Visão SPO n.º 23

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Jornal da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) | www.spoftalmologia.pt

N.º 23 | Ano 8 Julho 2016 Quadrimestral € 0,01

Rastreios à saúde visual dos portugueses são prioridade Resultantes dos protocolos assinados entre a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO), o Ministério da Saúde e a Ordem dos Médicos no passado mês de maio, já arrancaram no Norte do País as experiências-piloto do Rastreio de Saúde Visual Infantil e do Rastreio Oportunístico da Degenerescência Macular da Idade. Realizados ao nível dos cuidados de saúde primários, estes rastreios têm por objetivos a deteção dos casos de risco e a sua referenciação atempada para a Oftalmologia, com o fim último de prevenir a ambliopia e até a cegueira Pág.5

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OUT. 2016 HOTEL PORTO PALÁCIO

REUNIÃO DOS GRUPOS PORTUGUESES RETINA E VÍTREO ÓRBITA E OCULOPLÁSTICA OFTALMOLOGIA PEDIÁTRICA

ENTREVISTA

O Prof. Miguel Seabra fala sobre a sua dedicação de cerca de 20 anos à investigação da terapia génica aplicada às doenças da retina. Mas, agora, é na terapia celular que se concentra Pág.6

reportagem

Diferenciação, aposta na tecnologia e humanismo são os principais pilares do Serviço de Oftalmologia da Unidade Local de Saúde de Matosinhos/ /Hospital Pedro Hispano Pág.8

ANTEVISÃO

As novidades ao nível do diagnóstico, como a angio-OTC, o estado da arte do tratamento e um curso com treino em cadáver são alguns dos destaques desta reunião conjunta Pág.10


Visão SPO

Editorial

SUMÁRIO EM FOCO 4 Curso para Diretores de Programa

de Internato do Conselho Internacional de Oftalmologia pela primeira vez em Portugal

PONTOS DE VISTA 6 Entrevista ao Prof. Miguel Seabra,

investigador no Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa

OFTALMOSCOPIA 8 Reportagem no Serviço de

Oftalmologia da Unidade Local de Saúde de Matosinhos/Hospital Pedro Hispano

GLOBO OCULAR 10 Antecipação da Reunião Conjunta dos Grupos Portugueses de Retina e Vítreo, Órbita e Oculoplástica e Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo 12 Balanço da 1.ª Reunião Ibérica de Retina e Vítreo

13 «Urgências em Oftalmologia» foi o tema da Reunião Anual de Internos de Oftalmologia 2016 15 Destaques das XXVI Jornadas Internacionais de Oftalmologia de Coimbra 16 Cobertura da Reunião Conjunta do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa de Portugal com o Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia ÂNGULO CULTURAL 18 Sede da SPO acolheu uma peça de teatro baseada num texto de Woody Allen e uma tertúlia sobre o novo livro do pediatra Mário Cordeiro (Príncipes da Medicina)

SPO – a casa de todos nós

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a fase final do mandato da atual direção da SPO, à qual muito me orgulho de pertencer, aproveito esta oportunidade para partilhar convosco algumas reflexões. Tem sido um mandato de alguma inquietude, com uma enorme vontade de melhoria e inovação. Este esforço constante teve como principais vetores o aumento da visibilidade junto da população em geral, o reforço do prestígio internacional da SPO e o incremento da produção e divulgação científica entre nós. A aposta na visibilidade da SPO junto da sociedade civil teve o duplo objetivo de, por um lado, divulgar as principais doenças oftalmológicas ameaçadoras da visão e, por outro, realçar o papel primordial dos oftalmologistas no seu diagnóstico atempado e tratamento adequado. Assim, contribuímos para marcar a diferença entre o papel dos médicos e de outros profissionais não médicos que se arrogam tratar a «saúde da visão». Para este objetivo, destacam-se a realização da primeira Semana da Visão e o reforço da presença na Internet, através do renovado portal da SPO e da sua página no Facebook. Houve um grande esforço no sentido de reforçar o prestígio internacional da SPO e bons exemplos disso foram as reuniões conjuntas com outras sociedades, como o V Congresso da SIBAG (Sociedade Ibero-Americana de Glaucoma), em 2015, e a 1.ª Reunião Ibérica de Retina, este ano; os webinars realizados em língua portuguesa e em colaboração com o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) e a PAAO (Pan-American Association of Ophthalmology); a acreditação pela UEMS (Union Européenne des Médecins Spécialistes) de reuniões e cursos patrocinados pela SPO; e a realização de simpósios em congressos internacionais. Neste campo, realço ainda o notável trabalho que tem sido desenvolvido pelo editor da revista científica da SPO, com vista à sua indexação. Finalmente, para incrementar a produção e a divulgação científicas, foi revisto o

regulamento para atribuição de bolsas de doutoramento e seu valor pecuniário foi atualizado. A atribuição, em todas as reuniões científicas da SPO, de um prémio para o melhor caso clínico, com vista a promover as apresentações dos internos, e o desenvolvimento da plataforma web dedicada à superfície ocular foram outras inovações deste mandato dignas de realce. Assistimos, nos últimos anos, a um aumento da pluralidade no seio da SPO, o que veio, na minha opinião, beneficiar muito a Sociedade, ao incentivar as direções eleitas a realizarem mais e melhor trabalho. A SPO deve ser considerada como a casa de todos os oftalmologistas. Só assim poderá desempenhar cabalmente todas as suas funções, desde logo, a de contribuir para a atualização científica dos seus sócios, atraindo-os para todas as suas atividades. Desenvolver e fortalecer uma SPO prestigiada e reconhecida, nacional e internacionalmente, inovadora e empreendedora, beneficiando do contributo do maior número possível de sócios, são desígnios certos para o futuro. Assim desejo e acredito.

Saudações cordiais e excelentes férias!

António Limão

Vice-presidente da SPO

Ficha técnica Propriedade: Sociedade Portuguesa de Oftalmologia Campo Pequeno, 2-13.º, 1000 - 078 Lisboa Tel.: (+351) 217 820 443 • Fax: (+351) 217 820 445 socportoftalmologia@gmail.com www.spoftalmologia.pt

Patrocinador desta edição:

Edição: Esfera das Ideias, Lda. Campo Grande, n.º 56, 8.º B • 1700 ‑ 093 Lisbo • Tel.: (+351) 219 172 815 • Fax: (+351) 218 155 107 geral@esferadasideias.pt • www.esferadasideias.pt • EsferaDasIdeiasLda Direção: Madalena Barbosa (mbarbosa@esferadasideias.pt) Marketing e Publicidade: Ricardo Pereira (rpereira@esferadasideias.pt) Coordenação: Luís Garcia (lgarcia@esferadasideias.pt) Redação: Ana Luísa Pereira, João Xará, Luís Garcia, Marisa Teixeira e Sandra Diogo Fotografia: Rui Jorge • Design/paginação: Susana Vale Colaborações: Cláudia Sobral Azevedo e Egídio Santos Publicação isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar n.º8/99, de 6 de junho, artigo 12.º, 1.ª alínea Depósito Legal n.º 338827/12


Visão SPO

Em foco

Dois anos de webinars da PAAO em língua portuguesa

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s webinars da Pan-American Association of Ophthalmology (PAAO), apoiados pelo International Council of Ophthalmology (ICO) e promovidos pela Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) e pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) completaram dois anos no passado mês de junho. São seminários de Oftalmologia em língua portuguesa, que decorrem online, com base num software que fomenta a interatividade entre o palestrante e os participantes e vice-versa. No início, esta iniciativa da PAAO circunscrevia-se às línguas inglesa e espanhola. O primeiro webinar em português surgiu a 28 de julho de 2014, com a participação especial do CBO, e foi apresentado pela Prof.ª Liana Ventura, presidente da Fundação Pan-Americana de Oftalmologia, com o tema «Distúrbios de aprendizagem e dislexia: abordagem interdisciplinar». A 29 de setembro do mesmo ano, realizou-se o primeiro seminário proposto pela SPO, que foi apresentado pelo Prof. António Marinho, oftalmologista e docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), com a lição «Desafios na cirurgia da presbiopia». Já a 7 de junho deste ano, a Prof.ª Fátima Pedrosa Domellöf, presidente da Sociedade Sueca de Oftalmologia, expôs a lição «Investigação fundamental em Oftalmologia; como responder aos revisores». Dirigidos a internos e especialistas, os seminários abordam temas da Oftalmologia de interesse científico e clínico, ficam gravados no portal da PAAO (www.paao.org),

sendo possível a participação síncrona ou diferida. «Um dos principais objetivos deste projeto é promover a língua portuguesa como meio de comunicação científica, estabelecendo pontes de conhecimento em Oftalmologia a nível global», frisa a Dr.ª Helena Prior Filipe, coordenadora executiva dos webinars SPO/CBO/PAAO-ICO. Entre os seminários já realizados este ano, encontram-se «O papel da vitrectomia precoce na terapêutica da endoftalmite» (apresentado pelo Prof. Amândio Rocha-Sousa, oftalmologista no Centro Hospitalar de São João) e «Laser de Femtosegundo» (apresentado pelo Prof. Gustavo Victor, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia). A 26 de setembro, vai decorrer o webinar «Cataract surgery in challenging cases» (Prof. Ryan Costa, da Goa Ophthalmology Association). Este será em inglês, o único do programa

da SPO e do CBO, e «é um reflexo da expansão contínua desta iniciativa». Contando com a «importante colaboração» do Prof. Mário Seixas, docente na FMUP, Helena Prior Filipe sublinha que este projeto tem sido incentivado pelas sociedades envolvidas através dos seus líderes e agradece a todos os palestrantes que «têm partilhado o seu saber». A edição destes eventos educacionais implica um trabalho prévio que inclui «uma vasta equipa motivada para o seu sucesso». Perspetiva-se a continuidade do programa com algumas inovações. A coordenadora frisa a importância da atribuição de um certificado de participação mediante a realização de uma prova de avaliação pré e pós-evento, «de forma a incrementar o seu valor em educação médica contínua e no desenvolvimento profissional dos participantes». O envolvimento da SPO Jovem será essencial para dar «um novo impulso ao projeto».

SPO investe na investigação em Oftalmologia

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59.º Congresso Português de Oftalmologia (CPO), a decorrer entre 8 e 10 de dezembro próximo, no Convento de São Francisco, em Coimbra, será o palco para a atribuição dos prémios e bolsas de doutoramento que a SPO subsidia. «Considerando que, com os cortes orçamentais, as verbas disponibilizadas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia são cada vez menores, a SPO pretende desta forma incentivar a investigação em Oftalmologia», enfatiza a Prof.ª Ângela Carneiro, oftalmologista no Centro Hospitalar de São João, no Porto, e membro da Comissão Central da SPO. Para as bolsas de doutoramento, a SPO disponibiliza 10 mil euros anuais, podendo candidatar-se todos os oftalmologistas ou internos que estejam integrados em programas doutorais e que tenham já o seu projeto aprovado pela Universidade e pelas Comis-

sões de Ética dos hospitais onde o irão realizar. «Cerca de 50% do montante é disponibilizado no início da candidatura e entregue no jantar de encerramento do Congresso. O restante valor é entregue depois de comprovado o desenvolvimento do projeto, com a publicação de um artigo numa revista indexada e com fator de impacto», esclarece Ângela Carneiro. Este ano, o prazo para a entrega de candidaturas termina no dia 31 de outubro. Quanto aos prémios atribuídos em parceria com a indústria farmacêutica e outras entidades afiliadas à SPO, abrangerão comunicações livres, pósteres digitais, vídeos e fotografias e variarão entre os 1 500 e os 2 000 euros. Os trabalhos candidatos a apresentação no 59.º CPO devem ser entregues através do endereço www.wetransfer.com para o e-mail spo2016@veranatura.pt, até ao dia 15 de outubro. jul h o 2 0 1 6

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Em foco

Concurso internacional de pintura para oftalmologistas

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iradas» é um concurso internacional e bienal que premeia pinturas inspiradas pela temática da visão e é promovido pela Fundación Jorge Alió, sediada em Alicante, que se dedicada à prevenção da cegueira. A iniciativa arrancou em Espanha, estendeu-se à América Latina e, este ano, na sua 5.ª edição, alargou o âmbito a todos os países. Das 14 obras portuguesas que concorreram (entre um total de 400 a nível mundial), foram selecionadas três: Olhar Profundo (a), pintura em acrílico do Dr. António Ramalho; With these eyes I see you 1 (b), técnica mista sobre a tela da Dr.ª Olga Berens; e Mulheres do Islão sob o

Olhar dos Anjos da Morte (c), pintura a óleo sobre tela do Dr. Fernando Chiotii. Depois do encerramento das votações, a 18 de setembro, o júri internacional, presidido pelo Prof. Jorge Alió e constituído

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classificações elevadas dos Portugueses no exame do EBO

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egundo a Prof.ª Ângela Carneiro, que integrou o júri do exame do European Board of Ophthalmology (EBO) em 2015, «os portugueses têm participado ativamente neste exame, quer como elementos do júri quer como candidatos à obtenção deste diploma europeu, e têm conseguido níveis de classificação elevadíssimos». «Aliás, já tivemos a melhor nota entre todos os europeus – um sintoma claro da excelente qualidade da formação teórico-prática no nosso País», afirma a oftalmologista no Centro Hospitalar de São João. Em Portugal, este exame não é fundamental para ter emprego num hospital público ou privado, mas «é muito importante para quem quer seguir uma carreira internacional». Na Alemanha, por exemplo, o título de fellow do EBO tem um peso significativo. Fundado em 1995, este exame avalia os conhecimentos e a prática clínica dos oftalmologistas e «tem adquirido uma importância crescente na Europa», como afiança Ângela Carneiro. Realizado anualmente em maio, por ocasião do Congresso da Société Française d’Ophtalmologie, no Palais des Congrès de Paris, o exame do EBO divide-se em duas componentes: uma prova teórica de escolhas múltiplas, com um grau de dificuldade «relativamente elevado», e uma prova oral em que cada candidato é questionado sequencialmente por oito membros do júri de áreas diferenciadas da Oftalmologia. «Existem múltiplos júris, com elementos dos diversos países participantes e uma grelha de classificação que permite avaliar centenas de candidatos em pouco tempo», explica Ângela Carneiro.

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por oftalmologistas de Itália, Grécia, China, EUA, América Latina e Portugal (Prof. José Salgado Borges e Dr.ª Helena Prior Filipe), vai anunciar o vencedor, que receberá um prémio monetário de 4 000 dólares (cerca de 3 590 euros) e verá a sua obra na primeira página do Journal of Refractive Surgery. O prémio será entregue no Congresso da American Academy of Ophthalmology (15 a 18 de outubro de 2016, em Chicago). Direcionado a oftalmologistas de todo o mundo, o «Miradas» incentiva à interpretação artística dos problemas oculares e «é uma mais-valia para juntar a Oftalmologia e a Arte, sendo que as obras enviadas pelos oftalmologistas portugueses têm uma qualidade assinalável», afirmam José Salgado Borges e Helena Prior Filipe, membros do júri e organizadores do concurso em Portugal.

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Formação para quem forma

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riado em 2004 e já organizado em vários países, o Curso para Diretores de Internato e Orientadores de Formação Específica em Oftalmologia do International Council of Ophthalmology (ICO) vai realizar-se, pela primeira vez em Portugal, nos dias 11 e 12 de novembro próximo, na sede da SPO, em Lisboa. Todos os oftalmologistas envolvidos ou que venham a estar envolvidos na Educação Médica podem inscrever-se, enviando a sua identificação para socportoftalmologia@gmail.com. Segundo a Dr.ª Helena Prior Filipe, que lidera a Comissão para o Desenvolvimento Profissional Contínuo do ICO, trata-se de «uma formação que visa refletir e expandir, de forma interativa, estratégias educacionais que promovam o sucesso do processo ensino-aprendizagem durante o Internato de Oftalmologia». Em Portugal, o curso é promovido pela SPO, com o apoio do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos, sendo desenhado com base nas propostas temáticas selecionadas pelos participantes a partir de um tronco comum de temas como: o papel do mentor durante o Internato; como ensinar usando a internet; como avaliar melhor, de forma sumativa e formativa, durante o Internato; como ser o melhor orientador de formação específica. Esta formação é dirigida por: Prof. Karl Golnik (neuroftalmologista no Cincinnati Eye Institute e diretor da Comissão para Coordenação de Educação do ICO); Dr.ª Gabriela Palis, oftalmologista, diretora de Educação Médica no Hospital Italiano de Buenos Aires (HIBA) e presidente da Comissão para a Educação de Educadores em Oftalmologia do ICO; e Dr. Eduardo Mayorga, oftalmologista e diretor de e-learning no Departamento de Educação do HIBA, no ICO e na Associação Pan-Americana de Oftalmologia.


Ministério da Saúde, Ordem dos Médicos e SPO criam novos rastreios de saúde visual No dia 6 de maio passado, no Centro de Saúde de Rio Tinto, representantes do Ministério da Saúde, da Ordem dos Médicos e da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) assinaram protocolos de colaboração no âmbito do Rastreio de Saúde Visual Infantil e do Rastreio Oportunístico da Degenerescência Macular da Idade, que foram apresentados publicamente na mesma cerimónia. As experiências-piloto estão já a decorrer no Norte do País, ao nível dos cuidados de saúde primários, e espera-se que possam ser estendidas a outras regiões. Cláudia Sobral Azevedo

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o âmbito do Rastreio de Saúde Visual Infantil, todas as crianças com 2 anos inscritas em quatro Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) do Norte – Porto Ocidental, Porto Oriental, Gondomar e Maia/Valongo – já estão incluídas e prevê-se que, ainda neste ano, sejam rastreadas mais de 5 mil. O objetivo é detetar e tratar precocemente os problemas de visão que podem provocar ambliopia, através de uma referenciação atempada. «É impossível receber todas as crianças nas consultas de Oftalmologia, pelo que este rastreio realizado nos cuidados de saúde primários permite detetar aquelas que estão em risco e que nos devem ser referenciadas», afirmou, no decorrer da cerimónia, a Dr.ª Rosário Varandas, membro do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos. Segundo esta oftalmologista pediátrica, o rastreio é feito por enfermeiros e apenas os casos positivos são encaminhados, no prazo de quatro semanas, para uma consulta de Oftalmologia no Centro Hospitalar de São João ou no Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António. Está prevista a realização de um segundo rastreio a estas crianças, quando tiverem entre 4 e 5 anos, o que permitirá compreender de que forma evoluem os erros refrativos. «Este foi um passo fundamental em termos de saúde visual no nosso País», sublinhou o Prof. Fernando Araújo, se-

Prof.ª Maria João Quadrado (presidente da SPO), Dr.ª Rosário Varandas (membro do Colégio de Oftalmologia da Ordem dos Médicos – OM), Prof. José Manuel Silva (bastonário da OM) e Dr. Francisco Goiana da Silva (técnico especialista do Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde)

cretário de Estado Adjunto e da Saúde, que aproveitou a oportunidade para referir a aposta da Tutela nos cuidados de saúde primários (CSP), com a criação de 17 novos edifícios, a contratação de cerca de 200 recém-especialistas em Medicina Geral e Familiar e uma maior articulação com os hospitais. «Prometemos que a saúde visual iria ser uma prioridade e este projeto já está em andamento, sendo que foi implementado em tempo recorde», congratulou-se Fernando Araújo, reconhecendo que tal não seria possível sem a colaboração da SPO e da Ordem dos Médicos.

Detetar as formas tardias de DMI Por sua vez, o Rastreio Oportunístico da Degenerescência Macular da Idade (DMI) visa a deteção desta patologia na sua forma tardia, abrangendo todos os indivíduos avaliados no rastreio da retinopatia diabética ao nível dos CSP. Esta despistagem deverá atingir, entre junho de 2016 e junho de 2017, um universo de cerca de 42 mil doentes com idade igual ou superior a 55 anos. A referenciação dos casos positivos para centros com capacidade diagnóstica e terapêutica deverá ser assegurada no prazo de quatro semanas. «Nos chamados países desenvolvidos, a DMI é uma das principais causas de cegueira a partir dos 55 anos e afeta a zona central do campo visual, o que limita bastante ativi-

Sabia que…

…em Portugal, estima-se que existam cerca de 300 mil casos de formas precoces de DMI e cerca de 84 mil casos de formas tardias, sendo 42 mil neovasculares? dades quotidianas como a leitura e a condução, e faz com que o indivíduo perca a sua autonomia», frisou a Prof.ª Maria João Quadrado. Para esta oftalmologista, presidente da SPO, «os rastreios são uma maisvalia, pois a prevenção é sempre a melhor opção em Saúde e permitirão reunir dados epidemiológicos e conhecer melhor a realidade portuguesa para desenvolver atitudes preventivas, bem como fundamentar a ampliação dos rastreios a outros locais». Também o Prof. José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos, saudou a criação destes rastreios, considerando que os problemas de visão têm «um impacto tremendo nas pessoas». Para este responsável, «além de prevenir, trata-se de evitar a evolução grave de situações relativamente comuns, fáceis de diagnosticar e com um tratamento efetivo». Declarando-se disponível para colaborar com a Tutela e a SPO, o bastonário desejou que estes dois rastreios «possam ser estendidos a todo o País a curto prazo». jul h o 2 0 1 6

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Visão SPO

Pontos de vista entrevista

«Um dia, vamos poder conduzir as células

existentes para reconstituir uma nova retina» Há 20 anos que se dedica à investigação da terapia génica enquanto tratamento (ou até cura) de doenças da retina como a coroideremia, mas é na terapia celular que agora se concentra. Em entrevista, o Prof. Miguel Seabra, investigador no Centro de Estudos de Doenças Crónicas (CEDOC) da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, fala sobre a investigação que visa a regeneração da retina afetada por doenças como a degenerescência macular da idade ou a retinopatia diabética através de células estaminais. Além disso, avança os passos que estão a ser dados no sentido da criação de uma rede nacional de investigação na área da retina. João Xará

Em que projetos tem participado no CEDOC? Em termos de ensino, tenho estado completamente dedicado a um novo currículo no curso de Medicina e à introdução de uma cadeira sobre mecanismos moleculares da doença para alunos do 5.º ano. Em termos de investigação, estou também a iniciar uma nova fase da minha carreira, na qual a retina se apresenta como foco principal. Passámos a década de 2000 a trabalhar em vários aspetos das doenças genéticas raras. Queremos agora usar esse conhecimento para perceber os meandros da patogénese da degenerescência macular ligada à idade e explorar as células estaminais em que se baseiam as terapias regenerativas. A terapia génica tem suscitado muito interesse? Sim, porque, apesar de se encontrar numa fase de investigação clínica experimental, pensa-se que, nos próximos dois a três 6

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anos, surjam as primeiras terapias génicas de uso generalizado. Da mesma maneira que o médico prescreve um fármaco e encaminha para a farmácia, vamos poder utilizar diariamente a terapia génica. E o mais entusiasmante é que estas terapias existem para condições que levam irremediavelmente à cegueira, como é o caso da coroideremia. Hoje em dia, o médico não pode fazer mais do que comunicar ao doente que a progressiva degenerescência da retina levará à perda total da visão. Será então possível paralisar a progressão da degenerescência da retina? Confirmando-se o uso generalizado da terapia génica, a coroideremia poderá ser uma das primeiras doenças a ser tratada de forma curativa. Não foi um caminho simples. Esta doença não é fácil de caracterizar em termos de mecanismos moleculares, mas fomos avançando e criámos uma estirpe de ratinhos nos quais reproduzimos a doença.

Identificámos e isolámos o gene mutado e injetámos no olho um vírus modificado, do qual retirámos todos os «genes maus», passíveis de causar doenças, e introduzimos o «gene bom», o gene da coroideremia. Esta foi uma plataforma essencial para começar a fazer ensaios de terapêutica. Nessa altura, em 2001, eu estava no Imperial College, em Londres, e, quando tivemos um corpo suficiente de investigação, fiz uma colaboração com o Dr. Robert MacLaren, de Oxford. Eu, como cientista, contribuí com a parte molecular, celular, os modelos animais e a própria terapia génica; ele, como oftalmologista, dominava os aspetos da área clínica, dos doentes e a cirurgia. Gerámos, em conjunto, um ensaio clínico de grande sucesso. Os resultados desse ensaio, publicados na The Lancet, em 2014, superaram as expectativas? Sim. O que nos ajudou foi o sucesso (ou seja a melhoria de visão) após a terapia


génica e aí tivemos um bocadinho de sorte, porque não só obtivemos os resultados expectados, mas também inesperados. O resultado esperado foi conseguirmos verificar que o olho não injetado continuou a degenerar lentamente, ao passo que o olho tratado estabilizou. Mas, em casos muito avançados de coroideremia, tivemos uma surpresa: um ganho de função. No fundo, «ressuscitámos» células que estavam inativas e conseguimos pô-las a funcionar no contexto de uma retina muito degenerada. Tal foi o suficiente para que a acuidade visual e a noção de visão melhorasse significativamente. Em que fase se encontra o estudo em humanos? Nas fases II e III. Estamos com novos ensaios nos EUA, no Canadá, na Alemanha e no Reino Unido. É o mesmo vírus e a mesma terapêutica administrada por vários cirurgiões em vários locais do mundo, o que nos vai ajudar a otimizar as doses porque elas vão ter relação com a quantidade de retina que ainda está viva. Num doente com pouca retina saudável, a dose administrada é menor porque tem de cobrir uma área mais pequena. Já num doente com uma retina praticamente intacta, vamos ter de abranger toda a retina e os cirurgiões vão trabalhar para saber qual é a melhor forma de intervir. A nossa contribuição intelectual resultou numa patente, já licenciada, e há uma companhia, baseada no Reino Unido e apoiada pelo Wellcome Trust, que é responsável pela sua futura comercialização. É com muito agrado que constato que o nosso trabalho de 20 anos não foi em vão e que vai manifestar-se em algo muito significativo para a sociedade. Em que medida o estudo da coroideremia se pode aplicar a outras patologias oculares? O vírus carrega um gene diferente consoante a patologia, portanto, é transportável para outras patologias. Nos EUA e no Reino Unido, já se preparam ensaios, alguns em fase muito precoce, para outras doenças raras. O grande problema das doenças crónicas relacionadas com a idade é que ainda percebemos muito mal os seus mecanismos de patogénese. Quando isso for ultrapassado, teremos novos alvos terapêuticos. A terapia génica tem muitas aplicações para várias doenças, umas mais imediatas e outras muito distantes, dado que ainda nem identificámos que fatores genéticos precisamos de modular. Essa é a grande questão nas doenças crónicas. A terapia celular é mais promissora? As terapias génicas são curativas, mas não regenerativas. A medicina regenerativa torna-se, por isso, mais apelativa porque, um dia, vamos poder programar as células exis-

tentes para reconstituir uma nova retina, por exemplo, ou introduzir células criadas em laboratório que o farão. Queremos perceber que instruções o nosso organismo seguiu quando formou a retina pela primeira vez, a partir de células indiferenciadas e que se foram diferenciando. É tudo muito complicado, mas há um grande interesse nesta área. O olho tem vantagem em relação a outros grandes órgãos do corpo, o que nos leva a ser mais otimistas, pois pode ser uma plataforma pioneira em termos de descobertas para novas terapias. Que investigação tem vindo a ser feita no âmbito da terapia celular? Iniciou-se um ensaio no Japão, mas foi entretanto suspenso. Com base em células estaminais, a ideia era reconstituir o epitélio pigmentar da retina e remover cirurgicamente o que estava danificado, juntamente com os depósitos acumulados, substituindo-o pelo epitélio pigmentar gerado in vitro. São peças de tecido muito pequenas que se transplantam na região macular do olho. O grupo japonês parou o estudo porque, ao segundo doente, viram que a reprodução celular laboratorial tinha sofrido mutações genéticas e não era seguro prosseguir. Há um longo caminho a percorrer, visto que sabemos ainda muito pouco sobre estes temas fundamentais. E em Portugal, estão a ser dados alguns passos? Estamos muito envolvidos em construir uma rede de investigação na área da retina e estamos a incluir elementos do CEDOC, do Institute for Biomedical Imaging and Life Sciences (IBILI) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho, do Instituto de Medicina Molecular e também da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Temos aqui uma boa massa crítica em termos de ciência fundamental, mas os clínicos ainda não estão muito envolvidos com a investigação. O contacto com os hospitais que colaboramos

resultou numa enorme vontade para trabalharmos em novas terapias de doenças crónicas e genéticas. A nossa ambição é que esta rede nacional tenha uma relevância internacional e contribua para a ciência clínica e não-clínica na área da retina. Pode-se, então, afirmar que o estudo da coroideremia não poderia ter sido realizado em Portugal? Há pouca investigação clínica e, mesmo que eu quisesse ter feito um ensaio com um oftalmologista português, não teríamos conseguido avançar. Não só Portugal está pouco preparado para algo tão pioneiro, como nem sequer tem os comités reguladores para autorizar os ensaios. Seria um pesadelo administrativo! Na altura, não tínhamos pessoas que pudessem dedicar um tempo significativo da sua carreira ao desenvolvimento de novos métodos. No entanto, apesar de não ser fácil, não é impossível. É uma questão de apostarmos nas camadas mais jovens, sobretudo em fase de formação, para abraçarem a investigação. Acredito que, em breve, teremos um grupo interessante de investigadores clínicos ligados à Oftalmologia, em várias áreas, para além da retina. Em que projetos de investigação está agora envolvido? Estamos no desconhecido, para abrir novas pistas onde elas ainda não existem. Portanto, neste momento, o nosso alvo de investigação são os mecanismos fundamentais que levam à degenerescência da retina e o uso de células estaminais para efeitos terapêuticos regenerativos. Estão agora no centro das atenções doenças de grande expressão, como a degenerescência macular da idade e a retinopatia diabética, que são as duas grandes patologias da retina em doentes crónicos e na população envelhecida. É aqui que reside o futuro e onde a minha expertise, enquanto investigador, é mais necessária. Uma fase de descoberta pura, «de partir pedra» e iniciar toda esta tecnologia que, um dia, poderá ser utilizada em doentes para curar e regenerar a retina.

Mais desenvolvimentos no 59.º CPO Dado o interesse que a terapia génica tem gerado dentro e fora da Oftalmologia, este será o ponto-chave da intervenção de Miguel Seabra no 59.º Congresso Português de Oftalmologia (CPO), que vai decorrer entre 8 e 10 de dezembro, no Convento São Francisco, em Coimbra. «Esta é, sem dúvida, uma altura muito entusiasmante e pretendo sensibilizar os clínicos para aquilo que lhes parece distante, mas que está a ser feito. Considero importante alertar para a necessidade de criar uma massa crítica exigente dentro das novas terapias. Uma vez que a génica já avançou e Portugal não fez parte desse processo, agora, pelo menos na parte regenerativa, tendo em conta a forma como nos estamos a organizar, temos uma palavra a dizer ao nível da comunidade internacional», assegura o investigador, reservando os pormenores para a sua apresentação no CPO.

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Visão SPO

Oftalmoscopia reportagem

Diferenciação, aposta na tecnologia e humanismo

EQUIPA*

Nos últimos anos, o Serviço de Oftalmologia da Unidade Local de Saúde de Matosinhos/Hospital Pedro Hispano cresceu exponencialmente e encontra-se agora em «velocidade de cruzeiro». Este é o resultado do trabalho de uma equipa jovem, dinâmica e unida, focada na diferenciação e na busca pelas técnicas mais avançadas, sem nunca esquecer a vertente humana, a proximidade com os seus doentes, por quem lutam para evoluir cada vez mais. Marisa Teixeira

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ouco passava das oito e meia da manhã, já o sol brilhava no seu esplendor, quando cerca de 30 elementos da equipa desceram até ao heliporto, situado em frente ao Hospital Pedro Hispano, para a realização da fotografia de grupo. A azáfama era alguma, pois não podiam deixar muito tempo o seu trabalho, dada a carga assistencial a que têm de dar resposta. Para nos receber e acompanhar na visita ao Serviço de Oftalmologia, que dirige desde 2013, a Dr.ª Paula Tenedório lá deu umas voltas à sua preenchida agenda. Enquanto percorria os corredores, o brilho dos seus olhos revelava o orgulho no projeto que abraçou. «Integrei a equipa em 1998 e, em 2013, assumi a direção do Serviço». Desde então, surgiram novos projetos que Paula Tenedório se propôs enfrentar e que, confessa, «só com esta equipa foi possível fazê-lo». Desde logo, a reorganização interna, com a divisão do Serviço em subespecialidades, veio permitir uma maior diferenciação na observação dos doentes. «Não é que não estivesse organizado, mas a divisão era menos específica. Por exemplo, havia consultas de rastreio ou de revisão que aglutinavam vários setores.» A par disso, a autonomia foi realçada, ou seja,

praticamente todos os especialistas são responsáveis por uma área. Além de um modelo organizativo distinto, «esta foi também uma forma de os motivar, para que sintam o que realmente são: peças fundamentais para o objetivo primordial de prestar os melhores cuidados oftalmológicos possíveis aos nossos doentes», sublinha a diretora. Mas as mudanças não ficaram por aqui. A informatização de todo o Serviço e a aposta na eletrofisiologia foram outros projetos que avançaram. «Atualmente, está tudo informatizado e fizemos parte, inclusive, de um projeto-piloto com a utilização do programa SiiMA, que permite integrar diretamente os exames efetuados, como OCT ou perimetria, no sistema informático, tornando-os mais acessíveis ao médico», relata Paula Tenedório, explicando que esta tem sido

uma tarefa complexa, pois requer monitorização constante, para reportar eventuais erros e otimizar o processo. Por outro lado, com a introdução da eletrofisiologia, foi possível munir o Serviço de Oftalmologia de um exame útil na deteção de várias patologias, incluindo as mais raras. Num dos gabinetes, encontrámos a técnica de ortóptica Catarina Mateus, que parou por minutos os seus afazeres para nos resumir as suas funções. Esta profissional trabalha principalmente na eletrofisiologia do sistema visual, visto ser a única a desempenhar aqui essa tarefa. «Estes exames permitem detetar precocemente alterações, tanto na função da retina como na função do nervo ótico, o que é algo fundamental, especialmente quando não se sabe a causa do problema. Estes são exames objetivos, que

Sabia que…

…a Unidade Local de Saúde de Matosinhos criou a primeira Unidade de Medicina Hiperbárica dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde? O Serviço

de Oftalmologia recorre à oxigenoterapia hiperbárica em doenças oclusivas da retina, nomeadamente as oclusões arteriais retinianas. O sucesso deste tratamento depende do seu início muito precoce (poucas horas). Assim, os doentes têm a oportunidade de serem rapidamente tratados, impedindo-se as graves sequelas visuais das oclusões retinianas.

*EQUIPA: À frente: Dr. André Lima, Enf.ª Carla Rodrigues, Enf.ª Manuela Cunha, Sandra Oliveira (secretária coordenadora), Rute Barbosa (secretária), Dr.ª Elena Seara, Enf.ª Cristina Cancela, Enf.ª Clara Morais,

Dr.ª Paula Tenedório (diretora), Helena Neves (ortoptista coordenadora), Filomena Barbosa (ortoptista), Joana Oliveira (ortoptista), Enf.ª Letícia Sousa (enfermeira coordenadora), Dr.ª Isabel Ribeiro, Dr. Ricardo Bastos, Enf.ª Ana Fontes, Enf.ª Elisabete Azevedo, Dr.ª Rita Gonçalves (interna de Oftalmologia), Dr.ª Catarina Pinto (interna do ano comum) e Dr. Carlos Menezes. Atrás: Dr. José Alberto Lemos, Dr. Jorge Moreira (interno), Dr.ª Bruna Vieira, Dr.ª Carla Teixeira, Dr. Tiago Maio (interno), Enf.ª Helena Sá, Catarina Mateus (ortoptista), Isabel Ferreira (ortoptista), Dr.ª Ágata Mota, Dr. Rui Carvalho e Dr. Pedro Coelho (interno) – da esq. para a dta.

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não dependem da colaboração do doente», explica Catarina Mateus. As distrofias da retina ou problemas relacionados com a toxicidade da medicação são algumas das situações que mais surgem neste contexto.

Das doenças frequentes nos mais velhos… No que se refere a patologias mais frequentes, um dos avanços deste Serviço de Oftalmologia foi a criação da Consulta de Rastreio da Retinopatia Diabética, em dezembro de 2013, no âmbito do Programa de Rastreio da Retinopatia Diabética da Administração Regional de Saúde (ARS) Norte, destinada aos utentes do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Matosinhos. «Em março de 2014, já estavam todos os doentes observados e quase todos tratados. Dada a grande lista de espera, estes resultados foram possíveis devido ao esforço e determinação de toda a equipa», revela Paula Tenedório. Entretanto, face aos bons resultados obtidos, em setembro do ano passado, a ARS Norte propôs que o programa fosse alargado ao Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim/Vila do Conde, onde duas ortoptistas deste Serviço se deslocam dois dias por semana. «Atualmente, todos os nossos doentes diabéticos são observados de forma muito rápida e completa, com um tempo de resposta/tratamento de cerca de oito dias. Demos um grande salto qualitativo, quer no acesso à consulta e no diagnóstico precoce, quer no tratamento desta grave patologia», frisa a diretora. Outras doenças muito prevalentes, e também graves, são a degenerescência macular da idade (DMI) e o glaucoma. Neste âmbito, foi criada a Consulta de Retina/ /Neovascularização Coroideia, na qual, no mesmo dia, o doente é observado em consulta e realiza os exames complementares de diagnóstico, dada a presença de uma técnica, uma enfermeira e um oftalmologista. Já a Consulta de Glaucoma, coordenada por Paula Tenedório, utiliza procedi-

Em 2013, realizaram-se 28 293 consultas; no ano seguinte, 32 713 e, em 2015, contabilizaram-se 37 167 consultas

mentos de vanguarda, nomeadamente uma técnica cirúrgica denominada de esclerectomia profunda não penetrante, que é menos agressiva por ser efetuada com o «olho fechado» e tem um pós-operatório mais simples e com menos complicações, comparativamente às tradicionais trabeculectomias. Paula Tenedório destaca também o tratamento cirúrgico de patologias retinianas com recurso a técnicas inovadoras, como a indentação macular em olhos míopes ou o peeling da membrana limitante interna com flaps invertidos, bem como o tratamento do descolamento da retina, com os doentes a serem operados em 24 a 48 horas.

…às que afetam os mais novos Mais tarde, a diretora apresentou-nos o Dr. Rui Carvalho, seu antigo interno, hoje especialista e responsável pela área da retina médico-cirúrgica. Cruzámo-nos com ele no Serviço de Neonatologia, com o qual o Serviço de Oftalmologia mantém uma estreita colaboração, existindo, inclusive, uma Consulta de Oftalmologia Pediátrica/Neonatologia, no âmbito do protocolo de seguimento dos prematuros. «A prematuridade acaba por intersetar as áreas de retina e de Oftalmologia pediátrica, pelo que a colaboração entre os Serviços de Oftalmologia e Neonatalogia tem sido extraordinária; conseguimos dar-lhes uma boa e atempada assistência», diz Rui Carvalho. Para tal, foi importante adquirir o RETCAM 3, um equipamento que permite a observação pormenorizada dos prematuros e a deteção precoce da retinopatia da prematuridade, evitando a cegueira potencial destas crianças.

Os exames de eletrofisiologia do sistema visual são realizados por Catarina Mateus, técnica de ortóptica

A conversa passou, entretanto, os trâmites das tecnologias e dos tratamentos mais avançados, recaindo sobre outros aspetos. Questionado sobre as mais-valias de fazer parte deste Serviço, Rui Carvalho realça que a equipa que integra é «jovem, dinâmica, interessada não só em investir na formação e em apostar na atualização científica, mas também em prestar o melhor serviço assistencial possível». E sublinha: «Há aqui um valor humano que é inexcedível.» Por seu turno, Paula Tenedório destaca a «proximidade entre profissionais e doentes» e o «espírito de cooperação e de entreajuda», fundamentais para terem chegado até aqui. Para continuarem em «velocidade de cruzeiro», tendo em conta o aumento contínuo do volume de trabalho, a diretora almeja que o Serviço de Oftalmologia da Unidade Local de Saúde de Matosinhos cresça também em número de elementos. E remata: «Estamos no bom caminho!»

Números de 2015

13 oftalmologistas 4 internos 6 técnicas de ortóptica 20 enfermeiros (sensivelmente) 8 assistentes técnicas 6 assistentes operacionais 9 068 procedimentos cirúrgicos 37 167 consultas, das quais 13 728

foram primeiras

O Dr. Rui Carvalho a examinar um prematuro no Serviço de Neonatologia, com o qual os oftalmologistas colaboraram estreitamente

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Visão SPO

Globo ocular reuniões/formação

Destaques da próxima reunião conjunta da SPO

Prof. João Figueira

Dr. Guilherme Castela

Dr.ª Catarina Paiva

Este ano, o Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV), o Grupo Português de Órbita e Oculoplástica (GPOO) e o Grupo Português de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo (GPOPE) reúnem-se conjuntamente, nos dias 21 e 22 de outubro, no Porto Palácio Hotel. A paquicoroide, as novidades na tomografia de coerência ótica (OCT) e o Curso de Dissecção e Treino Cirúrgico em Cadáver são alguns dos pontos fortes desta reunião. João Xará

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ertinentes e inovadores. Assim se podem descrever dois dos temas que serão abordados pelo GPRV, coordenado pelo Prof. João Figueira, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Um deles é a angiografia OCT, que vai ser o assunto do Curso de Imagem do Segmento Posterior. «Esta é uma técnica não invasiva e promissora, que, embora esteja a dar os primeiros passos, tem a vantagem de avaliar detalhadamente a vascularização retiniana, sem necessidade de administrar nenhum produto de contraste.» Outro tópico em discussão será a paquicoroide e as patologias associadas. «Será ainda abordado o trauma do segmento posterior e vamos repetir a sessão "Complicações na cirurgia vitreorretiniana", que foi muito concorrida no ano passado, com a exibição e discussão de vídeos cirúrgicos», adianta João Figueira. Além disso, decorrerá uma sessão de apresentação de casos clínicos da área da retina, sendo que o melhor será premiado, como habitual nas reuniões da SPO. O Prof. José Maria Ruiz Moreno, presidente da Sociedad Española de Retina y Vítreo (SERV), e o Prof. Francisco Gómez-Ulla, diretor do Instituto Gómez-Ulla e especialista em retina e microcirurgia ocular, são dois dos oradores estrangeiros que já confirmaram a sua presença nesta reunião. No dia 21 de outubro, o GPOO organiza a maior novidade da reunião – o Curso de Dissecção e Treino Cirúrgico em Cadáver. «De manhã, vamos dedicar-nos à dissecação do olho, órbita e pálpebra; durante a tar-

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de, à demonstração de técnicas cirúrgicas», explica o Dr. Guilherme Castela, coordenador do GPOO e oftalmologista no CHUC. Além desta formação, estará em destaque o tema da oculoplástica pediátrica, até para «haver um intercâmbio entre grupos e sessões comuns». Considerando que a oculoplástica «é uma área deficitária em Portugal», Guilherme Castela frisa o facto de esta reunião contribuir para a partilha de experiências e know-how, despertando o interesse de internos e recém-especialistas. Entre os convidados internacionais desta área, incluem-se o Dr. Pérez Moreiras, diretor do Instituto Internacional de Órbita e Oculoplástica, em Santiago de Compostela, a Dr.ª Consuelo Prada, oculoplástica na mesma unidade, e o Dr. Joan Prat, oculoplástico pediátrico no Hospital Sant Joan de Déu, em Barcelona.

«Omnipresença» da Oftalmologia Pediátrica Por seu turno, os temas da Oftalmologia pediátrica vão confluir tanto no programa da retina e vítreo, como no da oculoplástica, com «especialistas de ambos os campos a falarem sobre patologias que têm diferentes contornos em crianças», refere a Dr.ª Catarina Paiva, coordenadora do GPOPE e também oftalmologista no CHUC. Um dos momentos comuns com o GPRV é o Curso da Retinopatia da Prematuridade, que decorrerá na manhã de 22 de outubro. No mesmo dia, o ponto de encontro com o GPOO será a discussão sobre as vias lacrimais e a ptose. «Trata-se de um debate entre os cirurgiões de ocu-

loplástica e os oftalmologistas que veem as crianças e decidem encaminhá-las ou não para a cirurgia», avança a responsável. Além dos tópicos comuns, o GPOPE assume protagonismo com outras sessões próprias. O dia 21 de outubro, sexta-feira, será dedicado ao estrabismo, com palestrantes estrangeiros e a sessão «A minha melhor cirurgia» dará voz às conquistas dos especialistas mais jovens. Já a imagem será um dos assuntos centrais do dia seguinte. Os Drs. Rui Pedro Faria Pais e Ricardo Veiga (neurorradiologistas no CHUC) vão falar sobre as particularidades da tomografia axial computorizada, da ressonância magnética, e da dacriocistografia em Oftalmologia pediátrica.


Visita à «CASA» do 59.º Congresso da SPO O Convento São Francisco, em Coimbra, foi o lugar escolhido para acolher o 59.º Congresso Português de Oftalmologia, que decorrerá entre 8 e 10 de dezembro e terá como tema central a diabetes ocular. O Visão SPO dá-lhe a conhecer este local que vai pisar daqui a quatro meses, especialmente o novo edifício adjacente, dedicado aos eventos culturais, que se interliga com o Convento. Depois das recentes obras de requalificação «assinadas» pelo arquiteto Carrilho da Graça, o objetivo da Câmara Municipal de Coimbra, que comprou o edifício em 1986 e há muito ansiava por lhe dar um destino, é que este centro de convenções e espaço cultural transforme a cidade dos estudantes num dos principais eixos culturais do País.

junto ao parque temático Portugal Situado na margem esquerda do rio Mondego, do início do século XVII data isco dos Pequenitos, o Convento São Franc

O foyer, área de acesso ao auditório, é um ótimo local para a realização de exposições ou coffee breaks

De arquitetura mais moderna, existem outras salas disponíveis para apresentações, conferências, iniciativas culturais, etc.

O auditório tem capacidade para 1 125 lugares e contempla um fosso de orquestra, uma boca de cena de 18 metros, uma concha acústica e seis cabines para tradução simultânea

O antigo refeitório do Conven deu lugar a uma nova sala queto, cuja traça original se manteve, pode ser utilizada para múltipl os fins

Os claustros também foram requalificados. Só à sua volta espraiam-se 12 salas


Visão SPO

Globo ocular reuniões/formação

Balanço da 1.ª Reunião Ibérica de Retina e Vítreo Confiantes de que juntos poderão ter maior relevância na Oftalmologia europeia e mundial, o Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV) da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) e a Sociedad Española de Retina y Vítreo (SERV) reuniram-se em Madrid, no passado dia 2 de julho, para debater os assuntos mais prementes da atualidade nesta área. Sandra Diogo

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ela primeira vez, especialistas portugueses e espanhóis na área de retina e vítreo organizaram uma reunião conjunta, de modo a fomentar o intercâmbio de experiências e conhecimentos. As novas abordagens terapêuticas para a degenerescência macular da idade (DMI), o edema macular diabético, as técnicas cirúrgicas inovadoras e as potencialidades de exames imagiológicos como angiografia OCT (tomografia de coerência ótica), que permitem obter imagens de grande qualidade e detalhe dos vasos sanguíneos sem necessidade de injetar qualquer contraste, foram os principais temas em debate. A reunião foi constituída por três sessões sobre retina médica, retina cirúrgica e imagiologia do segmento posterior, «nas quais se promoveu um intercâmbio ibérico com a participação de especialistas dos dois países», salienta o Prof. João Figueira, coordenador do GPRV. A Prof.ª Ângela Carneiro, uma das impulsionadoras desta reunião e oradora na sessão «Guidelines no tratamento da DMI exsudativa, acrescenta: «Essa partilha é muito importante para termos uma posição mais forte a nível europeu, não só em termos de visibilidade, mas também para conseguirmos mais facilmente publicar os nossos trabalhos, dado obtermos em colaboração casuísticas mais alargadas.»

Mais-valias cirúrgicas e imagiológicas Na sessão dedicada à retina cirúrgica, a Dr.ª Angelina Meireles, oftalmologista no Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António, falou sobre as características visualizáveis na OCT que indiciam o benefício do encaminhamento cirúrgico dos doentes com maculopatia tracional miópica. «Há alguns anos, era praticamente impossível diagnosticar a doença nas fases mais precoces, mas, agora, a OCT permite-nos ver o tipo de tração, a sua evolução e repercussão nas várias camadas da retina, e intervir atempadamente, o que se tem traduzido num claro benefício para o doente. Esta especialista referiu-se ainda à vitrectomia, garantindo que lhe costuma assegurar resultados positivos em cerca de 95% dos casos. Na mesma sessão, a Dr.ª Fernanda Vaz, oftalmologista no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental/Hospital de Egas Moniz, abordou as técnicas de flap invertido e translocação da membrana limitante interna no buraco macular, que são reservadas para os casos mais graves desta patologia, nomeadamente buracos maculares de grande diâmetro ou casos de insucesso em cirurgias prévias. «A técnica de flap invertido tem uma taxa de sucesso anatómico e funcional superior ao da técnica tradicional; com a translocação da membrana limitante

DR

A sessão que abordou a retina cirúrgica foi moderada pelo Dr. João Branco e pelo Prof. José García-Arumí (ao centro), contando com as intervenções de oftalmologistas portugueses e espanhóis – Drs. Nuno Gomes, Marta Figueroa, Angelina Meireles, Fernanda Vaz, Jeroni Nadal e Álvaro Fernández-Vega

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Próximo encontro em Portugal O sucesso da 1.ª Reunião Ibérica de Retina e Vítreo foi confirmado pelo feedback positivo dos cerca de 120 participantes, pelo que já estão agendados os próximos encontros bienais: o Porto receberá o evento em 2018, Barcelona em 2020 e Lisboa em 2022. «A SPO e a SERV estão conscientes de que o intercâmbio de experiências e tecnologias propiciado por esta iniciativa é vital, porque estimula a investigação e o desenvolvimento da Oftalmologia nos dois países», enfatiza o Prof. José María Ruiz Moreno, presidente da SERV.

interna, conseguem-se resultados razoáveis em situações frequentemente consideradas inoperáveis.» Reforçando que esta última é uma técnica bastante recente e sobre a qual ainda há poucos estudos publicados, Fernanda Vaz enfatizou o trabalho desenvolvido por um grupo do Hospital de Braga, liderado pelo Dr. Nuno Gomes, que é autor da mais recente publicação nesta matéria. A Dr.ª Maria da Luz Cachulo, da Unidade de Oftalmologia de Coimbra, também interveio nesta reunião ibérica, centrando-se nos benefícios da autofluorescência e destacando as características deste tipo de imagem num fundo ocular normal e as principais alterações que condicionam o aumento e a redução da autofluorescência de base. A especialista referiu as aplicações práticas desta técnica, nomeadamente a «identificação precoce dos pseudodrusen reticulares, que constituem um importante marcador de risco para o desenvolvimento das formas tardias de DMI». Além disso, sublinhou o papel da autofluorescência no diagnóstico, na monitorização e no seguimento de patologias como a atrofia geográfica, a miopia patológica, as distrofias hereditárias da retina e da mácula, as maculopatias tóxicas e os drusens da papila.


Como lidar com as urgências oftalmológicas?

ORADORES E MEMBROS DA COMISSÃO ORGANIZADORA DA SPO JOVEM (da esq. para a dta.): Drs. Francisco Trincão, Ana Quintas, Nádia Lopes, Nuno Franqueira, José Costa, Andreia Soares, João Pedro Marques, João Breda, Ricardo Amorim, João Paulo Castro Sousa, Helena Prior Filipe, Miguel Neves, Maria Lisboa, Paulo Costa e André Barata

Foi a esta complexa questão que pretendeu responder a Reunião Anual de Internos de Oftalmologia (RAIO), que decorreu nos passados dias 9 e 10 de julho, em Mortágua. Patologias oftalmológicas na criança, úlceras na córnea e suturas foram alguns dos tópicos abordados. Marisa Teixeira

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Dr. Ricardo Amorim, coordenador da SPO Jovem, justifica a escolha do tema «Urgências em Oftalmologia» com o facto de «os internos tomarem desde cedo contacto com casos clínicos que surgem no Serviço de Urgência, estando dependentes da ajuda de especialistas e de internos mais experientes, que os auxiliam no âmbito do diagnóstico e do tratamento». Na manhã do primeiro dia da RAIO 2016, o foco recaiu sobre quatro subtemas – retina, órbita, oftalmologia pediátrica e glaucoma –, com palestras que «desmistificaram algumas questões e apresentaram as devidas armas terapêuticas e os diagnósticos diferenciais, com base, muitas vezes, em casos clínicos que os oradores mostravam aos formandos, para demonstrarem melhor a forma como devem atuar em cada situação», resume Ricardo Amorim. As particularidades das urgências oftalmológicas na criança foram abordadas pelo Dr. Paulo Freitas da Costa, oftalmologista no Centro Hospitalar de São João, no Porto, que sublinhou: «É importante estar alerta para as situações mais frequentes, sobretudo as doenças inflamatórias da superfície ocular. Em contexto de urgência, as crianças têm de ser observadas no momento e não se pode deixar passar nada, nem que tenhamos de ser, por vezes, um pouco mais agressivos na abordagem, com a devida co-

laboração dos pais.» O palestrante advertiu ainda que os médicos têm de ser incisivos e eficazes no diagnóstico, de modo a instituir tratamentos precoces e, consequentemente, evitar sequelas que, nas idades mais precoces, podem ter um impacto negativo no desenvolvimento do sistema visual.

Da teoria à prática A parte da tarde do dia 9 de julho foi dedicada a uma vertente mais prática, com a realização de dois workshops – um sobre suturas na urgência, apresentado pelas Dr.as Ana Miguel Quintas, do Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria, e Nádia Lopes, do Centro Hospitalar Médio Tejo/Hospital de Tomar; e outro com enfoque nas úlceras de córnea, ministrado pelos Drs. Nuno Franqueira e João Pedro Marques, respetivamente do Hospital de Braga e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). «As úlceras de córnea são frequentes e detetadas, muitas vezes, nas urgências, sendo que o diagnóstico precoce é muito importante para se estabelecer o tratamento mais adequado e evitar situações potencialmente devastadoras para a saúde ocular», frisou Nuno Franqueira. Para tornar o workshop mais dinâmico, os internos, divididos em grupos, foram questionados sobre os vários casos clínicos apresentados e, no

final de cada um, debateram-se «os diagnósticos e tratamentos dos vários tipos de úlceras, desde as bacterianas e fúngicas, às queratites por Acanthamoeba, herpéticas ou autoimunes». Já o workshop dedicado às suturas apostou na exibição de vídeos, através dos quais os internos tiveram a oportunidade de observar várias técnicas e procedimentos para diversas problemáticas. Nádia Lopes centrou a sua intervenção nas suturas dos anexos oculares, que «requerem mais técnicas de oculoplastia, como a abordagem aos traumatismos palpebrais, à paralisia facial periférica, ou a remoção do globo ocular». Esta oradora destacou a situação das feridas palpebrais como uma das mais relevantes, pois «são comuns nas urgências e, muitas vezes, não são utilizadas as devidas técnicas corretamente». No dia 10 de julho, internos dos vários hospitais com capacidade formativa apresentaram casos clínicos de urgências oftalmológicas. Seguiu-se a intervenção da Dr.ª Helena Donato, diretora do Serviço de Documentação do CHUC, intitulada «Como elaborar um currículo?». No final da RAIO 2016, foi entregue o Prémio de Melhor Caso Clínico à Dr.ª Andreia Soares, autora principal do trabalho «Edema palpebral: uma causa rara para um sinal comum», desenvolvido no Hospital de Braga. jul h o 2 0 1 6

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Visão SPO

Globo ocular reuniões/formação

Avanços na área da retina A 16.ª edição da Retina Academy da ESASO (European School for Advanced Studies in Ophthalmology) decorreu no Estoril, de 23 a 25 de junho passado. Os novos avanços em termos de diagnóstico e tratamento estiveram no centro deste encontro, que contou com a presença de muitos oftalmologistas portugueses, um painel alargado dos melhores especialistas mundiais em retina, e refletiu o reconhecimento internacional da Oftalmologia portuguesa. Ana Luísa Pereira

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m entrevista ao Visão SPO, o Prof. Francesco Bandello, presidente da 16th ESASO Retina Academy e docente na Universidade Vita-Salute e no Instituto Científico San Raffaele, em Milão, começou por notar: «Estamos a atravessar um período feliz no campo da retina médica e cirúrgica.» Este especialista salientou a evolução ocorrida nos últimos anos, particularizando «duas inovações importantes – a angiografia OCT, no campo do diagnóstico, e as terapêuticas intravítreas, no campo do tratamento». Esta combinação de novidades «originou uma grande mudança positiva no prognóstico de muitas doenças oftalmológicas e uma revolução na prática clínica», frisou Francesco Bandello, que considera «não haver outra área da Medicina com tantos e incríveis avanços». Num futuro próximo, prevê-se a continuação desta evolução, em parte devido aos «novos medicamentos de outras áreas da Medicina, tais como a Oncologia, que se estão a revelar úteis nos tratamentos em Oftalmologia». Os copresidentes da 16th ESASO Retina Academy – Prof.ª Ângela Carneiro, oftal-

MEMBROS DO COMITÉ CIENTÍFICO: Dr. João Nascimento, Prof. Francesco Bandello (presidente da 16th ESASO Retina Academy), Prof.ª Ângela Carneiro e Prof. Rufino Silva

mologista no Centro Hospitalar de São João, no Porto, e Dr. João Nascimento, oftalmologista no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures –, também consideraram a angiografia OCT um tema de grande destaque. Esta técnica «constitui um grande avanço, permitindo a realização de angiografias (fundamentais no estudo das patologias da retina) sem uso de contrastes», explicou Ângela Carneiro, sublinhando que «o método clássico, invasivo, está a ser substituído por um método não invasivo e de fácil e rápida execução». Assim sendo, «há muito interesse à volta deste novo método de diagnóstico, que fornece dados não acessíveis na angiografia clássica, deteta mais precocemente algumas patologias e, num futuro próximo, permitirá otimizar os tratamentos disponíveis». Por sua vez, João Nascimento acrescenta que «a angiografia OCT promete mudar a forma de tratar os doentes», pois permite alcançar «melhorias na visão com os tratamentos anti-VEGF [vascular endothelial

Oradores e moderadores da sessão «Wet age-related macular degeneration and other neovascular maculopathies» (da esq. para a dta.): Dr. Roberto Gallego-Pinazo, Prof. Frank Holz, Dr. João Nascimento, Dr. Adrian Koh, Prof. Rufino Silva, Prof.ª Susan Bressler, Prof.ª Anat Loewenstein (moderadora) e Prof. Francesco Bandello (moderador)

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Sabia que… …a 16th ESASO Retina Academy foi transmitida em direto para vários pontos do globo, tendo sido assistida, à distância, por mais de 1 000 oftalmologistas? Foi a primeira vez que tal aconteceu neste evento formativo, também realizado pela primeira vez em Portugal. growth factor], seja na degenerescência macular da idade [DMI], na retinopatia diabética [RD] ou na patologia vascular venosa». Na opinião deste especialista, a «grande questão é saber qual o melhor regime de tratamento, de forma a conseguir os melhores resultados, mas com uma otimização de recursos e um maior conforto para o doente». Oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e também copresidente da 16th ESASO Retina Academy, o Prof. Rufino Silva salientou que «as doenças da retina são as principais causadoras de cegueira, mas este cenário é evitável e tratável». Doenças como a RD ou a DMI «têm tratamentos eficazes que, quando feitos atempadamente, podem reduzir a incidência da cegueira, o que já sucede em Portugal, embora o cenário tenha de ser melhorado». A DMI é a patologia em que o tempo é mais crítico, pois os doentes «devem ser tratados imediatamente», até porque «gastam-se os mesmos recursos a tratar um doente quase cego ou um doente ainda com boa visão», rematou Rufino Silva.


Inflamação e superfície ocular em foco nas XXVI Jornadas Internacionais de Coimbra Oftalmologistas, dermatologistas e imunologistas de diversos países reuniram-se no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), nos dias 17 e 18 de junho passado, para debater a terapia regenerativa da superfície ocular e as novas estratégias no tratamento da inflamação. Sandra Diogo

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m colaboração com os Serviços de Oftalmologia nacionais, o CHUC acolheu mais uma edição das Jornadas Internacionais de Oftalmologia de Coimbra, este ano subordinadas ao tema «Inflamação e superfície ocular». «São entidades cada vez mais frequentes na nossa prática clínica», justifica o Prof. Joaquim Murta, diretor do Centro de Responsabilidade Integrada de Oftalmologia (CRIO) do CHUC e um dos organizadores do evento. Além disso, trata-se de uma área na qual «o CRIO é referência a nível nacional e europeu, pelo que o resultado destas jornadas foi excelente», confirma a Prof.ª Maria João Quadrado, presidente da SPO, oftalmologista no CHUC e oradora na sessão «Novas estratégias de tratamento na superfície ocular». Um dos pontos altos das XXVI Jornadas foi a conferência proferida pelo Prof. Carlos Pavesio, diretor do Moorfields Eye Hospital, em Londres, sobre doenças da coriocapilar. Este oftalmologista brasileiro defendeu «a necessidade de se promoverem centros de referência para estas patologias, processo que está agora a ser desenvolvido em Londres, porque estas são entidades clínicas sobre as quais ainda é necessário saber muito acerca das causas e do desenvolvimento». Falando sobre os sinais a que os oftalmologistas devem estar alerta, este orador destacou os «doentes com queixas de diminuição da visão e redução de acuidade visual na zona central do olho». Salientando que, nestes casos, «o exame clínico é muitas vezes insuficiente», Carlos Pavesio defendeu a necessidade de recurso aos novos

MEMBROS DA COMISSÃO ORGANIZADORA COM ALGUNS PALESTRANTES (da esq. para a dta.): Profs. Joaquim Murta, Maria João Quadrado, Carlos Pavesio, Frank Larkin e Rui Proença

métodos complementares de diagnóstico, como a angiografia OCT. Outro momento de destaque foi a conferência sobre queratites, a cargo do Prof. Frank Larkin, que exerce no mesmo hospital londrino, na qual realçou a importância da avaliação clínica para o diagnóstico. «Não há técnicas de radiologia, nem investigações dispendiosas que diagnostiquem uma queratite, só o exame clínico o consegue fazer. Mas, para tal, o médico precisa de ter muita experiência, pelo que foi por isso que mostrei tantas fotografias.» Este oftalmologista britânico foi ainda palestrante na sessão que abordou as doenças da superfí-

O Prof. Joaquim Murta, diretor do Serviço de Oftalmologia do CHUC (no púlpito), presidiu à sessão de abertura, na qual também estiveram presentes o Prof. Rui Proença (membro do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos – OM), o Dr. José Tereso (presidente da ARS Centro), o Prof. José Pedro Figueiredo (membro da direção clínica do CHUC), o Prof. Américo Figueiredo (diretor do Serviço de Dermatologia e Venerologia do CHUC), o Prof. José Manuel Silva (bastonário da OM) e a Prof.ª Maria João Quadrado (presidente da SPO)

cie ocular na criança, uma realidade encontrada com cada vez mais frequência: «50% das crianças que assistimos no Moorfields Eye Hospital sofrem de doenças oculares graves», frisou Frank Larkin.

Caráter prático e formativo Uma vez que o objetivo das Jornadas Internacionais de Oftalmologia de Coimbra é acentuar a partilha de experiências e a transmissão multidisciplinar de conhecimentos, a edição deste ano contou com dois momentos dedicados exclusivamente à discussão de casos clínicos e integrou, como tem acontecido em anos anteriores, um Curso EUPO (European University Professors of Ophthalmology), subordinado ao tema da neuroftalmologia. «Nesta formação, direcionada a internos de Oftalmologia e a especialistas que queiram atualizar os seus conhecimentos nesta área, fez-se uma revisão sobre causas, abordagem e tratamento de algumas doenças do sistema nervoso central com manifestações oculares», resume Joaquim Murta.

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Visão SPO

Globo ocular reuniões/formação

Ecos do encontro entre a cirurgia refrativa e a superfície ocular

ALGUNS ORADORES E MODERADORES (da esq. para a dta.): Prof. Manuel Monteiro-Grillo, Dr. Miguel Trigo, Dr. José Pita Negrão, Prof.ª Maria João Quadrado, Prof. Rubens Belfort Júnior, Prof. Fernando Falcão-Reis e Prof. Joaquim Murta

Topografia e tomografia da córnea, qualidade da visão, superfície ocular, contactologia, femtofaco, queratites infeciosas e biometria foram os temas dominantes da Reunião Conjunta do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa de Portugal (CIRP) com o Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia (GPSOC), nos dias 27 e 28 de maio passado, em Albufeira. Ana Luísa Pereira

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m declarações ao Visão SPO, a Prof.ª Conceição Lobo, coordenadora da CIRP, começou por frisar que «o número de participantes nesta reunião tem aumentado de ano para ano», porque os temas discutidos «vão de encontro a questões de caráter atual». Do programa científico deste ano, a especialista destaca o Curso de Topografia e Tomografia da Córnea, «que é

uma área muito ligada aos equipamentos e requer a atualização constante dos profissionais devido ao aparecimento de novas tecnologias». É de referir que esta formação foi acreditada pela UEMS (Union Européenne des Médecins Spécialistes). A Dr.ª Andreia Rosa, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e membro do conselho científico deste curso, sublinha

«a exemplificação dos principais critérios de cada plataforma de trabalho, o grande interesse e a aplicabilidade dos conteúdos na prática clínica, e a mais-valia do reconhecimento a nível europeu». Conceição Lobo destaca ainda a sessão que abordou o laser femtosegundo na cirurgia de catarata, por se tratar de «um equipamento recente e que não está ainda

Queratites infeciosas na Conferência Dr. Pedro Abrantes O Prof. Rubens Belfort Júnior, docente na Escola Paulista de Medicina e presidente do Instituto da Visão e da Academia Brasileira de Oftalmologia, foi o orador da Conferência Dr. Pedro Abrantes, na qual falou sobre o papel das infeções no contexto da Oftalmologia. O especialista ressalvou que «as infeções vão continuar a assumir cada vez maior importância na compreensão de uma série de doenças, existindo, atualmente, dois grandes desafios: a emergência de novos processos infeciosos e o reconhecimento de quadros patológicos secundários à infeção». Um exemplo é a «epidemia atual do vírus Zika, associado a alterações graves que se estendem à visão». O conhecimento dos processos infeciosos subclínicos como causa de patologias supostamente não infeciosas também tem sido alvo de desenvolvimento. «Um exemplo é a doença de Alzheimer, que poderá ser desencadeada por infeções prévias. Outro exemplo, ligado à Oftalmologia, é o impacto das infeções por adenovírus, que podem levar ao agravamento de doenças como os processos autoimunes alérgicos, que impactam a córnea e outras estruturas do olho», concluiu Rubens Belfort.

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disponível em praticamente nenhum Serviço de Oftalmologia público»; a sessão acerca do cálculo da lente intraocular (LIO) em casos especiais, devido à «maior complexidade do cálculo em doentes com variações relativamente a doentes típicos»; e a sessão sobre a qualidade da visão, porque, «para além da acuidade visual, cada vez se caminha mais no sentido da perfeição, procurando avaliar os parâmetros». Na sessão dedicada à qualidade da visão, o Prof. Pablo Artal, físico e investigador na Universidade de Múrcia, em Espanha, onde fundou o Laboratório de Ótica, falou sobre a ótica adaptativa em cirurgia de catarata e refrativa, abordando, concretamente, uma tecnologia que tem vindo a desenvolver no seu laboratório desde há 20 anos. Esta tecnologia «permite que o doente visualize de antemão o resultado de diferentes tipos de óticas, colocadas de forma não invasiva, antes da intervenção permanente, o que ajuda também o oftalmologista a escolher a opção mais adequada para cada doente».

Atualização em superfície ocular e cálculo da LIO Ao nível das patologias da superfície ocular, sobressaiu a palestra do Dr. Serge Doan, que exerce na Fondation Ophtalmologique Adolphe de Rothschild e no Hôpital Bichat – Claude Bernard, em Paris, sobre as lentes esclerais. Estas lentes «são diferentes das clássicas porque não têm contacto com a córnea e o limbo», além de que «exercem um efeito protetor e hidratante destas regiões do olho, diminuindo também a estimulação dos nervos corneanos», explicou. As atualizações em superfície ocular ficaram a cargo do Dr. Vítor Maduro, da Unidade de Córnea e Transplantação do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC). Segundo este especialista, «as principais novidades são um novo fármaco para o olho seco, que se encontra ainda em ensaio clínico de fase III; os regeneradores de matriz corneana e a aplicação da medicina regenerativa através da cultura de células estaminais provenientes da zona do limbo corneano». A medicina regenerativa «é o grande boom de 2016 e 2017, sendo que as células do doente são cultivadas e expandidas para serem aplicadas no próprio, nomeadamente em casos de queimaduras ou outras doenças da superfície ocular», esclareceu este orador. O cálculo da LIO em casos especiais assumiu também destaque neste encontro. O Prof. Joaquim Murta, diretor do Serviço de Oftalmologia do CHUC, apresentou o sistema ORA (optiwave refractive analysis) intraoperatório. «O ORA é um instrumento que permite o ajuste e o cálculo da LIO mais preciso em todas as cirurgias de catarata,

nomeadamente com as lentes premium, possibilitando maior rigor e precisão nos resultados refrativos, pois, hoje em dia, a cirurgia de catarata ou do cristalino é cada vez mais refrativa, permitindo corrigir, na maioria dos casos, a hipermetropia, a miopia, o astigmatismo ou a presbiopia», elucidou.

Laser femtosegundo e cirurgia refrativa O Dr. Ramón Ruiz-Mesa, oftalmologista e diretor médico de uma rede de clínicas na Andaluzia, em Espanha, trouxe a temática do laser femtosegundo em casos complexos de cirurgia de catarata. «Há problemas que eventualmente podem surgir, apesar da muita experiência do cirurgião, que não se colocam com o uso do laser femtosegundo», afirmou este preletor, acrescentando que este tipo de laser «pode baixar o índice de complicações e tem grande utilidade em casos muito complicados». Na sessão de atualização em cirurgia de catarata e refrativa, o Dr. Fernando Vaz, oftalmologista no Hospital de Braga, referiu que «a cirurgia refrativa da córnea com laser

Prémios

Melhor Caso Clínico – 1.ª sessão

«Osteodontoqueratoprotese: quando tudo o resto falhou» – Dr.ª Inês Carneiro (1.º autor), do Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António (CHP/HSA).

Melhor Caso Clínico – 2.ª sessão

«Uveíte anterior em lente intraocular fáquica – 22 anos depois» – Dr.ª Vânia Lages (1.º autor), do CHP/HSA.

Cantinho da Fotografia

Iniciativa organizada pela SPO Jovem, que coloca a concurso fotografias enviadas por internos e relacionadas com o tema da reunião/congresso.

Imagem premiada:

«Catarata petaloide» – Dr. Guilherme Nero e Pires, do Centro Hospitalar de Lisboa Central.

A Prof.ª Conceição Lobo (coordenadora da CIRP) entregou à Dr.ª Inês Carneiro o prémio de Melhor Caso Clínico – 1.ª sessão

já se faz há mais de 30 anos, mas, ao longo deste tempo, têm-se registado constantes evoluções». Anteriormente, «a cirurgia corrigia apenas miopia e astigmatismo, mas o software e os próprios lasers foram evoluindo e, hoje, os objetivos são muito mais ambiciosos», frisou este especialista. E exemplificou: «Dispomos hoje de uma nova tecnologia que, além dos erros refrativos, corrige outras aberrações (inclusive lesões resultantes de cirurgias anteriores ou doenças), guiada pela topografia da córnea, proporcionando ao doente a independência dos óculos, com uma melhor qualidade da visão.» No fundo, «mais do que corrigir um erro refrativo, restaura-se a córnea». Esta reunião conjunta terminou com o vídeo-simpósio intitulado «As 50 som-

bras do cirurgião da catarata – a sequela», que foi apresentado pela Dr.ª Isabel Prieto, oftalmologista no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora. «Este vídeo-simpósio veio na sequência do realizado no ano anterior, baseado num pouco de humor, fazendo alusão ao famoso livro As 50 Sombras de Grey», explicou a «realizadora». Aqui, as sombras referem-se «às dificuldades, às situações inesperadas e às cirurgias complicadas que surgem no dia a dia» dos oftalmologistas. Além de Ramón Ruiz-Mesa, outro convidado estrangeiro participou nesta discussão – o Dr. Khiun Tjia, especialista holandês com longo historial na formação de internos nos campos da cirurgia de catarata e do desenvolvimento de novos dispositivos. jul h o 2 0 1 6

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Visão SPO

Ângulo cultural

Os 93 «príncipes da Medicina» em livro

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novo livro do Prof. Mário Cordeiro, intitulado Príncipes da Medicina, foi alvo de tertúlia e reapresentação na sede da SPO, no dia 26 de junho passado. Ao longo de 400 páginas, a obra editada pela Saída de Emergência compila 93 perfis, seguindo uma timeline histórica desde a Antiguidade até novembro de 2015. De Imhotep, arquiteto das pirâmides do Egito, a Paulo Cunha e Silva, vereador da Cultura da Câmara Municipal do Porto, são várias as personagens da Medicina retratadas. Com um extenso portefólio de livros sobre bebés e crianças, Mário Cordeiro é o mais conhecido pediatra português. A ideia de escrever sobre «os príncipes da Medicina» surgiu-lhe durante a pesquisa para a biografia do seu avô materno, intitulada

Júlio Gonçalves – de Goa a Lisboa. «São príncipes como os “encantados”. Pessoas que se resumem em si mesmas, com virtudes de coragem e de entrega aos outros, com nobreza de caráter», afirmou o autor. A Prof.ª Leonor Almeida, responsável cultural da SPO, ao lado do amigo Mário Cordeiro, apresentou este livro que «reúne figuras que fizeram repensar a Medicina e a vida, em aspetos cívicos e sociais». Entre as 93 personalidades retratadas, encontra-se Pedro Hispano, médico e único Papa português, autor do tratado oftalmológico Liber de Oculo, que, 200 anos depois, foi usado por Michelangelo quando se deparou com uma patologia ocular, conseguindo curar-se. Mas a história da Medicina faz-se, sobretudo, de vidas difíceis, por vezes trági-

cas. «O Dr. Garcia de Orta, médico e botânico, foi perseguido pela Inquisição e, depois de morto, foi queimado em praça pública, em Goa, acusado de judaísmo», exemplificou o pediatra. Já o Dr. Ignaz Semme-lweis, obstetra húngaro, foi enviado para um hospício psiquiátrico onde morreu de septicemia, depois de um ataque violento dos guardas, porque a sua investigação sobre a diminuição das infeções pós-parto mostrou que era fundamental os médicos lavarem as mãos antes de observar um doente, o que foi enxovalhado pela comunidade científica, levando ao seu descrédito e demissão do cargo de professor em Viena. Estas são apenas algumas das histórias de vida contadas no livro Príncipes da Medicina. João Xará

Texto de Woody Allen adaptado ao teatro Sinopse

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peça Rua dos Caetanos, n.º 23, uma adaptação de Woody Allen, subiu «ao palco da SPO» no dia 1 de maio passado. De acordo com a Prof.ª Leonor Almeida, «o objetivo foi surpreender, fazer rir e incitar o sorriso com situações complexas, mas profundamente humanas e comoventes». Tendo em conta as diversas reações, entre gargalhadas e momentos carregados de silêncio e tensão, a missão foi cumprida. «Abrir as portas da SPO a várias formas e expressões de arte é uma ambição que con-

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tinuamos a ver realizada», sublinha Leonor Almeida. E acrescenta: «Num ambiente em que nós, espectadores, estamos praticamente colocados no meio da ação, pretendemos tirar o melhor partido de um espaço criado para transmitir ciência, ideias, formar jovens médicos, mas também para expor pintura, declamar poesia, homenagear homens e mulheres da cultura oftalmológica e não só, abrindo, assim, as portas da Medicina e da Oftalmologia à sociedade civil.» Marisa Teixeira

Rua dos Caetanos, n.º 23 é uma comédia sobre as fronteiras da sanidade, que propõe um olhar crítico sobre uma história baseada num texto de Woody Allen, no qual se discutem infidelidades, incongruências, amor, amizade, tolerâncias e, de certo modo, o homem/ /mulher absurdo que existe em nós e em quem nos transformamos quando a situação o proporciona. A amizade pode transformar-se em amor, o amor em desamor, a confiança em desconfiança, a cumplicidade em infidelidade. Criar o caos em cena e depois controlá-lo é o que fazem os atores nesta divertida e bem conseguida adaptação.

Encenação Bruno Cochat

Atores

Frederico Pereira Coutinho, Gonçalo Cabral, Marta Queirós e Mónica Talina


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