Visão SPO n.º 26

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Jornal da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) | www.spoftalmologia.pt

N.º 26 | Ano 10 Novembro 2018 Semestral € 0,01

Envelhecimento do sistema visual em evidencia Entre 5 e 8 de dezembro, em Vilamoura, o 61.º Congresso Português de Oftalmologia abre portas a um programa científico que gira em torno do tema «Envelhecimento do sistema visual», esmiuçando o que há de mais recente em termos de diagnóstico e tratamento de patologias como a presbiopia, a degenerescência macular relacionada com a idade, o glaucoma ou a retinopatia diabética (pág.11). Tendo como presidente honorária a Dr.ª Isabel Almasqué (pág.10), este congresso começa mais cedo e tem mais um dia do que os seus antecessores, para integrar, pela primeira vez, as reuniões de seis grupos de estudo da SPO (pág.12) e da BIOPSY – Burnier International Ocular Pathology Society (pág.14)

A SAÚDE EM PORTUGAL

É sobre este tema que o Dr. Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e diretor-geral da Saúde entre 2005 e 2017, vai discorrer na conferência inaugural do 61.º Congresso Português de Oftalmologia Pág.6

OFTALMOLOGIA ESCALABITANA

Reportagem no Serviço de Oftalmologia do Hospital Distrital de Santarém, que tem uma equipa coesa e polivalente, mas precisa de mais oftalmologistas, para poder somar novas valências e projetos Pág.8


Visão SPO

Editorial

SUMÁRIO EM FOCO 5 Em 2019, Portugal acolhe

os congressos da European VitreoRetinal Society e da European Neurophtalmological Society

PONTOS DE VISTA 6 Reflexões sobre o estado da Saúde

por uma das pessoas mais entendidas neste setor no nosso país – o Dr. Francisco George

OFTALMOSCOPIA 8 Reportagem no Serviço de

Oftalmologia do Hospital Distrital de Santarém

GLOBO OCULAR 10 Entrevista com a Dr.ª Isabel Almasqué, presidente honorária do 61.º Congresso Português de Oftalmologia (CPO) 11 O presidente (Prof. Manuel Monteiro-Grillo) e o secretário-geral (Dr. João Feijão) da SPO comentam os highlights deste Congresso

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12 Resumo das ações dos seis grupos de estudo * da SPO que decidiram integrar o momento alto da sua atividade anual no CPO 14 O que esperar da quinta edição do BIOPSY (Burnier International Ocular Pathology Society) Meeting 15 Balanço da XXVII Reunião de Oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central

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16 Balanço da II Reunião Retina Ibérica, organizada pelo Grupo Português de Retina e Vítreo e a Sociedad Española de Retina y Vítreo

ÂNGULO CULTURAL 18 «Abstração e Perceção», da autoria

de uma pneumologista e pintora, é o nome da mais recente exposição acolhida pela sede da SPO AcrySof IQ

A URGÊNCIA DE REVERTER O CRESCIMENTO DA DIABETES

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o passado dia 14 de novembro celebrou-se o Dia Mundial da Diabetes, doença já considerada como a primeira grande epidemia do seculo XXI. Em Portugal, a prevalência da diabetes na nossa população adulta está estimada em cerca de 13%, uma das prevalências mais altas da Europa, que se justifica, em parte, pelos novos estilos de vida e hábitos alimentares da nossa sociedade, mas também pelo progressivo envelhecimento da população portuguesa. Só um grande empenho político aliado a uma adequada mobilização social em campanhas de prevenção poderão reverter este contínuo crescimento. No que diz respeito à retinopatia diabética (RD), a principal manifestação ocular desta doença, verificaram-se, nos últimos anos, grandes avanços, nomeadamente com novos exames complementares de diagnóstico que vieram facilitar a deteção, estadiamento e monitorização da doença, bem como novas terapêuticas que melhoraram o prognóstico visual destes doentes. No entanto, apesar dos avanços, a RD continua a ser a principal causa de cegueira na nossa população ativa e deve ser assumida como um sério problema de Saúde Pública. Sabemos que a monitorização oftalmológica regular dos doentes com diabetes é crucial, mesmo que ainda não tenham sintomas oculares, tendo-se provado que o rastreio da RD com recurso a retinografias é sensível, adequado e economicamente mais vantajoso, quando comparado com as consultas convencionais de Oftalmologia em centros diferenciados. Apesar do crescente aumento de rastreios realizados pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos últimos anos, estes continuam a ser insuficientes, têm uma distribuição territorial assimétrica e utilizam metodologias distintas. Acresce que a orientação dos doentes que carecem de acompanhamento e/ou tratamento, por vezes, não tem a celeridade desejada e/ /ou não são garantidos os meios complementares de diagnóstico e as terapêuticas mais adequadas.

A Direção-Geral da Saúde (DGS), com o contributo de alguns oftalmologistas, publicou recentemente a Norma n.º 016/2018, de 13/09/2018, que pensamos ser um documento estruturante para o diagnóstico, a referenciação e o tratamento da RD no nosso país. Esta Norma assume que os rastreios nacionais da RD serão da inteira responsabilidade do SNS e descreve a metodologia a ser adotada, bem como onde e por quem devem ser realizados, mencionando ainda a possibilidade de recurso aos mais recentes avanços em termos de tecnologia de inteligência artificial, por forma a reduzir os recursos humanos no processo de classificação. De acordo com este documento, os doentes com RD são classificados, desde logo, em estádios de gravidade da doença e, quando necessário, são referenciados, com a brevidade recomendada, para centros de diagnóstico e tratamento de níveis diferenciados, de acordo com a gravidade mencionada. Esta Norma da DGS projeta para Portugal o que de mais avançado existe em termos de cuidados em RD e espero, sinceramente, que haja um real empenho do poder político para a sua rápida implementação em todas as Administrações Regionais de Saúde (ARS) do país.

João Figueira Tesoureiro da SPO

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PanOptix Toric

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kstra K, JastrzembskiT, et al. Monitor viewing distance for younger and older workers. Proceedings of the Human 9,2015.4.AverageofAmericanOSHA,CanadianOSHAandAmericanOptometricAssociationRecommendations essment of IOL Delivery Systems. Alcon internal technical report:TDOC- 0018957. Effective Date 19 May 2015.

s. Material revisto em maio de 2018.I11805827666.

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Em foco

PORTUGUESES PREMIADOS EM CONGRESSOS INTERNACIONAIS Congresso da ESCRS 2018

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esponsável pela Unidade de Glaucoma do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria (CHULN/HSM), o Prof. Luís Abegão Pinto foi distinguido com a medalha Peter Watson, atribuída pelo European Board of Ophtalmology (EBO) à melhor nota no exame de subespecialidade de Glaucoma, no âmbito do congresso deste ano da European Society of Cataract and Refractive Surgeons (ESCRS), que teve lugar em Viena, de 14 a 18 de setembro. Este prémio foi entregue ao português e, em simultâneo, a um colega inglês, o Dr. Karl Mercieca, que obteve exatamente a mesma classificação no exame de subespecialidade em glaucoma. Além de considerar «muito importante» este reconhecimento do júri do EBO (constituído por vários key opinion leaders europeus), Luís Abegão Pinto recorda que esta distinção já tinha sido atribuída a um oftalmologista português em 2017, no caso ao

Dr. Pedro Faria, do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, o que prova que «a Oftalmologia portuguesa está muito bem preparada, equiparando-se com o melhor que se faz nos outros países». Também no congresso deste ano da ESCRS, os Drs. Fernando Faria Correia e Tiago Monteiro, ambos oftalmologistas no Hospital de Braga, foram distinguidos com o grau de Specialist Diploma in Cataract and Refractive Surgery (FEBO-CR) pelo EBO. Fernando Faria Correia sublinha que se trata de um título «de excelência», pois «os candidatos têm de apresentar determinados requisitos curriculares só para serem aprovados para a realização do exame». Além disso, esta prova «é particularmente difícil», como o demonstram as taxas de aproveitamento – este ano, apenas 13 dos 38 candidatos foram aprovados. Por seu turno, Tiago Monteiro frisa que este título

O Dr. Tiago Monteiro (ao centro na fila da frente) e o Dr. Fernando Faria Correia (terceiro a contar da direita na fila de trás) acompanhados pelos oftalmologistas de outos países também distinguidos pelo seu desempenho no âmbito da cirurgia refrativa pelo European Board of Ophthalmology

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de FEBO-CR «confere uma diferenciação nesta área, tanto a nível assistencial como científico, e é sobretudo importante para a publicação de artigos e a participação em congressos, cursos e outros eventos científicos.

EVRS Meeting 2018 Dr.ª Susana Teixeira com os colegas de outros países que também receberam o «EVRS Ambassador Award»

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presença da Dr.ª Susana Teixeira no European VitreoRetinal Society (EVRS) Meeting 2018, realizado entre 30 de agosto e 2 de setembro, em Praga, foi bastante proveitosa, uma vez que esta oftalmologista de Lisboa arrecadou duas distinções. Uma delas foi o «Cesare Forlini Award», que consiste no primeiro prémio para os melhores vídeos apresentados neste congresso. A portuguesa foi reconhecida pelo vídeo «ROP surgery: late stages IV and V», que diz respeito à resolução cirúrgica de estádios graves de retinopatia da prematuridade. Este prémio honra um dos fundadores da EVRS, o Dr. Cesare Forlini, e, «além dos parâmetros técnicos, também valoriza parâmetros estéticos em termos de classificação, pois este oftalmologista italiano era conhecido por fazer vídeos que aliavam

a precisão das técnicas cirúrgicas a uma dimensão artística muito característica», explica Susana Teixeira. A outra distinção atribuída a esta oftalmologista portuguesa foi o «EVRS Ambassador Award», que «tem um caráter mais pessoal do que científico, na medida em que premeia o contributo significativo para as iniciativas desta sociedade europeia». Ao mesmo tempo, esta distinção «funciona como um estímulo para que se assuma oficialmente um papel de embaixador/embaixatriz da EVRS». Susana Teixeira afirma que tem vindo a assumir essa responsabilidade através do «envolvimento nas atividades da EVRS e sua divulgação» e da apresentação de trabalhos nas reuniões científicas promovidas por esta sociedade.

44.º Congresso da EPOS

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provar que depressa e bem há quem, a Dr.ª Filipa Teixeira, interna do terceiro ano no Serviço de Oftalmologia do CHULN/ /HSM, recebeu o Best Rapid-Fire Communication Award no 44.º Congresso da European Paediatric Ophthalmology Society (EPOS), que decorreu de 7 a 9 de setembro passado, em Budapeste. Anualmente, este congresso abre duas categorias de comunicações orais (uma curta e outra longa) para os internos e recém-especialistas com idade inferior a

35 anos. Este ano, Filipa Teixeira foi premiada pela comunicação intitulada «Evaluation of optic disc drusen in children using EDI-OCT», que se centra na avaliação de crianças com drusen do disco ótico através de novos parâmetros de análise com enhanced depth imaging da tomografia de coerência ótica (EDI-OCT). Nas palavras da autora, trata-se de um projeto de investigação que «visa dar resposta às dificuldades de diagnóstico desta patologia em doentes em idade pediátrica».

Dr.ª Filipa Teixeira a receber o prémio de Best Rapid-Fire Communication pelas mãos do Dr. Darius Hildebrand, atual presidente da EPOS

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Em foco

IMPORTÂNCIA DA INDÚSTRIA PARA A FORMAÇÃO MÉDICA Convidado a refletir sobre os desafios que se colocam à formação pós-especialização no seio da Oftalmologia portuguesa, o Prof. Joaquim Murta, diretor do Centro de Responsabilidade Integrado de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), defende que há espaço para acolher o contributo das companhias farmacêuticas e de dispositivos médicos neste âmbito, desde que esse apoio se paute pelos imperativos de rigor e transparência que devem reger as relações entre os médicos e a indústria. A este propósito, o especialista considera um bom exemplo a criação do Alcon Experience Center, um centro de treino e formação prática em saúde ocular pioneiro a nível europeu. Ana Rita Lúcio

apesar da sua elevada craveira científica e profissional, se encontram, muitas vezes, numa situação bastante difícil», exemplifica.

Transparência, mas também confiança

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embrando que o exercício da Oftalmologia, assim como acontece com toda a Medicina, de um modo geral, carece de «permanente atualização», visto a renovação do conhecimento existente ser cada vez mais rápida e constante, Joaquim Murta afirma que «a necessidade de formação pós-especialização dos oftalmologistas é contínua e crescentemente exigente». Embora reconheça que há «vasta atividade» a registar, a este nível, em Portugal, com índices de «qualidade bastante assinaláveis», o diretor do Centro de Responsabilidade Integrado de Oftalmologia do CHUC teme, ainda assim, pelo que poderá suceder no futuro neste contexto. «Receio que a qualidade da formação disponível se venha a deteriorar com o tempo, devido às limitações de financiamento», admite Joaquim Murta, reivindicando um quadro regulamentar mais consentâneo com o estabelecimento de parcerias com entidades. Na opinião deste oftalmologista, «as restrições impostas pela tutela ao apoio da indústria farmacêutica e de dispositivos médicos» a este tipo de iniciativas formativas traduzem-se em «desafios tremendos». «Tendo em conta que o Estado não subsidia a formação pós-especialização e a generalidade dos grupos privados também não o faz, na maior parte dos casos, são os médicos, individualmente, que realizam essa formação a expensas próprias, o que coloca dificuldades óbvias. Veja-se o caso dos internos de especialidade, que,

Considerando que «a indústria está, neste momento, e cada vez mais, “de pés e mãos atados”, dado que as condições em que pode patrocinar os diferentes modelos de formação pós-especialização são extremamente restritivas», este especialista exorta a que haja «maior abertura» por parte das instâncias decisoras nacionais para viabilizar o contributo destes parceiros externos. Isto desde que essa participação seja norteada pelos «deveres de rigor e transparência imprescindíveis» nesta matéria, ressalva. «É indispensável que os conflitos de interesse existentes sejam claros e que a relação entre os médicos e a indústria seja "cristalina".» Joaquim Murta reitera que «o processo tem de ser transparente, porque se não o for, está condenado», propondo que possa haver «penalizações para os casos em que

«É fundamental que haja transparência e confiança no mercado, de modo a que não se comprometa a qualidade da formação pós-especialização em Oftalmologia» os conflitos de interesse não sejam devidamente declarados». Por conseguinte, este oftalmologista considera que «não há motivos que justifiquem a desconfiança da tutela relativamente a esta situação e, em particular, ao papel que cabe à indústria neste âmbito». Como tal, sublinha, «é fundamental que haja não apenas transparência, mas também confiança no mercado», de modo a que «não se comprometa a qualidade da formação pós-especialização em Oftalmologia, assim como noutras áreas».

Alcon Experience Center: um projeto de formação pioneiro em Oftalmologia Pronunciando-se sobre um caso concreto «de formação pós-especialização de grande qualidade patrocinada pela indústria», no âmbito desta especialidade, Joaquim Murta encara o Alcon Experience Center – um centro europeu de formação em saúde e cirurgia ocular inaugurado pela Alcon, em Barcelona, no decurso do 2018 World Ophthalmology Congress, em junho – como «um projeto inovador, que poderá ter um contributo muito significativo para a atualização de conhecimentos em Oftalmologia, tanto no segmento anterior como posterior do globo ocular». Os responsáveis da Alcon adiantam que este é «o primeiro centro de treino e formação prática em saúde ocular, na Europa, a oferecer programas de formação personalizados sobre os mais recentes equipamentos médicos para a prática de Oftalmologia». Com capacidade para formar mais de 1 600 profissionais de saúde ocular por ano, as instalações do Alcon Experience Center integram, segundo esta companhia, «os mais modernos equipamentos e tecnologias para o treino prático em saúde ocular da Alcon, bem como ferramentas educacionais inovadoras, como simuladores de realidade virtual». Texto elaborado com a colaboração da Alcon.

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LISBOA RECEBE GRANDE FÓRUM EUROPEU DE RETINA EM 2019

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etina around the world» é o mote do 19.º Congresso da European VitreoRetinal Society (EVRS), que vai ser recebido no Convento do Beato, em Lisboa, entre 26 e 30 de junho de 2019, quatro anos depois de este evento ter decorrido em Portugal, na cidade do Porto. Com o lema escolhido para 2019, este que é um dos mais afamados congressos a nível mundial na área da saúde visual «convoca oftalmologistas de todos os pontos do globo» para se

reunirem na capital portuguesa, durante quatro dias que serão, certamente, «muito produtivos a nível da troca de ideias científicas», sublinha a Dr.ª Angelina Meireles, que integra a Comissão Organizadora Local, a par da Dr.ª Susana Teixeira, oftalmologista no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora, e do Dr. David Martins, oftalmologista no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora. «O espírito da EVRS e, consequentemente, do seu Congresso é muito mais de prolongada discussão entre pares e de apresentações curtas, ao contrário do que acontece nos congressos mais tradicionais, com timing definido para apresentações, muito conteúdo para ser apresentado e pouco tempo para o discutir», enquadra a responsável pela Secção de Cirurgia Vítreo-retiniana e Traumatologia Ocular do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto/Hospital de Santo António. Aliás, «historicamente, a EVRS está aberta a qualquer oftalmologista e, nas suas reuniões, qualquer um pode voluntariar-

-se para apresentar trabalhos ou fazer parte das diferentes sessões, seja como preletor ou moderador». O programa do congresso vai traduzir a evolução da EVRS, que alargou o seu raio de ação nos últimos anos, e incluirá «sessões dedicadas a temas como o uso de laser na retina, as inovações relativas a equipamentos que estão a ser introduzidos e os novos fármacos para as patologias da retina». Está também a ser ponderada a realização de uma sessão de cirurgias ao vivo, que ocupará toda a tarde do primeiro dia, 26 de junho, e «incluirá a participação de alguns hospitais nacionais e de oftalmologistas portugueses e estrangeiros», adianta Angelina Meireles. A média de assistência neste congresso de sala única ronda os 600 participantes, mas Angelina Meireles não se entusiasma com esse volume, bem pelo contrário. «Gostaríamos de superar os números médios de participação», confessa. Para atingir esse desiderato, a oftalmologista aposta no facto de Lisboa ser uma cidade «bastante apelativa» para os congressistas e também «no interesse que a qualidade da Oftalmologia portuguesa suscita».

CONGRESSO EUROPEU DE NEUROFTALMOLOGIA NO PORTO

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14.º Congresso da European Neurophtalmological Society (EUNOS) vai decorrer no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, no próximo ano, entre 16 e 19 de junho. O primeiro dia da reunião será inteiramente dedicado ao nervo ótico, albergando o IV Encontro do Grupo Europeu do Nervo Ótico (EUPON). «Neste dia, será abordado o estado da arte das patologias do nervo ótico, mas também o que está a decorrer em termos de investigação nos laboratórios europeus, no âmbito destas doenças e da neurodegeneração», adianta a Dr.ª Dália Meira, presidente do 14.º Congresso da EUNOS. Nos três dias seguintes, serão discutidos vários tópicos, como as novas modalidades em neuroimagem e tomografia de coerência ótica (OCT), os movimentos oculares, a oftalmologia pediátrica ou as doenças neurodegenerativas. Os preletores são oriundos de vários pontos do globo e «têm relevância científica nesta área», sendo que «a presença portuguesa será constante» em todas as ses-

sões, assegura Dália Meira, que exerce no Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho. A responsável destaca a intervenção do Prof. Miguel Castelo-Branco, presidente do Instituto Biomédico de Investigação da Luz e da Imagem (IBILI), em Coimbra, numa das três principais sessões do congresso, falando sobre a ressonância magnética funcional no âmbito da neuroftalmologia. As outras duas main sessions terão como oradores a Prof.ª Amelia Evoli, de Roma, que vai abordar a miastenia gravis ocular, e o Dr. Neil Miller, de Baltimore, Maryland (EUA), que vai refletir sobre o presente e o futuro da neuroftalmologia. Dália Meira realça ainda a sessão dedicada à patologia isquémica, que vai trazer novidades resultantes de ensaios clínicos sobre, por exemplo, «o tratamento da neuropatia ótica isquémica arterítica e não arterítica», bem como «a aplicação das terapêuticas genéticas e não genéticas nos doentes com neuropatias óticas hereditárias».

Entre 17 e 19 de junho, haverá ainda lugar para «sessões mais interativas e focadas em aspetos clínicos, que promovem a participação da assistência, de forma a tornar as sessões mais didáticas», frisa Dália Meira. Quanto à vertente de formação pós-graduada, será cumprida, essencialmente, com dois cursos: um de emergências em neuroftalmologia e outro de OCT nesta área. O Congresso vai encerrar com um olhar sobre a inteligência artificial na neuroftalmologia, que «marcará o futuro, não só desta área, mas também de toda a Medicina», remata a presidente do evento.

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Pontos de vista entrevista

«PARA PORTUGAL CONTINUAR A PROGREDIR, O ESTADO SOCIAL É INDISPENSÁVEL» Atual presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, cargo que assumiu em novembro de 2017, depois de 44 anos de serviço público, os 12 últimos como diretor-geral da Saúde, o Dr. Francisco George vai protagonizar a conferência inaugural do 61.º Congresso Português de Oftalmologia, intitulada «A Saúde em Portugal». Foi esse o mote para uma entrevista ao Visão SPO, durante a qual se afirmou um convicto defensor da qualidade dos cuidados do Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma grande conquista do Estado Social que considera indispensável para que Portugal continue a progredir. Luís Garcia e Rui Alexandre Coelho

O que pode avançar sobre a conferência inaugural que vai proferir no 61.º Congresso Português de Oftalmologia? Vou citar dados recentes que demonstram que os portugueses são um povo saudável. Nos últimos 20 anos, foi desenvolvido um esforço conjunto que permitiu ultrapassar atrasos crónicos, sendo que Portugal recuperou e, em alguns casos, até superou os países mais industrializados da Europa. Neste momento, em matéria de indicadores de Saúde, particularmente no domínio materno-infantil, estamos no top 3 a nível mundial. Albino Aroso, por exemplo, esteve sempre na linha da frente e, reconhecidamente, foi o melhor entre nós nesse campo. Mas há muitos outros bons indicadores de grandes avanços na área da Saúde no nosso país. Por exemplo, a taxa de mortalidade prematura, que ocorre antes dos 70 anos de idade, tem vindo a reduzir cada vez mais. 6

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Como foi possível alcançar esses indicadores tão positivos? Todos reconhecem que o grande salto foi dado em 1974, mas o trabalho dos governantes a partir dos anos de 1990 permitiu uma aproximação e uma convergência com os indicadores de Saúde que predominam na Europa, que depois foram ultrapassados a favor de Portugal. Hoje em dia, com frequência, os países europeus interrogam as autoridades portuguesas sobre o que foi feito, e de forma tão rápida, para concretizar a nossa recuperação, que é ainda mais louvável pelo facto de existirem poucas diferenças entre o Litoral e o Interior. Em termos de qualidade e nível de produção, os nossos hospitais, centros de saúde e unidades de cuidados continuados estão muito próximos uns dos outros, independentemente da sua localização. Tudo se explica com investimento e participação. Investimento

em termos dos orçamentos do Estado, que têm sido importantes para conseguir desenvolver programas em Saúde. Participação de todos, desde a população em geral até aos profissionais de saúde, nomeadamente médicos, enfermeiros e farmacêuticos, que têm uma responsabilidade particular neste processo de evolução. Apesar da assinalável evolução do setor da Saúde no nosso país, que desafios urge vencer na atualidade? Os principais desafios são os determinantes que colocam em risco a saúde das gerações futuras, nomeadamente as resistências das bactérias aos antibióticos, o impacto das alterações climáticas na saúde pública e as proporções epidémicas das doenças crónicas. Há infeções muito difíceis de tratar, exatamente porque os antibióticos foram usados de forma desordenada até há


relativamente pouco tempo. Agora, é preciso acabar com essa desordem e colocar médicos, enfermeiros e farmacêuticos atentos a este problema, limitando o recurso aos antibióticos apenas para situações em que estes fármacos são estritamente necessários. Por sua vez, o aquecimento global provoca a diminuição da camada de ozono estratosférica, expondo o ser humano ao risco de cancro da pele. Essa é uma realidade que já estamos a viver: o constante aumento da incidência do cancro da pele tem uma relação clara com a diminuição da camada de ozono devido ao uso excessivo dos gases com efeito de estufa. Outra consequência é a multiplicação de mosquitos, um problema de saúde pública, pois podem ser vetores de doenças. No âmbito das doenças crónicas, a diabetes, que pode ter graves repercussões a nível ocular, é uma das patologias que assume cada vez maiores proporções epidémicas. Como reverter esse cenário? É simples: prevenção, prevenção, prevenção… É preciso investir muito mais a esse nível. Há medidas importantes que foram tomadas pelo Ministério do Dr. Adalberto Campos Fernandes, como a penalização fiscal do excesso de açúcar na alimentação. Reduzir o consumo glicémico é uma luta que tem de ser ganha. Já conseguimos reduzir a gramagem dos pacotes de açúcar usados na restauração, mas é preciso ir mais longe, sobretudo nas sobremesas e nos refrigerantes. Uma medida importante é multiplicar os pontos de água potável nos parques escolares, a fim de reduzir a procura de refrigerantes. A dimensão preventiva deve estar à frente. Como comenta os desenvolvimentos na área da Oftalmologia? As unidades têm-se preocupado, sobretudo, com os problemas mais comuns, como a correção da acuidade visual e as doenças oculares que surgem nas pessoas de mais idade. A forma como se realizam facectomias hoje em dia é um exemplo dos ganhos em qualidade nesta área, para além das intervenções complexas e minuciosas que os oftalmologistas têm conduzido, muitas vezes com sucesso. Fora do âmbito cirúrgico, há também que registar as importantes inovações farmacológicas que têm surgido. Atualmente, a saúde visual é uma prioridade. É verdade que, em boa parte, tal relaciona-se com um grande problema de base – a diabetes –, cujas taxas de incidência e prevalência estão a aumentar, com um reflexo importante a nível oftalmológico, devido à retinopatia diabética e aos problemas associados.

Que leitura faz do estado atual do Serviço Nacional de Saúde (SNS)? Acho que está melhor do que aquilo que muitas vezes é relatado. Mas precisa de ser afinado, sobretudo nas questões ligadas ao Orçamento do Estado destinado ao SNS. Parece que, para 2019, há perspetivas de desenvolvimento e melhoria. Para Portugal continuar a progredir, o Estado Social é indispensável. Não podemos viver em contextos absolutamente liberais: temos de assegurar a proteção, sobretudo aos mais vulneráveis. Está estudado que problemas como a incapacidade física, a perturbação cognitiva e muitas doenças surgem 15 anos antes nas famílias com baixos rendimentos versus as famílias mais ricas. O Dr. Francisco George tem no seu currículo 44 anos de serviço público, 12 dos quais dedicados à Direção-Geral da Saúde (DGS). O que o motivou a seguir este caminho? O interesse pelo bem-estar coletivo e a certeza de que há sempre muito a fazer pela Saúde Pública. Não estamos a percorrer uma via-férrea, que começa e acaba. Há sempre necessidade de melhorar a proteção das pessoas, a preven-

ção das doenças ou a reinserção na sociedade daqueles que estiveram doentes. Trata-se de um trabalho que não cessa, é multidimensional e tem grande relevo social, pelo que é compensador constatar que, hoje em dia, as pessoas estão mais bem informadas sobre as questões de saúde e que o país está muito mais preparado para enfrentar os problemas, mesmo os inesperados. Por exemplo, são incomparáveis os meios que hoje temos para controlar uma epidemia de hepatite A, de sarampo ou de qualquer doença legionária, face aos meios que Ricardo Jorge teve para enfrentar o surto de peste bubónica no Porto, em 1899. Ao leme de uma entidade tutelar, a DGS, o Dr. Francisco George representa um caso pouco vulgar de alguém que trabalhou com muitos Governos… É verdade. O que posso testemunhar é que tive sempre uma grande proximidade com todos os ministros da Saúde, sem exceções. Dizer isto pode passar a imagem de que não tenho capacidade de análise e seleção, mas, efetivamente, considero que todos os ministros da Saúde com quem lidei foram escolhas acertadas, pois defenderam o SNS e o nosso património social na área da Saúde.

Da Saúde Pública para a causa humanitária Há um ano, concretamente no dia 23 de novembro de 2017, o Dr. Francisco George assumiu um novo desafio profissional, aos 70 anos de idade – presidir a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP). Quando questionado sobre a dimensão da responsabilidade que abraçou, responde com a importância histórica da CVP. «É a maior organização humanitária a nível mundial, com delegações em todos os países. No objetivo de redução do sofrimento, podemos comparar o comité internacional da Cruz Vermelha à ONU. Esta instituição nasceu em 1859, na Batalha de Solferino, que foi decisiva na Guerra da Independência Italiana, exatamente para reduzir o sofrimento dos 40 mil feridos que ficaram no terreno. Em Portugal, a Cruz Vermelha teve um papel indispensável durante a I Guerra Mundial, assegurando os hospitais de campanha nos regimentos portugueses mobilizados em 1917 e 1918. Além disso, logo depois da pandemia de gripe pneumónica, em 1918, também desempenhou um papel ímpar, sobretudo no que respeita ao transporte desses doentes, o que levou a CVP a ser condecorada como grande-oficial da Ordem Militar de Torre e Espada pelo Governo da República de então.» Falando sobre os maiores desafios da sua gestão diária, Francisco George destaca o facto de os fundos para a emergência social terem sofrido um abalo com as polémicas à volta dos apoios às vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande. «O ambiente de desconfiança entre os portugueses persiste e, naturalmente, dificulta a obtenção de donativos para a atividade humanitária.» Como se poderá recuperar a confiança nas causas sociais? «Pela transparência. Colocamos os nossos cheques e contas bancárias no website principal da CVP, para que todos possam ver e acompanhar a evolução dos nossos fundos», responde o responsável. Quando o fuso da conversa muda para o Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, as palavras de Francisco George denotam grande entusiasmo. «Está numa fase de grande remodelação. Aliás, devo dizer que tem um ótimo Serviço de Oftalmologia, sendo que aumentámos muito a produção no âmbito das facectomias, por exemplo. Além disso, acabámos de criar o Heart Center, cuja missão é não ter filas de espera. Este hospital é muito procurado, está a ser aumentado e tem uma produção de grande qualidade», remata.

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Visão SPO

Oftalmoscopia reportagem

COESÃO, VERSATILIDADE E POLIVALÊNCIA NA RESPOSTA À SOBRECARGA ASSISTENCIAL A escassez de recursos humanos é o principal entrave ao funcionamento do Serviço de Oftalmologia do Hospital Distrital de Santarém (HDS), que assim vê cerceada a sua capacidade de diferenciação. O facto de ser constituída por poucos elementos não impede, contudo, esta equipa diligente, coesa e versátil de dar o seu máximo para colmatar lacunas e responder apropriadamente ao extenso rol de solicitações em termos assistenciais e cirúrgicos. Nesta visita do Visão SPO marcada pelo peso dos números, a solução para o problema em causa reúne unanimidade: atrair mais oftalmologistas para os quadros do Serviço, para que este possa somar novas valências e projetos. Ana Rita Lúcio

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a capital ribatejana, todos o conhecem por «novo», mas a verdade é que o epíteto que apelida o HDS, por oposição ao «velho» Hospital de Jesus Cristo, cujo secular edifício alberga, hoje em dia, a Santa Casa da Misericórdia de Santarém, contrasta com as três décadas de vida desta unidade hospitalar que começou a ser planeada em meados da década de 1970, no rescaldo da Revolução dos Cravos. Inaugurado em 1985, o edifício do «hospital novo» é, todavia, pouco mais velho do que o Serviço de Oftalmologia, fundado em 1980, nas anteriores instalações, pela mão do Dr. Joaquim Duarte Gonçalves Isabelinha, figura pioneira da Oftalmologia na cidade escalabitana. O espaço que acomoda, presentemente, o Serviço de Oftalmologia do HDS foi alvo de intervenção mais recente, como começa por referir a atual diretora, Dr.ª Cristina Amorim. Na perspetiva desta oftalmologista – que ingressou neste Serviço em 1993, já como especialista, e assumiu a sua liderança em 2004 –, a mudança para o setor das Consultas Externas representou «uma melhoria enorme, a todos os níveis». «Anteriormente, o Serviço estava disperso por vários pisos – as consultas de um lado, as técnicas de ortóptica e os equipamentos para realizar os exames complementares de diagnóstico de outro. Agora, está tudo centralizado num único local, o que nos permite poupar tempo e otimizar os nossos fluxos internos», afirma. 8

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EQUIPA (da esq. para a dta.): Dr. José Castela Rodrigues (oftalmologista), Paula Fazenda (técnica de ortóptica), Maria do Céu Marques (assistente operacional), Dr.ª Nélida Borges (oftalmologista), Enf.ª Idalina Marçal, Dr.ª Cristina Amorim (diretora do Serviço) e Ana Ascensão (técnica de ortóptica). Ausente da fotografia: Dr.ª Maria João Marques (oftalmologista)

Excetuando o bloco operatório ou, mais precisamente, a Unidade de Cirurgia de Ambulatório, situada no piso 1 do hospital, as demais áreas do Serviço de Oftalmologia concentram-se no piso 0, nas instalações renovadas e inauguradas em 2010, pela então ministra da Saúde, Dr.ª Ana Jorge. Com quatro gabinetes de consulta, um dos quais atribuído à Urgência, um gabinete de ortóptica e uma sala de equipamentos onde se efetuam os exames complementares de diagnóstico, o Serviço dispõe, assim, de «condições mais adequadas para servir as necessidades dos cerca de 200 mil habitantes da sua área de influência», observa Cristina Amorim.

Equipa subdimensionada limita diferenciação Praticamente sem tempo para parar, é num vaivém entre consultas de Urgência que a diretora acolhe os repórteres do Visão SPO. Depressa se percebe, porém, que o ritmo intenso de trabalho não é exclusivo desta fria manhã de outono. Composta por quatro oftalmologistas, três dos quais com horário reduzido, a sobrecarga assistencial é uma constante para esta «equipa subdimensionada». Por outro lado, acrescenta Cristina Amorim, o Serviço de Oftalmologia do HDS

não recebe internos da especialidade, aceitando somente, e de modo pontual, «estágios curtos para internos de Medicina Geral e Familiar ou do Ano Comum». Apesar de o corpo clínico se redobrar em esforços, fazendo «muito com o pouco que tem», como diz o Dr. José Castela Rodrigues, que aqui chegou em 1985, ainda interno, a carência de recursos humanos acaba por restringir a atividade do Serviço. De acordo com a diretora, esse é o motivo que justifica, por

NÚMEROS DE 2017 4 oftalmologistas 2 técnicas de ortóptica 2 enfermeiras 1 assistente operacional 3 assistentes técnicas 6 100 consultas, das quais 40% primeiras consultas 1 900 procedimentos cirúrgicos 1 cama de internamento 99% de taxa de seguimento em ambulatório


exemplo, a quase ausência de diferenciação. «Além da consulta geral, temos uma consulta diferenciada de oftalmologia pediátrica e outra de diabetes ocular, mas nenhum de nós está afeto exclusivamente a áreas determinadas, todos temos de fazer um pouco de tudo», reitera. Embora os quatro oftalmologistas da equipa realizem primeiras consultas com doentes em idade pediátrica, a Dr.ª Nélida Borges assume a responsabilidade pela consulta de oftalmologia pediátrica, que decorre semanalmente. «No Centro Hospitalar do Médio Tejo/Unidade de Tomar, onde estive até 2010, ano em que mudei para Santarém, era responsável pela secção de oftalmologia pediátrica e estrabismo, razão pela qual dei continuidade a esta valência no HDS», explica. Dando resposta aos «casos que exigem seguimento», são encaminhadas para esta consulta, sobretudo, «crianças com erros refrativos altos, com ambliopia ou com estrabismo». Acompanhando «os jovens até aos 17 anos, idade em que, estando a patologias estabilizadas, têm alta», no âmbito desta consulta também «há que estabelecer prioridades», admite Nélida Borges. E acrescenta: «Crianças com pequenos erros refrativos têm alta, com indicação de avaliação anual, dado que, face à sobrecarga assistencial, é difícil garantir o seguimento dos casos sem risco substancial de problemas no futuro.» Não é de estranhar, por isso, que Cristina Amorim eleja o atraso na lista de espera para primeiras consultas como outro grande desafio do Serviço. «Por vezes, realizamos consultas aos sábados para tentar recuperar a lista de espera, mas é uma tarefa hercúlea para apenas quatro oftalmologistas», sublinha.

Cirurgia de ambulatório quase na íntegra Eis que, no decurso da reportagem, é dada ao Visão SPO a oportunidade de testemunhar uma cirurgia de catarata conduzida por Nélida Borges e José Castela Rodrigues. Visto prestar cuidados a uma «população maioritariamente envelhecida», como nota

Na Unidade de Cirurgia de Ambulatório, a Dr.ª Nélida Borges e o Dr. José Castela Rodrigues realizam uma cirurgia de catarata por facoemulsificação do cristalino com implante da lente no saco capsular

este oftalmologista, «é natural que a maioria das cirurgias aqui realizadas sejam às cataratas». A propósito, Cristina Amorim completa: «Asseguramos, essencialmente, a cirurgia do segmento anterior, uma vez que os recursos de que dispomos, atualmente, não nos permitem apostar em técnicas mais diferenciadas, nomeadamente do segmento posterior.» Segundo a diretora, esse facto ajuda a explicar a tão acentuada taxa de seguimento em ambulatório deste Serviço, que ronda os 99%. «Praticamente só fazemos cirurgia de ambulatório, embora tenhamos uma cama de internamento disponível para a Oftalmologia, que se destina, sobretudo, a doentes com situações urgentes transferidos de outros hospitais centrais, depois de observados nessas unidades, por pertencerem à nossa área de referência.» Para os procedimentos cirúrgicos a que não consegue dar resposta, como a cirurgia vítreo-retiniana ou as cirurgias de glaucoma e córnea mais diferenciadas, o Serviço de Oftalmologia do HDS beneficia do «grande apoio» do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, para onde esses casos são referenciados.

O contributo da ortóptica Ana Ascensão e Paula Fazenda, as duas técnicas de ortóptica do Serviço de Oftalmologia do Hospital Distrital de Santarém, são responsáveis pelos meios complementares de diagnóstico e terapêutica, competindo-lhes «realizar todos os exames, tanto pré como pós-consulta», esclarece Paula Fazenda. No gabinete de ortóptica, onde decorre a triagem, «são avaliados, sobretudo, parâmetros de acuidade visual e a biometria ocular», indica. Já a sala de equipamentos onde se realiza a maioria dos exames complementares de diagnóstico, «dispõe de tomografia de coerência ótica [OCT], angiografia fluoresceínica, exame de campos visuais e laser de Yag», enumera Paula Ascensão.

Enfatizando «o espírito de equipa e a dedicação de todos os elementos do Serviço, dos oftalmologistas às enfermeiras e técnicas de ortóptica, sem esquecer as assistentes operacionais e técnicas», Cristina Amorim faz também questão de elogiar «o empenho de todos em colmatar as lacunas criadas pela falta de profissionais». Por isso, a diretora não termina a entrevista sem deixar um apelo: «Precisamos muito de jovens especialistas com capacidade, dinamismo e ideias novas, que venham para cá e nos ajudem a progredir.» Cristina Amorim considera que a equipa deveria ter, pelo menos, mais dois oftalmologistas e elenca os fatores que tornam este Serviço atrativo. «Aqui, pode-se ganhar muita experiência e contactar com um leque alargado de patologias, o que proporciona uma formação complementar à especialidade bastante interessante. Além disso, temos espaço e daremos todo o apoio à exploração de vertentes que ainda não estão devidamente desenvolvidas no nosso Serviço, como é o caso da área de glaucoma», remata a diretora.

No gabinete onde se efetuam os exames complementares de diagnóstico, Ana Ascensão realiza um exame de OCT a um doente com retinopatia diabética

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«A OFTALMOLOGIA FOI ALVO DE UMA EVOLUÇÃO METEÓRICA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS» A Dr.ª Isabel Almasqué é a presidente honorária do 61.º Congresso Português de Oftalmologia, pelo que lhe lançámos o repto de analisar os tópicos que estarão em destaque neste evento e refletir sobre o estado atual desta especialidade no nosso país. Numa entrevista que percorre também a sua paixão pela História da Arte, nomeadamente da Azulejaria, a ex-chefe de serviço de Oftalmologia do Hospital de Santo António dos Capuchos apela aos jovens oftalmologistas para que «preservem a paixão por esta especialidade fascinante». Ana Rita Lúcio

«mágicas» antienvelhecimento são utópicas. No entanto, importa encontrar terapêuticas que nos permitam preservar as funções dos diferentes órgãos, com qualidade de vida, durante o máximo de tempo possível. Creio que é essa perspetiva que preside à tónica colocada neste tema, no âmbito do 61.º Congresso Português de Oftalmologia. Como tal, julgo que se trata de uma reflexão extremamente oportuna.

Como encarou o convite para ser a presidente honorária do 61.º Congresso Português de Oftalmologia? Confesso que fiquei surpreendida com o convite do Prof. Manuel Monteiro-Grillo, porque era algo que realmente não esperava. Mas, uma vez que foram os meus pares a escolher-me para assumir este papel, tive muita honra em aceitá-lo. Este ano, o Congresso da SPO dá particular ênfase ao envelhecimento do sistema visual. Parece-lhe uma reflexão oportuna? O envelhecimento é um tema que está na ordem do dia não apenas na Oftalmologia, mas também em toda a Medicina. Sendo um processo absolutamente inexorável, considero que algumas tentativas de buscar soluções

Outro tema em destaque no Congresso é a inflamação ocular. Que comentário lhe merece a atenção dada a este problema? Ao longo da minha carreira, tenho-me dedicado, sobretudo, à retina médica, pelo que a inflamação ocular não tem sido uma das minhas áreas de eleição. Não obstante, é um problema com o qual todos os oftalmologistas se debatem. A inflamação ocular superficial é, provavelmente, a queixa mais frequente em Oftalmologia, embora, por vezes, encontrem também situações mais graves, como as uveítes ou outras inflamações decorrentes de doenças autoimunes. Por isso, considero muito pertinente que o Congresso dê particular atenção a um tema tão premente e atual. Como analisa o estado atual da Oftalmologia no nosso país? A Oftalmologia, como toda a Medicina, foi alvo de uma evolução meteórica nas últimas

décadas. Comparativamente aos recursos, às técnicas e ao conhecimento de que dispúnhamos quando ingressei nesta especialidade, hoje em dia, estamos a «anos-luz» da realidade dessa altura. Atualmente, os internos têm qualidade e capacidades a todos os níveis – de investigação, de competência técnica, de ombrear em igualdade de circunstâncias com os seus pares internacionais, etc. –, que nós não tínhamos no passado. É verdade que se somaram conquistas importantes e se perderam outras também relevantes. Na minha época, talvez tivéssemos mais tempo para a reflexão mais detalhada sobra a nossa prática clínica, para partilha de ideias interpares e também para falar com os doentes. Atualmente a falta de tempo marca o nosso dia-a-dia e a relação médico-doente ressente-se disso. De qualquer modo, no cômputo geral, creio que a evolução da especialidade foi muito positiva. Que mensagem gostaria de deixar aos internos e recém-especialistas que estão agora a iniciar o seu percurso na Oftalmologia? Façam sempre tudo com muita paixão e guardem tempo para refletir. Não se deixem levar pelo apelo do êxito fácil e não prescindam de apostar na qualidade, em todos os momentos.

Da Oftalmologia à Azulejaria: uma história escrita com paixão Até onde a memória recua, Isabel Almasqué recorda que «sempre quis ser médica». O fascínio pela Oftalmologia – a especialidade pela qual confessa «continuar apaixonada» – emergiu «por acaso», aquando da leitura «de uns apontamentos de Oftalmologia», durante o Internato Geral, mas não mais se apagou, nem mesmo na atual fase da sua carreira, em que está a «diminuir paulatinamente a atividade». Por linhas paralelas se tem vindo a escrever a dedicação de Isabel Almasqué a outra «grande paixão»: a História da Arte, nomeadamente da Azulejaria, que acalentada a quatro mãos com o internista Dr. António Barros Veloso, seu marido, com quem já editou vários livros a respeito. Coautora, com o seu marido, da obra Hospitais Civis de Lisboa – História e Azulejos, Isabel Almasqué, que até 2009 integrou o Serviço de Oftalmologia do Hospital de Santo António dos Capuchos (HSAC), reserva ainda um «lugar especial no coração» para os antigos Hospitais Civis de Lisboa, «casa» a que remontam os momentos mais estimados do seu percurso profissional. «Não podia ter escolhido melhor local para trilhar o meu percurso profissional», remata a oftalmologista, que também é coautora do livro Para a História da Oftalmologia nos Hospitais Civis de Lisboa (1894-2014), neste caso com a Dr.ª Lucília Lopes, ex-diretora do Serviço de Oftalmologia do HSAC.

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NOVIDADES DE UM CONGRESSO CENTRADO NO ENVELHECIMENTO DO SISTEMA VISUAL Sob o lema «Envelhecimento do sistema visual», o 61.º Congresso Português de Oftalmologia, que se realiza entre os dias 5 e 8 de dezembro, no Centro de Congressos do Hotel Tivoli Marina Vilamoura, diferencia-se dos seus antecessores por uma evidente mudança estrutural. A começar mais cedo, na tarde de quarta-feira, pela primeira vez, este evento integra as reuniões de seis grupos de estudo da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) e da BIOPSY (Burnier International Ocular Pathology Society).

Prof. Manuel Monteiro-Grillo

Dr. João Feijão

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espondendo ao desafio de refletir sobre o impacto do envelhecimento na função visual, os subtemas que vão dominar as várias reuniões, mesas-redondas e conferências do 61.º Congresso Português de Oftalmologia (CPO) são o glaucoma, a degenerescência macular relacionada com a idade (DMI), o olho seco e a presbiopia (tema da Monografia da SPO no biénio 2017-2018, que vai ser apresentada no dia 6 de dezembro, das 12h00 às 13h00). Como explica o Prof. Manuel Monteiro-Grillo, presidente da SPO, «estas são as patologias mais frequentes no âmbito do aging eye». Segundo o também presidente do 61.º CPO, «a partir de determinada idade, a observação e o acompanhamento pelo oftalmologista são

fundamentais, pois, para além da deteção atempada dos problemas oculares, esta especialidade é fulcral no diagnóstico precoce de doenças de outros foros que provocam alterações ao nível da visão». A este propósito, Manuel Monteiro-Grillo enfatiza ainda: «No idoso, a Oftalmologia não se resume à prescrição de lentes corretoras para ver melhor ao perto. Esta fase da vida é também a indicada para fazermos uma avaliação mais abrangente, porque a observação oftalmológica permite dar informações sobre doenças de outros âmbitos, como a diabetes, a hipertensão arterial, alguns tumores e doenças hematológicas, infeciosas ou imunológicas.» Quanto às novidades do 61.º CPO, antes de mais, há que destacar as mudanças ao nível da estrutura, que são decorrentes da decisão da SPO de concentrar no seu Congresso anual as reuniões de alguns dos seus grupos de estudo. Nesse sentido, o programa científico é mais alargado e começa mais cedo que o habitual, na quarta-feira à tarde. Deste modo, nos dias 5 e 6 de dezembro, foi possível integrar as reuniões dos grupos de Inflamação Ocular; Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo; Neuroftalmologia, Patologia, Oncologia e Genética Ocular; Ergoftalmologia; e Órbita e Oculoplástica (ver páginas a seguir). «Esta mudança permitirá reduzir o número exagerado de reuniões a organizar durante o ano, que consiste num objetivo da Direção da SPO», explica o Dr. João Feijão, secretário-geral da SPO. Além das atividades destes seis grupos de estudo dedicados a diferentes subespecialidades da Oftalmologia, o 61.º CPO também inclui, nos mesmos dias 5 e 6 de dezembro, a Reunião da BIOPSY (Burnier International Ocular Pathology Society). «Acolher este evento internacional é uma prova da vitalidade da Oftalmologia portuguesa e uma mais-valia para o nosso Congresso», sublinha Manuel Monteiro-Grillo.

Momentos altos Entre as 10h30 e as 12h00 do dia 6 de dezembro, será apresentada a Monografia sobre Queratoplastias, que resulta de uma colaboração da SPO com a Sociedade Espanhola de Oftalmologia e configura mais uma novidade

do 61.º CPO. João Feijão considera que «um dos momentos altos» deste ano será a conferência Cunha-Vaz. Desta feita, o preletor é o Prof. Hendrik Scholl, diretor do Departamento de Oftalmologia da Universidade de Basileia, na Suíça, e responsável pela Eye Clinic do Hospital Universitário de Basileia, que vai falar sobre as terapêuticas emergentes para a degeneração hereditária da retina. Outro highlight consensual é a conferência inaugural do Congresso, intitulada «A Saúde em Portugal», que será conduzida pelo Dr. Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa e diretor-geral da Saúde entre 2005 e 2017 – ver páginas 6 e 7. «Pelas responsabilidades que tem assumido, o Dr. Francisco George conhece bem as problemáticas da Oftalmologia e é uma pessoa com grandes qualidades humanas e profissionais, pelo que achámos que seria uma boa opção ouvir o que tem para dizer sobre o estado da Saúde no nosso país», justifica Manuel Monteiro-Grillo. Em nome de toda a Direção da SPO, o presidente e o secretário-geral expressam o desejo de que os colegas «desfrutem deste Congresso que pugna pela elevada qualidade científica, mas também aproveitem ao máximo a vertente social, porque também é para isso que as reuniões magnas da especialidade servem». NOVEMBRO 2018

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O QUE ESPERAR DAS REUNIÕES DAS SUBESPECIALIDADES… À semelhança do que já tem vindo a ser adotado por várias sociedades oftalmológicas internacionais, este ano, a SPO decidiu integrar no seu Congresso anual várias reuniões dos seus grupos de estudo, que representam diferentes subespecialidades da Oftalmologia. Concentrando recursos e proporcionando debates cientificamente mais ricos e participados, são cinco os grupos cujas reuniões decorrem nos dois primeiros dias do 61.º Congresso da SPO, 5 e 6 de dezembro. Rui Alexandre Coelho

Grupo Português de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo (GPOPE) A atividade do GPOPE no 61.º Congresso Português de Oftalmologia começa pela Reunião Conjunta com a SPO Jovem, que se inicia às 14h30 do dia 5 de dezembro, na sala 2, tendo como temas em debate o estrabismo e a ambliopia, que afetam uma percentagem significativa da população pediátrica. «Desafiámos o grupo da SPO Jovem para colaborar connosco nesta sessão. A Dr.ª Rita Couceiro e o Dr. Paulo Costa são os moderadores e vão apresentar diversos casos clínicos e questões. Para a discussão convidámos um painel de oftalmologistas pediátricos nacionais e estrangeiros. Pretende-se uma abordagem dinâmica, com a participação da assistência, que contribua para a partilha de conhecimentos e o esclarecimento de situações que ocorrem na prática clínica de todos os oftalmologistas, incluindo os mais jovens», contextualiza a Dr.ª Alcina Toscano, coordenadora do GPOPE. Continuando com uma abordagem multidisciplinar, a outra iniciativa do GPOPE neste Congresso é a Reunião Conjunta com o Grupo Português de Ergoftalmologia (GPE), que decorre logo a seguir, entre as 15h45 e as 19h00, na mesma sala. Serão analisados quatro temas: «Dispositivos eletrónicos: são prejudiciais para as crianças?»; «Devem ou não as crianças utilizar óculos de sol?»; «Ponteiros laser: risco para a Saúde Pública?»; e «Deve-se usar óculos no desporto?». Para explicar a escolha destas questões, Alcina Toscano afirma: «Assistimos ao maior uso de dispositivos eletrónicos por crianças de cada vez menor idade, o que já preocupa as sociedades médicas de Oftalmologia e Pediatria. Como oftalmologistas pediátricos, devemos alertar e esclarecer pais e educadores sobre estas questões, para evitar perturbações no desenvolvimento visual da criança.» Segue-se um painel dedicado ao glaucoma pediátrico, que, além de vários convidados nacionais, conta com a participação do Dr. John Brookes, oftalmologista no Moorfields Hospital, em Londres, que vem falar sobre a cirurgia com implantes de drenagem. «Qualquer tipo de glaucoma na criança requer um diagnóstico precoce e tratamento diferenciado, geralmente cirúrgico. Dada a sua gravidade, é nosso objetivo chamar a atenção para a orientação destas crianças, pelo que vamos abordar a genética, a clínica e o tratamento», frisa a coordenadora do GPOPE. Por último, falar-se-á sobre o que a tomografia de coerência ótica (OCT) tem trazido de novo à oftalmologia pediátrica, através da análise de três tópicos – OCT do nervo ótico na criança; angio-OCT e sua aplicação em idade pediátrica, nomeadamente no estudo da ambliopia; e OCT do segmento anterior e sua utilização em doentes com estrabismo.

Grupo Português de Neuroftalmologia (GPN) No dia 5 de dezembro, entre as 14h30 e as 18h30, na sala 3, a Reunião do GPN é dinamizada em redor de quatro temas principais: a arterite de células gigantes (ACG), a hipertensão intracraniana (HIC) na criança, a tomografia de coerência ótica (OCT) na prática clínica e a neuropatia ótica hereditária de Leber (LHON, na sigla em inglês). Em relação aos dois primeiros temas, a coordenadora do GPN, Dr.ª Fátima Campos, sublinha as intervenções partilhadas por uma oftalmologista (Dr.ª Dália Meira), uma reumatologista (Dr.ª Cristina Ponte) que apresentará uma atualização sobre os métodos de diagnóstico e as novas perspetivas terapêuticas na ACG, e de um neuropediatra (Dr. Tiago Proença Santos) que irá abordar a HIC na criança e o papel da ultrassonografia Doppler na monitorização não invasiva da pressão intracraniana. «Muito objetivo e útil em neuroftalmologia», as vantagens do OCT vão ser expostas a seguir por um grupo de convidados nacionais, com enfoque na sua utilização para diagnóstico de hamartomas da retina na esclerose tuberosa, membranas epirretinianas «flame-shape» na NF2, esclerose múltipla e drusen do disco ótico. A reunião encerra com a abordagem da LHON, uma doença com múltiplos desafios no diagnóstico, em que os últimos estudos apontam para uma «nova era» de intervenção terapêutica. Nesta sessão, a Prof.ª Valérie Touitou irá proferir uma lecture sobre «Treatment and emerging therapeutic modalities in LHON – an update» e a Dr.ª Ana Fonseca irá transmitir-nos a sua experiência no follow-up de doentes com LHON nos últimos cinco anos.

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Grupo Português de Ergoftalmologia (GPE) A atividade deste Grupo no 61.º CPO contempla dois momentos distintos. No dia 5 de dezembro, entre 15h45 e as e as 16h30, na sala 2, no âmbito da Reunião Conjunta do GPE com o GPOPE, vão ser abordados quatro temas demonstrativos da importância da ergoftalmologia na atualidade. As primeiras questões em debate são «até que ponto as crianças devem usar os dispositivos eletrónicos, por quanto tempo e quais as repercussões na função visual», afirma o Dr. Fernando Trancoso Vaz, coordenador do GPE e oftalmologista no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora, que organizou os temas da ergoftalmologia nesta sessão em parceria com a Dr.ª Mafalda Mota, oftalmologista no mesmo hospital. Segue-se a análise sobre as vantagens e desvantagens do uso de óculos de sol em idades precoces; sobre os riscos para a Saúde Pública dos ponteiros laser e sobre o tipo de óculos a usar na prática desportiva. «Na consulta oftalmológica com a criança os pais esclarecem dúvidas sobre comportamento nocivos/de risco para a saúde visual, num século em que o contacto com o mundo digital é cada vez mais precoce. Por isso, esta sessão tem por objetivo esclarecer algumas dúvidas e mitos, para que o oftalmologista, quando confrontado com estas questões, saiba responder do mais informado possível», explica Mafalda Mota. No dia seguinte, entre as 10h30 e as 12h00, na sala 3, decorre uma reunião específica do GPE, com oito preleções que abordam os seguintes temas: presbiopia e óculos; presbiopia e escritório; marcadores de inflamação em lágrimas de doentes expostos a ecrãs de computador no seu dia-dia-dia laboral; exigências oftalmológicas para os candidatos a militares; usar ou não cirurgia LASIK nos militares; prós e contas das lentes intraoculares multifocais; ergoftalmologia no bloco operatório; e vantagens da cirurgia 3D. «Sendo o tema central deste Congresso o envelhecimento do sistema visual, o GPE achou pertinente abordar a presbiopia, dando enfoque às soluções refrativas e cirúrgicas existentes, bem como às especificidades dos militares. Também analisaremos as novas tecnologias imagiológicas que estão a ser introduzidas no bloco operatório e suas vantagens e desvantagens», resume Fernando Trancoso Vaz. Ainda no âmbito das atividades do GPE neste Congresso, no dia 8 de dezembro, das 10h00 às 11h30, na sala 1, decorrerá o Curso de Subvisão — tópico que vai ao encontro dos desafios oftalmológicos suscitados pelo envelhecimento, que configura o tema geral do 61.º CPO. «Cada vez as pessoas vivem mais tempo, portanto, vão ter as suas patologias oftalmológicas também durante mais tempo. Em alguns casos, infelizmente, as patologias não têm solução, como acontece com a degenerescência macular da idade, pelo que precisamos de ter soluções para que estes doentes potenciem a pouca visão que têm», contextualiza Fernando Trancoso Vaz.

Grupo Português de Inflamação Ocular (GPIO) A Reunião do GPIO vai decorrer no dia 6 de dezembro, entre as 14h00 e as 18h00, na sala 3. A primeira parte, dedicada ao tema «Uveítes baseadas na experiência», tem como objetivo «atualizar e rever conhecimentos através da discussão de casos clínicos que foram selecionados devido às dificuldades que suscitaram, pela sua raridade ou pelo seu interesse didático», assinala a coordenadora do GPIO, Dr.ª Vanda Nogueira. Estes casos são de situações como a retinite infeciosa, a nevrite ótica atípica, o edema do disco ótico inflamatório, a dificuldade no diagnóstico ou na exclusão da tuberculose ocular, ou a coriorretinopatia de Birdshot. Segue-se a conferência da convidada internacional, a Prof.ª Elisabetta Miserocchi, de Milão, que vai falar sobre «as várias apresentações clínicas possíveis do linfoma intraocular, as alterações mais comuns nos exames complementares, os passos do difícil diagnóstico definitivo desta neoplasia e as opções terapêuticas locais e sistémicas», avança Vanda Nogueira. Depois, serão apresentadas as particularidades «Vamos analisar os resultados de e as direções futuras do «grande projeto do GPIO no 2017/2018», como o designa Vanda Nogueira: estudos sobre a terapêutica intra- biénio a plataforma uveite.pt, que visa o registo dos casos de vítrea, a seleção do primeiro imu- patologia do foro da inflamação ocular e que se encontra em nossupressor, o ponto de situação fase de teste. Já a segunda parte desta reunião, alusiva ao tema «Uveítes baseadas na evidência», tem como principal objetivo a atualização dos oftalmologistas sobre os dos fármacos biológicos e o papel dados científicos mais recentes que suportam as opções terapêuticas. «Vamos anadas pequenas moléculas aprova- lisar os resultados de estudos sobre a terapêutica intravítrea e respetivos esquemas de administração, a seleção do primeiro imunossupressor, o ponto de situação dos das recentemente para o tratafármacos biológicos e o papel das pequenas moléculas aprovadas recentemente para mento das uveítes não infeciosas» o tratamento das uveítes não infeciosas», sintetiza Vanda Nogueira.

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BIOPSY MEETING FORTALECE IMAGEM INTERNACIONAL DA SPO

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conceituada Burnier International Ocular Pathology Society (BIOPSY) vai associar-se ao 61.º Congresso Português de Oftalmologia, com a realização concomitante da quinta edição da sua reunião bienal. O BIOPSY Meeting 2018 contempla seis mesas-redondas distribuídas pelos dias 5 e 6 de dezembro, com preleções que vão versar sobre diferentes doenças oculares, destacando-se as várias neoplasias que afetam o sistema visual e o que há de mais recente para lhes fazer frente. Depois de Montreal, em 2010; Valladolid, em 2012; Santa Catarina, em 2014; e novamente Montreal, em 2016; Vilamoura vai receber a quinta edição do BIOPSY Meeting, cuja organização conta também com os contributos do Grupo Português de Patologia, Oncologia e Genética Ocular (GPPOGO) e do

Grupo Português de Órbita e Oculoplástica (GPOO) – ver caixa –, que colaboraram na definição das sessões dedicadas ao melanoma da úvea (5 de dezembro, das 14h00 às 15h30) e aos tumores da órbita (6 de dezembro, das 9h15 às 12h30). Além destas sessões, o programa da reunião inclui a abordagem de temas como a relação entre as doenças da retina e as uveítes, os achados oculares na síndrome congénita zika, a miopatia mitocondrial, a opacidade bilateral da córnea de origem desconhecida, os tumores da conjuntiva, o perfil imunoistoquímico das córneas queratocónicas, o melanoma da conjuntiva, o retinoblastoma, os tumores melanocíticos agressivos ou as lesões da íris, entre outros. Segundo o Prof. Miguel Burnier, presidente da BIOPSY e diretor do Henry C. Witelson Ocular Pathology Laboratory do McGill University Health Centre, em Montreal, Canadá, o programa científico desta quinta edição «é muito equilibrado e abrange questões de grande impacto na clínica diária, bem como as novidades tecnológicas e as inovações no tratamento médico e cirúrgico». Ainda no âmbito do BIOPSY Meeting, no dia 7 de dezembro, entre as 12h00 e as 13h00, realiza-se o «BIOPSY Symposium in SPO», que terá três preleções: uma sobre o tratamento cirúrgico de melanomas da íris e do corpo ciliar; outra sobre o papel da World Medical Association enquanto representante dos médicos a uma escala global; e a terceira acerca das infeções intraoculares emergentes e de causa desconhecida.

Realçando os laços de amizade que tem com muitos oftalmologistas portugueses, este brasileiro radicado na Canadá é perentório: «Estamos muito orgulhosos com a oportunidade de realizar o nosso encontro em Portugal. Quero deixar claro que tudo isto só foi possível pela grande amizade e interação com o Prof. Monteiro-Grillo, que, na minha opinião, tem contribuído muito para a dimensão internacional da SPO.» Por falar em alcance internacional, é de registar que esta quinta edição do BIOPSY Meeting vai receber congressistas oriundos de nove países, muitos deles também oradores, e um número assinalável de casos clínicos que serão apresentados sob a forma de comunicações orais (38) e e-posters (22). Confirmar números, por favor. Fundada em 2008 para comemorar o 10.º aniversário do laboratório dirigido por Miguel Burnier, a BIOPSY tem organizado reuniões que se distinguem não só pelo número de participantes e de países representados, mas também pelo «nível espetacular das comunicações» e por uma aposta invulgar em Oftalmologia: «todos os casos clínicos apresentados têm, obrigatoriamente, uma biópsia ou uma correlação patológica para confirmar o diagnóstico», destaca o responsável. Este ano, realce ainda para o Prémio SPO/Miguel Burnier de Oftalmologia, que se dirige aos internos da especialidade e visa reconhecer a melhor apresentação das áreas da inflamação e da oncologia. A recompensa para o vencedor é a realização de um estágio no reputado Henry C. Witelson Ocular Pathology Laboratory, em Montreal, que é dirigido por Miguel Burnier.

A coorganização do GPPOGO e do GPOO As atividades do Grupo Português de Patologia, Oncologia e Genética Ocular (GPPOGO), coordenado pela Dr.ª Ana Magriço (à esq.), e do Grupo Português de Órbita e Oculoplástica (GPOO), coordenado pela Dr.ª Mara Ferreira (à dta.), foram incluídas na Reunião da Biopsy (Burnier International Ocular Pathology Society), que, por sua vez, está este ano integrada no 61.º Congresso Português de Oftalmologia. No dia 5 de dezembro, entre as 14h00 e as 15h30, na sala 1, decorre uma mesa-redonda que vai discutir o presente e o futuro do melanoma da úvea. Serão comentados tópicos como a gestão do melanoma da coroide; os estudos genéticos, as opções terapêuticas e o follow-up de doentes com melanoma metastizado; o papel da biópsia líquida em tumores avançados; ou o tratamento local do melanoma da úvea. Ana Magriço recorda que, em 2017, este grupo debateu o tumor da pele e toda a reconstrução periocular, pelo que, «este ano, a aposta recaiu sobre os tumores intraoculares e alguns tumores da órbita e da superfície ocular que não foram abordados na última reunião». Em relação à fusão das atividades do GPPOGO no Biopsy Meeting, a responsável considera que «este esquema é mais proveitoso do que o habitual, pois os temas são do interesse dos mesmos oftalmologistas e o resultado será um programa muito enriquecedor, com mais tempo, a presença de mais convidados internacionais e a garantia de uma sala cheia». Segundo Ana Magriço, «este formato é também mais apelativo para os jovens, já que nem todos têm contacto com estas áreas no internato». O GPPOGO e o GPOO também colaboraram na organização das duas sessões deste Biopsy Meeting dedicadas aos tumores da órbita (6 de dezembro, das 9h15 às 12h30, na sala 4). Neste caso, serão esmiuçados tópicos como: tumores da superfície ocular; paralisia facial; inflamação idiopática da órbita; evisceração, enucleação e exenteração – quando e como?; cirurgia aos tumores intraoculares; massas bilaterais da órbita; evolução inesperada dos tumores da órbita após tratamento. Segundo Mara Ferreira, por regra, os especialistas em órbita e oculoplástica «não realizam uma enucleação ou uma exenteração sem haver uma indicação neoplásica, o que exemplifica bem a sobreposição de temas entre a Biopsy, o GPOO e o GPPOGO e como fazia sentido organizar estas sessões em conjunto».

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Visão SPO

Globo ocular reuniões/formação

INOVAÇÃO E MOTIVAÇÃO EM FOCO NA REUNIÃO DE OFTALMOLOGIA DO CHULC O advento de novas abordagens terapêuticas esteve em evidência na XXVII Reunião de Oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), marcada também pelo tradicional Curso EUPO e pelas 1.ªs Jornadas de Investigação Translacional. Organizado pelo Serviço de Oftalmologia do CHULC, o evento realizado a 19 e 20 de outubro debruçou-se ainda sobre um tema pouco habitual neste tipo de iniciativas: a importância da motivação e da retenção de talentos nas instituições públicas de saúde. Ana Rita Lúcio

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e acordo com o Prof. João Paulo Cunha, diretor do Serviço de Oftalmologia do CHULC, o balanço da mais recente edição da reunião promovida pela equipa por si liderada «dificilmente poderia ser mais positivo». Afinal, «em número de inscritos e participantes (que rondou os 220), este terá sido o terceiro encontro oftalmológico com maior assistência, no nosso país, em 2018, a seguir ao Congresso Português de Oftalmologia e à Reunião dos Grupos Portugueses de Cirurgia Implanto-Refrativa, Superfície Ocular, Córnea e Contactologia», justificou. No leque de temas em análise, deu-se, desde logo, ênfase à inovação, nomeadamente ao advento de «abordagens terapêuticas que abrem novos horizontes de resposta a um conjunto de patologias oftalmológicas», indica João Paulo Cunha, dando como exemplo a terapia génica sub-retiniana «para combater certas doenças hereditárias da retina». O enfoque recaiu, mais concretamente, sobre «tratamentos que poderão mudar o prognóstico de alguns portadores dos alelos dessas doenças».

ALGUNS ORGANIZADORES, ORADORES E MODERADORES: Na fila da frente – Dr.ª Rita Proença, Prof.ª Joana Ferreira, Dr.ª Cristina Brito, Prof. João Paulo Cunha e Dr.ª Rita Flores. Na fila do meio – Prof.ª Ângela Carneiro, Dr. Francisco Loureiro, Dr. Vítor Maduro, Dr.ª Ana Magriço e Dr. Nuno Alves. Na fila de trás – Dr. João Lisboa, Prof. Luís Abegão Pinto, Dr.ª Marta Macedo, Dr:ª Margarida Marques, Dr.ª Ana Duarte e Dr. Arnaldo Santos

Paralelamente, o debate incidiu sobre «novas moléculas e dispositivos em desenvolvimento nas áreas da degenerescência macular, do glaucoma e da cirurgia do segmento anterior». Esta reunião acolheu também as intervenções do Prof. Nadim Habib, docente na Nova School of Business & Economics/Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (UNL), a propósito de inovação, e do Prof. José Fonseca Pires, docente na AESE Business School, que versou sobre a importância de motivar e reter talentos nas instituições públicas de saúde. A apresentação e a discussão de casos clínicos e de vídeos cirúrgicos também fizeram parte do programa científico.

Curso EUPO e Jornadas de Investigação Como «se tornou tradição nos últimos anos», a XXVII Reunião de Oftalmologia do CHULC foi antecedida pelo Curso EUPO (European University Professors of Ophthalmology), desta vez dedicado à relação entre a retina e determinadas doenças sistémicas. «A retina é, frequentemente, alvo de uma série de doenças sistémicas, sobretudo dos foros vascular, metabólico, inflamatório ou neurológico. Este curso revisitou as implicações retinianas de outras patologias pediátricas, infeciosas, reumatológicas e oncológicas», resume a Dr.ª Rita Flores, oftalmologista no CHULC e uma das coordenadoras do curso. Esta iniciativa formativa chamou a atenção para «a necessidade de saber reconhecer os sinais de envolvimento retiniano destas patologias, de forma a tratá-las adequadamente». Até porque, «não raras vezes, cabe ao of-

talmologista diagnosticar a doença de base, quando a retina é o primeiro órgão afetado». «Em muitos casos, são as manifestações oftalmológicas e, designadamente, retinianas que abrem o caminho para o diagnóstico de patologias de outros foros», reitera Rita Flores. O programa desta edição contemplou ainda a estreia de um novo formato: as 1.as Jornadas de Investigação Translacional, coorganizadas pelo Serviço de Oftalmologia do CHULC e pelo Centro de Estudos de Doenças Crónicas (CEDOC) da Nova Medical School/Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da UNL. Este «espaço privilegiado para promover e refletir sobre a atividade científica» nasceu, de acordo com uma suas das coordenadoras, a Prof.ª Joana Ferreira, oftalmologista no CHULC e docente na Nova Medical School/FCM da UNL, «com o intuito de interligar a experiência de vários centros nacionais de investigação clínica e básica nesta área». Neste momento de intercâmbio, procurou-se, por outro lado, «explorar pontos em comum entre os trabalhos apresentados pelas diferentes instituições, com vista a fomentar a criação de projetos multicêntricos e multidisciplinares que, desse modo, resultem em conclusões ainda mais robustas», sublinha Joana Ferreira. Além do CHULC e do CEDOC, participaram nestas jornadas o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto. Doenças da retina, diabetes ocular e doenças neurodegenerativas foram alguns dos tópicos em análise. NOVEMBRO 2018

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Globo ocular reuniões/formação

MEMBROS DAS COMISSÕES ORGANIZADORA E CIENTÍFICA, ORADORES E MODERADORES*

UPDATE IBÉRICO EM RETINA E VÍTREO A II Reunião Retina Ibérica, realizada em conjunto pelo Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV) da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) e pela Sociedad Española de Retina y Vítreo (SERV) nos dias 9 e 10 de novembro, trouxe ao Porto os maiores especialistas ibéricos nesta área. As várias sessões e conferências abordaram os avanços registados nos últimos anos no campo da imagiologia da retina, bem como no tratamento médico e cirúrgico das várias patologias abordadas por esta subespecialidade. Isabel Pereira

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epois da primeira edição realizada em Madrid, há dois anos, a Reunião Retina Ibérica, cuja periodicidade é bienal, teve a cidade do Porto como anfitriã da sua segunda edição, à qual acorreram cerca de 260 oftalmologistas dos dois países. Em destaque estiveram as últimas tendências e os avanços em retina e vítreo, «sobretudo em termos de diagnóstico por imagem e tratamento com novas tecnologias e novos medicamentos», assinala o Prof. José María Ruiz-Moreno, presidente da SERV, em entrevista ao Visão SPO. No centro do programa da II Reunião Retina Ibérica estiveram os temas em foco no planeamento bianual (2017-2018) da SPO. «No primeiro ano, a traumatologia e a inflamação ocular; no segundo ano, a degenerescência macular da idade [DMI] e a retinopatia diabética», explica o Prof. Carlos Marques Neves, coordenador do GPRV. Sobre a organização deste evento, o responsável destaca a importância de «reforçar a colaboração entre os diferentes players portugueses e espanhóis que atuam na área de retina e vítreo, algo que deve ser um exemplo para as outras subespecialidades da Oftalmologia».

O primeiro dia da reunião, 9 de novembro, que arrancou ao início da tarde, foi dedicado a uma sessão educativa sobre o papel da tomografia de coerência ótica (OCT, no acrónimo em inglês) e da angiografia por OCT (angio-OTC) na avaliação e no tratamento da DMI. Este curso foi ministrado por um conjunto alargado de especialistas e abordou tópicos como: DMI precoce e intermédia; atrofia geográfica; DMI neovascular; imagem integrada e multimodal; avaliação do complexo neovascular e da coroide com angio-OCT; avanços em DMI na prática clínica; tratamento e follow-up com OCT e angio-OCT; regimes terapêuticos conforme o subtipo de DMI. De acordo com um dos formadores deste curso, o Prof. Luis Arias Barquet, «a angioOCT está a mudar a forma como se diagnosticam e monitorizam os doentes com DMI». O diretor do Departamento de Retina do Hospital Universitari de Bellvitge, em Barcelona, abordou o papel deste exame na avaliação do complexo neovascular, destacando que este apresenta vantagens em relação à OCT estrutural, «porque permite ver de forma direta a origem da doença», e em relação à angio-

grafia convencional, «porque não requer a injeção de contraste, pelo que é um exame não invasivo e que se pode repetir a cada consulta de seguimento».

Avanços na imagiologia da retina O segundo dia da reunião arrancou com duas conferências: «Big-data e bases de dados na retina», proferida pelo Prof. Rufino Silva, coordenador da Secção de Retina Médica e Neuroftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, e «Novas tendências em imagem para doenças da retina», proferida pelo Prof. José María Ruiz-Moreno. Na primeira parte da sua intervenção, Rufino Silva salientou o potencial das bases de dados. «Por um lado, permitem ao oftalmologista perceber como está a tratar todos os seus doentes, quer seja cada um individualmente quer seja por grupos, e alterar procedimentos clínicos e de organização que melhorem os seus resultados. Ao mesmo tempo, permitem comparar os seus resultados com os de outros grupos nacionais e internacionais e publicá-los em revistas com peer review. Por outro lado, as bases de dados constituem uma ajuda

*MEMBROS DAS COMISSÕES ORGANIZADORA E CIENTÍFICA, ORADORES E MODERADORES (da esq. para a dta.): À frente – Dr. Joaquim Canelas, Prof. Carlos Marques Neves, Prof.ª Sandra Barrão, Prof. Luis Arias Barquet, Dr. José García-Arumí, Dr.ª Rita Flores, Dr. Alfredo Adán Civera, Prof. Francisco Gómez-Ulla e Prof. Rufino Silva. Atrás – Prof.ª Ângela Carneiro, Dr. Henrique Cervera Taulet, Dr. Alfredo García Layana, Prof. José María Ruiz-Moreno, Prof. Antonio Piñero Bustamante, Dr.ª Pilar Calvo, Dr. Jeroni Nadal, Dr. Javier Araiz Iribarren, Prof. José Carlos Pastor-Jimeno e Dr. Manuel Falcão

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preciosa para as instâncias políticas poderem tomar decisões melhor fundamentadas e capazes de gerar mais eficiência em saúde», defendeu este conferencista. Num segundo momento, o orador expôs de que forma a inteligência artificial associada à imagiologia está a mudar a prática clínica. «Os instrumentos de decisão baseados em inteligência artificial dão-nos a capacidade de aceder a milhares de informações em simultâneo com base numa imagem do fundo ocular. Se usarmos a inteligência artificial, por exemplo no rastreio da retinopatia diabética, evitamos a consulta em 75% das pessoas (as que não têm doença), ou seja, poupamos recursos que podem ser realocados para tratar os doentes», afirmou Rufino Silva. Na sua conferência, José Maria Ruiz-Moreno enfatizou que «o oftalmologista deve utilizar toda a tecnologia ao seu dispor para conhecer melhor as patologias que afetam os seus doentes». Nesse sentido, apresentou o conceito de «imagem multimodal», que se refere à utilização de diferentes técnicas de imagem para avaliar uma doença, «dotando o profissional de mais conhecimentos, o que é determinante para um melhor tratamento dos doentes». Dentro do mesmo âmbito, a II Reunião Retina Ibérica incluiu também a «Mesa de Imagem», na qual foram analisados os seguintes tópicos: «Inovação em imagem na cirurgia vítreo-retiniana», «OCT intraoperatória», «Swept-Source OCT», «Análise multimodal integrada na retinopatia diabética» e «Como estudar imagiologicamente a atrofia geográfica». Enquanto moderador desta sessão, o Prof. Antonio Piñero Bustamante, oftalmologista e docente na Universidade de Sevilha, reforçou que, «em Oftalmologia, a grande revolução dos últimos 15 anos reside no campo da imagem». Por isso, o objetivo principal deste painel foi comentar os avanços nesta área, «demonstrando como a imagem multimodal torna possível o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz».

INTERVENIENTES NA SESSÃO DE BOAS-VINDAS DO SEGUNDO DIA DA REUNIÃO (da esq. para a dta.): Prof. José María Ruiz-Moreno (presidente da SERV), Dr. Augusto Magalhães (presidente do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos) e Prof. Manuel Monteiro-Grillo, presidente da SPO

Highlights da terapêutica médica e cirúrgica O programa científico abrangeu ainda a «Mesa de Retina Médica», na qual se realçou a importância dos dados de longo prazo em algumas doenças da retina. «Trata-se de dados da prática clínica com doentes reais e não apenas com doentes selecionados, como acontece nos ensaios clínicos», frisa a Prof.ª Ângela Carneiro, oftalmologista no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, que foi oradora nesta sessão. Debruçando-se sobre os dados de longo prazo na DMI neovascular, esta especialista especificou a forma exsudativa e o tratamento anti-VEGF (vascular endothelial growth factor). Neste âmbito, defendeu que «é fundamental reorganizar procedimentos para rentabilizar ao máximo as moléculas e otimizar os tratamentos». Também na perspetiva dos dados de longo prazo, o Dr. Enrique Cervera Taulet, chefe do Serviço de Oftalmologia do Hospital General Universitari de Valencia, abordou o edema macular diabético, e a Dr.ª Rita Flores, oftalmologista no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, as oclusões venosas. Nesta mesma sessão, o Dr. Javier Araiz Iribarren,

diretor científico do Instituto Clínico Quirúrgico de Oftalmología de Bilbao, fez uma apresentação sobre os novos tratamentos intravítreos, e o Dr. Alfredo Adán Civera, diretor do Instituto de Oftalmologia do Hospital Clínic de Barcelona, sobre os novos tratamentos das uveítes. Já na «Mesa de Retina Cirúrgica» estiveram em análise a toxicidade do silicone intraocular e do líquido perfluorocarbono (PFCL), o tratamento do buraco macular miópico, a traumatologia do segmento posterior, a nova classificação tomográfica das membranas epirretinianas e quando as operar, a retinopatia diabética e as controvérsias no tratamento do descolamento da retina. Este último tema foi comentado por Luis Arias Barquet, que apresentou dois vídeos cirúrgicos e uma análise de casos clínicos, comparando os resultados dos doentes operados com peeling da membrana limitante interna, versus os resultados de um grupo de controlo operado com outro procedimento. «Há uma diferença estatisticamente favorável para realização do peeling, sem repercussão negativa na função visual. Este procedimento pode ser preventivo do desenvolvimento de membrana epirretiniana após cirurgia do descolamento da retina», reiterou este orador.

Próximos destinos: Barcelona e Lisboa De periodicidade bienal e organização alternada entre Portugal e Espanha, a Reunião Retina Ibérica já tem definidas as cidades anfitriãs das próximas duas edições – Barcelona em 2020 e Lisboa em 2022. Esta iniciativa nasceu em 2016, fruto de uma cooperação de longa data entre o Grupo Português de Retina e Vítreo da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia e a Sociedad Espñola de Retina y Vítreo, que, com esta organização, pretendem expandir o conhecimento e fomentar a investigação em torno das patologias vítreo-retinianas, através de um trabalho conjunto dos especialistas ibéricos.

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Visão SPO

Ângulo cultural

PINTURA COM ABSTRAÇÃO E PERCEÇÃO Em mais uma iniciativa cultural que se propôs a encarar sob um novo prisma a relação entre a Arte e a Medicina, a sede da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) acolheu a exposição de pintura «Abstração e Perceção», da autoria da Dr.ª Eduarda Oliveira, pneumologista que, atualmente, explora uma nova carreira nas Artes Plásticas. O Visão SPO acompanhou a inauguração desta mostra, no passado dia 29 de setembro, da qual sobressai «uma visão abstrata do real» pela mão da artista que confessa «pintar de olhos fechados». Ana Rita Lúcio

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a inauguração da exposição de pintura de Eduarda Oliveira, a coordenadora da Secção Cultural da SPO, Prof.ª Leonor Almeida, começou por afirmar que, «não raras vezes, a Oftalmologia tem o condão de ver para lá da aparência das coisas, pelo que é sempre uma honra abrir as portas da SPO a mais um médico artista». Neste caso, trata-se de uma pneumologista com «um percurso singular, no qual as matizes da Arte e da Medicina se fundem indissocialvelmente». Tendo colocado um ponto final na sua atividade clínica, Eduarda Oliveira, que exerceu no Hospital de Pulido Valente, em Lisboa, soma já 25 exposições de pintura no seu currículo. Atualmente, a atividade artística, pela qual «sempre nutriu curiosidade», ocupa o primeiro plano na atividade desta médica. Uma incursão «consubstanciada pela formação artística complementar», nomeadamente o «curso de pós-graduação em Arte Contemporânea e Curadoria da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que frequenta atualmente», revelou Leonor Almeida.

Expedito Ribeiro D’Almeida (artista plástico que apresentou a obra no dia da inauguração), Leonor Almeida (coordenadora da Secção Cultural da SPO) e Eduarda Oliveira (pneumologista, pintora e autora da exposição «Abstração e Perceção»)

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Depois de destacar os traços mais marcantes da obra de Eduarda Oliveira, o artista plástico Expedito Ribeiro D’Almeida, que foi convidado a apresentar esta exposição na sede da SPO, chamou a atenção para a presença indelével da abstração nas criações desta artista. Rejeitando «a muleta da representação e do estritamente figurativo», Eduarda Oliveira assume-se, de algum modo, como «uma militante antifigurativa». Como tal, a sua pintura «está intimamente relacionada com o sentir e não com a representação do real». Além desse «compromisso de continuidade com abstração», no qual perpassam «influências do Expressionismo Abstrato» – corrente que consagrou referências artísticas como Jackson Pollock ou Franz Kline –, Expedito Ribeiro D’Almeida enalteceu a prolífica «imaginação cromática» que domina as telas concebidas por esta artista. «Há pintores para quem a conjugação das cores é extremamente importante e esse é, sem dúvida, o caso da Eduarda», frisou. Este artista plástico realçou ainda «a técnica» perfilhada por Eduarda Oliveira, que dota os «seus quadros de uma textura e de uma certa tridimensionalidade, quase convocando o público a experienciar a obra não apenas com o olhar, mas também com as mãos». «A Eduarda pinta paisagens mentais e universos interiores, transportando para a tela o que vê dentro de si. No fundo, é como se evocasse a célebre frase de Antoine de Saint-Exupéry, que nos diz que “o essencial é invisível aos olhos”», rematou Expedito Ribeiro D’Almeida. Parca em palavras, e preferindo deixar a arte falar por si, Eduarda Oliveira confirmou esta nuance «intrínseca» à sua produção artística. «Pinto rigorosamente de olhos fechados – não o que vejo, mas o que sinto», concluiu a pneumologista.


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