Visão SPO - Edição especial diária - 7 de dezembro de 2017

Page 1

Edição Diária

7 8 9

Dezembro 2017 Vilamoura Marina Hotel

Aceda à versão digital

Publicação de distribuição gratuita e exclusiva neste Congresso | www.spoftalmologia.pt

7 Dezembro 5.ª feira

1

Glaucoma e ergoftalmologia em destaque O glaucoma (pág.7) e a ergoftalmologia (pág.4 e 8) são as duas áreas em destaque neste 60.º Congresso Português de Oftalmologia, que tem como presidente o Prof. Manuel Monteiro-Grillo (1) e como presidente honorário o Prof. José Cunha-Vaz (2). A organização das sessões relacionadas com cada uma destas áreas foi coordenada, respetivamente, pelo Dr. António Figueiredo (5) e pelo Dr. Fernando Trancoso Vaz (6). Este primeiro dia de congresso tem outros pontos altos, como a homenagem ao Dr. Fernando Bívar (3), um pioneiro da subvisão e da ergoftalmologia em Portugal (pág.8), e a conferência do Prof. Daniel Sampaio (4), dedicada às relações entre pais e filhos, nomeadamente na adolescência (pág.9)

3

5

2

4

6

publicidade

RODAPE DUOKOPT DEZ17

PUB.


Visão SPO

EDITORIAL

Ponto de encontro da Oftalmologia portuguesa

O

Congresso Português de Oftalmologia é o ponto de encontro de todos os oftalmologistas portugueses, um momento de aprendizagem, de transmissão de conhecimento clínico e científico, de troca de opiniões e, não menos importante, de convívio. Nesta 60.ª edição, um dos temas principais é o glaucoma, patologia com importantes implicações na saúde da população, sobre a qual há novidades importantes, sobretudo no que respeita ao diagnóstico e à terapêutica. O outro tema forte do 60.º Congresso Português de Oftalmologia diz respeito a uma área que não tem sido abordada, pelo menos nos últimos anos, nas nossas reuniões anuais: a ergoftalmologia. Muitas vezes esquecida, mas muito presente no nosso dia a dia, esta valência assume hoje novos desafios, relacionados, por exemplo, com a utilização de dispositivos eletrónicos como computadores, tablets e smartphones. As questões que se colocam à utilização destes aparelhos serão discutidas amanhã, num simpósio dedicado a este tema, que contará com a participação do Prof. Daniel Sampaio, também nosso convidado para a palestra da Abertura Oficial do Congresso, sobre a visão atual do adolescente e da sua família.

Este Congresso tem como presidente honorário o Prof. José Cunha-Vaz, uma figura maior da Oftalmologia nacional, que dá nome, há já alguns anos, a uma das conferências de destaque da nossa reunião. Amanhã, a Conferência Cunha-Vaz será proferida pelo Prof. Francesco Bandello, diretor do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Vila-Salute, em Milão, que apresentará uma atualização sobre a miopia degenerativa. Além dos habituais cursos, que são oportunidades privilegiadas para obter formação em diversas áreas, contamos com alguns palestrantes brasileiros, ao abrigo da parceria da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia e a Sociedade Brasileira de Oftalmologia. Destaco também o facto de algumas sessões serem diferentes das habituais, nomeadamente o Simpósio de Investigação Clínica em Oftalmologia, a decorrer amanhã, que poderá ser o embrião de um futuro núcleo da SPO dedicado a esta área, e o Workshop de Liderança, no sábado, no qual será partilhada a experiência de vários oftalmologistas que têm participado nos programas de liderança da American Academy of Ophthalmology e da Pan-American Association of Ophthalmology.

Finalmente, nos simpósios-satélite e na exposição técnica, podemos conhecer as novidades relativas a terapêuticas, equipamentos e meios de diagnóstico. Deixo uma palavra de apreço à indústria farmacêutica e de equipamentos, cujo contributo para o Congresso é de grande importância. Contamos com a participação ativa de todos! Cordialmente,

Manuel Monteiro-Grillo Presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia e do 60.º Congresso Português de Oftalmologia

A honra do reconhecimento entre pares

F

requentemente, o reconhecimento entre pares no nosso país é o mais difícil de conseguir. Este aspeto faz com que o convite que me foi endereçado para ser presidente honorário deste Con2

60.º Congresso português de oftalmologia

gresso seja, para mim, uma honra e um motivo de satisfação ainda maiores. Hoje, os oftalmologistas portugueses são mais reconhecidos internacionalmente e em maior número, com a sua cada vez mais frequente contribuição em publicações científicas importantes e a participação em reuniões além-fronteiras. Sinto, com algum orgulho, que contribuí, com outros colegas, para que a Oftalmologia portuguesa se tenha tornado uma referência dentro da Medicina nacional. Hoje, é um ramo altamente diferenciado, com potencial para o turismo da saúde e uma das três áreas, juntamente com a Oncologia e as Neurociências, que integram o Health Cluster Portugal. No que respeita à investigação clínica em Oftalmologia, Portugal é atualmente uma referência em toda a Europa. Para

isso creio ter contribuído também a European Vision Institute Clinical Research Network (EVICR.NET), que envolve 102 centros de toda a Europa, entre os quais vários de Portugal, com coordenação da Associação para a Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem (AIBILI). Esta qualidade científica também estará patente neste 60.º Congresso Português de Oftalmologia, no qual os trabalhos originais portugueses de qualidade estão integrados num programa denso e recheado de importantes conferencistas estrangeiros. Como habitual, esta é a grande ocasião anual de convergência da Oftalmologia portuguesa.

José Cunha-Vaz Presidente honorário do 60.º Congresso Português de Oftalmologia


publicidade


Visão SPO

HOJE

quinta-feira, dia 7

Desmistificar a ergoftalmologia

«S

endo esta subespecialidade vista por muitos oftalmologistas como um pouco “hermética e esotérica”, o nosso grande objetivo é catalisar o saber dos colegas que se dedicam há mais tempo a esta área e estimular os restantes oftalmologistas (inclusive a geração mais nova) para esta temática, agora tão em voga e que permite responder a uma série de perguntas que nos são colocadas nas consultas e que, habitualmente, não são abordadas nos compêndios tradicionais», contextualiza o Dr. Fernando Trancoso Vaz, coordenador do Grupo Português de Ergoftalmologia da SPO e organizador do curso «Ergoftalmologia no consultório/ /escritório», que terá lugar na sala 1, entre as 14h00 e as 15h00. Esta formação foi estruturada de modo a abordar as questões da ergoftalmologia no consultório/escritório, incluindo a síndrome de fadiga ocular relacionada com a utilização de computadores ou astenopia digital, descrevendo a sua sintomatologia, fisiopatologia e a forma de atuar para minimizar essas manifestações. «Ao explicar

esta síndrome aos nossos colegas, que corresponde a muitas das queixas de quem nos procura, pretendemos ajudar as pessoas a usarem o computador de forma menos cansativa, com maior qualidade de vida e de visão, e até com melhor performance», realça o oftalmologista no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora. Assumindo também o papel de formador, Fernando Trancoso Vaz irá apresentar os resultados do estudo KONECTA, que avaliou a astenopia digital numa empresa de teleperformance (Konecta), avaliando as queixas (parâmetros subjetivos) através de um inquérito e alterações da superfície ocular e dos músculos oculares (parâmetros objetivos). «Essa avaliação foi feita em dois momentos com um mês de intervalo. De forma muito resumida, concluímos que, ao chegarem ao seu local de trabalho, as pessoas praticamente não têm alterações, mas, com o uso de computadores por mais de duas horas, começam a surgir as queixas de secura e cansaço oculares. Em comparação com os restantes participantes, o grupo ao qual apresentámos medidas ambientais e de

descanso apresentou uma marcada diminuição das queixas e das alterações objetivas, ao fim de um mês», avança.Contando com a intervenção de mais 18 oftalmologistas portugueses e estrangeiros, o curso dará ainda indicações sobre a organização do espaço; a utilização de filtros consoante o monitor que está a ser utilizado; o impacto da luz azul; as estratégias para presbitas; o efeito da distância de visualização no desconforto e na fadiga ocular; os ponteiros laser; e a relação entre as lentes de contacto e o computador.

Cirurgia vitreorretiniana na rDP

C

ausa mais comum de cegueira na população ativa dos países industrializados, a retinopatia diabética será o centro em torno do qual vai girar a discussão no Simposium de Retina Cirúrgica, organizado pelo Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV) da SPO e pelo Grupo de Estudos da Retina (GER), hoje, na sala 2, entre as 14h00 e as 15h00. Em foco estarão os aspetos mais complexos do tratamento cirúrgico da forma proliferativa desta patologia, que 4

60.º Congresso português de oftalmologia

configura uma fase avançada e acarreta um sério risco de perda de visão. De acordo com o Prof. Carlos Marques Neves, coordenador do GPRV, a retinopatia diabética proliferativa (RDP) «continua a ser um desafio de tratamento muito difícil». Assim, o objetivo deste simpósio «é proporcionar uma transferência de aprendizagem entre os oftalmologistas que se dedicam à área cirúrgica, de acordo com a exposição da nova evidência e da discussão entre pares». As preleções ficarão a cargo dos seguintes seis oftalmologistas: Prof. João Nascimento (Instituto de Retina de Lisboa), Dr. Nuno Gomes (Hospital de Braga), Dr.ª Bernardete Pessoa (Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António), Dr. Mário Ornelas (Centro Hospitalar de Setúbal/Hospital de São Bernardo), Dr.ª Mun Faria (Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria – CHLN/HSM) e Dr.ª Susana Teixeira (Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora). Segundo o Prof. Carlos Marques Neves, que é oftalmologista no CHLN/HSM e dirige

a Clínica Universitária de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, os preletores vão versar sobre «aspetos controversos da abordagem cirúrgica da RDP, nomeadamente os descolamentos tracionais, as rasgaduras iatrogénicas do pólo posterior, as trações maculares, a cirurgia do cristalino associada a vitrectomia, as novas tecnologias e quando não operar». O tratamento atempado da RDP reduz o risco de cegueira. Neste âmbito, «há novas terapêuticas coadjuvantes, nomeadamente fármacos antiangiogénicos, que alteraram as indicações quanto ao momento da intervenção cirúrgica», avança o Dr. António Sampaio, oftalmologista no Instituto Português de Microcirurgia Ocular, em Lisboa, que vai moderar este simpósio com os Profs. Amândio Rocha-Sousa (Centro Hospitalar de São João, no Porto) e João Figueira (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra). Segundo aquele moderador, esta sessão «poderá acender algumas luzes sobre o timing ideal para o recurso à vitrectomia».


Desafios atuais em superfície ocular externa e córnea

D

ar resposta a algumas das «questões mais prementes» que se levantam atualmente neste campo da Oftalmologia é o intuito do Curso de Superfície Ocular Externa e Córnea, que a sala 3 acolhe hoje, entre as 14h00 e as 15h00. Coordenada pelo Dr. Walter Rodrigues, coordenador do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia da SPO e oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/ /Hospital de Santa Maria (CHLN/HSM), esta formação começa por interrogar o que há de novo no olho seco, por via da intervenção do Dr. Luís Torrão, oftalmologista no Centro Hospitalar de São João, no Porto. Esta é uma situação que «importa debater», considerando que o olho seco é «cada vez mais frequente», estimando-se que afete «mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo», enquadra o coordenador. «Tenho um doente com úlcera infeciosa: e agora?» é o mote da palestra do Dr. Vítor Maduro, oftalmologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central. Walter Rodrigues recorda que «as úlceras infeciosas são situações

clínicas de difícil diagnóstico e terapêutica, podendo ser originadas por bactérias, vírus, fungos ou parasitas, e têm crescente incidência, muitas vezes por força do uso generalizado das lentes de contacto e sem os devidos cuidados de utilização e higiene». As úlceras por Acanthamoeba e por Pseudomonas «são especialmente agressivas e podem resultar na perda de visão». A Dr.ª Andreia Rosa, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, versará sobre as novas abordagens da queratite neurotrófica. De acordo com Walter Rodrigues, o tratamento desta patologia coloca «algumas dificuldades», decorrentes, sobretudo, «das alterações causadas ao nível da enervação corneana, tendo o nervo trigémio como causa principal». Esta patologia é, muitas vezes, de difícil tratamento, havendo necessidade de medidas terapêuticas, nomeadamente soro autólogo, ciclosporina, transplante de membrana amniótica e tratamento com agentes generadores (RGTA). Por fim, cabe ao Dr. Paulo Guerra, oftalmologista no CHLN/HSM, falar sobre o

papel atual na prática clínica do cross-linking. «É uma arma terapêutica que visa o fortalecimento e o enrijecimento do tecido querático, por forma a abrandar ou travar o desenvolvimento do queratocone, e que, atualmente, é também usada no tratamento de úlceras infecciosas», clarifica Walter Rodrigues, E acrescenta: «Se a doença for diagnosticada numa fase inicial, o cross-linking pode ter resultados surpreendentes, sobretudo ao nível da prevenção do queratocone.»

doenças oncológicas e da órbita

Dr.ª Mara Ferreira

O

curso «Órbita e Oncologia», que decorre na sala 4, entre as 14h00 e as 15h00, é dirigido a todos os que pretendam esclarecer questões relacionadas com as perturbações da órbita e da pálpebra e os tumores oftalmológicos. «Dado que poucas pessoas se dedicam a estas duas áreas, decidimos organizar este curso conjuntamente entre o Grupo Português de Órbita e Oculoplástica [GPOO] e o Grupo Português de Patologia Oncológica e Genética Ocular [GPOG]», explica a Dr.ª Mara Ferreira, coordenadora do GPOO e uma das organizadoras da formação.

Num primeiro momento, esta oftalmologista no Hospital da Luz Lisboa tomará a palavra para debater a semiologia orbitária e palpebral na perspetiva das ciências básicas. «Para poder tomar uma decisão terapêutica ou diagnóstica, é fundamental que o oftalmologista geral saiba avaliar bem a órbita, até porque, se quiser avançar para a cirurgia, a probabilidade de ocorrer algum erro é bastante grande, se esse trabalho anterior não tiver sido bem feito», alerta a oradora. Seguir-se-á a intervenção do Dr. João Cabral, oftalmologista no Hospital da Luz Lisboa, sobre blefaroplastia palpebral superior. «Achámos que seria útil fornecer as dicas e os truques necessários para que este procedimento seja concretizado com o maior sucesso possível, mesmo quando é realizado por pessoas que não se dedicam habitualmente a esta área», justifica Mara Ferreira. A segunda parte do curso está a cargo do GPOG, que é coordenado pela Dr.ª Ana Magriço, oftalmologista no Centro

Dr.ª Ana Magriço

Hospitalar de Lisboa Central. Esta especialista vai começar por elencar os sinais de alarme das neoplasias oftálmicas, desde a pele até à órbita. Em seguida, intervém a Dr.ª Manuela Martins, anatomopatologista no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, que explicará como tratar uma peça anatómica. «O nosso objetivo é alertar os colegas para a premência de responder rapidamente às patologias oftalmológicas do foro oncológico, não só em termos de diagnóstico, como também de encaminhamento», sintetiza Ana Magriço. dezembro 2017

5


Visão SPO

HOJE

quinta-feira, dia 7

Ambliopia e baixa visão na criança

O

curso organizado pelo Grupo Português de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo (GPOPE), que decorre entre as 14h00 e as 15h00, na sala 5, tem como tema central a ambliopia e a baixa visão

na criança. Como explica a Dr.ª Alcina Toscano, coordenadora do GPOPE, «os objetivos principais são fazer uma revisão de alguns conceitos, atualizar conhecimentos ao nível do diagnóstico e debater estratégias de reabilitação visual, tendo em conta as particularidades da ambliopia e da baixa visão na idade pediátrica». O Dr. Augusto Magalhães, oftalmologista no Centro Hospitalar de São João, tomará a palavra para discutir o tema «Ambliopia: conceitos clássicos, novos conceitos e reflexões pessoais». Seguir-se-á a intervenção da Dr.ª Rita Gama, oftalmologista no Hospital da Luz Lisboa, que se sustentará nos resultados dos estudos multicêntricos sobre ambliopia (Amblyopia Treatment Studies – ATS) realizados pelo Pediatric Eye Division Investigating Group (PEDIG), com enfoque no que esses dados trouxeram de novo para o tratamento desta patologia. Os aspetos relacionados com a avaliação clínica da criança com baixa visão serão abordados pelo Dr. Vasco Miranda, oftal-

«Vamos fazer uma revi-

são de conceitos, atualizar conhecimentos ao nível do diagnóstico e debater estratégias de reabilitação visual» mologista no Centro Hospitalar do Porto/ /Hospital de Santo António. «Pretende-se explorar de que modo estes doentes devem ser orientados, no sentido de perceber quais os exames complementares de diagnóstico mais adequados e as estratégias de tratamento corretas», avança Alcina Toscano. O curso terminará com a preleção da Dr.ª Catarina Paiva, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que irá fornecer algumas dicas para a reabilitação visual das crianças com ambliopia ou baixa visão.

PUB.

publicidade 6

60.º Congresso português de oftalmologia


Tópicos atuais sobre o tratamento do glaucoma

Dr. José María Martínez de la Casa

Dr. António Figueiredo

Prof. Luís Abegão Pinto

Entre as 15h00 e as 16h30, a sala 1 acolhe a sessão «Glaucoma hot topics», na qual se discutirão novas metodologias que prometem revolucionar o tratamento dos doentes com glaucoma. Aqui ficam os resumos do que estará no âmago de cada preleção.

Atualização em MIGS

«E

n los últimos años se ha producido una revolución en el tratamiento quirúrgico del glaucoma, habiendo aparecido nuevos dispositivos que aumentan las opciones disponibles a la hora de tratar quirúrgicamente a los pacientes con glaucoma. El conjunto de estos dispositivos ha recibido el nombre de “cirugía de glaucoma mínimamente invasiva” (MIGS, acrónimo en inglés). Estos dispositivos persiguen el objetivo de reducir la presión intraocular en el paciente con glaucoma con una tasa de complicaciones mínima que haga olvidar las inherentes a la cirugía convencional asociada o no al uso de antimetabolitos, sin limitar la posibilidad de realizar otras técnicas si éstas fuesen necesarias en el futuro. Las nuevas técnicas tienen el propósito de reducir la presión intraocular, aumentando el drenaje del humor acuoso hacia los canales colectores, en el caso de la cirugía trabecular, o hacia el espacio supracoroideo en el caso de la cirugía de derivación supracoroidea. Un tercer grupo es de las denominadas MIGS + o mínimamente penetrantes que derivan el humor acuoso hacia el espacio subconjuntival. Estas pueden ser ab-interno o ab-externo, conllevan un cierto grado de manipulación conjuntival y escleral, y la utilización de mitomicina C para inhibir la respuesta cicatricial de la conjuntiva.» Dr. José María Martínez de la Casa, oftalmologista no Hospital Clinico San Carlos e docente na Universidad Complutense de Madrid

Avaliação clínica da PIO nas 24 horas. É possível?

«E

m termos teóricos, é possível registar continuamente a pressão intraocular (PIO) durante 24 horas. Existe um dispositivo que permite, de facto, fazer uma avaliação da PIO de cinco segundos em cada minuto, mas trata-se de um procedimento tão dispendioso, que é inexequível. Ainda assim, e uma vez que é muito importante fazer esta monitorização, dado que em metade dos doentes está documentado que as alturas em que a PIO é mais alta ocorrem fora das horas em que normalmente a medimos, há outro dispositivo que utilizamos. Trata-se de um aparelho de automedição, que os doentes levam para casa e com o qual podem medir a PIO duas ou três vezes durante a noite, num processo um pouco à semelhança do aparelho utilizado para fazer a medição da pressão arterial. É isso que temos estado a testar de há algum tempo para cá e são esses resultados que vou apresentar.» Dr. António Figueiredo, coordenador do Grupo Português de Glaucoma da SPO e oftalmologista na ALM-Oftalmolaser, em Lisboa

Gonioscopia automática

«A

gonioscopia é um passo fundamental na consulta de Oftalmologia. Em teoria, este procedimento devia estar incluído no exame objetivo de todas as consultas, mas, na prática, trata-se de um gesto algo complicado, que pode ser demorado e com uma curva de aprendizagem relativamente longa. O aparelho de gonioscopia faz uma fotografia do ângulo por via automática para que o médico possa, depois, tomar decisões após uma análise cuidada, recorrendo a ampliações, aumento de contraste, etc., potenciando a imagem obtida (um pouco à semelhança do que já acontece com a retinografia). Além disso, a criação de registos físicos dessa imagem permite que ela possa ser consultada posteriormente. No âmbito do glaucoma, isto possibilita planear a cirurgia, monitorizar a evolução das estruturas do ângulo ao longo do tempo e até as próprias cirurgias. Num mundo em que falamos cada vez mais das cirurgias do ângulo, ou seja, de MIGS, esta documentação torna-se fundamental.» Prof. Luís Abegão Pinto, oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria dezembro 2017

7


Visão SPO

HOJE

quinta-feira, dia 7

Fernando Bívar – um pioneiro da subvisão e da ergoftalmologia em Portugal

U

ma homenagem ao Dr. Fernando Bívar, oftalmologista que marcou a história do Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (IOGP), em Lisboa, onde trabalhou durante 36 anos, vai fechar o programa científico do primeiro dia do Congresso. O Prof. Manuel Monteiro-Grillo, presidente da SPO, destaca o contributo deste que foi «um dos primeiros em Portugal a ter um grande interesse pela ergoftalmologia». «Sobretudo nesta área, o Dr. Fernando Bívar tem desempenhado funções relevantes no seio da SPO e contribuído para uma aproximação da

nossa Sociedade a outros organismos e a grupos de doentes, como a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, com os quais passámos a manter contacto regular», sublinha. Também oradora na sessão de homenagem, a Dr.ª Isabel Ritto, que colaborou de perto com o Dr. Fernando Bívar enquanto coordenadora do Grupo Português de Ergoftalmologia (GPE) no biénio 2005-2006, «este é um tributo merecido a um especialista que tem um trabalho muitíssimo meritório na área da deficiência visual». Fernando Bívar fundou o Gabinete de Subvisão do IOGP, em 1990, coordenou diversos projetos e participou em cursos de especialização nesta área, além de ter coordenado o GPE nos biénios 1999-2000 e 2011-2012. Isabel Ritto destaca a «dedicação muito acima da média» do homenageado, numa «área difícil, visto que muitos doentes, em função da sua subvisão, têm dificuldade em trabalhar, executar as tarefas do dia a dia e em integrar-se na sociedade». Fernando Bívar sempre se destacou pela «paciência inesgotável» com que recebia no IOGP doentes indicados por vários colegas, como Isabel Ritto, que frisa: «Ele teve um papel fundamental no apoio aos mui-

tos doentes que enviámos para o Gabinete de Subvisão do IOGP.» Foi, por isso, com tristeza que a oftalmologista viu Fernando Bívar cessar funções, por ter completado 70 anos no dia 15 de julho deste ano. «Toda a gente, desde os doentes aos colegas, lamentaram a sua saída, por reconhecerem a sua competência», afirma Isabel Ritto, que já lançou um desafio ao colega: além de continuar a prestar apoio às diversas instituições com as quais tem colaborado nos últimos anos, escrever um livro sobre a sua experiência no Gabinete de Subvisão, «que seria uma referência para todos os médicos – oftalmologistas ou outros – que lidam com estes doentes». Além de ter coordenado três projetos europeus relacionados com a deficiência visual, Fernando Bívar foi médico do Instituto da Aeronáutica Civil, entre 1994 e 1999, tendo participado no programa científico e na organização de diversos seminários, sobretudo nas áreas da subvisão e da ergoftalmologia. Ministério da Educação, Polícia de Segurança Pública, Laboratório Nacional de Engenharia Civil e Instituto Superior Técnico são apenas algumas das entidades com as quais tem mantido uma colaboração permanente.

O ABC da ergoftalmologia em livro

N

a sessão de abertura oficial do Congresso, entre as 17h00 e as 18h45, na sala 1, será apresentado o livro Perguntas e Respostas em Ergoftalmologia, que resulta da colaboração de 36 especialistas e tem como objetivo aumentar a perceção dos oftalmologistas sobre a ergoftalmologia, chamando a atenção para temas que estão cada vez mais na ordem do dia nas consultas de Oftalmologia. «Poucos sabem exatamente o que é e a que se dedica a ergoftalmologia, por isso, tornou-se prioritário lançar um manual para mostrar que temas abordamos e qual a mais-valia de saber um pouco sobre este assunto», explica o Dr. Fernando Trancoso Vaz, um dos autores e coordenador do Grupo Português de Ergoftalmologia da SPO. E acrescenta: «Mais do que criar uma obra clássica, que, provavelmente, 8

60.º Congresso português de oftalmologia

muitas pessoas acabariam por não ler, decidimos tornar o projeto mais engraçado, com algumas perguntas e respostas, para que quem pegue no livro sinta vontade o ler.» O manual foi estruturado em seis capítulos, que abordam a ergoftalmologia na criança (perigo ou não dos tablets, como proteger os olhos das crianças do sol, segurança ou não dos ponteiros laser, fazer desporto com ou sem óculos); no escritório/ /consultório; no bloco operatório (como evitar lesões, como posicionar o microscópio); na condução; nos voos e no mar (alterações visuais que ocorrem durante o mergulho e perigos dos desportos náuticos). «Por enquanto, o livro dirige-se a oftalmologistas, para que estejam mais familiarizados com estes temas, que são cada vez mais frequentes nas nossas consultas devido à utilização crescente de dispositivos ele-

trónicos, entre outros hábitos dos tempos atuais. Depois, dada a abrangência e a simplicidade das suas mensagens, o livro poderá, eventualmente, estender-se ao público em geral», avança Fernando Trancoso Vaz.


Adolescência em família: uma visão sobre a autoridade sem autoritarismo A sessão de abertura do 60.º Congresso Português de Oftalmologia, agendada para as 17h00, tem como um dos pontos altos a conferência do Prof. Daniel Sampaio, ex-diretor do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e professor catedrático jubilado de Psiquiatria e Saúde Mental na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Figura precursora da terapia familiar em Portugal, com uma dedicação de largas décadas ao estudo e à abordagem dos problemas dos jovens e respetivas famílias, este especialista é chamado a discorrer sobre o tema «A visão atual do adolescente e da sua família».

A

bordar o tema das relações entre pais e filhos continua a revestir-se da «maior pertinência», garante Daniel Sampaio. «Nada é mais importante», ressalva mesmo, considerando que «as relações afetivas primordiais são cruciais para o futuro de cada indivíduo e do seu país». Por forma a refletir sobre vínculos e comportamentos neste âmbito, é imperativo atender às «mudanças sociais e familiares observadas no século XXI». «Estas novas realidades acarretam também novas dificuldades, sobretudo nas famílias de pais divorciados e nas situações de desemprego familiar», concretiza. Por um lado, o psiquiatra desmistifica o que entende ser uma conceção equívoca da adolescência – a ideia de que é um período particularmente conturbado. «Não creio que esta fase seja muito difícil para os jovens. Na sua grande maioria, os adolescentes vivem-na como uma época de extraordinárias descobertas.» Ao invés, «a adolescência é mais difícil para os pais, pelas mudanças que é necessário fazer e pelos desafios que é urgente vencer», reitera.

Segundo Daniel Sampaio, a evidência sugere, inclusive, que este seja um momento de charneira no que concerne ao exercício da paternidade. «Há estudos que demonstram que a adolescência é o período mais difícil na vida de um pai, porque é preciso encontrar um equilíbrio entre dar alguma liberdade e exercer algum controlo e isso pode ser bastante desafiador», sublinha. O psiquiatra ilustra esta premissa com um exemplo curioso, mas esclarecedor: «Uma vez perguntei a um jovem o que era ser adolescente e ele respondeu: “Pedir tudo aos pais e ficar com o que eles quiserem dar” [risos]. E a verdade é que é mesmo assim.» Daniel Sampaio não concorda com a ideia generalizada de que, atualmente, predomina uma atitude laxista quanto ao exercício do poder paternal. Não obstante, a maior proximidade que se constata atualmente entre pais e filhos coloca «desafios» no que toca às fronteiras desta relação. «Os pais estão próximos dos filhos como nunca», salienta o especialista, advertindo que, frequentemente, há «um marcado défice de autoridade e uma hesitação constante em traçar limites».

A este propósito, Daniel Sampaio é perentório: «A autoridade clássica, que é mais autoritarismo que autoridade, não funciona com os jovens de hoje, que têm muita noção dos seus direitos.» Todavia, contrapõe: «A educação indulgente e permissiva, típica de tantos lares de hoje, tem originado adolescentes determinados, mas pouco respeitadores, cada vez mais centrados em si e pouco atentos ao reconhecimento do outro.» No entender do psiquiatra, urge, por isso, «criar outro tipo de autoridade», que responda a estas novas dialéticas familiares. «Se um pai acompanhar o filho desde pequeno, a sua autoridade será natural e reconhecida. É fundamental que os pais consigam encontrar um equilíbrio entre a autonomia do jovem e o controlo. Têm de permitir uma liberdade monitorizada, o que só se consegue com autoridade (sem autoritarismo) e com envolvimento afetivo permanente.»

Correr/caminhar pelas pessoas com paralisia cerebral

J

á se inscreveu na corrida/caminhada de 3 km que decorre hoje? Ainda não? Saiba que ainda pode fazê-lo até às 14h00, dirigindo-se ao secretariado. Depois, é só equipar-se a rigor e, às 19h15, comparecer no parque de estacionamento deste hotel, para enveredar num percurso ao longo da Marina de Vilamoura. «Esta atividade tem-se revelado um mo-

mento de convívio informal entre os participantes do Congresso e é de sublinhar o seu cariz solidário», afirma a Dr.ª Rita Couceiro, coordenadora da secção SPO Jovem, que dinamiza a iniciativa. Este ano, a instituição que vai receber a já habitual doação dos Laboratórios Théa (10 euros por cada participante) será a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de

Faro. Não se esqueça que, ao participar, está a contribuir para que o valor final seja mais significativo e ainda terá direito a uma t-shirt (número limitado, por isso apresse-se na inscrição). Os vencedores da corrida nas categorias feminina e masculina receberão medalhas de participação, cuja entrega decorrerá no jantar de encerramento, no sábado.

dezembro 2017

9


Visão SPO

Iniciativas SPO

Patologias oftalmológicas sob o olhar da multidisciplinaridade A reunião conjunta dos Grupos Portugueses de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo (GPOPE), Neuroftalmologia (GPN), Patologia Oncológica e Genética Ocular (GPOG) e Órbita e Oculoplástica (GPOO) discutiu novas estratégias terapêuticas e cirúrgicas para patologias comuns a estas áreas.

N

os dias 20 e 21 de outubro passado, cerca de 140 oftalmologistas reuniram-se em Évora para analisar temas comuns à neuroftalmologia, à oculoplástica, à oftalmologia pediátrica e às patologias oftalmológicas do foro oncológico e genético. «Tentámos não só fazer a interligação entre estas subespecialidades, mas também com outras áreas, de modo a conseguirmos uma abordagem mais multidisciplinar», esclarece a Dr.ª Alcina Toscano, coordenadora do GPOPE. A reunião teve início com um conjunto de sessões que abordaram temáticas alusivas às quatro áreas. Após a mesa dedicada às patologias que afetam o nervo ótico da criança e a abertura oficial do encontro, seguiu-se uma conferência sobre rabdomiossarcoma. Enquanto o Dr. João Cabral, oftalmologista no Hospital da Luz Lisboa, falou sobre a abordagem clínica deste carcinoma, a Dr.ª Cláudia Constantino, oncologista pediátrica no Instituto Português de Oncologia de Lisboa, debruçou-se sobre as opções terapêuticas. A oradora começou por realçar «o papel crucial» dos oftalmologistas no diagnóstico deste sarcoma, pois «são eles que, perante

COORDENADORAS DOS GRUPOS (da esq. para a dta.): Dr.ª Fátima Campos (GPN), Dr.ª Mara Ferreira (GPOO), Dr.ª Ana Magriço (GPOG) e Dr.ª Alcina Toscano (GPOPE)

a presença de massas periorbitárias, fazem as biópsias». No que diz respeito ao tratamento, Cláudia Constantino lembrou que, sendo as neoplasias bastante raras nas crianças, «é essencial uma abordagem multidisciplinar, até porque o tratamento e o prognóstico destes casos melhoraram muito desde que se adotou essa postura». «A estratégia terapêutica inclui sempre a quimioterapia sistémica e terapêutica local, que poderá ser radioterapia e/ou cirurgia.» A oncologista enfatizou que, hoje em dia, as cirurgias do rabdomiossarcoma «tendem a ser menos agressivas, menos mutilantes. No entanto, em alguns casos, não é possível a excisão tumoral total e o tratamento local tem de ser complementado com radioterapia, acrescenta a especialista.

Doença de Graves – visão do endocrinologista Na sessão que abordou a doença de Graves, na qual participaram os quatro grupos organizadores (Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo, Neuroftalmologia, Patologia Oncológica e Genética Ocular, Órbita e Oculoplástica), o Dr. Francisco Sobral Rosário, endocrinologista no Hospital da Luz Lisboa, partilhou a perspetiva da sua especialidade quanto à avaliação clínica desta patologia e sublinhou a importância da colaboração entre oftalmologistas e endocrinologistas neste âmbito. «Conseguirmos trabalhar em conjunto permite uma referenciação mais rápida e possibilita o esclarecimento de dúvidas, quer da parte do oftalmologista, que não sabe o que se passa na doença de Graves tiroideia, quer da parte do endocrinologista, quando pretende, por exemplo, prescrever o iodo radioativo ou quando não percebe se a evolução da orbitopatia está a correr bem ou não», sintetizou.

10 60.º Congresso português de oftalmologia

Celulite orbitária na criança Para a Dr.ª Mara Ferreira, coordenadora do GPOO, um dos grandes objetivos desta reunião conjunta foi proporcionar o contacto com técnicas e experiências de diferentes origens. Nesse sentido, «o programa teve uma forte componente didática, que não se limita aos internos ou jovens especialistas, já que, com a partilha de conhecimentos entre profissionais de várias áreas e locais de trabalho, todos acabam por aprender sempre algo mais, nem que seja um ou outro truque com o qual não estavam familiarizados», comenta a também oftalmologista no Hospital da Luz Lisboa. Foi o que aconteceu na sessão «Celulite orbitária na criança», que contou com as perspetivas de um oftalmologista (Dr. Guilherme Castela, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – CHUC), de uma pediatra (Dr.ª Fernanda Rodrigues, presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria e especialista no CHUC) e de um otorrinolaringologista (Dr. João Subtil, do Hospital CUF Descobertas, em Lisboa). Dedicando a sua intervenção ao diagnóstico diferencial, Guilherme Castela explicou que esse processo «passa, essencialmente, pela análise clínica e imagiológica, tornando-se imprescindível afastar a possibilidade de problemas oncológicos e inflamatórios, que também atingem as crianças». O oftalmologista lembrou ainda uma das complicações mais frequentes da celulite or-


bitária – o abcesso subperiósteo –, que afeta cerca de 15% dos casos, enfatizando a necessidade de saber como tratar e, sobretudo, quando decidir por uma intervenção cirúrgica. «Nestas situações, a principal dúvida é se devemos drenar o abcesso cirurgicamente de forma precoce ou tardia e, nesse sentido, a intervenção da Dr.ª Fernanda Rodrigues sobre os antibióticos mais indicados para o tratamento não cirúrgico foi muito interessante», refere Guilherme Castela.

Avanços promissores No segundo dia do encontro, interveio o Dr. Josep Visa, diretor do Serviço de Oftalmologia do Hospital Parc Taulí de Sabadell, em Barcelona, que falou em dois momentos. Após a sessão dedicada à patologia da córnea na criança, que debateu questões relacionadas com a blefarite, a queratoconjuntivite vernal, a neovascularização da córnea, a alergia ocular na criança e o queratocone, o especialista espanhol conduziu uma conferência sobre o estrabismo secundário nas fraturas orbitárias. «Ainda que não sejam muito frequentes, estas fraturas são complexas, pois afetam o osso e geram um grande grau de inflamação nos músculos circundantes, podendo provocar estrabismo, pelo que exigem cuidados específicos», explicou. Já na mesa-redonda dedicada à cirurgia na síndrome de Duane, Josep Visa defendeu tratar-se não só de uma indicação médica, mas também estética, já que «este é um problema com uma profunda implicação na imagem». Nesse sentido, o orador alertou para a necessidade de uma boa comunicação com os pais da criança afetada pela síndrome de Duane e de analisar cada caso à luz das suas particularidades. Salientando que a oculoplástica «tem captado o interesse de cada vez mais oftalmologistas» e que também é fundamental a reconstrução pós-cirurgia oncolóFicha técnica Propriedade: Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Campo Pequeno, n.º 2, 13.º • 1000 - 078 Lisboa Tel.: (+351) 217 820 443 • Fax: (+351) 217 820 445 socportoftalmologia@gmail.com • www.spoftalmologia.pt

gica, a Dr.ª Ana Magriço, coordenadora do GPOG, afirma que «esta reunião constituiu uma excelente oportunidade para transmitir alguns dos conceitos fundamentais neste âmbito». A este nível, a responsável considera que alguns pontos altos foram a demonstração de «um caso de enxerto composto, no qual se utilizou o tarso com cílios, que é sempre uma preocupação na reconstrução palpebral»; e uma abordagem diferente da correção do floppy eyelid através da cantopexia externa e interna.

Desafios da neuroftalmologia

La Morgia, neurologistas no Hospital Universitário de Bolonha, apresentaram as guidelines de orientação clínica e diagnóstico estabelecidas pelo International Consensus Statement on the Clinical and Therapeutic Management of Leber’s Hereditary Optic Neuropathy e os principais desenvolvimentos na terapêutica farmacológica e genética. Na sessão sobre as alterações do movimento facial e dor, a Dr.ª Maria Picoto (Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental/Hospital de Egas Moniz) e o Dr. Filipe Simões Silva (Hospital Beatriz Ângelo, em Loures) deram particular realce à clínica e à investigação etiológica necessárias para o diagnóstico e a orientação terapêutica. A reunião terminou com dois temas, um deles dedicado às ilusões, alucinações e disfunção cortical superior, que foi apresentado pela Dr.ª Dália Meira (Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho) e o outro à disfunção visual não orgânica, a cargo do Dr. Pedro Fonseca (CHUC), em que foram salientados os vários testes e exames complementares utilizados no diagnóstico destas patologias.

Como frisa a Dr.ª Fátima Campos, coordenadora do GPN, que convidou seis palestrantes portugueses e três estrangeiros, «uma das preocupações na elaboração desta reunião conjunta foi incluir temas menos habituais, mas que constituem grandes desafios na atividade clínica neuroftalmológica». A primeira sessão foi dedicada à neuropatia ótica hereditária de Leber (NOHL). O Prof. Patrick Yu Wai Man, da Universidade de Cambridge, dissertou sobre a clínica e os novos desenvolvimentos na área da genética. «Trata-se de uma doença resultante de uma mutação do DNAmit e, por conseguinte, herdada por via materna. O diagnóstico é clínico, mas a confirmação diagnóstica é obtida, em cerca de 90% dos casos, através da identificação molecular de uma das três mutações mais comuns e, em situações mais raras, TRATAMENTO DO GLAUCOMA DE ÂNGULO ABERTO E HIPERTENSÃO OCULAR de outras mutações do DNAmit», refere Fátima Campos. A Dr.ª Rita Couceiro (Hospital de Vila Franca de Xira) e a Drª Ana Fonseca (Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria) abordaram os temas do Com esta fotografia de um hemangioma congénito da da PIO Respeito pela superfície ocular diagnóstico diferencial e do estádio pré-Eficaz controlo íris numa criança de 3 meses com hifema de repetição, a Dr.ª Mafalda Mota (do Hospital Prof. Doutor clínico da NOHL, realçando a existência de 1º l a t a n o p r o s t s e m c o n s e r v a n t e s Fernando Fonseca, na Amadora) foi a vencedora do uma degenerescência seletiva das células concurso «Cantinho da Fotografia», que decorreu ganglionares da retina, com consequenno âmbito desta última reunião conjunta de quatro tes perda da visão central e atrofia ótica. secções da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. O Prof. Valério Carelli e a Prof.ª Chiara Colirio, solução em recipiente unidose

Latanoprost 0,05 mg/ml

EFICÁCIA E TOLERÂNCIA

Edição: Esfera das Ideias, Lda. Campo Grande, n.º 56, 8.º B • 1700 - 093 Lisboa • Tel.: (+351) 219 172 815 geral@esferadasideias.pt • www.esferadasideias.pt Direção: Madalena Barbosa (mbarbosa@esferadasideias.pt) Marketing e Publicidade: Ricardo Pereira (rpereira@esferadasideias.pt) Coordenação editorial: Luís Garcia (lgarcia@esferadasideias.pt) Textos: Ana Rita Lúcio, Luís Garcia, Rui Alexandre Coelhoconservantes e Sandra Diogo Fotografias: João Ferrão, Jorge Correia Luís e Rui Santos Jorge ESTÁVEL À TEMPERATURA AMBIENTE Design/paginação: Susana Vale

NOVO

O%

Patrocinadores desta edição: ANUNCIO MONOPROST JAN15 - PARA MAIS INFORMAÇÕES CONTACTAR O TITULAR DA A.I.M. OU O REPRESENTANTE LOCAL

COMPROMISSO COM O GLAUCOMA INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

dezembro 2017

11

NOME DO MEDICAMENTO: Monoprost 50 microgramas/ml colírio, solução em recipiente unidose. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: 1 ml de colírio, solução contém 50 microgramas de latanoprost. Uma gota contém aproximadamente 1,5 microgramas de latanoprost. Excipiente com efeito conhecido: 1 ml de colírio, solução contém 50 mg de hidroxi-estearato de macrogolglicerol 40 (óleo de castor hidrogenado polioxilo). FORMA FARMACÊUTICA: Colírio, solução em recipiente unidose. A solução é ligeiramente amarelada e opalescente. pH: 6,5 - 7,5. Osmolalidade: 250 - 310 mosmol/kg. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Redução da pressão intraocular elevada em doentes com glaucoma de ângulo aberto e hipertensão ocular. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Dose recomendada para adultos (incluindo idosos): Recomenda-se a administração de uma gota no(s) olho(s) afetado(s) uma vez ao dia. Obtém-se um efeito ótimo se o MONOPROST for administrado à noite. A posologia


Visão SPO

Iniciativas SPO

Formação em retina e vítreo e inflamação ocular O Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV) e o Grupo Português de Inflamação Ocular (GPIO) organizaram este ano uma reunião conjunta, que decorreu nos dias 22 e 23 de setembro, em Évora. Foi uma oportunidade para revisitar alguns tópicos essenciais das duas subespecialidades, trazendo à tona novidades como o lançamento de um inquérito sobre a prática dos profissionais que tratam as doenças da retina e a criação de uma plataforma de registo para as uveítes.

C

ada um dos grupos – GPRV e GPIO – organizou o seu próprio programa científico, à exceção de uma sessão que juntou as duas subespecialidades, ao abordar as doenças mais graves causadas pela inflamação ocular, que afetam a retina ou as estruturas adjacentes. Por seu lado, o GPIO trouxe para análise as principais doenças infeciosas e inflamatórias do segmento posterior, como explica a Dr.ª Vanda Nogueira, coordenadora desta secção da SPO e oftalmologista no Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto, em Lisboa. Os objetivos do programa científico organizado pelo GPIO passaram por aprofundar a formação dos oftalmologistas que se dedicam ao tratamento das uveítes e também por tentar formar aqueles que não trabalham nesta área para «identificar e iniciar o tratamento das uveítes, bem como referenciar os doentes urgentes para centros especializados com a celeridade necessária», sublinha Vanda Nogueira.

Moderadores, oradores e participantes da Reunião do Grupo Português de Inflamação Ocular

No âmbito de um curso de atualização em uveítes inflamatórias do segmento posterior, a Dr.ª Sofia Fonseca, oftalmologista no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/ /Espinho, apresentou a evidência científica sobre o tratamento da sarcoidose ocular. «Apesar de esta ser uma doença comum dentro das raridades que tratamos, existe pouco consenso relativamente ao seu tratamento. Baseamo-nos muito em séries clínicas que não foram comparadas, pelo que temos de tentar encontrar o tratamento com mais evidência científica para a sarcoidose ocular, que representa ainda uma patologia importante na inflamação ocular», afirmou esta especialista. Por sua vez, o Dr. Luís Figueira, oftalmologista no Centro Hospitalar de São João (CHSJ), no Porto, fez uma revisão sobre a tuberculose ocular, na sessão «Update on posterior infectious uveitis», propondo «um princípio de consenso» no tratamento desta patologia, baseado na evidência conhecida.

Plataforma uveites.pt O que é? Apresentada nesta reunião conjunta, trata-se de uma plataforma online de registo dos doentes com uveítes. Qual é o seu objetivo? Implementar um registo sistematizado, que sirva para o seguimento/ /acompanhamento do próprio doente e de base de dados nacional. Quando estará disponível? Durante o ano de 2018, estando atualmente numa fase de construção e solicitação das autorizações necessárias para o seu funcionamento dentro dos trâmites legais.

12 60.º Congresso português de oftalmologia

«Os tópicos discutidos procuraram clarificar quando e em que doentes com uveíte deve ser feito o rastreio da tuberculose, que testes são utilizados nesse rastreio, que critérios devem conduzir à assunção de um diagnóstico de tuberculose ocular e como tratar e fazer o follow-up destes doentes», referiu o especialista. E acrescentou: «As recomendações citadas integram um documento de consenso elaborado em parceria pelas Sociedades Portuguesas de Oftalmologia e de Pneumologia, no âmbito do Programa Nacional da Tuberculose, e publicado este ano na Revista Portuguesa de Pneumologia [Rev Port Pneumol. 2017 Jan-Feb;23(1):31-38].» Num comentário sobre o restante programa dedicado à inflamação ocular, Luís Figueira considera que o grande highlight foi a inclusão de «convidados nacionais e internacionais de excelência», como o Dr. Carlos Pavesio, oftalmologista no Moorfields Eye Hospital, em Londres. Autor da comunicação «Atypical ocular toxoplasmosis», este especialista brasileiro defendeu que, com base nos estudos que estão a ser realizados ao nível das uveítes, espera-se um futuro promissor. «A doença de Behçet sempre cegou a maior parte dos doentes, mas, hoje em dia, pode ser muito bem controlada com os fármacos biológicos», exemplificou. E acrescentou: «No futuro, vamos evitar a progressão das patologias e os danos maiores nos doentes em idade ativa, através de medicação mais eficaz.» Coordenado pelo Prof. Carlos Marques Neves, oftalmologista no Centro Hospita-


lar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o GPRV centrou os seus trabalhos em dois grandes temas: a retina cirúrgica e a retina médica. No âmbito cirúrgico, foram abordados tópicos como as endoftalmites, a síndrome de tração vitreomacular, o descolamento regmatogénico da retina, a miopia ou a proliferação vitreorretiniana na diabetes. Já o simpósio dedicado à retina médica contou com a colaboração do GPIO para analisar as doenças mais graves causadas pela inflamação ocular, que afetam a retina ou as estruturas adjacentes. Nesta sessão, participou também o Grupo de Estudos de Retina (GER), desta feita para esmiuçar a degenerescência macular da idade (DMI), nomeadamente a sua forma polipoide; a oclusão venosa da retina, a retinopatia diabética (RD) sem edema macular; a neovascularização coroideia inflamatória e o linfoma ocular. Desafiado a comentar para quais destes problemas existem novidades em termos de tratamento, Carlos Marques Neves apontou a RD. «É, talvez, o grande paradigma de modificação terapêutica que temos, quer pelas novidades introduzidas, quer pelos últimos resultados clínicos que têm sido publicados.» Por seu turno, o Prof. Rufino Silva, coordenador do GER e um dos moderadores deste simpósio, destacou os estudos sobre a vasculopatia polipoide que estão a ser desenvolvidos em caucasianos, na Europa, visando combater uma realidade contraditória. «Toda a informação existente sobre esta patologia, que representa 10 a 15% dos doentes que tratamos na prática clínica europeia, vem de estudos asiáticos.» Um desses estudos, o ATLANTIC (Efficacy, Safety, and Tolerability of Intravitreal Afliber-

Pela harmonização da qualidade formativa «Um assunto difícil»: é assim que o Dr. Augusto Magalhães resume a temática dos fellowships de retina, que trouxe à discussão na Assembleia-Geral do GPRV. «Neste momento, nada há nada legislado ou organizado sobre este tema. Os fellowships são individuais, muito aleatórios e com uma diversidade enorme em termos da qualidade das formações a nível internacional», denuncia o presidente do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos, que também é oftalmologista pediátrico no Centro Hospitalar de São João. Antes de tudo, segundo Augusto Magalhães, «é necessário criar uma rede de serviços certificados a nível europeu, sob a égide de entidades supranacionais, que permita que esses serviços possam ser candidatos a introduzir áreas específicas de formação, para assim incrementar a qualidade dos cuidados oftalmológicos nas várias subespecialidades». cept Monotherapy Compared to Aflibercept With Adjunctive Photodynamic Therapy in Patients With Polypoidal Choroidal Vasculopathy), é coordenado por investigadores portugueses. «Pela primeira vez, temos um estudo realizado em Portugal e Espanha, que é randomizado e multicêntrico, com resultados, a conhecer muito em breve, que podem alterar a nossa prática clínica», projeta Rufino Silva, que é chefe da Secção de Retina Médica e Neuroftalmologia do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

Curso acreditado sobre traumatologia ocular Com três European Continuing Medical Education Credits (ECMEC), o curso «Ocular trauma – a practical approach», ministrado no seio do programa do GPRV, merece um especial destaque por parte de Carlos Marques Neves. «Os responsáveis da ECMEC são muito restritivos, pelo que a realização deste curso requereu um bom planeamento. Esta acreditação é uma mais-valia e veio diferenciar a qualidade das ações de formação promovidas pela SPO.»

Por outro lado, acrescenta o responsável, «um curso de traumatologia ocular é fundamental para a prática clínica de quem faz urgências hospitalares». Assim, esta formação foi «uma oportunidade para todos os oftalmologistas saberem o que devem fazer perante um traumatismo ocular, que pode ir desde distúrbios simples até complicações graves a ponto de se tornarem fatais para a saúde da visão». A coordenadora deste curso foi a Dr.ª Angelina Meireles, responsável pela Secção de Cirurgia Vitreorretiniana e Traumatologia Ocular do Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António, que resume assim os conteúdos: «Abordámos as endoftalmites traumáticas, as melhores opções para resolver as complicações pós-operatórias e várias situações de trauma ocular que afetam os segmentos anterior e o posterior.» O programa científico organizado pelo GPRV encerrou com a apresentação do projeto Portuguese Retina Practices (PRP), «um inquérito lançado aos oftalmologistas portugueses para recolher informações e avaliar a prática clínica habitual nesta área», explica Carlos Marques Neves.

Moderadores, oradores e participantes da Reunião do Grupo Português de Retina e Vítreo dezembro 2017

13


Visão SPO

Iniciativas SPO

Tratamento da presbiobia debatido em simpósio luso-hispânico-brasileiro outra. Pelo contrário, na presbiopia, estamos a intervir num olho que pode ser completamente saudável, o que levanta outros dilemas», explica o também diretor do Serviço de Oftalmologia do Complexo Hospitalar de Ourense, para quem a idade é um dos aspetos mais importantes na cirurgia da presbiopia. «Não se deve fazer uma cirurgia intraocular numa pessoa míope antes, pelo menos, dos 55 anos de idade, porque há estruturas dentro do olho que facilitam o aparecimento de complicações na retina», adverte.

Nomenclatura e novidades farmacológicas

Prof. Manuel Monteiro-Grillo (presidente da SPO), Prof.ª Filomena Ribeiro (coordenadora da CIRP), Dr. Ramón Lorente (presidente da SECOIR), Dr.ª Victoria de Rojas (Espanha), Prof. David Spalton (presidente da ESCRS), Dr. Gustavo Victor (secretário-geral da BRASCRS), Dr. Sérgio Kwitko e Dr. Pedro Paulo Fabri (Brasil)

As diferentes técnicas cirúrgicas e a nova hipótese do tratamento farmacológico da presbiopia foram discutidas no Simpósio Luso-Hispânico-Brasileiro decorrido no dia 9 de outubro passado, em Lisboa, no âmbito do XXXV Congresso da European Society of Cataract & Refractive Surgeons (ESCRS), que reuniu cerca de 10 000 participantes entre 7 e 11 de outubro.

A

lém da própria ESCRS, o Simpósio Luso-Hispânico-Brasileiro envolveu três outras entidades: Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), através da sua secção Cirurgia Implanto-Refrativa de Portugal (CIRP); Sociedade Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (BRASCRS) e Sociedad Española de Cirugía Ocular Implanto-Refractiva (SECOIR). De acordo com a Prof.ª Filomena Ribeiro, coordenadora da CIRP, esta reunião visou «reforçar a colaboração entre os três países, que têm importantes pontos de contacto em termos de cultura e até de língua, permitindo partilhar diferentes perspetivas e abordagens oftalmológicas». A também diretora do Serviço de Oftalmologia do Hospital da Luz Lisboa salienta o surpreendente número de participantes (cerca de 200) neste simpósio, entre portugueses, brasileiros, espanhóis, mas também internos e especialistas de outras nacionalidades, que puderam assistir à sessão graças à tradução simultânea para inglês. O Dr. Gustavo Victor, secretário-geral da BRASCRS, refere que este simpósio visou «aumentar a interação científica e o networking entre os oftalmologistas de Por14 60.º Congresso português de oftalmologia

tugal, Espanha e Brasil». Já o Dr. Ramón Lorente, presidente da SECOIR, expressa o desejo de que este tipo de iniciativas tenha continuidade, considerando que, «se as realidades portuguesa e espanhola são, no essencial, muito semelhantes, o cenário brasileiro é bastante diferente, pelo que a troca de perspetivas enriquece os três países». Para Ramón Lorente, a cirurgia da presbiopia é uma das vertentes mais controversas da Oftalmologia na atualidade. «Na cirurgia de catarata, por exemplo, é necessário operar e a questão que se coloca é entre optar por uma técnica cirúrgica ou

Entre os tópicos abordados no Simpósio Luso-Hispânico-Brasileiro, Gustavo Victor destaca a cirurgia da disfunção do cristalino. «A semântica, neste caso, é importante, porque, se o que se passa na presbiopia é que o cristalino perde a capacidade de acomodação, então trata-se efetivamente de uma disfunção», frisa o também oftalmologista na Eye Clinic de Moema, em São Paulo. Outro aspeto destacado por este responsável, devido à discussão que gerou, é a comparação «muito interessante» entre as lentes trifocais disponíveis, nomeadamente quanto à distância de foco ao perto e intermédia. Em discussão estiveram também dados que parecem abrir a porta ao tratamento farmacológico da presbiopia. Segundo Filomena Ribeiro, «tem-se falado muito de diferentes tipos de colírios com modos de atuação distintos», embora não haja ainda «evidência científica clara» sobre esta terapêutica. «Seria algo quase miraculoso e com grande impacto, mas ainda não há estudos que nos permitam encarar esta alternativa como uma certeza», remata a coordenadora da CIRP.

Recorde de participantes no Congresso da ESCRS O XXXV Congresso da European Society of Cataract & Refractive Surgeons (ESCRS) levou à Feira Internacional de Lisboa perto de 10 000 congressistas, um recorde histórico. «O congresso excedeu as nossas expectativas: tivemos mais participantes do que nunca, as infraestruturas foram ótimas, a organização também e a localização é fantástica», sublinha Prof. David Spalton, presidente da ESCRS. Além da atração por Lisboa, o oftalmologista no St. Thomas’ Hospital, em Londres, justifica a elevada afluência de participantes com o facto de se viverem «tempos entusiasmantes na cirurgia refrativa». «Cada vez mais pessoas escolhem a cirurgia de cataratas com lente intraocular tórica e começamos a perceber que a superfície ocular é muito importante. Por outro lado, o uso de colírios pode vir a mudar a nossa prática», conclui.


publicidade


Visão SPO

Iniciativas SPO

Perspetivas europeias e americanas sobre estrabismo discutidas no Porto A utilização da toxina botulínica no tratamento do estrabismo, a classificação e o tratamento da exotropia intermitente e as particularidades dos músculos extraoculares foram alguns dos temas em debate no 39.º Congresso da European Strabismological Association (ESA), que teve lugar no Porto, de 13 a 16 de setembro. Realizado, pela primeira vez, em conjunto com a American Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus (AAPOS), o encontro superou as expectativas da organização no que respeita à participação, com 496 congressistas.

A Dr.ª Fátima Pedrosa-Domellöf falou sobre a resposta dos músculos extraoculares em diferentes patologias, numa sessão moderada pelos Drs. Steve Christiansen (à esq.) e Pedro Menéres (à dta.)

O

39.º Congresso da ESA arrancou com dois cursos pré-congresso. O primeiro incidiu sobre a aprendizagem e o ensino de Ortótica e Oftalmologia, incluindo tópicos como os currículos nestas áreas, as relações entre os profissionais dos dois campos e o papel do e-learning na formação. O segundo curso, sobre estrabismo, foi dedicado a internos e jovens especialistas, com discussão de casos clínicos submetidos pelos participantes e esclarecimento de dúvidas num ambiente informal. Um dos pontos de destaque do programa, para o Dr. Pedro Menéres, diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António e organizador local deste Congresso, foi a mesa-redonda sobre ambliopia. «É um tema associado ao estrabismo, que teve muito impacto neste congresso e que engloba situações preveníveis com um diagnóstico

precoce. A este propósito, foram apresentadas iniciativas de prevenção em vários países, incluindo Portugal, onde estamos a implementar um programa de rastreio infantil, com o qual temos esperança de combater o diagnóstico tardio da ambliopia que ainda se verifica, com frequência, no nosso país», revela Pedro Menéres. A principal novidade deste Congresso foi o facto de, pela primeira vez, ter sido realizado em conjunto pela ESA e pela AAPOS, o que, na opinião de Pedro Menéres, contribuiu para a qualidade do encontro e para o cruzamento de opiniões europeias e americanas. Da mesma opinião é o Prof. John Sloper, presidente da ESA, que considera «muito valiosa» a troca de perspetivas

entre os especialistas dos dois lados do Atlântico. «Esta reunião serviu para compararmos práticas diferentes, mas também para nos conhecermos e desenvolvermos laços que poderão, no futuro, resultar em colaborações para investigação, por exemplo», refere o também oftalmologista no Moorfields Eye Hospital, em Londres. Exemplo das diferenças entre a prática clínica nos EUA e no Velho Continente é a abordagem da esotropia infantil. «Nos EUA (e também no Reino Unido), tendemos a optar pela cirurgia precoce, enquanto na Europa continental existe o hábito de fazer a cirurgia um pouco mais tarde. Um dos objetivos deste Congresso foi aprendermos com as práticas dos colegas de diferentes pontos geográficos», afirma John Sloper. Além dos simpósios sobre esotropia de início precoce e exotropia intermitente, nos quais foram particularmente exploradas as abordagens distintas nos dois continentes, o presidente da ESA destaca a palestra do Prof. Seyhan Özkan, oftalmologista no Hospital Universitário Adnan Menderes, em Esmirna, na Turquia, sobre a utilização da toxina botulínica no estrabismo como um dos pontos mais interessantes do programa. «Em geral, foi um congresso muito bom, com grande qualidade, quer dos oradores convidados quer dos trabalhos apresentados», sintetiza.

Estudar os músculos extraoculares para perceber os restantes Da Suécia, para falar neste Congresso, veio uma oftalmologista… portuguesa. Investigadora na Universidade de Umeå, a Dr.ª Fátima Pedrosa-Domellöf conduziu uma palestra sobre as respostas particulares dos músculos extraoculares em determinadas doenças. «Além de serem fundamentais para termos uma visão ótima, estes músculos apresentam uma resposta muito diferente dos restantes quanto à doença», explica a especialista. Certas patologias afetam preferencialmente estes músculos, como a miastenia gravis, algumas doenças da tiroideia, mas também patologias mais raras, como a síndrome de Miller Fisher, cuja fisiopatologia foi alvo de um trabalho de investigação desenvolvido pela equipa de Fátima Pedrosa-Domellöf. Em outros casos, dá-se o inverso: os músculos extraoculares são completa ou relativamente poupados em doenças graves, como as distrofias musculares. A oftalmologista ilustrou esta situação com a esclerose lateral amiotrófica, em que os músculos extraoculares apenas são discretamente afetados na fase final da doença. «Perceber o motivo pelo qual isto se passa pode dar-nos pistas para o tratamento de outros músculos do corpo», conclui Fátima Pedrosa-Domellöf.

16 60.º Congresso português de oftalmologia


rastreios à visão dos portugueses

O Dr. Mário Canastro durante o rastreio a um transeunte

P

or ocasião do Dia Mundial da Visão, comemorado no passado dia 12 de outubro, a SPO Jovem, em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, promoveu rastreios na capital portuguesa. Com dois polos de atuação, Avenida Ribeira das Naus e no Largo de São Mamede, internos e jovens especialistas avaliaram a visão dos transeuntes, dando a conhecer as principais doenças vvoculares e lembrando a importância das consultas regulares de Oftalmologia. «Nestes rastreios encontramos sempre situações surpreendentes: ainda se veem pessoas com erros refrati-

Equipa responsável pela ação de sensibilização na Avenida Ribeira das Naus, em Lisboa

vos muito marcados por corrigir, casos de hipertensão ocular que nunca foram vistos por um oftalmologista, diabéticos que não fazem a vigilância ocular recomendada e muitos idosos com cataratas e compromisso visual marcado a precisarem de tratamento», exemplifica o Dr. Mário Canastro, oftalmologista no Hospital das Forças Armadas/ /Polo de Lisboa e membro da SPO Jovem. Assegurando que «Portugal dispõe de uma Oftalmologia de qualidade e que toda a gente pode ter acesso a cuidados oftalmológicos diferenciados», o especialista reconhece que estas campanhas de rua são

sempre muito participadas porque as pessoas ainda têm algumas dúvidas e receios, nomeadamente em relação ao tratamento das cataratas. «Por exemplo, no Dia dos Avós, fazemos avaliações em centros de dia ou lares de terceira idade da Santa Casa da Misericórdia (SCM) e aproveitamos para esclarecer que a cirurgia das cataratas é hoje um procedimento bastante seguro», diz Mário Canastro. Esta parceria da SPO Jovem com a SCM arrancou em 2013 e inclui ainda outras ações, como rastreios oftalmológicos em bairros desfavorecidos da zona de Lisboa.

PUB.

publicidade


Visão SPO

Iniciativas SPO

Obras que se interpretam consoante o estado da alma

U

ma nova exposição de pintura do Dr. Ricardo Laires, ex-oftalmologista do Centro Hospitalar de Lisboa Central/Hospital de Santo António dos Capuchos e da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, foi inaugurada no passado dia 4 de novembro, na sede da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO). Na sessão de apresentação, que contou também com as intervenções do Prof. Manuel Monteiro-Grillo, presidente da SPO, e da Prof.ª Leonor Almeida, coordenadora cultural da SPO, o Dr. Ricardo Laires lembrou que foi este mesmo local que acolheu a sua primeira exposição individual, em 2012. Desde então, o artista tem desenvolvido muitos trabalhos e estudos na área da Pintura, que o levaram a participar em várias exposições individuais e coletivas, tanto em Portugal como alémfronteiras. Referindo-se concretamente aos quadros agora expostos na SPO, o oftalmologista salientou que «talvez se note uma maior uniformidade entre obras», mas mantém a decisão de não lhes atribuir títulos, abrindo assim caminho para «uma maior liberdade interpretativa».

O Dr. Ricardo Laires com a Prof.ª Leonor Almeida e o Prof. Manuel Monteiro-Grillo no dia de inauguração da sua nova exposição de pintura na sede da SPO

«A pintura do Dr. Ricardo tem como fim a cumplicidade não só dele para com os outros, mas também dos outros para com a arte dele, na medida em que o artista considera que, de cada vez que olham para um quadro seu, as pessoas têm interpretações diferentes, consoante os seus estados de alma e emoções», referiu Leonor Almeida. A coordenadora cultural da SPO aproveitou a ocasião para salientar ainda a predispo-

sição dos oftalmologistas para as artes, «talvez fruto da suscetibilidade causada pela vulnerabilidade visual dos doentes, como duas alteridades que se encontram frente a frente». Esta ideia foi corroborada por Manuel Monteiro-Grillo, que defendeu a importância de os médicos terem outro tipo de interesses. «Como se costuma dizer, quem só sabe de Medicina, nem de Medicina sabe», rematou.

Espetáculo de homenagem a Mário Cesariny

Um momento da atuação do grupo Os Pato Bravo

P

or ocasião do 10.º aniversário da morte de Mário Cesariny, a coordenadora cultural da SPO, Prof.ª Leonor Almeida, decidiu organizar um espetáculo de homenagem ao poeta/pintor português no dia 10 de setembro passado, na sede da SPO. «Como gosto muito de Cesariny, achei oportuno realizar este evento, à semelhança

18 60.º Congresso português de oftalmologia

do que tem sido feito nas comemorações ao poeta no país», explica a oftalmologista. A iniciativa consistiu num ciclo de leituras em torno do artista, intitulado «Palavra com lugar», a cargo do grupo Os Pato Bravo. «De repente, estávamos num sítio nada convencional e a reação das pessoas foi tão fantástica que, para nós, também foi muito bom», analisa Pedro Sousa Loureiro, diretor artístico do grupo. O espetáculo consistiu na leitura de poemas acompanhada por música tocada ao vivo e outras demonstrações artísticas. Segundo Leonor Almeida, o momento alto foi a declamação do poema Pastelaria (ver ao lado), «um texto provocador, que se refere à necessidade de enfrentar as situações complicadas da vida, em particular a falta de liberdade de opções e de expressão, mais sentidas na época em que o poema foi escrito».

Pastelaria Afinal o que importa não é a literatura nem a crítica de arte nem a câmara escura Afinal o que importa não é bem o negócio nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante - ele há tanta maneira de compor uma estante! Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício e cair verticalmente no vício Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome porque assim como assim ainda há muita gente que come Que afinal o que importa é não ter medo de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente: Gerente! Este leite está azedo! Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo No riso admirável de quem sabe e gosta ter lavados e muitos dentes brancos à mostra Mário Cesariny, in Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano


publicidade


publicidade


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.