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Se estes direitos forem vivenciados, os alunos
Se estes direitos forem vivenciados, os alunos acordam contentes por ir para a escola”
O OBVIE – Observatório da Vida nas Escolas, organizou o seu 10º ciclo de debates para o ano de 2021, dedicado ao tema “A reconfiguração da Escola Portuguesa à luz de um projeto de autonomia e flexibilidade curricular”. No passado dia 4 de fevereiro, decorreu o primeiro debate do ciclo, “Escola como espaço de promoção de cidadania democrática”, que contou com Luiza Cortesão (FPCEUP e Instituto Paulo Freire de Portugal), a Escola Portuguesa de Moçambique e a moderação de Ariana Cosme. Luiza Cortesão, que aqui é foco, centrou-se na importância da diversidade e defendeu uma “educação em cidadania” em lugar de uma “educação para a cidadania”
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Sofia Vilarigues
Jornalista
Luiza Cortesão propôs-se refletir sobre educação e cidadania numa apresentação sob o título “Educação, Diversidade e Cidadania”, acrescentando como palavra essencial a palavra diversidade. Apontou duas questões de partida: “gestão da heterogeneidade na escola e na sala de aula” e “pode a escola contribuir para que alunos sejam cidadãos?”.
“O reconhecimento ativo da necessidade da diversidade”
Considerando que temos muita heterogeneidade, diversidade, Luiza Cortesão questionou-se “porque é que a diversidade é um crescendo?”. E apresentou várias respostas. Pelo prolongamento da escolaridade obrigatória (antes do 25 de Abril a heterogeneidade na escola era menor). Por fluxos migratórios relacionados com os PALOP. Pela imigração do Brasil e de países do leste da Europa. Pela crise de refugiados. Pela livre circulação no interior da Europa. Há duas formas de lidar com a diversidade, e práticas educativas entre estes dois segmentos, afirmou. Diminuindo-a ou eliminando-a (ignorando-a ou recorrendo a processos de “normalização”). E gerindo e/ou até tirando proveito dela. A diminuição ou anulação da heterogeneidade na educação tem vários fatores, analisou. Currículos únicos, centralmente estabelecidos. Metas cujo alcance é verificado pela avaliação. Organização de turmas “homogéneas”. Homogeneização do funcionamento na sala de aula (sanções, classificações, exclusões, …), com a tendência para não aceitar alunos que por qualquer razão são diferentes (a propósito lembrou que consta que “Einstein era um aluno insuportável”). Refletindo sobre o conceito de cultura para gerir a diversidade, afirmou “a importância da consciência da incompletude de todas as culturas”. “Que possibilidades haverá de valorizar diferentes saberes e conseguir que, pelo menos alguns desses saberes sejam escolarmente rentáveis?”, questionou. E contou uma história, um caso dum projeto da faculdade com meninos ciganos. Para eles os livros não tinham interesse. Então, os professores levaram gravadores para a sala de aula e pediram aos meninos para contarem histórias, inventadas por eles. Depois, passaram as histórias para escritos e fizeram um livro de textos. Foi um sucesso. Introduzindo o conceito de justiça cognitiva, citou Visvanathan: “A justiça cognitiva reconhece o direito à coexistência de diferentes formas de conhecimento, mas acrescenta a esta pluralidade de diversidades o facto de ir para além da tolerância ou do liberalismo, constituindo o reconhecimento ativo da necessidade da diversidade”. Para a prática de uma justiça cognitiva enumerou vários aspetos. O reconhecimento da incompletude de todas as culturas. A tentativa de conhecer e entender práticas e saberes diferentes dos da cultura dominante. A valorização de diferentes culturas. A tentativa de estabelecimento de diálogo intercultural. Numa síntese do contributo para atender à diferença, falou de flexibilização curricular, a necessidade de que o currículo não seja único. De que é preciso que metodologicamente o professor seja criativo, consiga inventar dispositivos de diferenciação pedagógica (um exemplo é o caso dos textos dos meninos ciganos). E, se existirem ambos estes aspetos, estamos a aproximar-nos da possibilidade de ter alguma justiça