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23.ª Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) | www.sph.org.pt | Publicação de distribuição gratuita SOCIEDADE PORTUGUESA DE HEMATOLOGIA
Reunião Híbrida PRESENCIAL E ONLINE
5.ª feira
111213 novembro
ESPINHO HOTEL SOLVERDE
Do IPO do Porto: Dr.ª Ilídia Moreira (Comissão Organizadora – CO), Dr. Sérgio Chacim (CO), Dr.ª Dulcineia Pereira (Comissão Científica – CC), Dr. Ângelo Martins (CC), Dr.ª Cláudia Moreira (CC) e Dr. José Mário Mariz (CO e diretor do Serviço de Hemato-Oncologia)
11nov
Do CHVNG/E: Dr.ª Mafalda Alpoim, Dr.ª Sofia Ramalheira (oradora na reunião), Dr.ª Marta Nunes (moderadora), Dr. Henrique Coelho (CO e diretor do Serviço de Hematologia), Dr.ª Margarida Badior (CC), Dr.ª Teresa Melo (CO) e Dr.ª Isabel Cristina Ferreira (CC)
Organização a três com enfoque nos desafios da prática clínica
Do CHTMAD: Dr. Bruno Mesquita (CO), Dr.ª Rita Tenreiro (CC), Dr.ª Marisol Guerra (CC) e Dr. Manuel Cunha (CO e diretor do Serviço de Hematologia)
A Reunião da SPH 2021 foi organizada pelos Serviços de Hemato-Oncologia e Hematologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) e do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E). Em entrevista conjunta, os diretores dos três serviços falam sobre os desafios desta organização a três em tempo de pandemia e explicam a escolha dos temas do Programa Educacional, cujo principal objetivo é debater os desafios da prática clínica diária em Portugal. Aliás, esse é um fator que justifica a participação de poucos palestrantes internacionais nesta reunião (P.4-6). O estudo da hiperferritinemia (P.22), a hipocoagulação em doentes hemato-oncológicos (P.24), as anemias hemolíticas Coombs negativo e o impacto da infeção por SARS-CoV-2 nos doentes hematológicos (P.26) são os temas que inauguram o Programa Educacional da Reunião SPH 2021.
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EDITORIAL Reunião de qualidade científica indiscutível
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Bem-vindos à Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) de 2021. Este encontro tem um formato híbrido, tendo DO em conta alguns constrangimentos que todos OVA 2 LLC e/ conhecemos. da O programa científico é aliciante e desde R ec aí já cumprimento a Comissão Organizadora e a Comissão Científica pelo excelente e árduo trabalho que tiverem na montagem desta reunião, promovendo uma qualidade científica indiscutível, a que felizmente já nos apia no tratamento de doentes adultos com LLC que receberam pelo menos uma linha prévia m combinação com obinutuzumab em doentes não tratados previamente. Tirosina Cinase de Bruton. habituamos. s Therapeutic Potential in the Treatment of Chronic Lymphocytic Leukemia: A Short Review Os meus agradecimentos à Indústria Far, disponível em www.ema.europa.eu, 2020;12:2079-2085. 2. RCM de Calquence macêutica pela postura proactiva no suporte da Reunião SPH 2021, atendendo ao considerável número de simpósios e a todos os outros tipos de participação. Sem tal apoio, nunca seria possível organizar uma reunião anual desta envergadura e qualidade. ®
A SPH, como qualquer outra sociedade científica, não resistirá à erosão do tempo, se não houver uma participação efectiva dos sócios na discussão da actividade anual. Convido- a estarem presentes e a participarem na nossa Assembleia Geral
om o Resumo das Características do Medicamento zação adicional. Isto irá permitir a rápida identificação de nova informação de segurança. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas rmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos: (Tel.: +351217987373; Linha do farmacovigilancia@infarmed.pt). Calquence 100 mg cápsulas. Cada cápsula contém 100 mg de acalabrutinib. Indicações terapêuticas: Calquence em monoterapia ou em ara o tratamento de doentes adultos com leucemia linfocítica crónica (LLC) não tratados previamente. Calquence em monoterapia é indicado para o tratamento de doentes adultos ceberam pelo menos uma linha de tratamento anterior. Posologia: O tratamento com este medicamento deve ser iniciado e monitorizado por um médico com experiência na utilização recomendada é de 100 mg de acalabrutinib duas vezes ao dia (equivalente a uma dose diária total de 200 mg). O intervalo de administração da dose é aproximadamente de 12 h. nuado até progressão da doença ou toxicidade inaceitável. Ajustes de dose em caso de Trombocitopenia de Grau 3 com hemorragia,Trombocitopenia de Grau 4 ou Neutropenia de dades não hematológicas de Grau 3 ou superior: Primeira e segunda (Interromper Calquence. Depois da resolução da toxicidade para Grau 1 ou linha de base, Calquence pode ser cada 12 h); Terceira (Interromper Calquence. Depois da resolução da toxicidade para Grau 1 ou linha de base, Calquence pode ser retomado com frequência reduzida para 100 mg terações: Ver RCM para recomendações em relação à utilização de Calquence com inibidores ou indutores da CYP3A e agentes redutores da secreção gástrica. Se se esquecer de 3 h, o doente deve tomar a dose seguinte no horário habitual. Não deve ser tomada uma dose adicional para compensar uma dose esquecida. Idosos: Não é necessário ajuste de Compromisso renal: Não é necessário ajuste de dose em doentes com compromisso renal ligeiro ou moderado (depuração da creatinina superior a 30 ml/min). Deve manter-se a íveis séricos de creatinina. Calquence deve ser administrado a doentes com compromisso renal grave (depuração da creatinina < 30 ml/min) apenas se o benefício ultrapassar o risco, dados em doentes com compromisso renal grave ou em doentes a fazer diálise. Compromisso hepático: Não é recomendado ajuste de dose em doentes com compromisso hepático gh B ou bilirrubina total entre 1,5-3 vezes o LSN e qualquer AST. Nos doentes com compromisso hepático moderado monitorizar sinais de toxicidade. Não se recomenda a utilização o hepático grave (Child-Pugh C ou bilirrubina total > 3 vezes LSN e qualquer AST). Doença cardíaca grave: Os doentes com doença cardiovascular grave foram excluídos dos estudos a: A segurança e efi cácia não foram estabelecidas. Modo de administração: Via oral. As cápsulas devem ser engolidas inteiras com água aproximadamente à mesma hora todos ão devem ser mastigadas, dissolvidas ou abertas dado que pode afetar a absorção do medicamento no corpo. Contraindicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer ções especiais de utilização: Hemorragia: Os doentes a receber agentes antitrombóticos podem apresentar um risco aumentado de hemorragia. Recomenda-se precaução com rização adicional de sinais de hemorragia quando a utilização concomitante é clinicamente necessária. Varfarina ou outros antagonistas da vitamina K não devem ser administrados erar o benefício-risco de suspender Calquence pelo menos durante 3 dias antes e depois da cirurgia. Infeções: Reativação viral: Considerar profi laxia segundo os cuidados padrão ções oportunistas. Monitorizar os doentes para deteção de sinais e sintomas de infeção e tratar conforme clinicamente apropriado. Citopenias: Monitorizar a contagem sanguínea gundas neoplasias malignas primárias: Monitorizar os doentes quanto ao aparecimento de cancro da pele e aconselhar proteção da exposição solar. Fibrilhação auricular: Em doentes te o tratamento com Calquence, deve ser realizada uma avaliação completa do risco de doença tromboembólica. Em doentes com risco elevado de doença tromboembólica, deve ser ntrolado com anticoagulantes, e devem ser consideradas opções de tratamento alternativas a Calquence. Outros medicamentos: A utilização concomitante com inibidores fortes da forem utilizados a curto prazo (como anti-infeciosos até sete dias), o tratamento com Calquence deve ser interrompido. Os doentes devem ser monitorizados cuidadosamente quanto o um inibidor moderado da REUNIÃO CYP3A. Interações: A utilização concomitante com indutores fortes da atividade da CYP3A deve ser evitada. O tratamento concomitante com hipericão ORGANIZADA POR: om inibidores da bomba de protões deve ser evitada. Gravidez e amamentação: Calquence não deve ser utilizado durante a gravidez, a menos que o estado clínico da mulher exija em ser aconselhadas a não amamentar durante o tratamento com Calquence e durante 2 dias depois de receberem a última dose. Efeitos indesejáveis: RAM de doentes com dos com acalabrutinib em monoterapia: Muito frequentes: Infeção das vias respiratórias superiores; Secretariado Sinusite; Segunda Neoplasia Maligna-Primária; Neutropenia; Anemia; Cefaleia; Veranatura Conference Organizers Hemorragia/hematoma; Diarreia; Náuseas; Obstipação; Vómitos; Dor abdominal; Erupção cutânea; Dor musculosquelética;Artralgia; Fadiga; Concentração de hemoglobina diminuída; ; SPM excluindo cancro ; Plaquetas diminuídas. Frequentes: Pneumonia; Infeção do trato urinário; Nasofaringite; Bronquite; Infeções por herpesvírus; Cancro pele não melanoma Rua Augusto Macedo, n.ºda12-D - Esc. 2 • 1600-503 Lisboa brilhação/Flutter auricular; Equimoses; Hemorragia gastrointestinal; Hemorragia intracraniana; Epistaxe; Astenia. Pouco frequentes: Infeções por Aspergillus; Reativação da hepatite AM de doentes com neoplasias hematológicas malignas tratados com acalabrutinib em terapêutica associação: Tel.:de(+351) 217Muito 120 frequentes: 778 / 79 Infeção das vias respiratórias superiores; rio; Pneumonia; Segunda neoplasia maligna primária; Neutropenia; Trombocitopenia; Anemia; Cefaleia; Tonturas; Equimose; Contusão; Petéquias; Hemorragia/hematoma; Diarreia; www.sph.org.pt inal; Erupção cutânea; Dor musculosquelética; Artralgia; Fadiga; Contagem absoluta de neutrófi losgeral@sph.org.pt diminuída; Plaquetas •diminuídas; Concentração de hemoglobina diminuída. írus; Cancro da pele não melanoma; SPM excluindo cancro da pele não melanoma; Fibrilhação/flutter auricular; Equimoses; Hemorragia gastrointestinal; Epistaxe; Astenia. Pouco ogressiva; Reativação da hepatite B; Linfocitose; Síndrome de lise tumoral; Hemorragia intracraniana. Muito raros: Infeções por Aspergillus. Titular da Autorização de Introdução no rtälje, Suécia. Representante local do Titular da Autorização de Introdução no Mercado: AstraZeneca Produtos Farmacêuticos, Lda., Rua Humberto Madeira, 7, Queluz de Baixo, m novembro de 2020. Para mais informações deverá contactar o representante local do Titular da Autorização de Introdução no Mercado. Medicamento sujeito a receita ão para fi nanciamento pelo SNS. Versão 1.0 (novembro de 2020). PATROCINADORES DESTA EDIÇÃO:
Para os que não podem estar presentes, existe a possibilidade de inscrição gratuita online, que lhes permite aceder a todas as sessões e outros momentos da reunião, bem como a alguma exposição técnica. Também os
que estão presentes poderão aceder, retrospectivamente, a qualquer sessão a que não tenham assistido durante a reunião. Assim, todos os inscritos terão acesso às gravações da reunião até ao final de 2021. Aproveito para informar que, por motivos logísticos, a Assembleia Geral da SPH foi adiada por uma semana e será realizada em formato virtual. A SPH, como qualquer outra sociedade científica, não resistirá à erosão do tempo, se não houver uma participação efectiva dos sócios na discussão da actividade anual. Convido-vos a estarem presentes e a participarem na nossa Assembleia Geral. Uma boa reunião. Saudações cordiais. João Raposo Presidente da SPH
O autor deste texto opta por escrever à luz do anterior Acordo Ortográfico.
Ficha Técnica
EDIÇÃO:
Edição: Esfera das Ideias, Lda. Rua Eng.º Fernando Vicente Mendes, n.º 3F (1.º andar), 1600-880 Lisboa Tlf.: (+351) 219 172 815 / (+351) 218 155 107 • geral@esferadasideias.pt www.esferadasideias.pt • issuu.com/esferadasideias01 Direção de projetos: Madalena Barbosa (mbarbosa@esferadasideias.pt e Ricardo Pereira (rpereira@esferadasideias.pt) Textos: Luís Garcia, Madalena Barbosa, Marta Carreiro e Pedro Bastos Reis Design/Web: Herberto Santos e Ricardo Pedro Fotografia: Rui Santos Jorge
. 2730-097 Barcarena | Tel: +351 214 346 100 ial 1.500.000 € | Mat. Cons. Reg. Com. Cascais sob o N.º 502 942 240
11 de novembro de 2021
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ENTREVISTA Trazer para a Reunião da SPH os desafios da prática clínica diária Numa entrevista conjunta ao Notícias Diárias, os Drs. José Mário Mariz, Manuel Cunha e Henrique Coelho, diretores dos três serviços organizadores da Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) 2021, falam sobre o enriquecedor processo desta organização tripartida. Antes de mais, os diferentes contributos refletem-se no programa científico, que abrange várias áreas da Hematologia, desde as chamadas patologias benignas às doenças hemato-oncológicas. Os responsáveis da Comissão Organizadora reiteram a importância da partilha de experiências para a tão necessária atualização sobre as múltiplas novidades terapêuticas que surgem anualmente e para a melhoria da prática clínica em Portugal. O impacto da pandemia de COVID-19, quer na organização desta reunião quer nos respetivos serviços, também é comentado pelos três hematologistas. por Madalena Barbosa e Pedro Bastos Reis
Porque decidiram partilhar a organização desta Reunião Anual da SPH entre os Serviços de Hematologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) e do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E)?
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Dr. José Mário Mariz (JMM): A Reunião Anual da SPH tem sido organizada pelos maiores centros. Em 2013, lancei o convite ao Dr. Manuel Cunha, que prontamente aceitou que o Serviço de Hematologia Clínica do CHTMAD unisse esforços com o Serviço de Onco-Hematologia do IPO do Porto para organizar a reunião desse ano. Considerámos que seria interessante envolver centros de menor dimensão, com os quais temos trabalhado muito. Foi uma experiência muito positiva, de forma que, para esta edição, decidimos convidar também o Serviço de Hematologia Clínica do CHVNG/E, dirigido pelo Dr. Henrique Coelho. Como resultado, o programa científico saiu mais enriquecido, com temas fora do âmbito da Oncologia, no qual naturalmente estamos mais focados no IPO do Porto. Dr. Manuel Cunha (MC): Em 2013, a experiência correu inequivocamente bem. Desta vez, apesar das condicionantes da pandemia, acho que alargar a organização da reunião ao Serviço de Hematologia Clínica do CHVNG/E foi uma iniciativa inteligente, simpática e útil do Serviço de Onco-Hematologia do IPO do Porto. Pode ser que este desafio seja adotado pelos próximos organizadores. Dr. Henrique Coelho (HC): Ficámos bastante agradados e lisonjeados com o convite que o Dr. José Mário Mariz nos endereçou. A ideia é repetida, mas claro que a três tivemos a oportunidade de trazer mais inovações para este congresso. A nossa relação com o IPO do Porto é estreita pois metade da equipa de Hematologia do CHVNG/E já lá trabalhou, inclusive eu. Por outro lado, é um centro para onde referenciamos, preferencialmente, os doentes hemato-oncológicos para tratamento de quimioterapia de segunda linha e transplante medular.
Na organização conjunta, quais foram os maiores desafios e dificuldades decorrentes da pandemia? MC: Na realidade, só há pouco tempo ficou nítido que haveria condições para realizar a reunião. Necessariamente, isso traduziu-se em múltiplas dificuldades e desafios, desde logo na confirmação dos convidados. Esperamos que, para o ano, não haja este tipo de condicionantes, para que os organizadores e participantes tenham a vida mais facilitada. JMM: Obviamente que, se não estivéssemos em pandemia, ter-nos-íamos encontrado mais vezes e discutido mais os temas, em prol de um programa científico ainda melhor. Mas houve sempre um receio relativamente à possibilidade de a reunião se realizar, o que nos colocou alguns problemas, mesmo na escolha dos oradores estrangeiros.
Como operacionalizaram a organização conjunta? JMM: Começámos por desenhar o programa científico, para o qual cada centro sugeriu os temas que considerou pertinentes e, posteriormente, contactou as pessoas convidadas para as palestras e moderações. Para mim, esta é uma experiência ganhadora e, se eu voltar a estar envolvido na organização da Reunião da SPH, repetirei o modelo sem qualquer dúvida. A organização conjunta também é uma garantia de que vamos ter mais audiência, porque os três centros vão tentar envolver o maior número possível de colegas. MC: A colaboração do nosso serviço com o do IPO do Porto já existe há muitos anos ao nível do atendimento dos doentes. É evidente que os hospitais da periferia, com serviços menos diferenciados, precisam mais do apoio dos hospitais centrais e, no nosso caso, a colaboração dá-se com bastante respeito mútuo. HC: No fundo, trata-se de transpor para a Reunião Anual da SPH o que já fazemos no dia-a-dia clínico. Valorizo muito a oportunidade de termos
podido contribuir para o programa científico, propondo temas que tocam à nossa realidade e às especificidades dos hospitais distritais.
Que expectativas têm para esta Reunião? JMM: A minha expectativa é que a reunião traga algo de novo à assistência. Temos poucos palestrantes estrangeiros, porque defendo que as reuniões da SPH devem dar oportunidade aos portugueses, sejam especialistas ou internos, para participarem ativamente, apresentando a sua experiência e os trabalhos que desenvolveram ao longo do ano. MC: Precisamos, essencialmente, de reuniões de partilha de estratégias de intervenção e de experiências, com uma abordagem que procure ser distinta, analisando as questões de forma prática. Neste programa, tentámos equilibrar a apresentação das novidades dos estudos com a partilha da experiência prática, em busca de soluções para os nossos principais problemas. Temos de ir ao encontro do que interessa às pessoas que lidam com os doentes hematológicos em Portugal, através de uma abordagem mais prática. HC: No fundo, pretendemos que esta reunião reflita a realidade da Hematologia em Portugal. Claro que é importante ouvir as apresentações teóricas dos experts internacionais, mas não é menos importante discutir o que podemos fazer no nosso país, a forma como os diferentes centros abordam os problemas e o que podemos acrescentar uns aos outros.
A área da Hematologia atravessa uma efervescência de novidades terapêuticas. Como lidam com a necessidade constante de atualização? MC: A diferenciação dos hematologistas começa a ganhar algum peso, principalmente nos hospitais centrais, tal é a complexidade dos novos fármacos, que nos colocam desafios muito grandes. Os doentes estão a aceder a melhores tratamentos, mas temos de considerar que lidamos com recursos públicos, que são finitos, pelo que é necessário procurar o equilíbrio. Em Hematologia, a “ava-
lanche” de fármacos é tão grande que ainda não dominamos aqueles que passaram a ser básicos, apesar de existirem há alguns anos. HC: No nosso serviço, sobretudo na elaboração de protocolos terapêuticos e de atualização, já temos alguma subespecialização em diferentes áreas para acompanhar os avanços farmacológicos, que têm sido“gigantescos”. Apesar de tudo, penso que devemos estar felizes por poder assistir a esta revolução, pois, até há 20 anos, a nossa área quase não lograva de novidades terapêuticas.
Dr. José Mário Mariz | Diretor do Serviço de Onco-Hematologia do Instituto Português de Oncologia do Porto
ANÁLISE DO PROGRAMA CIENTÍFICO A imunoterapia com as células CAR-T é um tema incontornável na atualidade? JMM: É uma novidade em Portugal desde 2019 e, por isso, faz sentido falar sobre o tema. Neste âmbito, tem de haver referenciação, pois não podemos ter vários centros a aplicar a terapêutica com células CAR-T. Vamos abordar as indicações deste tratamento, as opções que estão a ser desenvolvidas em centros académicos, com custos mais acessíveis do que os fármacos comerciais, e os mecanismos de resistência, que estão a ser um dos principais “calcanhares de Aquiles”. No início, tínhamos muito medo da toxicidade, mas hoje preocupa-nos mais a resistência ao tratamento. Perceber os mecanismos subjacentes também nos ajuda a referenciar os doentes que mais poderão beneficiar com a terapêutica CAR-T, identificando à partida os que têm probabilidade muito baixa de resposta.
5 Dr. Manuel Cunha | Diretor do Serviço de Hematologia do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
O que se pode esperar da preleção dedicada à hiperferritinemia? HC: A hiperferritinemia pode estar associada a doenças hematológicas e não hematológicas. Esperamos que, após a preleção, seja mais fácil identificar os doentes com sobrecarga de ferro com necessidade de tratamento, antes de haver dano irreversível de órgão. Escolhemos este tema porque, para além de não ter sido abordado nas reuniões da SPH dos últimos anos, é um dos maiores pedidos de colaboração da Hematologia no nosso hospital.
Porque escolheram o diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de São João para falar sobre o impacto da infeção por SARS-CoV-2 no doente hematológico? JMM: No IPO do Porto, recorremos muitas vezes ao Prof. António Sarmento para nos ajudar em processos infeciosos mais complexos. Às vezes, ele tem a amabilidade de se deslocar ao nosso serviço para nos ajudar a resolver alguns diagnósticos. Além disso, não podíamos fugir completamente à COVID-19 no programa, por mais que estejamos cansados de ouvir falar deste tema, e o Prof. António
Dr. Henrique Coelho | Diretor do Serviço de Hematologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho Sarmento pareceu-nos a pessoa mais apropriada para esta palestra.
A hipocoagulação nos doentes hemato-oncológicos ainda é um desafio? MC: Temos uma elevada incidência de eventos trombóticos em Portugal, pelo que muitos dos doentes diagnosticadas com doença hemato-oncológica estão medicados com estratégias antitrombóticas e é importante manter os níveis
de coagulação bem controlados. Desafiámos a Dr.ª Luciana Ricca Gonçalves para nos ajudar a sedimentar conhecimentos e a afinar estratégias nos doentes que já estão anticoagulados quando recebem o diagnóstico oncológico, nos doentes que desencadeiam fenómenos trombóticos durante a quimioterapia e nos doentes cuja utilização de determinados fármacos obriga a medidas de profilaxia da trombose. 11 de novembro de 2021
ENTREVISTA Das três palestras dedicadas ao mieloma múltiplo (MM) pode-se esperar uma atualização sobre as várias novidades terapêuticas que têm surgido? JMM: Sim. De facto, surgiram muitos fármacos ultimamente e começa a ser difícil definir a combinação e a sequenciação mais adequadas. Por isso, escolhemos para palestrantes hematologistas que se dedicam ao MM, dos quais esperamos informação que nos permita escolher as melhores terapêuticas para cada situação. MC: Há um aspeto sobre o qual importa refletir: estamos a registar uma explosão na incidência de mielomas. Atrevo-me a dizer que começa a ser um problema de saúde pública, mas também financeiro. Devido à complexidade desta doença e à sobrevida dos doentes, é difícil vetar o acesso a novos fármacos. O MM, que já foi uma doença com poucas opções terapêuticas e que implicava muito sofrimento para os doentes, está a tornar-se no motor da investigação e da compreensão em Oncologia para os próximos anos.
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HC: O tratamento do MM é um dos que mais evoluiu, mas ainda persistem muitas dúvidas, nomeadamente acerca do tratamento de manutenção nos doentes de alto risco, do tratamento da doença refratária tripla ou da recaída extramedular e do papel do alotransplante.
Porque é importante discutir as anemias hemolíticas com teste de Coombs negativo? MC: Penso que todos os serviços que lidam com doentes não oncológicos enfrentam anemias
hemolíticas que nunca conseguiram entender na sua profundidade. Algumas destas anemias são isoladas, mas, muitas vezes, surgem no contexto de doença hemato-oncológica. Neste âmbito, importa também abordar o facto de o rituximab estar associado ao aparecimento de anemias hemolíticas autoimunes, mas que não têm o teste de Coombs positivo, o que obriga a raciocínios e decisões terapêuticas nem sempre fáceis. Há anemias hemolíticas que matam, se não forem corretamente abordadas e, mesmo sendo, algumas criam dificuldades muito sérias.
Relativamente ao linfoma de Hodgkin, porque decidiram abordar o papel da tomografia por emissão de positrões (PET) e dos inibidores de checkpoint? HC: Penso que a maioria dos centros já realiza PET interino na prática clínica habitual, mas este tema ainda suscita bastantes dúvidas e não é totalmente consensual. O papel da PET na determinação dos doentes que beneficiam de radioterapia nos estádios iniciais, ou na deteção precoce dos doentes de alto risco nos estádios avançados, é essencial para que possamos melhorar a sobrevida dos doentes e reduzir os efeitos adversos dos tratamentos instituídos. Quanto à escolha do tema dos inibidores do checkpoint, deve-se ao facto de não existir uma boa terapêutica para os doentes com linfoma de Hodgkin em recaída ou refratário que realizam quimioterapia e não são elegíveis para
Destaques da entrevista conjunta com os Drs. José Mário Mariz, Manuel Cunha e Henrique Coelho
transplante. Os inibidores do checkpoint, como o pembrolizumab ou o nivolumab, são novas terapêuticas que poderão dar resposta a estes casos mais complexos.
Porque acharam pertinente discutir as indicações para alotransplante haploidêntico? JMM: Apesar de o recurso aos dadores não aparentados ter melhorado muito a possibilidade de encontrar um dador compatível, ainda não o conseguimos para todos os doentes. Muitas vezes, o dador não aparentado não está tão disponível e o tempo de espera entre a doação e a realização do transplante pode comprometer o futuro do doente. A possibilidade de realizar transplante haploidêntico, de um familiar próximo, que está mais disponível para doar as células no tempo oportuno, é um aspeto muito importante para o doente beneficiar do transplante com intuito curativo.
A apresentação da produção científica nacional volta a ter destaque, com as comunicações orais e as discussões dos pósteres a decorrerem em “horário nobre” da reunião, na tarde de sexta-feira. Porquê? JMM: Mantivemos esse aspeto importante das reuniões da SPH, porque a apresentação destes trabalhos é a melhor forma de percebermos o que está a ser feito nos vários hospitais do país, as áreas que levantam mais dúvidas e como as podemos superar. Foram submetidos mais de 100 trabalhos, dos quais se selecionaram 16 para apresentação sob a forma de comunicação oral. ND
Como analisam o impacto da pandemia na formação dos internos e nos Serviços de Hematologia que dirigem?
JMM: No tratamento dos doentes, pelo menos no Serviço de Onco-Hematologia do IPO do Porto, o impacto não foi muito grande. O mesmo já não posso dizer a propósito da formação dos internos, que foi muito prejudicada. Por um lado, nas piores fases da pandemia, não conseguimos receber tantos internos como habitualmente; por outro lado, os internos também estiveram muitas vezes a assegurar os cuidados a doentes com COVID-19, portanto, perderam alguma formação específica de Hematologia. A meu ver, esse foi o maior problema decorrente da pandemia. Obviamente que os doentes tiveram um atendimento diferente, não podiam ter visitas nem acompanhantes no internamento e na consulta, mas a pandemia não impactou negativamente o controlo das doenças no IPO do Porto. HC: No nosso caso, tivemos uma redução de cerca de um terço das consultas de hematologia benigna. Em relação à patologia maligna, os doentes que já estavam no serviço continuaram a ser observados. No início, tínhamos muitas incertezas relativamente aos doentes com COVID-19 que se mantiveram positivos durante vários meses. Não sabíamos se podíamos iniciar tratamento, pelo que, em alguns doentes, não o fizemos. Em relação ao diagnóstico, os doentes chegaram-nos em fases bastante mais avançadas e a maioria pelo Serviço de Urgência, porque a referenciação foi significativamente afetada. Como não temos internos, os especialistas integraram as escalas diurnas e noturnas de atendimento aos doentes com COVID-19. Para 2022, temos os objetivos de passar a ter internamento e obter idoneidade formativa para recebermos internos. Com essas duas conquistas, o nosso serviço crescerá e poderemos atender mais doentes e implementar melhorias. MC: Do ponto de vista humano, foi uma situação muito difícil. A COVID-19 condicionou-nos estratégias e levou à morte de muitos doentes. Por outro lado, os atrasos no diagnóstico, em muitos casos, tiveram consequências sérias no estudo de gamopatias e de algumas alterações. Quanto à formação que asseguramos a internos de Medicina Interna de vários hospitais, fomos respondendo sem grandes ruturas, exceto na fase mais complexa de janeiro a abril do ano passado. Apesar de tudo, este ano, já temos números de resposta clínica acima da fase pré-pandemia, pelo que a falta de recursos humanos evidencia-se ainda mais. Os profissionais de saúde têm de ser mais bem remunerados. A modalidade de pagamentos atual é inaceitável e destruidora do Serviço Nacional de Saúde.
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11nov
5.ª f e ira
11h00 – 12h00, sala A: SIMPÓSIO GILEAD
Dois anos de terapêutica CAR-T em Portugal
A experiência nacional com a terapêutica CAR-T, que conta pouco mais de dois anos, é debatida hoje, no simpósio organizado pela Gilead. Além da partilha dos resultados dos dois centros que têm realizado este tratamento em Portugal (IPO do Porto e IPO de Lisboa), serão ouvidas as perspetivas de alguns hematologistas de centros referenciadores, bem como do mais recente centro de tratamento (Hospital de Santa Maria).
O
por Luís Garcia
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Prof. Manuel Abecasis, que modera a primeira parte do simpósio, dedicada à partilha da experiência dos dois centros que realizam atualmente tratamento com CAR-T (células T com recetor de antigénio quimérico), mostra-se otimista com o cenário nacional. No entanto, o ex-diretor do Departamento de Hematologia e do Programa de Transplantação de Medula Óssea do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa lamenta a falta de capacidade de resposta atual para utilizar mais esta “terapêutica verdadeiramente inovadora e com potencial curativo em doentes para os quais não existem mais opções”. “Este tratamento é muito exigente em termos de apoio e vigilância dos doentes, exigindo recursos humanos e capacidade instalada que, neste momento, são insuficientes em Portugal”, refere. Segundo Manuel Abecasis, está a ser discutida a formação de um grupo nacional de terapias celulares, mas “seria bom congregar os especialistas que tratam estes doentes no terreno e, no âmbito da Sociedade Portuguesa de Hematologia e do Colégio da Especialidade de Hematologia da Ordem dos Médicos, conseguir criar uma convergência de interesses para comunicar com o Ministério da Saúde e a Administração Central do Sistema de Saúde, constituindo-se como força de pressão com credibilidade profissional”. O Dr. José Mário Mariz, diretor do Serviço de Onco-Hematologia do IPO do Porto, que vai apresentar os resultados de 16 doentes tratados com axi-cel no seu centro, considera a experiência “muito animadora e sobreponível ao esperado”. Para o hematologista, o maior desafio na utilização desta terapêutica é a seleção dos doentes, de modo a não realizar tratamentos em vão, desperdiçando recursos, mas também a não excluir os doentes que mais podem beneficiar da terapêutica CAR-T. “Inicialmente, pensava que o mais complicado seria a gestão da toxicidade, mas, embora seja algo a que devemos estar muito atentos, a toxicidade aguda tem sido controlada e não temos registado grandes problemas a este nível, o que é uma boa surpresa.” Os dados relativos à experiência do IPO de Lisboa serão apresentados pela Dr.ª Gilda Teixeira, hematologista neste centro. Segundo a Prof.ª Maria Gomes da Silva, diretora do Serviço de Hematologia do IPO de Lisboa, “o programa de tratamento com CAR-T tem corrido bem”, apesar das atribulações da pandemia. “Dentro da complexa vida hospitalar, com as limitações que todos conhecemos, temos conseguido seguir em frente”, afirma a hematologista, salientando o “conforto muito grande” relacionado com o facto de, até ao
momento, não ter havido qualquer morte por toxicidade. “Até os casos que supúnhamos mais difíceis de gerir acabaram por revelar-se bem mais simples”, nota.
Experiência dos centros referenciadores Maria Gomes da Silva modera a segunda parte do simpósio, na qual intervêm hematologistas de diferentes centros referenciadores para tratamento com CAR-T: Dr.ª Fernanda Trigo (diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Centro Hospitalar Universitário de São João – CHUSJ), Dr.ª Marília Gomes (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra), Dr.ª Celina Afonso (Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental/ /Hospital de São Francisco Xavier – CHLO/HSFX) e Dr. João Raposo (diretor do Serviço de Hematologia e Transplantação de Medula do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte/ Hospital de Santa Maria – CHULN/HSM). Embora considere que a referenciação para este tratamento tem sido simples, dado o facto de, até há pouco tempo, só existirem dois centros qualificados para o efeito – o CHULN/HSM é o terceiro –, Maria Gomes da Silva identifica um aspeto decisivo: a rapidez. “É muito importante que os doentes candidatos a CAR-T, ou com probabilidade de o serem, sejam rapidamente sinalizados ao centro de tratamento.” A Dr.ª Fernanda Trigo também considera que o processo tem corrido bem, dada “a resposta eficaz” que o IPO do Porto deu aos três doentes referenciados pelo CHUSJ em 2021. “O regresso dos doentes ao hospital referenciador também não foi problemático, uma vez que o seguimento não difere, em grande medida, do que é feito a um doente transplantado.” Na opinião da hematologista, o tempo entre a colheita das células e a sua infusão é um aspeto a melhorar, para não perder doentes nesse intervalo. Para a Dr.ª Celina Afonso, um ponto central na abordagem dos doentes candidatos é a gestão das suas expectativas, que, em muitos casos, são extremas: “Os doentes ou acham que é um procedimento demasiado agressivo e arriscado, ou que é uma cura milagrosa.” Nenhum dos cenários é verdadeiro, mas a hematologista afirma que as CAR-T “trazem uma possibilidade de tratamento, com maior sobrevivência e qualidade de vida para doentes que já não têm outras opções”. ND
Mais opiniões em vídeo sobre os dois anos de experiência com a terapêutica CAR-T em Portugal
11nov
5.ª f e ira
12h00 – 13h00, sala B: SIMPÓSIO SANOFI GENZYME
Novas opções terapêuticas no MM
As intervenções no simpósio que começa às 12h00, na sala B, vão centrar-se em dois ensaios clínicos que avaliaram o anticorpo monoclonal anti-CD38 isatuximab no tratamento de doentes com mieloma múltiplo (MM) em duas combinações: com pomalidomida-dexametasona, no estudo ICARIA1, e com carfilzomib-dexametasona, no estudo IKEMA2. Os oradores participaram em cada um destes estudos e vão partilhar essa experiência. por Luís Garcia
O 10
ICARIA1 é um ensaio clínico de fase III que comparou o tripleto isatuximab-pomalidomida-dexametasona (IsaPd) com o dupleto pomalidomida-dexametasona (Pd). Este estudo multicêntrico incluiu doentes com MM com uma mediana de três linhas de tratamento prévias que tivessem incluído lenalidomida e um inibidor do proteassoma. De acordo com a Prof.ª Catarina Geraldes, que vai moderar o simpósio, “os resultados demonstraram um benefício significativo nos doentes tratados com IsaPd, quer no que diz respeito à profundidade das respostas, quer em termos de sobrevivência livre de progressão (PFS)1”. Segundo a hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, “uma subanálise posterior demonstrou também resultados superiores com IsaPd nos parâmetros tempo até ao próximo tratamento e PFS23”. Além disso, uma análise da sobrevivência global demonstrou “forte tendência para um benefício de cerca de sete meses nos doentes tratados com IsaPd3”. O Dr. Rui Bergantim, que vai apresentar os resultados do estudo ICARIA1, no qual participou, destaca o aumento de cerca de quatro vezes na resposta global ao tratamento obtido com a adição do isatuximab ao regime Pd, que teve tradução na PFS1. “A maior parte dos doentes refratários a lenalidomida tem sobrevidas muito curtas, à volta de seis meses,
Comentários em vídeo aos resultados dos estudos ICARIA e IKEMA
e a combinação IsaPd permitiu uma sobrevida mediana de 11,5 meses, o que é uma melhoria clara1”, sublinha o hematologista no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto. O orador salienta também o facto de estes resultados terem sido transversais a vários subgrupos – doentes refratários à lenalidomida, doentes com mais de 75 anos, doentes com lesão renal e doentes com alto risco citogenético. Para isso contribui o “bom perfil de segurança do protocolo IsaPd, que os doentes conseguem tolerar e cumprir”. O CHUSJ incluiu dois doentes no estudo ICARIA e Rui Bergantim pôde comprovar a facilidade de utilização do isatuximab, sobretudo tendo em conta a experiência que os hematologistas já têm com outros anticorpos monoclonais. Realçando a vantagem de dispor de várias opções para a sequenciação terapêutica no MM, o hematologista considera que o tripleto IsaPd “pode ser muito atrativo, sobretudo em alguns doentes, como os idosos, pela sua facilidade de utilização e baixa toxicidade”. “Esta terapêutica também pode responder à necessidade de termos alternativa para os doentes que recaem sob lenalidomida. Por tudo isto, antevejo que, quando estiver disponível na prática clínica, será um dos protocolos utilizados com frequência”, afirma Rui Bergantim.
Destaques do estudo IKEMA O IKEMA2 é um ensaio clínico de fase III que comparou o tripleto isatuximab-carfilzomib-dexametasona (IsaKd) com o dupleto carfilzomib-dexametasona em doentes com MM em recidiva/refratário (R/R) submetidos entre uma a três linhas de tratamento prévias. Catarina Geraldes explica que, no grupo tratado com IsaKd, cerca de 40% dos doentes alcançaram resposta completa, versus 28% com Kd. “Também se verificou um benefício no que respeita à doença residual
não detetável, que foi atingida em 30% dos doentes tratados com IsaKd, versus 13% com o dupleto2”, sublinha. Segundo Catarina Geraldes, “o benefício da combinação IsaKd foi consistente em vários subgrupos de doentes”, nomeadamente os idosos com idade igual ou superior a 70 anos, os doentes de alto risco citogenético e os doentes com lesão renal. “Em todos estes grupos, o perfil de segurança do tripleto foi aceitável, com uma incidência de efeitos adversos graves semelhante nos dois braços do estudo2”, refere a moderadora. O Dr. Albert Oriol, hematologista no Hospital Germans Trias i Pujol, em Barcelona, que participou no IKEMA e incidirá a sua comunicação neste estudo, salienta duas grandes conclusões:“A combinação tripla é superior à dupla no contexto R/R. Quando ocorre a recaída e utilizamos fármacos distintos dos da primeira linha, o facto de o doente ser refratário a bortezomib ou lenalidomida não é muito relevante2. Este estudo impulsiona a recomendação de que o tratamento de segunda linha seja distinto do de primeira e que seja utilizada uma combinação tripla até à progressão.” Albert Oriol salienta também a tolerabilidade de IsaKd, mesmo em doentes de idade muito avançada. “Este é um tratamento que se pode manter durante muito tempo, até à progressão da doença. Do ponto de vista clínico, é muito útil dispor de um fármaco que podemos utilizar por um longo período, uma vez que é bem tolerado2”, diz o hematologista, revelando que alguns dos doentes incluídos pelo Hospital Germans Trias i Pujol no IKEMA se mantêm em tratamento com IsaKd ininterruptamente há quase quatro anos. ND Referências: 1. Attal M, et al. Isatuximab plus pomalidomide and low-dose dexamethasone versus pomalidomide and low-dose dexamethasone in patients with relapsed and refractory multiple myeloma (ICARIA-MM): a randomised, multicentre, open-label, phase 3 study. Lancet. 2019;394(10214):2096-107. 2. Moreau P, et al. Isatuximab, carfilzomib, and dexamethasone in relapsed multiple myeloma (IKEMA): a multicentre, openlabel, randomised phase 3 trial. 2021;397(10292):2361-71. 3. Richardson PG, et al. Updates from ICARIA-MM, a phase 3 study of isatuximab (Isa) plus pomalidomide and low-dose dexamethasone (Pd) versus Pd in relapsed and refractory multiple myeloma (RRMM). J Clin Oncol. 2021;39(15):8017.
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11nov
5.ª f e ira
16h00 – 17h00, sala A: SIMPÓSIO JANSSEN
Daratumumab na primeira linha do tratamento do mieloma múltiplo
“Darzalex® na primeira linha: que combinação para que doentes?” é o mote do simpósio moderado pela Prof.ª Catarina Geraldes, com a apresentação da Prof.ª María-Victoria Mateos. Em destaque estarão os benefícios de utilizar daratumumab em combinação com bortezomib, melfalano e prednisona (VMP) ou com lenalidomida e dexametasona (Rd) no tratamento de primeira linha dos doentes com mieloma múltiplo não candidatos a transplante. por Madalena Barbosa e Pedro Bastos Reis
Prof.ª Catarina Geraldes
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Prof.ª María-Victoria Mateos
e modo a escolher a melhor terapêutica para um doente recém-diagnosticado com mieloma múltiplo (MM), o primeiro passo é perceber se o doente é ou não elegível para transplante autólogo de células progenitoras hematopoiéticas. No caso dos doentes que não são elegíveis, a adição do anticorpo monoclonal anti-CD38 daratumumab às combinações terapêuticas standard, em primeira linha, constitui um avanço significativo no tratamento destes doentes. “As combinações com daratumumab demonstraram prolongar, de uma forma muito significativa, tanto a sobrevivência livre de progressão [PFS] como a sobrevivência global [OS] dos doentes com MM não candidatos a transplante”, afirma a Prof.ª María-Victoria Mateos, diretora do Programa de Mieloma e coordenadora da Unidade de Ensaios Clínicos do Departamento de Hematologia do Hospital Universitário de Salamanca. E acrescenta:“O daratumumab combina bem com qualquer um dos fármacos convencionais que temos vindo a utilizar no tratamento de primeira linha do MM.”
Segundo pormenoriza a Prof.ª Catarina Geraldes, hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, no tratamento de primeira linha dos doentes com MM não elegíveis para transplante, têm sido utilizadas, sobretudo, duas combinações terapêuticas: bortezomib, melfalano e prednisona (VMP) ou lenalidomida e dexametasona (Rd). Em ambos os esquemas,“a adição de daratumumab demonstrou benefícios ao nível da qualidade das respostas, da PFS e da OS”. O ensaio clínico ALCYONE1 demonstrou superioridade ao nível da OS com daratumumab adicionado ao esquema VMP (D-VMP), versus apenas VMP.“Após um seguimento de 40 meses, verificou-se uma redução de cerca de 40% no risco de mortalidade dos doentes tratados com D-VMP1”, sublinha a moderadora. Já no ensaio clínico MAIA2, que comparou daratumumab combinado com Rd (D-Rd), versus apenas Rd,“verificou-se uma melhoria significativa da PFS mediana aos 48 meses nos doentes tratados com D-Rd (60% versus 38%)2”. Também nos doentes de alto risco se observou vantagem na PFS mediana (45,3 meses nos doentes tratados com D-Rd, versus 29,6 meses com Rd). É de notar que“este grupo de doentes com MM é dos que mais podem beneficiar da associação do anticorpo monoclonal anti-CD38 ao tratamento de primeira linha”, diz Catarina Geraldes. No estudo MAIA2 também se observou uma redução de 47% no risco de morte ou progressão da doença nos doentes tratados com D-Rd. A moderadora destaca ainda que os doentes com terapêutica D-Rd“alcançaram taxas de doença residual mínima não detetável de cerca de 31%, comparativamente a 10% nos doentes tratados com o dupleto Rd, ou seja, resultados três vezes superiores”.
Benefícios verificados na prática clínica Segundo María-Victoria Mateos, os resultados dos estudos ALCYONE1 e MAIA2 são “os melhores
já verificados em ensaios clínicos com doentes de diagnóstico recente de MM e não candidatos para transplante”. E concretiza: “Quando se combina o daratumumab com o esquema VMP, a PFS mediana é superior a três anos; quando se combina com Rd, o benefício é ainda maior, com uma PFS mediana superior a cinco anos.” A hematologista espanhola dá conta que, na sua prática clínica, “um elevado número de doentes alcançou resposta completa na doença residual mínima negativa com D-VMP”, destacando ainda o perfil de segurança adequado deste quadrupleto. “Os doentes podem estar em tratamento o tempo que for necessário. Poucos ou praticamente nenhuns doentes precisam de descontinuar D-VMP por efeitos adversos, o que nos permite observar os benefícios do ponto de vista da eficácia”, sublinha. Nesse sentido, María-Victoria Mateos defende que, sempre que possível, deve-se optar pela combinação de daratumumab com Rd ou VMP numa fase inicial do tratamento do MM. “Se reservamos este anticorpo monoclonal para a recaída, há a possibilidade de o doente não chegar a essa fase. Portanto, há que utilizá-lo em primeira linha”, afirma. A preletora realça ainda as vantagens da terapêutica D-Rd nos doentes mais velhos, nos quais o objetivo principal é conseguir uma resposta adequada, com bom perfil de segurança e o menor impacto possível na qualidade de vida. “Muitos dos doentes com MM tratados com D-Rd cumprirão as suas expectativas de vida”, conclui. ND 1. Mateos MV, et al. Overall survival with daratumumab, bortezomib, melphalan, and prednisone in newly diagnosed multiple myeloma (ALCYONE): a randomised, open-label, phase 3 trial. Lancet. 2020;395(10218):132-141. 2. Facon T, et al. Daratumumab, lenalidomide, and dexamethasone versus lenalidomide and dexamethasone alone in newly diagnosed multiple myeloma (MAIA): overall survival results from a randomised, open-label, phase 3 trial. Lancet Oncology. 2021;22(11):1582-1596.
Comentários em vídeo sobre o benefício de incluir daratumumab na primeira linha terapêutica do mieloma múltiplo
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11nov
5.ª f e ira
15h00 – 16h00, sala A: SIMPÓSIO BINDING SITE
Novas tecnologias de diagnóstico e seguimento do mieloma múltiplo
Os avanços na deteção de alta sensibilidade do componente monoclonal em mieloma múltiplo, sobretudo com recurso a tecnologias de espectrometria de massas para quantificara proteína monoclonal, e as evidências científicas em torno da utilidade do teste Hevylite® são os pontos-chave do simpósio organizado hoje pela Binding Site. por Pedro Bastos Reis
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Prof.ª Cristina João
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este simpósio moderado pela Dr.ª Fernanda Trigo, diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, a Prof.ª Cristina João começará por abordar os desenvolvimentos tecnológicos dos últimos anos na deteção de alta sensibilidade do componente monoclonal em doentes com mieloma múltiplo (MM). A hematologista e investigadora principal no Centro Clínico da Fundação Champalimaud, em Lisboa, incidirá, sobretudo, na “deteção de proteínas séricas de imunoglobulinas monoclonais através de tecnologias de espectrometria de massa”. Este recurso está a ser alvo de ensaios clínicos e “poderá ficar brevemente disponível na prática clínica”. Entre as novas tecnologias, Cristina João destaca a cromatografia líquida e a utilização de métodos automatizados com a utilização de beads cobertas com anticorpos específicos para cada componente monoclonal. Sublinhando que o objetivo principal no tratamento do MM é aumentar a sobrevivência global dos doentes, alcançando remissões completas com doença residual mínima negativa, Cristina João indica que, atualmente, a avaliação do estado da doença inclui técnicas baseadas em eletroforese dos componentes séricos e/ou urinários, bem como aspiração medular e biópsia osteomedular para estudo das células clonais, daí a importância dos novos métodos. “Estamos a falar da utilização de novas tecnologias em biópsias líquidas, que
SAVE THE DATE
Dr.ª Fernanda Trigo
nos darão a mesma noção da profundidade de resposta que atualmente temos com a avaliação dos plasmócitos clonais, quer por técnicas de next generation flow (NGF) quer por técnicas de next generation sequencing (NGS), ambas de alta sensibilidade”, concretiza Cristina João. Na sua preleção, que também abordará as biópsias líquidas, a hematologista vai referir outros marcadores de diagnóstico e seguimento dos doentes com MM, nomeadamente o ADN circulante livre de células e as vesículas extracelulares, assim como novos marcadores radioisótopos para utilização em métodos de imagem.“Se tivermos acesso aos produtos do tumor que circulam no sangue periférico e se os conseguirmos avaliar com elevada sensibilidade, poderemos dispor de tanta ou até mais informação válida do que dispomos atualmente com a aspiração medular”, conclui Cristina João.
Hevylite® no seguimento dos doentes com mieloma múltiplo Na preleção seguinte, o Dr. Rui Bergantim, hematologista no CHUSJ, vai apresentar dados de vida real sobre o seguimento dos doentes com MM através do Hevylite®. “Trata-se de um teste serológico de sangue periférico, pouco invasivo e que pode ser feito aquando da colheita para outras análises na avaliação do MM. O Hevylite® ajuda-nos a quantificar a cadeia pesada envolvida no MM, o que é particularmente útil nos mielomas IgA, IgG e IgM, sobretudo nos casos em que existe um
Dr. Rui Bergantim
componente monoclonal muito baixo e difícil de quantificar”, explica o orador. Outra vantagem do Hevylite® é a possibilidade de quantificar e avaliar a imunoparesia de uma forma mais sensível do que o conceito clássico da mesma, sendo que este teste também permite“monitorizar a evolução do doente com MM e, assim, avaliar tanto a resposta ao tratamento como a progressão da doença”. Sustentado nos dados de vida real do CHUSJ no seguimento de doentes com MM, Rui Bergantim afirma que o Hevylite® tem um papel crucial na deteção precoce de recidivas/progressão do MM, podendo levar a mudança de terapêutica.“É importante analisarmos os resultados deste teste a cada momento da avaliação do doente. Perante uma subida do rácio do Hevylite®, importa avaliar se há sinais de alerta ou se essas alterações já constituem uma progressão”, aconselha. Na presença de sinais de alerta,“deve-se apertar a vigilância dos doentes, principalmente nos casos de mieloma com baixa carga do componente monoclonal difícil de quantificar, que exigem um seguimento mais regular do que apenas a cada dois ou três meses”. Caso se confirme a progressão do MM, deve-se“avançar rapidamente para a alteração da terapêutica”, remata Rui Bergantim. ND Destaques das entrevistas em vídeo com a Prof.ª Cristina João e o Dr. Rui Bergantim
er evitada. O tratamento concomitante com hipericão avidez, a menos que o estado clínico da mulher exija PUBLICIDADE dose. Efeitos indesejáveis: RAM de doentes com asia Maligna Primária; Neutropenia; Anemia; Cefaleia; gia; Fadiga; Concentração de hemoglobina diminuída; Cancro da pele não melanoma; SPM excluindo cancro ntes: Infeções por Aspergillus; Reativação da hepatite o frequentes: Infeção das vias respiratórias superiores; ontusão; Petéquias; Hemorragia/hematoma; Diarreia; iminuídas; Concentração de hemoglobina diminuída. Hemorragia gastrointestinal; Epistaxe; Astenia. Pouco Aspergillus. Titular da Autorização de Introdução no cos, Lda., Rua Humberto Madeira, 7, Queluz de Baixo, dução no Mercado. Medicamento sujeito a receita
11nov
5.ª f e ira
17h30 – 18h30, sala A: SIMPÓSIO ABBVIE
Resposta abrangente na leucemia linfocítica crónica
O simpósio organizado pela Abbvie vai centrar-se no papel do venetoclax no tratamento da leucemia linfocítica crónica (LLC), quer na indicação de primeira linha, que já está aprovada na União Europeia, quer no contexto recidivante/refratário (R/R), com a apresentação dos dados mais recentes.
A
por Luís Garcia
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primeira parte do simpósio, dedicada à utilização deste inibidor de BCL-2 em primeira linha terapêutica da LLC, será assegurada pelo Dr. José Pedro Carda, hematologista no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, que vai apresentar os principais resultados do estudo CLL141. “Este ensaio clínico de fase III levou à aprovação do venetoclax em combinação com obinutuzumab para tratamento de doentes com LLC não previamente tratados, sobretudo no grupo não fit, ou seja, doentes com comorbilidades ou sem condições físicas para tolerar a imunoquimioterapia convencional”, contextualiza o orador. “O CLL14 demonstrou uma eficácia importante do tratamento com venetoclax em primeira linha, com sobrevivências livres de progressão (PFS, na sigla em inglês) e sobrevivências globais (OS) muito satisfatórias e positivas a longo prazo. Todos os grupos do estudo (de risco standard, alto risco ou muito alto risco) apresentaram uma vantagem na PFS e na OS no braço tratado com venetoclax/obinutuzumab, versus o braço de clorambucilo/ obinutuzumab1”, explica José Pedro Carda.
Destaques do estudo MURANO a 5 anos
• Os doentes tratados com venetoclax/ /rituximab apresentaram uma redução de 60% do risco de morte, em relação ao grupo tratado com bendamustina/rituximab (HR: 0.40)3; • A sobrevivência livre de progressão foi de 53,6 meses no grupo de venetoclax/rituximab, versus 17 meses no grupo de bendamustina/ /rituximab3; • A obtenção de doença residual mínima (DRM) indetetável associou-se a maior sobrevivência3.
Nos doentes de risco standard, a PFS aos quatro anos foi superior a 85%. “Também os doentes com disrupção no gene TP53 e na IgHV não mutada, que classicamente têm um mau prognóstico, beneficiaram com a combinação venetoclax/obinutuzumab, com uma mediana de PFS altamente satisfatória (49 e 57 meses, respetivamente), o que significa que podemos tratar os doentes durante 12 meses, seguindo-se um período sem progressão (e sem tratamento) superior a três anos”, sublinha o hematologista. Este tempo de tratamento limitado a 12 meses é, aliás, uma das potencialidades que José Pedro Carda mais valoriza na associação venetoclax/obinutuzumab. “Estamos a caminhar no sentido de estratégias terapêuticas mais eficazes, limitadas no tempo, com respostas profundas e mantidas a longo prazo”, destaca o preletor.
Resultados em contexto de recaída Na segunda parte do simpósio, o Dr. José Mário Mariz, diretor do Serviço de Onco-Hematologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, vai abordar o papel do venetoclax em contexto R/R, neste caso em associação com o rituximab nos primeiros seis meses dos 24 meses de tratamento, estratégia que foi estudada no ensaio clínico de fase III MURANO2. “Desde o início que considero o estudo MURANO muito interessante, pelo facto de o venetoclax ser um tratamento finito no tempo – apenas dois anos, ao contrário de outras terapêuticas, que são utilizadas até à
progressão da LLC. Este aspeto é bastante atrativo porque nos permite ter muitos doentes, durante vários anos, com um período livre de tratamento muito aceitável, o que melhora a sua qualidade de vida e lhes permite reduzir as idas ao hospital, ao contrário do que acontece com as terapêuticas contínuas, que também estão associadas a um risco crescente de efeitos laterais2”, destaca o orador. Outro aspeto merecedor de realce, na opinião de José Mário Mariz, é o facto de o venetoclax ter demonstrado obter “respostas profundas e completas, até haver um desaparecimento da doença, pelo menos no que é mensurável, numa percentagem significativa de doentes2”. O protocolo venetoclax/rituximab entrou na prática clínica do IPO do Porto há pouco mais de seis meses, pelo que ainda não se realizou uma análise consolidada dos resultados. No entanto, a experiência de mundo real já demonstra que “a generalidade dos doentes responde bem ao tratamento e a carga tumoral diminui muito rapidamente com esta terapêutica”. Outro dado positivo, segundo José Mário Mariz, é a “toxicidade bastante aceitável do venetoclax, em linha com as outras terapêuticas utilizadas na LLC”, sem surpresas em relação aos dados do ensaio clínico. ND Referências: 1. Al-Sawaf O, et al. Venetoclax plus obinutuzumab versus chlorambucil plus obinutuzumab for previously untreated chronic lymphocytic leukaemia (CLL14): follow-up results from a multicentre, open-label, randomised, phase 3 trial. Lancet. 2020;21(9):1188-1200. 2. Seymour JF, et al. Venetoclax–Rituximab in Relapsed or Refractory Chronic Lymphocytic Leukemia. N Engl J Med. 2018;378:1107-20. 3. Kater AP, et al. Five-year analysis of Murano study demonstrates enduring undetectable minimal residual disease (uMRD) in a subset of relapsed/refractory chronic lymphocytic leukemia patients following fixed-duration venetoclax-rituximab therapy. Abstract 125, apresentado no Congresso ASH 2020.
O Dr. José Pedro Carda e o Dr. José Mário Mariz resumem os principais resultados do venetoclax em primeira linha e em contexto de recaída
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11nov
5.ª f e ira
18h30 – 19h30, sala A: SIMPÓSIO JANSSEN
Superar o mau prognóstico na LLC O estado mutacional do gene da região variável da cadeia pesada das imunoglobulinas (IgHV) e as alterações no gene TP53 são dois fatores de mau prognóstico nos doentes com leucemia linfocítica crónica (LLC). No simpósio que começa às 18h30, na sala A, será discutido o impacto positivo do ibrutinib nos doentes com estas características – razão pela qual, de acordo com a oradora e o moderador da sessão, é essencial estudar estas mutações em todos os doentes com LLC, de modo a selecionar a terapêutica adequada.
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por Luís Garcia
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Prof.ª Carolina Moreno, hematologista no Hospital de la Santa Creu i Sant Pau, em Barcelona, lembra que tanto o gene da IgHV não mutado como a presença de alterações no gene TP53, seja por mutação ou deleção, estão associados a progressão precoce da LLC e uma sobrevivência mais curta. “Estes fatores predizem uma resposta muito fraca aos regimes de quimioimunoterapia. Por isso, detetar a sua presença permite-nos antecipar e dirigir um tratamento específico e adaptado ao risco de cada doente. Este é um grande avanço na abordagem da LLC, uma vez que ficamos a saber, desde o início, que os doentes com fatores de mau prognóstico não vão beneficiar com a quimioimunoterapia, pelo que são candidatos a receber tratamentos biológicos dirigidos a alvos moleculares específicos”, explica a preletora. O estudo das alterações genéticas“deve ser rea-
lizado sempre antes do início da primeira linha de tratamento da LLC”. Como o estado mutacional do gene da IgHV é constante ao longo da evolução da doença, basta determiná-lo inicialmente, sem necessidade de repetir a testagem. O mesmo já não acontece com o gene TP53. “Sabemos que as alterações do gene TP53 podem ser adquiridas ao longo do tempo. Por isso, devem ser determinadas antes do início do primeiro tratamento, mas também reavaliadas após cada recaída, antes de iniciar a linha terapêutica subsequente”, indica Carolina Moreno. O Dr. José Pedro Carda, que vai moderar o simpósio, detalha os procedimentos iniciais a levar a cabo. “O primeiro passo é o estudo por FISH (sigla inglesa para hibridização fluorescente in situ), que permite perceber se o doente tem a deleção 17p. Se não tiver, devemos recorrer a técnicas de biologia molecular para saber se a TP53 está mutada. O segundo passo consiste em perceber o estado mutacional do gene da IgHV.” O hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra é categórico ao afirmar que, em 2021,“é obrigatório fazer este estudo em todos os doentes com LLC, sem exceção”. No entanto, José Pedro Carda reconhece que nem todos os centros nacionais dispõem dos meios necessários para este estudo genético, mas defende que esse não deve ser um obstáculo à sua realização. “Há que montar uma rede de referenciação e de
Ibrutinib contorna fatores de mau prognóstico
José Pedro Carda salienta que, como demonstrado no estudo RESONATE-2, “o ibrutinib permite reduzir substancialmente e até anular o impacto prognóstico do IgHV não mutado1”. E Carolina Moreno acrescenta: “Esta é uma notícia muito boa: com o ibrutinib, o estado mutacional do gene da IgHV deixa de ser um fator impeditivo de resposta ao tratamento da LLC1.” A hematologista salienta ainda os “resultados bastante promissores” do ibrutinib na primeira linha do tratamento da LLC. “Segundo um estudo de fase II2 e uma análise de doentes com alterações da TP53 tratados em primeira linha com ibrutinib, este inibidor da tirosina-cinase de Bruton [BTK] permite controlar a doença durante um longo período de tempo3. Os dados apontam que, aos seis anos, quase 70% dos doentes podem estar livres de progressão sob tratamento continuado com ibrutinib4. Isto é muito importante, uma vez que o prognóstico destes doentes era péssimo antes da introdução do ibrutinib no arsenal terapêutico da LLC”, conclui Carolina Moreno.
envio da amostra para um centro onde esta técnica esteja disponível. Até porque, considerando que a maioria dos doentes que necessitam de tratamento podem aguardar pelo resultado do referido teste, o mesmo pode ser requisitado a uma instituição exterior”, afirma. Embora os dois marcadores de mau prognóstico na LLC perfeitamente estabelecidos sejam o estado mutacional do gene da IgHV e as alterações no gene TP53, estão atualmente em estudo vários outros parâmetros que podem permitir antever que doentes poderão responder melhor ou pior a cada terapêutica. Carolina Moreno arrisca afirmar:“Provavelmente, o parâmetro que vai adquirir maior relevância num futuro próximo será o cariótipo complexo. Sabemos que os doentes com este fator são, em geral, mais resistentes ao tratamento, mas precisamos de evidência clínica prospetiva que nos permita perceber o seu valor prognóstico em relação às diferentes terapêuticas.” A este propósito, a hematologista no Hospital de la Santa Creu i Sant Pau defende a necessidade de estabelecer uma definição estandardizada de cariótipo complexo. Além disso, sublinha a importância de não adiar a opção por terapêuticas mais eficazes. “Dado que o cariótipo reflete a instabilidade genómica das células leucémicas, devemos procurar tratar os doentes com a melhor estratégia terapêutica desde o início, para evitar a evolução clonal”, remata. ND Referências: 1. Burger JA, et al. 5 years of follow-up from the phase 3 RESONATE 2 study. Leukemia. 2020;34:787-98. 2. Byrd JC, et al. Ibrutinib Treatment for First-Line and Relapsed/Refractory Chronic Lymphocytic Leukemia: Final Analysis of the Pivotal Phase Ib/II PCYC-1102 Study. Clin Cancer Res. 2020;26(15):3918-27. 3. Allan JN, et al. LongTerm Efficacy of First-Line Ibrutinib Treatment for Chronic Lymphocytic Leukemia (CLL) With 4 Years of Follow-Up in Patients With TP53 Aberrations (del(17p) or TP53 Mutation): A Pooled Analysis From 4 Clinical Trials. Blood. 2020;136(1): 23-24. 4. Munir T, et al. Final analysis from RESONATE: Up to six years of follow-up on ibrutinib in patients with previously treated chronic lymphocytic leukemia or small lymphocytic lymphoma. Am J Hematol. 2019;94(12):1353-63.
Destaques das entrevistas em vídeo com a Prof.ª Carolina Moreno e o Dr. José Pedro Carda
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12nov
6.ª f e ira
9h00 – 9h30
“Apenas 10% dos casos de elevação da ferritina estão associados a sobrecarga férrica” Com o objetivo de chamar a atenção para a necessidade de identificar a verdadeira causa da elevação da ferritina, que se deve à sobrecarga de ferro em apenas 10% dos casos, a Dr.ª Sofia Ramalheira fará amanhã uma apresentação com foco no estudo da hiperferritinemia. Nesta entrevista, a hematologista no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho revela alguns dos pontos-chave que explorará durante a sua intervenção. por Marta Carreiro libertação de radicais livres de oxigénio, que, de forma lenta e assintomática, pode danificar os mais diversos tecidos, como o fígado, o coração ou outros órgãos endócrinos, conduzindo a sintomatologia grave, que, quando surge, pode já ser irreversível.
Quais são os principais desafios do estudo da ferritina?
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A sua intervenção será dedicada ao estudo da hiperferritinemia. O que torna este tema relevante? A ferritina é um dado laboratorial solicitado com muita frequência por médicos das mais variadas especialidades, tanto em doentes internados como no âmbito da consulta. Ao passo que um valor baixo de ferritina é muito específico da carência de ferro, perante um valor elevado a interpretação não é assim tão linear. Por isso, surgem-nos muitas vezes pedidos de avaliação da hiperferritinemia, para se determinar o seu significado e com que estudo se deve prosseguir. Por outro lado, a importância do tema relaciona-se, sobretudo, com a preocupação que todos nós temos relativamente às complicações que a elevação dos níveis de ferro pode provocar a longo prazo. A sobrecarga férrica pode ser muito tóxica para o organismo, devido à
A ferritina é um marcador laboratorial pouco específico, sendo influenciado por diversos fatores. Assim, um dos principais desafios é perceber a causa da elevação da ferritina, o que nem sempre é fácil, principalmente quando as elevações são moderadas. Por exemplo, num doente com várias patologias, provavelmente, a hiperferritinemia deve-se a mais do que uma condição. Nos casos em que temos uma forte suspeita de que a elevação de ferritina estará associada à sobrecarga de ferro, devemos pedir uma ressonância magnética hepática ou cardíaca para confirmação. Contudo, temos de ponderar bem esse pedido, pois estes exames são dispendiosos e sabemos que apenas 10% dos casos de elevação da ferritina estão associados a sobrecarga férrica [ver caixa].
Quando é que deve ser pedido o estudo da hiperferritinemia? É aconselhável que a avaliação dos níveis de ferritina e de saturação transferrina seja pedida sempre que existam antecedentes pessoais ou familiares de hemocromatose, bem como se existirem condições hematológicas que cursam com diseritropoiese. O estudo da hiperferritinemia também deve ser pedido em situações em que não existe causa aparente para lesão hepática, endócrina ou insuficiência cardíaca. Nestes casos, o estudo do metabolismo do ferro pode mostrar que existe sobrecarga justificativa da sintomatologia.
A Dr.ª Sofia Ramalheira explica as condições que podem provocar a elevação da ferritina e os tratamentos adequados para cada caso, conforme a causa
O tratamento a instituir depende da existência ou não de sobrecarga de ferro? Sim. Não havendo sobrecarga de ferro, o tratamento é dirigido à condição que está a causar a elevação da ferritina, quer seja uma infeção, uma neoplasia ou uma síndrome metabólica. Em muitos casos, para que a ferritina normalize, basta introduzir alterações do estilo de vida, como a abstinência alcoólica. Se estivermos perante uma hemocromatose hereditária, o tratamento faz-se com flebotomias, que reduzem a acumulação de ferro nos órgãos. Já nas situações de sobrecarga secundária de ferro, como nos casos de diseritropoiese ou transfusões sanguíneas regulares em doentes com anemia, não sendo possível realizar flebotomia, pondera-se, caso a caso, a necessidade de instituir terapêutica com quelantes de ferro. O estudo da hiperferritinemia é essencial para conseguirmos definir que doentes beneficiam de cada tratamento. ND
SABIA QUE… …em apenas 10% dos casos referenciados à Hematologia por elevação de ferritina existe sobrecarga de ferro? Segundo a Dr.ª Sofia Ramalheira, “cerca de dois terços dos casos de elevação da ferritina devem-se à inflamação decorrente de infeções, neoplasias ou doenças autoimunes”. Nestas situações, “existe uma libertação de moléculas que leva à estimulação da produção de hepcidina e ferritina, não existindo sobrecarga real de ferro”. As alterações associadas a síndrome metabólica e o consumo de álcool são outras causas frequentes de elevação da ferritina, que, nestes casos, pode ser corrigida apenas com alterações no estilo de vida.
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12nov
6.ª f e ira
9h30 – 10h00
Desafios da hipocoagulação em doentes hemato-oncológicos
Como prevenir e tratar os eventos trombóticos em doentes hemato-oncológicos é o mote da preleção de amanhã da Dr.ª Luciana Ricca Gonçalves, imuno-hemoterapeuta e coordenadora do Centro de Aférese e Criobiologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto. As vantagens e os desafios da utilização, nestes doentes, dos anticoagulantes orais diretos, nomeadamente o apixabano, o edoxabano e o rivaroxabano, serão os pontos-chave em discussão. por Pedro Bastos Reis
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associação entre doenças hemato-oncológicas, como o mieloma múltiplo, a leucemia linfoide aguda e alguns linfomas, com a trombose é uma preocupação na abordagem a estes doentes. É por isso que Luciana Ricca Gonçalves sublinha a importância da profilaxia primária, defendendo que é fundamental avaliar o risco trombótico de cada doente, assim como o risco hemorrágico. “Decorrente das patologias e das terapêuticas instituídas, muitos doentes apresentam fatores de risco para hemorragia que devemos minimizar, como a trombocitopenia, que temos de considerar para instituir a profilaxia”, afirma a coordenadora do Centro de Aférese e Criobiologia do CHUSJ. Nos últimos anos, registaram-se avanços significativos ao nível dos fármacos anticoagulantes, nomeadamente com o aparecimento dos anticoagulantes orais diretos (DOAC, na sigla em
inglês). No entanto, nos vários ensaios clínicos, “o número de doentes hemato-oncológicos incluídos foi reduzido, o que levanta algumas reservas, sobretudo pela falta de resultados em doentes com plaquetas inferiores a 50x109/L, uma contraindicação para a sua utilização”. A escassez de evidência dos estudos “tem limitado a utilização dos DOAC nos doentes hemato-oncológicos, sobretudo devido ao receio dos médicos em utilizar estes fármacos, devido às suas interações com fármacos antineoplásicos, com impacto na eficácia e na segurança de ambos”, refere a imuno-hemoterapeuta. Luciana Ricca Gonçalves alerta que, “apesar de as heparinas de baixo peso molecular serem os fármacos hipocoagulantes mais utilizados na prevenção primária e secundária, bem como no tratamento da trombose nos doentes hemato-oncológicos, em alguns casos, também podem surgir dificuldades na sua utilização, uma vez que estes doentes podem apresentar disfunção renal grave, que obriga à monitorização da atividade anticoagulante ou mesmo à sua suspensão”. A trombocitopenia também é uma limitação à utilização das heparinas de baixo peso molecular. Além disso, “há situações em que a heparina não consegue impedir a progressão do trombo”, levando a uma anticoagulação ineficaz. Nestes casos, a monitorização assume um papel-chave e pode motivar a alteração das doses ou até da terapêutica.
Tratamento da trombose nos doentes hemato-oncológicos Segundo a Dr.ª Luciana Ricca Gonçalves, numa fase inicial do tratamento da trombose em doentes hemato-oncológicos, devem ser utilizadas as heparinas de baixo peso molecular, uma vez que “também apresentam propriedades anti-inflamatórias e antiangiogénicas vantajosas neste contexto”.
No entanto, os DOAC também estão aprovados para anticoagulação em doentes hemato-oncológicos, sendo que dois deles, o rivaroxabano e o apixabano, “não necessitam de tratamento prévio com uma heparina de baixo peso molecular”. “Perante uma trombose, podemos partir logo para estes fármacos com escalonamento de dose”, garante a imuno-hemoterapeuta, acrescentando que também o edoxabano, outro DOAC, pode ser utilizado nestes doentes, embora exigindo “pelo menos cinco dias de tratamento com heparina antes da sua utilização”. Luciana Ricca Gonçalves apresenta um cenário em que o rivaroxabano ou o apixabano podem ser bastante eficazes na prevenção e no tratamento da trombose: um doente sem trombocitopenia grave, cumpridor do tratamento e com risco trombótico aumentado, que exige um fármaco eficaz. No entanto, além da adequada adesão à terapêutica, “os doentes medicados com DOAC devem ser avaliados com alguma frequência, devido ao impacto da função renal e função hepática na metabolização destes fármacos, além da importância da monitorização das plaquetas do doente”. É também fundamental que o clínico tenha experiência no manuseamento dos DOAC. “Estes fármacos podem aumentar o risco hemorrágico, que é a sua principal complicação”, alerta Luciana Ricca Gonçalves. Para contornar esse risco, a imuno-hemoterapeuta aconselha a “criação de um perfil mais individualizado do tipo e dose a utilizar” e uma consciência de que “os doentes hemato-oncológicos tratados com DOAC necessitam de uma avaliação mais apertada. A oradora termina com a mensagem de que “seria importante a existência de uma consulta de anticoagulação dirigida a doentes com cancro e risco trombótico, que deverá ser multidisciplinar”. ND
Excertos da entrevista em vídeo com a Dr.ª Luciana Ricca Gonçalves
12nov
6.ª f e ira
10h30 – 11h00
Infeção por SARS-CoV-2 no doente hematológico
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As particularidades da infeção pelo vírus SARS-CoV-2 e da vacinação contra a COVID-19 nas pessoas com doenças do foro hematológico serão abordadas no Programa Educacional de amanhã, pelo Prof. António Sarmento, diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto. Entre outros temas, o infeciologista falará sobre a abordagem multidisciplinar a estes doentes e a importância da otimização das terapêuticas, até porque algumas interferem na eficácia das vacinas.
S
por Pedro Bastos Reis
eja em doentes com ou sem comorbilidades, sabe-se ainda pouco sobre as consequências da COVID-19, a doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. O tratamento desta infeção em pessoas com doenças do foro hematológico é particularmente desafiante e exige cuidados específicos, como explicará o Prof. António Sarmento na sua apresentação de amanhã. “Sabemos que qualquer doença subjacente ou qualquer doença crónica diminui a reserva fisiológica para lidar com a infeção. Por isso, inspira-nos muitíssimo mais cuidado a COVID-19 em doentes hemato-oncológicos, por exemplo, do que em pessoas sem comorbilidades. Ainda não conseguimos explicar exatamente porquê, mas sabemos que esta infeção potencia a gravidade das doenças coexistentes”, reitera o diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do CHUSJ. Ainda assim, António Sarmento defende que, à luz do conhecimento atual, a abordagem terapêutica da COVID-19 no doente hematológico “não deve ser diferente da que se aplica aos restantes doentes”. “Devemos reequilibrar metabóExcertos em vídeo da entrevista ao Prof. António Sarmento
lica e hidroliticamente os doentes, compensar a diabetes ou a insuficiência cardíaca e, quando necessário, recorrer ao oxigénio, que pode ser administrado por câmara nasal, máscara facial, alto fluxo ou ventilação”, resume o infeciologista. Quando esta abordagem não é eficaz,
o doente com COVID-19 deve ser encaminhado para os cuidados intensivos, o que “também se aplica aos doentes hematológicos”. António Sarmento defende um trabalho multidisciplinar na abordagem da COVID-19, sublinhando a importância de, nos doentes hematológicos, otimizar a terapêutica em parceria com os hematologistas. “A doença hematológica não é obstáculo para tratar estes doentes com tudo o que precisarem. É evidente que, caso não necessitem de cuidados intensivos, não serão admitidos nessas unidades, mas sim em enfermarias ou em unidades de cuidados intermédios. Mas, se houver a convicção de que, por exemplo, uma terapêutica intensiva com ventilação invasiva vai melhorar o seu prognóstico, então deve-se avançar”, afirma o diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do CHUSJ. O especialista chama ainda a atenção para a importância de os doentes hematológicos infetados com SARS-CoV-2 serem tratados numa “área específica”, como forma de “segurança para os outros doentes que se encontram nas unidades de Hematologia ou Hemato-Oncologia”. Quanto à vacinação contra a COVID-19, António Sarmento sublinha que os doentes hematológicos transplantados ou a tomar anticorpos monoclonais têm algumas particularidades, alertando que “a vacina tem muito menos probabilidade de ser eficaz”. Por isso, nestes casos, “deve-se fazer não um reforço, mas antes uma revacinação, isto é, partir do princípio de que a imunização não está completa”, defende. ND
Pandemia em fase “pacífica”
Questionado sobre a sua previsão quanto à evolução da pandemia, António Sarmento, que, no dia 27 de dezembro de 2020, foi a primeira pessoa a ser vacinada contra a COVID-19 em Portugal, partilha a convicção de que “os próximos tempos serão mais pacíficos”. E explica porquê: “Em primeiro lugar, apesar de ainda precisarmos de muitos conhecimentos, já aprendemos imenso e estamos muito mais seguros do que no início da pandemia. Além disso, a população já está quase toda vacinada, portanto, teremos muito menos casos de doença, que também será menos grave”, reitera. Apesar disso, o diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar Universitário de São João, que admite ter chegado a acreditar que o SARS-CoV-2 desapareceria, à semelhança do que aconteceu com outros coronavírus, mantém algumas reservas, embora com otimismo. “Os vírus têm comportamentos próprios, que estamos muito longe de entender. No entanto, mesmo que este vírus não desapareça, entrará num estado basal, com muito menos infeções e sem causar sobrecarga nos serviços de saúde.” Nesse sentido, António Sarmento não antevê que ocorra uma nova vaga de COVID-19 neste inverno, em Portugal. “É evidente que a única forma de não haver aumento de casos é ninguém contactar com ninguém, mas isso é impossível, utópico e indesejável. Temos de continuar a retoma à normalidade, estando sempre atentos à evolução do vírus”, remata.
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