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SINERGIA NA DEFINIÇÃO DE UM PROGRAMA ATUAL E COM VARIEDADE TEMÁTICA
Os diretores dos Serviços de Hematologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa e do Hospital da Luz Lisboa, respetivamente Prof.ª Maria Gomes Silva e Prof. António Almeida, explicam a importância da sinergia que estabeleceram para organizar a Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) 2022. Relativamente ao programa científico, ambos destacam a abordagem do que há de mais recente na área e o equilíbrio entre as chamadas patologias malignas e benignas da Hematologia (P.4-6). Neste primeiro dia de reunião, além dos 13 simpósios patrocinados pela indústria farmacêutica, decorrem os cursos do Grupo Português de Mieloma Múltiplo, com a abordagem das perspetivas atuais e futuras da citometria e da Medicina Molecular (P.8-9), e do Grupo Português de Linfomas, que incide nas terapêuticas inovadoras para os casos mais agressivos (P.10-11). As sessões de Enfermagem também começam hoje, com a análise da multidimensionalidade dos cuidados em hemato-oncologia e a importância das estratégicas de comunicação para os enfermeiros (P.17-19)
Alguns elementos da equipa do Serviço de Hematologia do Hospital da Luz Lisboa:
À frente – Graça André (enfermeira), António Almeida (hematologista e diretor), Paula Braga e Paulo Bernardo (hematologistas). Atrás – Maria Nazaré Rosado (farmacêutica), Marisa Falé, Christiane Monteiro (enfermeiras), Catalina Gomez (hematologista) e Andreia Colaço (farmacêutica).
Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) 2022 | www.sph.org.pt | Publicação de distribuição gratuita ACEDA À VERSÃO DIGITAL SOCIEDADE PORTUGUESA DE HEMATOLOGIA Alguns membros da equipa do Serviço de Hematologia Clínica do IPO de Lisboa (da esq. para a dta.): À frente – Soaraia Rodriges (secretária da direção), Fernanda Lopes (secretária), Maria Gomes da Silva (hematologista e diretora), Joana Desterro (hematologista e coordenadora do Laboratório de Hemato-Oncologia), Joana Lobato (hematologista) e Ana Carolina Freitas (interna de Hematologia). Atrás – Ana Filipa Moita, Albertina Nunes, Maria do Céu Trindade, Susana Carvalho (hematologistas), Amanda Lamy (interna de Hematologia), Diana Viegas, Inês Coelho, Francesca Pierdomenico (hematologistas) e Carla Silva (secretária).Programa diversificado e atual
Estreitar laços em reunião 100% presencial
Caros associados da SPH, Caros colegas,
Écom prazer que dou as boas-vindas a todos os que participam na Reunião da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) de 2022, que se realiza em Troia, entre 10 e 12 de novembro, em formato integralmente presencial, após dois anos de muitos constrangimentos e dificuldades. Este ano, a organização coube ao Serviço de Hematologia Clínica do Instituto Português de Oncologia de Lisboa.
Em relação ao programa pré-reunião, na quinta-feira, gostaria de ressal tar os cursos da responsabilidade dos Grupos Portugueses de Linfomas e de Mieloma Múltiplo, que, sem dúvida, vão enriquecer o conhecimento de quem assistir. Neste dia 10 de novembro, também podem assistir aos simpósios organizados pela indústria farmacêutica, cujos temas são muito atuais e variados, permitindo uma escolha alargada.
Já nos dias 11 e 12 de novembro, sexta-feira e sábado, as seis sessões educacionais, o Simpósio SPH-EHA, a Junior Lecture e a Lição cobrem temas também muito diversificados e atuais. Além desses momentos, teremos ainda uma mesa-redonda que nos dará a oportunidade de dis cutir o ponto de situação dos cuidados paliativos em hemato-oncologia. Como é habitual, a Reunião de Enfermagem decorre paralelamente, entre 10 e 12 de novembro, com um programa científico que também se perspetiva muito interessante.
Termino com os meus agradecimentos ao desempenho das Comissões Organizadora e Científica, bem como ao apoio da indústria farmacêutica, sem o qual não seria possível organizar um evento desta envergadura. Desfrutem da reunião!
João Raposo Presidente da SPHFicha Técnica
Secretariado Veranatura - Conference Organizers
Rua Augusto Macedo, n.º 12-D - Esc. 2 • 1600-503 Lisboa Tel.: (+351) 217 120 778 / 79 geral@sph.org.pt • www.sph.org.pt
Caros colegas e amigos,
Em nome da Comissão Organizadora, damos-vos as boas-vindas a mais uma Reunião da Sociedade Portuguesa de Hematologia. Após dois anos em que tivemos poucas oportunidades para estar juntos, é com um prazer especial que, em 2022, acolhemos a comunidade hematológica em Troia, para que, mais uma vez, possamos discutir recentes achados científicos na nossa especialidade e partilhar experiências e momentos de convívio.
O programa da reunião é abrangente, cobrindo áreas diversas da hematologia benigna e maligna. A partilha de resultados dos centros nacionais é promovida sob a forma de comunicações orais e pósteres, com amplas oportunidades de discussão entre todos. Os melhores trabalhos serão, como habitualmente, reconhecidos através da atribuição de prémios.
O programa educacional é enriquecido pela presença de peritos nacionais e internacionais em leucemias, linfomas, gamapatias monoclonais, patologias eritrocitárias e plaquetárias. Como habitualmente, escolhemos um trabalho ori ginal realizado por um dos nossos jovens hematologistas, que será apresentado durante a Junior Lecture.
Outro destaque do programa deste ano é o simpósio conjunto entre a European Hematology Association (EHA) e a Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH), com o objetivo último de aproximar as duas sociedades e promover a sintonia entre a prática da Hematologia em Portugal e na Europa. A acreditação desta reunião pelo European Board for Accreditation in Hematology (EBAH) é demons trativa desse esforço, que nos parece muito relevante para o reconhecimento e a formação contínua dos nossos internos e especialistas.
Relevamos ainda o programa científico de Enfermagem, que aborda áreas de grande interesse para a prática da Hematologia atual, integrando conceitos diversos, que contribuem para a multidisciplinaridade da nossa reunião.
Desejamos a todos uma reunião proveitosa e rica em momentos que permitam estreitar os laços entre todos os profissionais motivados pela melhoria contínua da Hematologia em Portugal.
Edição: Esfera das Ideias, Lda.
Rua Eng.º Fernando Vicente Mendes, n.º 3F (1.º andar), 1600-880 Lisboa
Tlf.: (+351) 219 172 815 / (+351) 218 155 107 • geral@esferadasideias.pt www.esferadasideias.pt issuu.com/esferadasideias01
Direção de projetos: Madalena Barbosa e Ricardo Pereira (rpereira@esferadasideias.pt)
Textos: Diana Vicente, Madalena Barbosa, Marta Carreiro e Pedro Bastos Reis
Design/Web: Herberto Santos e Ricardo Pedro
Fotografias: Pedro Gomes Almeida e Rui Santos Jorge Coloborações: Andreia Jesus e Rui Alexandre Coelho
“Temos uma reunião com grande variedade e riqueza temática”
Em entrevista, a Prof.ª Maria Gomes Silva, diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, e o Prof. António Almeida, diretor do Serviço de Hematologia do Hospital da Luz Lisboa, explicam a importância da sinergia que estabeleceram para organizar a Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) 2022. Relativamente ao programa científico, ambos destacam o equilíbrio entre as chamadas patologias malignas e benignas. Assim, os temas que preenchem as sessões educacionais da manhã de sexta-feira são a leucemia linfoblástica aguda do adulto, o linfoma difuso de grandes células B de alto risco, a amiloidose sistémica e as gamapatias monoclonais de significado clínico. Já na manhã de sábado, analisam-se a drepanocitose, a trombocitopenias e as eritrocitoses. Para além da apresentação de 24 comunicações orais e 51 pósteres, destacam-se o Simpósio SPH-EHA dedicado a mastocitoses, eosinofilias e síndromes mielodisplásicas e mieloproliferativas de fronteira; a Junior Lecture sobre a imunobiologia da doença do enxerto contra o hospedeiro, e a Lição Francisco Parreira acerca dos novos alvos terapêuticos para a anemia com sobrecarga de ferro.
por Madalena BarbosaPorque decidiram partilhar a organização da Reunião Anual da SPH 2022 entre os Serviços de Hematologia do IPO de Lisboa e do Hospital da Luz Lisboa?
Prof.ª Maria Gomes da Silva (MGS): O Prof. António Almeida trabalhou muitos anos no Departamento de Hematologia do IPO de Lisboa, mantendo connosco uma relação de grande proximidade científica e até assistencial. Por isso, pela complementaridade de áreas de interesse e até pelo desafio que constitui organizar esta reunião entre duas instituições com características diferentes, apresentei esta proposta ao Prof. António Almeida, que a aceitou com entusiasmado. Sublinho que esta reunião não foi organizada por duas pessoas, mas sim por dois serviços, com ajuda dos seus vários colaboradores.
Qual a importância de organizar os cursos do Grupo Português de Mieloma Múltiplo e do Grupo Português de Linfomas na quinta-feira, dia pré-congresso?
MGS: Classicamente, a parte da tarde do dia pré -congresso é dedicada aos simpósios-satélite pro movidos pelas companhias farmacêuticas. Desde há alguns anos que tem havido a tentativa de estender algumas ações educacionais para a manhã de quintafeira, pois, na realidade, um dia e meio de reunião não é muito. Importa clarificar que estes cursos não são da responsabilidade dos organizadores da reunião, que recebem propostas de cursos pré-congresso, aceitando-as ou não, consoante as características das ações propostas. Desta vez, o Grupo Português de Linfomas e o Grupo Português do Mieloma Múltiplo propuseram-nos organizar cursos.
A SPH acarinha muito os trabalhos dos seus gru pos de interesse e a nossa reunião anual é um mo mento muito favorável para a organização destas ações formativas. Naturalmente que nós, enquanto organizadores, recebemos com contentamento es tas propostas, às quais tem havido uma excelente adesão. O programa das formações é inteiramente da responsabilidade dos grupos que as organizam. A este respeito,faço notar que, embora pertencendo ao Grupo Português de Linfomas, este ano, não interferi em nada no curso, por estar na organização da reunião.
Reunião anual SPH
Quais foram as linhas-mestras para a definição dos temas do Programa Educacional?
MGS: As pessoas que convidámos para a Comissão Científica ajudaram-nos a desenvolver um Programa Educacional interessante e abrangente. Nenhum de nós é expert em todas as matérias da Hematologia, que é uma especialidade muito vasta. Por isso, as sessões educacionais da manhã de sexta-feira são dedicadas à patologia maligna e as de sábado à pato logia benigna, sendo que, para a escolha dos diversos temas, recebemos input de todos os membros da Comissão Científica, que têm áreas de interesse muito diversificadas dentro da Hematologia. Isso é muito importante, até para a escolha dos preletores, que são sugeridos por pessoas que conhecem bem a respetiva área.
Como consideramos que as sessões educacionais precisam de tempo para a apresentação dos temas e para a discussão, optámos por organizar apenas três sessões em cada manhã. Outra preocupação, naturalmente, foi não repetir temas discutidos nos últimos anos. Nesse sentido, para ir ao encontro das necessidades de formação mais prementes, no final da reunião vamos também pedir aos participantes que sugiram temas que gostariam de ver abordados nas próximas reuniões da SPH.
Resumidamente, o que se pode esperar das sessões educacionais dedicadas à patologia maligna?
MGS: O primeiro tema é a leucemia linfoblástica aguda, que não foi abordada nas reuniões mais recentes da SPH e vai ser apresentado pela Dr.ª Al bertina Nunes, que tem particular interesse por esta patologia nos adultos. Segue-se a abordagem dos linfomas agressivos, que será focada nas abordagens terapêuticas, pelo Prof. Igor Aurer, hematologista que leciona na Universidade de Zagreb e tem um bom currículo de publicações nesta área. Por úl timo, para falar sobre as gamapatias monoclonais, escolhemos o Prof. Joan Bladé, uma figura muito diferenciada neste âmbito, cuja preleção vai fugir à temática mais habitual do mieloma, incidindo na amiloidose sistémica e nas gamapatias monoclonais de significado clínico.
O que destaca das sessões educacionais de sábado, que incidem em patologia benigna?
MGS: Começaremos com a drepanocitose, que é um problema bem mais frequente do que julgamos, com complicações precoces e tardias. Escolhemos para orador o Dr. João Silva Gomes, que trabalha num centro com uma experiência importante nesta área e vai discutir a prevenção e o tratamento das complicações da drepanocitose. Do mesmo centro, a Dr.ª Joana Azevedo fala a seguir sobre o diagnóstico e as abordagens terapêuticas das tromboctiopenias congénitas e adquiridas, nas quais tem uma vasta experiência. O último tema do Programa Educacional será apresentado por uma especialista de renome na área das eritrocitoses, a Prof.ª Mary Frances Mc Mullin, que vai abordar os diagnósticos diferen ciais, as terapêuticas e a gestão dos doentes.
Foi desafiante conseguirem trazer à Reunião da SPH a presidente da European Hematology Association (EHA), para moderar, presencialmente, o Simpósio SPH-EHA?
MGS: Na verdade, foi fácil, porque a Prof.ª Elizabeth Macintyre vê no estabelecimento de conexões com as sociedades nacionais um ponto muito importante da sua atividade como presidente da EHA. A sua pre sença na nossa reunião e a realização de um simpósio conjunto é uma das formas de tornar a EHA visível, presente e disponível para as sociedades nacionais. Este momento tem subjacente uma proposta de aproximação curricular, que já existe, mas que se pretende divulgar mais. O simpósio conjunto tem dois oradores: um indicado pela EHA, a Dr.ª Deepti Radia, e outro pela SPH, o Prof. António Almeida, que, neste momento, é também presidente-eleito da EHA.
Prof. António Almeida (AA): Confirmo que, neste momento, um dos grandes desafios e uma das grandes apostas da EHA é estreitar os laços com as várias sociedades nacionais. A EHA tem muitas atividades importantes para todos os hematolo gistas da Europa, como o exame europeu, o seu programa educacional ou as bolsas para projetos de investigação. Apesar disso, a EHA ainda está um pouco afastada das atividades e das necessidades das diversas sociedades nacionais. Portanto, tem havido um grande esforço para organizar simpósios e outras atividades conjuntas nos diferentes paí ses. Devido a este investimento, foi fácil trazermos a Prof.ª Elizabeth Macintyre à nossa reunião anual. Claro que, como em tudo na vida, também aju daram os contactos pessoais e as amizades, não só da minha parte, que trabalho de perto com ela, como também da Prof.ª Maria Gomes da Silva e da SPH. Por outro lado, a Prof.ª Elizabeth tem conheci mento de que, em dimensão e também em números absolutos, Portugal é dos países que mais adere ao exame europeu de Hematologia e que apresenta mais candidaturas às bolsas de investigação da EHA. Todas estas são motivações para estabelecermos laços mais estreitos entre a EHA e a SPH.
Porque selecionaram as mastocitoses, as eosinofilias e as síndromes mielodisplásicas/mieloproliferativas de fronteira para temas a analisar no Simpósio SPH-EHA?
AA: Assumo inteiramente a responsabilidade dessa escolha. Em primeiro lugar, porque são síndromes do meu interesse clínico e de investigação. Depois, sendo doenças raras, é muito importante darmos uma perspetiva mais abrangente sobre o que são, que novidades existem nesta área e, de certa maneira, ajudarmos a sistematizar a abordagem dos doentes. Ao trazermos “à tona” estas síndromes raras, o nosso objetivo é ajudar os hematologistas a reconhece rem os doentes com manifestações menos óbvias. A Dr.ª Deepti Radia é uma autoridade mundial em mastocitose sistémica, tendo participado nos ensaios clínicos dos novos fármacos para esta patologia e em várias sessões educacionais, tanto da EHA como da Associação Americana de Hematologia.
Já na minha preleção, vou falar sobre a fisiopato logia molecular das síndromes mielodisplásicas e mieloproliferativas de fronteira, que são difíceis de diagnosticar e tratar. A doença overlap das síndro mes mielodisplásicas mais frequente é a leucemia mielomonocítica crónica e existem outras mais raras. A monocitose acaba por ser a manifestação mais óbvia de muitas doenças. Neste âmbito, o principal desafio é o diagnóstico, porque as manifestações mistas, como ter citopenias e leucocitose, com aumento de alguns valores, também acontecem noutras situações, como doenças sistémicas, infe ções crónicas, doenças autoimunes ou doenças de órgão crónicas. Portanto, a mistura de leucocitose com anemia e trombocitopenia, por exemplo, exige um diagnóstico diferencial. Após abordar a marcha diagnóstica, incluindo o diagnóstico molecular, vou falar sobre o tratamento, que também é um desafio e nunca deve avançar sem um diagnóstico firme.
A manhã de sexta-feira termina com a palestra sobre cuidados paliativos em hemato-oncologia da Dr.ª Isabel Galriça Neto, reconhecida especialista e defensora dos cuidados paliativos em Portugal. O que motivou a inclusão deste tema no programa?
MGS: Nós, hematologistas, seguimos muitos doentes oncológicos. No entanto, os cuidados paliativos não estão tão implementados na Hematologia como noutras áreas oncológicas. Sabemos pouco e não estamos suficientemente sensibilizados sobre a im portância dos cuidados paliativos, que, como com certeza a Dr.ª Isabel Galriça Neto vai explicar na sua palestra, não são cuidados pré-morte e sim bem mais abrangentes. Cada vez mais, temos consciência de que não podemos fazer tudo e há cuidados que outros profissionais asseguram melhor do que nós. Neste caso, temos de saber identificar e encaminhar devidamente os doentes que precisam de cuidados paliativos.
AA: É importante criarmos sinergias com outras áreas da Medicina. No caso dos cuidados paliati vos, temos de ajudar os profissionais dessa área a perceberem as particularidades dos doentes hemato -oncológicos. É enriquecedor trazer à nossa reunião outras especialidades para fomentarmos o diálogo. É exatamente essa a intenção da sessão dedicada aos cuidados paliativos.
O que levou à escolha do Prof. Pedro Sousa para orador e da imunobiologia da doença do enxerto contra o hospedeiro para tema da Junior Lecture deste ano?
MGS: O objetivo desta sessão é oferecer aos hema tologistas mais jovens uma oportunidade de darem a conhecer o trabalho inovador de investigação que desenvolvem em determinada área da Hematologia. O Prof. Pedro Sousa desenvolveu o seu projeto de doutoramento em Londres, precisamente na área da imunobiologia da doença do enxerto contra o hospedeiro. Na Junior Lecture, vai apresentar os seus
resultados, que são extraordinariamente interessan tes, e falar acerca da sua experiência, das tecnologias que aprendeu a dominar, da translação de conheci mentos para a nossa realidade, entre outros aspetos.
AA: Esta partilha tem o valor adicional de os hema tologistas mais jovens perceberem que colegas da sua geração fazem investigação válida e produzem ciência com bons resultados. Esperamos que a di vulgação desses resultados na nossa reunião gere entusiasmo nos hematologistas mais novos para também apostarem na carreira científica, além da clínica.
Porque decidiram dedicar a Lição, um momento alto já tradicional nas reuniões da SPH, aos novos alvos terapêuticos das anemias que cursam com sobrecarga de ferro?
MGS: Na verdade, depois de a Prof.ª Domenica Cappellini aceitar o nosso convite para assegurar esta conferência, deixámos à sua escolha o tema a abordar. Esta foi a sua proposta, que aceitámos com entusiasmo, pois parece-nos uma temática bastante atraente pela novidade.
À semelhança de anos anteriores, é dado destaque às comunicações orais e pósteres, cuja apresentação decorre na tarde de sexta-feira. Que importância atribuem à partilha dos trabalhos nacionais?
AA: A par das sessões educacionais e do restante programa científico, a apresentação dos trabalhos de senvolvidos nos diferentes Serviços de Hematologia, seja por colegas mais jovens ou mais seniores, é uma vertente essencial da Reunião da SPH, daí lhe atri buirmos um tempo considerável. Obviamente que, em qualquer Serviço de Hematologia que pretenda criar escola, os mais novos são envolvidos nestes tra balhos científicos e é essencial darmos crédito ao seu esforço, permitindo a apresentação dos resultados na principal reunião da nossa comunidade científica.
MGS: A Reunião Anual da SPH é o nosso momento de partilha mais importante, tanto de experiências como de resultados de trabalhos científicos, para sabermos o que está a ser feito nos outros centros e aprendermos com a discussão dos seus resultados. Na Hematologia nacional, além desta reunião, não temos muitas outras oportunidades para este tipo de partilha. As comunicações orais e os pósteres são um highlight de qualquer reunião científica em Medicina, porque trazem novidades e contribuem para os avanços na especialidade.
Estarão em apresentação 52 pósteres e 24 comunicações orais. Com certeza que foram submetidos muitos mais abstracts.
A seleção foi complexa?
MGS: A seleção não é propriamente difícil, pois obedece a critérios previamente definidos para a grelha de avaliação. Selecionámos para apresen tação sob a forma de comunicação oral ou póster
os trabalhos que nos pareceram de melhor quali dade e mais atraentes para a nossa audiência. É um exercício que temos de fazer em todas as reuniões em que integramos a comissão científica: temos de classificar e selecionar.
Querem transmitir alguma mensagem final?
AA: A mensagem principal é que temos uma reunião com grande variedade e riqueza temática, mas é essencial que todos participem, tanto com a submis são de trabalhos, como já o fizeram, mas também com a presença e a participação ativa, colocando perguntas aos preletores para podermos enriquecer o tecido científico nacional. A Reunião Anual SPH 2022 é também importante para estreitarmos os laços nacionais e internacionais, enquanto partilha mos ciência e adquirimos conhecimentos, gerando massa crítica e oportunidades de colaboração.
MGS: A minha principal mensagem é: venham e participem! Outro aspeto importante é que temos um programa de enfermagem que decorre paralela mente ao programa médico, o que é uma mais-valia, até pela multidisciplinaridade que o cuidado aos doentes hematológicos requer. E não há bons cuida dos assistenciais sem boa investigação e bom ensino. Portanto, quero também endereçar umas palavras de apreço às comissões organizadora e científica do Programa de Enfermagem, aos enfermeiros que participam e a todos os profissionais de saúde e da ciência que acorrem à nossa reunião.
“A Hematologia é uma área vibrante e repleta de novidades”
A Hematologia é uma área de grande efervescência científica, com novas terapêuticas a surgirem todos os anos. É difícil absorver conhecimento a um ritmo tão acelerado?
AA: Não é fácil e, por isso, temos de organizar e participar nas reuniões científicas, para partilharmos conhecimentos e estarmos atualizados face ao que de melhor se pratica. É também por esse motivo que convidamos peritos nacionais e internacionais nos diversos temas para as reuniões anuais da SPH, com o objetivo de nos atualizarmos e conhecermos o que se faz aquém e além-fronteiras.
MGS: O conhecimento progride e, felizmente, realizam-se muitas reuniões nacionais e internacionais de atualização de conhecimentos, pelo que vamos conseguindo acompanhar o ritmo. Mas tem razão, não é fácil. A Hematologia é uma área viva, vibrante e repleta de novidades.
Além desse desafio de atualização constante, que outros marcam a Hematologia na atualidade, sendo que atravessámos uma pandemia recentemente?
AA: Os principais desafios continuam a ser conseguirmos diagnosticar as doenças de forma fidedigna e contribuirmos para que os nossos doentes consigam aceder, o mais rapidamente possível, aos novos tratamentos, para que possam beneficiar do que investigamos e inovamos em Hematologia.
MGS: Os desafios não são diferentes agora, mas todos mudámos um pouco devido à pandemia. Alguns aspetos estruturais foram repensados e revistos, em muitos casos no bom sentido. Estamos a retomar à normalidade, com mais ou menos sobressaltos. Esta é a primeira Reunião Anual da SPH inteiramente presencial, ou seja, não é híbrida como foi no ano passado. Esse é um desafio da pandemia que estamos a ultrapassar. Espero que, daqui para a frente, as nossas reuniões possam ser sempre presenciais, pois o facto de estarmos juntos acrescenta um valor muito grande à partilha de conhecimento.
Perspetivas futuras da citometria e da Medicina Nuclear no mieloma múltiplo
É este o tema do curso organizado pelo Grupo Português de Mieloma Múltiplo (GPMM) da Sociedade Portuguesa de Hematologia, que tem como destinatários não só os hematologistas e internos desta especialidade, mas também outros profissionais de saúde envolvidos no diagnóstico, no prognóstico e no tratamento dos doentes com mieloma múltiplo (MM). A quantificação e a caracterização de células plasmáticas clonais circulantes e o mapeamento da doença metabolicamente ativa são alguns dos tópicos em análise nesta formação.
por Marta Carreiro e Pedro Bastos ReisComo explica a Prof.ª Cristina João, o curso organizado pelo GPMM, a cuja direção pertence, tem por objetivo “es tabelecer a ligação entre a atual prática clínica na área e as inovações mais recentes que contribuem para um diagnóstico mais sensível ou para a definição do prognóstico do MM”. Esta formação também pretende evidenciar as vanta gens da interdisciplinaridade na abordagem dos doentes. “Em especial, apostámos na colaboração com as especialidades ligadas à imagem, como é o caso da Medicina Nuclear, mas também a ativi dades de laboratório, nomeadamente a citometria de fluxo. Desta forma, juntámos os profissionais que ajudam no diagnóstico e na avaliação dos doentes com MM, quer no início da doença quer durante o tratamento”, sublinha a hematologista e investigadora no Centro Clínico da Fundação Champalimaud, em Lisboa.
No âmbito da imagiologia, Cristina João destaca o contributo da “integração da tomografia por emissão de positrões-tomografia computorizada [PET-CT, na sigla em inglês] com vários biomarca dores, para a avaliação da profundidade de res posta aos tratamentos dos doentes com MM”. Por sua vez, a Prof.ª Catarina Geraldes, que também integra a direção do GPMM, frisa as novidades da citometria de fluxo, nomeadamente a quan tificação de plasmócitos clonais circulantes e a
pesquisa de doença residual mensurável, notando que “têm sido desenvolvidos ensaios clínicos, cujos resultados ainda necessitam de ser validados para utilização destes dados na prática clínica”.
“No curso, vamos discutir o timing mais ade quado para a utilização da citometria de fluxo, que cuidados exige e que informação deve ser solici tada na prática clínica”, adianta a hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). A avaliação da doença residual mensurável por citometria de fluxo e exames imagiológicos é muito importante no seguimento dos doentes com MM e nas decisões terapêuticas. “Pretende mos que este curso seja um espaço de discussão. A maior parte das reuniões tem-se centrado mais nas novas terapêuticas para o MM, pelo que, desta vez, optámos por uma abordagem centrada no diagnóstico e na avaliação do doente ao longo do processo terapêutico”, afirma Catarina Geraldes.
Também membro da direção do GPMM, o Dr. Rui Bergantim acrescenta, em Portugal, verifica -se uma heterogeneidade na abordagem clínica da citometria de fluxo e da PET-CT no âmbito da Hematologia. Por isso, um dos objetivos deste curso é “contribuir para a uniformização da abor dagem diagnóstica através da citometria de fluxo e dos exames de Medicina Nuclear”, indica o he matologista do Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto.
Novos contributos da citometria de fluxo
Na sua preleção, o Prof. Artur Paiva, coordenador da Unidade Funcional de Citometria de Fluxo do Serviço de Patologia Clínica do CHUC, começará por destacar o desenvolvimento da tecnologia next generation flow (NGF), que permitiu uma maior estandardização e sensibilidade da citometria de fluxo. “Essa evolução tornou possível quantificar e caracterizar as células plasmáticas clonais cir culantes, que são detetadas na grande maioria dos doentes com MM”, assegura.
A mais recente evidência científica demonstra que “o número dessas células por microlitro de sangue periférico está aumentado desde a fase de gamapatia monoclonal de significado indeter minado”. Assim sendo, “no modelo de estratifica ção do risco de progressão para MM sintomático, pode-se ponderar a substituição da contagem das células plasmáticas clonais na medula óssea pela pesquisa de células tumorais circulantes”, refere Artur Paiva.
A pesquisa de células tumorais circulantes “po derá vir a ser utilizada na avaliação da doença residual mensurável, permitindo uma vigilância mais apertada durante as diferentes fases de trata mento do MM, nomeadamente na manutenção”, avança Artur Paiva. Além disso, em doentes com diagnóstico de novo e elegíveis para transplante
de células progenitoras hematopoiéticas, “a ausência de células tumorais circulantes parece identificar um pequeno subgrupo de doentes com excelente perfil de sobrevivência livre de progressão e sobrevivência global, podendo constituir-se como um fator determinante no prognóstico do MM”, acrescenta o também coordenador do Biobanco do Centro Acadé mico Clínico de Coimbra.
Artur Paiva evidencia ainda os avanços que a citometria de fluxo tem proporcionado na caracterização de diferentes células do sistema imune, sobretudo devido ao “grande aumento da sua capacidade multiparamétrica”. Assim, atualmente, “é possível identificar mais de 200 subpopulações diferentes de linfócitos T, sem esquecer as vantagens desta técnica na ca racterização das células CAR-T e na gestão da imunoterapia utilizada nos doentes com MM”.
Presente e futuro da Medicina Nuclear no MM Na preleção seguinte, a Dr.ª Joana Castanheira vai elencar as principais vantagens do re curso à Medicina Nuclear na abordagem dos doentes com MM. No âmbito da investigação imagiológica, destaca-se a técnica híbrida de PET-CT, usualmente com o radiofármaco FDG (18F-fluoro-2-deoxy-glucose), que “alia a in formação funcional e metabólica à adequada correspondência anatómica”. Assim, graças à sua “capacidade ímpar de mapeamento de doença metabolicamente ativa”, esta técnica assume um papel-chave no estadiamento do
MM. “A PET-CT com FDG é considerada a técnica mais precisa na deteção extramedular, estando contemplada nas principais guidelines para a avaliação da resposta à terapêutica da doença FDG-positiva”, afirma a especialista em Medi cina Nuclear no Centro Clínico da Fundação Champalimaud.
Na abordagem ao MM, “a distribuição intra celular de FDG facilita a distinção das células metabolicamente mais ativas, nomeadamente as malignas”. Assim, “as maiores vantagens da PET-CT com FDG são a avaliação após terapêu tica e a determinação do valor prognóstico”. “As alterações metabólicas, traduzidas pela variação de avidez para FDG, surgem antes das modificações estruturais detetadas nos exames morfológicos, sendo possível a distin ção precoce entre doença metabolicamente ativa e ‘inativa’. Por isso, o estudo basal torna-se fundamental para comparar os achados pré e pós-tratamento”, explica Joana Castanheira.
Em conclusão, o radiofármaco 18F-FDG “tem valor reconhecido na área do MM”, sendo que a sua utilização com PET-CT constitui “uma mais-valia em comparação com o uso exclu sivo de modalidades morfológicas, pela de teção de doença metabolicamente ativa num único exame de corpo inteiro”. Por esta razão, “a técnica híbrida de PET-CT com FDG deve ser considerada para o estadiamento correto do doente com MM, sendo um método válido durante o curso da doença, particularmente para avaliação da resposta ao tratamento”, remata a especialista em Medicina Nuclear.
Reunião anual SPH20
Em que atividades o Grupo Português de Mieloma Múltiplo (GPMM) está envolvido atualmente?
Prof.ª Catarina Geraldes: Temos vários trabalhos a decorrer e planeamos ter resultados em 2023, que possam ser apresentados numa reunião dedicada ao MM, a qual estamos a planear. Além disso, elaborámos e submetemos para publicação guidelines nacionais para o tratamento do MM. Estamos também a elaborar uma revisão relativamente às comorbilidades e toxicidades das terapêuticas nos doentes com MM. A inovação nesta área tem sido imensa nos últimos anos e queremos contribuir para a sua partilha e aplicação na prática clínica.
Dr. Rui Bergantim: No último ano e meio, aprofundámos a relação com a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar [APMGF], nomeada mente através da discussão de vários casos clínicos e da colaboração dos colegas de MGF na avaliação e no seguimento dos doentes com gamapatias monoclonais. Pela primeira vez, também encetámos uma aproximação do GPMM às associações de doentes com MM, disponibilizando formação e informação atualizada sobre esta patologia, nomeadamente sintomas, sinais e tratamentos disponíveis. Um dos nossos principais objetivos é contribuir para o esclarecimento dos doentes e seus familiares, para que se sintam envolvidos e contribuam mais ativamente para o processo terapêutico. Esperamos, no futuro, continuar a fortalecer esta aproximação aos doentes.
Prof.ª Cristina João: Além da aproximação e do trabalho conjunto do GPMM com os médicos de MGF, também estamos a estreitar relações de colaboração com outras especialidades que nos ajudam na avaliação e no seguimento dos doentes. É fundamental trabalharmos em parceria com outras áreas da Medicina e laboratoriais, particularmente na gestão dos doentes com MM, que tomam uma panóplia de fármacos, pelo que precisamos de ajuda para gerir da melhor forma as toxicidades e infeções decor rentes dos tratamentos que proporcionamos.
Terapêuticas inovadoras no âmbito dos linfomas agressivos
O curso organizado pelo Grupo Português de Linfomas da SPH divide-se em duas partes. Na primeira, será analisada a abordagem terapêutica aos linfomas B difusos de grandes células em primeira e segunda linhas, sendo depois apresentada a sequenciação com células CAR-T e anticorpos biespecíficos. Na segunda parte, começar-se-á por discutir a primeira linha de tratamento do linfoma de células do manto, abordando-se a seguir o que fazer perante a recidiva, desde os regimes chemo-free à terapia celular.
por Marta Carreiro e Pedro Bastos ReisTerapêuticas de 1.ª e 2.ª linhas para o LBDGC
Na maioria dos doentes com LBDGC, a terapêutica de primeira linha consiste na associação de ritu ximab ao regime CHOP (ciclofosfamida, doxorru bicina, vincristina e prednisolona). “O número de ciclos deste tratamento e a sua eventual associação com radioterapia podem ser adaptados de acordo com a fase da doença, sendo que os casos mais localizados podem ser tratados com menos ciclos de R-CHOP”, afirma a Dr.ª Rita Coutinho, hema tologista no Centro Hospitalar Universitário do Porto/Hospital de Santo António.
Na sua preleção, a formadora vai especificar alguns aspetos que obrigam à alteração da tera pêutica de primeira linha, nomeadamente a idade e estado funcional do doente. Além disso, também discutirá os resultados do ensaio clínico POLARIX.
Aárea dos linfomas agressivos tem as sistido a “uma grande evolução tera pêutica, que procura dar resposta às necessidades médicas não satisfeitas”. Em específico, nos linfomas B difusos de grandes células (LBDGC), “cerca de 35 a 40% dos doentes serão refratários ou acabarão por recair após a primeira linha, sendo fundamental o desenvol vimento de alternativas terapêuticas eficazes”, contextualiza a Dr.ª Marília Gomes, hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
O tratamento dos linfomas de células do manto, que também estarão em análise neste curso pro movido pelo Grupo Português de Linfomas, tem sido igualmente alvo de muita inovação nos úl timos anos. “Um dos aspetos que vamos debater é se a imunoquimioterapia ainda tem lugar no tratamento do doente em recidiva/refratário, ou se devemos privilegiar, por exemplo, regimes dirigidos a alvos moleculares. Por outro lado, vamos discutir o papel do transplante alogénico no tratamento deste linfoma, tendo em conta o advento da terapia com células CAR-T”, antecipa Marília Gomes.
Quanto ao futuro, Rita Coutinho antevê: “O recurso a estratégias de avaliação interina, nomeadamente o ADN tumoral circulante, po derá permitir-nos perceber mais precocemente que doentes não beneficiam do tratamento com R-CHOP. O ajuste terapêutico de acordo com a resposta precoce poderá constituir uma estratégia adequada.”
No curso, a hematologista vai ainda analisar o standard of care da terapêutica de segunda linha, nomeadamente nos subgrupos de doentes com LBDGC candidatos a transplante. Neste âmbito, evidencia-se o papel dos esquemas terapêuticos polatuzumab vedotina-bendamustina-rituximab e tafasitamab-lenalidomida, bem como os dados recentes sobre a utilização de células CAR-T em segunda linha.
Sequenciação com células CAR-T e anticorpos biespecíficos
Em seguida, a Dr.ª Daniela Alves abordará a se quenciação do tratamento nos doentes com LBDGC em recaída/refratário após duas linhas terapêuticas. “Tanto nos doentes tratados com o regime polatuzumab-bendamustina-rituximab, como no grupo elegível para transplante autólogo de progenitores hematopoiéticos, sabemos que, em 50% dos casos, não há resposta às terapêuticas de primeira e segunda linhas. Contudo, graças às células CAR-T, temos uma nova estratégia de terceira linha para doentes resistentes a quimiote rapia”, realça a hematologista no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria.
Para que esta terceira linha seja eficaz, além de uma boa gestão da toxicidade subjacente, Daniela
Reunião anual SPH20
Alves considera essencial identificar precocemente os doentes que mais poderão beneficiar das células CAR-T. “Temos de tomar uma decisão rápida, para que o doente seja proposto a esta terapêutica enquanto ainda pode beneficiar dela”, sublinha.
Quanto ao futuro do tratamento do LBDGC, Daniela Alves antevê um aumento da importância do papel das células CAR-T. “Ainda temos um per curso a percorrer até que esta terapêutica substitua a quimioterapia, mas penso que, no futuro, se os ensaios clínicos em curso assim o demonstrarem, poderemos equacionar o recurso a esta alternativa mais precocemente”, refere.
Segue-se a intervenção do Dr. Pedro Chorão sobre o papel dos anticorpos biespecíficos no tra tamento do LBDGC, que “unem a célula maligna à célula efetora (linfócito T), tendo como objetivo a morte do linfócito B maligno”. Nos ensaios clí nicos, “têm sido usados fármacos mais antigos, como blinatumomab, e mais recentes, como o glofitamab, o epcoritamab, o mosunetuzumab, o odronextamab e o plamotamab”, introduz o he matologista do Hospital Universitário e Politécnico La Fe, em Valência.
Ressalvando que estes fármacos ainda não têm indicação para o tratamento do LBDGC, na sua apresentação, Pedro Chorão pretende explicar o mecanismo de ação destas terapêuticas emergen tes e divulgar alguns dos principais resultados dos ensaios clínicos, nos quais se verificou “uma taxa de resposta completa que vai desde um quinto a um terço dos doentes refratários a linhas tera pêuticas prévias”.
Quanto aos efeitos adversos dos anticorpos biespecíficos reportados nos ensaios clínicos, o hematologista salienta que a principal preocu pação prende-se com a síndrome de libertação de citoquinas, “muito semelhante ao que acontece com as células CAR-T”. No entanto, “os graus mais elevados de toxicidade dos anticorpos biespecí ficos não superam os 10%”. Assim, estes fárma
cos “podem ser um challenger às células CAR-T, apesar de ainda terem um caminho a percorrer, precisando, antes de mais, de demonstrar a sua eficácia em ensaios clínicos de maior dimensão”, conclui Pedro Chorão.
Terapêutica de 1.ª linha para o linfoma de células do manto Para a definição do tratamento de primeira linha dos doentes com linfoma de células do manto, o Dr. José Pedro Carda realça que o primeiro aspeto a ter em conta é perceber se o doente é ou não elegível para transplante. “Se for elegível, opta mos por um esquema tradicional com antraciclina alternada ou em sequência com esquema de cita rabina em alta dose, seguido de quimioterapia de alta dose e transplante autólogo de progenitores hematopoiéticos”, começa por afirmar o hema tologista no CHUC. Já nos doentes mais idosos, o preletor salienta que “é importante considerar o recurso a esquemas menos intensos, abolindo o transplante autólogo e recorrendo ao regime R-CHOP simples ou a rituximab-bendamustina”. Contudo, apesar de serem terapêuticas que in duzem respostas prolongadas, José Pedro Carda alerta para a elevada taxa de recidiva, pelo que “o prolongamento da resposta obtida na primeira linha é a grande necessidade terapêutica no lin foma de células do manto”. Assim, “coloca-se a necessidade de continuar a manutenção com rituximab em ambas as populações de doen tes, sendo ainda perspetivada a introdução de inibidores da tirosina-cinase de Bruton [BTK] nas estratégias terapêuticas de primeira linha”. “Além disso, existem as variantes histológicas ou genéticas agressivas, que, “à partida, indicam uma má resposta à quimioimunoterapia convencional”, alerta o hematologista. Assim, “mais cedo ou mais tarde, será necessário incorporar estratégias de segunda linha”, remata José Pedro Carda.
Respostas após recaída/refratariedade Relativamente à segunda linha terapêutica do linfoma de células do manto, a Dr.ª Adriana Roque nota que “existem poucos ensaios clíni cos de fase III e a evidência advém, sobretudo, de ensaios de fases I e II com reduzido número
de doentes”. Contudo, a hematologista no CHUC defende que “o tratamento deve ser individuali zado em função das comorbilidades do doente e da resposta à terapêutica prévia”. “Tendo os doen tes feito um regime baseado em imunoquimote rapia na primeira linha, se a resposta for pouco sustentada (inferior a dois anos), devemos tentar uma terapêutica dirigida, com os novos fármacos”, afirma Adriana Roque.
No que diz respeito aos tratamentos chemo-free, a preletora destaca que a maior parte das opções de segunda linha baseia-se na desregulação do BCR (recetor de células B) e nos inibidores da BTK, dos quais está disponível, na Europa, o ibrutinib.
“Temos também aprovada a lenalidomida e as guidelines internacionais propõem a possibili dade de se utilizar os inibidores de proteassoma, nomeadamente o bortezomib. Existe também a hipótese de recorrermos aos inibidores da BCL-2 [proteína b-cell lymphoma 2], nomeadamente ao venetoclax, que ainda não estão aprovados no tra tamento dos linfomas de células do manto, sendo utilizados em off-label”, indica Adriana Roque. Em suma, a hematologista acredita que o futuro do tratamento de segunda linha “passará, essencial mente, por regimes dirigidos que são mais eficazes em combinação do que em monoterapia”.
A última preleção do curso organizado pelo Grupo Português de Linfomas será da Dr.ª Filipa Moita, hematologista no Instituto Português de Oncologia de Lisboa, que vai discutir o recurso ao transplante alogénico, versus a terapia com células CAR-T nos doentes com linfoma de células do manto que recaem ou recidivam após duas linhas terapêuticas. “Serão apresentados os dados já disponíveis relativamente às duas estratégias terapêuticas, que não podem ser aplicadas de forma transversal a todos os doentes. Portanto, a escolha entre transplante alogénico ou terapia com células CAR-T deve atender a diversos fato res, clínicos e biológicos, que a Dr.ª Filipa Moita vai explicar no curso”, remata Marília Gomes.
Inovação no tratamento do mieloma múltiplo
O foco do simpósio organizado hoje pela GlaxoSmithKline (GSK) é a discussão em torno da evidência científica e clínica sobre o belantamab mafodotina. Trata-se do primeiro conjugado anticorpo-fármaco para o tratamento de doentes com mieloma múltiplo triplo-refratários (inibidor do proteossoma, agente imunomodulador e anticorpo monoclonal antiCD38), que tenham recebido, pelo menos, quatro terapêuticas anteriores.
por Marta CarreiroNa sua mensagem introdutória, a Prof.ª Cristina João, hematologista na Fun dação Champalimaud, em Lisboa, vai explicar o que é o belantamab mafodo tina. “Trata-se de um fármaco com um novo meca nismo de ação, sendo o primeiro da sua categoria terapêutica – anti-BCMA [antigénio de maturação de células B, na sigla em inglês] – a obter aprova ção das entidades reguladoras de medicamentos para o tratamento do mieloma múltiplo em doen tes triplo-refratários e que tenham recebido, pelo menos, quatro terapêuticas prévias”, afirma. Em Portugal, o medicamento aguarda a aprovação de reembolso. A dose recomendada deste conjugado anticorpo-fármaco é de 2,5 mg/kg, com perfusão intravenosa a cada três semanas1. É recomendado que o tratamento seja continuado até progressão da doença ou toxicidade inaceitável1.
Em seguida, Cristina João apresentará os principais resultados do ensaio clínico DREAMM-22, que incluiu 97 doentes tratados com belantamab mafodotina, com uma mediana de sete linhas de tratamento prévias2. “Cerca de 58% dos doentes que respon deram ao tratamento apresentaram uma resposta parcial muito boa, ou até mesmo completa2. Estas boas respostas são mantidas no tempo, com uma duração de resposta mediana próxima de um ano, numa população de doentes que não tinha mais alternativas terapêuticas2”, destaca a hematologista.
No que diz respeito ao perfil de segurança, Cristina João realça a importância de conhecer as toxicida des e os efeitos adversos do belantamab mafodo tina, como o impacto ao nível da córnea, o risco de trombocitopenia e as reações relacionadas com a perfusão2. “O risco de queratopatia exige uma estreita colaboração com a Oftalmologia, cuja intervenção é fundamental, quer na avaliação inicial dos doen tes quer na monitorização ao longo do tratamento, permitindo-nos adequar a dose e o intervalo entre administrações, bem como gerir as toxicidades, mantendo o benefício terapêutico do belantamab mafodotina1,2”, sublinha a hematologista.
Evidência da prática clínica Na segunda preleção do simpósio, o Dr. Rui Bergan tim, hematologista no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, vai apresentar o caso clínico de um doente tratado com belantamab mafo dotina desde maio de 2022, ao abrigo do programa de acesso precoce gratuito, que decorre até ao final deste ano. “É doente com MM multitratada, já subme tida a dois autotransplantes de células progenitoras hematopoiéticas e a todos os fármacos das várias classes terapêuticas disponíveis para o mieloma múltiplo. Com oito anos de evolução da doença, apresenta algumas características de muito mau prognóstico, nomeadamente doença extramedular e translocação t (4;14)”, resume o preletor.
GERIR O RISCO DE QUERATOPATIA
Alterações de dose em caso de reações adversas ao nível da córnea1:
Ligeiras: continuar o tratamento com belantamab mafodotina na dose habitual1;
Moderadas: suspender o tratamento até melhoria dos resultados no exame oftalmológico e BCVA (best-corrected visual acuity) de gravidade ligeira ou melhorada. Considerar recomeçar o tratamento com uma dose reduzida de 1,9 mg/kg1;
Graves: suspender o tratamento até melhoria dos resultados no exame oftalmológico e BCVA de gravidade ligeira ou melhorada. Considerar a descontinuação se ocorrer agravamento dos sintomas que não correspondam à gestão apropriada1
Segundo Rui Bergantim, esta doente tem carac terísticas semelhantes às da população do estudo DREAMM-22 erepresentaum desafio, atendendo a que “pode receber mais linhas terapêuticas, porque ainda tem um bom performance status e não tem comorbilidades associadas”. Neste caso, “os resultados estão a ser os expectáveis –a doente conseguiu atingir uma resposta rápida no segundo ciclo de belantamab mafodotina, com controlo da doença e uma resposta parcial muito boa, que mantém até à data”.
Quanto ao potencial de efeitos adversos ao nível da córnea, Rui Bergantim reitera a impor tância de “ponderar a relação risco-benefício do belantamab mafodotina e a fase da doença em que vai ser utilizado”. “Através de uma estreita colaboração com a Oftalmologia, conseguimos gerir esta complicação de forma positiva”, frisa o hematologista. Na doente do caso clínico, a gestão tem sido partilhada com o Grupo de Córnea do Serviço de Oftalmologia do CHUSJ, cuja colaboração “tem sido fundamental para que não haja interrupções do tratamento e a doente se sinta segura em todo o processo, seguindo as medidas de suporte recomendadas, uma vez que está bem informada sobre os riscos associados ao tratamento”.
O simpósio terminará com a discussão dos dados apresentados pelos dois oradores, que acreditam que o belantamab mafodotina possa, num futuro próximo, “ser combinado com outros fármacos e utilizado em linhas terapêuticas mais precoces”.
Referências: 1. Resumo das Características do Medicamento de Blenrep®, atualizado em junho de 2022. 2. Lonial S, et al Cancer. 2021;127(22):4198-4212.
Mais esclarecimentos em vídeo da Prof.ª Cristina João e do Dr. Rui Bergantim.
Importância da monitorização do sistema imune nos doentes com mieloma múltiplo
O simpósio organizado pela Binding Site tem como principal objetivo analisar os benefícios da avaliação do sistema imune dos doentes com mieloma múltiplo (MM), nomeadamente para despistar ou identificar a imunoparesia, um fator de mau prognóstico. Para isso, serão dadas a conhecer as características dos testes Hevylite®, que permitem identificar e quantificar os isótipos específicos de cada classe de imunoglobulina (Ig). Pela primeira vez, é possível identificar a imunoparesia da Ig completa não clonal do mesmo isótipo da clonal, que, em diferentes estudos, tem demonstrado um valor prognóstico superior ao da imunoparesia clássica (supressão das imunoglobulinas policlonais), tanto na avaliação da progressão de doença assintomática para maligna, como na sobrevivência global dos doentes com diagnóstico de MM.
por Marta CarreiroDepois das palavras introdutórias do mo derador, Dr. Henrique Coelho, diretor do Serviço de Hematologia Clínica do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/ /Espinho, o simpósio começará com a preleção da Prof.ª Catarina Geraldes. A hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra explica que “a imunoparesia tem sido avaliada nos doentes com MM através do doseamento das cadeias pesadas de imunoglobulina [Ig] não produzidas pelo clone tumoral”. “A recuperação da imunoparesia clássica foi descrita como um fator de prognóstico favorável em alguns estudos, maioritariamente observacionais e retrospetivos, nos quais os doentes foram submeti dos a terapêuticas muito heterogéneas, raramente contínuas”, acrescenta.
Hoje em dia, com os testes Hevylite®, “é possível identificar e quantificar os diferentes subtipos de cadeias leves de cada classe (IgGκ, IgGλ, IgAκ, IgAλ, IgMκ e IgMλ), avaliando a Ig completa não clonal do mesmo isótipo da clonal”. Por exemplo, num doente com MM IgAκ, este teste permite quantificar a IgAλ, o que “é importante porque foi demonstrado que a supressão deste par não clonal do mesmo isótipo do clonal constitui um fator de risco independente para progressão da gamapatia monoclonal de signifi cado indeterminado para MM sintomático”, sublinha Catarina Geraldes.
Por outro lado, alguns estudos demonstram que a supressão da Ig completa não clonal do mesmo isótipo da clonal aquando do diagnóstico de MM
Excertos
“associa-se a uma sobrevivência global [OS, na si gla em inglês] inferior”, ao passo que “valores mais elevados desta Ig associam-se a respostas mais pro fundas”. A hematologista refere ainda que, também nos doentes com MM indolente, “a redução severa da Ig completa não clonal do mesmo isótipo da clonal foi associada a menor tempo até progressão para doença sintomática”. Mais recentemente, foi ainda considerada “um fator de risco para infeção grave com disseminação sanguínea, resultando em redução da OS”.
Por último, Catarina Geraldes destaca o facto de a doença residual mensurável (DRM) ser, atualmente, “o fator de prognóstico mais importante no MM”. Um estudo que será apresentado em dezembro1, no congresso da American Society of Hematology (ASH), demonstra que “a recuperação da imunopare sia associada à supressão da Ig completa não clonal do mesmo isótipo da clonal durante a terapêutica de manutenção do MM também representa um fator de prognóstico independente nos doentes submetidos a transplante autólogo de progenitores hematopoiéticos, podendo complementar o valor prognóstico da DRM1”.
Mais-valias do recurso ao Hevylite®
Enquanto membro do Grupo Espanhol de Mieloma (GEM-PETHEMA), que desenvolveu o trabalho supra mencionado1, o Prof. Rafael Ríos-Tamayo indica que foram incluídas amostras de mais de 200 doentes que participaram num ensaio clínico. “Eram doentes com diagnóstico novo de MM candidatos a transplante. Os resultados confirmam que faz sentido avaliar a imunoparesia com um teste mais fiável do que os testes convencionais1. Neste momento, a melhor
ferramenta que temos para esse efeito é o Hevylite®1”, destaca o hematologista no Hospital Universitário Puerta de Hierro Majadahonda, em Madrid.
Rafael Ríos-Tamayo também reforça o facto de a imunoparesia se associar a maior risco de infeção, constituindo um mau fator de prognóstico nos doen tes com MM. “Apesar de todos os esforços, as infeções continuam a ser a primeira causa de morbilidade e mortalidade nos doentes com MM.” Por outro lado, “a OS dos doentes com imunoparesia é diminuta e muitos estudos demonstram também uma diminui ção da sobrevivência livre de progressão”.
Assim, no seguimento dos doentes com MM, “é essencial avaliar os níveis de anticorpos para des pistar a imunoparesia”. Para tal, Rafael Ríos-Tamayo evidencia o papel do Hevylite®, que utiliza há quase uma década, incluindo o período de ensaios clínicos, aconselhando que “deve ser usado tanto no estudo inicial, quando o doente têm a Ig intacta, como pos teriormente, no seu seguimento”.
Outro aspeto que o hematologista espanhol vai abordar na sua apresentação é a importância de recuperar da imunoparesia. “Nos doentes com MM que conseguem uma resposta muito boa ao trata mento, há um grupo em que o nível de Ig normaliza. Isso é muito relevante porque nos dá informação de que o doente recuperou o equilíbrio do seu sistema imunológico, estando em condições de responder melhor às infeções, o que lhe confere melhor prog nóstico.”
Reunião anual SPH20
Remissão com tratamento finito: primeira escolha na LLC
É este o mote do simpósio organizado hoje pela Abbvie, cujo foco recairá sobre a combinação venetoclax-obinutuzumab (inibidor da BCL-2 associado a anticorpo anti-CD20) como tratamento de primeira linha de doentes adultos com leucemia linfocítica crónica (LLC). Neste âmbito, serão analisados os resultados do follow-up a cinco anos do estudo CLL141, os primeiros resultados do estudo CLL132 e a experiência de prática clínica dos dois intervenientes na sessão.
por Marta CarreiroComo evidencia a Prof.ª Maria Gomes da Silva, moderadora do simpósio, “o paradigma do tratamento da LLC tem vindo a mudar há já vários anos, inclusive na primeira linha”. “Temos o privilégio de, neste momento, dispor de duas classes far macológicas: os inibidores da BCL-2, dos quais está disponível o venetoclax, e os inibidores da tirosina-cinase de Bruton. São fármacos com mecanismos de ação diferentes, que nos dão a possibilidade de escolha consoante o perfil do doente e da doença em termos genéticos”, introduz a diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa.
O venetoclax é administrado por um total de 12 ciclos, cada um com 28 dias: os seis primeiros ciclos em combinação com obinutuzumab, se guidos de seis ciclos de venetoclax como agente único3. Por isso, é considerado um tratamento finito, após o qual a LLC, desejavelmente, o doente entra num período de remissão. Sobre o follow-up a cinco anos do estudo CLL141, que só incluiu doentes de perfil unfit, o Dr. Othman Al-Sawaf indica que “a maioria dos doentes trata dos com venetoclax-obinutuzumab permanece em remissão cerca de quatro anos após o final do tratamento1”. Além disso, 60% dos doentes tratados com este regime “não experimentaram qualquer evento que afetasse a sua sobrevida livre de progressão1”, acrescenta o hematologista no Hospital Universitário de Colónia, na Alemanha.
No estudo CLL141, o comparador foi o regime clorambucilo-obinutuzumab. Os resultados do seu follow-up a cinco anos levaram à aprovação de venetoclax-obinutuzumab como tratamento de primeira linha da LLC1,3, que, em Portugal, está comparticipado desde fevereiro de 2022.
Primeira linha em doentes fit
O estudo CLL132 avalia a utilização de veneto clax-obinutuzumab como tratamento de pri meira linha da LLC em doentes de perfil fit, cuja média de idades é 20 anos inferior à dos doentes incluídos no estudo CLL141. “Neste novo estudo,
a comparação está a ser feita com regimes de imunoquimioterapia mais agressivos e eficazes [fludarabina-ciclofosfamida associada a rituximab ou bendamustina-rituximab, de acordo com a idade]2”, contextualiza Othman Al-Sawaf.
Segundo o hematologista, os dados do CLL13 demonstram que “a combinação venetoclax-obi nutuzumab produz resultados superiores aos da imunoquimioterapia2, podendo ser utilizada tanto nos doentes mais jovens e sem comorbilidades como nos doentes mais velhos e menos saudá veis, porque mostra muito boa eficácia nos dois grupos1,2”. Por outro lado, “as remissões da LLC nos doentes fit são ainda mais profundas do que as observadas no estudo CLL141,2”.
Nos doentes unfit de alto risco (com mutação no gene TP53 e/ou deleção 17p), as respostas a venetoclax-obinutuzumab são semelhantes1,2, com a diferença de que, provavelmente, entrarão em recidiva mais cedo. “Quando recomendamos este tratamento, informamos os doentes consi derados de alto risco que poderão recidivar num período de quatro a cinco anos, ao contrário dos doentes que não têm esses fatores de mau prog nóstico, que podem ficar em remissão da doença entre seis a oito anos”, afirma Othman Al-Sawaf. “A combinação não está a ser estudada em doentes fit com alteração no gene TP53 no ensaio CLL13, que não inclui estes doentes”, acrescenta Maria Gomes da Silva.
Gerir a síndrome de lise tumoral O efeito adverso na fase inicial de administração do regime venetoclax-obinutuzumab é a síndrome de lise tumoral (SLT). No entanto, trata-se de um acon tecimento que pode ser prevenido e gerido em caso de ocorrência. “Felizmente, seguindo as precauções recomendadas, este é um acontecimento raro. No entanto, principalmente na fase inicial do trata mento, mas também durante toda a escalada da dose de venetoclax, deve-se controlar com regularidade a contagem de linfócitos e eletrólitos”, sublinha Othman Al-Sawaf.
A este respeito, Maria Gomes da Silva dá conta do procedimento adotado pelo Serviço de Hematologia Clínica do IPO de Lisboa para prevenir a ocorrência de SLT e gerir da melhor forma este efeito adverso, que é, aliás, o recomendado no Resumo das Característi cas do Medicamento3. “Começamos por estratificar o risco de SLT. Os doentes com elevada massa tumoral e alguns outros, por exemplo com disfunção renal ou fragilidades que requerem algum cuidado no manejo da quantidade de líquidos, são internados nas primeiras 36 horas após a administração de ve netoclax, um período que nos permite fazer uma hidratação endovenosa cuidada e monitorizar com frequência os marcadores bioquímicos e clínicos de SLT.” Além disso, “por norma, os doentes começam a prevenir a SLT, com a toma de alopurinol, cerca de uma semana antes de iniciarem o tratamento com venetoclax-obinutuzumab”, revela a hematologista.
Referências:
1. Al-Sawaf O, et al. The Lancet Oncol. 2020;21(9):1188-1200.
2. Tresckow J, et al. J Clin Oncology. 2018;36(15). DOI: 10.1200/JCO.2018.36.15_suppl. TPS7582. 3. Resumo das Características do Medicamento Venclyxto®, atualizado em junho de 2021.
Nova terapêutica de segunda linha para o linfoma difuso de grandes células B
O tafasitamab é um anticorpo monoclonal humanizado específico para CD191. A sua combinação com lenalidomida resulta numa das mais recentes opções de tratamento de segunda linha para os doentes com linfoma difuso de grandes células B (LDGCB), recidivante ou refratário, que não são elegíveis para transplante autólogo de progenitores hematopoiéticos1. No simpósio organizado pela Incyte, estarão em análise alguns dos dados do estudo L-MIND2, que levou à aprovação desta terapêutica, bem como a experiência de vida real de um hematologista da Alemanha.
por Marta CarreiroOsimpósio começará com algumas pa lavras introdutórias do Dr. José Mário Mariz sobre a estratégica atual para o tratamento do LDGCB em recidiva ou refratário. “Vou elencar os esquemas terapêuticos que temos disponíveis para estes doentes, que, em teoria, pela sua idade, não são elegíveis para trans plante autólogo de progenitores hematopoiéticos”, introduz o diretor do Serviço de Hematologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto. Assim sendo, o tratamento passa, sobretudo, por terapêuticas de segunda linha, com ou sem rituximab, uma vez que “a maioria destes doentes já fez rituximab em primeira linha”. No IPO do Porto, o protocolo mais utilizado é o R-MINE (rituximab -mesna, ifosfamida, mitoxantrona e etoposídeo). No entanto, outras instituições recorrem a proto colos alternativos, como o R-GEMOX (rituximab -gencitabina e oxaliplatina). “Mais recentemente, começou-se a utilizar a associação de polatuzu mab vedotina a rituximab e bendamustina. Nos doentes com poucas hipóteses de resposta, por vezes, opta-se pela terapêutica oral e paliativa, conhecida como protocolo PEPC [prednisona, eto posido, procarbazina e ciclofosfamida]”, resume José Mário Mariz.
Recentemente, surgiu uma nova terapêutica –tafasitamab em combinação com lenalidomida. “Esta proposta é muito interessante, pois tem um novo alvo terapêutico. O tafasitamab é um anticorpo monoclonal dirigido ao CD19, enquanto o rituximab é dirigido ao CD20. Assim, temos a possibilidade de variar o alvo e, eventualmente, obtermos mais sucesso no tratamento do LDGCB”, diz o moderador.
Destaques do estudo L-MIND2
Na primeira preleção do simpósio, o Prof. Nagesh Kalakonda, hematologista no Clatterbridge Can cer Centre NHS Foundation Trust, no Reino Unido, vai apresentar os principais resultados do estudo L-MIND2, que levou à aprovação do esquema tafasitamab-lenalidomida como tratamento de segunda linha do LDGCB em recaída ou refratário, em doentes não elegíveis para transplante autólogo de progenitores hematopoiéticos2
O endpoint primário foi a proporção de doentes que atingem resposta objetiva (completa ou par cial)2. Dos 80 doentes que receberam tafasitamab -lenalidomida, 34 tiveram uma resposta completa e 14 uma resposta parcial2. “Com esta terapêutica, é possível obter respostas globais na ordem dos 60% e respostas completas na ordem dos 40%2”, comenta José Mário Mariz.
Experiência de vida real Na segunda preleção do simpósio, o Dr. Moritz Bewarder falará sobre a sua experiência de vida real com tafasitamab-lenalidomida. “Utilizo esta terapêutica há cerca de dois anos. O nosso processo passa por administrar a primeira dose de tafasita mab no hospital. Depois, o tratamento prossegue em casa dos doentes. Verificamos a contagem das plaquetas, geralmente, de duas em duas semanas,
permanecendo o doente com a combinação du rante um ano. Após esse período, caso o tratamento esteja a ser bem tolerado, o doente pode continuar com tafasitamab até progressão da doença”, explica o hematologista no Saarland University Medical Center, na Alemanha.
De acordo com Moritz Bewarder, “o tafasitamab é um anticorpo muito eficaz, principalmente quando combinado com a lenalidomida, que potencia a sua eficácia”. “No centro onde trabalho, temos visto respostas eficazes e boa tolerabilidade a esta tera pêutica, mesmo nos doentes de idade avançada e naqueles que já passaram por diversas linhas de quimioterapia.” Por outro lado, o hematologista realça o facto de esta combinação ser “fácil de usar, permitindo até ser realizada em casa dos doentes, com exceção da primeira toma”.
Quanto ao perfil de segurança, “o principal efeito adverso a longo prazo de tafasitamab-lenalidomida é a imunossupressão”. Depois, seguem-se as reações alérgicas que “são possíveis de prevenir”, esclarece Moritz Bewarder. O hematologista sublinha que esta terapêutica “só deve ser suspensa nos casos de infeção de longo prazo, que necessitam de trata mento em âmbito hospitalar”, após o qual, “estando o doente recuperado da infeção, o tratamento com tafasitamab-lenalidomida pode ser retomado”.
Referências: 1. Resumo das Características do Medicamento Minjuvi®, atualizado em janeiro de 2022. 2. Salles G, et al The Lancet Oncol. 2020;21(7):978-988.
Reunião anual SPH
Cuidados hemato-oncológicos centrados no doente
Organizado pela equipa de Enfermagem do Serviço de Hematologia Clínica do Instituto de Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, o Programa de Enfermagem da Reunião Anual 2022 da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) caracteriza-se pela abrangência, colocando o doente no centro de toda a atuação. Da multidimensionalidade da abordagem ao doente hematooncológico até ao contributo dos enfermeiros nos tratamentos com células CAR-T, os temas do programa científico são analisados nesta entrevista pelos enfermeiros Elsa Pedroso, Luís Duarte (Comissões Organizadora e Científica) e Isilda Rebelo (Comissão Científica).
Que prioridades estiveram na base da definição do programa científico?
Elsa Pedroso, enfermeira-chefe do Serviço de He matologia Clínica do IPO de Lisboa (EP): A primeira sessão, intitulada “Multidimensionalidade: cuidar a pessoa com doença hemato-oncológica”, tem como objetivo dar a conhecer o trabalho desenvolvido no Serviço de Hematologia Clínica do IPO de Lisboa, sendo, por isso, a forma ideal de abrir a reunião. Quisemos também dar ênfase a novos projetos e à inovação, sem esquecer a abordagem do percurso do doente. Os doentes são o nosso principal foco e, com os temas selecionados, conseguimos percorrer todas as fases do seu tratamento, transmitindo alguns dos novos projetos em curso. Além disso, queremos motivar os enfermeiros, daí a escolha de uma coach comportamental, a Dr.ª Vânia Prudêncio, para a con ferência “Comunicar está no nosso sangue!”.
Em que vai consistir o momento “quebra-gelo” do programa?
Isilda Rebelo (IR): A SPH tem um grupo de enfermei ros relativamente pequeno e a ideia do “quebra-gelo” é tentar criar união dentro desse grupo, aproximando os participantes, para que se conheçam melhor e possam surgir projetos interinstitucionais. Há poucos serviços de hemato-oncologia em Portugal, portanto, toda a inovação terá grande impacto.
Luís Duarte (LD): Uma da mesas-redondas intitula-se “Novos desafios e inovação”, na qual tentámos incluir aspetos não muito comuns, como é o caso do projeto
“Bela-Me-Quero”, sobre cuidados oncoestéticos. Que remos dar visibilidade a projetos “fora da caixa” que possamos partilhar e sejam uma mais-valia para todos os enfermeiros que trabalham nesta área. O nosso principal objetivo é melhorar a qualidade de vida dos doentes, abrangendo diversas dimensões, a começar pela comunicação entre enfermeiro e doente.
Outra mesa-redonda incidirá nos desa fios da enfermagem hemato-oncológica. Quais são?
IR: Prestar cuidados em hemato-oncologia é, por si só, um desafio. Os doentes são confrontados, em muito pouco tempo, com situações que os colocam perante um grande risco de mortalidade. Passam por um enorme sofrimento, pelo que qualquer melhoria na sua vida faz diferença. Nesse sentido, vamos abor dar questões como a segurança na administração de componentes sanguíneos e terapêuticas. A imuno terapia trouxe novos desafios para a prestação dos cuidados de enfermagem, porque temos de conhecer as implicações e as reações muito particulares dos novos fármacos. Depois, vamos também abordar o controlo sintomático, nomeadamente a fadiga no doente hemato-oncológico.
Sobre a sessão “Um percurso, várias fases!”, o que há a destacar?
EP: Pretendemos abordar o acolhimento do doente no serviço, aquando do seu primeiro internamento. Também vamos discutir a sobrevivência, porque acompanhamos doentes com muitas dificulda des, mas os sobreviventes são inúmeros e importa destacar o sucesso terapêutico. Depois, falaremos sobre cuidados paliativos em Oncologia, sobretudo quando a quimioterapia não é suficiente e temos de dar conforto e resposta às necessidades do doente.
Que emergências em Oncologia serão discutidas na mesa-redonda dedicada a esse tema?
LD: Vamos falar sobre síndrome lise tumoral e urgências hemato-oncológicas. No fundo, preten demos rever esses temas, acrescentando o cunho da nossa experiência, colocando em prática as vivências da Hematologia. O nosso maior objetivo para esta sessão é gerar uma troca de experiências dinâmica.
Porque decidiram incluir a terapêutica com células CAR-T no Programa de Enfermagem?
LD: Trata-se de uma terapêutica inovadora e o nosso centro tem experiência na sua utilização. Nesse sentido, pretendemos falar não só das situações em que o tratamento corre bem, mas também sobre os casos que não correm tão bem, por exemplo, devido a doenças infeciosas ou a falência terapêutica.
EP: O tratamento com células CAR-T é inovador, mas começamos a ter resultados. Então, o principal objetivo é partilharmos a experiência de dois anos com esta terapêutica na prática clínica do IPO de Lisboa, do ponto de vista da Enfermagem.
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As várias dimensões dos cuidados à pessoa com doença hemato-oncológica
Na mesa-redonda “Multidimensionalidade: cuidar a pessoa com doença hemato-oncológica”, estará em análise a adaptação emocional do doente à sua nova condição, para a qual a ajuda psicológica é essencial, e a importância da intervenção dos assistentes sociais, dos nutricionistas e dos enfermeiros.
por Diana VicenteAprimeira apresentação, que é dedicada à adaptação emocional da pessoa com doença hemato-oncológica, será asse gurada pela Dr.ª Cristina Nave, psicóloga clínica no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa. Trata-se de “facilitar o processo e ajudar na gestão do impacto que o diagnóstico e o tratamento de uma doença hemato-oncológica têm no bem-estar da pessoa”. O doente pode lidar melhor com todo o processo se receber “apoio emocional, familiar e social, bem como acolhimento pelas estratégias que cada profissional pode dar para o ajudar a superar os desafios”, sublinha a preletora.
Neste tipo de doenças, “os tratamentos são pro longados e podem interromper o curso normal da vida das pessoas”. Por isso, “estes doentes lidam com o sofrimento físico decorrente da sintomatologia e dos tratamentos, mas também com o sofrimento emocio nal derivado das exigências da doença”, afirma Cristina Nave. Tendo esses aspetos em conta, “uma abordagem integrada ao doente tem de incluir não só o cuidado e o bem-estar físico, mas também tem de responder ao sofrimento psicológico”. Para tal, “é preciso ter em consideração a etapa de vida em que a pessoa está, a fase da doença e conhecer estrutura do seu suporte familiar”, defende a psicóloga.
Intervenção social
Na segunda preleção, a Dr.ª Inês Portugal, assistente social no IPO de Lisboa, vai discutir o papel da inter venção social. “O trabalho com os doentes hemato -oncológicos em internamento prende-se muito com a preparação das altas e o apoio que possam precisar nessa fase, porque estas patologias acabam por im plicar muitas alterações ao nível familiar, financeiro e laboral.” Por isso, a par do levantamento das condições para o doente regressar ao seu domicílio, “os assis tentes sociais analisam a existência deum cuidador e procuram mecanismos que possam ir ao encontro das necessidades do doente, para além da doença”, refere Inês Portugal.
Para os casos que necessitam de apoio domiciliário, o serviço social “pode estabelecer uma articulação com instituições da comunidade”. Quando não é viável o retorno do doente ao seu domicílio após a alta hospi talar, “estuda-se a possibilidade de encaminhamento para a Rede Nacional de Cuidados Paliativos ou outra estrutura com regime de internamento”. No IPO de Lisboa, por exemplo, “o papel dos assistentes sociais está muito ligado a uma intervenção multidisciplinar com a equipa médica e de enfermagem”, indica Inês Portugal.
Acompanhamento nutricional
Em seguida, Diana Pereira, nutricionista no IPO de Lisboa, discorrerá sobre a intervenção nutricional. A pertinência deste tema justifica-se com o facto de “um melhor cuidado nutricional favorecer todo o desfecho e a recuperação dos doentes, além de ter impacto na qualidade de vida, na capacidade funcional e no bem-estar”. Nesse sentido, a prele tora destaca a importância de “integrar a interven ção nutricional no plano de cuidados dos doentes hemato-oncológicos”.
“No Serviço de Hematologia Clínica do IPO de Lisboa, atuamos, sobretudo, no internamento”, cla rifica a nutricionista. Dependendo da patologia e das características e preferências do doente, há vários fatores que podem condicionar as opções alimenta res. Acresce “toda a carga da medicação intensa, que gera alguns períodos de maior aversão a alguns ali mentos”. Por isso, a intervenção nutricional realiza-se “em função da história clínica do doente, procurando colmatar os desequilíbrios nutricionais decorrentes das mudanças alimentares e da redução do apetite, para prevenir as perdas de peso”, diz Diana Pereira.
Mudanças nos cuidados de enfermagem A última apresentação abordará a evolução dos cui dados de enfermagem nas enfermarias de hemato -oncologia. Nesse sentido, Inês Bargão, enfermeira no Serviço de Hematologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria, vai refletir sobre os desafios que surgiram na última década. Um estudo realizado no seu Serviço mostra que “a complexidade dos doentes mudou, desde o número de casos críticos e instáveis até ao tipo de patologias, que, atualmente, surgem em fases mais agudas e crí ticas”. As conclusões deste estudo “vão ao encontro da literatura atual de Hematologia, segundo a qual a complexidade do doente em internamento está a mudar”.
A título de exemplo, a enfermeira indica que “a percentagem de internamentos por leucemias agudas aumentou muito nos últimos dez anos, mas a taxa de mortalidade desceu francamente”. Além disso, hoje em dia, “os serviços de hemato-oncologia recebem doentes muito mais jovens”. Segundo Inês Bargão, com as alterações ao nível do tipo de doen tes e patologias, foi necessário adaptar a enfermaria. Entre outras medidas, “o número de enfermeiros por turno foi aumentado, surgiu a necessidade de atualizar conhecimentos, de adequar os cuidados e de tentar implementar alguns protocolos para lidar com doen tes instáveis no dia-a-dia”, reconhece a oradora. ND
OPINIÃO
Comunicação e autocuidado em Enfermagem
Na conferência “Comunicar está no nosso SANGUE!” vamos promover a comunica ção, que é a base de qualquer relação humana. Só conseguimos cuidar dos outros quando cuidamos também de nós. Estudos re centes mostram que os enfermeiros apresentam níveis moderados a altos de burnout. Este grupo profissional foi muito fustigado pela pandemia e sofre níveis muito elevados de stresse negativo, como as investigações revelam. Os enfermeiros percebem que precisam de mais ferramentas para comunicar ainda melhor.
Esta apresentação vai partilhar estratégias de autocuidado e autoconsciência, por sua vez ligadas à inteligência emocional. Neste contexto, vamos discutir a importância da respiração consciente e o seu impacto na autorregulação. Tudo isto também se relaciona com a comunicação e pode ser apli cado ao nível da saúde. Se eu cuidar mais de mim, consigo ter melhores pensamentos e comunicar melhor. Em simultâneo, estas ferramentas poten ciam a felicidade, a produtividade e permitem transformar muito do potencial em talento efetivo.
Na conferência, também serão abordadas as aptidões sociais e a empatia, que estabelecem a conexão entre diferentes pessoas. Uma das ferramentas vitais na relação com os outros é a comunicação não-verbal, que tem um impacto enorme na diminuição do distancia mento social. É isso que queremos: aproximar as pessoas, quer sejam doentes ou colegas de equipa. Todos os nossos gestos e outras for mas de comunicação não-verbal influenciam a interpretação da nossa comunicação verbal pelos outros.
Vamos ainda discutir as emoções mais bá sicas e mais frequentes, porque é importante percebermos o que sentimos para entendermos o outro. No contexto da Enfermagem, é crucial estarmos atentos ao que as pessoas expressam – se tiveram medo, se se retraíram, se ficaram surpreendidas… A descodificação de algumas emoções, que muitas vezes conseguimos deci frar só pela expressão facial, é importante para entender se o doente ficou ou não confortável, dando-lhe o apoio e o suporte necessários.
PROGRAMA DOS SIMPÓSIOS-SATÉLITE
14h30 – 15h15, Sala 1: Simpósio-satélite AstraZeneca “Da evidência à prática clínica com acalabrutinib: um olhar sobre o impacto na leucemia linfocítica crónica”
14h30 – 14h50, Sala 2: Simpósio-satélite EUSA Pharma “Desafios na prática clínica no manejo de uma doença rara: doença de Castleman”
15h00 – 15h20, Sala 2: Simpósio-satélite Bristol Myers Squibb “Abordagem das síndromes mielodisplásicas de baixo risco: reduzir as transfusões sanguíneas”
15h30 – 16h15, Sala 1: Simpósio-satélite AstraZeneca “Profilaxia da COVID-19 em doentes hemato-oncológicos: a vacinação será suficiente?”
15h30 – 16h15, Sala 2: Simpósio-satélite Binding Site “Importância da monitorização do sistema imune para otimiza ção do seguimento dos doentes com mieloma múltiplo”
16h30 – 17h15, Sala 1: Simpósio-satélite GlaxoSmithKline “Blenrep® – inovação no tratamento do mieloma múltiplo: dos estudos à prática clínica”
16h30 – 17h15, Sala 2: Simpósio-satélite Incyte “Tafasimab: a new therapeutic approach from 2L and beyond in DLBCL”
17h30 – 18h15, Sala 1: Simpósio-satélite Roche “The new lymphoma paradigms”
17h30 – 18h15, Sala 2: Simpósio-satélite Amgen “Kd como ‘backbone’ no tratamento do MM refratário – discussão de casos clínicos”
18h30 – 19h15, Sala 1: Simpósio-satélite Janssen “Darzalex®: para lá dos ensaios clínicos. A experiência em Portugal. Transformar o tratamento do MM em 1.ª linha”
18h30 – 19h15, Sala 2: Simpósio-satélite Abbvie “Remissão com tratamento finito: 1.ª escolha na LLC”
19h30 – 20h15, Sala 1: Simpósio-satélite Janssen “Imbruvica®: para lá dos ensaios clínicos. A experiência em Portugal. A transformação do tratamento em três patologias (LLC, LCM e MW)”
19h30 – 20h15, Sala 2: Simpósio-satélite Gilead “Como Yescarta® está a revolucionar o percurso dos seus doentes com LDGCB”