Revista online #3

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escaladaINT 03

- escalada - fotos - artigos - entrevista -



Chegamos à terceira edição da nossa revista virtual!

escaladaINT

Gostaríamos de agradecer a todas as pessoas que colaboraram com a revista, especialmente: Deuter, galera do Espírito Santo (Caio “aFeto”, Naoki Arima, José Márcio Moraes Dorigueto e Roney Celin Magri “Dunada”), Janine Cardoso, Rodrigo Raineri, galera da Grade VI, Marcela e Felipe Belisário, Pedro Hauck, Rodrigo “Genja”, Beto e Albert Foldes.

Abraços e boas escaladas! Equipe EscaladaINT

contato@escaladaint.hbe.com.br

Capa: Fabrício Amaral na via Matrix 8B/C, foto de Caio “aFeto”.


“... os dias que estes homens passam nas montanhas, são os dias em que realmente vivem. Quando as cabeças se limpam das teias de aranha e o sangue corre com força pelas veias. Quando os cinco sentidos recobram a vitalidade, e o homem completo se torna mais sensível, e então já pode ouvir as vozes da natureza, e ver as belezas que só estavam ao alcance dos mais ousados.” Reinhold Messner


Opinião: Mulheres no Montanhismo............................................... 06 Entrevista: Rodrigo Raineri ................................................................ 12 Personagem: John Gill ........................................................................... 20 Onde escalar: Escalada Capixaba............................................................ 22 Relato de uma escalada: Primeira repetição Além da Imaginação .......................... 34 Tech Info: Origens e evolução do relevo do Morro do Cuscuzeiro ........................................................ 40 Novidades: Vias na Fazenda Invernada ............................................... 46 FOTOS ............................................................................. 47


Janine escalando em Arco (Itรกlia) Foto: arquivo pessoal


Por: Janine Cardoso

Após finalizar minha palestra no estande da ABETA na Adventure Sports Fair, meu amigo Pedro Hauck me lançou uma questão: “Vejo que existem muitas mulheres praticando a escalada pelo mundo e gostaria de saber por que você acha que no Brasil não existe um número significativo de mulheres que se lançam no montanhismo?” Na ocasião, respondi que, resumindo, acredito que a mulher possui uma natureza delicada voltada mais a cuidar da prole e se resguardar, e que por mais que muitas não cheguem a ser mães, naturalmente a mulher foi ‘feita’ para procriar. Pode-se dizer até que a própria TPM (Tensão prémenstrual) é uma frustração do corpo feminino por não ter engravidado... Porém, repensei essa questão pensando não só em mim, como em muitas mulheres que praticam o montanhismo pelo Brasil e pelo mundo, que igualam-se a muitos homens, e ao mesmo tempo não deixam de ser femininas, delicadas e mães. Sendo assim, discuti um pouco o tema com o Pedro e percebi que ao menos no Brasil, o bloqueio é muito mais cultural do que uma questão de natureza.


A meu ver, tal bloqueio começa no fato de que apesar da mulher brasileira não utilizar a burca como nos países do oriente, a maioria dos brasileiros e brasileiras possui uma visão machista e preconceituosa, e isso reflete-se na escolha de atividades, entre elas as esportivas. Sem dúvida, o Brasil ‘castiga’ as mulheres a serem escravas de um papel delicado, o que algumas superam, correndo atrás de uma essência que está por trás desse paradigma... E para piorar ainda mais, o Brasil é um dos maiores ícones de beleza feminina e de certa forma essa imagem ajuda a frear que muitas mulheres sigam sua verdadeira natureza, massacradas por esse culto à perfeição exterior. Sendo assim, a manutenção dos cabelos impecáveis, da pele jovem e hidratada, das unhas feitas, do corpo sem muitos músculos, sem roxos nas pernas, do perfume criado em laboratórios superando a essência natural, sem cicatrizes que marquem e relembrem uma história transformam as mulheres em criaturas em séries... e cheias de medo. Medo de não conseguir, medo de se machucarem, medo de não serem aprovadas... medos.... E o medo as afasta da plenitude e faz com que vivam a busca por uma vida imposta pela sociedade...e na sociedade.


Resumindo, o homem admira uma mulher que tenha coragem, resistência ao medo, controle do medo, mas no final das contas, ele também é regido por aquela imagem de mulher que será o modelo de mãe perfeita, aquela que foi feita para procriar enquanto ele ‘caça’. Sendo assim, atingir os cumes mais altos, desbrasvar montanhas e mares é um modelo de vida que pode ser vivido plenamente quando os estímulos externos e culturais permitem, não julgam e não condenam, ou quando não se tem medo de seguir o coração e o impulso interior.

Janine escalando na Casa de Pedra Foto: arquivo pessoal


O próprio Pedro Hauck me disse que escalou com algumas mulheres muito fortes que não ficavam atrás em nada durante as escaladas. Concluímos então que não há impedimentos físicos para a mulher. Concluímos ainda que pessoas, homens ou mulheres, que escolhem praticar atividades de aventura apenas pela imagem “descolada” que isso proporciona, acabam desistindo pois não ‘mergulham’ verdadeiramente no espírito. “Acho que escalada e montanhismo é algo dificil mesmo e poucas pessoas se aprofundam. Claro que com uma cultura machista, das poucas meninas que começam, menos ainda são as que chegarão à nivel avançado, e infelizmente é isso o que tem acontecido, vide o campeonato paulista de 2009, que só teve uma menina inscrita”, comentou Pedro em uma de nossas conversas. Sendo assim, GO DEEP e acredite no seu potencial... Seja na hora de ser mãe, ser pai, ser montanhista, ser um profissional, sejamos intensos, entregues e verdadeiros sejam quais forem as escolhas...



entrevista com rodrigo raineri

Aconcรกgua Invernal Foto: arquivo pessoal


Você começou na caverna e depois conheceu a escalada. Como surgiu o interesse pela alta montanha? Sempre gostei da Natureza, em todas as suas formas. Adoro o mar, as florestas, as cavernas, as cachoeiras e as montanhas. Meu primeiro contato com alta montanha foi em um curso de escalada em gelo no Cerro Tronador, com o Tomas Papp e com o Breno, em 1993. Depois voltei com o Zé Fernando em 1996. Todos amigos da Unicamp e integrantes do grupo excursionista que montamos na universidade, o Gaia. Do Tronador, o Tom e eu seguimos para o Aconcágua, e esta descoberta do gelo e da alta montanha foi tão fascinante que as grandes montanhas foram incorporadas para sempre em nossas vidas. De todo esse tempo escalando, quais foram as maiores conquistas e realizações? As cavernas conheci em 1986, e considero minha primeira escalada a escalada do Pico das Agulhas Negras, no 07 de setembro de 1988 (o Zé também estava lá!), ou seja, mais de 21 anos. Tem tanta coisa legal que aconteceu que fica difícil selecionar, mas vale citar a criação do GEEU (Grupo de Escalada Esportiva da Unicamp), classificação para finais de campeonatos brasileiros de escalada esportiva na década de 90, a abertura da Selivié (8a), no Bauzinho, abertura do big wall Mela Cueca (6b, A3) na parede amarela da Pedra do Baú, a Face Sul do Aconcágua, entrando pela Variante Eslovena, subindo pela Francesa e saindo pela Messner, o Aconcágua no inverno, a Cabeça do Condor e Asa Esquerda no Condoriri, a Supercanaleta no Rincon (Cordon del Plata) e o Everest. Teve uma via que abrimos na agulha Carlos Daniel, no dia 01 de janeiro de 2001, em Arenales. Não achávamos a entrada da via e iniciamos a escalada por uma série de fendas e canaletas. Encontramos com a via que planejamos escalar inicialmente apenas na última enfiada, e descemos pelo outro lado. Escalada séria e linda!!!


Em 1995 você abdicou uma carreira como executivo e abriu a Grade VI. Qual o papel da Grade VI na sua vida? Abrir a Grade6 foi a principal forma de viabilizar os meus sonhos como escalador, pois guiava os grupos nas montanhas e depois do trabalho (de colocar as pessoas do grupo no avião de volta ao Brasil) eu estava aclimatado e forte para fazer as minhas escaladas pessoais. Como empresário e pessoalmente, a Grade6 é uma grande lição de vida, que consome muito tempo e energia, e com isto limita minha liberdade. A empresa, assim como o mundo, enfrentou a crise e agora estamos em processo de recuperação. Tudo na vida são escolhas... Depois da conquista da “Mela Cueca”, você não pensou em big wall novamente? Sim, fiz algumas outras escaladas e inclusive repeti a Mela Cueca, liberando algumas passagens que inicialmente conquistei em artificial. A Face Sul do Aconcágua foi um Big Wall. O maior problema é a falta de tempo e a necessidade de foco para cada grande projeto que me envolvo, desta forma acabo priorizando algumas modalidades em determinadas épocas. Sua primeira grande exposição na mídia foi escalando a face Sul do Aconcágua. O que mudou depois dela? Mudou tudo e não mudou nada! Rsrs. Na verdade, já tinha tido cobertura da mídia no Esporte Espetacular, Fantástico, Globo Repórter e muitas outras matérias em TVs e jornais antes da Face Sul, mas com certeza a Face Sul foi um marco na estória do montanhismo e na minha vida. Pessoalmente, mostrou-me que mesmo os grandes desafios estão aí para serem superados, e com uma boa dose de coragem, treinamento, planejamento e trabalho em equipe são possíveis grandes conquistas. E foi aí que comecei a utilizar este conhecimento para ministrar palestras.


Muitos projetos você bancou do seu bolso. Quando você começou a pensar em patrocínio? O que mudou depois que você conseguiu o apoio de patrocinadores? Comecei a pensar em patrocínio em 1992, antes mesmo de ir ao Aconcágua pela primeira vez. Fiz muitos projetos, mas não obtive sucesso comercial, pois é uma negociação muito complexa e envolve muitos fatores, não apenas o projeto em si. Até a Face do Sul do Aconcágua, obtive muitos apoios e ajudas, mas patrocínio consegui apenas depois da Face Sul do Aconcágua. Um patrocínio aumenta a segurança de um projeto, proporcionando que sejam adquiridos os melhores equipamentos disponíveis e melhores condições de execução, gerando até menos impacto, e dá maior visibilidade ao projeto, pois faz parte do contrato gerar retorno de mídia. Um contrato dá muito mais trabalho do que simplesmente ir escalar a montanha por puro prazer, sem necessidade de relatórios, prestações de contas ou outros compromissos, mas é a forma de viabilizar os projetos mais caros e profissionalizar-se no esporte. Quais são as empresas que te apóiam no momento? Tenho o patrocínio da Wizard (que na verdade preciso renovar o contrato) e Sol Paragliders, e apoio da Cia Athletica, Acarh e Grade6. Estou montando uma expedição ao Everest em 2011, que já está viabilizada, mas estou buscando patrocínios para completar o orçamento.

Chá no cume do Everest Foto: arquivo pessoal


Quais as maiores dificuldades que você já passou na montanha? Nossa, foram muitas. Fisicamente, no Aconcágua apenas, em mais de 10 expedições, foram avalanches na Face Sul e uma noite dependurado na cadeirinha a 6.700m, o vento que me jogava para cima impedindo a descida, ventos de 160km/h em Nido de Condores que nos tiravam do chão (deitado dentro da barraca, achei que a barraca iria decolar com duas pessoas dentro), tempestades elétricas, whiteout, quedas de pedras, o rio que quase me levou em uma travessia, o frio intenso na invernal. No Everest, a falta de oxigênio, roubo da alimentação, os sherpas que nos deixaram na montanha após o ataque ao cume, o cantil que vazou toda a água nas minhas costas... enfim, muitas dificuldades. As dificuldades físicas foram superadas e fortalecem o caráter e a forma de encarar a vida e seus desafios. As dificuldades emocionais também foram muitas, e deixaram marcas profundas e irreversíveis. Everest, três expedições, um enorme desgaste físico, mental, emocional. De onde sai tanta determinação? E o que você guardou dessa montanha? Não sei exatamente... mas acredito que a determinação está intimamente ao amor que temos ao que fazemos. Escalar montanhas é mágico e ímpar, encoraja e constrói ao mesmo tempo que amedronta e pode destruir, é algo que amo. Guardei do Everest lembranças maravilhosas e trago grandes lições. Difícil expressar tanto sentimento em palavras... sugiro a leitura de um texto que escrevi na minha volta em 2006, depois do acidente do Vitor: http://www.rodrigoraineri.com.br/everest2006/noticias

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Quando começou o interesse pelo paraglider? Em 1993, quando escalei o Mont Blanc pela primeira vez, fiquei maravilhado com os parapentes cruzando os céus de Chamonix! Prometi para mim mesmo que um dia faria aquilo! Em 2006, em uma palestra em Guarapari, conheci um dos maiores nomes do parapente brasileiro, o Frank Brown. Hoje ele é um dos recordistas mundiais em distância, com um vôo de 462km, com equipamento brasileiro (Sol) e voando no Brasil (decolaram em Quixadá). Conversei muito com o Frank e outros amigos que fiz por lá, fomos para a rampa em Domingos Martins mas não deu vôo. No dia seguinte fui sozinho para a rampa e fiz meu primeiro vôo duplo. Daí decidi fazer um curso, e não parei mais. 16 anos depois, voltei a Chamonix em setembro passado, e além de escalar o Mont Blanc, desci voando do cume. Foi incrível, mais um sonho realizado!

Voando no Himalaia Foto: arquivo pessoal

11. Quais são os projetos para o futuro? Voar, escalar, caminhar, pedalar, curtir a vida junto com meu filho e minha noiva! Nos projetos, gostaria muito de decolar do cume do Aconcágua, do Everest até. As dificuldades e riscos são muitos. No Aconcágua precisarei também de uma autorização especial, como consegui para a escalada invernal, e isto é muito complicado. Estou escrevendo um livro... faz um tempão... rsrs. Vamos ver quando sai...


Manda um recado pra quem tá começando na montanha. Para a felicidade meu recado é: Faça tudo com amor! Respeite a Natureza, o seu corpo, seus princípios e os princípios locais. Fique em paz com Deus, com o ambiente e com a sua consciência. Para desempenho: Acelere tudo quando der, tire o pé quando precisar e na dúvida, não ultrapasse. Freie antes de entrar na curva... a estrada é longa e a vista, maravilhosa! Homenagem ao Vitor Negreti no cume do Everest Foto: arquivo pessoal


Roteiros Internacionais

África - Kilimanjaro, Safári e Zanzibar Argentina - Trekking Plaza de Mulas, Expedição Aconcágua, Trekking Plaza Francia, Cerro Vallecitos e Plata Bolivia - Curso de escalada em gelo, Expedição Huayna Potosí, Trekking Condoriri e Trekking Jurikhota Equador - Vulcões Equatorianos Nepal - Trekking Acampamento Base Everest, Trekking Alto Mustang e Trekking Anapurnas

Roteiros Nacionais

Cursos de Escalada em Rocha, Rapel, e Técnicas Verticais Travessias - Dia de Escalada - Caminhadas (19) 3241 9709, Campinas SP

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John Gill


John Gill é talvez um dos mais lendários escaladores americanos. Embora, não tenha sido o primeiro escalador de blocos, ele foi provavelmente o primeiro escalador na história em fazer dessa atividade sua principal e defender aceitação do boulder como um esporte legítimo. Na década de 50 (com poucos anos de prática) Gill já se destacava sendo pioneiro em escaladas convencionais com corda em dificuldades avaliadas em 5.9 (na época a graduação variava de 5.0 a 5.9) Também nessa época, introduziu o uso do magnésio e movimentos dinâmicos na escalada. No final da década de 50, quando passou a concentrarse realmente em boulders, quase todos os problemas resolvidos por ele, eram de uma dificuldade acima do Sistema Decimal Yosemite. Gill já estava escalando 5.12 cerca de vinte anos antes da graduação existir. Em 1961 realizou a ascensão de um problema na face norte do Thimble, um negativo de 10 m de altura nas agulhas de Dakota do Sul. Uma seqüência de movimentos ao mesmo tempo delicados e fortes, em agarras de pontas de dedos, em uma linha situada diretamente acima da grade de segurança de um estacionamento, onde uma queda resultaria em um grave acidente. Tal façanha que lhe rendeu o título (em uma publicação da revista americana Climbing) de melhor escalador de boulder do século XX.


ESCALADA CAPIXABA ´

UM POUCO SOBRE OS POINTS DO ESPiRITO SANTO

Morro do Moreno Por José Márcio Moraes Dorigueto

Escalar ótimas vias sem se deslocar muito é um privilégio que poucas cidades oferecem, e o Morro do Moreno, em Vila Velha, tem se mostrado um verdadeiro paraíso aos montanhistas da região da capital capixaba. De fácil acesso, de frente pro mar e tendo uma cadeia de montanhas e a Baía de Vitória como pano de fundo, o local também é muito freqüentado por caminhantes, ciclistas e voadores. Apesar da aparente estabilidade, o local passa por uma disputa por sua ocupação.


Loteamentos já aprovados conflitam com o interesse da comunidade e do governo em preservar um dos últimos remanescentes de mata do município. Imensas árvores, que resistem ao assédio imobiliário frenético do entorno, proporcionam aos visitantes um micro clima super agradável. A presença de pequenos animais e aves também é comum no local. Como é um local de livre acesso, também passa por problemas de lixo deixados por alguns freqüentadores e pichações em alguns trechos de rocha. A ACE, Associação Capixaba de Escalada, através do Programa Adote uma Montanha, tenta minimizar estes impactos negativos de uso do local.


Caio “aFeto” na via Consequência de uma Sequência 7B/C Foto: Roney “Dunada”

O formato da rocha, parecendo uma preguiçosa macaca gorda deitada olhando pro céu, mexe com a imaginação das pessoas, e os escaladores acabaram nomeando os principais setores em Testa, Boca e Barriga. Hoje são dezenas de vias, desde 4º até 8º, artificiais, grampeadas, com proteções móveis, positivas, negativas, tetos, projetos e muita sombra para se escalar durante quase todo o dia sem stress. As primeiras vias conquistadas datam da década de 80, mas o boom do local foi mesmo nas duas décadas seguintes. Hoje se chega ao ponto de sugerir aos escaladores que não mais conquistem em determinados setores, tamanho é o número de vias já abertas. Cada setor tem suas peculiaridades


Subindo pela estrada rústica que leva ao cume principal, de frente para a ponte que liga Vila Velha à Vitória, está o setor da Testa, onde ficam as vias mais fáceis e com maior sensação de altura. Voltando para o interior chega-se ao setor da Boca, onde as esportivas ficam bem mais interessantes, variando desde 4º até 8º. Atrás da Boca mais vias completam o local. Em ambos os setores o visual do pôr-do-sol e a vista da Baía são um show à parte. Descendo pela estrada até quase seu início encontra-se a trilha para o Setor da Barriga, onde, além de ótimas esportivas, podese escalar também com proteções móveis. A base do setor dos tetos, também acessada através da mesma trilha, é complementada por subidas em trechos de rocha com ajuda de grandes raízes, divertimento puro, vale à pena conferir...O boom de vias se deu na década de 90 onde foram abertas as principais vias por alguns dos escaladores mais antigos e ativos até hoje, como Oswaldo Cruz “Baldin” e José Márcio Dorigueto.

Coelho na via Consequência de uma sequência 7B/C Foto: Caio “aFeto”


Foto: Oswaldo Cruz “Baldin”

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Falesias de Viana

Ivanor na via 60 segundos 8A Foto: Caio “aFeto”


Há cerca de 7 anos atrás a primeira falésia de Viana foi descoberta, tal ponto fica a 30 km de Vitória. Até o momento a escalada esportiva capixaba contava com vias curtas e com o crux bem definido. A Falésia do Capeta nos ofereceu vias mais longas, de 25 metros, bem verticais e que exigem muita resistência da galera. No Setor “2° Andar” estão concentradas as principais vias com graduações de 7a até 8b. Ao passar do tempo foi conquistada a Falésia do Estacionamento, com excelentes vias que variam de 4° até 8c. Recentemente foi conquistada a Falésia do Relacionamento. Dividida em dois setores, um é o Setor dos Namorados com vias de 4° a 6°sup, onde o cara leva a gata pra dar uma escalada, coisa e tal... Onde a principal meta dos conquistadores nesse setor foi de viabilizar vias que dêem acesso aos iniciantes na escalada por serem vias levemente positivas e cheias de agarras. E ao lado tem o Setor dos Solteiros com duas vias fantásticas, um 8a e um 8b bem vertical passando por um “tetinho” incrível. São vias mais fortes, onde o cara que passa o dia dando seg. pra gata não consegue a cadena...Tem que ser solteiro pra mandar!


Falésia do Capeta 2º Andar

Foto: Naoki Arima

1 - Monção (7b) - 25m 2 - Priapismo (7c) - 25m - Equipada com grampos. 3 - Hiperbárica (8a) 4 - 60 segundos (8a) - 25m 5 - Twist Carpado (7b) - 25m - Equipada com grampos. 6 – Gêmea da esquerda (7b) 7 – Gêmea da direita (7a/b) - 12m 8 - Sobrenome (7b/c) - 25m 9 - Nomenclatura (8b) - 25m


Falésia do Estacionamento

Foto: Naoki Arima

01 - Apnéia (7a) 02 - Via do Porkidis (5o) 03 - Pede pra sair! (7b) 04 - Morcegos me mordam (em aberto) Via toda em móvel. Acaba na mesma parada da via do Porco. Usar peças pequenas a média 05 - Aprendiz de Lenhador (8b/c) 06 - Myopia (7b) 07 - Lembrança do Gaúcho (4o) Via em móvel. Parada natural


Nota: Por: Caio Salomão Amador “aFeto”

Apesar do grande empenho em abrir vias esportivas no Espírito Santo, todo o material utilizado foi comprado pelos próprios conquistadores. No início de 2009, depois de uma reunião, foi aprovada uma mensalidade entre os associados (da Associação Capixaba de Escalada), para poder minimizar os custos dos conquistadores com chapeletas. Um grande problema que nós enfrentamos é a proximidade com o mar, o visual pode até ser bonito, mas os grampos e chapeletas depois de um tempo tem que ser trocados. O Espírito Santo demorou para evoluir em vias esportivas, por apresentar sua grande maioria, em positivos e verticais. Depois de abertos alguns projetos em negativo, começamos a entrar na 9ª dimensão, projetos que estão ao alcance de todos e que daqui algum tempo serão vias encadenadas e colocarão o Estado no patamar dos grandes points de escalada do Brasil. Desde o meu começo em 2006, acompanhei o crescimento da escalada esportiva no Estado, que estava caminhando ainda a furos de batedores.


Depois da chegada do Gaúcho Naoki Arima vimos como é bom usar a “metralhadora” de furos, sua experiência adquirida no Sul está sendo muito bem aproveitada pelos Capixabas. Gostaria de agradecer a todos os escaladores que empenham em abrir vias esportivas no Espírito Santo, pois apesar das dificuldades, vale muito a pena continuar!!! Naoki Arima “metralhando” a pedra Foto: Caio “aFeto”


Relato de uma escalada

Foto: Eduardo Barão

Primeira repetição da via Além da Imaginação 10C


Por: Felipe Belisario

Minha saga nos décimos começou quando o Eduardo Barão estava malhando a Linha da Vida. Eu costumava fazer a segurança dele, ficava encabulado como ele fazia parecer fácil a saída que é considerada “hard”. Ele me motivava a entrar, decidi experimentar, me encaixei bem nos movimentos e logo consegui fazê-los. A cadena da via em si demorou um pouco, mas saiu. Depois foi a vez da Cabra da Peste, onde a historia foi a mesma, fazendo segurança para o Barão observava o cara passear nos movimentos técnicos da saída, que praticamente dita o grau a via. Me motivei a tentar! Foram quase 6 meses malhando, até que o Pedro voltou ao Cipó para tentá-la também. Trocamos vários “betas” e ele mandou, rápido, acho que na 5ª ou 6ª tentativa. Na sequência dele eu quase mandei e ele ficou me falando para entrar na Além da Imaginação assim que mandasse a Cabra. O Pedro voltou para Brasília e eu mandei a Cabra logo depois. No final de semana seguinte estava equipando a Além da Imaginação, para ver como eram os lances e se era possível fazê-los.


Logo de cara gostei da movimentação, a cada entrada eu evoluía mais, até que só me faltava isolar um trecho, o famoso movimento do berimbau, entre a 3ª e 4ª proteções da via. Recebeu esse apelido por ser todo “enjambrado”, o escalador juntou as mãos em uma agarra invertida na altura do umbigo, os pés estão horríveis, precisa pegar de esquerda uma agarra de lado na altura da testa e se lançar para a direita numa pinça aberta e looonge... travar para conseguir mexer os pés três vezes, ainda ruins e prosseguir. Para mim até este ponto já pode ser um décimo grau. Comecei a conseguir fazer a via caindo apenas no berimbau. Na sexta-feira, dia 19/03/2010 combinei com o Fei de irmos ao Cipó, fomos cedo, dei uma primeira entrada para aquecer e na segunda tentativa passei o crux pela primeira vez, empolguei, mas daí em diante ainda é difícil, talvez nono grau. Escalei na gana, mas não consegui controlar a famosa adrena de cadena, que me pegou pelo pé e me derrubou num dos últimos movimentos da via. Estava feliz por ter passado o berimbau e indignado por ter caído no final de vacilo. No sábado a primeira entrada foi um fracasso, não consegui fazer o crux, tava muito quente, suei feito tampa de marmita enquanto escalava, desci meio frustrado. Mas descansei, escalei outra via e mais tarde estava de volta, me juntei a uma galera que escalava no setor.


O Magrão, que me acompanhou outras vezes pediu para entrar antes, e ainda brincou que ia primeiro porque eu iria mandar e desmontar. Depois que ele desceu eu me preparei, esposa na segurança e a vibe geral da galera. Entrei bem na via, passei o crux do berimbau fazendo muita força mas passei, continuei escalando concentrado para não vacilar de novo, cheguei no descanso, olhava para cima e via as duas ultimas costuras, ouvia a galera incentivando, atrás dava pra ver o Mamão escalado a Linha da Vida lá dentro da Sala de Justiça. Concentrei mais um pouco e parti para a cadena! Emocionante! Costurei o top e gritei, junto com todos que acompanhavam a saga, parecia que o próprio grupo 3 comemorava comigo!




Origens e evolução do relevo do Morro do Cuscuzeiro Por: Pedro Hauck

O Objetivo deste artigo não é fazer uma descrição das vias de escalada do Morro do Cuscuzeiro e sua região. O tipo comum da literatura de escalada, informando apenas sobre o potencial “montanhístico“ de um dado local já se cansou de retratar este monumento natural. O real objetivo aqui é tentar divulgar os conhecimentos sobre as origens e evolução do relevo desta região magnífica, cheia de potencial para a escalada, que é sempre bem descrita em meios científicos e desconhecida para a maioria dos escaladores. Foram vários canais respeitados que já fizeram uma síntese sobre as vias e a história das conquistas deste ‘morro testemunho’, só para citar: o jornal Mountain Voices e a extinta revista Universo Vertical, isso sem contar o site Hang On que tem a croquiteca digital do Cuscuzeiro. Assim sendo, pretendo aqui fazer uma revisão breve sobre os conhecimentos relativos à história fisiográfica do Cuscuzeiro, este morro testemunho localizado na cidade de Analândia na província geomorfológica das cuestas arenito - basálticas do Estado de São Paulo. Mostrando a partir do ponto de vista da ciência geomorfológica o real potencial que a região possui para a escalada esportiva. Diferente da história das escaladas como sempre foi retratado nos meios de comunicação da montanha.


Morro testemunho de que? Chegando em Analândia, São Paulo, a primeira coisa que chama a atenção dos desatentos é uma estranho morro de topo aplainado em formato de mesa que se destaca no horizonte. Esta 'chapadinha' é o morro do Cuscuzeiro, que recebeu este nome por se parecer com uma forma de fazer 'Cuscuz', aquela comida com ovo, ervilha, etc... (eu não sei a receita). Na nomeclatura geomorfológica, o Cuscuzeiro não é uma 'Chapada', nem uma 'Meseta' e nem um 'Plateau', mas sim um 'Morro Testemunho'. Não é preciso quebrar a cabeça para saber o que é isso. Simplesmente ele é um morro que testemunha que o relevo das 'Cuestas' do passado atingia uma superfície maior e que através do processo do recuo paralelo das vertentes, atingiu sua configuração atual, ou seja: Onde hoje está o Cuscuzeiro era o limite anterior das escarpas da Cuesta. Das palavras da geógrafa Dirce Sertegaray: Morro testemunho é uma feição do relevo situado adiante de uma escarpa, mantida pela camada rochosa mais resistente. Recebe esta denominação por ser testemunho da antiga posição da escarpa antes do recuo do front desta. Morros testemunhos são observáveis na frente de escarpas de planaltos ou Cuestas. Afloramento na divisa entre Itirapina e Ipeúna


Mas afinal, o que é uma Cuesta? ‘Cuesta’ é ‘Costa’ em espanhol. Apesar de ser óbvio, este nome não foi traduzido ao português devido sua aceitação já ser antiga. Na Bacia sedimentar do Rio Paraná, pretéritamente ocupada pela colônias jesuíticas - espanholas, uma curiosa forma do relevo chamou atenção do colonizador. Um divisor de águas, que de um lado se caracteriza por uma abrupta vertente, formando prolongados paredões de rocha e de outro um relevo suave que às vezes não chega nem ao ponto de formar uma vertente, formando um ângulo menor que 3 graus. Descrevendo em curtas palavras, isto é uma Cuesta. Ela pode ser percebida quando você viaja de carro em direção ao interior. Pela Rodovia Washington Luis, logo depois de passar por Rio Claro (SP) você observa um enorme paredão rochoso. Depois de subir este relevo íngreme, ao invés da esperada descida, lá do topo você encontra uma quase planície que vai descendo suavemente. A origem deste revelo se deu no Mesozóico, mas sua história começa no Paleozóico, com a formação da bacia sedimentar do Paraná. A Bacia do Paraná foi formada através da deposição de sedimentos erodidos do planalto cristalino, que é um maciço antigo com rochas formadas no Arqueozóico, ou seja, à mais de 3 bilhões de anos atrás. As rochas de origem vulcânicas do planalto foram erodidas e transportadas para uma depressão. Ao longo da história geológica, foram diversos períodos que, influenciados por determinantes naturais, foram compondo várias formações geológicas com predominância de determinadas rochas sedimentares em cada camada e sub camada (estratos).


A bacia do Paraná é gigante, sua espessura máxima é, segundo os geólogos Fúlvaro & Bjornberg, de 6000 metros no pontal do Paranapanema em São Paulo e sua área total é de 1.700.000 Km². Uma pergunta intrigante é de onde veio este pacote de sedimentos. Ora, de um lugar só: dos escudos e planaltos Cristalinos que circulam a Bacia. Isto quer dizer que mais 6 mil metros verticais de rochas foram erodidas em toda a história da Terra, isto explica como por exemplo alguns tipos de granitos formados à 30 mil metros de profundidade estarem aflorando hoje na superfície à altitudes superiores à 2 mil metros. Este fato também evidencia os movimentos tectônicos que só ergueram o relevo. As rochas que compõem o Morro do Cuscuzeiro, o arenito, fazem parte de uma formação estratigráfica chamada de Formação Botucatu, datada de mais ou menos 150 milhões de anos atrás. Nesta época (Jurássico) a América do Sul e a África ainda estavam unidas e pelo efeito de continentalidade, a região da bacia do Paraná era um imenso deserto de dunas de areia. Essas dunas deram origem ao arenito, uma rocha sedimentar onde os grãos tem tamanho de areia. Essas dunas são observadas nos perfis, pois a rocha apresenta a estratificação cruzada, seguindo a superfície das páleo-dunas. Entre 150 e 110 milhões de anos, a deriva continental separando a América da África, vai causar fraturamentos e rifteamentos da crosta terrestre que culminaram com a extrusão de material magmático formando derrames que podem ser comparados aos derrames que hoje ocorrem nas regiões de separação de placas, como na Islândia. Este derrame formou a chamada formação Serra Geral, composta por Basaltos e Diabásios, rochas que se diferenciam apenas por que a primeira sofreu resfriamento na superfície e a segunda no interior da terra.


A pedogênese (processo de evolução de solos) sobre estas rochas formaram a famosa terra roxa, os latossolos vermelhos escuros, que têm uma grande fertilidade para a agricultura. A presença deste material magmático no contato com o arenito ‘cozinhou’ as rochas, formando uma rocha vítrea no contato. Em outros pontos, como o arenito é uma rocha bastante permeável, a água infiltrada em seus poros recebeu um alto teor de sílica destas extrusões magmáticas e transformou o frágil arenito numa rocha dura e resistente, o arenito silicificado. Neste momento, com as várias falhas e fraturas ocasionadas pelo evento da deriva continental, a bacia do Paraná passa a sofrer um processo de ‘compensação isostática’ ou seja, o peso do interior da bacia, influenciado sobretudo pelos basaltos, faz que as bordas se ergam, formando então o relevo ora escarpado ora suave da Cuesta. A formação de Morros Testemunhos se dão em um período posterior. Com o desgaste da rocha, as vertentes vão recuando e apenas pontos de maior resistência, ou seja locais onde o arenito está melhor ‘silicificado’ consegue ‘sobreviver’ à erosão, formando os morros testemunhos, como o próprio Cuscuzeiro, o Camelo, a Torrinha, etc... Como pudemos ver, nesta breve história fisiográfica deste relevo, o Cuscuzeiro é produto de uma longa história de erosão, e ele segue seu caminho natural rumo a sua própria destruição, que levará ainda alguns milhares de anos. O Arenito do Cuscuzeiro, por apresentar alto teor de sílica, é uma rocha de boa qualidade para a escalada, a própria existência do morro é um atestado disto. No entanto, os escaladores devem tomar cuidado com o triste destino do morro testemunho, pois é comum desmoronamentos, por isso muito cuidado!


Medidas conservacionistas, como por exemplo, proibir a escalada no morro testemunho, de nada ajudará a evitar os desbarrancamentos do Cuscuzeiro, pois isto é natural. Os escaladores não são responsáveis pela queda dos blocos, mas sim, a própria natureza. Desta forma a escalada deve ser mantida como a principal prática esportiva da região das Cuestas de São Paulo, que ainda é pouco freqüentada por escaladores.

O Morro do Cuscuzeiro e em pequena escala, o Morro do Camelo, são os poucos lugares aproveitados para o desenvolvimento da escalada esportiva na Cuesta da Região de Rio Claro e São Carlos, no entanto, todo o ‘Front’ da Cuesta e não somente os Morros testemunhos podem ser usados para a prática da escalada. Em todos os Municípios da Cuesta: Descalvado, Analândia, Itirapina, Ipeúna, São Pedro, Torrinha, etc... existem afloramentos de arenitos bem silicificados onde é possível abrir vias de escalada, precisamos somente de gente com vontade para começar a descobrir novos points e assegurar nosso direito de escalar nas leis, fazendo pressão para que no plano de manejo das APA´s que compreendem a Cuesta, esteja prevista a atividade da escalada esportiva, e derrubar a idéia infeliz que a escalada é vilã e culpada pelos desmoronamentos de blocos rochosos, como ocorrem nos morros testemunhos. Se bem aproveitada, a região das Cuestas poderá abrigar a maior concentração de vias esportivas do Estado de São Paulo no futuro, basta trabalhar.


Fazenda Invernada, São Carlos - SP A Invernada em São Carlos, ganhou novas vias de dezembro pra cá. As vias TPM e Calores da Menopausa foram terminadas e compartilham a mesma base. O grau ficou forte com crux no final. Foi aberto o primeiro quinto grau do pico, a “Peru Express”, que fica bem à direita saindo do “primeiro setor”. E mais um sétimo, a “Mensagem Erótica” que fica à esquerda da “Rolling Cones” e está com problemas na primeira chapa. O destaque fica para continuação da “Caixa de Fósforo”, um 9B incrível com uma movimentação muito bacana e crux bem exigente.

André na via Caixa de Fósforo 9B

Foto: Rodrigo “Genja”


A Academia de Escalada ONZE A fica dentro da Academia Cia. Athlética, mas é independente, ou seja, não precisa ser sócio da Cia Athlética para escalar. Local: Shopping Galleria (Rodovia Dom Pedro I, km131,5 – Campinas/SP)

www.11A.com.br


FOTOS

Caio “aFeto” na Miopia 7A

Foto: Naoki Arima


Zé Márcio na via “5 a 1” 8B

Foto: Caio “aFeto”


Beto na via Caixa de Fósforo 9B

Foto: Rodrigo “Genja”


Ana Lígia na via “Urubus Cadentes” 8B

Foto: Iuri Garcia


escaladaINT

www.escaladaint.hbe.com.br


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