, quadra. Material: Bola macia e giz para demarcar a quadra. Estimular: Agilidade, velocidade, mira, atenção e cooperação. Número de participantes: 06 participantes em cada time. COMO BRINCAR Para o jogo básico, divida o espaço em dois campos do mesmo tamanho definindo os limites com um giz. Divida os participantes em dois times. O jogo começa quando um lançador atira a bola em direção a um dos jogadores do time adversário, se este for atingido pela bola, estará fora do jogo. Se alguém do time adversário conseguir segurar a bola, sem deixá-la cair no chão, quem sai do jogo é o lançador. Se a bola bater no chão antes de atingir alguém, a posse de bola passa automaticamente para o time adversário, que poderá atacar. Se algum jogador ultrapassar os limites do campo tentando fugir da bola, será eliminado. Para ninguém ficar de fora, pode-se fazer uma prisão. Quem for eliminado ficará atrás do limite do campo adversário e poderá atacar. Se atingir alguém do outro time, o mesmo voltará para a equipe inicial. O jogo ficará mais cooperativo se atrás de cada jogador houver uma lata. O participante só é queimado se a lata for derrubada por um adversário, sendo que as latas podem ser defendidas com os pés por qualquer um dos jogadores. Nesse caso, o jogo ficará ainda mais divertido ainda se houver mais de uma bola em campo.
77
PEGA-BANDEIRA Faixa etária: acima de 8 anos. Local: Pátio, quadra, condomínio. Material: Panos de duas cores diferentes ou duas bolas. Estimular: Estratégia, agilidade e socialização. Número de participantes: 08 participantes de cada time (precisa de 2 times) COMO BRINCAR Os participantes são divididos em dois times. Divida o espaço em dois campos de tamanhos iguais – quanto mais comprido e estreito o campo, mais difícil fica o jogo. Cada time deve colocar a bandeira – que pode ser um pedaço de pano ou lençol – no local que considerar mais difícil e distante dentro do seu campo. O objetivo do jogo é atravessar o campo adversário e capturar a bandeira sem ser pego. Quem for pego deve ficar parado, congelado, no território oposto. O participante poderá ser libertado por alguém de sua equipe que conseguir tocá-lo sem ser pego pelo adversário.
Dicas: experimente espalhar várias bandeiras nos campos adversários, ou faça a brincadeira em um espaço bem grande sem delimitar os territórios.
78
Pega-pega Faixa etária: Acima de 4 anos. Local: Praia, quintal, quadra de esportes, condomínio. Estimular: Velocidade, coordenação motora, agilidade e atenção. Número de participantes: Acima de 4 participantes.
COMO BRINCAR O jogo começa elegendo um dos participantes como o pegador. Este, dado um sinal, passa a perseguir os outros jogadores. Quem for alcançado primeiro passa a ser o novo pegador. Por sua simplicidade, não há limites para criar regras para este jogo. Pode haver mais de um pegador ou os participantes podem correr de costas, por exemplo. Na versão ‘agachado’, quem estiver de cócoras fica a salvo, mas não pode permanecer nessa posição por mais de 5 segundos, e o pegador não pode ficar muito próximo ao perseguido no momento de ele levantar. Já no pique-pega, os participantes escolhem um lugar para o pique, pode ser uma árvore, uma trave da quadra. O jogador que tocar o pique durante a perseguição não poderá ser pego, mas, assim como no ‘agachado’, não pode ficar por ali por muito tempo. Da mesma forma, pode haver vários piques.
79
Duro ou mole Faixa etária: Acima de 5 anos. Local: Praia, parque, condomínio. Estimular: Cooperação, velocidade, condicionamento físico, socialização e expressão corporal. Número de participantes: Acima de 5 participantes. COMO BRINCAR O grupo elege um dos participantes para ser o ‘pegador’ enquanto as outras crianças fugirão. Ao tocar em alguém, o pegador deve dizer: ‘duro!’ – o jogador ficará paralisado e só voltará a correr se qualquer outro fugitivo tocá-lo dizendo: ‘mole!’.
Dica: para aumentar a dificuldade do jogo, determine que apenas dois fugitivos terão o ‘poder’ de liberar as outras crianças. Ou sugira que quem for pego vai começar a se abaixar lentamente, como se estivesse ‘derretendo’, devendo ser salvo por um dos colegas fugitivos antes de chegar ao chão.
80
Pega-rabo Faixa etária: Acima de 6 anos. Local: Praia, parque e condomínio. Material: fitas de papel crepom ou cetim e tesoura. Estimular: Agilidade, cooperação, condicionamento físico e velocidade. Número de participantes: Acima de 5 participantes. COMO BRINCAR Divida os participantes em duas equipes – ou mais, dependendo do número de participantes – e distribua, para cada uma, pedaços de pano ou fitas de cores diferentes, identificando cada time. Os jogadores devem prender a fita no cós da calça ou bermuda, como se fosse um rabo. Neste jogo de pega-pega, as crianças correm umas atrás das outras e tentam pegar o maior número de ‘rabos’ da equipe adversária. Quem ficar sem rabo espera a brincadeira acabar. Dica: determine um tempo para a caçada, como dois ou três minutos.
Dica: determine um tempo para a caçada, como dois ou três minutos.
81
Pular corda
Local: Calçada, quintal, parque, condomínio, praça. Material: Cordas. Estimular: Agilidade, condicionamento físico, cooperação, memória, sequência, lateralidade e socialização. Número de participantes: Acima de 3 participantes.
82
COMO BRINCAR No jogo básico, dois participantes seguram cada um uma ponta da corda, batendo-a em círculo e de forma ritmada, enquanto o terceiro integrante pula assim que ela tocar o chão. Para deixar o jogo mais divertido, tanto o ritmo das batidas quanto os pulos podem variar. Quanto maior o número de jogadores e mais rápido o ritmo, mais difícil fica, ainda mais se os pulos forem coreografados por cantigas como esta: Um homem bateu em minha porta E eu abri. Senhoras e senhores, ponham a mão no chão (o jogador pula e rapidamente abaixa e toca o chão) Senhora e senhores, pulem num pé só (o jogador pula com um só pé) Senhoras e senhores, deem uma rodadinha (o jogador pula e roda) E vá pro olho da rua! (o jogador sai debaixo da corda)
Dica: : para os mais experientes é possível usar duas cordas, sendo que a que ficar na mão esquerda bate-se no sentido horário e, a da mão direita, no sentido anti-horário. Para crianças menores, a corda pode ser usada em jogos mais simples, como ‘Cobrinha’ (os batedores encostam a corda no chão e a movimentam rapidamente da direita para a esquerda, enquanto o pulador atravessa de um lado para o outro sem tocar a corda) ou ‘Reloginho’ (um batedor fica no centro girando a corda, que ficará um pouco estendida no chão, enquanto os puladores, que ficam em volta do batedor em círculo, saltam assim que a corda se aproxima para não serem atingidos).
83
Escravo de Jô Faixa etária: Acima de 3 anos. Local: Praça, parque, salão de festas, em casa, condomínio e quadra. Material: Pedrinhas ou saquinhos com areia. Estimular: Atenção, concentração, cooperação, coordenação motora, linguagem, memória e ritmo. Número de participantes: Acima de 6 participantes.
COMO BRINCAR Os jogadores sentam em círculo, cada um com uma pedrinha ou outro objeto pequeno, que será passado de um integrante para o outro em uma coreografia de vai e vem seguindo o ritmo da música “Escravos de Jó”: Escravos de Jó jogavam caxangá (os jogadores vão passando as pedras um para o outro do lado direito, de forma que cada jogador fique sempre com uma pedrinha só) Tira, (cada um levanta a pedra que está em suas mãos) põe, (colocam a pedra de novo no chão) deixa ficar (apontam com o dedo para a pedra no chão) Guerreiros com guerreiros (voltam a passar a pedra para a direita) fazem zigue, (colocam a pedra na frente do jogador à direita, mas não soltam) zigue, (colocam a pedra à frente do jogador à esquerda, mas não soltam) zá (colocam a pedra à frente do jogador à direita novamente)
Dica: faça a mesma coreografia com os participantes em pé; no lugar da pedra, eles devem usar os próprios pés. Use duas pedrinhas em vez de uma. Para familiarizar a criança com os conceitos de dar e receber, sugira o uso do brinquedo favorito de cada um no lugar das pedras.
84
MODALIDADES ADAPTADAS Jogos adaptados são todos os jogos, esportes e atividades que tiveram suas estruturas e regras modificadas para incluir e interagir da melhor forma possível todas as crianças, para além de contribuir com o desenvolvimento das competências esportivas, já que as técnicas são aprendidas em suas partes e que farão sentido na prática da modalidade oficial. Ex.: Diminuir um tamanho de um campo ou quadra, trocar uma bola pesada por uma mais leve, ou dura por uma mais macia, aumentar ou diminuir o número de integrantes de um time para facilitar a partida/jogo.
85
Futebol sentado Material: bola, espaço amplo, onde seja possível sentar (por ex: cancha). Formação: os jogadores divididos em dois times, com o mesmo número de integrantes, sentados no chão, a uma distância de dois metros uns dos outros. Desenvolvimento: marcar um retângulo no chão, indicando os limites da “cancha”. A bola será colocada no centro e poderá ser impulsionada com qualquer parte do corpo, exceto mãos e braços. Ninguém poderá levantar-se. As mãos (ou pelo menos uma delas) devem estar sempre apoiadas no piso. Quando a bola transpuser a linha de fundo do campo de jogo, é marcado um gol. No futebol sentado não existe goleiro. A superfície do retângulo será variada, de acordo com a quantidade de jogadores e tendo em conta que estes se coloquem a uma distância tal que não se toquem entre si. Finalização: ganha o time que fizer mais gols. Estimular: equilíbrio, adequação espaço-temporal (estimativa do chute ao alvo), controle tônico, coordenação motora. Número de participantes: 4 participantes em cada time. Pelo menos 2 times.
86
Nunca três Material: apito Formação: os participantes formam duplas sentadas espalhadas pela quadra. Desenvolvimento: haverá um pegador e um fugitivo, que sairá correndo ao som do apito. O fugitivo deve escapar e segurar a mão de um dos integrantes das duplas formadas, partindo disso, aquele que estiver do outro lado deve soltar a mão do trio que foi formado e passará a ser o fugitivo, assim sucessivamente. Estimular: adequação ao espaço temporal, trabalhar em equipe, agilidade e força. Número de participantes: Mínimo de 5 participantes.
87
Vôlei com bolinha de
papel ou bexiga de água Material: bolinha de papel ou bexiga com água, giz. Desenvolvimento: Demarcar a quadra com giz reduzindo o espaço, dividir a turma em duas equipes, todos os participantes deverão utilizar a bola de papel ou a bexiga com água, considerando as regras do vôlei. Finalização: ganha o time que tiver mais pontos. Estimular: equilíbrio, adequação espaço-temporal, controle tônico, coordenação motora, noção de força e textura. Número de participantes: mínimo de 4 participantes.
88
Volençol Material: Lençol, bola ou bexiga com água. Formação: 4 pessoas em cada time, pelo menos 2 times. Desenvolvimento: volençol é uma prática de vôlei jogado com um lençol em que quatro pessoas seguram nas pontas do lençol, o professor centraliza uma bola ou uma bexiga cheia com água no centro, e os participantes devem lança-la de um lado para o outro, sem deixar que a mesma caia no chão.
Caranguejo-bol Faixa etária: acima de 7 anos. Material: bola (qualquer tipo de bola). Local: quadra. Número de participantes: 06 participantes em cada time. Desenvolvimento: Regras do futebol comum. É um futebol adaptado. Todos deitados em decúbito dorsal (barriga para cima) se movimentarão sem poder tocar o bumbum no chão. O objetivo é chutar e fazer gols como no jogo normal.
89
Rede humana (Voleibol Adaptado – Passes: manchete e toque)
Material: Bolas de voleibol. Formação: Separe a turma em três grupos iguais, sendo que dois deles participam do jogo, tendo o 3º grupo entre eles com os braços estendidos acima da cabeça, como se fosse a rede de voleibol. Desenvolvimento: Os dois grupos que se confrontam passam a bola através de manchete ou toque por cima da rede humana até que a bola seja interceptada por algum componente da rede. O grupo que perde a posse da bola passa à função de rede humana e assim sucessivamente. Pode-se contar um ponto para o grupo toda vez que ele ganhar a posse de bola e aquele que somar mais pontos será o vencedor. Número de participantes: mínimo 15 participantes. Socialização da atividade: O professor incentiva os estudantes a se expressarem e registrarem em seu caderno os sentimentos em relação ao jogo coletivo, a sua respiração, aos seus batimentos cardíacos, à solidariedade e à cooperação para com os colegas, às facilidades e às dificuldades encontradas na atividade proposta.
90
Faça uma abordagem das recriações sociais do jogo para possibilitar a participação de muitos, para poder jogar em lugares diversos e para tornar o jogo mais emocionante!
91
Referências BENTO J.O. Desporto para crianças e jovens: Das causas e dos fins. In GAYA A., MARQUES A., TANI G. (Org.) Desporto para crianças e jovens: Razões e finalidades. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. 126p. CHERNUSHENKO, D. (2001), Sustainable Sport Management: Running an Environmentally, Socially and Economically Responsible Organization, PNUMA. GRECO, P.J.; BENDA, R.N.; RIBAS, J. Estrutura temporal. In: GRECO, P.J.; BENDA, R.N. Iniciação esportiva universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: UFMG, v1, 1998. KREBS, R. J. et al. Disposições pessoais de tenistas jovens: um estudo fundamentado na teoria bioecológica de Bronfenbrenner. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 1-24, 2008. KONZAG, G.; KONZAG, I. Anforderungen an die Kognitiven Funktionen in der psychischen Regulation sportlicher Spielhandlungen. Theorie und Praxis der Körperkultur, v.29, n.1, p.20-30, 1981. Lei 8069 de 13 de julho de 1990 que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente. Estatuto da Criança - Lei nº 12.010 - 12.962, de 8.4.2014 - Lei 8.069 MACHADO, A. A. Psicologia do Esporte – Da Educação Física escolar ao esporte de alto rendimento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. MARQUES, A. Fazer da competição dos mais jovens um modelo de formação e de educação. In Gaya, A., Marques, A., Tani, G. (Ed.). Desporto para crianças e jovens: razões e finalidades. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul Editora. PORTAL ODM. Acompanhamento Brasileiro dos objetivos de desenvolvimento do milênio. Disponível em: <http://www.portalodm.com.br/> Acesso em: 23 Jul 2014.
92
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. LEI Nº 9.615, DE 24 DE MARÇO DE 1998. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l9615compilada.htm> Acesso em 23 Jul 2014. REDE BRASIL VOLUNTÁRIO. O voluntariado e os objetivos da ONU. Disponível em: <www.objetivosdomilenio. org.br/> Acesso em: 23 Jul 2014. REVERDITO, R. S.; SCAGLIA, A. J.; SILVA, S. A. D. da; GOMES, T. M. R.; PESUTO, C. de L.; BACCARELLI, W. Competições Escolares: Reflexão e Ação em Pedagogia do Esporte para Fazer a Diferença na Escola. Pensar a Prática, 11/1: 37-45, jan./jul. 2008. SCAGLIA, A. J.; MONTAGNER, P. C.;SOUZA, A. J. Pedagogia da competição em esportes: da teoria à busca de uma proposta prática escolar. Motus Corporis, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 20-30, 2001. SANCHES NETO, L. Educação física escolar: uma proposta para o componente curricular da 5a. à 8a. série do ensino fundamental. 2003, 189f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) - Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2003. SANTANA, Wilton Carlos de. Iniciação esportiva e algumas evidências de complexidade. In: SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS DO SUL DO BRASIL, 14. 2002, Ponta Grossa. Anais... Ponta Grossa: Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2002. p. 176-180. SCARPATO, Marta (org.). Educação Física: como planejar as aulas na educação básica. São Paulo: Avercamp, 2007. SOARES, C. L. Educação física escolar: conhecimento e especificidade. Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, supl.2, p.6-12, 1996. SOARES, F. C.; MONTAGNER, P. C. A Competição Esportiva Escolar como Componente Pedagógico a Ser Refletida e Aplicada nas Aulas de Educação Física, Motriz, Rio Claro, v.15, n.2 (Supl.1), p.S1-S456, abr./jun. 2009. UNESCO, MEC, Editora Cortez, São Paulo, 1997 – 2ª. Edição 1999 UNICEF. The State of the World’s Children: Child Participation, 2003
93
Créditos Visão Mundial Brasil Diretor Nacional: João Helder Diniz Diretor de Operações: Jeremias Ochoa Diretora de Mobilização e Políticas Públicas: Maria Carolina Silva Assessora de Educação: Andrea Freire Coordenação Geral do Projeto Esportes para a Vida: Raniere Pontes Coordenação Pedagógica: Andrea Freire e Raniere Pontes Coordenação Técnica Especializada: Prof. Msc PhD Marcos Nunes1 Redação e Sistematização: Prof. Msc PhD. Doutor Marcos Nunes, Andrea Freire, Caio Cuadrado, Dyane Silva, Raniere Pontes. Revisão: Andrea Freire e Raniere Pontes Educadores da Unidade Jefferson: Caio Cuadrado, Dyane Silva, Inara Ribeiro e Raphael Santos Projeto Gráfico e Ilustração: Erick Vasconcelos 1 Doutor em Educação, Mestre em Educação, graduado em Educação Física. Professor da UFRPE. Áreas de pesquisa em Educação Física, Lazer, Prática Pedagógica, História da Educação e Gestão Esportiva.
94
95
É terminantemente proibida a cópia total ou parcial do conteúdo deste material.