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Dezembro 2017 Vilamoura Marina Hotel
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8 Dezembro 6.ª feira
Update em miopia degenerativa Este ano, o convidado da Conferência Cunha-Vaz é o Dr. Francesco Bandello, diretor do Departamento de Oftalmologia da Universidade Vita-Salute, em Milão. Este especialista vai traçar o atual estado da arte do diagnóstico e do tratamento da miopia degenerativa, focando-se nos casos relacionados com as perturbações da retina, nomeadamente a neovascularização coroideia (NVC), que representa uma das mais severas complicações nos olhos míopes, com uma prevalência situada entre os 5 e os 10%. «Na história natural da miopia, a NVC é a complicação que causa mais perda de acuidade visual, mas o aparecimento da terapêutica com fatores anti-VEGF (vascular endothelium growth factor) alterou completamente este prognóstico, ao travar a evolução da NVC miópica», frisa Francesco Bandello Pág.7 Dr. Francesco Bandello com o Prof. Manuel Monteiro-Grillo e o Prof. José Cunha-Vaz
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Visão SPO
HOJE
sexta-feira, dia 8
Uniformizar procedimentos na cirurgia de catarata Debater o estado da arte da cirurgia de catarata e confrontar experiências e pontos de vista, com o intuito de fomentar a instituição de um protocolo de atuação comum, que abranja transversalmente os períodos pré, intra e pós-operatório, é o desígnio do Curso de Consenso em Catarata, que decorre hoje, entre as 8h30 e as 10h30, na sala 1. do consentimento informado». Além disso, «deve-se ainda avaliar os prós e contras das cirurgias uni ou bilateral na mesma sessão e ter em conta a importância do treino pré-cirúrgico e os métodos disponíveis».
Como proceder durante e após a cirurgia?
Profs. José Salgado-Borges, Ramón Lorent, Filomena Ribeiro (coordenadora), Carlos Marques Neves, Drs. Walter Rodrigues, Manuela Cidade, Miguel Trigo e José Pedro Silva. Ausentes na foto: Prof. Joaquim Murta, Drs. Isabel Prieto, Fernando Vaz, João Paulo Macedo e Fernando Silva
A
pesar de esta ser reputada como a intervenção cirúrgica «com mais elevada taxa de sucesso, em toda a Medicina», por permitir «uma recuperação funcional muito importante» e ter sido alvo de uma «redução muito significativa na taxa de complicações», continua a ser relevante «discutir experiências e analisar as novidades que têm emergido neste campo», com o objetivo ulterior de promover um «protocolo pré, intra e pós-cirúrgico comum», afirma a Prof.ª Filomena Ribeiro, coorneadora deste curso, diretora do Serviço de Oftalmologia do Hospital da Luz Lisboa e também coordenadora do Grupo de Cirurgia ImplantoRefrativa de Portugal. Orador na mesa 1, sobre o pré-operatório, o Prof. José Salgado-Borges, diretor clínico da Clínica Oftalmológica Prof. Doutor J. Salgado-Borges e coordenador dos Serviços de Oftalmologia dos hospitais Trofa Saúde de Matosinhos e da Maia, elenca os pontos cuja apreciação considera crucial nesta fase, começando pelas indicações para cirurgia: «A acuidade visual inferior a 50% era o único critério orientador no passado; hoje, é também importante considerar as necessidades e os anseios do doente.» Relativamente aos exames pré-operatórios, a «grande bateria de exames» do passado deve ser substituída por: idade do doente, exames prévios e avaliação sistémica adequada. Quanto ao hemograma e à medição da glicemia e da função re2
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nal (ureia ou creatinina), Salgado-Borges deixa em aberto a questão relativa à sua necessidade. Outras dúvidas importantes, estas já relativas à medicação, são quando iniciar antibióticos e anti-inflamatórios, e suspender ou manter a polimedicação (nomeadamente anticoagulantes orais e tansulosina). Já a dilatação pré-operatória deve ser realizada num esquema de gotas ou comprimidos (Mydriasert®). No que respeita à avaliação pré-operatória, os exames específicos a realizar são: microscopia especular, tomografia de coerência ótica (OCT), campo visual (se houver glaucoma ou se o disco ótico for suspeito) e biometria de não contacto. De acordo com o oftalmologista, «a informação prestada ao doente deve ser mais detalhada em caso de procedimento refrativo prévio e não se deve esquecer o preenchimento
Dr. Pedro Menéres
Interveniente na mesa 2, que se vai debruçar sobre o período intraoperatório, o Dr. Pedro Menéres, diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar do Porto/ /Hospital de Santo António, informa que o objetivo «é suscitar o debate que possa levar a conclusões sobre as melhorias possíveis nas abordagens intraoperatórias da cirurgia de catarata». Além «da experiência e da execução técnica que tem sempre algum cunho próprio de cada cirurgião», o foco vai recair sobre «as melhores práticas e as opções individuais no que diz respeito a técnicas cirúrgicas e ao uso de dispositivos especiais, como retratores ou anéis adjuvantes em caso de pupila pequena ou falta de melhor suporte capsular, bem como a utilização de intraoperatórios para midríase, na prevenção da endoftalmite ou no floppy iris syndrome», exemplifica. Entre o conjunto de especialistas chamado a refletir sobre os cuidados a ter no pós-operatório, na mesa 3, o Dr. Walter Rodrigues, oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e coordenador do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia da SPO, ressalva a «importância de se uniformizarem protocolos de atuação», por forma «a prevenir e tratar as suas complicações que, embora pouco frequentes, podem surgir após a cirurgia». O olho seco é uma patologia frequente em Oftalmologia, mas que, após a cirurgia, pode agravar-se, levando a diminuição da acuidade visual e dor. O edema macular cistoide, «que ocorre em cerca de 2 a 3% dos doentes», e a hipertensão intraocular pós-operatória serão casos em apreciação, além de muitos outros, avança este orador, que remata: «É pertinente conhecermos bem as respostas terapêuticas para cada complicação pós-cirurgia de catarata para melhor as resolvermos.»
Ângulo e disco ótico na prática clínica
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OPINIÃO
ma formação marcadamente prática e interativa, dedicada à avaliação e ao diagnóstico do ângulo iridocorneano e do disco ótico no glaucoma, é o que propõe o Curso de Glaucoma organizado pela SPO Jovem, que decorre hoje, entre as 8h30 e as 10h30, na sala 7. Baseado na apresentação e discussão de casos clínicos, este curso contará com a participação da assistência através de uma aplicação interativa. A primeira preleção está a cargo do Dr. João Cardoso, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que vai abordar o ângulo iridocorneano. «A observação e a avaliação do ângulo nem sempre é feita por rotina, mas há situações em que se torna mandatório que isso aconteça, para que possamos chegar ao diagnóstico correto», preconiza. Essa investigação deve ser implementada «sempre que haja suspeita da existência de ângulo fechado primário, que é a ocorrência mais habitual no glaucoma, ou na eventualidade de os resultados do exame clínico, à biomicroscopia, apontarem para algo suspeito». Em seguida, a comunicação do Prof. Luís Abegão Pinto, oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Ma-
À frente: Dr. João Cardoso, Prof. Luís Abegão Pinto, Drs. Filipa Teixeira, Mário Canastro e André Diogo Barata. Atrás: Drs. Filipe Sousa Neves, Amélia Correia Martins, Andreia Soares, João Breda e David Cordeiro Sousa
ria, incidirá sobre o disco ótico, chamando a atenção para a definição de glaucoma, «cujo diagnóstico passa, em grande parte, pela análise de alterações características no nervo ótico». «De acordo com a maioria das sociedades científicas, a definição da doença, per se, é vaga, referindo-se de forma abstrata a alterações características do disco e deixando à responsabilidade do especialista a identificação e a classificação dessas mesmas modificações», argumenta. Essa ausência de critérios e indicações claras implica «uma interpretação razoavelmente subjetiva do oftalmologista, que
terá de ser capaz de reconhecer e avaliar as alterações verificadas e considerar se são ou não compatíveis com um quadro de glaucoma». Para isso, «é necessário que haja um treino por parte dos oftalmologistas e é isso que se pretende com este curso», frisa Luís Abegão Pinto, acrescentando: «Vamos tentar detalhar que características são essas, como ir à procura delas e como integrá-las na decisão diagnóstica, procurando dotar os colegas das ferramentas necessárias para conseguir identificar não só o doente com glaucoma, mas também os sinais de progressão da doença.»
Ambliopia: um problema de saúde pública
Dr. Augusto Magalhães Unidade de Oftalmologia Pediátrica do Centro Hospitalar de São João (CHSJ) | Presidente do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos | Preletor da conferência «Rastreio de saúde visual infantil – RSVI: as razões, os métodos e os resultados» (9h30 às 10h30, na sala 6)
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ntre as novas tecnologias, o foto-rastreio tem-se evidenciado como um método simples, rápido, barato e fiável na detecção dos factores causadores de ambliopia, sendo exequível mesmo nas crianças mais pequenas e identificando a presença de 99% das causas (erros refractivos e estrabismo), antes que ela se instale.
A imagem captada por este método dá uma medição automática do erro refractivo dos dois olhos, permite verificar o alinhamento ocular e, indirectamente, produz informação sobre a transparência dos meios ópticos. Nos poucos casos de ambliopia já instalada, permite um diagnóstico precoce numa fase assintomática da doença. Por essa razão, o secretário de Estado adjunto da Saúde assinou um protocolo com a Ordem dos Médicos (através do Colégio da Especialidade de Oftalmologia) e com a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia, que culminou no Despacho 5868-B/2016, determinando a implementação do Rastreiopiloto de Saúde Visual Infantil (RSVI) em quatro Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) do Porto. Na primeira fase, concluída em 2016, o rastreio incluiu as crianças que completaram 2 anos no semestre em curso (18-30 meses), foi exequível em 97% dos casos e 13% das crianças rastreadas
foram referenciadas para consulta hospitalar. Entre estas, a taxa de concordância com o exame gold standard realizado por oftalmologistas do CHSJ ou do Centro Hospitalar do Porto foi de 72%. Em resultado, 4% das crianças rastreadas (26% das referenciadas) necessitaram de intervenção terapêutica imediata. Esta primeira fase do RSVI confirmou a importância da ambliopia enquanto problema de saúde pública, mostrou a elevada prevalência da patologia visual infantil e a necessidade de intervir precocemente, pois identificou um número significativo de crianças em risco de desenvolver ambliopia e que, por isso, ficaram sinalizadas. Na segunda fase, agora em curso, o rastreio foi alargado a mais oito ACES, envolvendo mais quatro serviços hospitalares de Oftalmologia e cerca de 15 000 crianças. Nota: O autor deste artigo escreve ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico.
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HOJE
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IMPACTO DOs dispositivos eletrónicos NA VISÃO de crianças e adolescentes
Dr. Fernando Trancoso Vaz, Dr.ª Rita Gama e Prof. Daniel Sampaio
Um dos temas mais controversos da atualidade – a influência de tablets, smartphones e computadores na visão, bem como no bem-estar psicológico e social de crianças e adolescentes – estará em discussão entre as 11h00 e as 11h45, na sala 1. A sessão conta as perspetivas de uma oftalmologista pediátrica (Dr.ª Rita Gama) e de um psiquiatra (Prof. Daniel Sampaio).
«G
rande parte das queixas oculares que as crianças e os jovens manifestam hoje em dia, como olhos vermelhos, secura e/ /ou cansaço ocular, relacionam-se com o facto de estarem muito tempo em frente aos dispositivos eletrónicos», esclarece o Dr. Fernando Trancoso Vaz, oftalmologista no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora, e responsável pela nota introdutória do simpósio «Dispositivos eletrónicos e crianças/adolescentes», que organiza enquanto coordenador do Grupo Português de Ergoftalmologia. Como explica o especialista, a discussão deste tema entre a comunidade oftalmológica «é premente devido ao número crescente de problemas visuais nas crianças e de perguntas dos pais acerca dos potenciais malefícios dos dispositivos eletrónicos e, sobretudo, quanto ao número de horas de utilização que devem permitir a seus educandos». Não está perfeitamente estabelecida a relação entre a utilização destes aparelhos e o desenvolvimento de certas patologias oftalmológicas, particularmente a miopia. «Alguns estudos, sobretudo asiáticos, afirmam que crianças que estão mais tempo a ler/estudar têm maior taxa de miopia. No entanto, estudos realizados noutras partes 4
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«Alguns autores descobriram crianças com estrabismo convergente de aparecimento súbito que derivava da utilização abusiva de dispositivos eletrónicos» Dr.ª Rita Gama do mundo, com crianças submetidas às mesmas condições, não demonstraram a mesma prevalência. Por isso, «não se consegue tirar nenhuma conclusão definitiva, pois ainda não existem estudos sobre a relação entre a utilização destes dispositivos e o aumento dos casos de miopia», refere Fernando Trancoso Vaz.
Vantagens e desvantagens Para abordar a perspetiva do oftalmologista sobre este tema, tomará a palavra a Dr.ª Rita Gama, do Hospital da Luz Lisboa, que vai apresentar um trabalho de investigação desenvolvido em parceria com a Dr.ª Rita Couceiro, do Hospital de Vila Franca de Xira. Esta oradora começa por explicar que,
ao contrário do que se pensa, a relação de crianças e adolescentes com os dispositivos eletrónicos não traz só desvantagens. «Nas crianças com baixa visão, por exemplo, estes dispositivos têm um papel de integração enorme, porque permitem aumentar o tamanho das letras, o contraste, a cor dos caracteres, além de existirem também aplicações para daltónicos», salienta. Ainda assim, Rita Gama reconhece que os casos de miopia entre adultos e crianças «têm vindo a aumentar» e confirma que tal «parece estar relacionado com o uso destes dispositivos, pois exigem muito o recurso à visão de perto». Além disso, «alguns autores descobriram crianças com estrabismo convergente de aparecimento súbito que derivava da utilização abusiva destes aparelhos, ou seja, mais de quatro horas por dia, e que desaparecia quando a sua utilização cessava», informa.
Internet impõe novas dinâmicas familiares Apesar de merecerem preocupação, os problemas oculares não são o aspeto mais grave da relação de crianças e adolescentes com os dispositivos eletrónicos e a internet. «O facto de os miúdos estarem muito tempo em frente ao computador ou ao telemóvel levanta a questão da pouca interação social e dos constrangimentos implícitos no desenvolvimento das competências sociais e da personalidade», alerta Fernando Trancoso Vaz. Para desenvolver esta perspetiva, o organizador convidou o Prof. Daniel Sampaio, psiquiatra e docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, muito conhecido da população em geral pelos seus livros e intervenções nos media sobre a adolescência. «O problema não está na internet, mas sim no utilizador, pelo que compete aos pais, desde muito cedo, definirem as regras de utilização e o bom uso destes aparelhos», defende Daniel Sampaio. Esta postura é ainda mais premente na medida em que «existem inúmeros casos de utilização abusiva da internet, por vezes criando uma verdadeira dependência». Assim, «é crucial que pais e avós “se encontrem” com os adolescentes no mundo da internet, de modo a evitar a clivagem entre as gerações, ou seja, a internet terá de ser “um local de encontro” e de partilha entre pais e filhos, nunca uma fonte de conflitos, como infelizmente tantas vezes acontece», recomenda o psiquiatra.
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Entender o glaucoma como uma doença neurodegenerativa Os processos fisiopatológicos que unem o glaucoma a outras doenças neurodegenerativas e o potencial de novas abordagens terapêuticas que ambicionam travar a neurodegeneração estão no cerne da mesa-redonda que se realiza hoje, entre as 14h30 e as 15h30, na sala 1.
Dr. António Figueiredo
Esses dados viabilizam o entendimento do glaucoma «não só como uma doença oftalmológica, mas também como uma doença do sistema visual num sentido mais lato, que vai desde a retina até ao córtex occipital», esclarece este oftalmologista. Estas evidências «abrem caminho a novas estratégias terapêuticas, que visam não apenas aos clássicos fatores mecânicos e vasculares, mas também o tratamento da agressão molecular transversal a toda a via ótica», advoga José António Dias.
Tratar a neurodegeneração e não apenas a PIO
Dr. José António Dias
E
leito como um dos temas-chave do 60.º Congresso Português de Oftalmologia, o glaucoma serve de mote a esta sessão, que incide sobre «o conhecimento científico mais recente no sentido de o enquadrar como uma doença neurodegenerativa», contextualiza o Dr. António Figueiredo, oftalmologista na clínica ALM Oftalmolaser, em Lisboa, e coordenador do Grupo Português de Glaucoma da SPO. Assumindo a moderação desta mesa-redonda, ao lado do Prof. Manuel Monteiro-Grillo, presidente da SPO, e da Dr.ª Fátima Campos, diretora do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria, este oftalmologista salienta «os trabalhos vanguardistas» que têm vindo a ser publicados sobre esta matéria. Aprofundando a tese que encara o glaucoma como uma doença neurodegenerativa, o Dr. José António Dias, coordenador de Oftalmologia do Grupo Joaquim Chaves Saúde, vai versar sobre as «evidências científicas recentes», que trazem «novos dados sobre a fisiopatologia da doença». 6
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Especialista de renome internacional nesta área de investigação, a Prof.ª Francesca Cordeiro, coordenadora do Glaucoma and Retinal Neurodegeneration Research Group da University College London, vai discorrer sobre os tratamentos dirigidos à neurodegeneração. «Ainda que haja terapêuticas eficazes na redução da pressão intraocular [PIO], estudos de referência na área do glaucoma mostram que são necessárias alternativas para prevenir a perda da função visual após a redução bem-sucedida da PIO», frisa esta oftalmologista. Como tal, «a neurodegeneração no glaucoma tem conduzido à procura de tratamentos não dirigidos à redução da PIO». Segundo Francesca Cordeiro, «as terapêuticas neuroprotetoras têm o potencial de travar a perda de células ganglionares retinianas, ao promoverem a sobrevivência celular». Os mecanismos que ajudam a explicar este fenómeno «têm sido amplamente investigados», verificando-se pontos de contacto com «outras estratégias terapêuticas potenciais que têm sido estudadas no âmbito das doenças de Alzheimer e Parkinson». Assim sendo, esta oradora antevê que a próxima geração de tratamentos para o glaucoma siga no encalço desta abordagem alternativa. O mesmo prisma é defendido pelo Dr. João Paulo Cunha, oftalmologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central, que traçará um paralelo entre o glaucoma e a doença de Alzheimer. Assegurando que «as patologias neudegenerativas serão o grande desafio
da Medicina neste século», o também professor de Oftalmologia na NOVA Medical School/Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa começa por explicar que tanto o glaucoma como a doença de Alzheimer «atingem primordialmente doentes mais idosos, associam-se a comorbilidades semelhantes, têm um cariz neurodegenerativo e progressivo, bem como processos fisiopatológicos idênticos». No que concerne à fisiopatologia, João Paulo Cunha refere que «ambas as doenças estão associadas a alterações nas placas de amiloide e nas proteínas TAU, bem como a uma disfunção sináptica de base, que está na origem de tudo, ao desencadear a morte das células ganglionares a nível cerebral e retiniano». Este processo «leva à disfunção cognitiva e comportamental, por um lado, ou à cegueira, por outro». Não obstante os pontos em comum, e até a coexistência em alguns doentes, este orador ressalva que «há diferenças significativas entre o glaucoma e a doença de Alzheimer, que não devem ser negligenciadas». DR
Prof.ª Francesca Cordeiro
Dr. João Paulo Cunha
OPINION
Up-to-date on degenerative myopia
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yopia (short-sightedness or nearsightedness) is a refractive error where light is focused in front of the retina, leading to a blurred vision of distant objects. Myopia is classified as physiologic (simple) and pathologic (or degenerative). Eyes with simple myopia have a spherical refractive error not exceeding -6 diopters and lack pathological changes, whereas eyes with pathologic myopia present a refractive error of at least -6 D and an antero-posterior elongation of the globe greater than 26.5 mm in association with fundoscopic degenerative changes. Myopia is one of the leading causes of visual impairment in the world, especially between the ages of 20-50 years. The prevalence of myopia varies between 2% and 33%, depending on the race and age of the population analysed, being higher in Asia and the Middle East. Several important features involving different part of the eye are related to myopia, including retinal diseases, glaucoma, cataract and strabismus. Among others, some retinal abnormalities are more frequent such as retinal detachment, peripheral retinal degeneration, retinal tears, retinoschisis and myopic maculopathy. This last one abnormalitie is a potentially sight-threatening complication, characterized by one or more of the following lesions: tessellated fundus, due to the visualization of choroidal vessels through the retina; diffuse corioretinal atrophy, caused by the pigment loss from the retinal pigment epithelium; patchy atrophy, which are round-shaped areas of chorioretinal atrophy; macular hemorrhage due to vessels broken by the mechanical stretch of the elonged eye; laquer cracks, which are linear breaks of the Bruch’s membrane; and choroidal neovascularization (CNV), where choroidal new vessels spread into the retina. CNV represents one of the most sight threatening complication in myopic eyes. Its prevalence has been reported to be between 5% and 10%, with subfoveal location in around 60% of cases and juxtafoveal location in around 30% of cases. Myopic CNVs are generally small (< 1 disc area), flat, greyish and with hyperpigmented mar-
Dr. Francesco Bandello Professor and chairman in Departament of Ophthalmology of University Vita-Salute, Milano, Italy | Speaker in the Cunha-Vaz Conference (12.45–13.15 pm, room 1)
gins. They are type II CNV that means they are located in the subretinal space between the sensory retina and the retinal pigment epithelium. When active, myopic CNVs generally disclose minimal subretinal fluid and no exudates. CNVs may occur adjacent to a lacquer crack, where there is supposed to be an area of ‘minoris resistentia’ that allows choroidal vessels to spread towards the retina. Recently, some observations about the localization of perforating choroidal vessels beneath CNV support this hypothesis.
Diagnosis and treatment of myopic CNV The gold standard for the diagnosis of CNV is still fluorescein angiography that shows activity as a pattern characterized by early hyperfluorescence, with minimal to profuse leakage in the late phases. Inactive CNV shows no leakage. Nowadays OCT and even OCT-A are important tools to characterize CNV features and avoid invasive examination. OCT shows CNV size and location, as well as subretinal fluid/material, intraretinal cysts, outer retinal tabulation, external limiting membrane irregularity and reduced choroidal thickness. OCT-A shows
the vascular network with its shape, core, margins and overall appearance (tangled or interlacing). The natural history of myopic CNV is of a feature that cause a progressive loss of visual acuity over time, but the advent of anti-vascular endothelium growth factor (VEGF) treatment has completely changed its prognosis. Many studies have demonstrated clinically that anti-VEGF can halt the progression of myopic CNV, prompting varying degrees of improvement in visual acuity. In particular the REPAIR trial showed that eyes with myopic CNV receiving a baseline injection of ranibizumab followed by monthly monitoring and a pro re nata (PRN) treatment regimen based on disease activity, achieved a mean best-corrected visual acuity (BCVA) gain of 13.8 letters with a median of 3.0 injections, over a 12-month follow-up. In addiction, the results of the RADIANCE trial assessed both efficacy and safety of ranibizumab, administered under two different PRN schedules for myopic CNV compared with photodynamic therapy (PDT). This trial showed that both PRN regimens of ranibizumab induced significantly greater gains in BCVA than PDT.
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doenças da retina em Portugal Fruto da organização do Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV) da SPO com o Grupo de Estudos da Retina (GER), o Simposium de Retina Médica, que se realiza entre as 17h00 e 18h00, na sala 2, vai divulgar os dados recolhidos pelo Inquérito sobre Preferências no Tratamento da Retina em Portugal realizado pelo GPRV. A discussão das controvérsias e dos desafios no diagnóstico e no tratamento do edema macular diabético é o outro ponto alto da sessão e surge conjuntamente com a apresentação da monografia Edema Macular Diabético: 25 Perguntas & Respostas.
Dr.ª Joana Ferreira, Prof.ª Ângela Carneiro (moderadoras), Drs. José Henriques, Ana Fernandes Fonseca, Prof. Carlos Marques Neves (moderador), Dr.as Filomena Costa e Silva, Teresa Quintão, Prof. Rufino Silva (moderador) , Dr.as Sandra Barrão e Susana Teixeira. Ausente na foto: Dr.ª Cláudia Farinha
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efletir sobre as terapêuticas eleitas pelos oftalmologistas portugueses na abordagem às patologias da retina é o mote deste simpósio coordenado pelos Profs. Carlos Marques Neves e Rufino Silva, respetivamente presidentes do GPRV e do GER. A primeira parte desta sessão acolhe ainda a participação das Prof.as Ângela Carneiro, oftalmologista no Centro Hospitalar de São João e docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, e Joana Ferreira, oftamologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central. Relativamente ao Inquérito sobre Preferências no Tratamento da Retina em Portu-
gal, Carlos Marques Neves esclarece que se trata de «um questionário lançado há cerca de quatro meses», ao qual os oftalmologistas portugueses foram «convidados a responder online e de modo anónimo». O também diretor da Clínica Universitária de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa frisa que as informações coligidas neste inquérito permitem traçar «um padrão português de resposta às patologias mais frequentes da retina», como a degenerescência macular relacionada com a idade, o edema macular diabético, a retinopatia diabética, as oclusões venosas e questões de retina cirúrgica.
Exibidos, em póster, na exposição técnica deste Congresso, os resultados do inquérito – cujas oito perguntas mais relevantes serão discutidas neste simposium – «servem para saber o que está a ser feito na prática clínica, quais as principais tendências e também para avaliar condutas», nota Rufino Silva. «Estes são dados importantes para podermos perceber, de alguma forma, se estamos a proceder corretamente ou se há aspetos que precisamos de corrigir no nosso procedimento», aponta o também chefe da Secção de Retina Médica e Neuroftalmologia do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Além da reflexão a nível macro, esta constitui ainda uma oportunidade para que «cada oftalmologista, individualmente, pondere as suas opções e confirme se se enquadram, ou não, no standard». De acordo com o presidente do GER, em paralelo, «é necessário fazer uma análise comparativa entre o que está a ser feito em Portugal e aquelas que são consideradas como as melhores práticas a nível internacional». Este especialista acredita que «pode haver diferenças relacionadas com o conhecimento», enquanto outras «terão mais a ver com a organização e a estrutura da prestação de cuidados, podendo levar mais algum tempo a resolver, mas também são passíveis de ser corrigidas», conclui.
Novo livro sobre edema macular diabético Depois da sua primeira apresentação, em setembro deste ano, na Reunião dos Grupos Portugueses de Retina e Vítreo e de Inflamação Ocular da SPO, o livro Edema Macular Diabético: 25 Perguntas & Respostas é agora divulgado a «uma plateia mais ampla», como frisa a sua coordenadora, Dr.ª Teresa Quintão, oftalmologista na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e no Instituto de Retina de Lisboa. Sob a alçada do Grupo de Estudos de Retina, esta monografia, «que reúne os esforços de 42 autores», aborda «as questões que mais interessam aos oftalmologistas» relativamente àquela que é «uma das patologias com maior expressão no dia a dia da especialidade», sublinha Teresa Quintão. E Rufino Silva acrescenta: «É um livro muito prático e de consulta fácil, que incide sobre temas como a fisiopatologia do edema macular diabético, os regimes terapêuticos atualmente disponíveis, o seu impacto socioeconómico e as medidas profiláticas a implementar, assim como a importância de apostar na prevenção.» Tendo como base alguns capítulos desta monografia, no Simposium de Retina, será discutido o tema «Controvérsias e desafios no diagnóstico e no tratamento do EMD», com a coordenação dos Drs. José Henriques e Teresa Quintão. Neste âmbito, abordar-se-ão os seguintes tópicos: importância da segmentação da doença e da customização terapêutica no EMD (pela Dr.ª Teresa Quintão); papel da angiografia fluoresceínica e da angio-OCT nesta patologia (pela Dr.ª Cláudia Farinha); marcadores estruturais na OCT como ajuda na orientação terapêutica (pelas Dr.as Sandra Barrão e Ana Fernandes Fonseca); desafios da terapêutica do EMD (Dr.ª Susana Teixeira); a quem cabe o papel de gestor desta doença – ao oftalmologista ou ao administrador hospitalar? (pelo Dr. José Henriques).
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Embrião de um futuro núcleo de estudos de investigação da SPO?
Profs. José Cunha-Vaz (presidente do Conselho de Administração da AIBILI), Ângela Carneiro, Manuel Monteiro-Grillo (presidente da SPO) e Carlos Marques Neves. Ausente na foto: Dr. João Branco
A atual Direção da SPO decidiu apostar na organização do Simpósio de Investigação Clínica em Oftalmologia, acreditando que este pode ser o embrião de um futuro núcleo de estudos de investigação no seio da SPO. Entre as 17h00 e as 18h00, na sala 3, não perca o que têm para dizer cinco profissionais com experiência neste campo.
S
egundo o Prof. Carlos Marques Neves, oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e coordenador Grupo Português de Retina e Vítreo da SPO, um dos temas em destaque nesta sessão, cuja organização coordenou, será «a eventual criação de um núcleo de estudos de ensaios clínicos em Oftalmologia, a funcionar sob a alçada da SPO em articulação com os centros de referência a nível nacional». Segundo este responsável, «há uma necessidade, já identificada, de formação sobre a organização e a condução de ensaios clínicos em Oftalmologia». Por isso, «pretende-se promover a partilha de conhecimentos neste âmbito, com a colaboração de laboratórios,
institutos de investigação, Infarmed [Instituto Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde], hospitais, clínicas privadas, entre outros organismos», refere Carlos Marques Neves, que é também professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. O simpósio conta com o contributo de outros dois oftalmologistas que se dedicam à docência e à investigação – a Prof.ª Ângela Carneiro (oftalmologista no Centro Hospitalar de São João e professora na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto) e o Prof. João Figueira (oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra). «De facto, considero importante a existência
de um suporte organizacional na SPO que apoie os oftalmologistas investigadores», corrobora João Figueira. Perito de Oftalmologia na Comissão de Ética para a Investigação Clínica (CEIC), o Dr. João Branco, que é também coordenador da Secção de Retina Cirúrgica do Centro Hospitalar de Lisboa Central, vai abordar a vertente legal e ética dos ensaios clínicos. A quinta intervenção neste simpósio caberá à Dr.ª Cecília Martinho, diretora administrativa da Associação para Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem (AIBILI), um dos centros nacionais de excelência no campo da inovação científica e tecnológica, cujo presidente do Conselho de Administração é o Prof. José Cunha-Vaz. A AIBILI, que está sediada em Coimbra, é o centro de coordenação da European Network of Clinical Research in Ophthalmology (EVICR.net). «Esta rede já integra 101 centros de ensaios clínicos, de 15 países europeus, incluindo 15 centros portugueses», destaca Cecília Martinho. Segundo esta responsável, a investigação clínica «é uma atividade muito regulamentada e mais complexa se torna quando o target é multinacional, pois é preciso lidar com as legislações e especificidades de cada país». Foi exatamente para responder a estas dificuldades que surgiu a EVICR.net.
Prof. João Figueira
Estudos multinacionais com coordenação portuguesa Entre os diversos projetos multinacionais de investigação clínica coordenados pela AIBILI e a decorrer no âmbito da EVICR.net, Cecília Martinho realça o MACUSTAR. «Trata-se do primeiro grande projeto de Oftalmologia a decorrer ao abrigo da Innovative Medicines Initiative (IMI), que promove grandes projetos de investigação europeus com financiamento da União Europeia [EU] e da indústria farmacêutica.» Este projeto tem por objetivo desenvolver novos endpoints clínicos para estudos de intervenção com uma intenção regulatória e de acesso aos doentes com degenerescência macular da idade intermédia. A experiência já adquirida pela AIBILI na coordenação da rede EVICR.net «foi fundamental para a sua seleção na candidatura à coordenação do MACUSTAR. «Demonstrámos que somos capazes de desenvolver e coordenar com sucesso estudos clínicos multinacionais em outros projetos anteriores financiados pela UE», congratula-se a diretora administrativa da AIBILI.
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Pugnar pela criação de um Registo Nacional de Transplantes de Córnea
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lguns especialistas de referência na área da transplantação de tecidos oculares vão reunir-se hoje, entre as 17h00 e as 18h00, na sala 4, num painel que visa debater a criação de um Registo Nacional de Transplantação. Moderada pela Prof.ª Maria João Quadrado, responsável pela Secção de Córnea e Cirurgia Refrativa do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, esta sessão conta com a participação de: Dr. Walter Rodrigues (oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e coordenador do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia da SPO), Dr. Nuno Alves (Centro Hospitalar de Lisboa Central), Dr. Luís Torrão (Centro Hospitalar de São João, no Porto), Dr. Luís Oliveira (Centro
Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António) e Dr. Nuno Campos (Hospital Garcia de Orta, em Almada). Maria João Quadrado começa por lamentar que não exista em Portugal um Registo Nacional de Transplantes de Córnea, entendendo tratar-se de uma lacuna que urge suprir. «A medicina baseada na evidência é universalmente reconhecida como essencial para o desenvolvimento da prática clínica e das políticas de saúde. Um registo nacional de transplantes de córnea permitirá recolher, organizar e analisar a informação de todos os centros de transplantação do nosso país de uma forma integrada, o que é fundamental para melhorar a seleção, o tratamento e o seguimento dos doentes, no pré ou no pós-operatório», alega a responsável.
Reunião anual da EEBA em Portugal Entre 25 e 27 do próximo mês de janeiro, o Hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra, acolherá a XXX Reunião Anual da European Eye Bank Association (EEBA). Maria João Quadrado, que coordena a organização deste evento em Portugal, considera que será «um grande acontecimento para a Oftalmologia portuguesa».
Além da necessidade de se avançar com um Registo Nacional de Transplantes de Córnea, este painel vai discutir também a «criação de um Banco de Córneas único em Portugal», adianta Maria João Quadrado, que tem estado envolvida neste projeto, em estreita ligação com o Instituto Português do Sangue e Transplantação. «É o que faz sentido em Portugal, separar a atividade de transplantação, que cabe aos diferentes centros hospitalares, da atividade de recolha, processamento e distribuição de tecidos oculares», defende a anterior presidente da SPO.
Instantes
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Implicações éticas na investigação Os padrões éticos que devem orientar os médicos na sua atividade investigacional, no âmbito de publicações científicas e ensaios clínicos, serão alvo de análise no Workshop de Ética em Medicina, amanhã, entre as 10h00 e as 11h30, na sala 1.
Prof.ª Leonor Almeida
Prof. Fernando Martins do Vale
auxiliar convidada na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), que também coordena esta sessão. A intervenção desta especialista procurará pôr em evidência «os constrangimentos e os desvios éticos» que, por vezes, se constatam nos artigos científicos. Um dos principais desafios a este nível, explica Leonor Almeida, «é harmonizar a teoria com a prática». «Orgulhamo-nos de proceder em conformidade com a Declaração de Helsínquia, que estabelece os princípios éticos que a investigação médica com seres humanos deve seguir, mas, apesar disso, raramente pedimos autorização aos doentes para utilizar os dados clínicos dos seus processos em estudos ou outras publicações, por exemplo.» A autoria dos trabalhos científicos é outra das questões que «pode gerar alguma celeuma», frisa esta oftalmologista, chamando a atenção para o «desfasamento» que, frequentemente, se verifica «entre quem está elencado na lista de autores e quem, efetivamente, teve uma contribuição ativa para a feitura do trabalho». Para contrariar essa discrepância, tem vindo a impor-se uma «tendência inversa», exigindo-se que «cada envolvido num trabalho defina exatamente em que moldes ocorreu a sua participação, sendo essa informação depois avaliada pelos editores da revista em que se pretende publicar», destaca a coordenadora.
Ética nos ensaios clínicos com adultos e crianças
Prof.ª Maria do Céu Machado
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ando continuidade à «série de conferências e cursos dedicados às áreas da bioética e do biodireito» que, sob a coordenação da Prof.ª Leonor Almeida, têm constado do programa do Congresso Português de Oftalmologia, de alguns anos a esta parte, este workshop debruçar-se-á, primeiramente, sobre «o substrato ético» que deve orientar as publicações científicas. Sobre este tema falará a própria ex-oftalmologista do Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e professora 12 60.º Congresso português de oftalmologia
O Workshop de Ética em Medicina prosseguirá com a preleção do Prof. Fernando Martins do Vale, docente de Farmacologia na FMUL, que incidirá sobre «os fatores de enviesamento a que os ensaios clínicos podem estar sujeitos e que podem transformar uma investigação numa futilidade». Este farmacologista clínico fará uma revisão sobre «a metodologia que deve ser aplicada para eliminar esses fatores de viés». «Esses métodos levantam óbvios problemas de ordem ética, sobretudo no que concerne à distribuição de placebos ou à distribuição aleatória da medicação prevista nos ditos ensaios aleatorizados (erradamente traduzidos por “randomizados”), que constituem o padrão máximo da evidência clínica», sublinha o orador. Para encontrar
um equilíbrio entre as exigências metodológicas que pretendem melhorar a eficácia, e o respeito pelos direitos dos doentes, existem duas importantes ajudas: o consentimento informado e as comissões de ética. «No entanto», alerta Fernando Martins do Vale, «alguns destes instrumentos, como o consentimento informado, que é exigido aos participantes na generalidade dos ensaios clínicos, podem também suscitar alguns dilemas resultantes da necessidade de revelar o prognóstico que o doente tem o direito de querer ignorar, ou da diminuída capacidade do doente para tomar decisões». Neste quadro, «o papel das comissões de ética é fundamental», na opinião do orador. O mote da intervenção seguinte, a cargo da Prof.ª Maria do Céu Machado, presidente do Instituto Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) e professora catedrática de Pediatria na FMUL, será a atitude ética dos ensaios clínicos na criança. Centrando-se na perspetiva do Infarmed, esta oradora começará por abordar os condicionalismos que ajudam a compreender a escassez de ensaios clínicos conduzidos neste grupo etário. Em primeira instância, «há que ter em conta a heterogeneidade deste mesmo grupo», defende Maria do Céu Machado. E explica: «A idade pediátrica abrange indivíduos dos 0 aos 18 anos, o que envolve subgrupos muito diferentes com farmacocinéticas variadas, significando isto que os resultados dos ensaios clínicos terão de ser também forçosamente diferentes.» Por outro lado, «enquanto, nos adultos, o principal princípio ético é o da autonomia/ /consentimento informado; nas crianças, é o seu superior interesse ou beneficência». Por isso, «para entrarem num ensaio clínico, terão de ser os pais ou tutores a decidir pelas crianças, o que também levanta questões éticas». Não obstante estes e outros dilemas, a pediatra sublinha que «a percentagem de medicamentos em administração off-label na idade pediátrica é enorme», pelo que as agências regulatórias propõem agora uma série de incentivos «para estimular a realização de ensaios clínicos» neste grupo etário. «Apesar das questões éticas que têm de ser discutidas, não podemos privar as crianças da inovação», conclui a presidente do Infarmed.
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sábado, dia 9
Visão SPO
AMANHÃ
Papel dos oftalmologistas na atribuição/ /renovação de cartas de condução Esclarecer dúvidas sobre o novo enquadramento legal para a emissão de atestados médicos com a finalidade de atribuir ou renovar a carta de condução, bem como debater o contributo dos oftalmologistas na avaliação dos condutores são os propósitos do Fórum de Discussão que decorrerá amanhã, entre as 10h00 e as 11h30, na sala 3. Será possível ouvir os esclarecimentos de representantes da comunidade oftalmológica e da Direção-Geral da Saúde. Para já, fique com o resumo do que cada orador vai abordar.
Prof. João de Deus, Dr. Augusto Magalhães e Dr. Fernando Trancoso Vaz
«E
m 2014, discutia-se a criação de centros especializados para a emissão de atestados médicos no âmbito da atribuição de cartas de condução, que teriam um psicólogo, um especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF) e um oftalmologista. Essa ideia caiu e existe agora, de acordo com o Decreto-lei n.º 40/2016, um formulário online que os colegas de MGF (a quem cabe, habitualmente, a emissão destes atestados) devem preencher no contexto da avaliação física e mental do doente, podendo solicitar o parecer dos oftalmologistas no que toca à avaliação oftalmológica. O que se pede é uma avaliação extremamente completa, que é muito contestada por parte dos colegas de MGF, que se queixam da falta de tempo para a realizar (só o preenchimento do formulário online demora cerca de 45 minutos) e alegam que a sua função é assistencial e não pericial. Da parte dos oftalmologistas, há muitos que não estão informados sobre o que é exigido nesta matéria. Por isso, neste Fórum, será importante esclarecer dúvidas e informar os colegas sobre como devem proceder doravante.» Dr. Fernando Trancoso Vaz, coordenador do Grupo Português de Ergoftalmologia e oftalmologista no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora
«O
meu contributo para a discussão será no sentido de definir quem pode emitir atestados oftalmológicos no âmbito da atribuição ou da renovação de cartas de condução. Antigamente, havia a possibilidade de esses exames de diagnóstico serem realizados por técnicos com competência específica para tal. Contudo, o Decreto-lei n.º 40/2016 veio estabelecer que essa avaliação tem de ser feita por oftalmologistas. Outro aspeto a debater está relacionado com a capacidade técnica dos especialistas em MGF (que estão habilitados a emitir os atestados de aptidão física para a condução) na avaliação dos parâmetros oftalmológicos. Até porque a lei tem algumas incoerências: diz que estes médicos podem emitir os atestados, mas a verdade é que os requisitos técnicos dos consultórios estipulados na lei não são suficientes para avaliar os parâmetros da função visual que são necessários.» Dr. Augusto Magalhães,
presidente do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos e oftalmologista no Centro Hospitalar de São João
«E
m 2000, enquanto membro do Grupo de Trabalho para a Revisão dos Atestados Médicos das Cartas de Condução, em representação da Ordem dos Médicos (OM), propus a criação de centros de avaliação médica periódica dos condutores, que englobassem as especialidades consideradas imprescindíveis, proposta que foi aprovada, mas não chegou a sair do papel. No entanto, a OM tem defendido que este deverá ser o caminho. As avaliações propostas neste modelo implicam o envolvimento de diferentes especialidades que, na atual estrutura do Serviço Nacional de Saúde, se tornariam num verdadeiro calvário. Por isso, a criação de uma rede de Serviços de Avaliação da Aptidão Física, Mental e Psicológica, prevista na legislação sob coordenação médica, é uma prioridade e pretendemos que se torne realidade brevemente, permitindo libertar os médicos de família de tarefas que lhes ocupam algum tempo. Tal não invalida que qualquer médico realize esta avaliação, desde que tenha as capacidades e/ou informações clínicas necessárias. Sendo a Oftalmologia uma das especialidades mais importantes nesta avaliação, é crucial debater o seu papel neste novo quadro legislativo.» Prof.
João de Deus, membro do Conselho Nacional da Ordem dos Médicos e presidente da Associação Europeia dos Médicos Hospitalares
«O
Anexo V do Decreto-lei n.º 40/2016 define os parâmetros mínimos da avaliação física e mental dos condutores de veículos a motor ou candidatos a condutores. Quanto à avaliação oftalmológica, estão previstos parâmetros sobre a acuidade visual, o campo visual, a visão periférica, a perceção das cores, a visão crepuscular e as doenças oftalmológicas que possam pôr em risco a condução. A nova legislação prevê que os atestados sejam enviados eletronicamente, podendo ser emitidos por qualquer médico e necessitar de pareceres de diferentes especialidades, sobretudo quando a avaliação levanta dúvidas ou carece de exames específicos. Neste âmbito, a Oftalmologia é uma das especialidades que podem ser chamadas a intervir. O processo legislativo não é estanque e pode ser otimizado, apesar de ser necessário cumprir as diretivas europeias. Sendo este fórum uma oportunidade privilegiada de contacto com os oftalmologistas, gostaria de os indagar sobre como consideram que o seu contributo poderá ser mais útil no âmbito da atribuição/renovação de cartas de condução.» Dr.ª Dora Vaz, especialista em Saúde Pública e delegada de saúde em representação da Direção-Geral da Saúde
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Fórum analisa estado da arte do glaucoma Ao abrigo do Fórum de Glaucoma, que decorrerá amanhã, entre as 10h00 e as 11h30, na sala 5, oito especialistas terão a oportunidade de discorrer sobre outros tantos tópicos que marcam a atualidade do diagnóstico e do tratamento desta patologia, cuja prevalência para 2020 está estimada nos 76 milhões de pessoas em todo o mundo.
M
oderada pelo Dr. António Figueiredo, coordenador do Grupo Português de Glaucoma da SPO, e pelo Prof. José Moura Pereira, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), esta sessão será inaugurada pela intervenção da Dr.ª Maria da Luz Freitas, oftalmologista no Hospital da Luz Arrábida, em Vila Nova de Gaia, subordinada ao tema «Tradição e Modernidade». Esta especialista clarifica que, neste contexto, a noção de modernidade prende-se com a «inovação nas técnicas cirúrgicas ditas standard», com vista a «aumentar a sua eficácia e segurança». Numa altura em que se equaciona a cirurgia de glaucoma minimamente invasiva «como alternativa à trabeculectomia clássica, sem estudos que apontem para igual eficácia, será apresentada a trabeculectomia com implante de colagénio biodegradável como alternativa eficiente ao uso de antimetabolitos», explicita Maria da Luz Freitas. De igual modo, será questionado «se a cirurgia de catarata por facoemulsificação pode ser melhorada», nomeadamente em casos de «síndrome pseudoesfoliativa, câmaras anteriores baixas e endotélios corneanos debilitados». Em seguida, o Dr. Sérgio Estrela, oftalmologista no Centro Hospitalar de São
Dr.ª Maria da Luz Freitas 16 60.º Congresso português de oftalmologia
Drs. Sérgio Estrela, António Figueiredo, Manuela Carvalho, Prof. José Moura Pereira e Dr. João Cardoso
«Muito frequentemente,
a queratoplastia tem como complicações o aparecimento de glaucoma ou o agravamento de um glaucoma pré-existente» Dr.ª Manuela Carvalho
João (CHSJ), no Porto, vai falar sobre ao algoritmo de tratamento do glaucoma pediátrico, sublinhando que «difere, em alguns aspetos, do protocolo de atuação preconizado para os doentes em idade adulta». De acordo com este orador, nas crianças, «a abordagem é quase exclusivamente cirúrgica» e obedece ainda a «outras particularidades», em função do tipo de glaucoma. Como tal, a estratégia cirúrgica a eleger dependerá, não só «do tipo de glaucoma diagnosticado», como também da idade do doente. «Podemos optar por técnicas mais ou menos invasivas, consoante se trate de um bebé de 6 meses ou de uma criança de 6 anos, embora isto nem sempre seja assim tão linear», adverte Sérgio Estrela. Sob o mote «Glaucoma em doentes transplantados: como evitar a escalada terapêutica», o programa deste fórum prosseguirá com a preleção da Dr.ª Manuela Carvalho, oftalmologista no Hospital SAMS, em Lisboa. «Tem vindo a identificar-se uma
correlação entre a queratoplastia e o glaucoma», avança a oradora. E concretiza: «Muito frequentemente, a queratoplastia tem como complicações o aparecimento de glaucoma ou o agravamento de um glaucoma pré-existente.» Por outro lado, esta patologia «constitui um fator major para a falência dos enxertos de córnea nos diferentes tipos de queratoplastia». Segundo defende a especialista, trata-se de «um ciclo vicioso, pelo que é importante encontrar respostas terapêuticas, designadamente recorrendo a determinadas técnicas cirúrgicas, que permitam evitar a escalada terapêutica». Esta oftalmologista fará ainda «uma revisão dos fatores de risco para o desenvolvimento de glaucoma nos doentes submetidos a queratoplastia».
Trabeculectomia ou «tubo»? Eis a questão Ao Dr. António Benevides Melo, oftalmologista no CHSJ, caberá, por seu turno, promover o debate em torno da pergunta «Trab [trabeculectomia] ou “tubo”?». «Tradicionalmente, o implante de dispositivos de drenagem posterior [vulgarmente conhecidos por tubos] estava reservado para os doentes com glaucomas secundários ou após falência de outras cirurgias filtrantes, como a trabeculectomia», enquadra este preletor. No entanto, nos últimos anos, os «tubos» têm vindo a conquistar um lugar mais proeminente. «Tem-se assistido a uma mudança nos algoritmos cirúrgicos», sendo que «este tipo de dispositivos tem sido utilizado pelos cirurgiões de glaucoma mais
precocemente, como tratamento cirúrgico de primeira linha». Adicionalmente, este tem sido também um recurso terapêutico para casos de «doentes com glaucomas primários». Na sua palestra, este oftalmologista incidirá ainda sobre «as indicações para cada uma das técnicas». Já a Dr.ª Maria João Menéres, oftalmologista no Centro Hospitalar do Porto/ /Hospital de Santo António, discorrerá sobre a cirurgia do glaucoma em doentes com polineuropatia amiloidótica familiar (PAF). Recordando que esta patologia está associada a problemas oculares de variada índole, nomeadamente o glaucoma, esta especialista adianta que, nestes casos, «quer o tratamento médico quer o cirúrgico são desafiantes, com a solução para o controlo da pressão intraocular [PIO] a ser quase sempre cirúrgica».
«O implante de dispo-
sitivos de drenagem posterior tem sido utilizado pelos cirurgiões de glaucoma mais precocemente, como tratamento cirúrgico de primeira linha» Dr. António Benevides Melo Apesar de o transplante hepático ter revolucionado a sobrevida dos doentes com PAF, não impede, contudo, a patologia ocular, uma vez que «a amiloide continua a ser produzida pelo epitélio pigmentar da retina e do corpo ciliar», explica Maria João Menéres. Estas condicionantes ajudam a compreender que «as técnicas cirúrgicas como a trabeculectomia apresentem taxas de falência elevadas». Esta oftalmologista conclui que, «no CHP, a técnica cirúrgica
Dr.ª Paula Tenedório
de eleição nestes casos é a implantação da válvula de Ahmed», que tem alcançado «resultados promissores».
Cirurgia de catarata no tratamento do glaucoma Em seguida, o papel da cirurgia de catarata no tratamento do glaucoma será explanado pela Dr.ª Paula Tenedório, diretora do Serviço de Oftalmologia da Unidade Local de Saúde de Matosinhos/Hospital Pedro Hispano. «Há evidência científica crescente de que a cirurgia de catarata nos doentes com glaucoma reduz significativamente a PIO», atesta a oftalmologista. Esta conclusão conduziu «ao conceito da extração do cristalino como parte do tratamento do glaucoma». «Se, nos ângulos fechados, a cirurgia de catarata ganhou uma inegável aceitação, no glaucoma de ângulo aberto, primário ou pseudoesfoliativo, o papel da cirurgia de catarata tem vindo a afirmar-se na literatura recente, havendo quem proponha que o diagnóstico de glaucoma deve ser motivo para a realização de cirurgia de catarata mais precocemente», afirma Paula Tenedório. E acrescenta: «Com base nesta evidência, atrevo-me a pensar que estamos a olhar para o doente com glaucoma através de uma nova perspetiva – a redução da PIO obtida com a moderna facoemulsificação elevou este procedimento para a vanguarda do tratamento desta patologia.»
DR
Dr. António BENEVIDES Melo
Dr.ª Maria João Menéres
Dr.ª Teresa Gomes
Numa comunicação que será, essencialmente, alicerçada na apresentação e na discussão de casos clínicos, o Dr. João Cardoso, oftalmologista no CHUC, versará sobre os benefícios do laser Co2 na cirurgia do glaucoma. Esclarecendo que se trata «de uma ferramenta nova, introduzida há poucos anos», este orador lembra que é utilizada na esclerectomia profunda não penetrante. «O laser Co2 permite automatizar o passo mais delicado dessa cirurgia, até então realizado manualmente, o que não só simplifica o procedimento, como traz ganhos de segurança acrescidos», realça. Além das vantagens proporcionadas por este dispositivo, João Cardoso propõe-se também a abordar «alguns casos desafiantes», através da demonstração de exemplos intraoperatórios. «Apesar de este laser facilitar os processos, existem situações em que as dificuldades cirúrgicas podem surgir», constata.
Do presente ao futuro A última intervenção estará a cargo da Dr.ª Teresa Gomes, oftalmologista no Hospital das Forças Armadas, em Lisboa, que vai refletir sobre o presente e o futuro da cirurgia do glaucoma. Esta especialista fará uma revisão da prática atual e do que, estando ainda em investigação ou, em alguns casos, já a ser usado na prática clínica, será, ao que tudo indica, o futuro. A intervenção terminará com a exibição de vídeos cirúrgicos de diferentes técnicas. «A ideia mais importante a reter é que não haverá uma técnica única que seja boa para todos os doentes.» Segundo Teresa Gomes, o futuro passa, inequivocamente, por uma maior personalização da terapêutica cirúrgica do glaucoma. «Disporemos, provavelmente, de um conjunto de opções cirúrgicas, com diferentes perfis de eficácia/ /segurança, dependendo a decisão da escolha de fatores como o tipo e o estádio do glaucoma, a idade do doente, entre outros», avança esta oftalmologista. dezembro 2017
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Atenções centradas na liderança Ser líder é ser chefe? Todos os chefes são líderes? Todos podem ser líderes? Um líder exclui outro líder? Ser líder é um talento natural ou também se pode aprender? Como? E tem vantagem ser líder? Para quem? Estas são algumas das questões que estarão em debate amanhã, no Workshop de Liderança e Comportamento Organizacional, entre as 10h00 e as 11h30, na sala 6. O objetivo desta sessão interativa é impulsionar a formação de novos líderes em Oftalmologia, através do testemunho de oftalmologistas nacionais e de outros países lusófonos que assumem, ou já assumiram, posições de liderança. Seguir-se-á a palestra interativa de um especialista em liderança e comportamento organizacional.
esta especialista julga que «também fazem falta linhas condutoras, para que a atividade continue a ser projetada no e para o futuro», pelo que «é vital que se desenvolvam capacidades de liderança».
«Adotar critérios
de recrutamento e de promoção assentes nos princípios da competência e da isenção é a base de uma boa organização» Prof. João de Quinhones Levy À frente: Profs. Homero Gusmão de Almeida (presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia), Manuel Monteiro-Grillo (presidente da SPO e moderador), Keila Monteiro de Carvalho e Cristiano Caixeta Umbelino. Atrás: Dr. Mário Canastro, Profs. Filomena Ribeiro e Júlio Barros Andrade, Drs. Manuela Carmona e Filipe Sousa Neves
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rganizada conjuntamente pela SPO e pela SPO Jovem, esta sessão inspira-se nos cursos de liderança promovidos por organismos como a European Society of Ophthalmology, a American Academy of Ophthalmology ou a Pan-American Association of Ophthalmology. Em nome da organização, a Dr.ª Helena Prior Filipe, que é presidente do Comité para o Desenvolvimento Profissional Contínuo do International Council of Ophtalmology, lança o repto: «Neste workshop, poderá avaliar o benefício (profissional, social e pessoal) de desenvolver competências em liderança e comportamento organizacional (sociedades profissionais/estruturas de prestação de cuidados de saúde), através da seguinte agenda: 1. A liderança cria-se, é inata ou melhora-se?; 2. Chefia e liderança são sinónimos ou conceitos distintos?; 3. Características de um líder; 4. A prática da liderança; 5. Repercussões da liderança nas organizações.» Convidada a intervir neste workshop, a Prof.ª Filomena Ribeiro, diretora do Serviço de Oftalmologia do Hospital da Luz 18 60.º Congresso português de oftalmologia
Lisboa, coordenadora do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa de Portugal (CIRP) e representante da Oftalmologia portuguesa na Union Européenne des Médecins Spécialistes (UEMS), enfatiza a importância de existirem figuras de referência, «aquém e além da comunidade médica». «Uma das carências que temos na sociedade como um todo, e que é transversal à Medicina, é a falta de orientação e de estratégia», alerta. No caso particular da Oftalmologia,
Por sua vez, o Dr. Nuno Gomes dará conta da sua experiência na coordenação do Departamento de Cirurgia Vitreorretiniana do Hospital de Braga, que ajudou a fundar em 2010. «Foi-me lançado o desafio de criar uma secção que permitisse dar uma resposta mais otimizada aos cerca de um milhão de habitantes da área de abrangência do nosso hospital», recorda. No caminho desde então trilhado, este responsável deparou-se com algumas «dificuldades», sobretudo no que respeita «à formação de novos especialistas em cirurgia vitreorretiniana», dado que, no início, o Hospital de Braga contava apenas com um cirurgião afeto a esta área. Hoje em dia, este número passou para seis cirurgiões, que realizam cerca de 500 vitrectomias por ano.
Pioneiras na presidência de sociedades
Dr.ª Helena Prior Filipe
É também oradora neste workshop a Dr.ª Manuela Carmona, primeira mulher a chegar a presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), cargo que assumiu no biénio 2011/2012. A também representante de Portugal no Board da Sociedade Europeia de Oftalmologia e na UEMS defende que «um líder tem de ter ideias muito
claras do que pretende, capacidade de as transmitir e de mobilizar as pessoas que consigo trabalham para a concretização dos objetivos». Louvando «a disponibilidade e vontade de participar» demonstradas pelos oftalmologistas portugueses aquando da sua passagem pela direção da SPO, Manuela Carmona incidirá, em particular, sobre «as iniciativas levadas a cabo em cooperação e parceria com a Oftalmologia lusófona». Feito congénere atingiu a Prof.ª Keila Monteiro de Carvalho, primeira mulher eleita para a diretoria do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Para a atual secretária-geral do CBO, esta conquista resultou «de um trajeto natural». Garantindo que se preparou, «seguindo os preceitos» em que acredita, designadamente o da «liderança participativa», a também docente na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo, destaca a criação da Comissão CBO Mulher, «com o objetivo de auxiliar as oftalmologistas a enfrentarem os seus desafios de carreira».
Líderes da lusofonia Os participantes neste workshop terão ainda a oportunidade de ouvir o secretário-geral do CBO eleito para o biénio 2018-2019, Prof. Cristiano Caixeta Umbelino, falar sobre os pontos-chave de um percurso de liderança percorrido desde o internato, quando se estreou em funções de coordenação. Frisando que «as
DR
Dr. Nuno Gomes
Dr.ª Amélia Buque
principais características de um líder são a proatividade e a identificação de oportunidades», o ainda tesoureiro do CBO vai falar sobre os projetos em que se envolveu, tanto neste organismo, como na Sociedade Brasileira de Glaucoma, que visaram «a consolidação da “marca” da Oftalmologia brasileira junto da população». Já o Dr. Júlio Barros de Andrade, bastonário da Ordem dos Médicos e presidente da Sociedade de Oftalmologia de Cabo Verde, fará uma retrospetiva da trajetória que o conduziu a este cargo. «A visão estratégica e a capacidade de liderança dependem da personalidade do líder, da sua capacidade de sacrifício e persistência no aproveitamento das janelas de oportunidade e do desapego aos benefícios pessoais imediatos», sublinha. Adicionalmente, o também diretor clínico do Hospital Central da Praia/ /Hospital Dr. Agostinho Neto defende que «o
envolvimento voluntário de todos os líderes dos vários órgãos de uma organização profissional é a chave para o sucesso». Com participação neste workshop via Skype, a Dr.ª Amélia Buque, presidente do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Associação Médica de Moçambique, define como meta fundamental da sua liderança «criar condições para que Moçambique tenha mais oftalmologistas». «Felizmente, desde 2014, altura em que a direção a que presido está à frente do Colégio, já se especializaram seis novos oftalmologistas», congratula-se. A também diretora clínica do Dr. Agarwal’s Eye Hospital, em Maputo, reconhece que o desafio primordial, a este nível, passa por «uma formação equiparável à dos oftalmologistas de qualquer parte do mundo», apontando as «diligências levadas a cabo em termos acreditação formativa».
TRATAMENTO DO GLAUCOMA DE ÂNGULO ABERTO E HIPERTENSÃO OCULAR Liderar com competência e isenção
O Workshop de Liderança e Comportamento Organizacional inclui ainda a palestra interativa do Prof. João de Quinhones Levy, docente no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa e especialista nesta área, que, antevendo um pouco o que vai abordar, chama a atenção para a «diferença entre chefiar e liderar». «A liderança é inata e difícil de criar do zero, mas passível de ser melhorada», defende. Focando a sua intervenção no desafio de liderar, seja no setor Eficaz público ou nodaprivado, este orador controlo PIO Respeitodeixa pela superfície ocular o alerta: «As repercussões da liderança na organização são evidentes, embora muitas vezes descuradas por escolhas que não assentam nos princípios 1º l a t a n o p rda o s tcompetência s e m c o n s e r ve a nda tes isenção. Adotar critérios de recrutamento e de promoção assentes nesses princípios é, por isso, a base de uma boa organização.»
Ficha técnica Propriedade: Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Campo Pequeno, n.º 2, 13.º • 1000 - 078 Lisboa Tel.: (+351) 217 820 443 • Fax: (+351) 217 820 445 socportoftalmologia@gmail.com • www.spoftalmologia.pt
Colirio, solução em recipiente unidose
Latanoprost 0,05 mg/ml
EFICÁCIA E TOLERÂNCIA
Edição: Esfera das Ideias, Lda. Campo Grande, n.º 56, 8.º B • 1700 - 093 Lisboa • Tel.: (+351) 219 172 815 geral@esferadasideias.pt • www.esferadasideias.pt Direção: Madalena Barbosa (mbarbosa@esferadasideias.pt) Marketing e Publicidade: Ricardo Pereira (rpereira@esferadasideias.pt) Coordenação editorial: Luís Garcia (lgarcia@esferadasideias.pt) conservantes Textos: Ana Rita Lúcio, Luís Garcia, Rui Alexandre Coelho e Sandra Diogo Fotografias: João Ferrão, Jorge Correia Luís e Rui Santos Jorge ESTÁVEL À TEMPERATURA AMBIENTE Design/paginação: Susana Vale
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NOME DO MEDICAMENTO: Monoprost 50 microgramas/ml colírio, solução em recipiente unidose. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: 1 ml de colírio, solução contém 50 microgramas de latanoprost. Uma gota contém aproximadamente 1,5 microgramas de latanoprost. Excipiente com efeito conhecido: 1 ml de colírio, solução contém 50 mg de hidroxi-estearato de macrogolglicerol 40 (óleo de castor hidrogenado polioxilo). FORMA FARMACÊUTICA: Colírio, solução em recipiente unidose. A solução é ligeiramente amarelada e opalescente. pH: 6,5 - 7,5. Osmolalidade: 250 - 310 mosmol/kg. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Redução da pressão intraocular elevada em doentes com glaucoma de ângulo aberto e hipertensão ocular. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Dose recomendada para adultos (incluindo idosos): Recomenda-se a administração de uma gota no(s) olho(s) afetado(s) uma vez ao dia. Obtém-se um efeito ótimo se o MONOPROST for administrado à noite. A posologia de MONOPROST não deve exceder uma administração diária, uma vez que foi demonstrado que uma administração mais frequente diminui o efeito de redução da pressão intraocular. Em caso de esquecimento de uma dose, o tratamento deve
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Importância da biópsia líquida em Oftalmologia
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manhã, das 14h30 às 15h30, a sala 1 acolherá a conferência «Biopsy without tissue – liquid biopsy in Ophthalmology», na qual o Prof. Miguel Burnier, diretor-geral do Centro de Investigação da Universi-
dade McGill, no Canadá, vai dissertar sobre as mais-valias deste método. «A biópsia líquida permite diagnosticar certas patologias através do sangue e isso é particularmente importante na área da Oftalmologia, uma vez que a colheita de tecidos no interior do olho pode levar à ocorrência de complicações», esclarece o conferencista. Para além de permitir a investigação dos mesmos parâmetros no sangue sem o risco de complicações associado à colheita de tecidos, o preletor defende que a biópsia líquida apresenta ainda outra vantagem importante: «Através deste método, é possível acompanhar a evolução da patologia através de colheitas periódicas de sangue.» Acresce que este é um procedimento muito menos incómodo para o doente e financeiramente mais viável do que as biópsias tradicionais. Como explica Miguel Burnier, na biópsia líquida, o diagnóstico é obtido através da identificação e da caracterização da presença de exossomas, que são nanovesículas produzidas pelas células do corpo
humano que contêm material genético (ácido desoxirribonucleico – ADN – e ácido ribonucleico – RNA) e molecular (proteínas e lípidos) representativo das células que lhe deram origem, podendo fundir-se com outras células. «Os exossomas são membranas celulares que funcionam como um envelope, em cujo interior estão fragmentos de ADN e RNA de células (neoplásicas, de inflamação, etc.). É a partir da sua sequenciação genética que se consegue estabelecer o diagnóstico.» A biópsia líquida surgiu da descoberta de que muitos tumores sólidos libertam o seu ADN para a corrente sanguínea. Esta nova abordagem que consiste no estudo do material genético do tumor, em que se analisa o ADN tumoral em circulação, já está a ser usada atualmente na caracterização do perfil farmacogenómico dos tumores e na escolha da terapêutica com maior probabilidade de sucesso em cada caso, bem como na monitorização da resposta tumoral ao tratamento.
Formação em patologia ocular para internos e jovens oftalmologistas
U
ma formação intensiva sobre patologias oculares que afetam diferentes segmentos do olho, dirigida a internos e jovens oftalmologistas, vai decorrer amanhã, entre as 16h30 e as 18h30, na sala 1. Segundo o coordenador do Ocular Pathology Course for Residents, Prof. Miguel Burnier, que é o diretor-geral do Centro de Investigação da Universidade McGill, no Canadá, esta formação «procurará dar pistas aos jovens participantes para usarem a correlação clínico-patológica no sentido de um diagnóstico clínico mais apurado». De acordo com este oftalmologista brasileiro radicado há vários anos no Canadá, «o curso começará pelas patologias da pálpebra, seguindo-se as da conjuntiva. Depois, abordará o interior do olho, nomeadamente as lesões da retina e da coroide». O curso terá duas partes. Na primeira, serão analisados os tumores da pálpebra e da conjuntiva, seguindo-se a apresentação de casos clínicos. Na segunda parte, as doenças em foco serão o melanoma uveal 20 60.º Congresso português de oftalmologia
Moderadores do curso: Drs. David Cordeiro Sousa, Mário Ornelas, Joana Cardigos, Prof. António Castanheira-Dinis e Dr. João Feijão. Ausente na foto: Prof.ª Conceição Lobo
e o retinoblastoma. O melanoma uveal é, aliás, uma das patologias nas quais Miguel Burnier tem desenvolvido mais investigação, num percurso marcado por múltiplos prémios e distinções internacionais. O oftalmologista e investigador tem também sido formador em diversos cursos e orador em eventos científicos de vários países. Este curso que decorrerá amanhã é a réplica de uma formação ministrada por
Miguel Burnier em Nova Iorque, já há alguns anos, que o especialista resolveu oferecer ao presidente do 60.º Congresso Português e Oftalmologia e da SPO, Prof. Manuel Monteiro-Grillo, em virtude da amizade e do reconhecimento mútuo entre os dois. «Será a primeira vez que este curso é ministrado num país não norte-americano e em português, o que me honra e me deixa muito feliz», afirma Miguel Burnier.
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Endoret®-PRGF®: Novas aplicações na cirurgia ocular
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aos oftalmologistas dispor de uma nova ferramenta terapêutica em diferentes procedimentos clínicos, tais como transplantes de córnea, úlceras, queimaduras e cirurgia de glaucoma. As três formulações disponíveis podem obter-se a partir do mesmo protocolo, utilizando um único kit cirúrgico. Os novos kits para cirurgia ocular do Endoret®-PRGF® estão desenhados para facilitar aos médicos a utilização de todas as formulações possíveis dentro do mesmo procedimento de extração de sangue do doente: coágulo rico em fatores de crescimento, membrana de fibrina autóloga e tratamento com colírio para seis semanas. Endoret®-PRGF® é a única tecnologia de obtenção de plasma rico em fatores de crescimento aprovada com marcação CE para a sua comercialização na Europa. A partir do mesmo protocolo, obtêm-se as três formulações terapêuticas do Endoret®-PRGF®: coágulo rico em fatores de crescimento, membrana de fibrina autóloga e colírio para tratamento pós-cirúrgico.
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22 60.º Congresso português de oftalmologia
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