Escravo, nem pensar! realiza a primeira formação de profissionais da educação em nível estadual A ação é resultado de parceria firmada entre a ONG Repórter Brasil e a Secretaria de Estado da Educação do Maranhão e tem como objetivo atingir 190 mil alunos durante 2016. O estado é a principal origem dos trabalhadores resgatados em todo o país. Entre os dias 22 e 25 de setembro, o programa Escravo, nem pensar!, da ONG Repórter Brasil, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação do Maranhão (SeducMA), realizou a primeira formação presencial para profissionais da educação da rede estadual do Maranhão, dedicada ao tema do trabalho escravo. Nessa primeira etapa do projeto foram formados 40 formadores, entre técnicos da Seduc, gestores e formadores de sete Unidades Regionais de Educação (UREs) Açailândia, Balsas, Codó, Imperatriz, Santa Inês, São João dos Patos e São Luís que, juntas, compreendem 76 municípios maranhenses. No
encontro,
participantes
os
puderam
aprofundar seus conhecimentos sobre o conceito do trabalho escravo
contemporâneo
e
assuntos correlatos, como a migração e o aliciamento de trabalhadores.
Além
disso,
foram apresentados exemplos de
metodologias
didático-
pedagógicas para tratar do tema na sala de aula e em projetos extracurriculares.
Os profissionais das UREs serão responsáveis por formar gestores e professores das escolas de suas áreas de abrangência
Também foram analisados e distribuídos materiais didáticos produzidos pelo Escravo, nem pensar!, que servirão como subsídio para a abordagem do tema nas escolas, as quais receberão um kit com todos os materiais usados na formação. Segundo o superintendente de modalidades e diversidades educacionais, Claudinei Rodrigues, esse tipo de formação tem relevância para além do âmbito pedagógico. “É uma importância política levarmos esse tema para a sala de aula e para a sociedade em si. Nós estamos desnudando esse tema com os nossos alunos e professores”, declarou. A formação contou ainda com a participação de membros do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH) de Santa Luzia e Açailândia, e da Comissão Pastoral da Terra de Balsas, que contribuíram com suas experiências de prevenção e combate ao trabalho escravo contemporâneo e trouxeram informações sobre as realidades locais. Duas professoras que realizam projetos acerca dessa temática no município de Codó também puderam socializar suas experiências educativas.
Participaram dessa formação gestores e formadores das sete UREs, além de técnicos da Seduc
Ao final do encontro, gestores e formadores elaboraram planos de ações para as suas respectivas UREs, que orientarão as atividades de multiplicação do tema, a serem desenvolvidas ainda neste ano. “Além do conhecimento, a gente leva daqui algo concreto (...) a
ser trabalhado com os alunos”, contou Doralice Mota, técnica da URE de Imperatriz. Os profissionais que receberam a formação serão responsáveis por difundir o tema nas escolas de sua abrangência e fomentar a sua abordagem na sala de aula e em projetos interdisciplinares em 378 escolas, envolvendo 10 mil professores e 190 mil alunos até o final do próximo ano letivo, em 2016. “Ao final desse ciclo, nós vamos ter uma rede de divulgação e combate efetivo do trabalho escravo. O próprio governo do estado reconhece isso e vê esse projeto como um projeto de prevenção, de combate e até mesmo de política educativa”, declarou Claudinei. O projeto também prevê a institucionalização do tema no currículo escolar, o que atende a metas estabelecidas pelo II Plano Nacional e Estadual de Erradicação ao Trabalho Escravo. Essa ação conta com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Catholic Relief Services (CRS) e do Ministério Público do Trabalho do Maranhão (MPT-MA). Contexto De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 24% dos trabalhadores resgatados em situação análoga à de escravidão no país são maranhenses, o que coloca o estado em primeiro lugar no ranking de naturalidade dos trabalhadores resgatados. Além disso, o Maranhão é o quinto estado com o maior número de pessoas encontradas em situação de escravidão: foram 2.446 trabalhadores resgatados desde 1995, ano em que o Brasil reconheceu a ocorrência dessa prática em seu território. Na área de abrangência das UREs envolvidas nesse projeto foram localizados 86% dos casos de trabalho escravo no Maranhão, ocorridos entre 2003 e 2014. Além disso, os trabalhadores dessas regiões também são suscetíveis ao aliciamento: 58% dos trabalhadores maranhenses encontrados sob condições de trabalho escravo em todo o Brasil são provenientes dessas localidades. A coordenadora do programa Escravo, nem pensar!, Natália Suzuki, reiterou a importância de se realizar o projeto nos demais estados: “Esperamos que os demais governos também abracem essa iniciativa porque o trabalho escravo é um problema que não restringe se apenas a determinadas regiões, mas atinge todos os estados brasileiros”.