BRASÍLIA, 24 A 30 DE SETEMBRO DE 2011
44º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
Um candango
renovado Quando o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro completou 30 anos, a crítica e pesquisadora Berê Bahia contabilizou a incrível marca de 914 filmes exibidos na mostra. Hoje, passados 14 anos, é possível dizer que a cidade já acompanhou mais de 1.166 filmes vinculados à mostra competitiva. É um número expressivo que dá a dimensão de um dos eventos culturais mais importantes do Brasil. Na segunda (26), começa a 44° edição do Festival. Pela primeira vez em muitos anos, a competição passará por mudanças significativas em sua estrutura. São alterações no processo de seleção e no formato da mostra competitiva. Trata-se de um esforço da organização para dar lastro ao Festival, que nos últimos anos sentiu a concorrência de outros eventos similares. Não é a primeira vez que isso ocorre. Sempre que o FBCB se viu ameaçado, driblou com artifícios semelhantes as intempéries do momento. Foi se moldando aos avanços do mercado e da produção cinematográfica que Brasília se inscreveu na história do cinema brasileiro. O Jornal da Comunidade preparou este caderno especial para registrar a importância desse momento histórico deste que é um patrimônio da cultura brasiliense.
2 JORNAL DA COMUNIDADE | BRASÍLIA, 24 A 30 DE SETEMBRO DE 2011 “Um momento marcante do festival para mim foi a estreia de Bicho de Sete Cabeças. Porque mostrou o quanto o público de Brasília é crítico e participativo. No dia que o filme estreou, antes de a sessão começar, o Rodrigo Santoro foi muito vaiado. Ao final, por causa da atuação dele no filme, ele foi aplaudido de pé por todos que estavam no cinema. Acredito que esse filme foi um divisor de águas na carreira cinematográfica dele”. ÍTALO CAJUEIRO – Cineasta, animador e membro da comissão de seleção da Mostra Competitiva de Curtas-metragens de Animação
LINHA DO TEMPO 1965 O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro nasceu com o nome de Semana do Cinema Brasileiro em plena ditadura militar. Seu objetivo era mostrar a história brasileira através do audiovisual. O primeiro longa a ganhar o prêmio de melhor filme foi o filme de Roberto Santos, A hora e a vez de Augusto Matraga (foto). Um trabalho que entrou para história do cinema e do Festival.
1967 A semana do Cinema Brasileiro transforma-se no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Proezas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz, de Paulo Gil Soares, leva o prêmio de melhor filme. 1971 A década de 70 começa sob nuvens negras para o Festival. O filme de Vladimir Carvalho, O país de São Saruê (foto), sofreu censura interna e Nenê Bandalho, de Emílio Fontana foi totalmente proibido. Uma vaia do público dirigida a uma produção simpática ao regime militar sacramentou a suspensão da mostra nos anos seguintes.
1972, 1973, 1974 A censura federal suspendeu a realização do Festival de Cinema por três anos seguidos.
Movimento típico do Festival nos 70: Cineastas, atores e técnicos recebem a imprensa na piscina do Hotel Nacional
1975 O presidente Geisel promete abertura no campo da cultura. O Festival de Brasília renasce com o filme Guerra conjugal, de Joaquim Pedro de Andrade, faturando o Candango de Melhor filme.
Caminhos tortuosos para o
1976 O ano é marcado pelo apogeu da Embrafilme. Xica da Silva, de Cacá Diegues, vence o festival e inaugura o período de grandes investimentos no cinema brasileiro.
festival da resistência Com uma história repleta de altos e baixos, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro contribuiu para a formação do imaginário cinematográfico do país Quando as luzes do Cine Brasília se apagarem na próxima segunda (26), um novo capítulo da rica história do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro começará a ser escrito. Se esse evento, o mais tradicional e longevo do Brasil no campo audiovisual, fosse um filme, poderíamos dizer que ele é um épico repleto de lutas, conquistas, dramas, fracassos e momentos emocionantes. Quando foi criado, em 1965, ainda com o nome de Semana do Cinema Brasileiro, seus artífices não imaginavam o patrimônio que estavam erigindo. À frente desses desbravadores estava a figura de Paulo Emílio Salles. Crítico de cinema, ensaísta, intelectual militante, ele foi o catalizador da confluência de três elementos-chaves na criação do Festival: os cinéfilos da cidade, os estudantes da Universidade de Brasília e os assessores da Fundação Cultural. Professor afastado da universidade após o fechamento dessa pela ditadura, Salles levou para a Semana do Cinema Brasileiro um pouco de sua alma: o pensamento inquieto, o desejo pelo debate e a luta pela construção de uma brasilidade no cinema. “As ideias de Paulo Emílio, longe de qualquer dogmatismo, abriam campos, mesmo que nem concordassem com eles”, diz o ensaísta e crítico de cinema Jean-Claude Bernardet, que nos anos sessenta era assistente de Paulo nas aulas da UnB. No ano da estreia do Festival os filmes foram exibidos no Cine Brasília, Casa Thomas Jefferson e Aliança Francesa. Naquele longínquo 1965, o que saltou aos olhos foi a presença maciça e entusiasmada do público, uma característica que sempre acompanhou a mostra. “O fenômeno em Brasília foi o da conversão da massa”, disse Paulo Emílio em seu CMYK
artigo Novembro em Brasília, publicado à época no O Estado de São Paulo. Público de sorte, diga-se de passagem. O primeiro filme a vencer na Semana de Cinema foi A hora e a vez de Augusto Matraga, do paulista Roberto Santos. Uma prévia do que Brasília revelaria nos anos seguintes. A cada edição, uma nova joia do cinema nacional era revelada. Todas as mulheres do mundo, de Domingos Oliveira (1966); O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla (1968), Xica da Silva, de Cacá Diegues (1976); Tudo bem, de Arnaldo Jabor (1978); A hora da estrela, de Suzana Amaral (1985); Bicho de sete cabeças, de Lais Bodansky (2000). Isso para falar apenas de alguns dos vencedores do prêmio de Melhor Filme. Mas nem tudo são flores. O Festival de Brasília já chegou a ser cancelado nos anos de 72, 73 e 74. Picuinha das autoridade militares que viram risco de desordem com as manifestações contrárias à censura de o País de São Saruê, de Vladimir Carvalho, e do marginal, Nenê Bandalho, de Emílio Fontana, na mostra de 1971. Para azedar ainda mais o clima, o público vaiou “subversivamente” o filme Brasil bom de bola, de Carlos Niemeyer, que mostrava ufanisticamente o ditador de plantão, o general Médici, erguendo a taça Jules Rimet. A censura e a suspensão da mostra só serviu para reforçar o caráter combativo de Brasília. A partir dali o Festival se firmaria de vez como a arena maior das discussões dos rumos do cinema nacional. Debates, mesas-redondas e seminários dividiam as atenções com os filmes que disputavam o Troféu Candango. O Festival também resistiu a outros tropeços, como quando a mostra deixou pela primeira vez de ser exibida na Asa
Sul para acontecer nas salas de cinema do Parkshopping. Uma decisão desastrosa, que espantou o público e coincidiu com um momento de crise nas produções nacionais. O drama ficou mais sério em 1990, primeiro ano do governo de Fernando Collor, que havia fechado as portas da Embrafilme, estatal responsável pela produção e distribuição dos filmes brasileiros. Era um tempo de vacas magras, de filmes de baixíssima qualidade e ressaca moral na indústria do cinema. A atmosfera foi coroada com uma das maiores vaias da história do Festival, toda ela dirigida à atriz Claudia Raia, fervorosa defensora do governo Collor, e que compareceu ao Cine Brasília para representar o remake de Matou a família e foi ao cinema, de Neville de Almeida. O Festival renasceria com grande estilo em 1996, quando Brasília dançou feliz o Baile perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas. A chamada retomada do cinema brasileiro também deu as caras em Brasília. É a era de grandes títulos, como Um céu de estrelas, de Tata Amaral, de revelações como Claudi Assis e seu Baixio das bestas. Nos últimos anos, porém, a criação de Paulo Emílio vem enfrentando a concorrência de outros festivais e os efeitos de uma estrutura rígida na seleção de filmes. O resultado são títulos de pouca expressão e, muitas vezes, desinteressantes. Em 2009, chegou-se a situação de serem exibidos quatro longas de documentário na mostra principal. A partir desta 44ª edição tenta-se reverter o cenário com mudanças significativas em sua estrutura. Mais um movimento para garantir a Brasília seu Festival, resistente, combativo e, acima de tudo, inovador.
1978 Com o título irônico de Tudo bem (foto), Arnaldo Jabor encerra o Brasil entre quatro paredes e é o vencedor do Festival de Brasília de 1978. Ainda neste ano, Walter Lima Jr. Causou sensação com A lira do delírio e o seu elenco de peso, com destaque para o onipresente Paulo César Peréio.
1979 Glauber Rocha, figura mítica do cinema novo e polemista de carteirinha, apronta no Hotel Nacional. Aos berross, o baiano acusa o cineasta francês Jean Rouch de espionagem. É o ano em que O País de São Saruê é liberado para participar da mostra competitiva.
1980 Os anos 80 começam com uma improvisação sem precedentes. Feito de última hora, o Festival de Brasília tem pouquíssimos convidados e nenhum debate. O Iracema de Orlando Senna e Jorge Bodanzky salvaram a festa. 1985 A premiação de A hora da estrela, de Suzana Amaral, é um marco. O filme, baseado em romance de Clarice Linspector, ganhou 10 dos 13 candangos em disputa. Um recorde até hoje. 1989 Após passar pelo Cine Karim e pelas salas de cinema do ParkShopping, o festival retorna ao Cine Brasília para a alegria dos cinéfilos. Que bom te ver viva, de Lúcia Murat ganha o prêmio de melhor filme. 1991 O presidente Fernando Collor extingue a Embrafilme e a produção brasileira entra em crise. É o ano da maior vaia da história do Festival, toda ela dirigida à Cláudia Raia, defensora pública de Collor, e estrela do ramake de Matou a família e foi ao cinema. Era o público de Brasília mostrando as suas garras
1993 O Festival é palco dos últimos instantes de Grande Otelo em solo brasileiro. Havia seis vagas, e apenas cinco filmes. Alma corsária, de Carlos Reichenbach ganhou o prêmio de melhor filme. 1997 No ano do 30º aniversário, o júri se divide entre dois ganhadores, Miramar e Anahy de las Misiones. 2000 Pela primeira vez a filha de um cineasta premiado leva a mesma láurea para casa. O filme é Bicho de sete cabeças e a diretora de Laís Bodanzky. Na apresentação do filme, mais uma vaia, desta vez para Rodrigo Santoro, protagonista do filme. Ao fim da exibição uma ovação para o ator. Uma virada histórica no Cine Brasília.
2008 O Festival foi marcado pelo excesso de documentários. Quatro ao todo. Filme fobia, de Kiko Goifman ganha o candango de Melhor Filme. 2010 A opção de privilegiar novos diretores com filmes supostamente inquietantes e corajosos não resultou positiva. O céu sobre os ombros, de Sérgio Borges leva o prêmio de melhor filme. O curta de animação O céu no andar de baixo alcançou um certo encanto junto ao público, mas o festival não empolgou.
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“Uma lembrança que tenho do Festival de Brasília foi a noite de estreia do meu primeiro curta em Brasília, De Glauber a Jirges. Lembro-me da ansiedade que passei antes de ser chamado para falar ao público. Estava muito nervoso. Fechei os olhos e passei a respirar fundo para me acalmar. Ao meu lado estava o diretor Evaldo Morcazel. ‘Está tudo bem?’, perguntou preocupado. Até hoje o Evaldo lembra dessa história e da minha fisionomia naquela noite”. ANDRÉ RISTUM – Diretor de Meu país
Um festival de
mudanças Com o slogan “Novo, moderno e instigante”, a 44ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tenta recuperar o prestígio perdido frente às outras mostras alterando seu modelo de seleção, premiação e exibição Tudo pronto para a 44ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A partir do dia 26 de setembro e até o dia de 3 de outubro, cinemas, praças e museus da cidade serão tomados pela magia da sétima arte. Como acontece há 47 anos, diretores, produtores, atores e realizadores do cinema nacional voltarão seus olhos para Brasília. Desta vez, porém, o interesse vai um pouco além da mostra competitiva. Com o slogan “Novo, moderno e instigante”, a mostra de 2011 marca um novo modelo de festival para Brasília. Entre as novidades desta edição está o fim da obrigatoriedade de ineditismo dos filmes. Agora, trabalhos de diretores que concorreram em outros festivais
podem participar da mostra competitiva. O argumento para a virada é que a exigência de ineditismo estava tirando de Brasília títulos de grande repercussão, deixando para a mostra da cidade trabalhos de menor importância. Assim, dos seis filmes que serão exibidos no festival apenas Hoje, de Tata Amaral, é totalmente inédito. Outra mudança importante foi a admissão de trabalhos em plataforma digital em todas as categorias do festival, uma reivindicação antiga entre os realizadores. O resultado da iniciativa foi sentido de imediato. A edição de 2011 contou com um número recorde de filmes inscritos - 624 inscrições, sendo 110 longas, 415 curtas
e 99 filmes de animação – outra novidade nesta edição. Com orçamento de R$ 4 milhões (R$ 1 milhão a mais que o de 2010), a organização aumentou o valor dos prêmios. Nas categorias de melhor longametragem, curta-metragem e animação serão pagos prêmios de, respectivamente, R$ 250 mil, R$ 20 mil e R$ 20 mil. Também há prêmios para os melhores ator e atriz (protagonistas e coadjuvantes), roteiro, fotografia, direção de arte, trilha sonora, som e montagem. Mas a ações da secretaria neste ano foram além das discussões entre especialistas. Ela chega às ruas. A população das satélites que, de certa forma, ficava à margem das mostras, pode esperar um ano marcado pela democratização do acesso à programação. Antes restrito às atividades no Cine Brasília, as mostras competitivas serão exibidas simultaneamente em quatro regiões administrativas - Plano Piloto, Sobradinho, Taguatinga e Ceilândia -, e o Festivalzi-
nho, voltado para crianças, em 13 diferentes locais do Distrito Federal. “A programação de filmes, debates, seminários e a ampliação das projeções para as cidades- satélites vão fazer a diferença nesta edição do Festival”, afirma o diretor e organizador do FBCB, Nilson Rodrigues. Evidentemente, nem todos estão satisfeitos com toda essa reviravolta. Há quem tema pelo futuro do festival. O modelo anterior conferia a áurea da tradição e abria espaço para as surpresas. Mas também é certo que a produção cinematográfica brasileira tem hoje outra dinâmica, e que nos últimos anos Brasília ficou engessada por suas regras, o que gerou uma seleção pouco atrativa. De qualquer forma, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro resiste e se reinventa. Segundo o Secretário de Cultura, Hamilton Pereira, as inovações podem ser encaradas como um balão de ensaio, um movimento que garanta um futuro promissor para este que é o espaço maior do cinema brasileiro.
O QUE MUDA Ineditismo – Cai a exigência de ineditismo na seleção de longas. Neste ano, três filmes já participaram de outros festivais. Nova data - Para não perder filmes para outras mostras, a data foi antecipada. De novembro, passa para um período imediatamente anterior ao Festival do Rio. De 26 de setembro a 3 de outubro. Digital - Filmes em digital passam a concorrer nas mostras de curtas e longas. Acaba a Mostra Digital, que reunia principalmente produções universitárias. Circuito ampliado – A Mostra competitiva, que antes passava primeiro no Cine Brasília, será exibida simultaneamente em Ceilândia, Taguatinga e Sobradinho. Mais mostras – Filmes de animação passam a competir a prêmios em seleção paralela. Também serão criadas as mostras Mosaico (com produções de diversos estados do Brasil), Primeiros Filmes e Filme para Celular. Prêmio maior – O melhor longa ganhará R$ 250 mil. No ano passado, foi R$ 80 mil.
Diversidade de diretores A mostra competitiva de longas-metragens no festival deste ano traz uma mescla de diretores veteranos em Brasília e iniciantes A mostra mais inquieta do Brasil está pronta para, a partir do dia 26 de setembro, confirmar sua vocação de abrir espaço para a diversidade. Mais que isso, traz a fusão de perfis diferentes de diretores. A seleção da mostra competitiva da 44ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro mescla a experiência de veteranos com a ousadia de cineastas estreantes. Diferente da disputa de 2010, quando, a cada noite, o público era apresentado a um diretor debutante, nesta edição será possível comparar gerações e estilos distintos. Entre os seis longas-metragens que concorrem ao Candango estão cineastas medalhões, como a paulistana Tata Amaral, diretora que coleciona mais de 50 prêmios em festivais nacionais, e que traz para Brasília o inédito Hoje; o inquieto Edgard Navarro, que em 2005 arrebatou sete prêmios Candango com Eu me lembro e que agora apresenta O homem que não dormia; e André Ristum, curta-metragista conceituado, com experiência no exterior e que traz para Brasília seu primeiro longa de ficção, Meu país. No time dos estreantes no Festival estão os diretores Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, todos do documentário As Hipermulheres; Juliana Rojas e Marco Dutra, com o intrigante Trabalhar cansa; e a carioca Ana Rieper, com Vou rifar meu coração. Entre os seis concorrentes apenas Hoje não foi visto por ninguém. Trabalhar cansa e Meu país, por exemplo, passaram no Festival de Paulínia deste ano. Já As Hipermulheres disputou em Gramado (RS), onde venceu prêmio especial de júri e levou troféu por montagem. Resta ver como será a disputa na sala do Cine Brasília com concorrentes tão diferentes. A mostra competitiva será exibida sempre às 20h30 no Cine Brasília, teatro de Sobradinho, Cinemark do Taguatinga Shopping, e Sesc de Ceilândia
Dia 27/9 AS HIPERMULHERES – Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro são, respectivamente, antropólogo, cineasta e líder indígena. Os três mergulharam na cultura Kuikuro para filmar uma história sobre a morte da esposa de um velho índio que pede a seu sobrinho a realização do Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar pela última vez. “É um filme sem precedentes, todo conduzido sob o olhar dos índios. Trata-se de um trabalho intimista e com uma visão horizontal do tema. Uma oportunidade de mergulhar fundo nos bastidores do rito”, explica Leonardo Sette. “Exibir esse filme em Brasília é uma honra e uma chance para os índios Kuikuro mostrarem sua linguagem em uma cidade tão importante para os rumos das políticas indígenas”.
Dia 29/9 HOJE – Tata Amaral Tata Amaral volta a Brasília para apresentar Hoje, a história de uma ex-militante política que luta para receber a indenização do governo brasileiro pela morte do seu marido, vítima da ditadura militar. Uma visita inesperada a obriga a rever sua trajetória. Para Tata, Hoje é um filme que procura revisitar um passado importante do Brasil. “A história da personagem está alinhada com a sociedade brasileira e a necessidade de virar uma página importante da nossa história”, explica a diretora. “O filme trata de um problema atual e que deve ser encarado com coragem”.
Dia 28/9 TRABALHAR CANSA – Juliana Rojas e Marco Dutra O primeiro longa dos diretores Juliana Rojas e Marco Dutra segue um gosto pessoal da dupla pelo filme de gênero. Na história, uma dona de casa resolve abrir seu primeiro empreendimento: um minimercado. Ela contrata uma empregada doméstica para tomar conta das tarefas do lar. Quando seu marido perde o emprego as relações pessoais e de trabalho entre os personagens sofrem uma inversão inesperada. “Gostamos de contar histórias sem levar isso muito a sério”, explica Marcos. “Assim, o filme tem uma atmosfera de filme de horror, mas também tem um pouco de comédia”.
Dia 30/9 O HOMEM QUE NÃO DORMIA – Edgard Navarrro O diretor Edgard Navarrro imprime sua marca em O homem que não dormia, um conto de fadas para adultos. Nele, cinco pessoas são acometidas pelo mesmo pesadelo em que o protagonista é um homem sinistro que viveu num passado remoto e perpetrou crimes insanos. Elas estão ligadas entre si por um sortilégio que se cumprirá quando desenterrarem certo tesouro misterioso. “A ideia é lançar luz sobre a descoberta de tesouros imateriais que estão dentro de todos, cujo sentido é libertar as pessoas da amarração do destino”, explica Navarro.
1º/10 MEU PAÍS – André Ristum O primeiro longa de ficção de André Ristum fala sobre o afeto das relações familiares. Na história de Meu país, dois irmãos, Marcos (Rodrigo Santoro) e Tiago (Cauê Raymond) se reencontram após a morte repentina do pai. É quando descobrem que têm uma meia-irmã portadora de deficiência intelectual. Ao mesmo tempo em que têm de lidar com o luto, Marcos e Tiago têm de cuidar da nova irmã e aprender a conviver com suas diferenças. “Esse filme fala das raízes, da vida que passa. É também o registro de uma experiência pessoal de quando vivi fora do Brasil, de ter sido uma criança sem a figura paterna”, explica Ristum.
2/10 VOU RIFAR MEU CORAÇÃO – Ana Rieper Odair José, Agnaldo Timóteo, Waldick Soriano, Evaldo Braga, Nelson Ned, Amado Batista e Wando. Foi nas letras dos ícones bregas da música popular brasileira que a diretora Ana Rieper achou inspiração para fazer o documentário Vou rifar meu coração, filme que trata do imaginário romântico, erótico e afetivo brasileiro por meio de entrevistas e música. “A ideia é mostrar como essas músicas estão arraigadas na memória de tanta gente e por tanto tempo. É um elemento importante para a cultura popular”, diz Ana Riper.
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4 JORNAL DA COMUNIDADE | BRASÍLIA, 24 A 30 DE SETEMBRO DE 2011 “Foram dois momentos. Um, quando na década de 80, eu tive a oportunidade de ver de perto o Edson Celulari e a Rita Cadillac, na estreia de Asa Branca. O outro, quando o filme Brasília (título provisório) ganhou o melhor filme pelo júri popular. Eu fazia parte do elenco. É muita emoção receber o prêmio no Cine Brasília. Aquilo lá é um Coliseu, tem que ser Spartacus para enfrentar aquela gente toda”. NATINHO DENTE DE OURO – Membro do elenco de Brasília (título provisório), ganhador de melhor filme pelo júri popular, em 2008
Cinema para todos Festival de Brasília abandona marca de exclusividade do Plano Piloto e volta às satélites THANDARA YUNG tyung@maiscomunidade.com
Após anos com exibições da mostra competitiva exclusivamente no Cine Brasília, o Festival de Brasília retoma a exibição nas cidades-satélites. Este ano, além da sala da 106/107 Sul, o público poderá assistir às sessões no Cinemark do Taguatinga Shopping, no Teatro de Sobradinho e no Teatro Newton Rossi, no SESC da Ceilândia, sempre às 20h30. O Cine Brasília conta ainda com uma sessão extra às 22h40. A ideia principal é quebrar a barreira da distância ao ampliar, o máximo possível, o alcance do espectador. A descentralização é uma das marcas dessa edição: “O objetivo é alcançar o conjunto das comunidades do Distrito Federal. Queremos democratizar a oferta e ampliar o alcance do festival de cinema para que ele chegue mais perto das comunidades, que são as nossas 30 cidades”, garante Hamilton Pereira, secretário de Cultura do Distrito Federal. O Cine Brasília é a principal casa do festival, mas não tem espaço suficiente para abrigar a todos que desejam assistir às sessões. Com os novos espaços abertos para o evento, o festival migra para o jardim da casa. Os lugares a mais garantem que ninguém vai ficar de fora. Se engana quem pensa que o Cine Brasília sempre foi a única morada da mostra competitiva. Entre os anos de 1980 e 1985, o Cine Paranoá – que posteriormente se transformou em Cine Lara – também abrigava as projeções. A estrutura trazia em si uma característica marcante do Cine Brasília: ser um cinema de rua. Ficando longe dos shopping centers, a atmosfera era outra e dedicada exclusivamente ao cinema. Em meio a tantos espectadores do festival exibido em Taguatinga 30 anos atrás, está Natinho Dente de Ouro, artista e cineasta de Brasília. “É um saudosismo muito positivo o festival voltar às satélites. Lembro da época em que frequentava o Cine Lara, e era muito marcante o contato que tínhamos com os artistas e elenco. É importante para o cineasta apresentar o filme perto do povo. A gente sente o que público gosta ou não. E é importante para o público ter esse contato direto com quem produz os filmes”, comenta o artista. Este ano, o Festivalzinho Animado – mostra de animações feitas especialmente para o público infantil – abriu as asas e voará pelos quatro cantos do DF, levando na bagagem 32 atrações. As projeções acontecerão em Águas Claras, Candangolândia, Ceilândia, Cruzeiro, Guará, Jardim Botânico, Lago Sul, Núcleo Bandeirante, Park Way, Plano Piloto, Riacho Fundo II, Samambaia, Sobradinho I e II, e Taguatinga. CMYK
Cinema infantil brasileiro: trajetória e futuro
Oficina de animação
Comparada a outros gêneros, a produção brasileira de cinema infantil ainda é muito pequena. O seminário Cinema Infantil Brasileiro: Trajetória e Futuro tem como objetivo refletir sobre as políticas voltadas para o cinema infantil, além da importância da formação de público. Para isso, contará com a presença
A Oficina de Animação, ministrada pelo animador Ítalo Cajueiro, vai traçar um histórico sobre a animação, seus fundamentos, os tipos de animação e o mercado. Serão trabalhadas as principais técnicas e etapas de produção de uma animação: do roteiro ao storyboard, passando
de nomes importantes para o setor, como Ziraldo, Pedro Rovai e Diler Trindade. O encontro acontece no dia 2 de outubro, a partir das 14h30, no Salão Caxambu, do Kubitschek Plaza Hotel. Em discussão os seguintes questionamentos: quais os caminhos possíveis para o desenvolvimento
do cinema infantil? O Brasil tem políticas públicas expressivas para o cinema voltadas para a infância e a adolescência? Como as novas tecnologias se encaixam no modo de produzir para esses públicos? É uma discussão técnica, mas que também pode despertar o interesse de jovens animadores.
pela direção de acontecerão de 2 3 de outubro, das 14h30 às 17h30 do Museu Nacio Cultural da Repú Ítalo Cajueiro curtas-metragen ções já ganhara
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“Para mim, foi muito impactante quando o júri popular escolheu o filme Ação entre amigos como melhor filme. Mais emocionante foi entregar o prêmio para o diretor Beto Brant, pois aquele filme – que fala de ditadura militar – poderia muito bem ter sido a história da minha vida”. HAMILTON PEREIRA – Secretário de Cultura do Distrito Federal
Shows na praça do Festival Todas as noites, a partir das 22h30, a Praça do Festival receberá shows ao vivo. São artistas brasilienses com trajetória consolidada, como Eduardo Rangel, jovens que apostam em trabalhos diferenciados, como Ligiana Costa, e nomes consagrados no cenário musical brasileiro, como Jards Macalé, que estarão se revezando no palco especialmente montado para o projeto. A programação inclui shows que fazem homenagem ao cinema brasileiro a partir de vários recortes. A entrada é franca. Abrindo a semana de shows, no dia 27 de setembro, a cantora, musicóloga e compositora brasiliense Ligiana Costa. No 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro cantará de Lamartine Babo a Cazuza, passando pelo grupo português Madredeus e canções francesas de Michel Legrand e Georges Delerue. A artista já viajou o mundo para divulgar sua música e completa a lista de cantoras da nova geração que tem renovado a MPB. Continuando a festa, no dia 28 de setembro, o Quarteto de Brasília sobe ao palco para prestar uma verdadeira homenagem aos clássicos do cinema nacional e internacional. Ao som de Ludmila Vinecka (violino I), Claudio Cohen (violino II), Glesse Collet (viola) e Guerra Vicente (cello), o grupo vai encher a noite brasiliense com o instrumental das melhores trilhas sonoras da história cinematográfica. Fechando os seis dias de apresentações musicais, Jards Macalé apresenta seu show Cine Macalé. A apresentação reúne imagens e sons criados por Jards para compor trilhas sonoras do cinema nacional. Mixando imagens/sons com apresentação/interpretação ao vivo, Jards não só interage em trechos de filmes que participou, como também em músicas de outros personagens que enriqueceram a Cine Arte Brasileira, Cine Macalé é um show dedicado a Grande Otelo.
PROGRAMAÇÃO MUSICAL Terça, 27 – 22h30 Praça do Festival - Cine Brasília Ligiana Costa – Canções de Cinema
Quarta, 28 – 22h30 Praça do Festival – Cine Brasília Centro Cultural Banco do Brasil Quarteto de Brasília – Cine Clássico
Quinta, 29 – 22h30 Praça do Festival – Cine Brasília Eduardo Rangel – Cine MPB
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e arte. As aulas 26 de setembro a s 9h às 12h e das 0, no auditório 2 onal do Conjunto ública. o já dirigiu cinco ns. Suas animaam 43 prêmios
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Oficina de interpretação para cinema em diversos festivais de cinema no Brasil e no exterior, tendo sido exibidos na França, Portugal, Espanha, Alemanha, Japão, Canadá, Coreia e Ucrânia, dentre outros. Seu curta O lobisomem e o coronel foi o primeiro filme brasileiro a conquistar o Anima Mundi de melhor filme.
O ator e diretor de teatro e cinema Wellington Abreu, abordará noções básicas do processo de produção cinematográfica. As atividades incluem desinibição corporal, o ator no teatro e o ator no cinema, a composição de personagem para cinema, a superação do medo da câmera, a voz no cinema, o espaço cênico e situações com cir-
cunstância dada. No último dia serão gravadas cenas dos participantes. As aulas serão ministradas de 27 de setembro a 3 de outubro, das 14h30 às 18h, na Escola Técnica de Ceilândia. Wellington Abreu atuou em mais de 24 espetáculos em sete estados brasileiros, na África e Estados Unidos. Dirigiu o curta-ficção Ceilân-
dia Capital do Brasil. Produziu Fora de campo e fez roteiro e direção de Filhos da mãe. É um dos fundadores do Ceicine, Coletivo de Cinema de Ceilândia, e há 12 anos integra a Hierofante Companhia de Teatro. Promoveu oficinas em vários estados brasileiros, e em São Tomé e Estados Unidos.
Sexta, 30 – 22h30 Praça do Festival – Cine Brasília Beirão e os filhos de Dona Nereide – Cine Baião
Sábado, 1º – 22h30 Praça do Festival – Cine Brasília Georgia W. Alô – Cine Soul Jazz
Domingo, 2 – 22h30 Praça do Museu – Cine Brasília Jards Macalé – Cine Macalé
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“Sem dúvida nenhuma, a noite de exibição de Um céu de estrelas foi emocionante. Foi meu primeiro longa em uma noite memorável no Cine Brasília. De quebra, ganhei os principais prêmios de 1996.” TATA AMARAL – Cineasta, diretora de Um céu de estrelas
Brasília muito mais
animada Festival de Brasília do Cinema Brasileiro inova ao abrir espaço para animação na mostra competitiva THANDARA YUNG tyung@maiscomunidade.com
O Festival de Brasília chega às salas de projeção mais animado do que nunca. Na tentativa de trazer à capital tudo o que está sendo produzido no universo audiovisual do país, a oraganização lançou a Mostra Competitiva de Curtas-metragens de Animação. Participarão da mostra 12 curtas-metragens que foram sele-
cionados com enfoque na pluralidade de técnicas e conteúdo. “Atentamos o olhar para selecionar um pouco de tudo”, explica Ítalo Cajueiro, membro da comissão de seleção da categoria. Os filmes competem pelo Trofeu Candango e também por uma premiação em dinheiro. Será pago R$ 20 mil à obra que for considerada a melhor da mostra pelo Júri Oficial, e R$ 10 mil pelo Júri Popular. Além de ser exibido no Cine Brasília nas noites de competição, os filmes serão projetados simultaneamente no cinema do Plano Piloto, no Teatro de Sobradinho, no Cinemark do Taguatinga Shopping e no Teatro Newton Rossi, no SESC da Ceilândia, sempre às 20h30. O CCBB será palco das reprises no
dia seguinte à primeira projeção, sempre às 17h30 e 20h30. Vítima de preconceito no ambiente cinematográfico, por muitos anos, a animação foi vista como ‘coisa de criança’ e aceita em festivais apenas em categorias menores. Esse cenário tem mudado e, aos poucos, o gênero começa a ganhar espaço e ser visto com seriedade por trazer inovações na linguagem e conteúdo. Apesar do reconhecimento, um ponto que ainda dificulta a grande produção de animações no país é a ausência de pessoal capacitado. Para ser um animador, não basta saber desenhar. Essa questão deve ser discutida em seminários e oficinas previstas na programação do Festival. “Ser animador exige muita per-
severança. Demora muito tempo para se ver o resultado final”, confessa Cajueiro. Entre os doze trabalhos estão características muito marcantes e individuais em relação à história, estética de traços e estilo das artes. Na opinião de Ítalo Cajueiro, dois merecem destaque: Céu, inferno e outras partes do corpo, de Rodrigo Jhon e Cafeka, de Natália Cristine. O primeiro pelo roteiro, o segundo pela parte técnica. O curta Céu, inferno e outras partes do corpo intriga e agrada por traduzir, através de metá-
foras, questões como a perda e relacionamentos. “A animação nos dá a possibilidade de traduzir sentimentos muito profundos, que o cinema ‘real’ não consegue. A animação é livre e muito mais ampla. O personagem pendura o coração no varal, isso diz muito e só a animação permite que isso seja mostrado”, comenta Cajueiro. Já Cafeka merece ser celebrado pelo trabalho técnico empregado na animação. A trama faz uma viagem ao um universo onde o café é bebido em demasia. Contada toda por
desenhos feitos em 400 copos de isopor, foi feita em stop motion. “A gente sabe o trabalho que dá para fazer esse tipo de animação. Então tudo fica muito mais bonito quando se sabe o quão trabalhoso é”, explica Cajueiro. A mostra de competitiva de animação acontecerá nas junto à mostra principal e serão projetados simultaneamente no cinema do Plano Piloto, no Teatro de Sobradinho, no Cinemark do Taguatinga Shopping e no Teatro Newton Rossi, no SESC da Ceilândia, sempre às 20h30. O CCBB será palco das reprises no dia seguinte à primeira projeção, sempre às 17h30 e 20h30.
Festivalzinho voa pelo DF Nas edições anteriores, apenas um filme de animação era exibido durante todo o festival, a obra era projetada repetidas vezes sempre no Cine Brasília. Agora, o público infantil tem muito a comemorar, o Festivalzinho Animado ganhou asas e vai voar para as satélites, levando na bagagem 32 produções animadas de diretores de todo o Brasil. Ao todo, 11 regiões administrativas receberão as animações em 39 espaços diferentes, entre os dias 27 de setembro a 3 de outubro. Pela primeira vez, o público do Distrito Federal tem a chance de conhecer os traços e trejeitos da arte de animação produzida no país. Um trabalho que demora anos para ser concluído, mas que vale a pena ao fazer brilhar os olhos de quem se envolve na magia dos personagens de fantasia. Mesmo com 95 anos de história no Brasil, a animação ainda caminha lentamente no país. “Somos muito carentes de longas de animação. Mas estamos passando por uma grande evolução, tem muita gente trabalhando na área para fazer crescer. Ter a visibilidade no festival é ótimo. Toda a tradição sempre acaba abrindo portas e aumentando nossas chances de cres-
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cer”, afirma Luciana Druzina, coordenadora de toda a parte referente à animação no festival. Com a abertura da possibilidade de um maior número de animações, a organização do festival foi bombardeada com a inscrição de 110 curtas de animação produzidos em todo o país. Desse número, foram selecionados os 32 melhores trabalhos do panorama nacional. O Festivalzinho desembarca nas cidades de Águas Claras, Candangolândia, Ceilândia, Cruzeiro, Guará, jardim Botânico, Lago Sul, Núcleo Bandeirante, Park Way, Riacho Fundo II, Samambaia, Sobradinho I e II, Taguatinga e, também, o Plano Piloto. Com tantos lugares diferentes, o festival tem a chance de levar o cinema de animação a lugares que estão acostumados somente aos trabalhos estrangeiros na televisão. O Festivalzinho Animado é uma parceria entre o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA) e o Dia Internacional da Animação (DIA), celebrado em 28 de outubro em 30 países. Confira a programação completa do Festivalzinho Animado no site www.festbrasilia.com.br/2011/festivalzinhoanimado.
BRASÍLIA, 24 A 30 DE SETEMBRO DE 2011 | JORNAL DA COMUNIDADE
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“Para mim o momento inesquecível do Festival de Brasília foi em 1969, quando foi instituído o prêmio de júri popular. Concorri com Meteorango Kid, o herói intergalático e ganhei a estatueta.” ANDRÉ LUIZ OLIVEIRA – Cineasta, Diretor de Exu iluminado
Mudanças para um futuro melhor Coordenador da 44ª Edição do Festival de Brasília, Nilson Rodrigues comenta sobre as inovações deste ano e rebate críticas às mudanças ALEXIA CALDEIRA amacedo@jornaldacomunidade.com.br
Após 12 anos sendo exibido em um mesmo formato, o Festival de Brasília apresenta novas mudanças, como o fim da exigência do ineditismo e exibições simultâneas em cidades-satélites. Convidado pela Secretaria de Cultura para coordenar o festival, o produtor cultural Nilson Rodrigues está à frente dessas mudanças, que chegam para reintroduzir o evento na rota das mais importantes mostras de cinema do país. Nilson conversou com o Jornal da Comunidade sobre essas alterações e conta o que espera para o futuro do festival. O festival vinha perdendo importância nacional? O Festival de Brasília, que já foi um dos mais importantes do país, nos últimos anos estava em decadência. Há 12 anos atrás eu coordenei o festival e desde então ele não passava por nenhuma alteração. Assim, acabou perdendo a importância nacional e o prestígio que tinha no Distrito Federal. Após ouvir os vários segmentos que formam o audiovisual e o cinema aqui no DF, a nova gestão da Secretaria de Cultura entendeu que era necessário implementar mudanças, em busca do resgate da importância do festival e apontar para o futuro, apontar para o novo. Nós não podemos ter um festival pequeno, medíocre. Muitos criticam que o festival perdeu prestígio com o fim do ineditismo. Qual sua opinião a respeito dessas críticas? Pelo contrário. Como eu disse antes, o festival perdeu sua importância nos últimos anos. Estava fraco, decadente. Antigamente cabia a exigência do ineditismo, pois havia apenas três, quatro festivais de cinema no país. Hoje, há mais de 200. Portanto, com essa exigência de ineditismo, só sobrava para Brasília, na maioria dos casos, os filmes que não haviam sido exibidos, ou seja, apenas os filmes que sequer haviam sido selecionados em outros festivais. Isso foi um dos motivos da queda de qualidade do festival. Nós não queremos apenas os filmes descartados, nós queremos os filmes bons. Queremos que o festival volte a ter grandes estrelas, grandes diretores, grandes produções. E, para isso, suprimimos a exigência de ineditismo dos filmes, entre outras mudanças. Antes havia um requisito: apenas filmes produzidos em suporte de 35mm podiam participar da mostra principal. O que levou ao fim dessa exigência? O fim da exigência da bitola foi uma mudança conceitual. Abolimos qualquer obrigatoriedade de suporte, seja de 35mm, 16mm, não há mais restrições. Era algo muito retrógrado, nenhum outro festival tinha essas exigências, só o de Brasília continuava, por falta de inicia-
tiva ou de percepção da necessidade de se acompanhar o movimento de renovação tecnológica. E ainda havia o problema de muitos cineastas ficarem de fora do Festival porque não filmavam em 35mm. O Eduardo Coutinho, por exemplo, um dos principais cineastas do Brasil, já foi impedido de participar do Festival porque não filmava em 35mm. Hoje nós temos então uma mostra competitiva de filmes, não importa em qual suporte, e isso amplia a participação de boas produções, o que é vantajoso para o festival. Qual foi a repercussão da mudança do prêmio principal de R$ 80 mil para R$ 250 mil? Aumentando o valor do prêmio, nós pretendemos, além de atrair grandes filmes para a competição, auxiliar o filme ganhador a se lançar no mercado. Com o prêmio a produção vencedora terá, além de credibilidade, recursos financeiros para conseguir entrar no mercado imediatamente após o festival. O número de inscritos também cresceu significativamente, foram mais de 600, uma média muito superior a de outros anos. Este ano foi criada uma nova categoria na mostra, a dos filmes de animação. O que incentivou essa mudança e por que demorou tanto? Essa foi uma mudança conceitual e estrutural que nós introduzimos. Era uma espécie de anomalia. Como se coloca competindo na mesma faixa filmes de animação com filmes de imagem real? Não tem como eleger melhor ator, melhor atriz em animação. E esse segmento cresceu muito no Brasil nos últimos anos. Hoje há uma produção bastante significativa, então, além de corrigir essa anomalia, é um reconhecimento da Secretaria de Cultura do potencial dos filmes de animação, desse mercado que cresce a cada dia no Brasil. Demorou pelo simples fato de o Festival estar desatualizado há 12 anos. Mas agora as mudanças são relevantes. Quais as pretensões da coordenação ao decidir exibir o Festival simultaneamente em cidade-satélites? Outra mudança relevante é a implementação de exibições simultâneas em Ceilândia, Sobradinho e Taguatinga, junto com o Cine Brasília. Essa foi uma determinação da Secretaria de Cultura. Há uma intenção por parte do secretário de democratizar o Festival. Hoje, com as novas tecnologias, há a possibilidade de ampliação da participação do público no Festival. Ele existia de um modo até hoje e a partir de agora é diferente. Isso é virada de página. O evento não vai ser mais um pequeno clube de algumas pessoas participando ali no Cine Brasília, até porque a cultura não pode ser privilégio de poucos. Queremos alcançar muitos jovens, muitas pessoas que dificilmente iriam ao Cine Brasília assistir ao Festival. Isso é relevante, é histórico.
A volta aos
anos 80 Rock Brasília – Era de Ouro, filme de Vladimir Carvalho, registra o momento decisivo na formação do imaginário brasiliense JULIA CARNEIRO jcarneiro@jornaldacomunidade.com.br
O aguardado Rock Brasília – Era de ouro, o mais recente documentário do cineasta Vladimir Carvalho, vai ser exibido na abertura do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro como hours concours. O filme não concorrerá aos prêmios mas já rendeu a Vladimir o prêmio na categoria documentário no Festival de Paulínia de Cinema deste ano. Como todos seus trabalhos, esse filme, que registra o período em que Brasília ficou conhecida como a capital do rock, mostra um trabalho cinematográfico comprometido com o conhecimento da realidade e a necessidade de estabelecer a identidade cultural brasileira. O trabalho é organizado a partir de faixas arquivadas por 23 anos, unidas por entrevistas com 30 personalidades que comentam a influência da geração de 1980 – entre elas, Caetano Veloso e Dinho Ouro Preto.
OS PRIMEIROS MOMENTOS
A ideia de acompanhar as tendências musicais de Brasília veio de seus alunos na época em que era professor de cinema na UnB. Um dos projetos que era designado a seus estudantes era a construção de relatos cinematográficos através da observação da realidade candanga. Um dos temas que mais lhe interessou foi sobre o crescimento do rock na cidade que tinha mais de 200 bandas em ascensão na época. “Propus que filmassem a cena do rock, e não apareceu nenhum grupo interessado. Então, resolvi eu mesmo filmar”, conta Vladimir que começou a filmar o documentário em 1987. O diretor teve a chance de registrar o lendário show do Legião Urbana, em 1988, no Mané Garrincha, que acabou em quebra-quebra. Renato Russo foi agarrado pelas costas por um fã, acabando com o show e deixando todos furiosos. Antes, durante e depois do
vendaval, o documentarista estava a postos: conservou as cenas da performance como quem soubesse a importância futura dessa relíquia. “Quando revi o material, percebi a dimensão toda: aquele momento havia entrado para a história.”
CONCRETIZANDO O PROJETO
Há mais ou menos dois anos, depois de uma longa conversa entre o Vladimir Carvalho e o produtor Marcus Ligocki, sobre a biografia do Renato Russo que tinha acabado de sair, Vladimir contou de seu projeto que já havia sido alimentado desde 1987 com inúmeras gravações. “Logo tive uma identificação muito forte com o projeto, por ser de Brasília, ter muitos amigos músicos e ter passado grande parte da minha adolescência em ensaio de bandas e no meio musical. Até que ele me fez o convite oficial de assumir a produção do filme. A partir de então a gente começou a estruturar o trabalho de produção e finalização do filme”, explica Marcus, profissional da área audiovisual. Também sensibilizado pela dimensão do trabalho, Marcus nutriu uma admiração muito grande pelo trabalho do Vladimir ao longo dos anos. “Além de se identificar profundamente com a cidade, e ter dedicado parte da sua vida como cineasta e professor a Brasília, ele é sem dúvida um dos grandes diretores que temos no Brasil. Ele tem uma capacidade de contar histórias espetacular pouquíssimo comum”. Também sentiu uma identificação muito grande com o tema ao comentar: “O meu interesse no filme cresceu pelo fato do projeto ter uma identificação profunda com a minha história. Achei que seria um grande filme que já nasceria como um clássico, seria o rock de Brasília filmado e enxergado pelo Vladimir Carvalho. Na minha cabeça não tinha como não ser algo muito especial.”
MÚSICA E POLÍTICA
Entre esses e muitos outros episódios ligados aos momentos históricos da capital misturando música e política, junto ao Marcus Ligocki, renasce a história do rock de Brasília. O enfoque do filme na verdade vai muito além da música que de acordo com Vladimir era somente uma ferramenta de insa-
tisfação e descontentamento político de uma geração que estava lá quando a ditadura militar começou a agir. “Eu não sou um especialista do rock mas eu sou um pouco apaixonado pelas coisas que ocorrem em Brasília. Eu acompanho essa coisa, da juventude de Brasília, um pouco dessa rebeldia, essa coisa de confrontar ou de contestar o regime militar daquela época da ditadura, por exemplo. E isso virou realmente a matéria prima desse filme.” Marcus vai mais além e explica que por mais que a ditadura e rebeldia estejam muito presentes nesse filme, as cenas não são sobre política com alguns personagens da música, é exatamente o oposto. “Não dá para separar a música da política no caso dessas bandas. Mas eu não tenho dúvida alguma que o enfoque principal do filme é a história das bandas. O contexto político, a história de Brasília e do Brasil acabam aparecendo, mas a linha narrativa é essencialmente a história das bandas. Não é um filme político nesse aspecto”, declara.
EXPECTATIVAS PARA O FILME
Como produtor, o papel de Marcus a partir do meio até o final do projeto, foi o de garantir que esse filme fosse bem distribuído e visto por um volume maior de pessoas. A ideia era que pudesse circular mais pelo Brasil, estar nas salas de cinema, para além de alguns restritos festivais. Parece que realmente conseguiram isso, pois no dia 22 de outubro o filme entra em circuito comercial trazendo maior visibilidade para o Brasil todo. Os trailers e os teasers que estão disponíveis nas redes sociais já vêm sendo bastante vistos e o documentário tem tido uma presença na imprensa muito otimista. Para Marcus, a importância de alastrar o filme pelo Brasil está além dos lucros. “Eu percebo essa turma como personagens que são capazes de gerar uma identificação muito forte nos jovens do Brasil inteiro. Cada um com a sua história, que são histórias bastante diferentes, mostram jovens que querem ser ouvidos, se manifestar e expressar suas ideias, assim como milhões de outros brasileiros. O Vladimir teve a habilidade de contar uma história muito humana, que fortalece esse sentimento. CMYK
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“Em 2009, eu concorri com dois filmes, Verdadeiro ou falso e Quase de verdade. Pelo primeiro ganhei o prêmio da Mostra Brasília e com o segundo levei o prêmio de melhor montagem” JIMI FIGUEIREDO – Cineasta
Festival de Brasília no
século XXI
O secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, fala sobre as alterações no conceito do Festival de Brasília e as políticas futuras para o desenvolvimento da produção cinematográfica em Brasília. Segundo Pereira, existe a intenção de reativar o polo de cinema de Sobradinho THANDARA YUNG tyung@maiscomunidade.com
Em entrevista ao Jornal da Comunidade, o secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pinheiro, falou sobre as mudanças do Festival de Brasília e os planos da pasta para o futuro do cinema da capital. O festival este ano está passando por muitas modificações. Quais foram as motivações da secretaria nessas mudanças do festival?
Basicamente, para atender a três objetivos. Primeiro, para que a gente descentralize a oferta de bens e serviços culturais de todas as áreas. Segundo, democratizar o acesso aos bens e recursos públicos que são investidos na área. Terceiro, garantir a diversidade da produção cultural, de modo que a multiplicidade de expressões que Brasília abriga fale. Queremos democratizar a oferta e ampliar o alcance do festival de cinema para que ele chegue mais perto das comunidades, que são as nossas 30 cidades.
A ideia é que essas alterações sejam permanentes ou é um teste para outras edições? As duas coisas. Elas serão permanentes se derem certo. Temos que testar. Na política você não trabalha só com certezas. Você trabalha com riscos. Corremos o risco e queremos oferecer um festival inovador, um festival relevante, um festival que abra espaço para o debate sobre os rumos do audiovisual brasileiro. De modo que ele recupere a relevância que já
teve, porque ele perdeu a relevância no conjunto dos festivais de cinema do país. Este ano, as animações chegaram à mostra competitiva. Por que foi decidido que elas ganhariam espaço no festival? Essa linguagem cinematográfica ganhou relevância muito grande no mundo inteiro. E em Brasília se produz muito, tivemos 99 inscritos. O que significa que abrimos espaço para uma área que é fecunda. Nesse sentido, produzimos uma inovação importante do ponto de vista de linguagem e tecnologia e do ponto de vista de aproximar o festival a novos públicos, tanto no sentido das pessoas que não têm acesso como do público infantojuvenil. A animação é uma tendência crescente dentro da linguagem audiovisual e Brasília não pode ficar de fora. O festival abraçou a questão da democratização. Quais são as ações da secretaria nesse sentido? A primeira delas é produzir uma situação nova, em que o Festival de Cinema de Brasília aconteça na grande casa do cinema, que é o Cine Brasília, e simultaneamente – nas mesmas condições, com a mesma qualidade de projeção – nós vamos ter o festival acontecendo em Ceilândia, em Taguatinga e em Sobradinho. O objetivo é alcançar o conjunto das comunidades do Distrito Federal. Por isso, é nossa obrigação produzir meios para que a nossa ação alcance o mais amplamente possível esse espectador, esse amante do cinema que está nas cidades. Qual a realidade do acesso ao cinema local? Vivemos numa cidade que faz cinema e que não tem espaços públicos para oferecer o que se produz. Não temos salas de cinema para oferecer o cinema brasileiro adequadamente para as pessoas. No entanto, a experiência da Mostra Itinerante, que está acontecendo nesse momento, é uma experiência fantástica, porque tem uma receptividade extraordinária por onde passa. Os cineastas de Brasília tiveram participação muito expressiva no festival. O que será feito para dinamizar ainda mais essa produção? Primeiro, o investimento via editais do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), que é uma importante contribuição que o poder
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público oferece à produção e à difusão do cinema aqui no DF. Segundo, nós temos que aprimorar esse serviço. Está no nosso horizonte o debate em torno de uma lei de incentivos fiscais para a cultura, assim como ocorre com a Lei Rouanet. Queremos oferecer essa possibilidade de fomento e investimento nas diversas linguagens culturais. Mas precisa ser um apoio de mão dupla. Nós precisamos de lançar positivamente a imagem de Brasília para o país e para o mundo com boas produções. Paulínea foi bem-sucedida na criação de um polo de cinema e virou uma referência. Qual é o futuro do polo de cinema de Brasília, que fica em Sobradinho e está desativado? Quando assumimos, logo no mês de janeiro, fizemos uma visita ao polo de cinema. O que encontramos lá foi uma ruína. Mas já estamos trabalhando no sentido da recuperação do polo de cinema de Sobradinho como um elemento indispensável da política do audiovisual. Porque nós temos uma cadeia que não se fecha. Temos a grande vitrine do cinema em Brasília, que é o festival. E temos um espaço que foi concebido como um espaço de formação de produção cinematográfica, que é o polo de cinema, que se encontra em ruínas. Nós estamos trabalhando com a perspectiva de recuperar o polo. Vamos estabelecer parceria com o MEC, para que num período breve possamos oferecer condi-
ções para a formação de profissionais na área do audiovisual. E, ao mesmo tempo, recuperar o espaço físico e torná-lo apto a receber filmagens, locações. Enfim, a cumprir o papel que lhe cabe. Muito se fala que todas as mudanças e inovações podem descaracterizar o Festival. O senhor acredita que exista esse risco? Eu não creio nisso. O que define a identidade do Festival de Cinema de Brasília, é que ele é um festival de cinema brasileiro. Essa é a identidade dele. Não são as tecnologias nem o ineditismo. Na verdade, o que nós estamos fazendo com as modificações que introduzimos é trazer o Festival de Cinema de Brasília para o século XXI, ainda que tardiamente. A comunidade cinematográfica chegou a afirmar que essas alterações foram feitas unilateralmente, que não houve participação da comunidade. Até que ponto isso é verdade? Não é verdade. Porque todas as áreas foram consultadas. A Secretaria de Cultura escolheu um conjunto de pessoas para formar a curadoria do festival, todos eles participantes da comunidade cinematográfica local. O que nós fizemos foi, depois de ouvi-los, tomar uma decisão de governo. E é o que nos cabe, nós fomos eleitos para isso. Para tomar decisões, para conduzir uma política.