PROCESSO DE RESTAURAÇÃO
Espaço Comum Luiz Estrela Quando o coletivo do Espaço Comum Luiz Estrela adentrou o imóvel, as largas trincas fizeram cair sobre os integrantes uma irrevogável realidade: o casarão ameaçava desabar. Para além do risco de vida, preocupava o apagamento completo da memória ali existente. Sua estrutura, aos poucos, foi dando vida a um emaranhado de vozes ocultas, que dizem também do que não conhecemos da história de Belo Horizonte. Foram muitos os relatos de cidadãos que transitavam em suas imediações, de vizinhos e ex-funcionários que cotidianamente lamentavam o seu estado de conservação. Como também foram inúmeros os projetos, se não escritos e desenhados, sonhados para o espaço. Diante da fragilidade do imóvel, o uso interno foi impossibilitado. As atividades do coletivo continuaram a acontecer no pátio ao lado. Foi criado um processo formativo que objetivava constituir uma equipe técnica para o Espaço Comum Luiz Estrela e transformar a restauração do casarão, desde o projeto até o canteiro de obras, em um espaço aberto de trocas e construção coletiva. Conformou-se, desta maneira, o Núcleo de Memória e Restauração.
Vista superior do Casarão com Praça Comum, com previsão de estacionamento da Buzona Tarifa Zero.
No lugar de um projeto de restauração, o coletivo apontou diretrizes de ocupação. A proposta é que sejam empreendidas uma série de oficinas a partir destas diretrizes, das especificidades construtivas do imóvel e dos desejos de transformação do espaço, realizando, simultaneamente, as intervenções físicas no casarão. Não há, pois, um projeto acabado que englobe toda a edificação. A salvaguarda do patrimônio passará a ser concebida e efetivada pelas pessoas, grupos e coletivos que movimentam o espaço. O processo se orienta através de quatro premissas. A primeira premissa que fundamenta o processo de restauração aqui apresentado é a de mantermos as camadas históricas e estéticas do casarão, até mesmo os rastros de seu abandono, aparentando suas trincas, rachaduras, destacamento de rebocos, destacamento de camadas pictóricas, manchas de umidade e mofo. De maneira que as intervenções propostas possam acomodar seus usos com a menor intervenção possível, atentando, sobremaneira, para a viabilização da estabilidade estrutural e a estabilidade dos danos e patologias, mas sem apagá-los, ou fazê-los desaparecer.
Vista do Casarão com Praça Comum.
A segunda premissa é de que as intervenções tenham a escala do corpo e possam ser executadas através de uma série de oficinas de formação e pelos próprios integrantes do Espaço Comum Luiz Estrela envolvendo diversos setores da cidade e da vizinhança do casarão, em um processo continuado, autogestionado e horizontal. A terceira é de que a distribuição dos espaços partam das potencialidades dadas pela conformação do casarão e possam abrigar uma mutabilidade constante de usos, a diversidade de pessoas, grupos e coletivos envolvidos no projeto, a singularidade de cada grupo e a rapidez com que se reconfiguram. Desta feita, vamos explorar a potencialidade de cada espaço, delineando algumas possibilidades e impossibilidades de uso a partir de reuniões coletivas. Levamos em consideração as características de acesso, de acústica, de iluminação, de ventilação, sua dimensão, volumetria e, não obstante, as características históricas de cada espaço. A última premissa é de que as intervenções propostas exijam o mínimo de recursos e sejam executadas com o aproveitamento máximo dos materiais existentes no casarão.
Vista da Praça Comum conectada com o Espaço Comum e a Cozinha Escola.
As imagens que aqui apresentamos são apenas um ensaio do que poderá vir a ser o casarão ocupado. A proposta espacial pretende abrir o edifício para cidade criando espaços múltiplos que se intercomuniquem e embaralhem as hierarquias arquitetônicas, tirando partido das rampas que garantem a acessibilidade universal, alguns tablados e as escadas. Assim a calçada será significativamente alargada na parte frontal e na lateral esquerda será criada uma praça comum. O segundo andar do edifico se abre para a praça e transborda as atividades que vão acontecer no Espaço Comum para atividades múltiplas (teatro, dança, circo, reuniões, assembleias) e a Cozinha Comum para a cidade. Por fim, a obra será realizada através de oficinas e cursos formativos que objetivam a troca de saberes e fazeres em torno da restauração do casarão. Os participes serão os moradores das ocupações urbanas de Belo Horizonte, comunidade das vilas e favelas do entorno, moradores das periferia e da região metropolitana, pacientes em tratamento psiquiátrico, egressos do sistema penitenciário, moradores em situação de rua e demais interessados. Os professores serão mestres de ofício, como marceneiros, mestre de obras, serralheiros, entre outros. Vamos precisar de sua colaboração!
Vista interna do Espaço Comum aberto para a Praça, e ao fundo a Cozinha Escola.