Notícias Diárias de Hematologia - 19 de novembro de 2016

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Notícias Diárias 18.ª Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) | www.sph.org.pt | Publicação de distribuição gratuita

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novembro 2016

17 a 19 de novembro Dr.ª Laura Cannella, Prof. John Gribben, Prof. José Eduardo Guimarães (presidente da SPH), Prof.ª Dominique Bron, Prof. Gert Ossenkoppele, Dr.ª Daniela Weber, Prof. Robin Foà, Prof. José María Moraleda (presidente da Sociedad Española de Hematología y Hemoterapia) e Prof. Michael Zimmermann

Contributos internacionais de excelência

sábado

A qualidade científica da Hematologia portuguesa é abrilhantada, este ano, por um forte contingente de oradores internacionais de excelência. Exemplos disso são a Lição da Dr.ª Daniela Weber sobre o papel do microbioma no transplante de células estaminais hematopoiéticas (pág.3); o Programa Educacional II, dedicado à qualidade de vida em doentes com leucemia e ao tratamento dos linfomas nos idosos, com a participação da Dr.ª Laura Cannella e da Prof.ª Dominique Bron (pág.4); e o Simpósio Conjunto da European Hematology Association com a Sociedade Portuguesa de Hematologia (pág.8), que decorrem hoje. Ontem, o Prof. Michael Zimmermann apresentou novos dados sobre a absorção de ferro e o Prof. John Gribben abordou as novidades no tratamento da leucemia linfocítica crónica

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HOJE

O microbioma no transplante de células estaminais hematopoiéticas Na Lição que decorre entre as 10h20 e as 10h50, a Dr.ª Daniela Weber, hematologista no Hospital Universitário de Regensburg, na Alemanha, vai esmiuçar o papel do microbioma no transplante alogénico de células estaminais hematopoiéticas (TACEH). O impacto da composição da microbiota intestinal na doença do enxerto contra hospedeiro e os outcomes após transplante alogénico de células estaminais serão os principais aspetos em análise.

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por Sandra Diogo esde que, em 1974, o Dr. Dick van Bekkum, fundador e diretor durante 30 anos do Radiobiological Institute of the Netherlands Organisation for Applied Scientific Research, observou que ratinhos «livres de germes» não desenvolviam a doença do enxerto contra hospedeiro (DECH), a microbiota intestinal tem sido alvo de considerações fisiopatológicas no âmbito do TACEH. Será neste contexto que a Dr.ª Daniela Weber falará sobre as novas descobertas nesta área e o seu contributo para o sucesso do TACEH. «Nos últimos anos, técnicas como a análise do gene 16S rRNA proporcionaram uma perceção mais profunda sobre a composição da microbiota intestinal. Sabe-se que, no decorrer do TACEH, foi sendo observada uma perda da diversidade do microbioma intestinal, especialmente em pessoas com DECH intestinal aguda e durante o tratamento com antibióticos sistémicos de largo espectro», avança a especialista. A influência da diversidade microbiana sobre os outcomes dos recetores de TACEH, recentemente observada pelo Dr. Ying Taur, do Serviço de Doenças Infeciosas do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, nos

EUA, e sua equipa, também será abordada nesta Lição, até porque os investigadores encontraram um aumento significativo da mortalidade relacionada com o transplante em doentes com baixa diversidade de microbioma na altura do enxerto. «Particularmente, as bactérias comensais, como as Clostridiales, e os seus metabolitos, como os ácidos indol e os ácidos gordos de cadeia curta, contribuem para a manutenção da homeostasia imunológica e para a regulação da integridade epitelial e das citoquinas anti-inflamatórias através da indução das células T reguladoras», explica Daniel Weber, acrescentando que «a perda de bactérias comensais parece desempenhar um papel crucial na mortalidade relacionada com a DECH».

Riscos acrescidos da antibioterapia Os fatores de risco para as perturbações da microbiota intestinal, como a administração de antibióticos sistémicos utilizados para profilaxia e tratamento de infeções neutropénicas em doentes submetidos a TACEH, também estarão em foco. A título de exemplo, Daniela Weber apresentará as conclusões de algumas investigações

Mensagens a reter

•A composição da microbiota intestinal parece desempenhar um papel

importante no estabelecimento do transplante alogénico de células estaminais hematopoiéticas (TACEH) e pode contribuir para o seu êxito ou fracasso;

•A utilização de antibióticos sistémicos de largo espectro em doentes com aplasia é indispensável;

•A s estratégias para proteger a microbiota intestinal contra o efeito negativo

dos antibióticos têm de ser consideradas, de forma a restaurar a diversidade do microbioma intestinal e a restabelecer a imunorregulação após a cessação da antibioterapia;

•O s antibióticos com menos efeitos secundários sobre o microbioma intestinal (que não afetem os Clostridiales), os probióticos ou os transplantes de microbiota fecal podem evitar grandes distúrbios do microbioma.

baseadas em estratégias de descontaminação do intestino, que demonstraram uma correlação positiva da rifaximina com marcadores de diversidade bacteriana elevada, estádios menos severos de DECH gastrointestinal aguda e melhores outcomes depois do TACEH. «Com base na investigação de Beelen et al., em 1999, doentes medicados com ciprofloxacina e metronidazol para profilaxia antibiótica desenvolveram menos DECH gastrointestinal, tendo esta sido a terapêutica standard utilizada em muitos centros de transplante durante anos. Além disso, o estudo de Shono et al. também mostrou diferenças no impacto da diversidade da microbiota intestinal em relação a diferentes tipos de antibióticos utilizados no tratamento das infeções neutropénicas», concretiza Daniela Weber. Por outro lado, o início da antibioterapia também parece influenciar a diversidade do microbioma e os outcomes dos recetores de TACEH, pelo que a especialista trará a debate a análise retrospetiva conjunta de dois centros com grande volume de TACEH (Memorial Sloan Kettering Cancer Center New York e Hospital Universitário de Regensburg). Este trabalho «observou uma taxa de mortalidade relacionada com o transplante significativamente superior nos doentes em início de antibioterapia, antes do dia do transplante». ND 19 de novembro de 2016

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HOJE

Cuidados especiais em leucemias e linfomas

A qualidade de vida em doentes com leucemia e as especificidades do tratamento do linfoma nos idosos são os temas a debater entre as 9h00 e as 10h20, no Programa Educacional II. As explicações ficam a cargo da Dr.ª Laura Cannella, hematologista no GIMEMA (Italian Group for Adult Hematologic Diseases), em Roma, e da Prof.ª Dominique Bron, hematologista no Institut Jules Bordet, da Université Libre de Bruxelles, na Bélgica. por Sandra Diogo tamentos, assim como para selecionar terapêuticas alternativas. Estes resultados já estão a contribuir para uma mudança de paradigma: «Dado que a investigação clínica em Hematologia provou que os relatórios médicos não avaliavam a perspetiva do doente com exatidão, no que respeita ao impacto das doenças oncológicas ou dos efeitos adversos do tratamento na vida diária, foi recentemente desenvolvido e validado o sistema Patient-reported Outcome (PRO), que faz a recolha rigorosa e sistemática da perspetiva do doente», avança Laura Cannella.

DR

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«O

Particularidades do linfoma no idoso

Prof.ª Dominique Bron

Dr.ª Laura Cannella

que aprendemos com os estudos de qualidade de vida [QdV] nos ensaios clínicos em leucemias» é o mote para a Dr.ª Laura Cannella iniciar a discussão sobre a influência deste conceito na avaliação global do tratamento e no processo de decisão clínica. Partindo da premissa de que a QdV é usada na Medicina para medir a visão subjetiva do doente de bem-estar geral, a especialista vai falar sobre as mais-valias da sua utilização como outcome em ensaios clínicos, uma vez que caracteriza, com maior precisão, os efeitos relacionados com a doença e com os fármacos. Para suportar a sua opinião, a oradora apresentará alguns casos cujas evidências científicas comprovaram que aspetos específicos da QdV, como a fadiga, têm um significado prognóstico em doentes de alto risco. «A introdução do esquema ácido all-trans-retinóico mais trióxido de arsénio (ATO + ATRA) na terapêutica de primeira linha da leucemia promielocítica aguda de risco não elevado é apoiada pelos seus resultados não inferiores, em termos de sobrevivência a longo prazo e tolerabilidade reportada pelo médico, em comparação com

a quimioterapia-padrão, para além de ter vantagens benéficas em aspetos da QdV.» É neste contexto que a hematologista italiana defenderá a utilidade do conceito de QdV, «não só para melhorar a precisão dos tratamentos no doente, mas também para alcançar novas aprovações de fármacos junto das autoridades reguladoras». Além disso, Laura Cannella acredita que a integração dos resultados reportados pelo médico (sobrevivência, segurança e tolerabilidade) com os resultados reportados pelo doente (QdV e sintomas) pode contribuir para uma maior informação acerca dos efeitos dos tra-

«Foi recentemente desenvolvido e validado o sistema Patient-reported Outcome (PRO), que faz a recolha rigorosa e sistemática da perspetiva do doente» Dr.ª Laura Cannella

Por sua vez, a intervenção da Prof.ª Dominique Bron incidirá sobre os linfomas difusos de grandes células B (LDGCB), por serem os mais frequentes nos idosos. Esta especialista pretende chamar a atenção para as particularidades do tratamento em doentes desta faixa etária, uma vez que «são pessoas que têm, frequentemente, outros problemas, que podem alterar a sua capacidade para tolerar a terapêutica». Por isso, a hematologista defende a integração de questões relacionadas com o doente, a doença e o tratamento, para obter as características de um acompanhamento ideal. «Em doentes muito idosos, temos de estar atentos às síndromes geriátricas, como quedas, distúrbios cognitivos, incontinência urinária ou fecal, demência e perda de autonomia, assim como para as limitações socioeconómicas que podem ter impacto significativo no acesso do doente às consultas hospitalares e a novos medicamentos de elevado custo», especifica Dominique Bron. Além disso, «há que atentar à presença de outras patologias, que implicam a polimedicação, com o inerente risco de interação medicamentosa». Do ponto de vista dos problemas relacionados com o LDGCB, esta oradora vai referir alguns casos concretos, nomeadamente os doentes com hiperplasia nodular


linfoide que, no momento do diagnóstico, «apresentam estádios mais avançados da doença, perfil biológico mais desfavorável, mais mutações genéticas e um aumento da incidência de anemia, ainda que a principal causa de morte continue a ser o próprio linfoma». Já no que diz respeito aos obstáculos colocados pelo tratamento, Dominique Bron incidirá nos efeitos secundários e na dosagem. «O LDGCB é uma doença curável com imunoquimioterapia, mas este tratamento pode causar efeitos colaterais potencialmente fatais nos idosos», afirma. A título de exemplo, a especialista refere o regime R-CHOP (rituximab + ciclofosfamida, doxorrubicina,

«O LDGCB é uma

doença curável com imunoquimioterapia, mas este tratamento pode causar efeitos colaterais potencialmente fatais nos idosos» Prof.ª Dominique Bron

Avaliação do doente geriátrico com linfoma • I ntegração da avaliação funcional, fisiológica, psicocognitiva e

socioeconómica no acompanhamento multidimensional dos doentes com mais de 70 anos;

•U tilização da ferramenta de triagem G8 em tumores sólidos e hemopatias malignas;

•P rincipais fatores preditivos de mortalidade: capacidade física, deficiências nutricionais e índice de comorbilidades;

•C olaboração estreita entre geriatras e hematologistas; •N ecessidade de incorporar parâmetros mensuráveis de primordial importância para esta população (qualidade de vida, utilização dos cuidados de saúde, perda da capacidade funcional) em todos os ensaios clínicos de doenças malignas hematológicas.

vincristina e prednisona), que se «associa a toxicidade a curto prazo (neutropenia febril, toxicidade cardíaca e neurotoxicidade) e toxicidade de longo prazo (síndrome mielodisplásica ou leucemia mieloide aguda secundárias, declínio funcional e cognitivo, e cardiomiotoxicidade), levando à perda de autonomia». Por outro lado, «a sobrevivência global do doente com linfoma está correlacionada com a remissão completa e uma pequena redução na dosagem do tratamento compromete a hipótese de cura», alerta.

Defendendo que a abordagem do linfoma em doentes idosos deve ser multidimensional, integrando fatores prognósticos da doença, potenciais efeitos colaterais do tratamento, avaliação do doente e equilibrando a relação risco/benefício, Dominique Bron advoga a importância da colaboração entre a Hematologia e a Geriatria. O objetivo é «estabelecer uma avaliação o mais rigorosa e completa possível do estado funcional e da capacidade física dos idosos com linfoma». ND

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HOJE

«Os dadores haploidênticos são uma opção viável para os doentes de alto risco» DR

Em entrevista, o Prof. Mohamad Mohty, presidente da European Society for Blood and Marrow Transplantation (EBMT) e diretor do Departamento de Hematologia e Terapia Celular no Hospital Saint-Antoine e na Universidade Pierre & Marie Currie, em Paris, antecipa alguns aspetos que irá abordar na Lição EBMT, entre as 14h15 e as 15h00. Subordinada ao tema «Dadores alternativos, novos condicionamentos e desenvolvimentos futuros», esta sessão será uma oportunidade para debater as potencialidades atuais do transplante alogénico de células estaminais hematopoiéticas. por Sandra Diogo estaminais está a tornar-se cada vez mais atrativo, principalmente para os doentes de alto risco.

Considerando que estes dadores têm apenas 50% de compatibilidade, como se pode controlar o risco de rejeições? 6

Que papel assume o transplante alogénico de células estaminais hematopoiéticas (TACEH) no tratamento das patologias hematológicas? Este procedimento está a crescer de forma muito acelerada um pouco por todo o mundo, fruto da enorme evolução que sofreu nos últimos anos. O tratamento de suporte melhorou e um número crescente de pessoas mais velhas, com comorbilidades associadas, é proposto para transplante. Além disso, existe hoje um melhor entendimento da fisiopatologia da doença do enxerto contra hospedeiro e são esperados, num futuro próximo, avanços no âmbito da prevenção e do tratamento. Por tudo isto, o TACEH assume-se como um potencial tratamento curativo para um grande número de doenças hematológicas.

Têm surgido cada vez mais opiniões favoráveis sobre o recurso aos dadores haploidênticos. Porquê? O aparecimento dos dadores haploidênticos está a revelar-se uma opção viável para doentes que precisam de TACEH e que não dispõem imediatamente de um antígeno leucocitário humano [HLA] compatível, seja de um irmão ou de um dador não relacionado. Dada a disponibilidade imediata destes dadores, assim como a alta probabilidade de uma compatibilidade haploidêntica entre os familiares de primeiro grau do doente, o transplante haploidêntico de células

É atualmente reconhecido que a disbiose provoca alterações na simbiose do micróbio hospedeiro, com prejuízos em ambos os lados. Além disso, é possível proceder-se à modulação dietética da contagem de genes do microbioma, com uma alimentação à base de hidratos de carbono de baixo índice glicémico e rica em fibra. Ou seja, a modulação microbiota pode ser o caminho para a manipulação das reações da doença do enxerto contra hospedeiro e uma estratégia auxiliar na abordagem atual do TACEH.

Como comenta os avanços nos regimes não mieloblativos? O aumento da segurança e da eficiência dos regimes de condicionamento de intensidade reduzida potenciou um vasto desenvolvimento do tratamento das patologias benignas e malignas. Estes regimes demonstraram a viabilidade do TACEH, com mortalidade que não se relaciona a recidiva limitada e com taxas de sobrevivência promissoras.

«A diversidade microbiota tem-se revelado uma peça-chave na estratificação do risco, com relevância no diagnóstico e prognóstico de diversas patologias autoimunes, nomeadamente no âmbito do TACEH» Muito se tem falado também sobre a importância do microbioma nos transplantes… Sem dúvida. O papel do microbioma começa agora a ser cada vez mais reconhecido na patogénese de algumas complicações associadas ao TACEH. Se é verdade que os seres humanos partilham um microbioma, também é verdade que este se distingue pelos genes, espécies, enterotipos e número de genes. A diversidade microbiota, por exemplo, tem-se revelado uma peça-chave na estratificação do risco, com relevância no diagnóstico e prognóstico de diversas patologias autoimunes, nomeadamente no âmbito do TACEH. ND

Evolução no combate à rejeição

Quando começaram a ser realizados os primeiros transplantes alogénicos de células estaminais hematopoiéticas, as células T do dador que poderiam causar rejeição eram inativadas em laboratório, num processo demorado e dispendioso. Mas a chegada ao mercado da ciclofosfamida «permitiu que essa seleção fosse feita após o transplante, no próprio corpo do doente», afirma Mohamad Mohty.


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HOJE – Tema de Capa

Debate europeu sobre leucemias agudas

O que as Sociedades de Hematologia nacionais podem esperar da European Hematology Association (EHA) e vice-versa, as estratégias de abordagem da leucemia mieloide aguda (LMA) e da leucemia linfoblástica aguda (LLA) e a importância da deteção da doença residual nas leucemias agudas são os temas que dão corpo ao Simpósio Conjunto EHA/SPH, que decorre entre as 11h15 e as 13h00.

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por Marisa Teixeira e Sandra Diogo

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omo primeiro orador, o Prof. Gert Ossenkoppele, membro do EHA Educational Committee e do EHA Curriculum Committee, vai falar sobre o que a EHA tem para oferecer às sociedades nacionais e vice-versa. Estará em foco a aposta na formação e as várias ferramentas disponíveis no Programa Educacional da EHA. «Para além da componente presencial, que pode incluir a participação em diversas reuniões, desde as tutoriais às de grupos de trabalho científico, passando pelos simpósios conjuntos com outras entidades e os congressos anuais da EHA, temos também disponíveis opções online», explica. O EHA Learning Center, portal de aprendizagem oficial da EHA, oferece um vasto gama de conteúdos e formatos, como materiais de congressos, webcasts, podcasts, apresentações em slides ou e-posters. Gert Ossenkoppele apresentará ainda outros exemplos de colaboração entre a EHA e as sociedades nacionais, como os masterclasses; os inquéritos sobre competências; o passaporte europeu de competências; o currículo europeu e o acesso às guidelines. O responsável adianta que «está em curso a criação do exame europeu online e de novos conteúdos e formatos ativos de aprendizagem». Gert Ossenkoppele fará também a comunicação seguinte, intitulada «Leucemia mieloide aguda – para além do 3+7», na qual destacará o tratamento de indução da LMA e a avaliação da doença residual mínima

Prof. Gert Ossenkoppele

como método para orientar a terapêutica após a indução. «Hoje, utiliza-se a quimioterapia de indução para atingir a remissão completa, seguida de um tratamento pósremissão composto por vários ciclos de quimioterapia ou um transplante autólogo ou alogénico de células estaminais», sublinha o também professor de Hematologia no VU University Medical Center Amsterdam. Os outcomes do tratamento da LMA têm melhorado ao longo dos últimos 20 anos, provavelmente, devido a melhores cuidados de suporte, antibióticos e antifúngicos, bem como ao recurso mais adequado ao transplante de células estaminais hematopoiéticas. No entanto, «o tratamento de indução poderá vir a ser útil, num futuro próximo, como endpoint substituto que facilite a aprovação mais célere de fármacos». Segundo o representante da EHA, «muitos fármacos novos, ainda em fase de testes, terão de ser associados, o mais cedo possível, a outras moléculas eficazes no combate à LMA através de vários alvos em simultâneo, em vez de se utilizarem fármacos direcionados, com um espectro estreito de atividade». A título de exemplo, Gert Ossenkoppele refere o resultado positivo de um inibidor do FLT3 (a midostaurina) em combinação com a quimioterapia standard. Embora, nas últimas duas décadas, tenham sido aprovados apenas dois fármacos para a LMA, o futuro afigura-se «brilhante». «Depois de desvendado o mecanismo biológico desta leucemia e da descoberta de novos alvos, deu-se uma “explosão” na investigação de fármacos promissores, que se encontram em fase inicial de desenvolvimento», destaca o hematologista. Além da evolução ao nível de novos fármacos, hoje, «os fatores de prognóstico determinados aquando do diagnóstico são preditivos dos resultados e a remissão completa morfológica é ainda um endpoint importante durante o tratamento». Por outro lado, «a possibilidade de definir a doença residual mínima muito abaixo dos 5% de células blásticas está a mudar o cenário da classificação de risco e já mostrou ser altamente preditiva do desfecho da LMA», afiança Gert Ossenkoppele.

Prof. Robin Foà

Biologia e tratamento da LLA Segue-se a intervenção do Prof. Robin Foà, diretor do Departamento de Hematologia da Sapienza – Università di Roma e ex-presidente da EHA, que vai falar sobre a biologia e o tratamento da leucemia linfoblástica aguda (LLA) nos adultos. «O nosso conhecimento sobre a biologia da LLA mudou muito nos últimos anos, o que se traduziu na melhoria dos resultados para certas categorias de doentes. Conseguimos melhorar o diagnóstico, que hoje é mais rápido e preciso, e identificar a afiliação de praticamente todos os casos de LLA.» Além da identificação de novas categorias de LLA, está-se a caminhar no sentido da identificação de anomalias ou mutações que não têm as típicas alterações genéticas. «Ao identificarmos novas anomalias, podemos usar as tecnologias avançadas para introduzir inibidores específicos. A imunoterapia está a tornar-se uma realidade e a associação de anticorpos com quimioterapia sistémica será, provavelmente, o tratamento mais usado no futuro», antecipa Robin Foà. Uma vez que nem todos os adultos têm a mesma biologia e que isso se traduz em diferentes grupos de risco, a necessidade de desenvolver uma estratificação mais afinada dos doentes é outro aspeto que Robin Foà vai abordar. «A genética é muito importante e há que definir subgrupos de LLA. Exemplo disso é a LLA Filadélfia positiva [Ph+], presente em 25 a 30% dos doentes adultos e


em cerca de 50% dos idosos. Hoje em dia, com os inibidores da tirosina-cinase [TKI], em monoterapia ou em associação com esteroides ou quimioterapia, conseguimos colocar em remissão quase todos os doentes.» Estudos levados a cabo em Itália demonstram que os doentes podem entrar em remissão sem a indução de quimioterapia sistémica, um avanço muito significativo, pois abre portas à possibilidade de remissão nos indivíduos muito idosos. «Conseguimos tratar dois doentes com mais de 80 anos apenas recorrendo aos TKI, o que representa uma verdadeira revolução no campo da LLA Ph+», enfatiza Robin Foà, que é defensor dos tratamentos intensivos nos mais jovens. «Esta opção, que já foi adotada há mais tempo nos doentes pediátricos, veio melhorar muito os prognósticos dos deontes entre os 18 e os 35 anos», frisa.

Deteção da doença residual Por último, o Prof. Alberto Órfão, diretor do Serviço de Citometria da Universidade de Salamanca, que vai falar sobre a biologia e a deteção da doença residual nas leucemias agudas. Referindo-se à classificação da Organização Mundial da Saúde, este especialista frisa a criação de um novo subgrupo

– a leucemia linfoblástica aguda BCR/ABL 1-like –, o que implica alguns desafios, nomeadamente devido ao facto de as técnicas de diagnóstico não estarem disponíveis em muitos laboratórios. Este especialista acredita que tal obrigará a uma discussão prática sobre como identificar concretamente este subgrupo e que estratégias terapêuticas usar. «Trata-se de um subgrupo com um comportamento parecido, a nível biológico, ao das leucemias BCR/ABL 1 e que beneficia de tratamentos semelhantes», concretiza. Alberto Órfão comentará também a monitorização da terapêutica, nomeadamente a metodologia necessária para a deteção de pequenas quantidades de células neoplásicas depois do tratamento, e o impacto que isso terá no acompanhamento destes casos. Em destaque estarão as técnicas mais idóneas para a deteção de doença residual, nomeadamente dois grupos: as técnicas moleculares e as imunofenotípicas. «Nos últimos anos, deram-se progressos importantes, que permitem uma maior sensibilidade de análise, detetando-se números ainda menores de células tumorais que possam ter resistido ao tratamento. Estas são conhecidas como as novas gerações de técnicas de sequenciamento e de citometria de fluxo.»

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Prof. Alberto Órfão

Em que medida as novas terapêuticas, como os anticorpos monoclonais e as células CAR, afetam a seleção das técnicas de monitorização do tratamento e as circunstâncias em que se deve fazer o estudo da doença residual são outros aspetos que Alberto Órfão vai abordar. «Esse procedimento deveria ser obrigatório no momento de se decidir entre a continuação de um tratamento ou a sua alteração, no final de uma terapêutica ou previamente a um transplante de precursores hematopoiéticos», remata. ND

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HOJE – Programa de Enfermagem

Cuidar o doente do corpo até à mente

O bem-estar do doente volta a estar em foco no segundo dia do Programa de Enfermagem (das 9h00 às 18h00), desta feita com a abordagem de temas como a reabilitação física e emocional dos doentes, a colocação de cateteres centrais de inserção periférica e a relevância dos cuidados paliativos. Mas os riscos psicossociais dos próprios enfermeiros também serão debatidos. por Sandra Diogo

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à Frente: Enf.os António Figueira, Graça Duarte, Aida Santos, Paulo Bessa e Sérgio Carvalho (Comissão Organizadora) Atrás: Enf.os Décio Silva, Mariana Sousa, Rui Videira (Comissão Científica), Marta Romano e André Almeida (oradores)

Programa de Enfermagem de hoje arranca com a mesa-redonda «Mente sã em corpo debilitado?», centrada na manutenção e na reabilitação do corpo e da mente dos doentes hemato-oncológicos, com a abordagem das estratégias que os enfermeiros podem adotar para promover a recuperação física e psicológica destes doentes. «A promoção da mente sã em corpo são, adequada aos objetivos para cada doente, deve ser assegurada em qualquer altura do ciclo vital», salienta a Enf.ª Catarina Simões, responsável pela Equipa de Cuidados Paliativos dos Hospitais da Luz de Póvoa de Varzim e Arrábida e moderadora desta mesa-redonda. Em alguns casos, a reabilitação passa por devolver ao doente uma capacidade funcional plena, que lhe permita retomar a normalidade na sua vida. No entanto, há casos cujos objetivos devem ser mais ajustados à realidade. «Para quem trabalha na área dos cuidados paliativos, este conceito de mente sã em corpo debilitado é entendido de uma forma muito global, ou seja, vai para além das questões relacionadas com a capacidade funcional e com o bem-estar físico, baseando-se também na necessidade de o doente ajustar o seu projeto individual de vida a uma realidade que inclui ter uma doença potencialmente fatal», frisa Catarina Simões.

Cuidar de quem cuida é o mote da mesa-redonda que se segue, intitulada «Cuidando da task force! Riscos psicossociais nos enfermeiros». O objetivo é debater as atuais condições de trabalho destes profissionais de saúde. Na opinião de Graça Duarte, enfermeira-chefe do Serviço de Hematologia Clínica do Centro Hospitalar de São João e membro da Comissão Organizadora, este assunto é pertinente, pois, «hoje em dia, tudo se conjuga para a desmotivação dos enfermeiros, com a redução das equipas, o aumento do volume de trabalho e da carga horária e o stresse que daí advém, contribuindo para o desgaste físico e psicológico». Às 14h30, começa a sessão educacional II dedicada a temas que fazem parte da terapêutica quotidiana dos doentes hemato-oncológicos. Sendo a punção periférica uma

preocupação antiga dos enfermeiros, principalmente em doentes com fragilidade capilar, os cateteres centrais de inserção periférica (PICC, na sigla em inglês) estarão em análise. «Os PICC têm demonstrado ser uma alternativa segura aos cateteres venosos centrais, com baixo perfil de infeções e complicações, de fácil manutenção e com uma melhoria estética para os doentes», refere Catarina Marques, enfermeira no Centro Ambulattório - Hospital de Dia de Hematologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e moderadora desta sessão. O regime e a segurança transfusional também serão debatidos. «Ainda que estejamos a falar de uma terapêutica vital para o doente hemato-oncológico, na União Europeia, a sua disponibilidade está dependente da dádiva voluntária, o que a torna escassa», alerta Catarina Marques. Assim, «é fundamental utilizar de forma segura, clinicamente eficaz e eficiente o sangue e seus componentes na prática diária, até porque muitos países têm dificuldade em responder às necessidades». Esta sessão educacional terminará com o tópico da prevenção de quedas, uma vez que, pela astenia e adinamia associadas ao quadro clínico e aos esquemas terapêuticos com quimioterapia, potenciadas por outros fatores como demência, idade avançada, incontinência urinária e hipotensão postural, os doentes hemato-oncológicos estão mais suscetíveis às quedas. «Utilizando a escala de Morse, o enfermeiro pode antecipar a queda e desenvolver estratégias junto do doente que terão um efeito determinante na redução da segunda causa de morte por acidente, a nível mundial», sublinha Catarina Marques. ND

Cuidados paliativos – quanto mais cedo, melhor

Também convidada a proferir a conferência «Paliação na pessoa com doença hematológica», Catarina Simões transmitirá uma mensagem clara: os cuidados paliativos não devem contemplar apenas os doentes em fase terminal. A oradora explorará os motivos pelos quais ainda não é prática generalizada facilitar o acesso dos doentes com tumores líquidos a estes cuidados numa fase precoce do tratamento. «Há evidência de que o envolvimento dos cuidados paliativos o mais precocemente possível melhora os outcomes dos doentes em tratamento curativo, como a qualidade de vida e o controlo dos sintomas. Estes cuidados também estão associados a diminuição da morbilidade nos doentes candidatos e submetidos a transplante de células hematopoiéticas», frisa a conferencista.


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ONTEM

«Como na LLC, o obinutuzumab* é mais eficaz do que o rituximab no linfoma folicular»

Novos estudos demonstram a maior eficácia do obinutuzumab* no tratamento do linfoma folicular, em comparação com o rituximab, à semelhança do que já se sabia em relação à leucemia linfocítica crónica (LLC). Este foi um dos aspetos destacados pelo Prof. John Gribben no simpósio-satélite promovido ontem pela Roche. Em entrevista ao Notícias Diárias, este hematologista no Barts Cancer Institute, em Londres, manifesta também a sua esperança de que o linfoma folicular possa ser considerado, em breve, uma doença curável. por Luís Garcia

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O tratamento do linfoma tem sido alvo de muitas inovações nos últimos anos, com o aparecimento de novos fármacos. Como antevê o futuro da terapêutica para o linfoma folicular (LF)? Após décadas em que, apesar dos fármacos de que dispúnhamos, não observámos uma melhoria da sobrevivência global, as novas terapêuticas estão, finalmente, a permitir que os doentes vivam mais tempo, com maiores intervalos de sobrevivência livre de doença. Aquilo que fez a diferença foi a otimização da utilização de anticorpos. É muito claro que a associação de quimioterapia [QT] e anticorpos é muito mais eficaz do que apenas a QT. No LF, em particular, o uso de um anticorpo de manutenção com rituximab tem sido enormemente benéfica. Agora, dispomos de um novo anticorpo monoclonal anti-CD20, o obinutuzumab, aprovado na Europa para doentes em recaída, que já está a demonstrar benefícios em doentes que não responderam ao rituximab. O que se verifica é que este anticorpo é mais eficaz do que o rituximab, como já sabíamos no caso da LLC.

ximab. Estes doentes apresentam uma sobrevivência global muito mais baixa e, até há pouco tempo, não tínhamos boas alternativas terapêuticas para estes casos. Para o estudo GADOLIN, foram recrutados doentes com linfomas de baixo grau, a maioria dos quais com LF, refratários à QT e ao rituximab. Os participantes foram divididos em dois grupos: o primeiro recebeu bendamustina em monoterapia e o outro uma associação de bendamustina com obinutuzumab. Os resultados demonstraram, de modo muito claro, uma vantagem significativa ao nível da sobrevivência livre de progressão no segundo braço. O mesmo se passou no que respeita à sobrevivência global, como será apresentado no próximo Congresso da American Society of Hematology [de 3 a 6 de dezembro, em San Diego]. A duração da resposta foi muito mais longa com o obinutuzumab, sobretudo em associação com a terapêutica de manutenção. E verificou-se outro facto interessante: os níveis de doença residual mínima foram muito mais elevados nos doentes medicados com o anticorpo. Isto mostra que estamos a conseguir respostas mais profundas e mais longas e que é possível que um grupo de doentes de mau prognóstico possa viver durante mais tempo.

O que distingue o obinutuzumab do rituximab e faz dele um anticorpo mais eficaz? Acho que o aspeto decisivo é o facto de ser concebido com manipulação de glicoengenharia para atuar nas células de modo diferente e maximizar a capacidade do sistema imunológico do próprio doente para atacar o tumor. A maioria de nós acredita que o obinutuzumab é um anticorpo melhor, porque induz a apoptose celular de modo mais direto, funcionando particularmente bem com a QT.

Acredita na possibilidade de cura para o linfoma folicular? Claro que sim. De momento, ainda temos de considerar a doença incurável, com exceção do grupo reduzido de doentes que podem ser alvo de transplante alogénico, mas penso que estamos muito perto de chegar à cura. Na LLC, ao que parece, já conseguimos curar alguns subgrupos de doentes, pelo que tenho uma grande esperança de que consigamos o mesmo no linfoma folicular. ND * Este medicamento está sujeito a monitorização adicional. Isto irá permitir a rápida identificação de nova informação de segurança. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas. As suspeitas de reações adversas poderão ser notificadas à Roche (telefone: 214 257 075; e-mail: amadora.farmacovigilancia@ roche.com) ou ao INFARMED, I.P. (telefone: 217 987 373; Linha do Medicamento: 800 222 444 (gratuita); e-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt; mais informações disponíveis em www.infarmed.pt).

Como comenta os resultados do estudo GADOLIN, publicado recentemente, do qual o Prof. Gribben é um dos autores, nos doentes que não respondem à quimioterapia standard? A maioria das pessoas com LF responde à terapêutica e obtém remissões longas. Mas cerca de 20% dos doentes recaem pouco depois de serem submetidos a QT e têm recidivas durante a manutenção com ritu-

O Dr. Fernando Príncipe foi o moderador do simpósio-satélite da Roche, que teve como orador o Prof. John Gribben


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A exposição técnica conta com a participação de 20 empresas, que aqui apresentam as mais recentes novidades da indústria farmacêutica e de equipamentos

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tologia está representada em 102 pósteres A produção de trabalhos científicos em Hema re em «horário nobre» decor o ntaçã aprese e 30 comunicações orais, cuja

INTERVENIENTES NA LIÇÃO ABEL SALAZAR: Profs. José Eduardo Guimarães (moderador), António Coimbra, Maria de Sousa (oradores) e António Parreira (moderador) O Prof. John Gribben orientou o doutoramento da Dr.ª Rita Coutinho no Barts Cancer Institute, entre 2010 e 2014. Ontem, no final da sua Lição, o hematologista inglês surpreendeu-a, ao oferecer-lhe um exemplar da tese que ela desenvolveu, intitulada «Biomarcadores do tumor e do microambiente em linfomas B difusos de grandes células»

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publicidade 19 de novembro de 2016

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