Stroke.pt n.º 5

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Revista oficial da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral

Quadrimestral Maio de 2016 | Ano 2

Stroke.pt

n.°5

www.spavc.org

Portugal em movimento

contra o AVC

Aulas de zumba, sessões de exercícios físicos variados, caminhadas, rastreios e sessões de informação dirigidas à população e aos profissionais de saúde. Estas foram algumas das iniciativas que decorreram em 14 pontos do País para assinalar o Dia Nacional do Doente com AVC. Atividades que a SPAVC continua a promover e a apoiar, em linha com o seu objetivo de sempre: combater a patologia que mais morbimortalidade causa em Portugal Pág.18

ENTREVISTA O Dr. Patrik Michel defende a diferenciação certificada em AVC e elenca as competências essenciais de um bom especialista nesta área Pág.6

REPORTAGEM Os «bastidores» da Unidade de AVC do Hospital de Braga, a segunda com mais ativações da Via Verde do AVC a nível nacional Pág.8


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Agenda data

evento

local

+info.

MAIO 10 a 12

The 2nd European Stroke Organisation Conference – ESOC 2016

Barcelona, Espanha

esoc2016.com

10 a 13

9th World Congress for Neurorehabilitation

Filadélfia, EUA

isprm.org

11 a 14

Congresso Internacional de Neurocirurgia - Neuroiberia 2016

Centro de Congressos do Estoril

neuroiberia2016.pt

19 a 21

Fórum de Neurologia

Palace Hotel Monte Real, Leiria

spneurologia.com

20 e 21

2016 International Mobile Stroke Summit

Cleveland, EUA

clevelandclinicmeded.com

27

8th European Board Examination in Neurology

Copenhaga, Dinamarca

uems-neuroboard. org

28 a 31

2nd Congress of the European Academy of Neurology

Copenhaga, Dinamarca

eaneurology.org

6 a 10

27 Summer Stroke School «Healthy Lifestyle and Prevention of Stroke and Brain Impairment»

Dubrovnik, Croácia

iuc.hr

17 a 19

12th International Stroke Summit

Nanjing, China

stroke.net.cn

junho th

julho 14 a 17

Asia Pacific Stroke Conference (APSC 2016)

Brisbane, Austrália

apsc2016.com.au

18 a 22

ESO (European Stroke Organisation) Stroke Summer School 2016

Madrid, Espanha

strokesummerschool2016.com

Saint-Étienne, França

chu-st-etienne.fr/ /avcpediatrie

setembro 21 e 22

European Paediatric Stroke Symposium outubro

21 e 22

7.ª Reunião Nacional de Unidades de AVC/ /14.ª Reunião da Sociedade Portuguesa do AVC

Hotel Olissipo Oriente, Lisboa

spavc.org

26 a 29

10th World Stroke Congress

Hyderabad, Índia

wsc.kenes.com

29

Dia Mundial do AVC

30 out. a 1 nov.

13th International Symposium on Thrombolysis Thrombectomy and Acute Stroke Therapy

spavc.org Kobe, Japão

www2.convention. co.jp/ttst2016

NOVEMBRO 13 a 15

ESO-Karolinska Stroke Update Conference 2016

Estocolmo, Suécia

eso-karolinska. org/2016

23 a 26

Congresso Nacional de Neurologia 2016

Lisboa Sana Hotel

spneurologia.com

Jacksonville, EUA

youngstroke.org

dezembro 13 e 14

YoungStroke 2016

SAVE THE DATE

2 a 4 de fevereiro de 2017 11.º Congresso Português do AVC Hotel Sheraton Porto 4 | Stroke.pt


editorial

O «especialista» em AVC

J

á lá vai o tempo em que qualquer médico «atendia» um doente com AVC. Melhor ou pior. Já lá vai o tempo em que se debatia a proveniência do médico que se dedicava ao doente com AVC. Os tempos mostraram que o tratamento deste doente é complexo. O médico que se dedica a esta área tem de ter formação e treino especializados. Tem de saber neuroanatomia e neurofisiologia. Tem de conhecer as causas e os tipos de AVC. Deve conhecer as patologias neurológicas para detetar «falsas entidades» que teimam em parecer um AVC. Deve dominar o estudo de imagem cerebral e a respetiva circulação. Tem de ter prática no tratamento do AVC agudo, isquémico ou hemorrágico. Tem de saber tratar com fibrinólise endovenosa e reconhecer quando é necessário avançar para trombectomia. Deve conhecer e tratar as condições médicas que predispõem ao AVC (prevenção) e aquelas que surgem como suas consequências (reabilitação). Deve saber quando chamar um neurocirurgião para craniectomia descompressiva, um neurorradiologista para trombectomia, ou um cirurgião vascular para endarterectomia. Além de necessitar de um know- how muito grande como médico, deve saber organizar os cuidados e trabalhar em equipa multidisciplinar nas Unidade de AVC. Deve organizar os cuidados, construir e otimizar fluxogramas de decisão clínica. Tem de estar permanentemente a actualizar-se e a formar os membros da sua equipa. Deve ter espírito crítico, promover a investigação. Deve ter treino e interesse em comunicar com o doente e os cuidadores. Por tudo isto emergiu um novo médico. Especialista, competente, diferenciado, dedicado ao AVC, seja qual for a designação que se escolher ou a que for mais apropriada. A sua vida é tratar doentes com AVC de maneira focada e atualizada. Com desafios constantes. Em full-time. A SPAVC está ao lado destes médicos e destas equipas. A crescer com eles e a procurar que a sua dedicação traga melhor futuro às vítimas de AVC. A SPAVC fez 10 anos. No seu 10.º Congresso, em feve-

Patrícia Canhão Vice-presidente da SPAVC

reiro deste ano, continuou a convocar todos os atores para continuar a ensinar a tratar os doentes com AVC. Cada vez mais consciente de que, para melhor tratar, mais necessária será a diferenciação. Qualquer que seja a sua origem, o caminho será traçado para atingir o perfil deste médico: o «especialista» em AVC.

Sumário LINKS 6 Em entrevista, o Dr. Patrik Michel sublinha as mais-valias da diferenciação certificada em AVC SCAN 8 Os «bastidores» da Unidade de AVC do Serviço de Neurologia do Hospital de Braga KNOW-HOW 11 O Prof. Castro Lopes foi homenageado na sessão de abertura do 10.º Congresso Português do AVC 12 «Prevenção do AVC isquémico» foi o tema da sessão conjunta da SPAVC com a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

13 Na sessão conjunta da SPAVC com a Sociedade Portuguesa de Cardiologia foi assinado um protocolo de colaboração entre estas duas sociedades 14 Os Drs. Carlos Molina e Natália de la Ossa falaram sobre a realidade dos cuidados aos doentes com AVC agudo na Catalunha 15 A gestão do AVC no doente diabético esteve em foco na sessão conjunta da SPAVC com a Sociedade Portuguesa de Diabetologia 16 A sessão que abordou as novas recomendações na trombectomia mecânica foi uma das mais participadas no 10.º Congresso Português do AVC 17 O Curso de AVC foi, mais uma vez, um sucesso, tendo em conta a elevada adesão dos internos 18 Apontamentos das várias atividades levadas a cabo em 14 pontos do País para assinalar o Dia Nacional do Doente com AVC deste ano

Ficha Técnica: Propriedade: Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral Rua de Cervantes 388-398 | 4050-186 Porto Tel.: (+351) 226 168 681/2 Fax.: (+351) 226 168 683 info@spavc.org www.spavc.org

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Links

Entrevista Que competências definem um bom especialista em AVC?

«A diferenciação certificada em AVC é uma clara mais-valia» Em entrevista à Stroke.pt, o Dr. Patrik Michel (diretor do Centre Cérébro-vasculaire do Centre Hospitalier Universitaire Vaudois, em Lausanne, Suíça) aprofundou o tema que abordou no 10.º Congresso Português do AVC – as competências que definem um bom especialista nesta área. O também membro do Comité Executivo da Société Cérébrovasculaire Suisse defende que a validação de um percurso formativo diferenciado e certificado em AVC beneficia não só os médicos, mas também o sistema de saúde como um todo e os próprios doentes. Ana Rita Lúcio

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Há um conjunto de competências essenciais que distinguem um bom especialista em AVC. A primeira delas prende-se com o conhecimento e a tomada de decisões clínicas. Adquirida e desenvolvida na prática clínica diária, esta competência aprimora-se, em larga medida, com a observação e a troca de experiências com outros colegas, nomeadamente através da discussão de diagnósticos diferenciais, mas, evidentemente, também graças a um exame atento dos doentes e dos quadros patológicos com que diariamente somos confrontados. A este nível, é fulcral colocar as questões mais pertinentes aos doentes, tomar nota das suas respostas e procurar compreender o exato percurso evolutivo da doença e dos seus sintomas. Igualmente importante é eleger criteriosamente os exames complementares de diagnóstico e o timing adequado para os realizar, assim como identificar o momento em que deixa de ser útil solicitá-los. Do mesmo modo, é essencial decidir quando tratar rápida e agressivamente ou quando quaisquer medidas terapêuticas adicionais se tornam fúteis. Para que toda a informação recolhida sobre os doentes esteja sempre acessível, é necessário que os especialistas evidenciem também boas competências informáticas, considerando que a esmagadora maioria dos hospitais e das clínicas, hoje em dia, trabalha com base em sistemas informáticos. Este é um requisito imprescindível, em paralelo, para que se possa beneficiar do riquíssimo manancial de informações úteis e de recursos educativos e formativos disponíveis online, dos quais há que tirar partido de forma inteligente.

Além desses requisitos essenciais, existem outros? Claro que sim! O interesse em prosseguir atividades de índole científica é outra competência basilar. É fundamental que o médico especialista em AVC leia e estude permanentemente, colocando-se a par das revisões científicas e dos estudos de maior relevância a cada momento, tal como das recomendações e guidelines emanadas pelas sociedades científicas nacionais e internacionais e pelas entidades de saúde competentes. Não menos importante é manter uma produção científica regular, começando por publicar casos clínicos ou séries de casos. Esta atividade obriga a pensar de forma muito lógica e sistemática, o que acaba por beneficiar também a tomada de decisões do foro clínico. Um bom especialista (ou aspirante a especialista) em AVC não deve ainda negligenciar


as suas competências comunicacionais e psicológicas. Justificar a tomada de determinadas decisões clínicas, bem como ouvir e tomar em consideração os pontos de vista de terceiros são obrigações frequentes no desempenho profissional de um médico, sobretudo quando se trabalha em equipa – e o AVC é, por excelência, uma patologia que exige uma atuação multidisciplinar concertada. Todavia, além de promover a comunicação escorreita entre profissionais de saúde, há que saber escutar e comunicar com os doentes (quando estes estão em condições de se pronunciar) e as suas famílias. Finalmente, um bom especialista em AVC deve ser proficiente no que toca às suas competências organizacionais. É fácil perceber que, no combate à patologia cerebrovascular, a organização é decisiva, dado o imperativo de agir atempadamente e em articulação, quer entre profissionais de saúde quer entre instituições e diferentes níveis de cuidados. Um médico especialmente dedicado ao AVC deve ainda cumprir os protocolos e checklists de atuação previamente estabelecidos e refletir criticamente sobre os mesmos, propondo melhorias, se assim se justificar.

A organização – ou reorganização – dos centros e unidades dedicados ao tratamento do AVC é, de resto, um tema em voga atualmente, fruto das mais recentes evidências científicas sobre a trombectomia mecânica. A implementação desta técnica obriga a repensar os modelos organizativos? Sim e não. Por um lado, o modelo organizativo a adotar deve assumir-se como uma continuação lógica dos circuitos previamente estabelecidos para a administração da trombólise intravenosa, como já acontecia com a Via Verde do AVC, no caso português. O princípio é o mesmo: educar a população para reconhecer os sinais do AVC, agir rapidamente e estabelecer uma rede de atuação a nível regional e nacional, para que se saiba, a cada momento, para que unidade encaminhar um determinado doente com AVC. O que a trombectomia mecânica trouxe de novo foi o facto de este procedimento só poder ser realizado num número de centros mais restrito. Isto exige que a máquina organizativa esteja ainda mais bem «oleada», o que pressupõe que os circuitos estejam bem definidos ao nível pré-hospitalar, mas também que as próprias unidades de AVC comuniquem entre si e estejam aptas a decidir e a atuar em conjunto.

É professor na Université de Lausanne e, no seio da European Stroke Organisation (ESO), está muito ligado ao plano formativo, envolvendo-se na organização das ESO Summer e Winter Schools e integrando o corpo docente do European Master in Stroke Medicine. Qual o cenário ideal para a formação em AVC? Apesar do meu envolvimento em todas estas iniciativas, considero que a formação mais importante é aquela que os especialistas e internos recebem dentro dos seus próprios hospitais, sendo que cada hospital ou centro hospitalar deve estabelecer um bom programa de formação especializado em AVC. Defendo também a necessidade de existir um trabalho concertado, neste plano, entre diferentes centros a nível regional ou nacional. Por exemplo, um especialista que exerça no Porto ou em Coimbra deveria ter a oportunidade de visitar unidades de AVC de outros pontos do País, o que traria um apport do ponto de vista da troca de experiências. Claro que isso não invalida a possibilidade de se apostar na formação e na atualização constantes, através da participação em congressos a nível nacional e internacional e do ingresso em cursos e programas de formação avançada, que são mais-valias inequívocas.

Em Portugal, tem-se debatido a necessidade de haver uma diferenciação certificada em AVC. O que pensa sobre esta matéria? A diferenciação certificada em AVC é uma clara mais-valia, não só para os próprios especialistas que atuam nesta área, mas igualmente para o sistema de saúde como um todo e para os doentes, que veem reconhecidas e validadas as competências específicas dos seus médicos. Julgo que essa diferenciação, a nível formativo, deveria ocupar, pelo menos, um ano, mas dois anos seria o ideal, e obedecer a critérios bem definidos, tanto na componente teórica, como na prática. A nível europeu, dispomos de um excelente programa de especialização/diferenciação em AVC – o European Master in Stroke Medicine, promovido pela ESO, em parceria com a Danube University Krems, na Áustria. No entanto, defendo que seria útil que as autoridades competentes de cada país pudessem oficializar a formação diferenciada nesta área.

neurologistas como internistas, idealmente cumprindo esse mesmo currículo diferenciado de um ou dois anos. Já a trombectomia mecânica exige uma formação especializada de dois anos que, a meu ver, deveria acolher neurorradiologistas, neurologistas e neurocirurgiões.

Cargos atuais de maior relevo de Patrik Michel D iretor do Centre Cérébrovasculaire do Centre Hospitalier Universitaire Vaudois, em Lausanne, na Suíça; F undador e responsável pelo Acute STroke Registry and Analysis of Lausanne (ASTRAL); M embro do Comité Executivo da Société Cérébrovasculaire Suisse (SCS); R esponsável pelo Grupo de Trabalho sobre o Tratamento Agudo do AVC da SCS; V ice-presidente da Commission Suisse de Certification des Unités Cérébrovasculaires; C hair do Membership Committee da European Stroke Organisation; D ocente na Université de Lausanne; F ormador do European Master in Stroke Medicine, promovido pela ESO em parceria com a Danube University Krems, na Áustria; M embro do board editorial do International Journal of Stroke.

Que profissionais deveriam ser alvo de formação diferenciada em AVC? Há dois tipos de tratamentos a ter em consideração. No que concerne à trombólise intravenosa, creio que podem atuar tanto Maio de 2016 | 7


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Reportagem

Ir mais longe no combate às doenças cerebrovasculares

EQUIPA (da esq. para a dta.): Dr. João Diogo Pinho (neurologista), Dr.ª Carla Ferreira (coordenadora da Unidade de AVC), Dr. José Manuel Araújo (interno de Neurologia do 2.º ano), Enf.ª Ester Dantas (especialista em reabilitação), Enf.º Eduardo Semanas, Enf.º Pedro Rodrigues (enfermeiro-chefe da Unidade de AVC) e Maria de Jesus Oliveira (auxiliar)

Ainda que fisicamente separada do Serviço de Neurologia, localizando-se no seio da Unidade de Cuidados Neurocríticos, a Unidade de AVC do Hospital de Braga está inserida e «intimamente ligada» ao Serviço que a viu nascer e que tem nas doenças cerebrovasculares uma das suas áreas mais proeminentes de atuação. Referência no tratamento do AVC no Minho, esta é a segunda unidade com mais ativações, pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), da Via Verde do AVC a nível nacional e quer continuar a dar passos sustentados no combate à principal causa de morte em Portugal. Ana Rita Lúcio

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igante de contornos cimentados e rosto envidraçado, o moderno edifício do Hospital de Braga (HB), inaugurado em 2011, presta cuidados a cerca de 1,2 milhões de pessoas e estende-se ao longo de 23 hectares na freguesia de São Victor, mais especificamente no lugar de Sete Fontes, que, outrora, figurou como a principal

fonte de abastecimento de água ao município bracarense. Nascida em 2007, ainda no antigo Hospital de São Marcos, no regaço do Serviço de Neurologia, a Unidade de AVC é coordenada pela Dr.ª Carla Ferreira e conta, atualmente, com seis camas. Habituada a fazer face ao abundante fluxo de solicitações diárias, a equipa médica

é constituída por dois neurologistas: a sua coordenadora e o Dr. João Diogo Pinho, que dão resposta às exigências desta que é «uma das vertentes com maior peso na atividade neurológica do Hospital de Braga», como reconhece a Dr.ª Fátima Almeida, diretora do Serviço de Neurologia. E avança: «Em 2015, fomos o segundo hospital, a

Tempo para a investigação À semelhança do que acontece com os demais campos de atuação do Serviço de Neurologia, a atividade científica tem um peso preponderante no dia a dia da Unidade de AVC do Hospital de Braga (HB). O empenho na «produção científica de qualidade», como reitera a Dr.ª Fátima Almeida, tem valido ao Serviço de Neurologia que dirige e à Unidade de AVC «maior visibilidade externa, designadamente graças à apresentação de trabalhos em reuniões e à publicação de artigos em revistas científicas, tanto no plano nacional como internacional». O êxito mais recente a este nível, de acordo com a Dr.ª Carla Ferreira, foi a publicação, em agosto de 2015, do estudo «Prognóstico aos cinco anos de doentes com AVC isquémico submetidos a trombólise», na prestigiada revista Stroke, da American Stroke Association.

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nível nacional, com mais ativações da Via Verde do AVC pelo INEM (267), logo a seguir ao Centro Hospitalar de Lisboa Central/Hospital de São José, com 316 ativações.» Os dois neurologistas, que contam com o contributo dos internos de Neurologia e de outras especialidades que aqui completam a sua formação, revezam-se na orientação dos doentes vasculares, que, já na fase subaguda, transitam para a enfermaria-geral do Serviço de Neurologia. Ambos os especialistas absorvem ainda as consultas diferenciadas de doenças vasculares, seguindo as mais recentes recomendações nacionais e internacionais para a criação e a organização de Serviços e Unidades de AVC. No período da noite e aos fins de semana, são os neurologistas que estão na Urgência que acorrem à Unidade de AVC, sempre que necessário: internam doentes, procedem aos tratamentos emergentes e gerem o internamento», refere Carla Ferreira. De acordo com as duas neurologistas, «a criação de uma equipa médica própria mais alargada seria uma mais-valia na abordagem destes doentes, para completar o excelente trabalho protocolado da equipa de enfermagem».

Capacidade para realizar trombectomia mecânica No encalço das novas possibilidades de tratamento que se abriram com o advento da terapêutica endovascular, a Unidade de AVC do HB ambiciona também «ir mais longe» neste âmbito, designadamente na «prestação de cuidados na fase aguda do AVC isquémico», admite a coordenadora. Desde há três anos que este hospital responde a cerca

de 100 trombólises intravenosas por ano, tendo-se estreado em 2008 na realização da trombectomia mecânica. Hoje em dia, o HB reclama um papel ativo na rede assistencial que se está a desenhar no Norte do País ao nível desta técnica. Afiançando ter «capacidade técnica e know-how demonstrados» para levar a cabo este procedimento – que, atualmente, «é efetuado sempre que a disponibilidade da neurorradiologia de intervenção do HB o permite» –, a Unidade de AVC deseja as «condições necessárias para poder assegurar a realização de trombectomias mecânicas 24 horas por dia, sete dias por semana», frisa Carla Ferreira. Neste momento, à semelhança do que se passa a nível nacional, dada a escassez de neurorradiologistas de intervenção, o HB tem um único intervencionista com experiência nesta área, o Dr. Jaime Rocha, que é coadjuvado pelo Dr. José Manuel Amorim, interno de neurorradiologia, que pretende especializar-se nesta técnica. Por este motivo, a Unidade de AVC do HB só «consegue efetuar trombectomias mecânicas dentro do horário normal de expediente da neurorradiologia de intervenção», esclarece Carla Ferreira. Quando tal se revela inviável, os doentes são encaminhados para os centros de referência deste tratamento no Norte: Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António, Centro Hospitalar de São João ou Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho. Todavia, Carla Ferreira argumenta que esta solução «não é a que traz mais benefícios» do ponto de vista terapêutico, uma vez que a obstar ao sucesso deste tratamento está «a distância ainda considerável, traduzida em

Números de 2015 2 neurologistas 1 interno de Neurologia 1 neuropsicóloga 1 especialista em Medicina Física e de Reabilitação

1 neurorradiologista de intervenção 1 interno de neurorradiologia 1 enfermeiro para 3 doentes 1 enfermeiro especializado em reabilitação

6 camas de internamento, 1 das

quais está sempre livre para a administração de trombólise intravenosa 267 ativações da Via Verde do AVC pelo INEM 254 doentes internados, dos quais: 152 devido a AVC isquémico 5 devido a AVC hemorrágico 4 6 devido a outras doenças 1 vasculares cerebrais 21 devido a estado de mal epilético 8 devido a síndrome de Guillain-Barré 12 com outros diagnósticos 97 trombólises intravenosas 1 088 consultas, das quais 392 foram primeiras consultas tempo perdido», que separa o HB de qualquer uma destas unidades hospitalares. Tal facto pode conduzir à perda da «capacidade de poupar tecido cerebral, uma vez que cada 15 minutos de atraso na reperfusão acarreta uma diminuição na probabilidade de bom prognóstico de cerca de 10%». Numa fase em que Portugal ainda discute como deve ser reorganizada a rede assistencial no AVC isquémico agudo, esta neurologista defende que, «mais tarde ou mais cedo, o HB terá de ser eleito um dos centros de referência na trombectomia mecânica, pela população que serve e pela quantidade de doentes com AVC que interna».

Tónica na multidisciplinaridade

AVALIAÇÃO O Dr. José Manuel Araújo faz a avaliação a um dos cinco doentes internados na Unidade de AVC do Hospital de Braga aquando da visita da Stroke.pt

Os laços que unem a neurorradiologia à Unidade de AVC estendem-se, porém, muito para lá da trombectomia mecânica. Além do significativo rol de exames diagnósticos levados a cabo, incluindo a neurossonologia, é nas mãos dos neurorradiologistas do HB que recaem outros procedimentos programados, como a embolização de fístulas arteriovenosas durais e as angioplastias carotídeas Maio de 2016 | 9


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Reportagem

Movidos por uma causa

URGÊNCIA No sentido de estar permanentemente disponível para a administração da terapêutica trombolítica, que pode ser necessária a qualquer momento, é forçoso que uma das seis camas afetas à Unidade de AVC esteja sempre desocupada

ou intracranianas, quando indicado. Nestas situações conta também com a colaboração, uma vez por semana, de um neurorradiologista adicional. Respondendo por seis das 18 camas da Unidade de Cuidados Neurocríticos (UCN), a Unidade de AVC, que aqui funciona desde 2014, goza ainda da «colaboração importante e próxima da Neurocirurgia na discussão e abordagem dos doentes internados, que dela necessitem». Outro importante fator de «intercâmbio clínico» mora mesmo ao lado da UCN: a Unidade Coronária (UC), com a qual a Unidade de AVC «tem uma relação privilegiada». «Não há uma presença formal de cardiologistas na nossa Unidade, mas estamos em permanente contacto e estes especialistas prestam-nos um apoio essencial, desde logo nas complicações cardíacas da fase aguda do AVC. No sentido inverso, a Unidade Coronária também conta com a nossa colaboração», sublinha Carla Ferreira, responsável pela consulta interna da UC. O mesmo se passa com o «outro vizinho do lado», a Uni-

dade de Cuidados Intensivos Polivalentes, cujo neurologista de referência é o Dr. João Pinho. Reduto, por excelência, da cooperação entre diferentes áreas, a Unidade de AVC do HB estreita também relações com a Medicina Física e de Reabilitação (MFR), especialidade que, neste hospital, tem «uma mais-valia inequívoca», afirma Carla Ferreira. «O Serviço de MFR tem internamento próprio, o que permite que boa parte dos nossos doentes, no pós-fase aguda do AVC, transite da Unidade de AVC para a enfermaria-geral de Neurologia e, depois, para a enfermaria de MFR», diz a coordenadora. Os cuidados prestados no âmbito das doenças cerebrovasculares contam ainda com o contributo da neuropsicóloga Ana Sofia Costa, que integra o Serviço de Neurologia. «A nossa neuropsicóloga dá-nos um apoio muito relevante ao nível da avaliação e do tratamento dos doentes com perturbações neuropsicológicas secundárias ao AVC», afirma Carla Ferreira.

INTERVENÇÃO Na sala de angiografia, o Dr. Jaime Rocha, neurorradiologista de intervenção, apoiado pelo Dr. José Manuel Amorim, interno de neurorradiologia, procede à embolização de uma fístula arteriovenosa. Estes são os principais rostos da equipa que, quando as circunstâncias o permitem, realiza as trombectomias mecânicas nos doentes com AVC isquémico agudo encaminhados para o Hospital de Braga

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Fazendo jus à «forte tradição de intervenção junto da comunidade» que é apanágio de todo o Serviço de Neurologia do Hospital de Braga, a Unidade de AVC tem feito questão de também se envolver diretamente em atividades que visam «alertar e sensibilizar a população para a importância da prevenção e do tratamento atempado do AVC», sublinha Carla Ferreira. Nesse sentido, desde há dois anos que os neurologistas organizam a Corrida e Caminhada Contra o AVC, que percorre as ruas de Braga, com o intuito de levar os seus habitantes «a moverem-se por esta causa», frisa a coordenadora da Unidade de AVC. A primeira edição desta iniciativa decorreu a 30 de março de 2014 e organizou-se no âmbito do Dia Nacional do Doente com AVC, que se assinala a 31 de março. A segunda edição ocorreu a 31 de outubro de 2015, para assinalar o Dia Mundial do AVC (29 de outubro). Em ambas as ocasiões, esta corrida e caminhada, organizada pelo Serviço de Neurologia do HB, em articulação com a Câmara Municipal de Braga e a Sociedade Portuguesa do AVC, contemplou ainda a realização de rastreios para deteção precoce dos fatores de risco vascular.

Cuidados além do AVC Entre as vantagens mais significativas da inserção da Unidade de AVC do HB na Unidade de Cuidados Neurocríticos destaca-se «a maior capacidade de vigilância aos doentes internados», fruto do «rácio mais dilatado de enfermeiros por doente». Essa monitorização constante não só otimiza os cuidados prestados aos doentes acometidos por doença cerebrovascular, como acarreta, em paralelo, a «expansão dos horizontes terapêuticos para além do AVC», nota Carla Ferreira. Assim se compreende que, pontualmente, sejam admitidos na Unidade de AVC doentes com «outras patologias do foro neurológico», mas que também exigem «monitorização e vigilância apertadas», sobretudo com «casos de estado de mal epilético, síndrome de Guillain-Barré e miastenia gravis». Em 2015, 16% dos doentes internados nesta Unidade tinham outros diagnósticos que não o de AVC. «Idealmente, estes doentes deveriam ser encaminhados para a Unidade de Cuidados Intermédios Médicos, mas, em virtude de se tratar de doentes com patologias neurológicas em cujo manejo os neurologistas estão mais preparados, tem sido, preferencialmente, a Unidade de AVC a acolhê-los», remata Carla Ferreira.


ANIVERSÁRIO

10.º CONGRESSO PORTUGUÊS DO AVC

KNOW-HOW Reuniões/formação

Retrospetiva histórica e homenagem na abertura A sessão de abertura do 10.º Congresso Português do AVC, que decorreu entre os dias 4 e 6 de fevereiro passado, no Porto, foi um dos momentos altos deste evento. Além de uma retrospetiva histórica sobre os congressos já realizados pela Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC), foi prestada uma emotiva homenagem ao seu presidente, Prof. Castro Lopes, na presença de algumas das figuras que o têm acompanhado ao longo da sua carreira e de altos representantes da comunidade médica e científica em Portugal. Paula Ferreira Fernandes

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epois de o Prof. Castro Lopes dar as boas-vindas aos participantes do 10.º Congresso Português do AVC e sublinhar os dez anos da SPAVC, que fundou em 2005 e à qual preside desde então, o Dr. Miguel Rodrigues, tesoureiro da SPAVC, fez uma abordagem histórica sobre os também dez anos deste Congresso, focando-se nas palavras proferidas pelos convidados das várias conferências inaugurais e das palestras mais significativas ao longo dos anos. No 1.º Congresso Português do AVC, em 2007, o Prof. José Pinto da Costa, um dos mais conceituados médicos legistas em Portugal, dissertou sobre as funções cerebrais ao nível do córtex. «Este orador chamou a atenção para o facto de nos irmos envergonhar mais tarde com o que se sabia naquela altura, porque o que sabemos hoje estará desatualizado no futuro. É assim que se faz ciência, dizia ele», recordou Miguel Rodrigues. No 2.º Congresso, em 2008, o Prof. João Lobo Antunes, neurocirurgião e fundador do Instituto de Medicina Molecular, alertou para a possibilidade de manipulação dos dados. «A Ciência pode ser corrupta e o nosso saber nunca está completo», afirmou. Já em 2010, no 4.º Congresso, o Prof. Manuel Sobrinho Simões, patologista, presidente e fundador do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade Porto (IPATIMUP), apontou perspetivas para o futuro da Medicina: «Teremos a terapêutica genética, melhores e mais duradouros transplantes e a Medicina regenerativa», disse.

Em jeito de homenagem, o Prof. José Manuel Silva (bastonário da Ordem dos Médicos) entregou o prémio «Entre Margens» ao Prof. Castro Lopes – ao centro –, que foi instituído pela SPAVC neste Congresso e tem por objetivo homenagear personalidades com um percurso relevante na área do AVC. Na mesa da sessão de abertura, também estiveram o Prof. Nuno Sousa (diretor do Curso de Medicina da Universidade do Minho), o Prof. José Ferro (presidente da Comissão Científica do Congresso) e a Dr.ª Marta Carvalho (presidente da Comissão Organizadora) – da esq. para a dta.

Em 2011, no 5.º Congresso, o Prof. Daniel Serrão, patologista e conhecido pelo seu trabalho na área da bioética, abordou os problemas éticos da ciência. No ano seguinte, segundo recordou o tesoureiro da SPAVC, o Prof. Alexandre Quintanilha, físico português de renome internacional, afirmou que, no futuro, vão impor-se «a biónica, a vida mais longa, a vida sintética e os medicamentos personalizados». No 7.º Congresso Português do AVC, em 2013, D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa, alertou: «A sociedade atua demasiado tarde no AVC.» Já em 2014, foi a vez do Prof. Fernando de Pádua, o mais icónico cardiologista português, defender que, em Medicina, «há sempre algo inacabado». No ano passado, Luís Portela, presidente do laboratório Bial, sublinhou que «é necessária mais investigação na área das Neurociências».

10 números de 10 congressos 229 moderações ou presidências 119 palestrantes nacionais 55 palestrantes estrangeiros 170 horas totais de programação

científica

216 comunicações orais apresentadas

274 pósteres apresentados 25 simpósios da indústria

farmacêutica e de equipamentos

38 prémios atribuídos 6 082 inscrições totais 675 inscrições por congresso

(em média)

Homenagem ao Prof. Castro Lopes A sessão de abertura do 10.º Congresso Português do AVC, no dia 4 de fevereiro, ficou marcada pela homenagem ao presidente da SPAVC desde a sua fundação – o Prof. Castro Lopes. As palavras de reconhecimento começaram por ser proferidas pelo Prof. Manuel Correia, presidente da Assembleiageral da SPAVC, que enalteceu os momentos mais importantes da carreira de Castro Lopes, a quem sucedeu na direção do Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António.

O Prof. José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos, também partilhou algumas palavras: «Quero dar os parabéns ao Prof. Castro Lopes por todo o seu percurso de vida e também na SPAVC. Todos presamos muito o seu caminho como médico e como cientista. Nestes dez anos à frente da SPAVC, enaltecemos todo o dinamismo que lhe emprestou, com empenho, dedicação e capacidade humana de mobilização e reconhecimento técnico e científico.» Maio de 2016 | 11


KNOW-HOW Reuniões/formação

Diferentes ações para prevenir o AVC isquémico

O

10.º Congresso Português do AVC abriu com a sessão conjunta da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar com a SPAVC, dedicada ao tema «Prevenção do AVC isquémico». A importância de controlar os fatores de risco ditou que a primeira palestra fosse subordinada às intervenções não farmacológicas, pela voz do Dr. Fernando Pita, coordenador da Unidade de Neurologia do Departamento de Medicina do Hospital de Cascais. Este especialista enumerou as causas de AVC: «Tabagismo, dieta não saudável, ausência de atividade física regular, excesso de calorias e de sal – fatores suscetíveis de uma abordagem não farmacológica prioritária.» Fernando Pita defendeu o regresso à dieta mediterrânica para «equilibrar o consumo calórico com a atividade física, aumentar o consumo de vegetais, futas, cereais integrais, peixe e marisco, reduzindo o consumo de sódio, gorduras saturadas e alimentos com adição de açúcar». A eficácia desta dieta reflete-se «na redução da pressão arterial e na melhoria do perfil lipídico e da função endotelial», declarou, apontando uma consequente «redução do risco de AVC em 40%». De seguida, o Prof. Luís Alves, médico na Unidade de Saúde Familiar Santo André de Canidelo, abordou o papel das intervenções

Prof. Mário Espiga de Macedo, Prof. Castro Lopes (presidente), Prof. Luís Alves e Dr. Fernando Pita (no púlpito)

farmacológicas na prevenção primária, salientando que os medicamentos acarretam sempre perigos. «É o balanço entre o risco relativo e o risco absoluto que temos de considerar», observou, antes de concretizar algumas abordagens terapêuticas. «As estatinas demonstraram eficácia na redução do AVC isquémico», frisou Luís Alves, referindo também o papel dos fibratos no tratamento da dislipidemia, ressalvando, no entanto, que a eficácia destes fármacos na prevenção primária do AVC isquémico não está estabelecida. Este preletor não deixou de discutir ainda o papel dos fármacos anticoagulantes e antiplaquetários. Por fim, o Prof.

Mário Espiga de Macedo, coordenador nacional para as doenças cardiovasculares, falou sobre a gestão da politerapia no doente de alto risco. Segundo este cardiologista, o trabalho do médico deve começar antes de o risco ser elevado, focando-se na hipertensão arterial. «Temos um bilião de hipertensos a nível global, responsáveis por 54% dos AVC, 47% da doença isquémica do coração e 7,6 milhões de mortes prematuras. Não chega lançar fármacos e aparelhos novos. É preciso mudar as condições sociodemográficas e económicas da população e haver coordenação para a saúde ao nível do poder local e nacional», alertou. João Paulo Godinho

Opiniões

Fatores preditivos na recuperação do AVC

Prof. Gert Kwakkel

Diretor do Departamento de Medicina da Reabilitação do VU University Medical Centre Amsterdam, na Holanda | Preletor da conferência «Resultados preditivos de atividade pós-AVC»

C

onhecer os fatores preditivos da recuperação neurológica espontânea após o AVC é essencial. Precisamos de saber o que se passa com o doente para podermos desenhar um plano de reabilitação e,

12 | Stroke.pt

sobretudo, selecionar as intervenções mais adequadas. Perante o prognóstico da evolução funcional do membro superior, por exemplo, podemos basear-nos no algoritmo SAFE, um marcador clínico que analisa a capacidade de o doente fazer a extensão voluntária dos dedos, nos três primeiros dias após o evento. Um retorno precoce da extensão do dedo, sobretudo nas 48 horas depois, reflete um retorno prematuro do membro. Os doentes que não conseguiram mostrar extensão do dedo nas primeiras 72 horas podem consegui-lo nas horas subsequentes, o que vai mostrar maior destreza nos seis meses seguintes. Quando os doentes são monitorizados semanalmente, mostram que a janela de tempo crítico deste retorno espontâneo é restrita às primeiras 12 semanas pós-AVC. Esta monitorização é importante na recuperação de outras atividades neurológicas, como a visão e a fala. Comparável ao mem-

bro superior, os determinantes clínicos para a capacidade de andar, quando avaliados no prazo de 72 horas após o AVC, envolvem a capacidade de estar sentado e ter equilíbrio e força nos membros. Sobre os resultados a longo prazo (mais de um ano pós-AVC), os estudos mostram que os doentes que têm fadiga ou sofrem de depressão são candidatos prováveis a uma deterioração da sua capacidade de andar no período de um para três anos após o AVC. Esta informação é muito importante para o desenho de estudos. Seria relevante estratificar os doentes de acordo com determinado fator preditivo para melhor sustentar o procedimento terapêutico e avaliar se se está perante um bom ou um mau prognóstico de recuperação. Acredito que este é o próximo passo. Também chamo a atenção para a importância de as guidelines incluírem estes procedimentos, de forma a facilitar a avaliação do outcome dos doentes.


10.º CONGRESSO PORTUGUÊS DO AVC

ANIVERSÁRIO

A ligação à Sociedade Portuguesa de Cardiologia

A

sessão conjunta da SPAVC com a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), realizada no dia 5 de fevereiro, começou com a assinatura de um protocolo entre as duas sociedades. «Este é um momento particularmente importante e que nos permite reforçar a consideração pela Cardiologia, cujos passos têm sido por nós seguidos, naquilo que às doenças vasculares diz respeito», salientou o Prof. Castro Lopes, presidente da SPAVC. O Dr. Miguel Mendes, presidente da SPC, também elogiou a parceria: «Cumpre-me saudar a ideia que permitiu estreitar ainda mais uma relação que é comum no dia a dia dos hospitais, em que cardiologistas e neurologistas colaboram no tratamento dos doentes com AVC.» A sessão prosseguiu com uma alocução de Miguel Mendes sobre o impacto do AVC, quer na incapacidade que provoca nos doentes que o sofrem, quer no contributo para os elevados números da mortalidade em Portugal. O também diretor do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental/ /Hospital de Santa Cruz reforçou que «é possível reduzir as prevalências do enfarte agudo do miocárdio e do AVC, mas há um trabalho enorme que é preciso desenvolver». Por esse motivo, lançou o repto: «Estamos a contemplar o futuro e as novas possibilidades terapêuticas,

Prof.ª Ana Catarina Fonseca, Dr. Miguel Mendes (presidente), Prof. Castro Lopes (presidente) e Dr. António Hipólito Reis (da esq. para a dta.)

que ainda não estamos a realizar no dia a dia. É preciso dar esse salto e traduzir o conhecimento em maiores benefícios para a população e para o País.» Seguiu-se a intervenção da Prof.ª Ana Catarina Fonseca, neurologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria, que referiu a dificuldade em delimitar, atualmente, áreas estanques entre as diferentes especialidades médicas. «Muitas patologias do sistema nervoso acabam por se manifestar ao nível cardíaco e vice-versa.» Esta oradora demonstrou que «muitos dos doentes com AVC têm diagnóstico prévio de fibrilhação auricular». Contudo, «apenas

uma pequena fração destes doentes recebe terapêutica anticoagulante». Por sua vez, o Dr. António Hipólito Reis, responsável pela Unidade de Arritmologia do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António e presidente da Associação Portuguesa de Arritmologia, Pacing e Eletrofisiologia (APAPE), abordou os avanços nesta área, sublinhando: «Os anticoagulantes são muito eficazes no tratamento da fibrilhação auricular, têm grande tolerabilidade, menos interferência com outros fármacos e com alimentos e menor probabilidade de hemorragia cerebral.» Paula Ferreira Fernandes

Novos métodos de imagem no AVC isquémico

Prof. Rüdiger von Kummer

Diretor do Departamento de Neurorradiologia do University Hospital Carl Gustav Carus, em Dresden, na Alemanha | Preletor da conferência «New methods of brain imaging in stroke»

A

evidência científica recentemente proporcionada por cinco ensaios clínicos randomizados e controlados aponta que

a terapêutica endovascular permite reduzir entre 14 a 31% o risco de morbimortalidade em doentes que sofreram um AVC isquémico. Mas, para que estes resultados expressivos fossem alcançados, foi essencial o contributo das novas técnicas de neuroimagem. Neste âmbito, destacam-se, desde logo, a angiotomografia computorizada (angio-TAC), a angiografia por ressonância magnética e a angiografia de subtração digital, que permitem examinar os vasos cerebrais. Um passo importante prende-se com a realização de exames de imagem que permitem detetar a existência de trombos. Atualmente, está demonstrado que, com recurso à tomografia axial computorizada (TAC) sem contraste e com cortes finos, é possível identificar a existência de oclusão trombótica nas artérias principais com uma precisão de quase 100%.

«A terapêutica endovascular permite reduzir entre 14 a 31% o risco de morbimortalidade em doentes que sofreram um AVC isquémico» Outro avanço significativo reside no facto de dispormos agora de meios para aumentar o contraste. Ao realizar uma TAC, por exemplo, podemos selecionar um determinado segmento e expandir o contraste – aquilo que designo de zoom de contraste –, por forma a poder identificar melhor a possível existência de edema isquémico. Finalmente, temos também ao nosso dispor sofisticadas ferramentas informáticas, que possibilitam o reconhecimento e a medição da área de penumbra isquémica. Maio de 2016 | 13


KNOW-HOW Reuniões/formação

Preparar o sistema para a intervenção endovascular

Prof.ª Elsa Azevedo (presidente), Prof. Carlos Molina, Prof.ª Natália Pérez de la Ossa e Prof. Miguel Viana Baptista (presidente) – da esq. para a dta.

A

sessão «Cadeia de cuidados no AVC agudo» contou com a participação de dois oradores espanhóis, que trouxeram o exemplo catalão, onde há vários anos se implementou uma estratégia ao nível hospitalar, com vista a melhorar a assistência prestada aos doentes. A Prof.ª Natália Pérez de la Ossa, neurologista na Unidade de AVC do Hospital Universitário Germans Trias i Pujol, em Barcelona, falou sobre a otimização do tempo e a organização dos cuidados. Num mo-

Momentos do Congresso

mento em que a comunidade médica se depara com novas possibilidades terapêuticas na área do AVC, esta neurologista deixou pistas sobre como o sistema hospitalar se deve articular para dar resposta à nova realidade. No AVC, a rapidez de atuação é crucial e «está demonstrado que, quanto mais tarde as pessoas acedem ao tratamento, menos benefício têm». Segundo esta oradora, nem todos os hospitais estão preparados para realizar a trombectomia mecânica, que é tecnologicamente mais avançada do que as restantes intervenções no AVC, com recurso ao cateterismo endovascular. Por isso, Natália de la Ossa defende que se deve apostar mais na sensibilização para a identificação do doente com indicação para este tratamento. Outro aspeto a melhorar em Barcelona, segundo esta especialista, é o transporte dos doentes com necessidade de trombectomia mecânica, assim como «é necessário abrir novos centros e salas de tratamento». Por seu turno, o Prof. Carlos Molina, diretor da Unidade de AVC e Hemodinâmica Cerebral do Hospital Universitário Vall d’Hebron, em Barcelona, abordou o impacto das várias terapêuticas disponíveis. Há cerca de 20 anos, a terapêutica intravenosa começou a ser utilizada, implicando a reorganização dos hospitais. «Foi quase como um tsunami, que arrastou consigo a implementação de novas unidades de AVC», lembrou este especialista. Neste momento, «atravessa-se um tsunami ainda maior – o tratamento endovascular». Esta abordagem «já demonstrou, de forma consistente e clara, que é adequada para alguns AVC mais graves, que envolvem maior défice neurológico e elevada carga social, emocional e económica», continuou Carlos Molina. A inovação introduzida pela terapêutica endovascular é tal que implica uma mudança na forma de tratar os doentes, dentro e fora do hospital. Em Barcelona, por exemplo, «a rede está organizada para ser o mais eficiente possível para o doente, para os profissionais e para o sistema de saúde». Paula Ferreira Fernandes


10.º CONGRESSO PORTUGUÊS DO AVC

ANIVERSÁRIO

A perigosa relação entre o AVC e a diabetes

N

o papel de anfitrião da sessão conjunta entre a SPAVC e a Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD), que decorreu no dia 5 de fevereiro, o Prof. Castro Lopes fez uma breve introdução. «Em 2006, elegeram-se cinco fatores de risco major para a doença vascular cerebral: a hipertensão arterial, o tabagismo, o sedentarismo, a fibrilhação auricular [FA] e a diabetes.» Contudo, como refere o presidente da SPAVC, «a diabetes assumiu uma proporção maior do que aquela que se podia imaginar, logo, fez todo o sentido trazê-la para discussão no Congresso Português do AVC». O Prof. José Luís Medina, presidente da SPD, elogiou o seu homólogo pela iniciativa e afirmou: «A diabetes é uma doença que, pelos múltiplos fatores de risco que acarreta, eleva o risco de FA e AVC. Sabe-se que as pessoas com a diabetes mal controlada têm maior probabilidade de sofrer complicações, quer microvasculares quer macrovasculares, que evoluem sem qualquer tipo de vigilância. Em Portugal, no ano de 2014, verificou-se uma prevalência de diabetes de 13,1%, dos quais 7,4% já diagnosticada e 5,7% não diagnosticada. Entre os doentes internados por AVC, mais de um quarto tinha diabetes.» Para apresentar a realidade desta doença no nosso País, o Dr. Luís Gardete Correia, presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), socorreu-se do relatório, conhecido em novembro último, do Observatório Nacional da Diabetes, entidade a que também preside. «Neste momento, cerca de 13% da população portuguesa, entre os diagnosticados e os não diagnosticados, tem diabetes. Todos os anos, surgem 60 mil novos casos de diabetes tipo 2 e, se contarmos com os pré-diabéticos, o número sobe para mais de 40%.» Os custos relacionados com esta problemática são de relevo: «Em 2014, foram gastos mais de 240 milhões de euros em medicamentos para a diabetes e 250 milhões de euros em internamentos.» Seguiu-se a intervenção do Prof. João Raposo, diretor clínico da APDP, que falou sobre a importância dos rastreios da diabetes e da pré-diabetes em doentes com AVC. «Só o facto de o doente ter diabe-

Profs. Pedro von Hafe, João Raposo, José Luís Medina (presidente), Castro Lopes (presidente) e Dr. Luís Gardete Correia (da esq. para a dta.)

tes aumenta em 52% o risco de AVC.» Além disso, «a hiperglicemia no internamento não é uma condição benigna ou negligenciável, pelo que o seu tratamento está indicado em doentes que não são considerados críticos». Nestes casos, «a insulina é a opção adequada e o período de internamente pode e deve constituir uma mais-valia para educação terapêutica», reforçou este orador. Por último, o Prof. Pedro von Hafe, internista no Centro Hospitalar de São João, abordou a relação entre o AVC, a FA e a diabetes. Cerca de 15% dos AVC são cardioembólicos e estão relacionados com a FA. Por sua vez, «a FA está associada a 20% da taxa de mortalidade e a 60% da incapacidade e da morbilidade provocadas pelos AVC». Além disso, «a própria diabetes é, por si só, um fator de risco para o AVC embólico», avançou este especialista. Paula Ferreira Fernandes


KNOW-HOW Reuniões/formação

Fase de adaptação às alterações motivadas pela trombectomia mecânica já amanhã. A rede ideal, percebendo melhor a demografia do País, onde ocorrem mais AVC e a capacidade dos vários centros hospitalares, pode ficar para o médio prazo.»

A realidade europeia

Prof. Alexandre Bisdorff, Dr. Jaime Rocha (presidente), Dr. Manuel Ribeiro e Prof. Vitor Oliveira (presidente)

«Estamos prontos para as novas recomendações na trombectomia?» foi a questão que deu mote a uma das sessões mais participadas do 10.º Congresso Português do AVC, no dia 5 de fevereiro. As mudanças impostas pela implementação da trombectomia mecânica percorrem vários países e os especialistas desta área reclamam a necessidade de reorganizar os serviços e os profissionais, com o objetivo de aproveitar ao máximo os benefícios deste tratamento para a fase aguda do AVC isquémico. João Paulo Godinho

A

adaptação à nova realidade criada pela trombectomia mecânica (TM) no tratamento do AVC esteve em destaque no último Congresso da SPAVC, nomeadamente na sessão presidida pelo Dr. Jaime Rocha, diretor do Serviço de Neurorradiologia do Hospital de Braga, e pelo Prof. Vitor Oliveira, neurologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia. Nesta sessão, a realidade nacional foi comentada pelo Dr. Manuel Ribeiro, neurorradiologista de intervenção no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, com a preleção intitulada «Existe capacidade em Portugal para realizar todos os procedimentos intra-arteriais necessários no AVC?». A resposta do especialista a esta questão foi positiva, mas com diversos alertas. «Existem meios para tratar os doentes com AVC grave, mas é necessário e importante otimizá-los, ou seja, criar condições para que os profissionais e os serviços que têm capacidade possam efetuar os tratamentos intra-arteriais 24 horas por dia e 365 dias por ano. No entanto, esta não é a realidade atual do nosso País.» 16 | Stroke.pt

Face à inexistência de uma rede eficaz dos centros com esta terapêutica, Manuel Ribeiro reiterou a premência de partir para a ação. «A cada 15 minutos de atraso no tratamento, a probabilidade de o doente com AVC ter uma recuperação positiva reduz em 10%. Tempo é cérebro!», salientou o neurorradiologista. E partilhou as suas sugestões para mudar o paradigma atual: «O que temos de fazer imediatamente é tratar os doentes de forma organizada. Com os recursos disponíveis, devemos organizar a rede e perceber como vamos encaminhar os doentes a qualquer hora e dia da semana. O importante é criar a rede possível e isso deveria acontecer

O Prof. Alexandre Bisdorff, do Departamento de Neurologia do Centro Hospitalar Emile Mayrisch, no Luxemburgo, e presidente do Secção de Neurologia da União Europeia de Médicos Especialistas (UEMS, na sigla original em francês), apresentou a visão europeia sobre o tratamento com a TM. «Até agora, as pessoas estão a ter dificuldades de adaptação às mudanças introduzidas pela TM. Mas esta novidade não vai afetar a formação da maioria dos médicos que se dedica ao AVC, porque implica um treino altamente especializado apenas para alguns. Para os restantes médicos, julgo que a principal diferença passa pela reestruturação da organização em torno do AVC. Neste momento, talvez à exceção da Holanda e da Áustria, nenhum país europeu consegue assegurar um acesso rápido à trombectomia para todos os doentes que dela necessitam», afirmou. Instado pela assistência a explicar as razões das dificuldades de adaptação às novas recomendações na TM, Alexandre Bisdorff apontou vários motivos. «A formação sobre uma nova intervenção não é algo que se possa fazer em dois fins de semana; é mais um treino de dois anos. Uma das discussões em aberto é quem deve fazer este procedimento. De momento, são predominantemente os radiologistas com treino em neurorradiologia, mas há a dúvida se essa resposta será suficiente no futuro e se os médicos de outras especialidades devem também ter acesso a esta formação», exemplificou. Em jeito de conclusão, o neurologista luxemburguês indicou um horizonte temporal de «cinco anos até que a realização da TM esteja adequadamente consolidada».

O problema das assimetrias regionais A reorganização do modelo de assistência na trombectomia mecânica (TM) enfrenta o problema das assimetrias regionais. De acordo com Manuel Ribeiro, «a equidade de tratamento deve ser o objetivo, mas nunca estará assegurada». Considerando esta realidade «um problema transversal a todos os países», este neurorradiologista defendeu que se deve pugnar pelo «equilíbrio entre a proximidade e a qualidade do tratamento». No entanto, Alexandre Bisdorff admitiu que a equidade de acesso à TM «é um objetivo difícil de atingir em todas as regiões», principalmente devido aos obstáculos ao transporte dos doentes com a rapidez necessária.


10.º CONGRESSO PORTUGUÊS DO AVC

ANIVERSÁRIO

Formação de base em patologia vascular cerebral

O

programa científico do 10.º Congresso Português do AVC culminou, no dia 6 de fevereiro, com o já habitual Curso de AVC, que este ano voltou a revelar-se «um sucesso, em virtude do elevado número de inscrições», como salienta o seu coordenador, Dr. Fernando Pita. O também coordenador da Unidade de Neurologia do Depar-

tamento de Medicina do Hospital de Cascais (HC) lembra ainda que esta é uma «iniciativa formativa de base», que incide sobre os tópicos-chave relativos à avaliação, ao diagnóstico e ao tratamento do AVC. Este curso dirige-se, sobretudo, «aos internos que estão a dar os primeiros passos nas especialidades envolvidas no tratamento da patologia vascular cerebral». Com um programa «que se tem mantido estável desde a primeira edição», em 2013, embora alvo das «devidas atualizações, que pretendem acompanhar o estado da arte deste campo da Medicina», como afirma Fernando Pita, a edição deste ano arrancou com a preleção do Prof. Castro Lopes, presidente da SPAVC, sobre «a necessidade de se empregar a nomenclatura correta». Seguiuse a intervenção do Dr. Miguel Rodrigues, tesoureiro da SPAVC e coordenador da Unidade de AVC do Hospital Garcia de Orta, em Almada, sobre «epidemiologia e fatores de risco vascular». A anatomia vascular e a fisiopatologia do AVC foram abordadas, por seu turno, pelo próprio coordenador do curso.

Já no respeitante à vertente clínica, a Dr.ª Carla Ferreira, coordenadora da Unidade de AVC do Hospital de Braga, versou sobre o AVC na fase aguda, ao passo que a Dr.ª Isabel Fragata, neurorradiologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central/Hospital de São José (CHLC/HSJ), se focou na imagem «como meio de diagnóstico e, cada vez mais, de intervenção». «Foram estes os dois principais momentos em que se falou sobre a “revolução” terapêutica da trombectomia mecânica», frisa Fernando Pita. Em seguida, o Dr. Manuel Manita, neurologista no CHLC/HSJ, debruçou-se sobre a «investigação etiológica básica e sequencial», enquanto a Dr.ª Cátia Carmona, neurologista no HC, discorreu sobre o acidente isquémico transitório. Finalmente, a «importância da prevenção secundária» foi sublinhada pela Dr.ª Ana Amélia Pinto, neurologista no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora. «Abrindo espaço à discussão, este curso incluiu ainda uma avaliação final, visto tratar-se de uma formação creditada», conclui o coordenador. Ana Rita Lúcio

Exemplos valem mais que mil palavras

E

legendo a sensibilização da sociedade civil para a urgência do combate ao AVC como uma das suas principais bandeiras, a SPAVC encerrou o seu 10.º Congresso com a já habitual Sessão de Informação à População. Inaugurada pela intervenção do Prof. Castro Lopes, presidente da SPAVC, que versou sobre os sinais de alerta e as medidas a tomar em caso de suspeita de AVC, esta sessão contou também com o testemunho de doentes que foram acometidos por esta que é a principal causa de morte em Portugal. Passando das palavras à ação, Rui Barros, professor de Educação Física, convidou os participantes a praticar exercícios físicos (1) que podem ajudar a diminuir o risco vascular. Depois de a Dr.ª Sandra Alves, nutricionista, ter sublinhado a importância de adotar hábitos de alimentação saudável, o chef Fábio Bernardino, auxiliado pelo Prof. Castro Lopes, mostrou como preparar refeições para doentes com disfagia no pós-AVC, adaptadas às suas necessidades e igualmente apetitosas (2). No final, todos provaram as iguarias confecionadas e juntaram-se para a fotografia de grupo (3).

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Maio de 2016 | 17


KNOW-HOW Reuniões/formação

Forte participação nas atividades do Dia Nacional do Doente com AVC Este ano, as atividades que assinalaram o Dia Nacional do Doente com AVC (31 de março) percorreram Portugal de lés-a-lés, entre 28 de março e 16 de abril. A população aderiu em força e mostrou interesse em conhecer os fatores de risco, os sintomas e as estratégias preventivas do AVC nas iniciativas dinamizadas por centenas de profissionais de saúde dedicados a esta patologia nos diversos pontos do País, com o apoio da SPAVC.

CHAVES

Rastreios, alertas e exercício físico

N

o dia 31 de março, uma tenda montada pelo Exército Português no Largo General Silveira acolheu todos os flavienses que quiseram rastrear os seus fatores de risco para AVC. O Dr. Roberto Ribas, médico na Unidade de Saúde Familiar Aquae Flavie, coordenou a ação. «Estamos aqui para elucidar as pessoas sobre os fatores de risco e sobre o que é o AVC. Ao nível dos sinais de alarme, chamamos a atenção para os três F (face, força e fala). As pessoas têm de perceber que, mediante estes sinais, devem ligar o 112, porque pode ser possível reverter o

AVC», frisou. Durante todo o dia, 25 médicos, três nutricionistas e vários enfermeiros da região de Trás-os-Montes realizaram os rastreios e deram conselhos à população. Pelas 15h00, o auditório da Biblioteca Municipal de Chaves ficou repleto para ouvir as palavras de sensibilização do Prof. Castro Lopes, presidente da SPAVC, que alertou para o facto de esta zona do País registar uma incidência significativa de AVC. O tratamento desta patologia evoluiu muito e, hoje, é possível tratar mais pessoas, no entanto, «a população também tem de cumprir o seu

Esclarecer para combater

mogadouro 18 | Stroke.pt

A

DR

papel, apostando numa alimentação saudável e na prática diária de exercício físico», advertiu Castro Lopes, acrescentando que «é muito importante reconhecer os sintomas do AVC e atuar de forma rápida». Nesse sentido, no final da sessão de esclarecimento, foi exibido um vídeo realizado por médicos da região que simulava a ocorrência de AVC e como atuar. De regresso ao exterior, decorreu uma aula de zumba, que foi bastante participada. Este dia dedicado ao AVC terminou com uma caminhada pelo percurso pedonal do rio Tâmega, na qual «participaram cerca de 500 pessoas», segundo a Dr.ª Sandra Alves, médica no Centro de Saúde de Montalegre e responsável pela organização das atividades em Chaves.

Unidade de Cuidados Continuados Integrados de Mogadouro organizou uma ação de esclarecimento à população, no dia 30 de março. O Dr. Jorge Poço, responsável pela área de AVC na Unidade Local de Saúde do Nordeste, foi um dos oradores e sublinha: «Foi com muito gosto que participei em mais esta ação de sensibilização. Tentámos passar as mensagens mais importantes relacionadas com a gravidade da doença e a importância de controlar os seus fatores de risco.» Quando se fala em hipertensão arterial, colesterol, diabetes, tabagismo, sedentarismo e obesidade, é inevitável frisar «o facto de ser possível controlar o rumo dos acontecimentos». No entanto, os profissionais de saúde não podem fazer tudo: «Está nas mãos das próprias pessoas reverter a situação e prevenir o AVC», reforçou Jorge Poço. Por isso mesmo, no final das palestras, os médicos responderam às várias perguntas colocadas pela assistência.


MACEDO DE CAVALEIROS

Zona de bom fumeiro – atenção ao sal!

O

Jardim 1.º de Maio, em frente à Câmara Municipal, foi o palco das principais ações desenvolvidas nesta cidade do distrito de Bragança, no dia 31 de março. Logo pelas 9 horas, as baixas temperaturas não impediram que os primeiros interessados em saber mais sobre o AVC, além de terem a possibilidade de conhecer os seus fatores de risco, afluíssem à tenda montada para o efeito. «Já fazemos estas campanhas há cerca de dez anos no distrito de Bragança, com o apoio da SPAVC. Em cada ano, o número de profissionais de saúde envolvidos é significativo – ronda os 20, incluindo médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e enfermeiros», introduziu o Dr. Jorge Poço, responsável pela área de AVC na Unidade Local de Saúde do Nordeste. Na opinião deste médico, mais importante do que avaliar os parâmetros, é conversar com as pessoas, sensibilizando-as para a relevância de conhecer e controlar os fatores de risco. «É isso que marca a diferença em relação a outros rastreios.» Ao longo dos anos, nestas ações do Dia Nacional do Doente com AVC, têm surgido alguns casos preocupantes, o que reforça a sua importância. «Nesta zona, detetamos com frequência hipertensão arterial e elevado perímetro abdominal. Entre outros fatores, alertamos as pessoas para os malefícios do consumo excessivo de sal, dado que aqui os enchidos, fumados e conservas dominam a alimentação», frisa a Dr.ª Teresa Gomes, nutricionista na Unidade Local de Saúde do Nordeste.

No movimento é que está o ganho

S

ob o mote «Parar não é opção», no dia 31 de março, decorreu uma sessão de exercício físico na Unidade de AVC da Unidade Local de Saúde do Alto Minho/Hospital de Santa Luzia (ULSAM/HSL). Destinada aos doentes aqui internados e seus familiares, « o objetivo desta ação foi transmitir que, depois do AVC, o doente tem capacidade para manter alguma independência e deve ser estimulado nesse sentido», explicou Paula Araújo, enfermeira-chefe da Unidade de AVC. Já no dia 2 de abril, a prioridade foi passar a mensagem à população, com a realização de rastreios no Estação Viana Shopping, onde médicos, enfermeiras e nutricionistas avaliaram a pressão arterial, a glicemia capilar, o peso, o perímetro abdominal e o índice de massa corporal a perto de 70 pessoas, aproveitando para as elucidar sobre o AVC e a implementação de estilos de vidas saudáveis. Além disso, a rádio local Geice emitiu um programa de cerca de uma hora,

viana do castelo

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no qual intervieram vários profissionais da Unidade de AVC da ULSAM/ /HSL e da Equipa de Cuidados Continuados Integrados (ECCI) de Viana do Castelo, incluindo Paula Araújo, que justifica: «O intuito foi divulgar os sinais de alerta desta patologia e explicar a prevenção e o tratamento, bem como todo o circuito dos doentes, desde a entrada no hospital até ao regresso a casa.»

santo tirso

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Resposta imediata às dúvidas

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que é o AVC? Que órgão afeta? Quais os primeiros sintomas? O que contribui mais para o seu aparecimento? É uma doença que pode ser prevenida? Estas foram algumas das questões a que cerca de 100 pessoas responderam enquanto esperavam pela sua consulta na Unidade de Saúde Familiar (USF) Ponte Velha, no dia 31 de março. Depois, os internos de Medicina Geral e Familiar presentes na ação receberam os questionários preenchidos e analisaram as respostas em conjunto com os utentes, aproveitando para transmitir mais conhecimento so-

bre a patologia que mais mata em Portugal. «O facto de receberem feedback de imediato foi útil e deixou as pessoas – que não tinham noção de vários aspetos relacionados com o AVC – bastante satisfeitas. Julgo que a mensagem realmente passou. Além disso, no final, os doentes levaram o folheto informativo disponibilizado pela SPAVC», referiu a Dr.ª Joana Araújo, coordenadora desta USF. Quem ali entrou teve ainda a possibilidade de assistir a vídeos com conteúdos explicativos, também desenvolvidos pela SPAVC. Maio de 2016 | 19


KNOW-HOW Reuniões/formação

Avaliação minuciosa e completa

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Serviço de Neurologia da Unidade Local de Saúde de Matosinhos/Hospital Pedro Hispano (ULSM/HPH) assinalou esta efeméride com a realização de rastreios e sessões formativas no hall de entrada do Hospital Pedro Hispano, que deviam ter terminado às 17h00, mas a afluência de cerca de 150 pessoas levou a que o horário se estendesse até às 19h00. «A medição da pressão arterial e do índice de massa corporal ou a auscultação carotídea fizeram parte de um primeiro despiste. Já os doentes com vários fatores de risco realizaram um eco-Doppler carotídeo e, no caso de apresentarem arritmia, um eletrocardiograma. A realização destes exames permi-

matosinhos

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tiu encontrar, por exemplo, um doente com fibrilhação auricular e muitos com pressão arterial elevada, condições que desconheciam», sublinhou o Dr. Paulo Coelho, neurologista na ULSM/HPH. A par dos rastreios, os profissionais de saúde envolvidos transmitiram mensagens de sensibilização, para a importância do

Caminhar pela vida

COIMBRA DR

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data da caminhada «Entre Margens», que visou assinalar o Dia Nacional do Doente com AVC em Coimbra, teve de ser adiada, devido a condições metrológicas adversas, mas, no dia 16 de abril, embora

São Pedro também não tivesse brindado a cidade com um verdadeiro tempo de Primavera, a chuva não travou os vários cidadãos que se encontraram às 9h00 no Choupal, para um passeio junto ao rio Mondego, ao

Foco no envelhecimento ativo

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longo do qual puderam aproveitar o contacto com a natureza. O Dr. João Sargento Freitas, neurologista na Unidade de AVC do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, mostrou-se satisfeito por se ter realizado, finalmente, esta caminhada simbólica, depois de, no dia 31 de março, a aposta ter recaído em sessões de esclarecimento à população. «Decorreram três ações informativas ao longo da tarde, durante o período das visitas aos doentes internados, com apresentações sobre o tratamento e a prevenção do AVC, seguidas de momentos de discussão bastante participados pela assistência», resumiu. A premência de ligar para o 112 na presença de sinais suspeitos de AVC e a adoção de estilos de vida saudáveis foram algumas das mensagens transmitidas.

SÃO MARTINHO DO BISPO

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ma sessão de educação para a saúde sobre os benefícios da atividade física; exposições de materiais educativos sobre os fatores de risco do AVC e de testemunhos de doentes com esta patologia e seus cuidadores; a exibição de ervas aromáticas e receitas saudáveis e a projeção de vídeos sobre envelhecimento ativo, disfagia ou atividade física em grupo foram as iniciativas organizadas pelo Centro de Saúde de São Martinho do Bispo (CSSMB) no dia 5 de abril, com o intuito de sensibilizar a população para o AVC. «Realizou-se ainda uma caminhada na Mata do Choupal, que contou com a participação de cerca de 20 pessoas inscritas no projeto de promoção do envelhecimento ativo da Unidade de Cuidados na Comunidade do CSSMB», explicou a enfermeira de reabilitação Ana Morais. As atividades decorreram durante todo o dia e, além de serem abertas a toda a comunidade, três centros de dia da área de abrangência do CSSMB levaram dez idosos cada.

AVC, da sua prevenção, bem como para os sinais de alerta e para a importância da Via Verde do AVC, realçando a possibilidade da reversibilidade, pelo menos parcial, dos défices e da incapacidade. Por sua vez, as duas nutricionistas presentes prestaram aconselhamento nutricional, incentivando a estilos de vida mais salutares.

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lisboa

Receitas para uma vida saudável

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m Lisboa, o Dia Nacional do Doente com AVC foi assinalado em dois hospitais, a 31 de março. No Centro Hospitalar Lisboa Norte/ /Hospital de Santa Maria, o chef Fábio Bernardino fez uma demonstração culinária dirigida a doentes e visitantes, que decorreu entre as 11h00 e as 12h00. «Apresentei receitas saudáveis, confecionadas apenas com ingredientes frescos e optei pelo uso de ervas aromáticas e de especiarias em vez do sal», explicou. Presente nesta demonstração, a Prof.ª Patrícia Canhão, vice-presidente da SPAVC e neurologista na Unidade de AVC do CHLN/ /HSM, resumiu: «Esta ação correu muito bem, foi bastante interativa e pedagógica, reforçando a mensagem que quisemos transmitir: tornar o nosso estilo de vida mais saudável, reduzir a ingestão de sal e controlar os fatores de risco vascular.» Por outro lado, entre as 10h00 e as 16h00, junto à entrada principal do HSM, teve lugar uma campanha de sensibilização, que incluiu aconselhamento nutricional, ensino dos sinais de alarme de AVC e das atitudes a tomar face ao seu aparecimento. No Hospital de São José (HSJ), do Centro Hospitalar de Lisboa Central, o foco recaiu nos profissionais de saúde, com a realização de

duas sessões formativas sobre a Via Verde do AVC – uma dedicada às equipas do pré-hospitalar e outra a todos os profissionais de saúde. Segundo a Dr.ª Ana Paiva Nunes, coordenadora da Unidade de AVC do HSJ, «um dos objetivos foi homenagear os vários profissionais que contribuem para o combate a esta patologia, em especial aqueles que não são tão reconhecidos, embora sejam peças fundamentais, como maqueiros, auxiliares, técnicos de várias áreas, elementos das equipas do INEM, entre outros». Além das palestras formativas, ao longo deste dia, foram oferecidas maçãs de várias cores, simbolizando as diferentes classes profissionais envolvidas no combate ao AVC, bem como panfletos informativos providenciados pela SPAVC.

Contra o AVC, rastrear e sensibilizar

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licemia, pressão arterial, índice de massa corporal e perímetro abdominal. Estes foram os parâmetros avaliados nos rastreios que tiveram lugar na cidade de Santarém. No dia 31 de março, entre as 10h00 e as 14h00, os rastreios decorreram no 2.º piso do W Shopping, onde foram avaliados 37 homens e 46 mulheres, com uma média de idades de 61 anos. Além disso, foi transmitida informação sobre os sinais de alerta de AVC e como atuar em vídeo e em folhetos, e os profissionais de saúde davam explicações sobre os fatores de risco e medidas de prevenção ao longo dos rastreios «Infelizmente, foi um número abaixo dos anos anteriores, possivelmente devido ao dia chuvoso e frio, mas correu bem», referiu o Dr. Sebastião Geraldes Barba, internista na Santa Casa de Misericórdia (SCM) de Santarém. Os rastreios à população continuaram no dia seguinte, no Hospital de Santarém. A Dr.ª Manuela Grego, internista responsável

pela Consulta de Doenças Cerebrovasculares deste hospital, com a colaboração da Dr.ª Ana Palricas, interna do Internato Complementar de Medicina Interna, avançou que, «consoante os resultados dos rastreios, foram fornecidas informações sobre o controlo dos fatores de risco cardiovascular, tendo sido algumas pessoas devidamente orien-

tadas para avaliação médica em consulta». Simbolicamente, para estimular a adoção de hábitos de vida saudáveis, foi oferecida uma peça de fruta à população rastreada. Em comparação com anos anteriores, os responsáveis por estas ações notaram uma maior consciencializaçºao das pessoas relativamente ao AVC.

santarém

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KNOW-HOW Reuniões/formação

évora

Despistar o risco em várias frentes

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Unidade de AVC do Hospital Espírito Santo (HES) promoveu rastreios à população na Praça do Geraldo, durante a manhã do dia 31 de março. Na parte da tarde, os contemplados com esta ação foram os profissionais deste hospital, desde médicos e enfermeiros, a técnicos e auxiliares. «Nunca pensei que os profissionais de saúde estivessem tão interessados em avaliar os fatores de risco de AVC, foi uma surpresa», confessou a Dr.ª Luísa Rebocho, coordenadora da Unidade de AVC do HES. E acrescentou: «Os rastreios foram idênticos, contemplando o cálculo do risco para os próximos anos, e foram também aplicados inquéritos sobre os sinais de alerta do AVC.» Na parte da manhã, os profissionais de saúde tiveram também a possibilidade de assistir a uma sessão de esclarecimento sobre as recentes orientações da Via Verde do AVC, as novas indicações para trombectomia mecânica e a organização dos cuidados nesta área. Quanto à sociedade civil, Luísa Rebocho comentou que, «embora algumas pessoas já tenham noção do que se trata, o AVC continua a ser uma matéria que não dominam, portanto, continua a existir a necessidade de aprofundar conhecimentos».

setúbal

Sensibilização «entre portas»

«A

pessoa com AVC no hospital», «processos de reabilitação e encaminhamento» e «cuidar no domicílio» foram os temas em discussão na manhã do dia 31 de março, na sessão científica dirigida aos profissionais de saúde do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS). «Os assuntos em debate foram de interesse para os participantes e o balanço foi positivo», comentou José Manuel Almeida, enfermeiro-chefe do CHS. Além disso, na mesma semana, entre 28 de março e 3 de abril, «tanto no Hospital de São Bernardo como no Hospital Ortopédico Sant’Iago do Outão, foram transmitidos, em ecrãs localizados nas salas de espera, vídeos alusivos aos fatores de risco vascular, aos «3 F» [assimetria da Face, falta de Força num braço ou lado do corpo e alteração da Fala] e à prevenção do AVC», adiantou José Manuel Almeida. Estiveram também em exposição placares informativos, nos corredores principais. Num deles, referente aos últimos dados divulgados pela Direção-Geral da Saúde, podia ler-se que, apesar das melhorias, «as doenças cardiovasculares mantêm-se como a principal causa de morte em Portugal, justificando-se que estejam no topo das prioridades do planeamento em saúde». Em 2014, só o AVC isquémico foi responsável por cerca de 20 mil episódios e 250 mil dias de internamento.

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faro

Do hospital para o mercado

«S

ensibilizar a população para a sua participação efetiva na prevenção do AVC; promover a cooperação entre os diferentes níveis de cuidados de saúde e a parceria entre a SPAVC, as instituições de saúde, os municípios e a comunidade; identificar pessoas com risco acrescido de eventos vasculares e diabetes; encaminhar os que apresentam risco elevado para a equipa de saúde; e debater a prevenção e o diagnóstico do AVC.» Estes são os principais objetivos da Unidade

de AVC do Hospital de Faro, segundo a Dr.ª Ana Paula Fidalgo, internista da equipa, que considera serem necessárias, para conseguir cumprir esses desígnios, iniciativas como as organizadas no Dia Nacional do Doente com AVC. No Mercado Municipal de Faro, entre as 8h00 e as 16h00, realizaram-se cerca de 300 rastreios, que incluíram a avaliação dos seguintes parâmetros: pressão arterial,

frequência cardíaca, glicemia, taxa de monóxido de carbono no ar expirado, índice de massa corporal, perímetro abdominal, risco de diabetes tipo 2 a dez anos e risco de doença vascular fatal a dez anos. «Não posso deixar de salientar a colaboração da Escola Superior de Saúde de Faro, que, devido à grande afluência de pessoas, mobilizou alguns professores e alunos para ajudarem a equipa de médicos, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos da nossa Unidade», frisou Ana Paula Fidalgo.

ponta delgada

População mais informada

«A

s pessoas estão muito mais alerta para o AVC, quer em termos de correção dos fatores de risco quer de tratamento agudo, percebendo a necessidade de ligar o 112 perante a eventualidade de um episódio. Já se nota uma diferença substancial. Contudo, este ano, detetámos várias pessoas com níveis elevados de pressão arterial, por exemplo, que não tinham noção disso.» Estas são palavras do Dr. José Lopes, coordenador da Unidade de AVC do Hospital de Ponta Delgada, que fazem o balanço dos rastreios levados a cabo no dia 31 de março, na baixa desta cidade açoriana. Além da avaliação de parâmetros como a pressão arterial, o colesterol ou a glicemia capilar, as cerca de 180 pessoas

que acorreram ao local, no âmbito da campanha de sensibilização, obtiveram também informações sobre os cuidados a ter em relação ao AVC, tanto em

termos de prevenção como de atuação na fase aguda. José Lopes conclui que «todas as pessoas se mostraram satisfeitas com esta iniciativa».

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