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9 Dezembro 6.ª feira
Caminhos de futuro no tratamento da DMI
O tratamento da degenerescência macular ligada à idade (DMI) com abordagens alternativas aos anti-VEGF, como a neuroproteção para prevenir a atrofia ou a identificação e remoção das lipoproteínas acumuladas na membrana de Bruch, vai ser abordado hoje, na Conferência Cunha-Vaz, pela Dr.ª Joan W. Miller (pág.3). Outros momentos altos do Congresso serão a investigação da Dr.ª Liliana Páris na área da retinopatia diabética (RD), apresentada esta manhã na Conferência SOE do Jovem Investigador (pág.2), e as potencialidades da avaliação automatizada na RD, que estarão no cerne da conferência do Prof. Adnan Tufail (pág.9) INTERVENIENTES NA CONFERÊNCIA PROF. CUNHA-VAZ (da esq. para a dta.): Prof. Manuel Monteiro Grillo, Prof.ª Maria João Quadrado, Dr.ª Joan Miller (preletora) e Prof. Fernando Falcão Reis
Visão SPO
HOJE
sexta-feira, dia 9
«A inosina poderá reeducar o metabolismo retiniano» O projeto de investigação desenvolvido no The Scripps Research Institute (EUA), no âmbito do doutoramento da Dr.ª Liliana Páris, interna no Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto, em Lisboa, concluiu que a injeção intravítrea de inosina, um composto purínico, poderá reeducar o metabolismo retiniano em condições de isquemia. Esta e outras informações sobre a sua investigação na área da retinopatia diabética serão apresentadas na Conferência da SOE (Sociedade Europeia de Oftalmologia) do Jovem Investigador, que decorre entre as 11h15 e as 11h35, no auditório. João Paulo Godinho
Qual o significado de ter sido escolhida para apresentar a Conferência SOE do Jovem Investigador? Fiquei muito contente por saber que há interesse no trabalho de investigação que desenvolvi no meu doutoramento. Foi uma ótima surpresa ser convidada e é um grande privilégio apresentar a Conferência da SOE. Em que moldes decorreu a sua investigação e por que razão escolheu a retinopatia diabética (RD)? Durante quatro anos, interrompi a vida clínica, mudei-me para La Jolla e dediquei-me, a tempo inteiro, à ciência básica no The Scripps Research Institute. O facto de existirem doentes diabéticos de longa duração que parecem estar protegidos de complicações como a RD foi uma questão clínica que sempre me intrigou. Outro dos fatores que me levaram a escolher este tema foi a escassez de conhecimento quanto à fisiopatologia dos eventos iniciais na RD, que se traduz na ausência de terapêuticas dirigidas às fases iniciais desta doença. Quais foram as maiores surpresas ao longo do seu doutoramento? O trabalho em ciência básica pode ser frustrante porque a obtenção de resultados fiáveis requer bastante tempo e muitas repetições de protocolos experimentais. Isto é especialmente difícil para quem está habituado a fazer clínica e a
ter um sentimento de «missão cumprida» no final do dia. Ao longo do percurso, houve resultados inesperados, mas muitos deles acabaram por ser estimulantes e por conduzir os projetos em direções novas.
É na investigação a nível biológico e na identificação de biomarcadores que pode estar uma melhor resposta para a prevenção da RD? A investigação básica e a investigação clínica devem funcionar em estreita colaboração. Do ponto de vista clínico, uma grande vantagem da ciência básica é a possibilidade de testar hipóteses a partir de achados intrigantes. Acredito que a investigação biológica tem um papel fundamental na melhor compreensão da base fisiopatológica de várias doenças e, consequentemente, na identificação de biomarcadores e no desenvolvimento de terapêuticas dirigidas a alvos moleculares específicos. Como se poderá modular o metabolismo retiniano? A modulação do metabolismo retiniano na prevenção da progressão das retinopatias encontra-se pouco explorada em termos experimentais e ainda não é possível descrever com precisão os mecanismos moleculares subjacentes. No meu trabalho de investigação, a modulação do metabolismo foi conseguida mediante injeção intravítrea de um composto purí-
nico chamado inosina, que poderá ser um fator capaz de reeducar o metabolismo retiniano em condições de isquemia. Grupos de investigação no Reino Unido e nos EUA têm explorado esta vertente através da aplicação de luz monocromática para prevenir a «dark current» e, assim, reduzir os gastos metabólicos retinianos.
Quais os riscos e constrangimentos desta abordagem para os doentes? São os inerentes aos de uma injeção intravítrea. Outra possibilidade poderia ser administrar doses maiores de inosina por via oral. Neste caso, os riscos seriam ainda menores.
TRATAMENTO DO GLAUCOMA DE ÂNGULO ABERTO E HIPER
Esta pesquisa pode conduzir a uma mudança de paradigma na RD? Em termos clínicos, ainda pensamos na RD como uma patologia essencialmente vascular, porque a sua classificação clínica se baseia neste fenótipo. No entanto, em termos de fisiopatologia, já foi deEficaz controlo da PIO Respeito pela monstrado que as alterações neuronais ocorrem antes das 1º lalterações a t a n o p r o vasculares. st sem conservante E algumas destas alterações são, inclusive, detetadas em doentes pré-diabéticos. Penso que estamos mais perto de conhecer o contexto metabólico da RD com maior clareza. Colirio, solução em recipiente unidose
Ficha técnica Propriedade: Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Campo Pequeno, n.º 2, 13.º • 1000 - 078 Lisboa Tel.: (+351) 217 820 443 • Fax: (+351) 217 820 445 socportoftalmologia@gmail.com • www.spoftalmologia.pt
Latan
EFICÁCIA E TOLERÂNCIA Edição: Esfera das Ideias, Lda. Campo Grande, n.º 56, 8.º B • 1700 - 093 Lisboa • Tel.: (+351) 219 172 815 geral@esferadasideias.pt • www.esferadasideias.pt Direção: Madalena Barbosa (mbarbosa@esferadasideias.pt) Marketing e Publicidade: Ricardo Pereira (rpereira@esferadasideias.pt) Coordenação editorial: Luís Garcia (lgarcia@esferadasideias.pt) conservantes Textos: João Paulo Godinho, Maria João Fernandes, Marisa Teixeira e Sandra Diogo Fotografias: Egídio Santos, João Ferrão, Jorge Correia Luís e Rui Jorge Design/paginação: Susana Vale ESTÁVEL À TEMPERATURA AMBIENTE
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59.º Congresso português de oftalmologia
COMPROMISSO COM O GLAUCOM INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO
OPINIÃO
Tratamento da DMI para além dos anti-VEGF
O
s inibidores do fator de crescimento endotelial vascular [VEGF, na sigla em inglês] revolucionaram, verdadeiramente, o tratamento da degenerescência macular relacionada com a idade (DMI). Contudo, os resultados disponíveis de estudos de longo prazo sugerem que um processo degenerativo se manifesta, e continua a ocorrer, mesmo quando a neovascularização está controlada. Além disso, a terapêutica com agentes anti-VEGF pode exacerbar as alterações atróficas, quer pela limitação da perfusão da retina externa, quer pela interferência na função neurotrófica. A neuroproteção pode ser uma abordagem útil para prevenir a atrofia. Usando múltiplos modelos de degenerescência retiniana, o trabalho do nosso grupo e de outros mostra que os fotorrecetores podem ser preservados através de uma abordagem combinada. Apesar do sucesso dos anti-VEGF e da promessa de
neuroproteção, uma estratégia melhor seria abordar as causas da DMI e detetar mudanças numa fase precoce da doença, antes que ocorra a perda de visão. Uma alteração precoce parece ser a existência de anomalias no metabolismo e no transporte lipídico, com acumulação de lípidos na membrana de Bruch e na retina externa. Uma abordagem terapêutica passa por identificar as lipoproteínas retidas e, possivelmente, removê-las. Num case-study e num ensaio clínico multicêntrico e piloto, observámos uma regressão significativa dos drusens e melhoria da acuidade visual em doentes que tomavam elevadas doses de atorvastatina. Estes resultados, embora preliminares, justificam a continuação da investigação. Se continuarmos a investigar a patogénese da DMI, futuros tratamentos baseados na biologia, podem transformar a nossa abordagem aos doentes. Estas orientações incluem as alterações do
Dr.ª Joan W. Miller Diretora de Oftalmologia no Massachussets Eye and Ear e no Massachussets General Hospital, em Boston, EUA | Docente de Oftalmologia na Harvard Medical School | Preletora da Conferência Cunha-Vaz, que decorre entre as 12h05 e as 12h30, na sala 1 (auditório)
envelhecimento e da senescência, o metabolismo e o transporte lipídico, a inflamação, o stresse e a toxicidade celular. Devido à heterogeneidade da DMI, o progresso terapêutico será beneficiado pela melhoria da fenotipagem e da classificação, bem como pelo desenvolvimento de biomarcadores.
Novos paradigmas para o futuro da Saúde
O
projeto de um subcluster de Oftalmologia no âmbito do Health Cluster Portugal (HCP), a avaliação de resultados através sistema ICHOM (International Consortium for Health Outcomes Measurement) e a criação de uma rede de investigação clínica em Oftalmologia no nosso País são os temas em análise no simpósio que se inicia às 14h30, na sala 2 (Sofia). O Prof. Joaquim Murta, diretor do Centro de Responsabilidade Integrado de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), é o moderador desta sessão,
que tem também como oradores o Prof. Daniel Bessa, ex-ministro da Economia, o Eng.º Joaquim Cunha, diretor executivo do HCP, e o Dr. Luís Rocha, diretor de Relações Institucionais e Acesso ao Medicamento na Novartis. Criado em 2008, o HCP lança agora o subcluster de Oftalmologia, que resulta da ideia lançada há menos de um ano pelos seus promotores e conta com o envolvimento de instituições hospitalares públicas e privadas, de empresas e do Ministério da Saúde. Este projeto visa iniciar a adoção da avaliação de outcomes em Oftalmologia (após cirurgia de catarata, cirurgia refrativa e degenerescência macular relacionada com a idade) pelo sistema ICHOM, bem como a criação de uma rede nacional de investigação clínica que, segundo Joaquim Murta, acarreta uma «mudança de paradigma» na Medicina. «No futuro, os pagamentos na área da Saúde não se basearão na quantidade, mas sim nos outcomes. Este modelo visa promover a qualidade nos sistemas de saúde, reportando dados que os médicos querem e os doentes realmente
necessitam, bem como atrair atividades de investigação e desenvolvimento da indústria farmacêutica e de biotecnologia para Portugal. Cada vez mais, o foco deve estar no doente, nas suas necessidades e nos resultados», avança. Segundo Joaquim Murta, «a criação deste subcluster irá contribuir para o crescimento transversal da investigação clínica em Portugal, bem como a sua inserção e reconhecimento na União Europeia, em torno de projetos concretos de grande envergadura na área das doenças oftalmológicas. A sua dinamização pretende reunir um conjunto de competências científicas, clínicas e empresariais, promovendo a articulação e a cooperação dos participantes». Este projeto envolve, pela primeira vez, um conjunto de hospitais públicos e privados (11), tal como empresas e instituições do setor. No entender de Joaquim Murta, é necessário «aproveitar as estruturas e as vontades existentes para promover a criação de uma rede de investigação clínica em Oftalmologia no nosso País. João Paulo Godinho de z embro 2 0 1 6
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Visão SPO
HOJE
sexta-feira, dia 9
Novas soluções para a baixa visão
Dr.ª Catarina Paiva (coordenadora), Prof.ª Keila Monteiro, Dr.ª Ana Almeida e Dr. Paulo Vale. Ausentes na foto: Dr. Vasco Miranda e Dr.ª Viviana Ferreira
A
sensibilização dos oftalmologistas para a problemática da baixa acuidade visual é o mote para o Curso de Baixa Visão, que arranca às 14h30, na sala 5 (Inês de Castro), sob a orientação da Dr.ª Catarina Paiva, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e coordenadora do Grupo Português de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo (GPOPE). «A baixa acuidade visual é um tema muito descurado no dia a dia dos oftalmologistas, por isso, este curso vai abordar os objetivos visuais para cada tarefa e
qual a acuidade que se deve ter», refere a coordenadora. Nesta sessão, serão ainda apresentadas novas ajudas eletrónicas e um livro em braile editado pelo Centro de Apoio à Intervenção Precoce na Deficiência Visual (CAIPDV). Os restantes intervenientes neste curso são a Prof.ª Keila Monteiro, oftalmologista e docente na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Brasil), que vai abordar as ajudas para a visão ao perto; a Dr.ª Ana Almeida, oftalmologista no Hospital Beatriz Ângelo, em
Loures, que vai falar sobre os objetivos visuais; o Dr. Vasco Miranda, oftalmologista no Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António, responsável por analisar as ajudas eletrónicas, e a Dr.ª Viviana Ferreira, psicóloga e diretora do CAIPDV, que vai comentar a importância dos livros adaptados. Entre os diferentes temas em análise, Catarina Paiva destaca o peso crescente da tecnologia na ajuda ao doente. «Há um manancial de meios ao nosso dispor que a maior parte dos oftalmologistas não conhece e que melhoram muito a qualidade de vida dos doentes. Há cada vez mais aplicações para smartphones, por exemplo, que procuram adaptar os doentes e ser inclusivas», defende a especialista. Catarina Paiva lamenta que a baixa visão seja encarada como o «fim da linha» e defende que «a consulta de baixa visão deve vir em simultâneo com as cirurgias e as terapêuticas». Segundo a coordenadora, este alerta só terá efeito quando se deixar de ver a reabilitação visual como «o parente pobre» da Oftalmologia. João Paulo Godinho
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59.º Congresso português de oftalmologia
Quebrar mitos na retina médica e cirúrgica
Dr. Filipe Mira, Dr.ª Belmira Beltrán, Dr. Joaquim Canelas, Dr.ª Rita Flores, Profs. Rufino Silva e João Figueira (coordenadores), Dr.ª Angelina Meireles, Dr. David Martins, Dr. João Branco e Prof. Amândio Rocha Sousa. Ausentes na foto: Dr. João Nascimento, Prof. Carlos Marques Neves, Prof.ª Ângela Carneiro e Dr.ª Maria João Furtado
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oordenados, respetivamente, pelos Profs. João Figueira e Rufino Silva, oftalmologistas no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, o Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV) e o Grupo de Estudos da Retina (GER) organizam, entre as 14h30 e as 15h30, na sala 3 (Almedina) um simpósio conjunto centrado no debate à volta da desmistificação de ideias sobre retina médica e cirúrgica. João Figueira destaca como temas da retina cirúrgica o risco de descolamento de retina na mulher míope, a retinopexia profilática, gases de longa duração e a antiagregação na cirurgia do descolamento da retina. «Vamos apre-
sentar casos e auscultar as opiniões da assistência para perceber se os dogmas do passado continuam ou se a conduta clínica atual foi alterada com base nos mais recentes dados científicos», refere o coordenador do GPRV. Com um painel de oradores composto por Dr.ª Angelina Meireles, Dr. João Branco, Prof. Amândio Rocha Sousa, Prof. Carlos Marques Neves, Dr. João Nascimento, Dr. David Martins, a parte do simpósio dedicada à retina cirúrgica incentivará a dar o «passo em frente» perante os «grandes avanços tecnológicos e do conhecimento». Já no momento dedicado à retina médica, o painel de experts será constituí-
do por: Prof.ª Ângela Carneiro, Dr. Filipe Mira, Dr.ª Belmira Beltrán, Dr.ª Rita Flores, Dr. Joaquim Canelas e Dr.ª Maria João Furtado. Neste âmbito, Rufino Silva irá questionar três ideias que orientaram a prática clínica até muito recentemente. «Algumas têm mais de cinco décadas e regularam com evidência ditatorial», frisa. O primeiro dogma envolve a retinopatia diabética proliferativa (RDP) e a fotocoagulação pan-retiniana. «Os resultados do Protocolo S e do estudo Proteus vieram lançar uma nova forma de pensar a RDP», esclarece Rufino Silva. Outro dogma é a relação entre a oclusão da veia central da retina (OVCR) e o glaucoma dos 90 dias (neovascular). «O tratamento do edema macular associado à OVCR com anti-VEGF veio alterar esta evidência e podemos ser surpreendidos por glaucomas neovasculares após interromper o tratamento.» O terceiro dogma é a imprescindibilidade da angiografia fluoresceínica (AF) na patologia macular. «Com o aparecimento da angiografia por tomografia de coerência ótica, será possível substituir a AF na avaliação do envolvimento macular em várias patologias», remata o presidente do GER. João Paulo Godinho
livro sobre o laser na Oftalmologia
E
ntre as 15h30 e as 16h30, a sala 3 (Almedina) está reservada para a apresentação do livro Laser Manual in Ophthalmology – Fundamentals and Laser Clinical Practice. Coordenado pelo Dr. José Henriques (presidente da Sociedade Portuguesa Interdisciplinar do Laser Médico – SPILM), pela Dr.ª Ana Duarte (membro da SPILM) e pela Dr.ª Teresa Quintão (do Instituto da Retina de Lisboa), esta obra aborda os fundamentos do laser e toda a sua aplicação clínica. José Henriques afirma que «este manual tem informação fundamental e básica para a compreensão do próprio laser», defendendo que os oftalmologistas «têm a obrigação de saber como esta ferramenta funciona, quais os seus efeitos e riscos, bem como os cuidados a ter». «Um aspeto importante deste livro é, precisamente, o seu caráter prático», ressalva.
Ao longo de cerca de 500 páginas em inglês e com o contributo de 130 especialistas nacionais e estrangeiros, esta obra abrange «todas as áreas da Oftalmologia» e é a concretização de um projeto de longa data da SPILM. «O laser é multifacetado e versátil. Desde o diagnóstico ao tratamento, tem um papel muito importante dentro da Oftalmologia», frisa José Henriques. A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) concedeu patrocínio científico a este livro, em reconhecimento do seu valor. «A SPO tem como missão promover o desenvolvimento da especialidade nos seus diferentes aspetos, nomeadamente científico, pedagógico e de investigação. Desta forma, foi parceira científica na realização deste projeto que muito valorizamos. Honrou-nos sobremaneira fazer parte deste livro, que reflete a abertura
de horizontes pela diversidade de contribuições. Este é o verdadeiro exemplo daquilo que todos nós temos consciência: que se faz muito e de elevadíssima qualidade entre nós», sublinha a Prof.ª Maria João Quadrado, presidente da SPO. de z embro 2 0 1 6
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Visão SPO
HOJE
sexta-feira, dia 9
Os novos horizontes do endotélio corneano
Dr. Luís Oliveira, Dr. Walter Rodrigues, Dr.ª Esmeralda Costa (coordenadora), Dr. José Ottaiano, Dr. João Feijão e Dr. António Limão. Ausentes na foto: Dr. Nuno Alves (coordenador) e Dr. Luís Torrão
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ebater os novos caminhos da Medicina para o endotélio corneano é o principal objetivo do painel de discussão do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia (GPSOC), que decorre entre as 15h30 e as 16h30, na sala 6 (D. Pedro), sob a coordenação da Dr.ª Esmeralda Costa, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e coordenadora do GPSOC, e do Dr. Nuno Alves, oftalmologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central. Com foco na medicina regenerativa e no seu impacto a médio prazo na prática clínica, este Curso vai sublinhar a «mudança de paradigma» ao nível do
endotélio corneano. «Atravessamos uma reviravolta no que diz respeito às endoteliopatias – passar dos transplantes “sólidos” para a injeção de células na câmara anterior. Isso já não é ficção científica», diz Esmeralda Costa. E acrescenta: «Esses tratamentos podem adiar ou substituir o transplante de córnea, o que pode ser suficiente para melhorar a qualidade de vida dos doentes. As terapias da medicina regenerativa vão substituir, em grande parte, os transplantes que realizamos.» Apesar de estas novas terapias não estarem ainda em aplicação clínica, o futuro é promissor. Segundo Esmeralda Costa, estas transformações são benéficas para
os doentes, face à pouca disponibilidade de córneas para transplante, mas também para os oftalmologistas, que passam a dispor de «tratamentos até agora inexistentes», nomeadamente pela expansão em laboratório de células do endotélio da córnea. «Dado o aumento da esperança de vida, a tendência natural é que o número de dadores seja cada vez menor em relação às necessidades, pelo que as novas terapias são necessárias», observa. O futuro do endotélio corneano também reserva constrangimentos relacionados com a regulação rígida das terapias biológicas e os seus custos elevados. Para Esmeralda Costa, o avanço multidisciplinar na Oftalmologia é a única certeza: «Há terapias celulares que estão a mudar por completo os prognósticos de várias doenças.» Esta sessão conta com a intervenção dos seguintes comentadores: Dr. António Limão, vice-presidente da SPO; Dr. Luís Oliveira, do Centro Hospitalar do Porto; Dr. José Ottaiano, vice-presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia; Dr. Luís Torrão, do Centro Hospitalar de São João, no Porto; Dr. Walter Rodrigues, do Centro Hospitalar Lisboa Norte; e Dr. João Feijão, do Centro Hospitalar de Lisboa Central. João Paulo Godinho
Produção científica com o cunho da SPO
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ntre as 11h35 e as 12h05, terá lugar, no auditório, a apresentação da monografia OCT em Oftalmologia. «A OCT [tomografia de coerência ótica] é transversal, interessa à maioria dos oftalmologistas, tanto os que dedicam às patologias do segmento anterior, como às do segmento posterior», explica a Prof.ª Ângela Carneiro, vogal da Comissão Central da SPO, que estará presente na mesa desta apresentação, a par da Prof.ª Maria João Quadrado e da Dr.ª Rita Flores, respetivamente presidente e secretária-geral. Para a elaboração desta obra, de 86 capítulos, contribuíram 120 autores, com o objetivo de criar «um manual prático e constituído por muitas imagens, que ilustram a utilidade da OCT nas mais variadas patologias oculares». O resultado, segundo Ângela Carneiro, é «uma monografia bastante atualizada, que surge numa altura em que a OCT tem sofrido avanços 6
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tecnológicos muito importantes, sendo um exame imprescindível para a prática clínica diária de muitos oftalmologistas». Seguidamente, Maria João Quadrado falará sobre os vários livros e manuais lançados e/ou apoiados pela SPO em 2015-2016, «o biénio com mais produção científica neste âmbito». Outro livro que também será apresentado neste Congresso intitula-se Laser Manual in Ophthalmology – Fundamentals and Laser Clinical Practice (ver página 5). Mas o biénio foi mais além no que toca a publicações, com obras como o Manual of Ophthalmic Plastic and Reconstructive Surgery e o e-book Fillers e Toxina Botulínica em Oculoplástica, da autoria do Dr. Guilherme Castela, coordenador do Grupo Português de Órbita e Oculoplástica. É também de referir o Manual de Retina, resultante da colaboração de 140 autores portugueses e brasileiros, que se junta-
ram para criar o primeiro manual lusófono, com orientações para o diagnóstico e o tratamento das doenças da retina ao longo de 126 capítulos. Marisa Teixeira
Vulnerabilidade e informação médica
Prof.ª Leonor Almeida
Prof.ª Maria do Céu Machado
Prof. André Dias Pereira
Os conceitos em torno da vulnerabilidade dos doentes, a forma como os médicos devem informar no caso das crianças, dada a sua autonomia reduzida, e o enquadramento jurídico do consentimento neste grupo são os temas em debate no simposium que decorre das 15h30 às 16h30, na sala 5 (Inês de Castro). Será ainda homenageado o contributo para uma Medicina com ética do Prof. João Lobo Antunes, o neurocirurgião falecido recentemente. João Paulo Godinho
A
Prof.ª Leonor Almeida, oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria (CHLN/HSM), vai abrir o simposium «Vulnerabilidades e informação médica» com uma introdução sobre as diferentes dimensões do conceito de vulnerabilidade, nomeadamente nas suas vertentes substantiva e adjetiva e na sua evolução histórica. Referindo que «os sentidos da “vulnerabilidade” como característica, condição e princípio são articuláveis», a especialista irá centrar-se, sobretudo, nas crianças. «Elas são mais vulneráveis, sendo os pais os depositários da sua vontade; são eles que dão o consentimento, mas a criança deve ser considerada e informada. Cada vez mais se está a caminhar para essa informação partilhada.» Defensora de uma maior formação ao nível da comunicação médica, Leonor Almeida vai também apelar à necessidade de uma Medicina mais narrativa, que vá além do hospital e se abra ao mundo exterior. «Há toda uma metodologia para nos aproximarmos das pessoas mais vulneráveis e não transmitir tout court uma informação estandardizada. O consentimento informado é mais “plástico” do que
possa parecer.» Para esta oftalmologista, a noção de consentimento não tem somente um cariz jurídico, «é também real» e deve reconhecer a suscetibilidade como um novo sentido para a vulnerabilidade do doente. «O consentimento prevê a autonomia dos indivíduos, mas, quando estes são considerados vulneráveis pela sua condição, não deixam de ter a possibilidade de decidir», sublinha. O simposium continuará com a palestra da Prof.ª Maria do Céu Machado, diretora do Departamento de Pediatria do CHLN/ /HSM, que irá centrar-se na forma como o médico deve informar perante um quadro clínico de vulnerabilidade na criança. Entre as principais ideias – e sem deixar de sublinhar que «cada criança e cada família são diferentes» –, a especialista realça «a dualidade do diálogo, a comunicação verbal e não verbal, o consentimento e o assentimento informados, e as especificidades de comunicação com o adolescente». Enaltecendo a atenção dos oftalmologistas para este tema, Maria do Céu Machado reitera a exigência de uma «cumplicidade dupla» na informação à criança e aos pais durante a consulta. Porém, a pediatra alertará para a influência da vulne-
Médicos devem ter formação jurídica André Dias Pereira advoga a importância de alterar a formação médica a nível jurídico, na medida em que, cada vez mais, os médicos podem ser confrontados com problemas desta natureza. «Esta vertente não faz parte da sua formação e os próprios médicos não têm ainda essa consciência. É algo que deveria mudar no futuro», remata.
rabilidade nos casos graves. «Mesmo que o nível de compreensão e a maturidade sejam adequados, a criança não entende as consequências de uma decisão médica a médio e longo prazo, porque não tem ainda projeto de vida», acrescenta.
As leis, o consentimento e a vulnerabilidade A perspetiva jurídica estará a cargo do Prof. André Dias Pereira, diretor do Centro de Direito Biomédico da Universidade de Coimbra. Na sua preleção, o jurista prevê abordar «as responsabilidades parentais, quem as exerce, de que forma, o que acontece no divórcio ou numa intervenção major, a autonomia dos adolescentes, o estabelecimento de uma relação de consentimento informado e as leis próprias da investigação clínica em ensaios com crianças». A distinção do consentimento nos adultos e nas crianças será outra vertente desta palestra, que evocará, por um lado, o consentimento próprio dos adultos e, por outro, a ideia de autorização (dos pais), quando se refere às crianças. «Um adulto pode recusar tratamentos, por muito irracional que seja essa recusa; os pais não podem, pois, se a sua recusa colocar em perigo a vida da criança, pode retirar-se o poder parental e o tribunal dá ordem para se fazer a cirurgia», explica André Dias Pereira. Por isso, a dualidade na comunicação com as crianças e os pais exige aos médicos a capacidade para «ser um bom comunicador, com níveis diferenciados de ouvintes». de z embro 2 0 1 6
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Visão SPO
AMANHÃ sábado, dia 10
Novidades de 2016 em glaucoma, córnea e cirurgia refrativa A sessão de highlights que decorre amanhã, entre as 11h15 e as 11h45, na sala-igreja, vai analisar os últimos progressos nas áreas do glaucoma, da córnea e da cirurgia refrativa. João Paulo Godinho
Dr. Luís Oliveira, Dr.ª Andreia Rosa e Dr. António Figueiredo
A
apresentação dos novos horizontes da Oftalmologia em 2016 vai começar com a análise do Dr. António Figueiredo, oftalmologista nas clínicas ALM-Oftalmolaser, em Lisboa, que falará sobre as novidades em torno do glaucoma, quer do ponto de vista cirúrgico, quer de algumas expectativas que não se cumpriram ainda no tratamento médico. «Em relação aos procedimentos cirúrgicos, são de destacar as tecnologias microinvasivas. Quanto às terapêuticas médicas, esperávamos mais novidades ao nível dos dispositivos de distribuição dos medicamentos», avança. Para este especialista, os passos trilhados seguem a direção de uma abordagem cada vez menos desconfortável para o doente, algo que considera ser o «segredo» de uma maior adesão ao tratamento. «Durante muito tempo, o glaucoma cursa de forma assintomática. Por isso, é importante dispor de terapêuticas médicas (gotas, dispositivos de libertação prolongada, etc.) com menos efeitos secundários, que, infelizmente, não têm surgido. Do ponto de vista cirúrgico, as técnicas tornaram-se menos atemorizantes para os doentes.» Sem deixar de frisar o aumento do número de casos de glaucoma em Portugal, António Figueiredo alerta para a necessidade de sensibilizar os médicos de família 8
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sobre os principais fatores de risco desta patologia, principalmente o histórico familiar e a hipertensão ocular. Em seguida, o Dr. Luís Oliveira, oftalmologista do Centro Hospitalar do Porto/ /Hospital de Santo António, vai apresentar as inovações ao nível da córnea, uma área que considera estar «em ebulição» constante e que registou «avanços na transplantação, nos meios de diagnóstico e terapêutica». Segundo este especialista, as mudanças acarretam também alterações na prática clínica diária, sobre as quais é preciso estar permanentemente atualizado. Numa área dominada por dois grandes tipos de patologias – as ectasias da córnea, com destaque para o queratocone, e as doenças do endotélio, nomeadamente a distrofia de Fuchs e a queratopatia bolhosa –, Luís Oliveira reforça que os desafios para o futuro se situam no «diagnóstico precoce e na melhor orientação terapêutica». «A patologia endotelial está a aumentar devido também ao aumento da esperança média de vida», acrescenta.
Novas linhas na cirurgia refrativa Por sua vez, a Dr.ª Andreia Rosa, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, irá abordar os avanços no campo da cirurgia refrativa, «uma
área com muita investigação e na qual a maior dificuldade é selecionar o que será clinicamente relevante a longo prazo». De acordo com esta oftalmologista, os resultados da investigação têm tido expressão significativa nos meios de diagnóstico, indo ao encontro da premência de uma deteção precoce e eficaz. A combinação de dados biomecânicos com dados tomográficos veio melhorar a capacidade diagnóstica. Já na cirurgia intraocular, a quantificação correta do astigmatismo pré-operatório na implantação de lentes tóricas e o seu alinhamento tem também um peso importante. «A aberrometria intraoperatória veio melhorar a precisão dos resultados refrativos das lentes tóricas e multifocais», sublinha. Assim, a crescente segurança dos procedimentos evita cada vez mais constrangimentos. «Neste momento, procuramos fornecer resultados visuais e refrativos que se aproximem da resolução do olho humano. Não se trata apenas de evitar constrangimentos, mas também de corrigir irregularidades corneanas e possibilitar a melhor visão possível, por exemplo, com os tratamentos em que a topografia corneana é combinada com os dados refrativos na cirurgia LASIK [laser-assisted in-situ keratomileusis]», conclui Andreia Rosa.
Evoluções na córnea com marca portuguesa A palestra dedicada à córnea contempla também um destaque para os contributos portugueses a nível internacional. «Temos tendência a olhar para fora, mas há muito bom trabalho que se faz em Portugal para o mundo. Além de tratarmos bem os nossos doentes, há portugueses a apresentarem e a publicarem trabalhos de grande qualidade a nível internacional e isto deve ser valorizado», destaca o Dr. Luís Oliveira.
OPINIÃO
DR
A avaliação automatizada na retinopatia diabética
C
OPINIÃO
om o crescimento da diabetes, o rastreio anual da retinopatia diabética [RD] pela classificação humana de imagens retinianas é um desafio. Assim, os Sistemas Automatizados de Avaliação de Imagens Retinianas [ARIAS, na sigla em inglês] podem fornecer uma eficaz deteção e com menos custos. O objetivo do nosso estudo foi determinar se os ARIAS podem ser introduzidos com segurança na triagem e substituir a avaliação humana. O projeto consistiu numa comparação de medidas de avaliação humanas num programa de rastreio nacional de RD em relação aos ARIAS. Foram observadas imagens de 20 258 doentes atendidos entre 1 de junho de 2012 e 4 de novembro de 2013. Depois, as imagens da retina foram manualmente classificadas, seguindo um protocolo-padrão para a triagem da RD, e processadas por três ARIAS: iGradingM, Retmarker e EyeArt. As discrepâncias entre notas manuais e ARIAS foram en-
viadas para arbitragem num centro de leitura, determinando-se o desempenho da triagem (sensibilidade, taxa de falsos positivos, rácios de verosimilhança) e a precisão do diagnóstico (intervalos de confiança de 95% das medidas de desempenho da triagem). Uma análise secundária explorou a influência da etnia, da idade, do sexo e da câmara usada, enquanto a análise económica estimou o custo por resultado de rastreio adequado. Os resultados das estimativas do ponto de sensibilidade dos ARIAS foram os seguintes: EyeArt – 94,7% (94,2 a 95,2) para qualquer RD, 93,8% (92,9 a 94,6) para RD referenciável (classificada de forma humana como sem avaliação, maculopatia, RD proliferativa ou pré-proliferativa), e 99,6% (97,0 a 99,9) para RD proliferativa; Retmarker – 73,0% (72,0 a 74,0), 85,0% (83,6 a 86,2), e 97,9% (94,9 a 99,1), respetivamente; por fim, o IGradingM avaliou as imagens como tendo doença ou sem avaliação.
Prof. Adnan Tufail Diretor clínico e de investigação no Moorfields Eye Hospital, em Londres | Preletor da conferência que decorre amanhã, entre as 11h45 e as 12h05, na sala-igreja
O EyeArt e o Retmarker pouparam custos, por se assumirem como substitutos da classificação humana inicial e por servirem de filtro à classificação humana primária, embora a última abordagem se tenha mostrado menos rentável. Em suma, os ARIAS atingiram uma sensibilidade aceitável para a referenciação da RD, quando comparados com a avaliação humana, e mostraram uma especificidade suficiente para serem alternativas à classificação manual, podendo reduzir custos em saúde e ajudar na execução de exames.
Miopia – UMA epidemia do século XXI
Prof. António Marinho Diretor do Serviço de Oftalmologia do Hospital Luz Arrábida, em Vila Nova de Gaia | Preletor da conferência que decorre amanhã, entre as 12h05 e as 12h30, na sala-igreja
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palavra epidemia é habitualmente utilizada no contexto de doenças contagiosas. Porém, a sua aplicação à miopia faz sentido no século XXI, com o aumento exponencial da incidência desta patologia nos últimos anos, nomeadamente na Ásia. Embora não existam provas claras, diversos estudos apontam dois fatores como as maiores causas do aumento da miopia
no mundo: o uso constante de dispositivos eletrónicos e a diminuição das atividades ao ar livre. A relação indissociável entre estes dois aspetos parece ter apenas espaço para crescer e colocar obstáculos ainda maiores a nível oftalmológico. Naturalmente, a expansão desta «epidemia» traz consequências globais. Importa, todavia, distinguir aqui duas dimensões: a miopia simples, que se corrige com óculos, lentes de contacto ou cirurgias; e a miopia patológica, que se caracteriza por ser uma miopia elevada (10 a 15 dioptrias) e que se acompanha de complicações oftalmológicas sérias, como o descolamento da retina, a baixa visão por envelhecimento precoce da retina, etc. Com efeito, é sobretudo na miopia patológica que poderá haver implicações graves em termos de saúde pública no futuro. A miopia constitui um desafio, pois o aumento da sua incidência verifica-se nos dois parâmetros: simples e patoló-
gica. Assim, cresce não só em número, como também em gravidade. A genética e a biologia, tantas vezes referenciadas como campo de descobertas a nível oftalmológico, não oferecem ainda soluções visíveis ao nível da miopia. De facto, até ao momento, não se encontrou uma forma de prevenir ou de travar a sua evolução. Sabe-se que esta doença evolui ao longo da vida adulta e que não se nasce com a mesma miopia com que se morre. Portanto, há dois fatores importantes: impedir que a miopia apareça e impedir que ela aumente. Tal não foi alcançado de forma efetiva até hoje e estamos impotentes para impedir o seu aparecimento ou travar a sua progressão. Por conseguinte, sem armas biológicas, resta aos oftalmologistas discutir este problema. Temos de atuar com as armas que existem para dar a melhor qualidade de vida possível aos doentes, mas ainda falta fazer muito ao nível da miopia.
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futuro Da investigação na área da visão Os desafios do presente e os horizontes da investigação na área da visão estão em evidência no simposium «Current challenges and new directions in vision research», que decorre amanhã, entre as 15h00 e as 17h00, na sala 2 (Sofia). João Paulo Godinho
Prof. Paulo Pereira
Dr.ª Joan W. Miller
Dr. Francisco Ambrósio
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bordando temas como o estado da arte da investigação de translação em Portugal e nos Estados Unidos, a criação de um programa nacional de investigação em retina, a «plasticidade» cerebral em doenças neurológicas e o papel da genética no tratamento da retinopatia hereditária, o simposium coordenado pelo Prof. Paulo Pereira, investigador no Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (CEDOC/FCM-UNL), vai apelar à maior aproximação entre a investigação fundamental e a prática clínica. A primeira palestra pertence, precisamente, a Paulo Pereira, que defende a existência de um potencial de investiga10 59.º Congresso português de oftalmologia
ção de translação superior ao que tem sido explorado. Para ultrapassar o défice atual a este nível, o coordenador do simposium aponta medidas como: «Estreitar as relações entre quem faz investigação fundamental e os clínicos; apostar na formação avançada de clínicos em investigação de translação; criar estratégias nacionais que promovam ativamente a investigação, tal como equipas multidisciplinares.» Nesse sentido, o investigador ambiciona a existência de um «circuito virtuoso» entre a investigação e a prática clínica. De seguida, a Dr.ª Joan W. Miller, diretora do Serviço de Oftalmologia do Massachussets Eye and Ear, nos Estados Unidos, vai explicar o que fez da sua instituição um exemplo na investigação translacional, salientando a «cultura mista de Medicina e Ciência» neste processo. «Criámos um ambiente que promove o sucesso da investigação de translação. A interação entre médicos e cientistas é estimulada e apoiamos o desenvolvimento profissional dos médicos investigadores, que diminuem o fosso entre o mundo clínico e o científico», refere. As doenças da retina são um dos campos na área da visão que conta já com um projeto nacional de investigação de translação. Para expor esse projeto, estará presente o Dr. Francisco Ambrósio, investigador principal na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (UC), que realça o contributo de diversas entidades, nomeadamente a UC, o CEDOC, o Instituto de Medicina Molecular, a Fundação Champalimaud e a Universidade do Minho. Entre os objetivos deste estudo, Francisco Ambrósio destaca a vontade de aumentar a massa crítica nesta área. «Um dos interesses translacionais foca-se em desenvolver um equipamento multimodal para avaliar vários parâmetros a nível ocular e cerebral. A ideia consiste em tentar conhecer as patologias de forma mais integrada», esclarece. A forma como o cérebro se adapta à perda de visão e a ligação estreita entre a Neurologia e Oftalmologia serão igualmente alvo de reflexão neste simposium, com a preleção do Prof. Miguel Castelo Branco, diretor do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS)
e do Institute for Biomedical Imaging and Life Sciences (IBILI). «Há evidência de que existem zonas do cérebro que deixam de responder a zonas cegas da retina e passam a responder a outros estímulos visuais ou de outras modalidades sensoriais», afirma. Com um portefólio de investigação assente em três grupos de doenças que afetam a visão – oftalmológicas, neurodegenerativas (doença de Parkinson) e do neurodesenvolvimento (dislexia e autismo) –, este especialista enfatiza o crescimento da neuroftalmologia no futuro. A terminar, o Prof. Miguel Seabra, investigador no CEDOC/FCM-UNL, abordará o desenvolvimento de uma terapia genética para a coroideremia, uma retinopatia hereditária. «Este novo tratamento é efetuado através de uma cirurgia na retina para introduzir o agente terapêutico. Estamos numa fase adiantada de ensaios clínicos e, se correrem bem, dentro de três anos, esta será uma terapia licenciada», adianta. Os horizontes que se abrem a nível genético para este tipo de patologias são, por isso, encarados com ambição. «As novas terapias genéticas são altamente promissoras e complementam a terapêutica farmacológica, que continuará a ser importante», remata.
Prof. Miguel Castelo branco
Prof. Miguel Seabra
Atualização no tratamento do EMD e da RDP O Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV) organiza amanhã, das 15h00 às 17h00, na sala-igreja, um curso abrangente, dividido em duas sessões de uma hora cada, que farão o update ao nível do tratamento do edema macular diabético (EDM) e da retinopatia diabética proliferativa (RDP). João Paulo Godinho
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Curso organizado este ano pelo GPRV é constituído por duas partes – a primeira dedicada ao tratamento do EMD e a segunda ao tratamento da RDP –, contando, para o efeito, com a colaboração de 13 formadores. O Dr. João Nascimento, oftalmologista no Instituto de Retina de Lisboa, é o coordenador da primeira parte do curso e sublinha a importância do tema, referindo que o EMD «é a principal causa de baixa visão nas pessoas com menos de 50 anos de idade». «O tratamento do EMD sofreu uma completa mudança com o aparecimento dos inibidores dos fatores de crescimento do endotélio vascular (anti-VEGF). Neste momento, temos três fármacos anti-VEGF que são usadas com sucesso e que possuem estudos comparativos: o bevacizumab, o ranibizumab e o aflibercept. Já ao nível dos corticoides, dispomos de três fármacos: a dexametasona, a fluocinolona e a triancinolona», afirma João Nascimento. Apesar dos progressos, este especialista garante ser possível fazer muito melhor. «Partilhar experiências e estratégias de abordagem a estes doentes é fundamental. Não temos ainda estudos comparativos entre corticoides e anti-VEGF, nem estudos de associações, portanto, há todo um mundo por estudar», defende. Orador na primeira parte do curso, o Prof. Rufino Silva, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), vai falar sobre os biomarcadores para as terapêuticas atuais, evidenciando a utilidade da OCT e da angiografia por OCT (OCTA, na sigla em inglês). «A análise da OCT, na visita inicial e ao longo do tratamento, mostra sinais com valor prognóstico a nível da espessura centromacular, da desorganização das camadas internas da retina e das alterações estruturais nas camadas externas que
Prof. Miguel Burnier, Dr.ª Bernardete Pessoa, Prof. João Figueira, Dr.ª Luísa Ribeiro, Prof. Rufino Silva, Dr.ª Cláudia Farinha e Dr. José Henriques. Ausentes na foto: Dr. João Nascimento (coordenador da parte I), Dr. José Pita Negrão e Dr.ª Angelina Meireles (coordenadores da parte II), Dr. Marco Medeiros, Dr. Nuno Gomes e Prof. Adnan Tufail
importa conhecer», refere o especialista. E acrescenta: «A OCTA permite a visualização do plexo profundo e uma melhor quantificação da perfusão e da densidade vascular superficial e profunda, abrindo novas fronteiras na identificação de biomarcadores com valor prognóstico.» Em foco na intervenção de Rufino Silva estará ainda a apresentação de um estudo multicêntrico realizado em Portugal, que avaliou a eficácia do tratamento do EMD com o ranibizumab na prática clínica diária e permitiu identificar biomarcadores de imagem na OCT com valor prognóstico a dois anos.
O laser e os anti-VEGF na RDP A segunda parte do curso organizado pelo GPRV será dedicada ao update no tratamento da RDP, sob a coordenação do Dr. José Pita Negrão, coordenador de Oftalmologia no Hospital CUF Descobertas, e da Dr.ª Angelina Meireles, oftalmologista no Centro Hospitalar do Porto/ /Hospital de Santo António. A panfotocoagulação com os novos lasers é o tema a abordar pelo Dr. José Henriques, do Departamento de Retina Cirúrgica do Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto, em Lisboa, e presidente da Sociedade Portuguesa Interdisciplinar do Laser Médico (SPILM). Este orador vai realçar o papel e as características dos lasers milipulsados, uma nova e mais suave modalidade, que permite efeitos similares e o início do tratamento numa fase mais precoce da doença. «Classicamente, o tratamento laser resulta numa melhoria de oxigenação e produção de citoquinas. Estes novos la-
sers não são tão potentes e relacionam-se quase só com a produção de citoquinas, mas têm menos efeitos secundários. São uma inovadora arma terapêutica na RDP a usar, por vezes, associados aos anti-VEGF, corticoides e vitrectomia», frisa este especialista, evidenciando ainda o contraste do uso de um spot de 20 a 30 milissegundos, em oposição ao laser clássico de 100 milissegundos. Por conseguinte, esta nova variante do laser assegura um «tratamento mais rápido, suave, padronizado e eficaz». Também nesta parte do curso, o Prof. João Figueira, oftalmologista no CHUC e coordenador do GPRV, vai destacar a utilidade recentemente atribuída aos anti-VEGF na RDP, mediante a apresentação de um estudo que dirigiu a nível europeu e que compara a eficácia e a segurança destes fármacos com a fotocoagulação convencional, comparando estes resultados com os do Protocolo S realizado pelo DRCR.net, nos Estados Unidos. «O estudo reforçou que os anti-VEGF poderão ter algum papel no controlo da RDP e parece haver uma indicação promissora de que podem melhorar ainda mais os resultados obtidos com o laser.» A possibilidade de um efeito nocivo dos anti-VEGF a nível neurotrófico começa a ser debatida, mas João Figueira refere que só a longo prazo poderá haver mais certezas, defendendo, por agora, a sua utilidade. «Com a experiência de mais de uma década, os benefícios destes fármacos no EMD e em outras patologias retinianas mostram-se muito superiores aos eventuais efeitos nocivos, especialmente a longo prazo.» de z embro 2 0 1 6
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Estado da arte da cirurgia de presbiopia
Dr. António Limão, Dr. Miguel Trigo, Dr. Tiago Monteiro, Dr. Fernando Vaz (coordenador) e Prof. Joaquim Murta – da esq. para a dta. Ausente na foto: Prof. António Marinho
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discussão sobre as indicações e contraindicações da cirurgia de presbiopia em Portugal vai estar amanhã em foco, no simposium «Cirurgia de presbiopia: presente e futuro. Quem, como e quando operar». A decorrer entre as 15h00 e as 16h00, na sala 3 (Almedina), esta sessão será coordenada pelo Dr. Fernando Vaz, diretor do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Braga. O estado da arte desta cirurgia traduz-se em «diferentes técnicas», entre as quais Fernando Vaz destaca o implante de lentes trifocais, usado em 99% dos casos, sendo que os inlays corneanos e o presbi-
lasik são cada vez menos utilizados. Sublinhando os resultados das lentes trifocais nos doentes com presbiopia indicados para cirurgia, este especialista considera «crucial» uma correta avaliação pré-operatória. «A idade é fundamental, assim como o perfil psicológico e a atividade profissional do doente, que deverá ter olhos sem qualquer patologia.» Esta sessão vai também debater o futuro, com a abordagem de temas como as opções farmacológicas para compensar a perda de acomodação, a estimulação elétrica do músculo ciliar ou o aumento da flexibilidade do cristalino com o laser de femtossegundo.
A palestra dominante deste simposium será proferida pelo Dr. Tiago Monteiro, oftalmologista no Hospital CUF do Porto, que salienta o aumento da incidência de presbiopia face ao envelhecimento da população e a resposta conjunta entre doentes e oftalmologistas. «Dado que o interesse dos doentes em procurar uma solução definitiva para o problema tem registado um acentuado crescimento, é imperioso que qualquer oftalmologista tenha conhecimentos sobre o assunto», refere o orador. «Em Portugal, há vários centros dotados de experiência médica e tecnologia diagnóstica e terapêutica que permitem oferecer aos doentes todas as opções e garantias de qualquer centro europeu.» Com uma prática sustentada na segurança, na eficácia e no lema «primum non nocere», Tiago Monteiro aponta um desafio para o futuro: «O desenvolvimento de uma lente intraocular acomodativa que permita substituir a lente natural de forma eficaz e sem qualquer efeito lateral.» Esta sessão conta com um painel de comentadores constituído por: Prof. Joaquim Murta, Prof. António Marinho, Dr. Miguel Trigo e Dr. António Limão. João Paulo Godinho
otimizar os outcomes em cirurgia da catarata
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timização dos resultados na cirurgia de catarata» é tema central do Curso organizado pelo Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa de Portugal (CIRP), que terá lugar amanhã, entre as 16h00 e as 17h00, na sala 3 (Almedina). Sob a coordenação da Prof.ª Conceição Lobo, responsável pela Secção de Cirurgia Implanto-Refrativa do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e coordenadora da CIRP, esta formação vai reforçar a necessidade de uma abordagem «individualizada e específica» aos doentes e os cuidados adicionais que os «casos especiais» exigem. «Hoje, o esperado é que os resultados sejam bons, que os doentes recuperem a acuidade visual. Mas há casos que fogem à regra e aí o objetivo do oftalmologista é tentar perceber o que é possível fazer para melhorar», explica. Por outro lado, Conceição Lobo alerta para o risco de banalização da cirurgia de catarata junto dos doentes. «É óbvio que a técnica cirúrgica evoluiu muito, o que nos 12 59.º Congresso português de oftalmologia
Dr. João Marcelo, Dr. Bernardo Feijóo, Prof.ª Conceição Lobo (coordenadora), Dr. Tiago Ferreira e Prof.ª Filomena Ribeiro. Ausente na foto: Dr.ª Maria do Céu Pinto
permite, habitualmente, garantir um excelente prognóstico. Contudo, não devemos cair no erro de desvalorizar este tipo de cirurgia. Apesar de, genericamente, podermos dizer que se trata de uma cirurgia simples, feita em regime de ambulatório, há que reservar a hipótese de algumas situações serem mais complicadas, sem que se induza que algo correu mal.» Também por isso, este Curso vai abordar diferentes estratégias de melhoria dos outcomes, nomeadamente: importância
do cálculo da lente intraocular (LIO), pela Prof.ª Filomena Ribeiro, do Hospital da Luz Lisboa (HLL); importância da OCT, pelo Dr. Bernardo Feijóo, do HLL; cálculo da LIO tórica, pelo Dr. Tiago Ferreira, do HLL; lentes multifocais, pela Dr.ª Maria do Céu Pinto, do Centro Hospitalar do Porto/ /Hospital de Santo António; e LIO pinhole Xtrafocus em situações de irregularidade corneana, pelo Dr. João Marcelo, do Hospital Oftalmológico de Alagoas (Brasil). João Paulo Godinho
A arte de inovar na terapêutica do glaucoma Os mais recentes avanços no tratamento médico e cirúrgico do glaucoma, bem como os aspetos a melhorar nestas áreas em Portugal, estarão em foco no Curso organizado pelo Grupo Português de Glaucoma (GPG), agendado para este sábado, entre as 16h00 e as 17h00, na sala 4 (Conventual). João Paulo Godinho
Dr. Luís Abegão Pinto, Prof. Carlos Marques Neves e Dr. João Cardoso. Ausente na foto: Dr.ª Teresa Gomes
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e acordo com o Dr. José Moura Pereira, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e coordenador do GPG, esta formação, intitulada «Novas terapias em Portugal», terá os olhos postos no presente e no futuro do combate ao glaucoma. «Vamos falar sobre o que se está a fazer neste momento em Portugal nas diversas áreas da cirurgia e do medicamento», promete o coordenador, que enaltece a diversidade das palestras. A primeira intervenção, com o tema «MIGS-XEN 45 implante de gel para o glaucoma», estará a cargo da Dr.ª Teresa Gomes, oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria (CHLN/HSM). De seguida, o Prof. Carlos Marques Neves, oftalmologista no CHLN/HSM, irá falar sobre a realidade da prescrição de hipotensores em Portugal no ano de 2015. Já a apresentação «Ciclodestruição por ultrassons – como, quando e quem» será conduzida pelo Dr.
Luís Abegão Pinto, também oftalmologista no CHLN/HSM. Por fim, o Dr. João Cardoso, oftalmologista no CHUC, vai desenvolver o tema «Experiência com o Laser Class (EPNP) no glaucoma». Segundo o coordenador do GPG, entre os diferentes métodos cirúrgicos explicitados neste curso, destaca-se a trabeculectomia, na medida em que não implica invasão da câmara anterior do olho. Esta técnica tem ainda «menos complicações», uma vez que é minimamente invasiva. «Tentamos melhorar a todos os níveis, nos laboratórios, nos medicamentos, nos aparelhos e nas cirurgias, tendo como principal objetivo o que se deve ponderar para cada doente, porque nem todos reagem ou evoluem da mesma maneira», frisa Moura Pereira. No entanto, o coordenador do GPG salienta também que a opção pelos procedimentos mais inovadores tem os seus custos financeiros e que nem todos os centros os conseguem suportar. «Temos de pon-
derar o que cada centro pode fazer e perceber as vantagens a esse nível. Já se faz cirurgia não penetrante com qualidade em Portugal, sendo que o laser no glaucoma facilita o trabalho dos cirurgiões, uma vez que é muito mais simples do que a cirurgia não penetrante clássica», assegura. Apesar dos avanços, o aumento da incidência dos casos de glaucoma no nosso País é uma prova clara de que esta patologia necessita de maior atenção. «Cada vez mais, os colegas estão alertados e detetam-se os glaucomas cada vez mais cedo. No entanto, quase 50% dos casos passam despercebidos numa fase inicial», garante o oftalmologista do CHUC, lembrando ainda que a população deve ter especial cuidado a partir dos 40 anos de idade, face às alterações naturais causadas pelo envelhecimento. Contudo, José Moura Pereira quer levar o combate ao glaucoma para além das fronteiras da Oftalmologia. «As campanhas de sensibilização são sempre insuficientes para as que, na realidade, deveríamos levar a cabo. Além da população, devemos também alertar os colegas oftalmologistas e os médicos de família», remata.
Dr. José Moura Pereira (coordenador)
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ONTEM
quinta-feira, dia 8
«Pensamos que a luz azul-violeta é nociva para a retina, a longo prazo» As lentes que filtram a luz de forma seletiva, protegendo os olhos da ação nociva da luz azul sem prejudicar a qualidade da visão, foram ontem abordadas pela Dr.ª Coralie Barrau, investigadora da Essilor International, no Curso de Ergoftalmologia. Em entrevista, a especialista francesa adianta mais pormenores sobre as vantagens do bloqueio da luz azul. Luís Garcia
equipa [Essilor], em colaboração com o Institut de la Vision, em Paris, estudou o efeito da luz azul-violeta nas células retinianas e concluiu que a taxa de morte celular mais alta se situa entre os 415 e os 455 nm. A evidência também mostra que a luz neste comprimento de onda também induz stresse oxidativo e inibe as defesas celulares.
Quais são os efeitos da luz azul? A parte menos energética desta luz, o azul-turquesa, está associada à regulação de funções biológicas não visuais, como o humor, a cognição, o reflexo pupilar ou os ciclos de sono, através da ativação da melanopsina na retina. No entanto, pensamos que a outra parte da luz azul, que é mais «tóxica» ou energética, a azul-violeta (abaixo dos 460 nanómetros – nm), é nociva para a retina, a longo prazo. A literatura aponta no sentido de que esta luz pode induzir a morte das células, anomalias no ADN e stresse oxidativo. A nossa
Como se pode bloquear a luz azul? Podemos usar um filtro diante da fonte de luz ou à frente dos olhos. Neste caso, devemos bloquear a passagem da luz azul mais energética (entre 415 e 455 nm), mas deixar passar a parte «boa» da luz azul (entre 460 e 500 nm) e o restante espectro, para que a pessoa possa ver com clareza. Como pretendíamos ter uma lente para ser usada durante todo o dia, tínhamos de conseguir um compromisso entre a proteção obtida e a receção de luz. Descobrimos que a filtragem de
tes áreas experiências em diferen ro, dedicado à troca de do Atlântico, foi muito participado ilei ras o-B Lus ium lados O Simpos especialistas dos dois da Oftalmologia entre
A Sessão de Abertura Oficial contou com as intervenções do Dr. Francisco Carrilho, presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo; do Prof. José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos; do Dr. Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra; do Prof. Alfredo Rasteiro, presidente honorário deste Congresso; e da Prof.ª Maria João Quadrado, presidente da SPO
14 59.º Congresso português de oftalmologia
20-25% de luz azul-violeta é o suficiente para ter um efeito protetor significativo, mas também é aceitável do ponto de vista estético, para uma lente clara, com todas as características antirreflexos. Ainda assim, criámos uma camada de moléculas para contrabalançar o efeito amarelo, tornando a lente muito neutra.
Que impacto tem a crescente utilização de dispositivos eletrónicos na quantidade de luz azul recebida? Passamos cada vez mais tempo à frente de ecrãs, a curtas distâncias, e desde idades mais precoces. Precisamos de estar bem protegidos e uma boa opção será disponibilizar lentes contra a luz azul. Não podemos dizer que esta luz danifica o olho de forma aguda, mas não se pode afirmar que não é nociva, porque desconhecemos os seus efeitos a longo prazo. Assim sendo, precisamos de ser cuidadosos e apostar na prevenção.
Instantes
Após um dia em que a atividade foi sobretudo mental, os congressistas tiveram oportunidade de fazer exercício físico, numa corrida/ /caminhada que também visou a angariação de verbas para a Associação de Diabéticos da Zona Centro, com o apoio da Théa Portugal
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