Roberto Leão Direção da CNTE Brasil e da IE “Falar da educação do meu país, nos últimos três anos, é falar de uma história de horror”. Assim começou a nossa breve conversa com Roberto Leão, da Direção da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Educação do Brasil e Vice-presidente da Internacional da Educação – IE. Aproveitando um intervalo, no relvado exterior do pavilhão onde decorreram os trabalhos do Congresso. Um testemunho particularmente emotivo, que aqui reproduzimos. Falar da educação do meu país, nos últimos três anos, é falar de uma história de horror. O governo de Bolsonaro simplesmente atacou a educação de todas as formas. Ele reduziu o investimento na educação, nomeou ministros absolutamente comprometidos com a política fascista de Bolsonaro.
também os professores são muito perseguidos. Claro que os professores reagem. O bom é que a gente reage. O bom é que a gente não aceita passivamente. Mas é um projeto que vai totalmente contra o que a gente tinha antes. O governo do Partido dos Trabalhadores (PT) discutia tudo. Nós não temos a perspetiva de mudança, neste governo, para que a gente recupere o que vinha fazendo. Nós tínhamos debates, grandes conferências nacionais de educação, grandes debates sobre os mais variados temas. Debates que era o próprio governo que promovia. E abria possibilidade para participação dos sindicatos. Nós continuamos fazendo, enquanto sindicatos. Agora, era diferente, porque você tinha um incentivo maior, você tinha facilidade para participação dos professores. A participação da comunidade, que era ouvida. Nós conseguimos criar vários conselhos de acompanhamento dessas políticas públicas no Brasil. Bolsonaro acabou com tudo. Já vamos no 5º ministro da Educação. Todos saíram com problemas sérios. Seja por questões da própria incompetência, ou outras. Um deles dizia que, de verdade, não houve ditadura no Brasil, negava a ditadura no Brasil, dizia que aquilo foi um ato democrático das Forças Armadas. Um outro era o mais ideológico na linha bolsonarista, que dizia que a Universidade queria autonomia para plantar maconha, era um bando de maconheiros. Era assim que eles tratavam os professores, e continuam tratando. Chamam os professores de vagabundos. Dizem que os funcionários públicos são vagabundos, que não querem trabalhar. Na área da educação, isso reflete o modelo político que o Bolsonaro implantou a partir da eleição. Um liberalismo na área económica. E um conservadorismo levado às últimas consequências. No que respeita à pauta de costumes, por exemplo. Discussão de aborto, discussão de LGBT, direito de mulher. Ou ainda o que ele faz hoje com os índios. Ele incentiva a invasão das terras indígenas por garimpeiros. E promove um verdadeiro massacre entre os índios. Tocam fogo na floresta. Estupram as índias. Meni-
ESCOLA
A nossa esperança é eleger o presidente Lula, para recuperar a democracia
Inclusive nós temos hoje, no Brasil, dois programas do Governo Federal - um já está implantado, ainda que não totalmente – que são uma ameaça muito concreta. O programa que já está parcialmente implantado é o das escolas militarizadas. Que são escolas que fazem convénios - com as Forças Armadas ou com as Polícias Militares ou Corpo de Bombeiros – para que essas forças as dirijam, sob a lógica militar. Ou seja – os nossos alunos, as nossas alunas, estão submetidos ao pensamento militar, dentro da escola. Então tem problema com corte de cabelo dos meninos, tem problema com tamanho da saia das meninas, tem problema de comportamento autoritário, é tremendamente repressivo com as crianças. E, junto com isso, existe também um incentivo à denúncia. Ou seja, os alunos são incentivados a denunciar os professores, a dizer se os professores dão aulas com algum teor de criticidade. Muitos professores estão sendo ameaçados – têm as suas aulas gravadas – e, depois, são ameaçados, se são considerados antipatriotas, comunistas, professores que estão implantando ideologias estranhas na cabeça das crianças. Então, há um cerceamento do direito de ensinar. A esta escola militarizada se soma uma outra ameaça - a proposta de uma escola sem partido. A escola sem partido é, na verdade, uma escola onde o ensino crítico está proibido. Questões de género, não podem ser discutidas. Ou a questão LGBT, também não. O governo não incentiva nem um debate sobre esses temas. Como se isso não existisse. É esta a lógica – muito influenciada pela igreja neopentecostal. Direitos das mulheres não podem ser discutidos com a importância que têm, e aprofundados. A escola hoje no Brasil está isto. O sonho deste presidente era usar lança-chama para destruir toda a obra do Paulo Freire. O Paulo Freire é tratado como uma coisa abjeta, na educação. E aí dizem que a educação vai mal por conta do Paulo Freire. Existe um clima de tensão muito grande, hoje, na educação pública brasileira. E é desde o ensino básico até à universidade. Na universidade
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