Requalificação do Setor Comercial Sul

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Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Departamento de Projeto, Expressão e Representação Trabalho Final de Graduação Caderno de Projeto 1º | 2015

Gabriel Ernesto Moura Solórzano | 09.94979 ernestgabriel@gmail.com | 61 9292 9722

Orientador: Bruno Capanema Banca Examinadora: Carolina Pestacori | Eduardo Rossetti Professor Convidado: Luiz Alberto de Campos Gouvêa Arquiteto Convidado: Eder Alencar



sumário

Introdução

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Análise

8

Setor Comercial Sul

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O que acontece?

14

Intervenção?

16

Análise Sequencial

20

Referências

24

Projeto

30

Diretrizes

32

Praça dos Artistas

40

Praça das Artes

48

Subsolo

56

Praça do Povo

64

Boulevard

70

Conexões

76

Bibliografia

85

Agradecimentos

87



pára tudo!

Opa! Bom dia, pessoa feliz. Tudo bem com você? Você está prestes a experimentar um pouquinho da experiência que foi conceber esse grande acontecimento da vida de um estudante de arquitetura, seu projeto de diplomação. Escolhi trabalhar com intervenções em espaço público porque acho que assim é possível trabalhar de uma forma mais próxima das pessoas, tentar inverter aquela relação quase divina que o arquiteto e urbanista tem com seu projeto. Eu acho que às vezes nos esquecemos para quem nós estamos projetando. Estranho isso né? De qualquer forma, como eu acredito que o tema traz um certo tom de descontração achei que seria bem legal traduzir isso no texto e na linguagem do trabalho. Não quis fazer aquela coisa séria com palavras difíceis para explicar como foi muito preciso e simples fazer tudo isso. A verdade é que todo o processo é muito prazeroso, desde a análise, passando pelos primeiros riscos e a chegada ao resultado final, ao mesmo tempo que é uma agonia sem fim, não é verdade? Eu mesmo estou arrancando os cabelos enquanto escrevo isso aqui, mas pode ter certeza que assim que tirar uma soneca estarei bem e contente, isso se o Bruno Capanema permitir. Hohohou Eu acredito que esse projeto é uma síntese, não apenas do que aprendi nesses últimos anos como aluno de arquitetura e urbanismo, como também um reflexo das nossas experiências e crenças. Por isso eu não podia ser demasiado formal. Eu não faço muito o tipo, sabe? De qualquer forma me justifico para que não haja nenhum susto ou julgamento com a linguagem abordada, afinal de contas acho que uma das decisões mais importantes ao iniciar um projeto que você desenvolverá durante um ano é identificação com ele. Por isso estou buscando me expressar de acordo. Espero que você se divirta tanto quanto eu. Não que isso aqui seja um trabalho de humor. Na verdade talvez você, leitor, ache isso tudo uma chatice, mas eu espero mesmo que você se identifique pelo menos um pouquinho com alguma coisa que eu disser aqui. Se isso acontecer posso me dar por satisfeito, porque o grande objetivo aqui é que as pessoas se identifiquem com a proposta. Só espero conseguir e não me perder nesse caminho. Tendo me justificado espero que você aproveite e seja muito feliz.

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introdução Há algum tempo tenho me interessado muito com um tipo particular de trabalho de arquitetura, a arquitetura efêmera. Efêmera não no sentido de ser momentânea ou breve, mas no sentido de compreender o momento psicológico das pessoas, e propor uma solução para um determinado problema. O que eu quero dizer com isso? Nenhum espaço urbano é perfeito. Algumas vezes estamos em áreas muito urbanizadas ou em espaços tão amplos e vazios que não podemos nem mesmo compreende-los. É claro que para tudo, ou quase tudo, aquilo que é construído há uma intenção. Entretanto, às vezes as pessoas ocupam um local de uma forma inesperada. A partir dai surgem novas necessidades, novas demandas. Em muitos casos tal fenômeno ocorre pelo fato do projeto esquecer-se do mais importante: o usuário. Sim, por incrível que pareça inúmeros projetos preocupam-se mais em satisfazer o programa de necessidades do que entender como as pessoas se relacionam com um determinado espaço ou edifício. Temos que lembrar que, antes de tudo, a cidade é feita para as pessoas. Simples assim. Não é nenhuma fórmula mirabolante, não é verdade? Meus olhos se abriram para o assunto quando fui apresentado a um coletivo italiano chamado ESTERNI. O grupo, sediado em Milão, ao perceber que as pessoas da cidade não ocupavam a rua, passou a realizar projetos que tinham como objetivo trazer as pessoas para fora de casa e ocupar os espaços urbanos. Esse trabalho me emocionou muito e passei a pesquisar mais grupos que faziam trabalhos semelhantes. Existem inúmeras motivações para que esse tipo de trabalho ocorra, mas o resultado é sempre divertido e inusitado. Foi esse carisma que me cativou e me motivou a propor um espaço que sirva às pessoas. Um espaço de qualidade e democrático. Dessa forma surge uma idéia. A proposta é de intervir na cidade de forma pontual e experimental, possibilitando a criação de novas conexões e o surgimento de redes entre espaço e pessoas. A cidade é dinâmica, as pessoas são dinâmicas, por isso temos que dar a elas espaços onde elas possam se expressar, ou seja, habitar. Uma pessoa não habita um local porque é obrigada, ela o faz quando tem prazer. Do contrário ela não está habitando, mas apenas ocupando. Veja que há uma sutil diferença entre essas duas palavras. Um exemplo que pode ilustrar o meu ponto de vista é o Setor Comercial Sul, em Brasília. Durante o horário comercial é um local cheio de vida, com pessoas de todas as

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classes, de todos os lugares. Em alguns momentos tem-se a impressão de sair daquela imensidão e amplitude que é Brasília e imergir em um espaço quase claustrofóbico, cheio de caos. Ali não é um lugar onde as pessoas querem estar. Praticamente todos que estão ali tem alguma obrigação, seja trabalho ou algum serviço. Dessa forma, ao badalar das 18h ocorre um êxodo e todos fogem dali da forma que podem, metrô, ônibus ou carro, deixando a região abandonada para aqueles que esperam o dia inteiro para exercer suas atividades longe dos olhos curiosos, também chamados por alguns de “pessoas que querem fazer o mau”. Na minha humilde opinião o local fica tão assustador que nem quem quer fazer o mau quer passar por ali. Prefere-se fazer o malfeito em outra parte. Áreas como essa são famosas principalmente pela violência e atividades ilícitas. Mas porque esse tipo de atividade se manifesta? Essa insegurança parte, principalmente porque faltam olhos às ruas. Não tem quem observe, quem ajude, que cuide. O que sobra é uma coisa de ninguém. Largada e deixada de lado. Não sejamos iludidos ao achar que isso só acontece no centro de Brasília. Acontece em outros bairros, outras cidades, outros estados e em outros países. Isso é um fenômeno completamente comum. Não é o policiamento que dá segurança às pessoas. São as pessoas que passam essa sensação a elas mesmas. Escolhi trabalhar com essa área por ser muito central, próxima de algumas das principais vias como o Eixão, o Eixo Monumental, da W3 e de pontos estratégicos como a parada de metrô da Galeria dos Estados e também da Rodoviária e do Conic. A verdade é que toda a zona central merece uma atenção especial, mas por enquanto vamos focar só no Setor Comercial Sul. O setor também é chama a atenção pelo seu projeto de urbanismo, é interessante entender como essa área se degradou com o tempo. Mas o que mais me deixa curioso são as contradições do local. É um lugar onde vão ricos, pobres, patrão e empregado. Que é cheia de vida e em um piscar de olhos está abandonada. Tendo consciência desse fenômeno decidi por tentar reverter essa situação. Não apenas para popular o local no horário pós expediente, mas também para torna-lo agradável para aqueles que convivem ali diariamente. A intenção é revitalizar e requalificar esse espaço, tornando-o mais atrativo principalmente para as pessoas. Acredito que o projeto deva ser sintetizado a partir de tática ditas bottom up, de baixo para cima, onde o olhar do observador é mais importante do que a visão em planta baixa do arquiteto. Para esse tipo de projeto é necessário envolver-se e entender o que acontece no local. Não se pode impor um projeto, ele deve ser democrático e englobar o máximo de interesses possível.

O importante não é satisfazer um programa, ou oferecer um determinado serviço, o importante é trazer as pessoas para a rua, não porque elas devam faze-lo, mas porque elas queiram. A atividade deve ser ativa por parte do usuário, do contrário volta a ser uma obrigação. Pensei em fazer isso de diversas formas, seja com instalações temporárias como também com a criação de um centro de entretenimento, mas esses são aspectos que serão melhor resolvidos a partir de um estudo mais aprofundado do local. Esse tipo de projeto não pode ser pensado para qualquer lugar, principalmente porque ele é feito para as pessoas. Por acaso, tem algum lugar em Brasília com mais gente do que o Setor Comercial? Consigo me lembrar de poucos que sejam tão interessantes. Acho que vai ser um grande desafio trabalhar com essa área, mas acho que o tema se aplica como uma luva, além da necessidade de trazer não apenas os pontos a serem debatidos, mas também possíveis soluções.


esterni Esterni é uma empresa cultural, sediada em Milão, que projeta espaços públicos, serviços para a comunidade, realiza eventos que reúnem as pessoas e desenvolve campanhas de comunicação participativa. Seus projetos bem humorados tem como objetivo chamar as pessoas para a rua, para que não fiquem trancadas em casa e aproveitem o espaço público. Assim, o grupo procura qualificar espaços públicos para que sejam mais atrativos às pessoas. O grupo projeta, principalmente, mobiliário urbano e promove eventos onde seus projetos são destaque e meio de interação entre aqueles que ocupam o espaço. O projeto a seguir chama-se Panchina Circolare, ou Banco circular. É um banco que busca colocar as pessoas de frente umas às outras e incentivar um diálogo e aproximação entre elas.

Esterni Panchina Circolare, Milão

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A NÁ LI SE


SE TOR CO MER CIAL SUL

“Lateralmente a esse setor central de diversões, e articulados a ele, encontram-se dois grandes núcleos destinados exclusivamente ao comércio — lojas e “magazins”, e dois setores distintos, o bancário-comercial, e o dos escritórios para profissões liberais, representações e empresas, onde foram localizados, respectivamente, o Banco do Brasil e a sede dos Correios e Telégrafos. Estes núcleos e setores são acessíveis aos automóveis diretamente das respectivas pistas, e aos pedestres por calçadas sem cruzamento (figura abaixo), e dispõem de auto-portos para estacionamento em dois níveis, e de acesso de serviço pelo subsolo correspondente ao piso inferior da plataforma central. No setor dos bancos, tal como no dos escritórios, previram-se três blocos altos e quatro de menor altura, ligados entre si por extensa ala térrea com sobreloja de modo a permitir intercomunicação coberta e amplo espaço para instalação de agências bancárias, agências de empresas, cafés, restaurantes, etc. Em cada núcleo comercial, propõe-se uma seqüência ordenada de blocos baixos e alongados e um maior, de igual altura dos anteriores, todos interligados por um amplo corpo térreo com lojas, sobrelojas e galerias. Dois braços elevados da pista de contorno permitem, também aqui, acesso franco aos pedestres.”

O setor comercial sul (SCS) foi inicialmente citado por Lucio Costa no relatório do Plano Piloto de Brasília. Ele pertence ao conjunto da região central e deve integrar-se às demais atividades exercidas na zona. O local é marcado por uma forte centralidade dentro da malha urbana do plano piloto, não apenas pela proximidade da plataforma rodoviária, o centro declarado da cidade, mas por possuir algumas características de regiões centrais como a alta densidade de pessoas e serviços. A setorização é uma característica clara na zona, não apenas pelo seu relativo isolamento no contexto da cidade, como também a divisão que ocorre entre as quadras que compõem o setor. Temos, então, duas divisões claras no Setor Comercial Sul, a primeira chamarei de macro parcela. Essa ocorre principalmente por duas razões: as vias que delimitam essa parcela no contexto urbano, isolando-o do principal fluxo de carros e a barreira visual criada por seus edifícios. Essas características fazem com que as atividades dentro desse setor se voltem para elas mesmas. Há uma forte atração para o centro do conjunto, marcado principalmente pelo eixo de circulação de pedestres. Dessa forma, observa-se claramente que as atividades giram em torno desse eixo e, a medida que nos afastamos desse centro, as atividades vão se tornando menos movimentadas. A morfologia do Setor é determinante para a ocorrência desse fenômeno. Os traços da arquitetura modernista desmontam a rua corredor caracterizada pelo quarteirão. Ali esses quarteirões são apresentados como quadras, porém, principalmente pela forma da parcela urbana a circulação ocorre de forma perpendicular às ruas dos automóveis, criando assim um fluxo independente para os pedestres. As galerias dos edifícios são essenciais para a ocorrência desse fenômeno, entretanto há um claro abandono e falta de infra-estrutura na região. Fato tão claro que foi objeto de um projeto da SEDHAB, que está sendo executado para melhorar a acessibilidade e conforto para os usuários do Setor. O principal objeto de estudo desse trabalho é a relação entre cheios e vazios do SCS, buscarei traçar um paralelo entre as áreas públicas e a vivência no local, para, assim, sintetizar essas informações em diretrizes projetuais. A ideia é entender porque muitas vezes esses espaços não são utilizados pelos usuários e analisar as estratégias desses para ocupar os espaços públicos. Entender o micro-planejamento e a solução que cada usuário dá a uma determinada situação. Esse é o principal objetivo do trabalho, entender as necessidades dos usuários, suas demandas.


Setor Comercial Sul Google Earth

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O QUE A CON TE CE?

O Setor Comercial Sul é dividido em 6 quadras. A primeira é marcada por altos edifícios comerciais com pórticos que marcam a entrada para acesso dos pedestres. O espaço entre os edifícios é caracterizado, principalmente por estacionamentos, especialmente na parte virada para a galeria dos estados, entretanto, há alguns pontos que chamam a atenção. 1: Plataforma de ligação entre a Galeria dos Estados/ Metrô com o início do setor comercial. 2: O espaço central entre o maior conjunto de edifícios. 1: A plataforma, marcada pela cobertura da torre de elevadores tem importância como marco no local. Podemos dizer que ela determina um ponto de partida e chegada para aqueles que entram ou saem do SCS. Passam por ali as pessoas que se relacionam com o Metrô, ônibus e algumas provenientes da rodoviária, além daqueles que vêm do Setor Bancário Sul através da Galeria dos Estados. Esse marco catalisa o movimento e transporta o usuário para o fluxo principal dos pedestres. Inconscientemente as pessoas são guiadas para essa grande via que corta o SCS. 2: Após passar pela marquise dos edifícios Camargo Corrêa e Morro Vermelho, ambos marcos visuais, que mais uma vez reforçam esse caminho a ser seguido, o usuário entra em um amplo espaço vazio que não se espera naquela área. É uma área muito bem arborizada, com amplo espaço de circulação e extremamente agradável. É como um momento de respiro em uma selva de pedra. Em seguida, nos deparamos com uma via de automóveis e nos encontramos com uma relação de espaço que se repete em quase todo o SCS. As quadras 2, 3, 4 e 6 possuem uma tipologia de edifícios entre 3 e 6 pavimentos, com galerias inferiores que permitem o acesso e passagem na parte central do conjunto. Mais uma vez esse forte corredor é marcado. Obviamente, em função da alta circulação de usuários, ali se postam inúmeros ambulantes. O espaço é propício pela sua amplitude e sombreamento. Esses espaços vazios se diferem um pouco das praças formadas pelos intervalos dos edifícios, principalmente porque não se caracteriza como um local de permanência facultativa, mas apenas como passagem. Há, nesses espaços um enorme potencial inexplorado, porém essas áreas são abandonadas e não recebem nenhum tipo de manutenção. Por isso as pessoas não querem ficar ali. A zona carece de um espaço de permanência facultativa. Um ponto de destaque das quadras citadas é a Praça do Povo, que apesar de estar fora do eixo central, é um ponto de intensa circulação de pessoas. Isso se deve pela existência de um grande bolsão de estacionamento, a existência de dois pontos de ônibus e a conexão com o Hospital de Base, além de dois quiosques. A praça não é nada atrativa e é um dos espaços mais abandonados do SCS, porém, é um dos poucos que não está cercado por edifícios, e por isso oferece um sentimento de bem estar.

A quadra 5 é a mais pitoresca e o principal objeto de estudo do trabalho. A tipologia não é como a do resto do setor. Os edifícios são baixos, com sobreloja e porticado que oferece sombra aos usuários. O baixo gabarito dos edifícios gera, também, uma boa sensação aos usuários que se sentem mais acolhidos frente ao caráter quase monumental de edifícios mais altos. Há mais espaços vazios entre os edifícios, permitindo maior circulação de pessoas, entretanto não é o que ocorre. Apesar de haver uma falsa impressão de que as pessoas estão mais livres do grande fluxo central, elas não costumam sair do mesmo. São poucos daqueles que ousam a se aventurar por fora da trilha de formigas. Os espaços mais interessantes nessa quadra são suas duas grandes praças, as mais importantes de todo o SCS, a Praça dos Artistas e a Praça do Posto Policial. Ao observar os locais surgem uma série de questionamentos que nunca se poderia esperar daquelas áreas. 1: Praça do Posto Policial Esse é, sem dúvida o espaço mais interessante e ao mesmo tempo mais marginalizado de todo o SCS. Ao mesmo tempo que ela emana uma grande centralidade e oferece um espaço de qualidade, é a praça que, referente ao seu tamanho e fluxo, menos recebe pessoas. Se você passar por ali a qualquer momento do dia vai ver sempre um grupo de pessoas, mas não podemos nos deixar enganar. A maioria das pessoas que permanece ali está ligada a algum tipo de serviço. Não é uma permanência facultativa. Elas estão ali, seja para comer, utilizar o posto de atendimento comunitário, ou o Posto Policial. Há um espaço de grande qualidade, onde as pessoas podem sentar-se. Entretanto, por não ficar marginal à trilha de formigas não é muito frequentado, além disso o Posto Policial e a tenda do atendimento comunitário funcionam como barreiras visuais, tornando o espaço inóspito. Dessa forma as pessoas preferem sentar-se no meio fio ao ocupar os bancos da plataforma. 2: Praça dos Artistas Na praça dos artistas acontece um fenômeno similar. Apesar de haver um espaço de qualidade para ocupação, os usuários preferem deslocar-se para o canteiro que fica mais próximo ao fluxo de pedestres. Eles sentam nas muretas do canteiro, mas não se deslocam para a parte principal da praça. Isso se deve principalmente pela barreira visual que o canteiro proporciona aos usuários. Eles não tem interesse em frequentar aquela área, por mais que esteja a apenas alguns metros de distância. Além disso o comércio informal influencia muito na ocupação do espaço, as pessoas se aglomeram principalmente ao redor dos ambulantes. Outro espaço a ser considerado é o vazio entre a quadra 6 e a via W3 sul, entretanto não iremos focar nessa zona por ter um caráter um pouco mais particular, já que há uma forte relação com o Shopping, a Via W3 e a parada de ônibus. Apesar da W3 poder ser considerada como o ponto final da trilha que se inicia na Galeria dos Estados,


Quadra 6

Quadra 5

Quadra 4

Quadra 3

Quadra 2

Quadra 1

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A direita: Plastique Fantastique Sinestesia - IED Madri, Madri, 2013

IN TER VEN ÇÃO?

Inicialmente o termo Intervenção Urbana era ligado à uma manifestação artística em espaço público. Geralmente essas intervenções visuais estão ligadas a uma crítica, seja do espaço ou qualquer outro tema. Em torno desse objeto artístico há uma discussão temática, mas principalmente algo que seja ligado à percepção do próprio objeto. A intervenção usa a arte como meio para questionar e transformar a vida urbana cotidiana. Os sujeitos são ativos e criadores e a realidade passa a ser produzida e não reproduzida. No Brasil as intervenções surgem no final dos anos 70, principalmente no cenário paulistano. Alguns grupos como 3nós3, Viajou sem passaporte e Magna Rosa buscavam trazer a arte para fora das galerias, frequentadas por uma determinada classe social. Houveram alguns pioneiros como Flávio de Carvalho, Hélio Oticica, Paulo Bruscky e Cildo Meireles, que já experimentavam esse trabalho quando ainda não era muito popular. A partir da década de 90 as intervenções urbanas ganharam muita força, especialmente devido à atuação de coletivos artísticos que se formaram em diversas cidades do país. Atualmente as intervenções não se limitam a obras de arte, mas a quase qualquer tipo de manifestação em espaço público. Até mesmo o víeis crítico é ausente algumas vezes, ou seja a intervenção pode trabalhar de forma lúdica, para entreter ou até mesmo como forma de publicidade. De fato, atualmente é uma manifestação muito mais acessível e democrática. Vários movimentos independentes se expressam com intervenções, como o famoso Parking day que atenta às pessoas ao excessivo uso do carro como meio de transporte, mas principalmente ao espaço que dedicamos exclusivamente a eles em nossas cidades. Muitos arquitetos também se aventuram por esse universo, produzindo instalações ou propondo novos espaços, como o escritório Orizzontale, de Roma, que atualmente trabalha exclusivamente com intervenções em espaço público. Outra grande mudança é que o foco das deixou de ser exclusivamente áreas centrais das grandes cidades, e passou, muitas vezes, a preocupar-se mais com o usuário do que com uma grande questão política. Ela tem se tornado uma forma de expressão que se mantém próxima às pessoas, proporcionando, assim um reconhecimento por parte dos usuários.



espaços vazios

Antes de tudo, temos que esclarecer um conceito, o de espaços vazios. Não podemos confundi-lo com espaço residual. Começaremos pelo segundo. A cidade está cheia de espaços residuais. São espaços muitas vezes abandonados e esquecidos, não pelos usuários, mas são deixados de lado no momento de urbanização. Há ali, uma carência de planejamento e infra-estrutura, são espaços ociosos, que perderam sua identidade enquanto parte da cidade. Podemos dizer que ele é um não lugar, não habitado, fora do contexto da cidade. Alguns exemplos são terrenos baldios, lotes vagos ou becos. Enquanto isso os espaços vazios são espaços com potencial que podem ser ocupados de uma forma que melhore sua utilização e torne-se mais atrativo Não são necessariamente lugares mortos, mas mal aproveitados. São mais caracterizados por praças, vias e largos. Esses espaços são muitas vezes planejados para serem vazios, entretanto, não são bem aproveitados ou mesmo não funcionam como planejado, afinal de contas a demanda de serviços em um espaço depende, principalmente de seus usuários, não dos projetistas. No caso do Setor Comercial Sul os espaços vazios são as áreas entre os edifícios. Muitas delas proporcionam o convívio entre os usuários, outras possuem um grande potencial inexplorado, como as praças existentes no local. Os espaços residuais são, principalmente as galerias subterrâneas, que, abandonadas são ocupadas por usuários de drogas, tornando o ambiente inóspito e desinteressante. O exemplo a seguir é um projeto do grupo ESTERNI que ocupou um lote vago em Madri e instalou alguns equipamentos de utilidade pública. Atualmente a área é um marco no bairro e muito usado pelos moradores. Foi criada uma relação de identidade entre o local e seus usuários.

ESTERNI Esto es na plaza, Madri

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eo clima?

Brasília possui um clima tropical com estação seca. As chuvas costumam acontecer no verão e há uma considerável queda de temperatura no inverno. Apesar da área analisada ser predominantemente aberta o tempo não costuma ser uma condicionante muito presente, principalmente porque o destino das pessoas é o interior climatizados dos edifícios, assim, elas só se deparam com questões climáticas no caminho para o trabalho e às vezes não chegam nem a esse ponto, já que muitos usam veículos particulares e estacionam no subsolo dos edifícios. Esse tipo de reação ocorre principalmente por não haver espaços de qualidade para que os usuários se apropriem do espaço público, ou seja, eles apenas passam por esses espaços, já que ao menor sinal de condições climáticas adversas, eles tendem a procurar outro lugar para estar. As praças estão sob o sol a maior parte do tempo, porém a presença de vegetação ameniza seus fatores negativos. Entretanto, a sombra que essa vegetação proporciona não é suficiente, primeiro porque ela é escassa, não contempla as praças em sua totalidade, segundo que não há uma relação entre o espaço de permanência e as árvores, ou seja, ás vezes um banco está sob o sol, mesmo que a árvore proporcione sombra. É claro que isso não é uma regra. Na Praça do Povo e na Praça dos Artistas os usuários podem aproveitar a sobra das árvores. De fato as duas praças citadas possuem uma boa relação com sua vegetação, a situação crítica parece ser na Praça do Posto Policial. Outra relação que deve ser considerada é a do espaço com a chuva. Como em Brasília possuímos um período chuvoso não podemos permitir que uma área permaneça ociosa por tanto tempo, dessa forma há uma demanda imediata de espaços que permitam que os usuários possam permanecer de forma confortável e não se molharem. Existe, então a necessidade de criar um ambiente protegido da chuva ou então aproveitar as galerias como espaço de permanência. Elas são enormes espaços cobertos voltados exclusivamente para circulação, mas podem ser aproveitadas em períodos de chuva, por exemplo. Há também a necessidade de equipamentos que filtrem a passagem de luz, permitindo que ela seja mais agradável. Essas são algumas soluções que pretendo propor para a área.

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ANÁ LISE SE QUEN CIAL


1. Conexão - Perspectiva que possibilita visão à distância.

2. Estreitamento - Esteitamento da visão a partir de um obstáculo.

3. Alargamento - Aumento do campo de visão.

4. Estreitamento/ Alargamento Parcial Quando há um impedimento parcial da visão.

5. Enclaustramento - Quando o observador está cercado por obstáculos visuais, exceto verticalmente.

6 - Uma curva em perspectiva é o melhor exemplo desse efeito.

7. Realce - Quando há um elemento de destaque no campo de visão.

8. Visual Fechada - Quando há elementos que preenchem completamente o campo de visão.

9. Impedimento - Quando a vista é bruscamente interrompida e não é possível vê-la por completo.

10. Efeito em Y - Quando há uma bifurcação oferecendo duas possibilidades de vista.

11. Percepções para Estreitamento e Alargamento - Quando se percebe que à frente ocorrerá um destes efeitos.

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1ª Estação - Alargamento - Há uma grande

10ª Estação - Preparação para estreitamento -

amplitude de espaço na chegada pelo CONIC. A visão aberta permite visualizar as torres da quadra 1 do Setor Comercial e a plataforma que leva à Galeria dos Estados.

Repete-se o efeito descrito nas estações 7 e 9. O usuário prepara-se para atravessar a quadra 4.

2ª Estação - Realce - A torre de elevadores funciona como marco visual que indica o caminho a ser seguido e marca o principal eixo de circulação do Setor Comercial. Funciona quase como uma linha de largada para aqueles que devem atravessar a área. É um elemento que convida os usuários.

3ª Estação - Preparação para estreitamento - Ao sair do amplo espaço sob a plataforma, prepara-se para acessa-la. Há outras formas de subir, porém pela existência das escadas rolantes, as pessoas tendem a usar essa passagem.

4ª Estação - Alargamento - Após o estreitamento das escadas, há novamente a abertura do campo visual. Apesar da grande quantidade de edifícios o espaço é suficientemente amplo para observar o entorno.

5ª Estação - Estreitamento/ Alargamento parcial - A visão se abre para o lado esquerdo do campo de visão, mas é obstruída pelo edifício à direita. É possível começar a observar os edifícios da quadra 2 ao fundo.

6ª Estação - Preparação para estreitamento Ao chegar na via a perspectiva guia o usuário para a passagem sob o edifício. Ele é inconscientemente levado para esse caminho e muitas vezes ignora estímulos laterais. Entretanto, a percepção de estreitamento é maior do que a de perspectiva.

7ª Estação - Conexão/ Estreitamento - As duas características se unem nesse espaço. Enquanto o estreitamento é a característica mais marcante ela enfatiza também a perspectiva criada, induzindo o olhar até a quadra 5 do setor comercial.

8ª Estação - Preparação para estreitamento Como há uma certa modularidade a percepção espacial dessa estação estação é semelhante a da 7ª estação e se repete uma vez mais. O olhar dirige-se à quadra 3 do setor.

9ª Estação - Conexão/ Estreitamento - O mesmo vale para essa estação. As características se assemelham muito às da 8ª estação. A perspectiva é mais uma vez a característica marcante que prolonga o campo de visão.

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11ª Estação - Conexão/ Estreitamento - Repetese o efeito descrito nas estações 8 e 10. Porém, dessa vez o pedestre é induzido para um espaço aberto, a quadra 5, e não mais para uma proposta modular.

12ª Estação - Alargamento - Após o momento de clausura há mais uma vez a abertura do campo visual, permitindo uma percepção ampla da praça do posto policial e das diferentes tipologias ao redor.

13ª Estação - Estreitamento - Há um estreitamento claro que continua guiando os pedestres, marcados principalmente pelos edifícios, entretanto são reforçados, uma vez mais, pela perspectiva gerada.

14ª Estação - Preparação para estreitamento Repete-se o efeito descrito nas estações 7, 9 e 11, mas com o prolongamento mais curto, já que a distância até o ponto final, a via W3, é muito menor agora.

15ª Estação - Conexão/ Estreitamento - Repetese o efeito descrito nas estações 8 e 10 e 12.

16ª Estação - Alargamento - Após a passagem pela quadra 6 o campo visual abre-se permitindo a visão da via W3 e do Shopping Pátio Brasil.


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RE FE RÊN CIAS

Ao buscar projetos que pudessem me nortear, procurei por características específicas e conceitos que contemplassem o meu entendimento de tudo aquilo que o Setor Comercial Sul pode oferecer. Procurei projetos homéricos que podem parecer impensáveis para o local, entretanto, acredito que deve ser esse o caminho a ser seguido. Devo propor tudo aquilo que eu acredito que possa acontecer. Eu não tenho dúvidas de que qualquer dos projetos que serão apresentados poderia ser implantado no SCS, é claro que cada um possui sua especificidade, mas não é nada impossível. Cada exemplo ilustra um objetivo a ser alcançado com o projeto e sintetiza a análise que acabou de ser feita. Esses projetos são exemplos de espaços que foram transformados através de um determinado equipamento, focando sempre nas pessoas.


THE REAL ESTATE Bat-Yam, Israel

the real estate al/alch - bat-yam, israel

O projeto The Real Estate é, de acordo com os autores do projeto, “O imóvel temporário dos espaços privados”. Ele foi concebido para se tornar um espaço público alternativo na beira da rodovia em Bat-Yam, Israel. O objetivo do projeto é proporcionar atividades privadas em um espaço público. O espaço funciona como uma borda entre a rodovia e o resto do espaço. A barreira de concreto que separa a rodovia do bairro residencial cria um espaço residual inóspito e geralmente mal aproveitado. O projeto é uma boa solução de como lidar com esses espaços negligenciados da cidade, afinal de contas um muro de concreto não é convidativo, pelo contrário, espanta os usuários. O espaço possui dois elementos verticais de mesma altura, entretanto enquanto a malha é muito convidativa o muro de entrada não é tão amigável. Essa é a contradição pretendida pelos arquitetos. O grande espaço contínuo é interrompido por aberturas que permitem atividades privadas entre duas ou mais pessoas. Apesar do seu tamanho, o espaço contempla a escala humana tomando esse cuidado para que as pessoas se sintam respeitadas. Não há espaço inútil o suficiente que não possa ser melhorado e trabalhado para que todos possam desfrutar, seja de domínio público ou privado, em atividades coletivas ou individuais.

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felder haus heri & salli - viena, áustria

A Flederhaus é um exemplo de como um espaço público não precisa necessariamente ser aberto, ele também pode estar entre quatro paredes, ou quase. A ideia é trabalhar com essa dualidade e mostrar uma nova perspectiva do que pode ser o espaço público, além de ser um local reservado exclusivamente ao ócio, relaxamento e contemplação. A ideia é muito simples: se você está cansado procure uma rede, curta a paisagem, relaxe e tire uma soneca. Os usuários podem achar nele um local de relaxamento em um espaço público vertical, o que é um conceito bem interessante. Aqui podemos observar que o ócio e a contemplação também são atividades importantes no cotidiano das pessoas. Não podemos focar-nos apenas nos aspectos funcionais da vida, mas também nos momentos banais.

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FELDERHAUS Viena, Áustria


gond wana

GONDWANA Terni, Itália

orizzontale - terni, itália

Por ocasião do Festival de Arquitetura, Festarch.lab, realizado em 2012 na cidade, houve a necessidade de montar uma pequena instalação na praça principal da pequena cidade italiana. Dessa forma, os organizadores precisavam de um sistema de palco para alguns eventos do festival. O projeto, entretanto, é um palco e também não é. As plataformas de diversas cores e formas tomam a praça podendo organizar-se de diversas formas. Assim, Gondwana não se limita a apenas uma função, mas a várias. Tudo depende apenas da necessidade dos usuários. O exemplo demonstra como os usuários podem interagir com o espaço de acordo com suas próprias necessidades. Um elemento não precisa de um uso específico, podendo ser utilizado de formas inusitadas.

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METROPOL PARASOL Sevilha, Espanha

metropol parasol jürgen mayer h. architects - sevilha, espanha

Os imensos para-sóis de Sevilha são um marco para a cidade. Eles não são apenas elementos funcionais, contra a insolação, mas há também um museu, um mercado, diversos bares e restaurantes, além de criar um centro urbano contemporâneo na cidade medieval. As peças de madeira são, além de tudo, um reflexo da cultura da cidade que é cheia de para-sóis. Uma característica marcante da cidade foi traduzida criando uma identidade entre essa interpretação e seus moradores. O projeto mostra que não há necessidade apenas de satisfazer um programa de necessidades, mas é possível ir além, criando um marco visual e agregando uma série de atividades ao seu redor. Apenas pelo fato de existir o para-sol atrai várias pessoas todos os dias, trazendo com si a demanda de uma série de serviços.

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HI SEOUL FESTIVAL Seul, Coréia do Sul

hi seoul festival unsangdong architects - seul, coréia do sul

A gigantesca estrutura foi montada na principal praça cívica de Seoul para ser o centro do festival. As tiras de tecido tencionadas, apesar de funcionarem de forma simples transformam o espaço de maneira estrondosa. Dessa forma, a praça não chama atenção apenas pela sua função, mas pela grande instalação sobre ela. Um dos aspectos mais interessantes desse projeto é que é possível transformar completamente um espaço com elementos muito simples. Além de que, com a motivação correta, as pessoas se deslocam para qualquer lugar. Se um lugar é inabitado é porque realmente ele não é interessante, mas pode ter certeza, é possível tornar qualquer lugar interessante com o estímulo certo.

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PRO JE TO


DI RE TRI ZES

O Setor Comercial Sul, como qualquer lugar, tem pontos positivos e negativos. O meu objetivo com esse projeto é maximizar as maiores qualidades do local, ou seja, a intenção não é redesenhar o espaço, mas se apropriar do que ele tem de melhor, mostrando a imensa qualidade do projeto original. Mas como você vai fazer isso? Eu pretendo articular o espaço através de intervenções que, apesar de pontuais, serão profundas. Não haverá necessidade de derrubar meio mundo, para construir uma coisa nova, apenas mexer um pouco no que já existe com o menor esforço possível. A tática usada para tal será uma estratégia “Bottom Up”, de baixo para cima, ou seja, tudo será feito a partir do ponto de vista do pedestre, desde novas relações com a topografia até o mobiliário urbano. Se tudo der certo, o pedestre passará a ser protagonista, deixando o automóvel em segundo plano.

Para isso me utilizarei equipamentos de cultura e lazer, além de buscar explorar o potencial noturno do lugar que, mesmo ficando em uma área nobre, é abandonado e esquecido depois que o sol se põe. Avaliarei, também, as conexões entre o Setor Comercial e as áreas vizinhas assim como sua própria articulação. Entre os defeitos do Setor Comercial um dos que mais chama a atenção é o abandono de alguns espaços. Muitas praças estão largadas, não pela ausência das pessoas, pelo contrário, algumas praças, por exemplo, são importantes pontos de encontro e articulação do Setor, porém há uma falta de interesse em ocupa-las. Há a necessidade de tornar esse espaço atrativo para as pessoas que estão ali diariamente.



onde fica o que?

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axialidade

zoneamento

piso

Uma das características mais marcantes do Setor Comercial Sul é o forte eixo no sentido Leste-Oeste que distribui o fluxo de pedestres através de toda a área. Por isso essa axialidade é um fator importantíssimo no projeto, seja no caráter funcional como como elemento de referência. Esse eixo é tão forte que mesmo uma pessoa que nunca tenha estado no Setor Comercial se sente induzida a caminhar por ele.

Ao analisar as diferentes formas de ocupação percebe-se a necessidade de alguns usos que são mal aproveitados, assim como algumas necessidades que não são supridas. Com a retirada dos estacionamentos se tem uma maior flexibilidade, permitindo que o Setor Comercial se articule de forma mais natural, principalmente para o pedestre.

Uma das missões mais difíceis é fazer a distribuição de todos os usos e ainda por cima integra-los de forma harmônica. Cria-se assim um desenho de piso que tem como objetivo ser esse elemento que conecta todas as partes do Setor, criando uma unidade que pode ser reconhecida em toda a extensão da área.


Calçadão Avenida Atlântica, Rio de Janeiro

o mestre O piso surgiu a partir da necessidade de conectar o Setor Comercial. Observava-se que cada quadra possuía uma particularidade e só era possível adentra-la depois de passar pelo “portal” proporcionado por cada edifício. Com a retirada dos estacionamentos laterais o conjunto passou a conectar-se não apenas pelo eixo central, mas também pelas suas laterais. Dessa forma era preciso ratificar essa nova característica e ao mesmo tempo distribuir todas as novas funções pelo local. As maiores referências para o desenho foram claramente as obras de Roberto Burle Marx, que expressavam-se principalmente como obra de arte. Não estou me comparando ao grande mestre, mas é sempre bom beber em boas fontes.

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antes Retirada e reposicionamento de 207 árvores

Reposicionamento de equipamentos públicos como o posto policoal

Retirada de obstruções para os pedestres

Retirada de 1.659 vagas dos estacionamentos laterais das quadras e remodelação das vias internas do Setor

Remodelação de praças e espaços abertos


depois Incentivo a atividades de cultura e lazer Estacionamento subterrâneo para 600 carros e outras 150 vagas Redesenho de praças e ocupação de espaços ociosos Reposicionameno e inserção de 409 árvores

Novo mobiliário urbano como bancos, mesas, palco e estrutura para ambulantes

Conexão com o Setor Hoteleiro e com o Setor Hospitalar

Vida noturna. Vamos dançar, rapaz!

Redesenho das calçadas e espaços de pemanência Atividades de lazer


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250 planta de cobertura - antes


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PRA ÇA DOS ARTIS TAS

A intervenção na Praça dos Artistas tem como objetivo explorar dois aspectos: a existência de diversos restaurantes nos arredores e a carência de equipamentos de descanso para as pessoas. Dessa forma, além de aumentar a área verde onde antes existiam estacionamentos, seriam postas mesas onde as pessoas possam comer ou apenas passar o tempo. A ideia é criar um ambiente semelhante a uma praça de alimentação. As novas áreas verdes integrariam a praça com o contexto da cidade, podendo ser utilizada, também, pelo Hospital de Base e pelo Hospital Sarah Kubitschek. Entretanto, seu maior objetivo é o ócio e o descanso das pessoas que frequentam diariamente o Setor Comercial. Um elemento super importante que está presente em todo o Setor Comercial são os ambulantes. Apesar de estarem espalhados, alguns se concentram na Praça ao longo do eixo que divide o setor. A maioria improvisa mesas que sejam fáceis de desmontar e mover, mas muitas vezes não tem qualidade. Os ambulantes são um fenômeno inevitável em qualquer lugar com grande concentração de pessoas, por isso não há como tentar expulsa-los, temos que abraça-los e entender que eles participam ativamente da ocupação dos espaços públicos. Por isso trouxemos também mesas de papelão dobráveis que facilitará a vida dos nossos colegas.


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250 planta baixa


planta baixa (antes) 1:750

planta baixa (depois) 1:750

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mobiliário Refold www.refold.co

refold

Kitchain Fribourg, Suiça

O Refold é uma iniciativa da empresa neozelandesa de mesmo nome que desenvolveu essa mesa de trabalho em papelão. Ela é extremamente prática por ser dobrável, leve e resistente, além de possuir diferentes alturas, permitindo que a pessoa trabalhe de pé ou sentada. Essa é uma excelente alternativa para os nossos ambulantes, para que eles possam trabalhar com praticidade e qualidade, sem se preocupar com “o rapa”.

kitchain Kitchain é um projeto do Estúdio MOOV, sediado em Lisboa, Portugal. O objetivo da iniciativa é intensificar a relação social e a troca de ideias através da interação entre pessoas que dividem os mesmo interesses ou compartilham do mesmo espaço. Trata-se de módulos que permitem diversos usos e disposições baseado na necessidade do usuário. A intenção é de trazer o Kitchain para o Setor Comercial para que essas trocas possam acontecer entre as pessoas que habitam e compartilham o local, melhorando e intensificando cada vez mais a relação entre elas.

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Redução das vias Marcação do fluxo principal

Relocação das árvores Reposicionamento das árvores

antes

depois

Retirada dos estacionamentos

Retirada dos estacionamentos

Apropriação de espaços ociosos Calçadas e desenho de piso

Mesas e bancos


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PRA ÇA DAS AR TES

Esse é um dos pontos ficais do projeto. A praça tem uma grande importância por localizar-se no centro do Setor Comercial e, por isso é um grande ponto articulador. Entretanto, atualmente ela fica um tanto escondida, quase inóspita e de difícil acesso se comparado a outras áreas. Com a retirada dos estacionamentos a praça fica mais aberta à cidade, tornando-se um ponto cada vez mais importante. A intenção de tratar a praça como um centro cultural tem o objetivo de ocupa-la com atividades das mais diversas, já que atualmente ela é um espaço extremamente ocioso. A ideia é que o teatro e o centro cultural extendam suas atividades para a praça. Outro aspecto positivo é a possibilidade de ocupação do espaço no período noturno, ancorado, também, nessas atividades culturais. Dessa forma a praça não seria um ponto de referência dentro do Setor Comercial apenas, mas também na cidade.


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250 planta baixa - depois


planta baixa (antes) 1:1000

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A

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mobiliário reef bench O Reef Bench é um banco de geometria irregular feito de perfis de madeira, muito simples de ser executado. Projetado pelo escritório holandês Tejo Remy & René Veenhuizen, me pareceu um elemento prático e muito bonito. Ideal para estar em uma praça com uma relação íntima com a arte.

GONDWANA Terni, Itália

gondwana

Reef Bench Zoetermer, Holanda

Nós já falamos dele lá atrás. Esse elemento é muito prático por ser versáil, podendo ser tanto um banco quanto um palco. Ideal para que possa ser apropriado por apresentações de teatro ou música. Além disso, o fato de ser móvel é muito divertido, você tem que admitir.

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Retirada das árvores Teatro Relocação das árvores

antes

depois

Centro Cultural Café Relocação do Posto Policial

Palco e bancos

Relocação do Posto Policial


corte AA

corte BB

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SUB SO LO

Esse talvez seja o local que tenha sofrido a intervenção mais radical dentro do projeto. Atualmente o subsolo da quadra 5 é ocupado por garagens e alguns serviços de menor importância. Não é a toa que tornou-se ponto de tráfico e consumo de drogas. A intenção é ocupar o local com a maior diversidade possível de serviços, desde lojas a lanchonetes e boates. Com a ocupação o fluxo de pessoas aumentaria e tornaria o local mais agradável. Um ponto importante é, também, a conexão visual que o subsolo estabelece com o pavimento superior. Apesar de estar em uma cota inferior, ele está sempre visível para as pessoas que passam ao seu redor. Isso é um ponto positivo, pois proporciona uma enorme integração entre as atividades e serviços entre os níveis. A diversidade de serviços pretende, também ocupar o local 24 horas, ratificando a importância da área.


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C

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250 planta subsolo


mobiliário

chess park O Chess Park possui uma similaridade com o subsolo da quadra 5 por se assemelhar a um beco, ou melhor, uma via onde alguns serviços são distribuídos. Entretanto, seu maior atrativo são os totens que iluminam o local. A intenção é trazer elementos semelhantes que não tenham apenas o propósito de iluminar, mas de contribuir como elemento compositivo do espaço.

Chess Park Glendale, California

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Você sabe o que está acontecendo aqui...

antes

depois

Diversidade de serviços

Prioridade no fluxo de pedestres

Redução do fluxo de veículos Reforma dos passeios

Totens de luz


corte cc

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PRA ÇA DO POVO

A Praça do Povo é um local que possui uma grande dualidade. A praça recebe um grande movimento de pessoas e se estabelece como ponto de conexão dentro do Setor Comercial assim como um elo entre o Setor e a cidade. Entretanto, ela parece não ser reconhecida como tal. Pode-se dizer que metade da praça é inocupável e extremamente mal resolvida em relação a seus diferentes níveis de piso. Como o projeto sugere a remoção das áreas de estacionamento, transformando-as em um espaço de permanência talvez já não fizesse tanto sentido manter a praça naquele local. Por isso foi proposto um restaurante que, mas uma vez, possa ser usado tanto de dia quanto de noite. Os estacionamentos localizados na via ao lado são suficientes para a demanda e o espaço criado entre a via e a antiga praça foi aberto de tal forma que o percurso seja agradável e breve entre o estacionamento e o restaurante. Foi necessário um leve movimento de terra, mas foi mantido o eixo lateral que concentrava o maior fluxo de pedestres.


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planta baixa (antes) 1:750

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planta baixa (depois) 1:750


Retirada das รกrvores

antes

depois

Calรงadas e desenho de piso

Boulevard

Redesenho da praรงa Retirada dos estacionamentos

Restaurante




BOU LE VARD

Os Boulevares como, foram chamados no projeto, são vias com uma forte presença de árvores no seu decorrer. A ideia é diminuir a escala da via, tornando o passeio mais agradável para o pedestre. A diminuição da largura das vias permitiu que as árvores sejam plantadas e criem um percurso sombreado para as pessoas.


D

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planta baixa (antes) 1:750

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corte dd

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CO NE XÕES

Conexões são os pontos de articulação entre o Setor Comercial Sul e as áreas vizinhas, assim como importantes eixos de conexão interna. Dois pontos mostraram-se mais relevantes: a interação entre o Setor Comercial e o Setor Hospitalar, que funcionava de forma precária e a intersecção ente o mesmo e o Setor Hoteleiro na altura da quadra 1. No primeiro trecho a solução era simples: simplificar a passagem dos pedestres que vem do Hospital de Base e do Sarah. Para isso as calçadas foram redesenhadas, ligando os setores em pontos de maior fluxo, além de adapta-los para cadeirantes. No segundo propôs-se uma passarela que conecte o Setor Comercial ao Setor Hoteleiro através do Hotel Nacional. A ideia pareceu atraente pelo importância do Hotel e da sua marquise, além de aumentar a permeabilidade das duas áreas. Um elemento de conexão interna de extrema importância é o eixo que atravessa todo o Setor Comercial. Apesar das propostas apresentadas proporem uma descentralização das atividades não há como ignorar a relevância que esse eixo tem para a articulação das pessoas. Por isso a intenção de colocar elementos que enfatizem esse eixo tornando-o cada vez mais um ponto de referência.


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bibliografia Ignasi de Solà-Morales (Territórios, Gustavo Gili, 2002) / Tradução ao português: Igor Fracalossi ROSA, Marcos L. (ORG). Micro: Planejamento, práticas urbanas criativas. São Paulo, Editora de Cultura, 2011 CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 2. Morar, cozinhar. Tradução de E. F. Alves e L. E. Orth. Petró- polis: Vozes, 1996. GEHL, Jan. Cities for people. Washington DC, Island Press, 2010 GEHL, Jan. How to Study Public Space. Washington DC, Island Press, 2013 SILVA, Bruno e GRANZ, Louise (ORG). Lotes vagos, ocupações experimentais. Belo Horizonte, Instituto Cidades Criativas, ICC, 2009 CULLEN, G. Paisagem urbana. São Paulo: Martins Fontes, 1983. LYNCH, K. A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1982. UFFELEN, Chris van. Urban Spaces. Berlin, Braun Publishing AG, 2013. BAKER, Lisa. Temporary architecture. Berlin, Braun Publishing AG, 2014. BARBAUX, Sophie (ORG). Urban Forniture, A New City Life. Hong Kong, Design Media Publishing Limmited, 2010. THORSPECKEN, Thomas. Urban Sketching, Guia completo de técnicas de desenho urbano. São Paulo, Editora G. Gili, Ltda, 2014.

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agradecimentos

Gostaria de agradecer, primeiramente, a Deus pela graça de estudar algo que amo tanto como Arquitetura. À minha família, que sempre me incentivou e encorajou durante esse período, e aos nossos mestres que sempre nos apoiaram tanto dentro quanto fora da universidade. Mas gostaria de agradecer principalmente à FAU-UnB e aos meus amigos pelos momentos maravilhosos que me proporcionaram. Guardarei sempre com carinho as memórias desse lugar que sempre me deu tanta alegria. Foi um privilégio poder compartilhar esse período maravilhoso com pessoas que gosto tanto. Afinal de contas, o que é bom deve ser dividido, não é verdade? Por isso agradeço a cada um que compartilhou comigo momentos tão ternos e, é claro, tão felizes.

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