4 a 7 de maio 2017
NEWS
2.ª edição diária com distribuição gratuita no dia 6 de maio (sábado)
Atualização multidisciplinar «sem cerimónias»
A investigação das anemias (pág.2), o neurodesenvolvimento da criança (pág.6), o impacto da menopausa (pág.7) e a sexualidade na mulher (pág.12) são alguns dos temas em destaque neste terceiro dia do Update em Medicina 2017. Mantendo o seu cariz multidisciplinar e informal, este evento científico continua a bater recordes de participação, com o amplo auditório do Palácio de Congressos do Algarve repleto de médicos interessados e interventivos
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Estratégias para melhorar o diagnóstico das anemias Ajudar a interpretar o hemograma, a selecionar o melhor algoritmo de investigação e a integrar esses dados na prática clínica, de modo a conseguir escolher o exame-chave para o diagnóstico, são os objetivos da sessão «O ABC da investigação das anemias», que decorre entre as 9h00 e as 10h30. Sandra Diogo
«S
endo as anemias, na maioria dos casos, a expressão hematológica de outras doenças e um "diagnóstico" frequente na prática clínica , com prevalências que rondam os 20% na população portuguesa, a sua abordagem, novamente, numa sessão televoter faz todo o sentido», salienta a Dr.ª Joana Rosa Martins, interna de Medicina Interna no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria (CHLN/HSM) e uma das oradoras. Partindo de casos clínicos práticos, que refletem situações-tipo, a discussão será orientada para a seleção dos algoritmos de investigação que melhor permitirão, em cada subtipo de anemia, chegar a um diagnóstico etiológico, o qual, por sua vez, será determinante para a definição da terapêutica. Para o Dr. Manuel Ferreira Gomes, internista no CHLN/HSM e também orador nesta sessão, «mais do que uma doença, a anemia é um sinal/
Dr. Manuel Ferreira Gomes, Dr.ª Joana Rosa Martins e Dr. António Pedro Machado
/sintoma de outra patologia subjacente, o que implica uma investigação particular». Nos últimos tempos, têm sido publicados trabalhos sobre a sensibilidade e a especificidade de diferentes exames laboratoriais no estudo das anemias, que «reforçam a importância nuclear da história clínica e da correta interpretação do hemograma». Nesse sentido, um dos objetivos principais desta sessão televoter é o exercício da arte do diagnós-
Investigação do doente com anemia Anemia
Anemia
VS, PCR Eletroforese das Hb Ferro sérico, ferritina CTFF Vitamina 12 e ácido fólico Bilirrubinas, PH, Hapto oina ALT, AST, FA, G THH, T4L Creatinina Ecografia abdominal Pesquisa de sangue oculto nas fezes
História e exame físico Interpretar o hemograma Selecionar o 1.º algoritmo Integrar a clínica 2.º algoritmo Exame-chave Diagnóstico etiológico
ALT: aminotransferase da alanina; AST: aminotransferase do aspartato; CTFF: capacidade total de fixação do ferro; FA: fosfatase alcalina; Hb: hemoglobina; PCR: proteína C reativa; T4L: tiroxina livre; TSH: hormona estimulante da tiroide; VS: valor de sedimentação.
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tico diferencial, nomeadamente com recurso a «algoritmos que permitam a abordagem sistematizada das anemias microcíticas e normocíticas». Tal é possível «com base em exames simples, que podem ser facilmente solicitados nos cuidados de saúde primários, como os reticulócitos ou a ferritina, evitando exames supérfluos que fornecem pouca informação e têm custos elevados», especifica Joana Rosa Martins.
Treinar O RACIOCÍNIO DIAGNÓSTICO Na opinião do Dr. António Pedro Machado, internista no CHLN/HSM e também orador nesta sessão, «o hemograma é, seguramente, um dos exames mais requisitados e um dos que mais informação pode dar, desde que se saiba procurá-la». Esse é, aliás, um dos problemas que o especialista reconhece nesta área: «Existe a tentação de pedir "todas" as análises que gravitam em torno do hemograma, mas esta é uma prática que pode vir a revelar-se uma armadilha, porque quem não sabe o que procura encontra o que acha.» Do programa da sessão fará também parte o debate dos motivos que devem levar à referenciação hospitalar, nomeadamente quando se configura a necessidade de exames mais invasivos, como a biópsia óssea ou o mielograma. Neste contexto, o desafio passa por «treinar o raciocínio e disciplinar a investigação, no sentido de identificar o exame-chave para o diagnóstico». Contudo, António Pedro Machado reforça: «Devemos ter em conta que só diagnosticamos o que tivermos em mente, ou seja, que a capacidade de diagnóstico é uma medida do nosso conhecimento.»
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6 de MAIO
Mudança de paradigma no tratamento da diabetes
Os resultados do estudo Empagliflozin, Cardiovascular Outcomes, and Mortality in Type 2 Diabetes trial vão estar em evidência no simpósio-satélite «EMPA-REG Outcome: no ♥ da diabetes», promovido pela Aliança Boehringer Ingelheim/ /Lilly, entre as 10h30 e as 11h00. Este estudo demonstrou o perfil de segurança e eficácia da empagliflozina, um inibidor do SGLT-2 (cotransportador de sódio e glicose tipo 2), no tratamento da diabetes tipo 2, com benefícios adicionais na redução do risco de morte por causa cardiovascular. Segue-se a antevisão que os dois oradores partilharam com o Update News.
Mais-valias dos inibidores do SGLT-2
«A
mais recente classe de agentes antidiabéticos orais, os inibidores do SGLT-2, atua através da inibição (parcial) da reabsorção de glicose a nível renal. As suas propriedades anti-hiperglicémicas levam a reduções significativas da glicemia em jejum e pós-prandial e, consequentemente, da hemoglobina glicada. Além disso, ao provocarem perdas urinárias de glicose na ordem dos 70 a 80 gramas diários, os inibidores do SGLT-2 induzem perda de peso e redução da pressão arterial. Adicionalmente, a empagliflozina, um agente farmacológico desta classe, demonstrou benefícios cardiovasculares significativos em doentes com diabetes tipo 2 (DMT2) e doença cardiovascular estabelecida. Isso mesmo ficou demonstrado no EMPA-REG Outcome: verificou-se uma redução de 14% no endpoint primário (composto por morte cardiovascular, AVC não fatal e enfarte do miocárdio não fatal), à custa da diminuição em 38% da morte por causa cardiovascular. Adicionalmente, registou-se uma redução em 35% das hospitalizações por insuficiência cardíaca e em 32% da mortalidade geral. As pessoas com DMT2 apresentam acrescido risco cardiovascular – a maioria é hipertensa e a quase totalidade apresenta obesidade ou pré-obesidade –, sendo que grande parte das mortes nesta população devem-se à doença cardiovascular. Um fármaco que reduza esse risco, além de ajudar no controlo da hiperglicemia, é uma opção muito atrativa para os doentes com DMT2. Pela sua ação anti-hiperglicémica, acrescida dos benefícios sobre a redução ponderal e da pressão arterial, os inibidores do SGLT-2 são opções válidas em segunda ou terceira linha da terapêutica antidiabética. Em concreto, os benefícios cardiovasculares demonstrados pela empagliflozina tornam-na numa opção muito atrativa para o tratamento da pessoa com DMT2 e doença cardiovascular estabelecida.» Prof. José Silva Nunes, endocrinologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central/Hospital Curry Cabral
Tratar a diabetes, reduzindo a mortalidade cv
«N
as últimas décadas, apareceram muitas armas eficazes no controlo glicémico, mas diversos estudos demonstraram que, embora isso seja eficiente na redução do risco das complicações microvasculares, tem pouco impacto no risco das complicações macrovasculares. Ou seja, estes fármacos não permitem reduzir, de forma relevante, o risco de mortalidade cardiovascular (CV), mesmo através de terapêutica intensiva. Em 2015, foram publicados os resultados do estudo EMPA-REG Outcome, um ensaio clínico controlado e aleatorizado, que incluiu doentes com DMT2 com valores de hemoglobina glicada entre 7 a 10% e doença cardiovascular estabelecida. Este estudo comparou a terapêutica otimizada da DMT2, incluindo antidiabéticos orais, anti-hipertensores e hipoglicemiantes, versus essa mesma terapêutica complementada com a empagliflozina nas doses de 10 ou 25 mg. Demonstrou-se não só que este fármaco apresenta um bom perfil de segurança, nomeadamente pelo facto de não aumentar de modo significativo o risco de episódios de hipoglicemia e de cetoacidose, mas também que é bastante favorável na diminuição do risco de mortalidade cardiovascular (cerca de 38%) e global (cerca de 32%) dos doentes com DMT2 e doença cardiovascular estabelecida. Portanto, dispomos agora de uma opção terapêutica que, além dos demais benefícios que resultam da melhoria do controlo glicémico, tem a mais-valia adicional de reduzir a mortalidade cardiovascular e global dos nossos doentes, o que veio introduzir um novo paradigma no tratamento da DMT2.» Dr. Nuno Cortez-Dias, cardiologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital Santa Maria
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6 de MAIO
Neurodesenvolvimento do nascimento à adolescência
Distinguir um atraso no desenvolvimento de uma criança normal de uma verdadeira perturbação no neurodesenvolvimento pode ser um desafio para os médicos, mas o diagnóstico precoce pode fazer a diferença nos resultados do tratamento. Esta será uma das mensagens centrais da sessão que decorre entre as 11h30 e as 13h00. Luís Garcia
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mbora sejam os médicos de família que fazem o seguimento das crianças saudáveis no Serviço Nacional de Saúde, a sua formação abrangente, cobrindo diversas áreas e idades, «deixa-os menos familiarizados com a semiologia específica das perturbações do neurodesenvolvimento», explica o Dr. Tiago Proença Santos, neuropediatra no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria e orador nesta sessão. «Um recém-nascido está totalmente dependente dos seus cuidadores. O neurodesenvolvimento inclui uma série de etapas sucessivas que vão permitir à criança adquirir, progressivamente, um grau de autonomia que só é total no final da adolescência», refere o neuropediatra. Estas etapas abarcam aspetos tão elementares como o desenvolvimento motor – o bebé começa por controlar a cabeça, depois senta-se, gatinha, caminha, corre, pedala num triciclo e assim sucessivamente –, mas inclui também a aquisição da linguagem – inicialmente, a criança palra e, de
modo progressivo, consegue pronunciar palavras e formar frases. Todo o desenvolvimento cognitivo está subjacente a esta aquisição contínua. Segundo o orador, numa consulta em que o contacto com a criança é breve, nem sempre é fácil para o médico detetar alterações do desenvolvimento. «Por outro lado, quando não se tem uma convivência com um número suficiente de crianças em cada etapa do desenvolvimento, pode ser difícil perceber os sinais de alarme, o que leva a que, por vezes, os diagnósticos sejam tardios», acrescenta Tiago Proença Santos. No entanto, os médicos podem sistematizar algumas estratégias simples para avaliar a criança em consulta, bem como passar a utilizar vídeos gravados pelos pais mostrando os comportamentos da criança no seu ambiente natural.
Etapas fundamentais Sorriso social Controlo cefálico Sentar sem apoio Andar sem apoio Primeiras palavras Apontar Primeiras frases Brinca com outras crianças Sobe escadas com os pés alternados Desce escadas com os pés alternados
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6 semanas 3 meses 6-9 meses 12-15 meses 12-14 meses 9-12 meses 20-24 meses 3 anos 3 anos 4 anos
diagnÓstico precoce É CRUCIAL Na sessão, o orador vai apresentar alguns casos clínicos de problemas do neurodesenvolvimento, como autismo, perturbação de hiperatividade e défice de atenção, epilepsias, perturbações da linguagem ou da aquisição da leitura e da escrita. O objetivo é «sintetizar os principais sinais de alarme, quando e como fazer uma investigação e quando referenciar para as especialidades hospitalares». Segundo o neuropediatra, estas e outras patologias são, com frequência, diagnosticadas tardiamente, por serem desvalorizadas algumas das alterações. Por outro lado, está difundido o equívoco de que, independentemente do diagnóstico, não há tratamento disponível. «Se uma criança tem uma infeção, posso dar-lhe um antibiótico. No entanto, não dispomos de fármacos específicos para a maioria das patologias que afetam o neurodesenvolvimento, o que leva a pensar, erradamente, que, se houver um problema, vai-se notar mais cedo ou mais tarde. Por tudo isto, a intervenção psicopedagógica deve ter um timing próprio para permitir melhores resultados.» Este tipo de abordagem é particularmente eficaz nos primeiros anos de vida, já que as potencialidades de neuroplasticidade do cérebro do recém-nascido e da criança nos primeiros anos de vida são muito superiores às da criança mais velha. «A precocidade e a adequação da intervenção modificam verdadeiramente o futuro destas crianças. Por isso, não nos podemos esquecer do diagnóstico diferencial com patologias neurológicas que necessitam de tratamento específico», remata Tiago Proença Santos.
Uma revolução chamada menopausa Aspetos sensíveis relacionados com a menopausa, como a terapêutica hormonal e respetivo risco de cancro da mama, vão ser abordados na sessão que decorre entre as 15h00 e as 16h00. O risco de osteoporose e a necessidade de avaliar a densidade óssea após a menopausa também serão alvo de discussão. Luís Garcia
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nvolvendo importantes alterações no corpo feminino, em particular a nível hormonal e metabólico, a menopausa representa um desafio não apenas para a mulher que passa por esse processo, mas também para os médicos que a acompanham e que procuram ajudá-la a ultrapassar as fragilidades que daí podem resultar. Nesta sessão, o Dr. Joaquim Neves, ginecologista-obstetra no Centro Hospitalar Lisboa Norte/ /Hospital de Santa Maria, fará uma atualização sobre o tratamento hormonal, percorrendo as respetivas indicações e as evidências clínicas relativas ao risco de cancro da mama. Segundo o especialista, «existem dados novos em relação ao metabolismo ósseo da mulher no período pós-menopausa e, em Portugal, é necessário iniciar o novo paradigma de avaliação complementar do risco de fraturas», recorrendo à versão portuguesa do algoritmo FRAX®. No que respeita à utilização de bisfosfonatos, Joaquim Neves refere que esta classe terapêutica, particularmente o alendronato, apresenta «evidências mais abrangentes, com redução global da mortalidade». E sublinha: «Podemos suspender a administração dos bisfosfonatos e reintroduzir a mesma formulação, caso necessário (drug holiday). Em determinados casos, devemos monitorizar a administração destes fármacos através dos marcadores do metabolismo ósseo, para comprovar a adesão à medicação.» Na sua exposição, Joaquim Neves tocará em aspetos como as novas formulações da terapêutica hormonal (em particular as bioidênticas) e outros hot topics, como as indicações para o tratamento e o seu impacto real na saúde global das mulheres. «Porque não utilizar o tratamento hormonal na pós-menopausa, quando recomendado e na ausência de contraindicações?» e «Quando e como
«Existem dados novos em relação ao metabolismo ósseo da mulher no período pós-menopausa e, em Portugal, é necessário iniciar o novo paradigma de avaliação complementar do risco de fraturas, recorrendo à versão portuguesa do algoritmo FRAX®» avaliar a densidade óssea na pós-menopausa?» são duas questões prementes a que o ginecologista procurará dar resposta na sessão. Relativamente à osteoporose, Joaquim Neves abordará não apenas a avaliação do risco de fratura, mas também a sua complementaridade com a osteodensitometria, bem como o início da intervenção farmacológica e respetiva monitorização.
Avaliação eficaz da osteoporose Na opinião do orador, estes são temas «imprescindíveis» para a Medicina Geral e Familiar, que está «na primeira fronteira da passagem dos utentes a doentes». A necessidade de terapêutica hormonal e a osteoporose são cada vez mais frequentes, tendo em conta a maior sobrevivência e a atividade crescente das mulheres após a menopausa. Por isso, Joaquim Neves considera que «uma boa avaliação pode estratificar e identificar os casos que necessitam de mais investigação e eventual intervenção médica individualizada».
Indicações para o tratamento hormonal
«A necessidade de terapêutica hormonal e a osteoporose são cada vez mais frequentes, tendo em conta a maior sobrevivência e a atividade crescente das mulheres após a menopausa»
1. Alívio dos sintomas vasomotores 2. Alívio da sintomatologia urogenital (requer tratamento de longo prazo) 3. Prevenção da osteoporose Idade inferior a 60 anos Menopausa há menos de 10 anos
Com esta sessão, o ginecologista pretende também que os participantes retenham a ideia de que o envelhecimento é um dos maiores fatores de risco para a fragilidade e que a massa óssea é essencial na gestão clínica. Melhorar o rastreio da osteoporose, averiguar a presença de sintomas vasomotores e psicogénicos na pós-menopausa imediata, valorizar estas alterações, promovendo a intervenção médica necessária e sustentada são outras mensagens-chave de Joaquim Neves.
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Instantes...
Fomento à investigação nos cuidados de saúde primários
Antes da intervenção do Dr. António Pedro Machado (na mesa, à esquerda) sobre o Projeto Panorama, o Dr. Carlos Rabaçal (de pé), outro dos mentores do Update em Medicina, destacou o mérito do coordenador científico na organização deste evento, deixando também claros os fortes laços de amizade que os unem. Na sessão de abertura, estiveram ainda presentes a Dr.ª Susana Pereira Costa, presidente do Update em Medicina 2016 e representante do bastonário da Ordem dos Médicos, e o Dr. Fernando Silva, que salientou o crescimento e a melhoria contínua deste congresso desde a primeira edição, em 2008, à qual presidiu, até à atualidade.
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a sessão de abertura deste Update em Medicina 2017, o Dr. António Pedro Machado, coordenador científico deste congresso, aproveitou para partilhar o ponto de situação do Projeto Panorama, que foi lançado há dois anos com o objetivo de incentivar a investigação epidemiológica nos cuidados de saúde primários. «Trata-se de uma forma de potenciar a especialidade de Medicina Geral e Familiar [MGF], apoiando e incentivando projetos de investigação de alto nível», salientou o responsável. E acrescentou: «Doença pulmonar obstrutiva crónica, padrões de utilização das estatinas, insuficiência cardíaca, fibrilhação auricular, doença vascular dos membros inferiores, diabetes tipo 2 e hipertensão arterial são os temas dos primeiros estudos nacionais que estamos a promover. Estes projetos estão a arrancar com o registo dos dados obtidos nas consultas, pois acreditamos ser este o melhor caminho.» Com o intuito de facilitar o tratamento dos dados, António Pedro Machado explicou que dois dos trabalhos serão desdobrados nesta fase inicial
– o da diabetes tipo 2, cujos registos serão de pré-diabetes e diabetes, e o da doença vascular, para contemplar as diferentes informações da insuficiência venosa crónica e da doença arterial periférica. Outro ponto que este mentor do Projeto Panorama esclareceu refere-se à autoria dos estudos: «Ao contrário do habitual (em que a publicação surge somente com o nome de quem
teve a ideia do trabalho), nos estudos Panorama constarão os nomes de todos os investigadores, por ordem alfabética.» Além disso, a posteriori, qualquer grupo médico poderá propor uma investigação com base nos dados recolhidos, aparecendo como primeiros autores por se tratar de uma ideia original. Todavia, terão de fazer referência ao estudo Panorama a que recorreram. «Essas informações serão disponibilizadas pelo Update em Medicina, que está a dar todo o apoio logístico aos projetos de investigação. Com a qualidade dos dados que estou certo de que vamos obter, inclusive pela sua dimensão, penso que os artigos bem escritos terão fortes possibilidades de serem publicados também em plataformas internacionais, o que é muito relevante», rematou António Pedro Machado. Marisa Teixeira
Ficha técnica REUNIÃO ORGANIZADA POR:
edição: Update em Medicina, Lda. Rua Professor Moisés Amzalak, N.º 8 - 8.ºA 1600 - 648 Lisboa Tel.: (+351) 916 830 728 (+351) 916 763 877 info@updatemedicina.com www.updatemedicina.com
Esfera das Ideias, Lda. Campo Grande, n.º 56, 8.º B, 1700 - 093 Lisboa Tel.: (+351) 219 172 815 EsferaDasIdeiasLda geral@esferadasideias.pt www.esferadasideias.pt Direção: Madalena Barbosa (mbarbosa@esferadasideias.pt) Marketing e Publicidade: Ricardo Pereira (rpereira@esferadasideias.pt) Coordenação editorial: Luís Garcia (lgarcia@esferadasideias.pt) Redação: Luís Garcia, Marisa Teixeira, Rui Alexandre Coelho e Sandra Diogo Fotografia: João Ferrão Design/paginação: Susana Vale
Publicação isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar n.º 8/99, de 6 de junho, artigo 12.º, 1.ª alínea patrocinadores desta edição:
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Nova terapêutica contra a dor As mais-valias da nova associação farmacológica cloridrato de tramadol/dexcetoprofeno estarão em destaque no simpósio-satélite da A. Menarini, entre as 16h00 e as 16h30, que tem por título «A dor é inevitável, o sofrimento é opcional… Skudexa®, uma nova abordagem analgésica». Em entrevista, o Prof. Angel Oteo, ortopedista no Hospital General Universitario Gregorio Marañón, em Madrid, e um dos oradores, avança alguns dos aspetos que irá desenvolver. Luís Garcia e Sandra Diogo a redução da dor. Já a dor aguda é previsível e pode ser evitada. Falta-nos não só massificar o tratamento da dor, como também mais formação. Só assim melhoraremos o acompanhamento deste sintoma.
A nova associação de cloridrato de tramadol com dexcetoprofeno pode ajudar a atingir o objetivo de minorar a dor?
DR
Sim, a combinação de cloridrato de tramadol, na dose de 75 mg, com dexcetoprofeno, na dose de 25 mg, aumenta significativamente a eficácia do tratamento da dor aguda, sem provocar problemas de segurança. Aliás, com esta associação, que é nova mas os dois fármacos que a compõem já existiam e são reconhecidos pela sua eficácia e segurança, não se verifica um aumento dos efeitos secundários.
Concorda com o mote deste simpósio – «A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional»?
Que outras vantagens traz a associação destes dois fármacos?
Penso que é preciso diferenciar a dor aguda da dor crónica e da dor neuropática. Nestes dois últimos casos, temos de conformar-nos com o alívio ou
Os efeitos analgésicos são superiores na associação versus a utilização individual dos dois fármacos. O dexcetoprofeno tem um início de ação
rápido e consegue concentrações plasmáticas elevadas. Por sua vez, a alta composição do cloridrato de tramadol reforça o efeito analgésico, mantendo-se efetivo durante oito horas após a administração. Além disso, o facto de o doente só tomar um único comprimido aumenta a sua adesão à terapêutica.
Quais as principais indicações desta nova arma terapêutica? A associação cloridrato de tramadol/dexcetoprofeno, cuja eficácia ficou demonstrada nos ensaios clínicos, está especialmente indicada para a dor aguda, sendo de especial importância na dor aguda pós-operatória. Creio que há uma janela de oportunidade para o fármaco nesta indicação, uma vez que os ensaios clínicos presentes na literatura dizem que a dor aguda pós-operatória tem uma incidência elevada praticamente em todo o mundo. Por isso, fármacos que melhorem a eficácia terapêutica com um perfil de segurança adequado, como é o caso desta nova associação, podem contribuir para a melhoria dos resultados.
Quinto sinal vital O Prof. José Castro Lopes, investigador e professor catedrático no Departamento de Biomedicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, é também orador neste simpósio, com o tema «A dor como 5.º sinal vital», sobre o qual adiantou o seguinte ao Update News: «A dor é um mecanismo de alarme indispensável na sobrevida do indivíduo. Nesse sentido, constitui uma das principais causas de procura de cuidados de saúde, sendo frequentemente crucial no diagnóstico da patologia que lhe deu origem. Contudo, a dor que persiste para além dessa função sinalizadora causa morbilidade e sofrimento evitável, reduzindo a qualidade de vida e podendo contribuir para a instalação de um quadro de dor crónica. Assim, o controlo da dor é um dever ético dos profissionais de saúde e um direito dos doentes. Com a finalidade de realçar a importância da avaliação e do tratamento da dor, a Direção-Geral da Saúde publicou a Circular Normativa “A dor como 5.º sinal vital. Registo sistemático da intensidade da dor”. A equiparação da dor a 5.º sinal vital significa que se considera como boa prática clínica, obrigatória em todos os serviços de saúde, a avaliação e o registo regular da intensidade da dor, qualquer que seja a sua origem, à semelhança dos quatro sinais vitais “clássicos” (frequências respirató-
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ria e cardíaca, pressão arterial e temperatura corporal). Esta Circular Normativa refere ainda as escalas a utilizar na avaliação da intensidade da dor e inclui algumas instruções básicas sobre a sua aplicação. Dir-se-á que a dor não é sinal nem é vital, mas sim um mero sintoma difícil de quantificar. No sentido DR estrito, assim o é, mas a obrigatoriedade da avaliação e do registo da intensidade da dor tem duas consequências principais. Por um lado, torna visível um sintoma que é muitas vezes encarado como inevitável, o que faz com que a dor seja subestimada, escondida, negada e, consequentemente, negligenciada, tanto pelos doentes como pelos profissionais de saúde. Por outro lado, ao dar visibilidade à dor, torna-se imperioso estabelecer uma estratégia terapêutica adequada.»
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6 de MAIO
«A sexualidade não é suficientemente abordada entre médicos e doentes» O programa de hoje encerra com aquela que se espera ser uma das sessões mais participadas do Update em Medicina 2017 – «Uma conferência dedicada à mulher: sexo». Conceitos culturais e neurobiológicos relacionados com o amor, a paixão ou a vida sexual satisfatória são os principais aspetos a abordar pelo Prof. Manuel Esteves, psiquiatra no Centro Hospitalar de São João, no Porto, que, em entrevista, adianta algumas das ideias que vai partilhar na sessão. Sandra Diogo É pertinente uma sessão dedicada à sexualidade da mulher neste congresso? A sexualidade não é suficientemente abordada entre médicos e doentes, o que tem impedido a resolução de dificuldades nesta área. Os médicos têm de começar a fazer perguntas a este respeito, facilitando a hipótese de os doentes partilharem os seus problemas, já que, na sua maioria, não o fazem espontaneamente. A verdade é que os aspetos relacionados com a vida sexual são motivo de insatisfação e angústia para muitas pessoas. Por isso, o grande objetivo desta sessão é consciencializar os médicos para a importância de saberem fazer um diagnóstico adequado da disfunção e da insatisfação sexual.
Quais são as principais dificuldades que as pessoas sentem a nível sexual? Hoje em dia, um dos grandes desafios são os rituais de aproximação ao outro, isto é, como é que as pessoas se relacionam na sua intimidade, como é que se conhecem e se aproximam uma da outra e as diferentes dificuldades que daí podem ocorrer. Por exemplo, há pessoas com mais fobia social ou com mais dificuldade em estabelecer um diálogo que seja interessante e permita seduzir o
outro. Além disso, os estímulos sexuais não são iguais para todos. Esse é um ponto que poderá ser interessante de avaliar na clínica, assim como os aspetos relacionados com as zonas erógenas.
Que papel assumem os afetos neste contexto? Esse é um aspeto que vale a pena ser abordado, porque as pessoas trazem-nos muitos problemas ligados ao que, habitualmente, se denomina por paixão e amor. Estes conceitos têm não só um caráter cultural, como também neurobiológico. Existe uma fase de paixão, isto é, uma emoção muito forte face ao outro, mas que, geralmente, é de curta duração. Depois, surge um outro tipo de emoção muito mais permanente, a que chamamos de ligação e os românticos de amor. Mas também existe o desprendimento, ou seja, a fase em que estes sentimentos terminam e as pessoas se sentem desligadas uma da outra. Importa salientar que os componentes dessa ligação variam ao longo do tempo: as pessoas não sentem o mesmo no início da relação e mais tarde, em termos de segurança emocional, respeito, interajuda e fidelidade sexual.
Principais disfunções sexuais femininas
As causas que estão na origem ou contribuem para as disfunções sexuais na mulher podem ser orgânicas, psicológicas ou mistas. Se coincidirem com o início da atividade sexual, são consideradas primárias; se foram adquiridas ao longo do tempo, são secundárias. Eis alguns exemplos: Desejo sexual hipoativo versão sexual A Perturbação da excitação Dificuldade/perturbação no orgasmo Dispareunia Vaginismo
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«Os aspetos relacionados com a vida sexual são motivo de insatisfação e angústia para muitas pessoas. Por isso, o grande objetivo desta sessão é consciencializar os médicos para a importância de um diagnóstico adequado da disfunção e da insatisfação sexual» Na sessão, vamos discutir medidas que poderão contribuir para uma relação mais interessante e duradoura.
A relação que a mulher tem com o próprio corpo interfere na sua sexualidade? De facto, muitas mulheres trazem-nos questões ligadas à sua imagem corporal. Por isso, na sessão, pretendo falar sobre a forma como a mulher se sente com o seu corpo e até que ponto isso pode ser importante na altura de se relacionar com o outro. Vou explorar o que é considerado atraente e como é que as mulheres se posicionam face a isso. Por fim, vou debater um tema mais clássico – as disfunções sexuais –, com foco no ciclo de resposta sexual e explicando como podem surgir problemas nas diferentes fases ao nível do desejo, da excitação e do orgasmo. Neste contexto, abordarei ainda as terapêuticas e restantes armas de que o médico dispõe para prevenir e tratar as disfunções sexuais.
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«O objetivo deste trabalho é perceber se os resultados da MAPA nos permitem alterar a conduta terapêutica» «MAPA – monitorizar, avaliar, planear e atuar» é o trabalho vencedor da Bolsa de Investigação Update em Medicina/Alfa Wassermann deste ano, no valor de 3 000 euros. Em entrevista, a Dr.ª Carla Gouveia, especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF) na USF LoureSaudável, explica o que a levou a si e restante equipa (Drs. Pedro Fernandes e Sara Nunes, internos de MGF na mesma USF) a optar por este tema e quais os objetivos a que se propõem. Marisa Teixeira O que os motivou a realizar um trabalho de investigação centrado na monitorização ambulatória da pressão arterial (MAPA)? A ideia surgiu-nos por ser um assunto bastante discutido e participado em várias edições do Update em Medicina. Além disso, temos a possibilidade de realizar MAPA na USF em que exercemos. O objetivo deste trabalho é perceber se os resultados obtidos com a MAPA nos permitem alterar, de alguma forma, a conduta terapêutica, ou seja, a medicação que o doente está a tomar. No fundo, trata-se de mostrar a real utilidade desta ferramenta diagnóstica nos cuidados de saúde primários.
«MAPA – monitorizar, avaliar, planear e atuar.» O acrónimo criado para título do projeto é o mesmo do método de diagnóstico… Exato! Monitorizar porque faz, obviamente, parte da utilização da MAPA supervisionar a
pressão arterial durante 24 horas; avaliar porque, depois dessa medição, é necessário avaliar os resultados e compreender o seu significado; planear no sentido de perceber se existe alguma alteração terapêutica a fazer ou não; e atuar, aplicando essas mesmas conclusões. Esperamos obter uma amostra de 400 doentes, que consideramos estatisticamente significativa. Essa é a nossa meta.
O projeto já arrancou? Para já, temos um cronograma de aplicação definido. Nos próximos meses, durante o verão, será mais difícil realizar MAPA porque, por vezes, o único aparelho de que dispomos não está em totais condições quando o doente o devolve, sendo necessário limpá-lo com mais intensidade, visto, nesta época, as pessoas estarem mais sujei-
Prémios Update e ONG Ascendere Amanhã, na sessão de encerramento, serão também conhecidos os vencedores dos três Prémios Update para os melhores trabalhos nas áreas de investigação clínica, revisão de temas e casos clínicos relevantes, respetivamente nos valores de 1 000, 750 e 500 euros. Resultado da parceria entre o Update em Medicina e a ONG Ascendere, que opera na Ilha do Príncipe, assegurando missões humanitárias na área da saúde, com uma atuação particularmente relevante no âmbito materno-infantil, também será dado a conhecer o autor do melhor trabalho na área da medicina materno-infantil, que terá como prémio a possibilidade de ingressar numa das missões médicas da Ascendere ainda este ano ou no próximo.
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«Esperamos obter uma amostra de 400 doentes, que consideramos estatisticamente significativa» tas ao calor e à transpiração. Portanto, optámos por iniciar as monitorizações no próximo mês de outubro. Até lá, vamos explicar aos profissionais de saúde envolvidos no projeto qual é o objetivo, como se vai processar o trabalho e preparar toda a logística necessária. A interpretação dos dados ficará para 2018.
Qual a importância de receber a Bolsa de Investigação Update em Medicina/ /Alfa Wassermann? Por um lado, é muito prestigiante termos sido selecionados entre as 13 candidaturas a esta Bolsa. Depois, este incentivo é um motor para que a investigação científica em Portugal se implemente na área dos cuidados de saúde primários, que têm poucos apoios. É para mim uma grande felicidade poder desenvolver este trabalho com a Dr.ª Sara Nunes e o Dr. Pedro Fernandes. Espero que o nosso exemplo incentive outras pessoas a participarem na candidatura a esta Bolsa de Investigação, desenvolvendo projetos de impacto na nossa prática clínica, pois todos ficamos a ganhar com isso – profissionais de saúde e doentes.
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